CLAREAMENTO DENTAL E SENSIBILIDADE: Um estudo sobre as evidências atuais

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.11194435


BARRETO, Fernanda Santos[1]
PINTO, Emanuel Vieira[2]
PASSOS, João Paulo Paranhos[3]


RESUMO

A sensibilidade dentinária é um dos efeitos colaterais mais comuns que podem ser provocados pelo clareamento dental, tornando-se um desafio para o cirurgião-dentista. Diante disso, este estudo pretende apresentar uma revisão sobre as evidências atuais que envolvem o tratamento de clareamento dental e a sensibilidade pós operatória. Dessa forma, de que maneira o cirurgião-dentista pode minimizar a sensibilidade provocada pelo clareamento dental?. O objetivo geral é analisar de que modo o cirurgião-dentista pode minimizar a sensibilidade dentária pós clareamento. Os objetivos específicos buscam apresentar a importância da anamnese direcionada para detectar fatores de risco, bem como o diagnóstico das pigmentações dentárias;  compreender o conceito de clareamento dental e suas técnicas, além do mecanismo de ação do material clareador com suas repercussões sobre a estrutura dentária e fatores de risco para hipersensibilidade dentinária; analisar a presença de agentes dessensibilizantes. A metodologia escolhida para construção do estudo ocorreu por meio de pesquisa bibliográfica e documental com abordagem em dados qualitativos coletados em livros e na biblioteca virtual Medline via PubMed. A partir desta análise de atuação do Odontólogo nos procedimentos de clareamento dental, a pesquisa trouxe como resultados formas de realizar o procedimento clareador que proporcione qualidade, durabilidade e saúde para o paciente, através de estudos acerca de protocolos e métodos evidentes atuais

Palavras-chaves: Clareamento dental. Sensibilidade dentinária. Sensibilidade pós operatória.

1 INTRODUÇÃO 

A pesquisa desenvolvida traz uma revisão a partir de estudos atuais a respeito do clareamento dental e a sensibilidade, visto que, é um dos efeitos colaterais mais comuns que podem ser provocados pelo procedimento, tornando-se um desafio para o cirurgião-dentista. Esta condição de sensibilidade dentária que está fortemente vinculada ao procedimento de clareamento dental é provocada pelo contato do material clareador com a polpa dentária, através da exposição de túbulos dentinários, gerando uma reação inflamatória que provoca sensibilidade e dor.

Sabendo que, é um tratamento realizado ou supervisionado pelo Cirurgião-dentista, as possíveis complicações e fatores predispostos a esse efeito colateral deve ser conhecido e tratado pelo profissional. Em vista disso, este trabalho busca responder a seguinte pergunta: de que maneira o cirurgião dentista pode minimizar a sensibilidade pós clareamento dental?

O objetivo geral é analisar de que forma o cirurgião-dentista pode minimizar e tratar o efeito da sensibilidade após o clareamento dental. Dado que, a literatura atual apresenta estudos eficientes e eficazes sobre as formas de intervenção e prevenção deste efeito. Sendo assim, o dentista deve estar preparado e capacitado para o procedimento, além de esclarecer e orientar os pacientes sobre os possíveis riscos.

O clareamento dental é um tratamento que consiste na aplicação de compostos clareadores como o peróxido de carbamida e peróxido de hidrogênio sobre a estrutura dentária, a fim de reduzir as suas alterações cromáticas decorrente de fatores ambientais ou do processo natural de escurecimento dos dentes. Pode ser realizado no consultório pelo cirurgião-dentista ou em casa manipulado pelo próprio paciente sob orientação do profissional.

Atualmente, a sensibilidade dentária é uma condição comum dentro da sociedade, estando associada a fatores de ansiedade, estilo de vida estressante, dieta inadequada, bruxismo, entre outros. Além disso, os pacientes buscam cada vez mais um sorriso alinhado e com o branco máximo. Posto isso, o clareamento dental é um procedimento de execução simples que tem por objetivo clarear a cor dos dentes por meio de um mecanismo intrínseco, sendo necessário atingir a dentina para que ocorra sua ação.   

No entanto, essa simplicidade do procedimento vinculada a falta de conhecimento do profissional pode resultar em complicações aos pacientes. Já que, as suas repercussões dentárias estão diretamente na polpa. Baseado nisso, a presente pesquisa busca avaliar de que forma o cirurgião-dentista pode tratar e prevenir a sensibilidade dentária associada ao clareamento.

Para o levantamento da pesquisa, foi utilizado uma abordagem qualitativa por meio de buscas metodológicas dentro da biblioteca eletrônica Medline via PubMed. Foram selecionados artigos científicos, documentos, revistas e livros com conteúdo necessário para construção e fundamentação do trabalho.

A revisão de literatura aponta de forma inicial um breve contexto histórico do clareamento dental. Em segundo momento comentaremos sobre a importância do profissional realizar uma anamnese completa e direcionada com questionamentos específicos para detectar fatores de risco da sensibilidade dentária e etiologia das descolorações. Sendo de grande importância para avaliar a necessidade de um tratamento prévio ao clareamento. De modo que saiba aplicar o melhor plano de tratamento, oferecendo a técnica ideal, melhor material e tempo de procedimentos.

Posteriormente será abordado sobre o conceito deste procedimento, bem como as suas diferentes técnicas e materiais que podem ser utilizados.  Seguindo com os mecanismos de ação do peróxido de hidrogênio e os fatores que os influenciam. Discorreremos também o conceito de hipersensibilidade dentinária e seus principais fatores de risco, além das teorias que explicam esse mecanismo de sensibilidade pós-operatória. Por fim, será apresentado alguns componentes dessensibilizantes, sua ação e indicação.

A partir dessa pesquisa, será possível entender a ação do agente clareador sobre a estrutura dentária e os fatores que influenciam nesse processo, principalmente os que geram maiores riscos de sensibilidade; Conhecer as técnicas de execução presentes na literatura e compreender alguns componentes disponíveis para reduzir ou eliminar a sensibilidade dentária induzida pelo clareamento dental.

2 METODOLOGIA

A metodologia é integrada por métodos capazes de fornecer um direcionamento para chegar às respostas dos questionamentos iniciais. Conforme Marconi e Lakatos (2017), o método consiste em atividades sistemáticas e racionais que, de maneira mais segura e econômica, possibilitam atingir o objetivo de gerar conhecimentos válidos e verdadeiros, orientando o percurso, identificando erros e contribuindo para as decisões do cientista.

O pesquisador deve analisar com cautela as possíveis formas de metodologias para elaboração do trabalho, pois os métodos serão responsáveis pela construção do conhecimento científico através das interpretações solicitadas. Dessa forma, a metodologia se caracteriza como a ciência de compreender e selecionar os métodos para uma pesquisa científica.

Além disso, o método apresenta diferentes abordagens, as quais permitem a criação de fundamentos coerentes para a busca científica e direcionar raciocínios e princípios. Posto isso, é de grande importância o conhecimento dos métodos disponíveis para definir a teoria e prática da pesquisa. Dentre elas, a abordagem qualitativa é responsável por analisar e interpretar fenômenos de forma direta entre o pesquisador e o objeto de estudo, sem quantificação.

Para Almeida (2014), a abordagem qualitativa utiliza a perspectiva indutiva, sem necessidade do uso de ferramentas estatísticas de dados e é realizada de maneira descritiva. Com isso, leva em consideração o ambiente natural e as atribuições das pessoas às coisas e a vida para entender determinado fenômeno.

Baseado nisso, a presente pesquisa foi construída por meio do método qualitativo, visto que, busca constatações mais particulares às leis e as teorias, garantindo cada vez mais abrangência sobre o tema (LAKATOS, MARCONI, 2017).

Vale destacar também que, este trabalho é caracterizado como pesquisa científica aplicada com objetivo descritivo, embasada em pesquisas bibliográficas e artigos científicos, dado que, utiliza conhecimentos existentes para a sua elaboração, sendo realizado apenas descrições e registros de fatos sem interferir-los.

       Diante disso, o trabalho reuniu estudos encontrados em livros, revistas e artigos. A busca dos artigos foi realizada na base eletrônica de dados MedLine via Pubmed com as palavras-chave, “Tooth bleaching”, “tooth whitening” e “Dentin Sensitivity”.    Foram  conceituados como relevantes estudos  em  inglês e  português, publicados  entre  1965  a  2024. Foram  incluídos 18 artigos produzidos por  revisão  sistemática  e  meta-análise,  revisão  de  literatura,  e  pesquisas in  vivo, considerados de acordo com o tema escolhido, levando em consideração o ano de publicação para a construção do cenário atual. Foram selecionados 3  artigos mais antigos apenas para a construção histórica da pesquisa

3 BREVE HISTÓRICO MUNDIAL DO CLAREAMENTO DENTAL

Os primeiros relatos da técnica de clareamento dental é descrita quando os povos do antigo Egito utilizavam abrasivos misturados ao vinagre com intuito de branquear os dentes, ainda, os romanos faziam o uso da uréia para o mesmo objetivo. Chapple em 1877 defendeu o uso do ácido oxálico como agente clareador, (M.V. PORTOLANI; M.S.M. CÂNDIDO, 2005), posteriormente, outros autores defenderam algumas substância, dentre elas, o Hipoclorito de Labarraque.

No entanto, o clareamento dental como conhecemos só começou a ser estudado por Hallan em 1884, ele pode ser considerado o primeiro a usar peróxido de hidrogênio para clareamento (STEWART, 1965).

Em 1916 o Dr. Walter Kane realizou o primeiro registro do uso de um ácido para remover manchas de fluorose em centenas de pacientes. A pesquisa relatou que houve bons resultados estéticos e que não houve danos ou perda da estrutura dental (MCCLOSKEY, 1984). McCloskey  (1984) publicou seu estudo na The Journal Of The American Dental Association descrevendo uma técnica que utiliza ácido clorhídrico a 18% para remover manchas escuras de fluorose permanentemente.

Em 1989 foi publicado o primeiro artigo sobre clareamento dental apresentando sobre a técnica caseira. O estudo descreveu o uso do peróxido de carbamida a 10% em uma moldeira individual durante a noite em dentes vitais (HAYWOOD, 1997). A descoberta do peróxido carbamida como material clareador se deu de maneira incidental pelo ortodontista Bill Klusmier cerca de 20 anos antes da publicação desse estudo, ele observou que houve clareamento dos dentes de seus pacientes que faziam o uso indicado de um produto a base de peróxido de carbamida para tratamento de gengivites, dando início as possibilidades para o clareamento dental.

4 ANAMNESE

Atualmente, o clareamento dental é uma opção de tratamento interessante para os pacientes, pois apresenta como benefícios a preservação da estrutura dentária, além de melhor custo em comparação a outros procedimentos estéticos dentais como coroas ou facetas.

A consulta inicial é um ponto importante para o desenvolvimento de um plano de tratamento individualizado, uma vez que, o cirurgião-dentista irá aplicar os meios adequados e suficientes para promover um bom diagnóstico.

Os métodos necessários para realização do correto tratamento clareador segundo Haywood, Sword (2017) envolvem exame intra oral; radiografias; diagnóstico da etiologia da descoloração; identificação de restaurações; análise do sorriso; histórico de sensibilidade. A partir desses critérios, é possível avaliar a saúde dos tecidos moles, presença de lesões cariosas e não cariosas, detectar problemas patológicos, traumas, e o mais importante, diagnosticar a causa do escurecimento, que podem ser classificadas em fatores intrínsecos e extrínsecos. Estes fatores representam algumas das indicações do clareamento dental.

Para Reis, Loguercio (2007), os fatores intrínsecos são subdivididos em alterações pré-eruptivas as quais são desenvolvidos por distúrbios durante a odontogênese, como amelogênese imperfeita, dentinogênese imperfeita, fluorose, hepatite neonatal, hipoplasia de esmalte ou manchas ocasionadas por antibióticos como a tetraciclina. Também ocorrem por alterações pós-eruptivas, como por exemplo a hemorragia pulpar decorrente de traumas, reabsorções dentinárias ou radiculares, materiais obturadores no tratamento de canal, além do escurecimento pelo envelhecimento fisiológico.

Os fatores extrínsecos têm a capacidade de desenvolver manchas na estrutura dental por meio de alimentos e bebidas contendo corantes ou clorexidina, o escurecimento se dá pela presença de substâncias cromógenas que pigmentam os tecidos dentais de maneira geral ou localizada. A presença de placa bacteriana, cálculo supragengival e o consumo de tabaco também favorecem as alterações cromáticas extrínsecas  (REIS; ALESSANDRO DOURADO LOGUERCIO, 2007).

Conforme Haywood (1997) o diagnóstico da descoloração é importante para evitar que seja realizado um tratamento inadequado, pois existem causas que requerem um tratamento além do clareamento, incluindo intervenções em abscessos, cáries e reabsorção interna. Além disso, é muito importante estudar as causas da descoloração para obter efetividade na prevenção de manchas nos dentes e seleção do tratamento mais adequado para recuperar a cor dos dentes mais favoráveis de maneira individualizada.

5 CLAREAMENTO DENTAL

Na atualidade, há uma crescente pressão social em torno da estética, e se tratando do sorriso, há o conceito de dentes perfeitos, alinhados e brancos como o ideal de beleza. Isso resultou em uma divulgação mais ampla nos meios de comunicação e um aumento significativo no interesse das pessoas pelo clareamento dental.

O clareamento dental é uma técnica que consiste na aplicação de agentes clareadores sobre a estrutura dental que possuem a capacidade de remover os pigmentos orgânicos dos dentes vitais e não vitais.Pode ser realizado dentre as técnicas mais comuns, pela técnica caseira e de consultório, bem como a associação dessas (CONCEIÇÃO, 2007).

O clareamento caseiro com moldeira individual é realizado por meio do uso de uma moldeira plástica confeccionada pelo dentista, que possibilita a aplicação do agente clareador, normalmente o peróxido de carbamida,  pelo paciente sob supervisão do profissional (CONCEIÇÃO, 2007).

As concentrações variam de 10% a 22% de peróxido de carbamida, podendo ser utilizados protocolos com o uso durante duas horas diárias na concentração de 22%. O peróxido de hidrogênio também pode ser utilizado, neste caso, é indicado um gel clareador de menor concentração e com tempo de uso diminuído, tendo como exemplo, o uso peróxido de hidrogênio de 9,5% durante 30 minutos (REIS; ALESSANDRO DOURADO LOGUERCIO, 2007).

Já no clareamento de consultório, é realizado a aplicação mais comumente de peróxido de hidrogênio em altas concentrações, com proteção gengival e dos tecidos moles e exige mais tempo de atendimento (CONCEIÇÃO, 2007).  Haywood e Sword (2017) apresenta como vantagem desse procedimento, o controle do processo pelo cirurgião-dentista e que não há a necessidade de adesão do paciente, comparado a técnica caseira, além de apresentar resultados mais instantâneos.

Ademais, pode ser indicada a associação entre as duas técnicas, caseira e de consultório, o qual os estudos apresentam ter resultados rápidos e eficazes em alcance de cor e durabilidade do tratamento, além da satisfação do paciente.

5.1 MECANISMOS DE AÇÃO DO PERÓXIDO

O mecanismo de clareamento dental é dinâmico, complexo e baseado na penetração/difusão do peróxido de hidrogênio no esmalte e na dentina (VIEIRA et al., 2020). Onde as moléculas das manchas são oxidadas em compostos incolores. Esse evento é possível pela alta capacidade de permeabilidade do esmalte e dentina que ocorre nos espaços inter prismáticos e nos túbulos dentinários, atuando como membranas semipermeáveis permitindo que o peróxido se mova devido ao seu baixo peso molecular.

O peróxido penetra e se difunde na dentina, onde libera oxigênio e assim, quebra as ligações orgânicas e inorgânicas presentes dentro dos túbulos dentinários (KWON; WERTZ, 2015). Convertendo as moléculas de corante em moléculas menores, alterando as propriedades ópticas do substrato dentário. Vale ressaltar que, apesar da técnica de escolha, o método de clareamento é similar devido a sua ação que ocorre através dos radicais de oxigênio.

Fatores como concentrações mais altas de peróxido de hidrogênio; aplicação prolongada; aumento da temperatura; grande tamanho das aberturas dos túbulos dentinários em dentes jovens; variações na estrutura dentária devido à localização, condicionamento ácido ou restaurações; e ativação por luz, aumentam a penetração do peróxido de hidrogênio (KWON; WERTZ, 2015).

Segundo Martine et al. (2021), o peróxido de hidrogênio pode chegar à câmara pulpar em poucos minutos, gerando reação inflamatória, estresse oxidativo e dano celular, resultando numa pulpite reversível ou até mesmo irreversível. Um estudo in vivo de 2024 realizado por DONATO e colaboradores, concluiu que:

Altas concentrações de gel clareador aumentam a resposta inflamatória e a necrose no tecido pulpar em curtos períodos após o clareamento, principalmente em molares de ratos e em incisivos humanos, além de maior deposição de tecido duro ao longo do tempo (DONATO et al., 2024).

Estudos realizados por vários autores evidenciaram a penetração de baixos níveis de peróxido na polpa de dentes extraídos após tempos de exposição de 15 a 30 minutos a partir de uma variedade de produtos e soluções de peróxido, no entanto, esses níveis foram considerados inferiores para produzir a inativação de enzimas pulpares (JOINER, 2006).

O pH é um fator determinante que influencia na eficácia e segurança do clareamento dental, ele age diretamente na ativação dos agentes clareadores, na estabilidade do material e na tolerância do paciente frente ao tratamento. Portanto é fundamental que o profissional esteja fundamentado quanto a importância de manter um pH adequado e essencial seguindo as diretrizes (SILVEIRA et al., 2023);

Segundo da Silva et al., (2023) géis clareadores com pH levemente ácido ou alcalino e estável diminui a penetração do peróxido de hidrogênio na câmara pulpar no clareamento de consultório e mantém a eficácia do clareamento.

Quanto aos fatores que implicam na obtenção e manutenção da cor durante e pós tratamento, a exemplo da alimentação, estudos mostram que não é necessário se restringir a uma dieta branca, uma vez que as alterações provocadas por alimentos com corantes apresentam-se insignificantes (MATIS et al., 2015)

5.2  HIPERSENSIBILIDADE DENTINÁRIA

A hipersensibilidade dentinária (HD) pode ser definida como uma dor curta e aguda originada pela dentina exposta ou esmalte vulnerável desencadeada por estímulos térmicos, táteis, osmóticos, químicos ou evaporativos, sem associação com outra patologia dentária, e está cada vez mais frequente dentro da clínica odontológica, estimando uma média de 33,5% de acordo com uma revisão sistemática e meta-análise (FAVARO ZEOLA; SOARES; CUNHA-CRUZ, 2019).

A sensibilidade dentária é um dos efeitos colaterais mais comuns dentro do tratamento de clareamento dental e sua característica dolorosa persistente pode levar até a interrupção do tratamento.  Além disso, o procedimento também pode ocasionar mudanças na morfologia da superfície e alterações nas propriedades físico-químicas dos tecidos duros dentais, como aumento da rugosidade do esmalte, diminuição da microdureza superficial e alteração do conteúdo mineral (VIEIRA et al., 2020).

Esse fenômeno ainda não está totalmente definido pela literatura. Embora, existem algumas teorias para explicar este efeito local, o qual pode ser decorrente da movimentação dos fluidos dentro dos túbulos dentinários conectados pelas terminações próximas à polpa (RODRÍGUEZ‐MARTÍNEZ; VALIENTE; SÁNCHEZ‐MARTÍN, 2019). A fácil passagem do peróxido através do esmalte e da dentina até a polpa entre 5 a 15 minutos, indica grande chance de provocar uma pulpite reversível. Dessa maneira, quanto menor a concentração do material, menor será a chance de causar sensibilidade (HAYWOOD; SWORD, 2017).

Além dessa teoria baseada na hidrodinâmica dos fluidos que são detectadas pelas terminações nervosas próximas à dentina, existem outras duas propostas para explicar a hipersensibilidade dentária: neural e transdutores de odontoblastos. Na teoria neural, as terminações nervosas que penetram nos túbulos dentinários respondem diretamente a estímulos externos. A teoria dos transdutores de odontoblastos trás a hipótese de que os  transdutores da dor são os odontoblastos causando a sensação de dor por eles mesmos (RODRÍGUEZ‐MARTÍNEZ; VALIENTE; SÁNCHEZ‐MARTÍN, 2019).

Os fatores que aumentam a sensibilidade induzida pelo clareamento é relatada por Presoto et al. (2016) como altas concentrações de peróxido de hidrogênio, esmalte com grande permeabilidade, tempo de uso prolongado dos materiais, fontes de calor durante a aplicação do produto e alterações na morfologia estrutural do esmalte e da dentina que facilitam a infiltração do clareamento. O Ph do gel clareador modula a penetração do produto sobre o esmalte dentário, sendo quanto mais ácido maior os riscos de sensibilidade pós-operatória

5.2.1 FATORES DE RISCO PARA A HD

Soares et al. (2023) considera dois mecanismos principais para a hipersensibilidade dentinária: exposição de túbulos dentinários e esmalte vulnerável, que pode ser definido como um esmalte fino, corroído e/ou com presença de trincas, o qual reduz a capacidade de isolamento térmico e controle da permeabilidade. Ele ainda afirma que a maioria dos pacientes com fatores de risco para HD desenvolvem a condição pós clareamento dental. Dessa forma, é de grande importância que o cirurgião dentista realize um bom diagnóstico a fim de evitar efeitos adversos que geram desconforto ao paciente.

Estão entre os fatores de risco para a HD segundo Soares et al. (2023): os pacientes que manifestam recessão gengival; lesão cervical não cariosa; trincas e fraturas dentais em esmalte e dentina; pacientes com bruxismo ou apertamento dental; pacientes pós ortodônticos; saliva/dieta ácida;

6 AGENTES DESSENSIBILIZANTES

A fim de reduzir os efeitos adversos do clareamento dental, foram desenvolvidas buscas por substâncias capazes de minimizar esse processo, principalmente por estratégias de prevenção a sensibilidade induzida pelo tratamento. Visto que, a terapêutica medicamentosa por meio do uso de anti-inflamatórios e analgésicos não apresenta resultados satisfatórios contra esse efeito colateral, sendo relatados como ineficientes pela literatura atual na utilização pré, durante ou pós tratamento.

A partir disso, foram modulados agentes com indicações de aplicação antes ou depois do procedimento de clareamento. Gümüÿtaÿ1 e Dÿkmen (2021) concluem em seu estudo que os agentes remineralizantes para tratar sensibilidade reduzem a gravidade da hipersensibilidade pós-operatória do clareamento dental.

Atualmente, o agente mais efetivo para o manejo da sensibilidade pelo clareamento é o nitrato de potássio associado ou não ao sódio. Essa substância possui a capacidade de penetrar nas estruturas dentais chegando até a polpa (MARTINE et al., 2021). Indica-se que o nitrato de potássio 5% reduz a hipersensibilidade dentinária ao diminuir a capacidade das fibras nervosas de repolarizar a polpa no dente após uma despolarização inicial devido à sensação de dor, além disso, não interferem na eficácia do clareamento (RODRÍGUEZ‐MARTÍNEZ; VALIENTE; SÁNCHEZ‐MARTÍN, 2019), sem a repolarização, o impulso de dor não é conduzido.

 Outro componente que pode auxiliar para a redução de sensibilidade são as partículas nanométricas de hidroxiapatita (nanoHap). Sua ação ocorre pela penetração do agente através das microfissuras até alcançar os túbulos dentinários, permitido pelo tamanho das suas partículas que se acumulam na região causando o estreitamento das fissuras.

Além destes, o fluoreto de sódio também pode reduzir a hipersensibilidade dentinária através do processo de início de oclusão do túbulo dentinário, inibindo o amolecimento do esmalte e consequentemente aumentando a sua dureza pela formação de cristais. Essa dinâmica reduz o diâmetro dos túbulos dentinários e a redução da sensibilidade pode ser decorrente da diminuição do fluxo de fluido para a polpa e pelo bloqueio da transmissão de estímulos.

Um ensaio clínico randomizado, realizado por Gümüÿtaÿ1 e Dÿkmen (2021) concluiu que o pré-tratamento do dente com a aplicação tópica de nanoHap e agentes de fluoreto de sódio 4 minutos antes da aplicação do tratamento, reduz a gravidade da sensibilidade, sem afetar a eficácia do clareamento, podendo ser observada logo antes do final da sessão de clareamento.

Atualmente, com a grande prevalência de pacientes com hipersensibilidade dentinária, podemos encontrar diversos dentifrícios inseridos no mercado com a função de aliviar os sintomas. Esses produtos são classificados em dessensibilizantes neurais e obliteradores.

Os dentifrícios dessensibilizantes neurais a base de nitrato ou citrato de potássio atuam na despolarização das terminações nervosas, bloqueando a ação axônica e a passagem do estímulo nervoso, sem obliterar ou alterar o fluxo do fluido dentinário. Estudos demonstram que os dentifrícios à base de nitrato de potássio podem ser prescritos para auxiliar no alívio da sensibilidade pós clareamento, se utilizados duas semanas antes do tratamento (LOPES; MAIA; ARANHA, 2022).

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em suma, a pesquisa realizada fornece uma análise abrangente sobre o clareamento dental e a sensibilidade, destacando-a como um efeito colateral comum e desafiador para os cirurgiões-dentistas. Ao explorar os estudos atuais, fica evidente que a sensibilidade dentária está intrinsecamente ligada ao procedimento de clareamento dental, resultante da exposição dos túbulos dentinários ou de um esmalte vulnerável, sucedendo  numa reação inflamatória.

Nesse contexto, o papel do cirurgião-dentista é crucial na minimização e tratamento dessa sensibilidade. O que demanda conhecimento e habilidades específicas, alcançando eficiência e saúde no tratamento a partir de uma metodologia segura e eficaz através da personalização dos casos, de modo que saiba aplicar o melhor plano de tratamento, oferecendo a técnica ideal, melhor material e tempo de procedimento.

 Para isto, é necessário detectar os fatores de risco a partir de uma anamnese  criteriosa, onde será o ponto de partida para o sucesso do tratamento, destacando a importância da capacitação e da orientação adequada aos pacientes. Os fatores de risco incluem recessão gengival; lesão cervical não cariosa; trincas e fraturas dentais em esmalte e dentina; pacientes com bruxismo ou apertamento dental; pacientes pós ortodônticos; pacientes com saliva/dieta ácida. Posto isso, será possível avaliar a necessidade de um tratamento de dessensibilização prévio ao clareamento.

Assim, a literatura encontrada permitiu compreender a hipersensibilidade dentinária e suas causas, juntamente com as teorias que explicam esse fenômeno pós-operatório, e a partir disso, intervir com os componentes disponíveis para reduzir ou eliminar a sensibilidade dentária induzida pelo clareamento dental, pois o risco de sensibilidade pós operatória está associado ao erro de diagnóstico.

Em síntese, este estudo proporciona uma base de estudos para profissionais de odontologia entenderem e abordarem de forma eficaz os desafios relacionados ao clareamento dental, garantindo resultados seguros e confortáveis para os pacientes.

REFERÊNCIAS

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[1] Graduanda em Odontologia na Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas – FACISA, em Itamaraju (BA). Email: barretosantosfer@gmail.com
[2] Mestre em Gestão. Social, Educação e Desenvolvimento Regional, no Programa de Pós-Graduação STRICTO SENSU da Faculdade Vale do Cricaré – UNIVC (2012 -2015 ). Especialista em Docência do Ensino Superior Faculdade Vale do Cricaré Possui graduação em BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAÇÃO pela Universidade Federal da Bahia (2009). Possui graduação em Sociologia pela Universidade Paulista (2017-2020) Atualmente é coordenador da Biblioteca da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas da Bahia. Coordenador do NTCC FACISA, Pesquisador Institucional do sistema E-MEC FACISA, Recenseador do Sistema CENSO MEC FACISA. Coordenador do NTCC FACISA. Avaliador da Educação Superior no BASis MEC/INEP. ORCID: 0000-0003-1652-8152. E-mail: emanuelvieira6@gmail.com
[3]  Professor-Orientador. Graduado em odontologia pela Universidade Estadual do Sul da Bahia. Especialista em Endodontia pela FUNORTE. Atualmente é coordenador da Liga Acadêmica de Síndrome do Envelhecimento Precoce Bucal da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas da Bahia, Professor de Endodontia e Clínica Integrada da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas da Bahia e Coordenador do Curso de Extensão e Mentoria em Endodontia Mecanizada da clínica Opus Dei, em Eunápolis (BA). E-mail: drjoaopaulopassos@hotmail.com