CLÁSSICOS PARA OS DIAS ATUAIS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7813591


Fabiana Fonseca Flor1
Maria Paz Pizarro Portilla2


Resumo

O presente artigo tem como finalidade identificar contribuições que a literatura exerce no cognitivo, no aspecto social e humano de um aluno-leitor e entender porque esta prática tem sido pouco usada como artifício para fins educacionais. Compreender também o papel da literatura não somente como meio pedagógico mas também sua participação na construção de cidadãos mais reflexivos e críticos. Bem como, elencar meios de incentivá-los à leitura de obras literárias abordando os impactos que ela traz aos dias atuais através de sua narrativa atemporal. Acreditar que é possível despertar interesse explorando e relacionando os acontecimentos com suas vivências. Analisar velhas práticas utilizadas no ensino e incentivar novos métodos para que a leitura literária reflita no mundo à nossa volta, abrindo novos horizontes e possibilitando novas perspectivas.

Palavras-chaves: literatura, clássicos, ensino e aprendizagem.

1.Introdução

Ao pensar em alfabetização e inteiramente ligado a ela, está o ato de ler. E trabalhando este ato e discutindo sua importância, levamos o leitor a uma compreensão crítica do mundo. Afinal, ao aprender a ler, a escrever e alfabetizar-se é, antes de mais nada, ler o mundo, compreendendo seu contexto, não apenas através dos signos mas numa relação linguagem e realidade. FREIRE reafirma em sua obra intitulada a importância do ato de Ler (1989) que:

Desde o começo, na prática democrática e crítica, leitura de mundo e leitura da palavra estão dinamicamente juntas. O comando da leitura e da escrita se dá a partir de palavras e de temas significativos à experiência comum dos alfabetizandos e não de palavras e de temas apenas ligados à experiência do educador (p.18).

A leitura de uma obra envolve emoções e exige habilidades e conhecimentos para desvendar informações contidas no texto. FREIRE (1989) diz que ̈A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto¨ (p.9). Nessa perspectiva, o leitor ativa conhecimentos internalizados e adquiridos enquanto sujeito social. Em suma, textos literários ou obras clássicas tratam de temas inerentes ao ser humano, retratam um período sócio-histórico e tem grande valor literário. BOSI em entrevista para Maria Theresa Fraga Rocco (1981) salienta que ̈Existem os clássicos, eles exprimiram melhor do que ninguém determinados sentimentos e ideias¨ (p.105). Mas o que temos visto são livros em desuso e desvalorizados, talvez em detrimento da grande oferta do mercado midiático, ou também pela dificuldade de se obter uma obra, não sabemos. O que se sabe mesmo, é que prestamos um serviço à sociedade, à medida que leigos e estudiosos refletem mais profundamente a respeito das mensagens passadas pelos clássicos da nossa literatura, afinal são patrimônio da cultura brasileira.

É necessário entender que a literatura tem papel fundamental na vida do leitor e discente, não somente para entretenimento, mas por possibilitar uma imersão num mundo maravilhoso e fantástico do desenvolvimento humano. Candido (1995) afirma que ¨a literatura nos desenvolve sensibilidade tornando-nos mais compreensivos, reflexivos, críticos e abertos a novos olhares e possibilidades diante da condição humana¨. Então o que vemos é contribuições tanto no cognitivo quanto no âmbito social e humano. Portanto ler pode ser objeto de estudo ou de prazer à leitura.

Saber usar a leitura e a escrita de acordo com as demandas sociais, saber interpretar e compreender textos, tornam um indivíduo ¨letrado¨. Esse letramento é sobretudo uma prática social. ¨o letramento é o que as pessoas fazem com as habilidades de leitura e escrita, em um contexto específico, e como essas habilidades se relacionam com as necessidades, valores e práticas sociais¨ (SOARES, 2004 p.72).

Os cânones literários têm grande importância para um entendimento avaliativo e sua percepção apurada e histórica da literatura. É de utilidade indispensável para aprofundamento de pesquisas e comprovação de análises e estudos, trazem semelhança com o passado e contextualizado com os dias atuais. Para o dicionário cânone significa ¨regra padrão, modo de se comportar, modelo¨. CORREA observa que:

A formação de um cânone tem uma função específica: preservar uma estrutura de valores que seja considerada como fundamental seja para o indivíduo ou para um grupo; esses valores constituem uma norma, sob este ou aquele se guia.(1995 p.324)

2.Linha do tempo

Pensando em um contexto geral, mais precisamente no século XVIII, a literatura era peça-chave na educação e seu uso como instrumento educacional era feito como literatura informativa, através de cartas e diários de narrativas de viagens ou até mesmo manifestações, sermões, hinos, poemas, com o intuito de catequizar índios brasileiros. Nessa época a literatura era um instrumento central nos processos educativos, sem esse repertório e experiência, nossa existência seria restrita. Segundo Oliver Rolin, renomado escritor francês ¨A literatura é a memória do mundo, a memória da humanidade ̈. É certo que a literatura tem papel fundamental na criação cultural do país. Então por que a literatura não tem a importância que antes lhe era conferida? Sabe-se que a literatura vem perdendo espaço como instrumento de educação, a falta de acesso e o uso  apenas para avaliação e produção textual, faz com que muitos percam o interesse pela leitura. É necessário que o leitor perceba que através de um texto literário consegue-se sentir, imaginar, questionar e criar possibilidades de leitura do mesmo texto, podendo assim confrontar com a sua realidade. 

Pensando que o ato da leitura é inerente ao ser humano, Chomsky (2014) nos diz que “… a Linguagem é “modular” e opera mais ou menos de forma autônoma, “gerando” um número indefinidamente grande de maneiras estruturadas de falar, pensar e compreender”(p.19). Nesse sentido, a leitura aumenta a perspectiva histórica, dando ao leitor suporte em outras áreas do conhecimento, fazendo com que aprenda a apreciar as palavras, entendendo-as e utilizando-as da maneira correta. Todos os clássicos possuem riqueza em seu conteúdo, refletindo a realidade vivida e criticando o cenário social e político de uma determinada época, influenciado de certa forma, pelo mundo que os rodeia. Sua linguagem rebuscada que já caiu em desuso encontra resistência por uma parcela de leitores. Palavras novas são úteis para aumentar conhecimentos, seu vocabulário e por consequência sua escrita. Leitores competentes possuem a prática e o hábito de boas leituras. O contato com palavras novas enriquecem qualquer vocabulário, portanto o incentivo à leitura precisa existir dentro de casa e principalmente em ambiente escolar, passando a mensagem que através da leitura pode-se alcançar crescimento intelectual. ´

É certo que a literatura tem papel fundamental na criação cultural do país. Então por que a literatura não tem a importância que antes lhe era conferida? Sabe-se que a literatura vem perdendo espaço como instrumento de educação, a falta de acesso e o uso  apenas para avaliação e produção textual, faz com que muitos percam o interesse pela leitura. É necessário que o leitor perceba que através de um texto literário consegue-se sentir, imaginar, questionar e criar possibilidades de leitura do mesmo texto, podendo assim confrontar com a sua realidade. 

Pensando que o ato da leitura é inerente ao ser humano, Chomsky (2014) nos diz que “… a Linguagem é “modular” e opera mais ou menos de forma autônoma, “gerando” um número indefinidamente grande de maneiras estruturadas de falar, pensar e compreender”(p.19). Nesse sentido, a leitura aumenta a perspectiva histórica, dando ao leitor suporte em outras áreas do conhecimento, fazendo com que aprenda a apreciar as palavras, entendendo-as e utilizando-as da maneira correta. Todos os clássicos possuem riqueza em seu conteúdo, refletindo a realidade vivida e criticando o cenário social e político de uma determinada época, influenciado de certa forma, pelo mundo que os rodeia. Sua linguagem rebuscada que já caiu em desuso encontra resistência por uma parcela de leitores É certo que a literatura tem papel fundamental na criação cultural do país. Então por que a literatura não tem a importância que antes lhe era conferida? Sabe-se que a literatura vem perdendo espaço como instrumento de educação, a falta de acesso e o uso  apenas para avaliação e produção textual, faz com que muitos percam o interesse pela leitura. É necessário que o leitor perceba que através de um texto literário consegue-se sentir, imaginar, questionar e criar possibilidades de leitura do mesmo texto, podendo assim confrontar com a sua realidade. 

Pensando que o ato da leitura é inerente ao ser humano, Chomsky (2014) nos diz que “… a Linguagem é “modular” e opera mais ou menos de forma autônoma, “gerando” um número indefinidamente grande de maneiras estruturadas de falar, pensar e compreender”(p.19). Nesse sentido, a leitura aumenta a perspectiva histórica, dando ao leitor suporte em outras áreas do conhecimento, fazendo com que aprenda a apreciar as palavras, entendendo-as e utilizando-as da maneira correta. Todos os clássicos possuem riqueza em seu conteúdo, refletindo a realidade vivida e criticando o cenário social e político de uma determinada época, influenciado de certa forma, pelo mundo que os rodeia. Sua linguagem rebuscada que já caiu em desuso encontra resistência por uma parcela de leitores. Nagy (1988) ao constatar que ¨a leitura resulta em um conhecimento profundo do vocabulário; em textos autênticos, as palavras são encontradas em uma grande variedade de contextos, o que permite o aluno assimilar suas propriedades semânticas e sintáticas de uma maneira muito mais profunda¨. Nessa perspectiva, é importante considerar que o encontro com novas palavras permite ao leitor estabelecer ligação entre a informação nova e as já existentes, o que certamente, o ajuda a implantar esse novo conhecimento em sua memória.

Ainda sobre o que nos desperta a literatura Cosson (2014 p.29) salienta que ¨toma a literatura como um processo de comunicação, uma leitura que demanda respostas do leitor, que o convida a penetrar na obra de diferentes maneiras, a explorá-la sob os mais variados aspectos¨. Para ele […] quando bem realizada. Permite que o leitor compreenda melhor essa magia e a penetre com mais intensidade. O segredo maior da literatura é justamente o envolvimento único em um mundo feito de palavras¨. É dentro de um texto onde encontra instrumentos necessários para pavimentar seus próprios caminhos a uma compreensão coerente, desenvolvendo gostos cada vez mais variados de leitura. É possível perceber que através da linguagem literária pode-se delimitar um elo entre as gerações, relacionando a fala viva do passado confrontada com a no presente, que é capaz de despertar um leitor adormecido dentro de cada um. É preciso usar clássicos da Literatura para compreender e tratar assuntos como o racismo, violência contra a mulher, desigualdade social e eurocentrismo, aproveitar-se desses temas atemporais que trazem debates críticos do texto. No livro ¨A escrava Isaura¨ de Bernardo de Guimarães a personagem é uma escrava ¨quase branca¨, símbolo da mestiçagem. Mas no romance Isaura é perseguida, humilhada é uma ¨mulata quase branca¨ o racismo contra ela é percebido como ¨maldade¨, já que ela corresponde a todos os ideais da sociedade da época como se o racismo, pudesse ser justificável. Como neste parágrafo: 

Meu Deus! meu Deus!…já que tive a desgraça de nascer cativa, não era melhor que tivesse nascido bruta e disforme, como a mais vil das negras, do que ter recebido do céu estes dotes, que só servem para amargurar-me a existência? (p.80).

Em Iracema a ¨virgem dos lábios de mel¨ de José de Alencar, a personagem é primitiva, infantilizada e subordinada ao homem branco. Ela sofre, mas sua dor não significa nada e é tratada como necessária. ¨O cortiço¨ é um outro exemplo de construções racistas, o texto traz duas personagens negras altamente estereotipadas, Rita Baiana, a ¨mulata¨ hiperssexualizada e Bertoleza, a mulher retinta, animalizada, humilhada. É a mulher que se expõe para o serviço e se esconde no relacionamento, aquela que não se deve amar. Vemos a violência contra a mulher um assunto para reflexão sobre as causas e consequências e da forma como ela é vista. Em ¨Dom Casmurro¨ de Machado de Assis, o personagem de Bentinho tem atitudes vingativas e a violência está representada de forma sofisticada, ele passa a seguir sua esposa, Capitú, após desconfiar que foi traído. Mesmo sem ser confirmada a traição, ele opta por exilá-la. Desta forma, o texto retrata a violência doméstica silenciando a mulher acusada de adultério. Em ¨Menino do Engenho¨ de José Lins do Rego, o pai do narrador, Carlos, mata sua esposa após descobrir a traição,tratando o feminicídio como parte das estratégias de manutenção da honra masculina e como parte da tradição. Abordando esses temas, tem-se a oportunidade de fazer da prática escolar de leitura e da sala de aula, um espaço democrático para o debate sobre problemas sociais atuais, sem perder o vínculo com a história contada.

3. Nada se perde, tudo se transforma.

A influência que grandes clássicos produziram na cultura contemporânea é gigante. E para trazer o jovem para o universo da leitura, há uma proposta de releituras criativas e textos simplificados ou adaptações sem perder a originalidade da obra. Adaptar consiste em adequar um texto secundário derivado de um texto original, no qual foi baseado essa transformação. É uma ressignificação do original, reproduzido através do tempo pela sua permanência como discurso¨ (FOUCAULT, 2009). O enredo e outros elementos próximos do mote original podem ser mantidos, em essência, e determinadas passagens podem ser suprimidas. São paráfrases, histórias de formas resumidas ou palavras próprias, recontos. Para VERSIANI; YUNES; CARVALHO, o ato de ¨recriar exatamente o que leu, viu ou ouviu, ou a partir de uma história original e preservando os dados básicos dessa história, reescrever o texto¨( 2012 p. 95). Adaptar, portanto é fazer uma leitura de um texto primeiro, reescrito sob um novo ponto de vista, fazendo uma criteriosa seleção de palavras, consonante com o que se pretende alcançar e provocar em determinado público com o objetivo de formar novos leitores.

Segundo Feijó (2012) o maior adaptador brasileiro foi Monteiro Lobato que conseguiu escrever clássicos literários para crianças e jovens. Feijó teve contato com as obras de Lobato desde criança, um dia descobriu sua versão de ¨AS aventuras de Robin Hood. Por conta dessa leitura, descobriu as traduções de ¨O homem Invisível¨, de H. G. Wells, que o levou a ler ¨A máquina do tempo¨ do mesmo autor, a adaptação o levou a descobrir os clássicos e ler as obras originais. Monteiro Lobato adaptou muitas histórias clássicas aos contos que Dona Benta contava às turmas no Sítio do Pica-pau amarelo, mudando o contexto do grego Esopo, o francês Jean de La Fontaine com Dona Benta e Emília alterando partes sem fugir à essência das fábulas. O professor da USP, Alcides Villaça em entrevista à Revista VEJA acredita até mesmo em adaptações mais ousadas, como aquelas adaptadas para Histórias em Quadrinhos:

Histórias em quadrinhos têm linguagem própria e são válidas como tais. De forma alguma substituem o texto integral de uma narrativa. O mesmo ocorre com outros formatos: adaptação para TV, cinema, utilização em canções, em videoclipes, etc… (entrevista concedida 12 de Maio de 2014)

Para uma linguagem mais acessível também foi adaptado ¨Sonho de uma noite de verão¨  e ¨otelo¨ ambos de Shakespeare para uma versão em prosa. São mantidos além do título, personagens, enredo e ideias principais e foram modificadas a linguagem e gênero. O mesmo aconteceu com o Conto Machadiano ¨O Alienista¨, de 1882 como parte do livro papéis avulsos e o romance ¨Pata da Gazela¨ de José de Alencar de 1870 que foram simplificados por Patrícia Engel Secco e sua equipe. Patrícia Engel manteve a estrutura e a história, e apresentou substituição de palavras e expressões como na troca de ¨prendas¨ por  ¨qualidades¨ em o Alienista, na intenção de facilitar sua compreensão de leitura. Em uma adaptação, a principal preocupação está na formação do leitor que aos poucos terá contato com textos clássicos, onde é trabalhado o repertório, sem que o leitor se dê conta, pois são fornecidas informações para que ele compreenda a leitura, como contextualização, como significação de palavras. Ele não fica com a sensação de que leu a obra na íntegra, já que o novo texto traz recortes bem claros.

Entre as formas contemporâneas de linguagem, estão os quadrinhos, gênero bem utilizado para adaptação de clássicos, que já trazem uma linguagem autônoma. Os HQs tem linguagem tanto verbal quanto não verbal e é necessário perceber a relação entre elas. Há várias tendências de adaptações para quadrinhos, algumas têm seu texto simplificado, outras trazem trechos do texto original como na obra O Cortiço de Aluísio de Azevedo, adaptado pela editora Ática. Nesta obra, nota-se que mesmo as imagens trabalham na intenção de sugerir que de descrever, principalmente nas cenas marcadas pela sexualidade, de modo que o jovem possa entender mas não ver. Assim, a literatura chega até os jovens, de maneira acessível, atraente e prazerosa, despertando o gosto de ler.

4. A educação como ato político e ideológico

A educação é um ato político, ideológico e emancipatório que cria vínculos e compromissos com o futuro a fim de contribuir como seres humanos, que vivem e realizam suas atividades em sociedade. Rosseau ( 2003 p.99) alega que ¨a paz, a união e a igualdade são inimigas das sutilezas políticas…¨ que permite ver a contradição de valores entre opressor e oprimido, observando o porquê da doutrinação do sistema educacional. Respaldando a educação, a Constituição de 1988 assegura:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Sendo assim, o processo educacional visa o desenvolvimento individual com vistas na ordenação coletiva, a cidadania e a qualificação para o trabalho. Paulo Freire (1996 p.99) afirma que ¨do ponto de vista dos interesses dominantes, no há dúvidas de que a educação deve ser uma prática imobilizadora e ocultadora de verdades¨. O que nos faz pensar que o Estado que deveria proporcionar o direito à educação, atende aos desejos da classe dominante e seus interesses minoritários. Porém, pensando em igualdade no ensino, os indivíduos podem passar por barreiras sociais impostas e não viverão de forma alienada, mas sim conscientes de sua realidade nesta sociedade. ¨É certo que quanto mais igualitária for a sociedade, e quanto mais prazer proporcionar, maior deverá ser a difusão humanizadora das obras literárias e portanto, a possibilidade de contribuírem para o amadurecimento de cada um (CANDIDO, 2011, p.189). 

Para nortear o papel do docente, os PCNs reconhecem o exercício de ler-se literatura, a complexidade do pensamento como condição imprescindível para a democracia e para o ensino. Em 1997, houve uma revisão que estabelece o sentido de aprendizado nas áreas de linguagem e afirma que ¨no mundo contemporâneo, marcado pelo apelo informativo imediato, as reflexões sobre as linguagens e seus sistemas, que se mostram articulados por múltiplos códigos, e sobre processos e procedimentos comunicativos é mais que uma necessidade¨ (PCN, 2000, p.6). Nessa perspectiva, a proposta é que o aluno possa perceber os denominadores comuns de textos de várias áreas e estudar a especificidade de cada uma, fazendo o aluno-leitor pensar por si mesmo, fazer suas próprias escolhas, ser colocado no cerne das questões que confrontam diferentes pontos de vista e a partir daí construir o seu. Como diz nesse trecho:

O gostar ou não de determinada obra de arte ou de um autor, exige antes um preparo para aprender a gostar. Conhecer e analisar as perspectivas autorizadas seria um começo para a construção das escolhas individuais. (PCN, 2000, p.9)

A literatura, assim como a arte em geral, compõe a formação do ser humano porque além de ser objeto artístico e estético, atua como condição de humanização proporcionando capacidade de autoconhecimento. Segundo Antonio Candido, essa humanização consiste em ¨o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso da beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do amor¨(1995, p.180). Percebe- se a literatura nos PCNs, como:

Ao ler este texto, muitos educadores poderão perguntar onde está a literatura, a gramática, a produção do texto escrito, as normas. Os conteúdos tradicionais foram incorporados por uma perspectiva maior, que é a linguagem, entendida como um espaço dialógico, em que os locutores se comunicam. (PCN, 2000 p.23)

Dando continuidade aos documentos oficiais, o MEC apresentou em 2002, os PCNs+ onde discutiu o papel da literatura em sala de aula, trazendo a historiografia literária e As Orientações Curriculares para o Ensino Médio, em 2006, que vem como resposta aos PCNs, que vem tentando trazer a literatura a um lugar de destaque. O documento surge com a ideia do ensino de literatura (arte) que todos têm direito:

…O que parece ser ocorrência/decorrência natural; como meio de transcender o simplesmente dado, mediante o gozo da liberdade que só a fruição estética permite; como meio de acesso a um conhecimento que obviamente não se pode mensurar, como meio, sobretudo, de humanização do homem coisificado: esses são alguns dos papéis reservados às artes, de cuja apropriação todos têm direito (ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO, 2006 p.53).

É certo que a literatura tem papel fundamental na criação cultural do país. Então por que a literatura não tem a importância que antes lhe era conferida? Sabe-se que a literatura vem perdendo espaço como instrumento de educação, a falta de acesso e o uso  apenas para avaliação e produção textual, faz com que muitos percam o interesse pela leitura. É necessário que o leitor perceba que através de um texto literário consegue-se sentir, imaginar, questionar e criar possibilidades de leitura do mesmo texto, podendo assim confrontar com a sua realidade. 

Pensando que o ato da leitura é inerente ao ser humano, Chomsky (2014) nos diz que “… a Linguagem é “modular” e opera mais ou menos de forma autônoma, “gerando” um número indefinidamente grande de maneiras estruturadas de falar, pensar e compreender”(p.19). Nesse sentido, a leitura aumenta a perspectiva histórica, dando ao leitor suporte em outras áreas do conhecimento, fazendo com que aprenda a apreciar as palavras, entendendo-as e utilizando-as da maneira correta. Todos os clássicos possuem riqueza em seu conteúdo, refletindo a realidade vivida e criticando o cenário social e político de uma determinada época, influenciado de certa forma, pelo mundo que os rodeia. Sua linguagem rebuscada que já caiu em desuso encontra resistência por uma parcela de leitores.  

Referências

BOURDIEU, Pierre. A excelência e o sistema de valores do ensino francês. In:________. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 1999.

BRASIL. Orientações Curriculares para o Ensino Médio. Brasília: MEC/Semtec. 2006.

BRASIL, Secretaria da Educação Fundamental – Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1997.

BRASIL, Secretaria da Educação Fundamental – Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 2002

CANDIDO, Antonio. “O direito à Literatura”. Vários escritos. 3ª ed. revista e ampliada. São Paulo: Duas Cidades, 1995. 

CALVINO, I. Por que ler os clássicos. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

COSSON, R. Letramento literário: teoria e prática. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2014.

CHOMSKY,Noam. A ciência da Linguagem: conversas com James McGilvray/ Noam Chomsky; tradução Gabriel de Ávila Othero, Luisandro Mendes Souza, Sérgio de Moura Menuzzi. 1 ed. São Paulo: Editora Unesp, 2014.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Autores Associados: Cortez, 1989.

ROCCO, Maria Tereza Fraga. Literatura, ensino: Uma problemática / Maria Tereza Fraga Rocco; prefácio de Antonio Candido. São Paulo: Ática, 1981.

ZILBERMAN, R. Literatura, escola e leitura. In: SANTOS, J. F.; OLIVEIRA, L. E. (Org.). Literatura & ensino. Maceió: EDUFAL, 2008. p. 45-60.

ZILBERMAN, R. A leitura e o ensino de literatura. Curitiba-PR: Ibpex, 2010. Artigo recebido em: 30.05.2017 Artigo


1Aluna concludente do Curso de Licenciatura em Letras Língua Portuguesa da Universidade Estácio de Sá.
2Professora Orientadora do Artigo da Universidade Estácio de Sá.