CAUSAS E EFEITOS DA MIGRAÇÃO PENDULAR PARA A POPULAÇÃO DE VALPARAISO DE GOIÁS  

CAUSES AND EFFECTS OF COMMUTING MIGRATION FOR THE POPULATION OF VALPARAISO DE GOIÁS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10247022057


                                                                                                       José Evangelista dos Santos1
Mirtes Vanusa dos Santos Belarmino Pereira2


Resumo: 

A mobilidade pendular diz respeito ao movimento realizado por indivíduos que se deslocam diariamente, do domicílio de residência até onde trabalham, estudam e buscam outras atividades. Geralmente essa migração ocorre entre cidades-dormitório e uma metrópole, tal como em Valparaíso de Goiás e no Distrito Federal. Essa mobilidade diária intensifica o trânsito de veículos nas vias de acesso a essas localidades. A pesquisa pretende analisar os impactos sociais causados pela migração pendular em cidades de médio porte. Para elaboração deste estudo foram realizadas revisões bibliográficas e levantamento da base de dados do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2022), buscas em órgãos do governo, dados da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (CODEPLAN), artigos completos e revistas. A partir da análise das variáveis: migração, moradia, trabalho, saúde, educação, trabalho entre outros. Observou-se que, cerca de 38 mil habitantes se deslocam diariamente ao DF, em busca de melhores condições de vida, ou seja, 18,82%, da população Valparaíso de Goiás, que é uma região de médio porte com uma população de 198.861 habitantes. Os dados mostram que a distância média percorrida pelos migrantes pendulares, incluindo a partida e regresso ao domicílio, é de 70 km por dia, chegando a uma média de 3 horas de viagem, o meio de transporte mais utilizado é o público, porém o uso de automóvel particular tem uma crescente, devido à superlotação do transporte público. Conclui-se que a migração pendular acarreta diversos impactos socioeconômicos negativos, entre estes, destaca-se o congestionamento do tráfego, a segregação urbana e o aumento dos custos de transporte, culminando até mesmo no declínio dos recursos locais, este movimento pendular diário impõe um desgaste físico e mental aos cidadãos, afetando significativamente a sua qualidade de vida, saúde e bem-estar mental. Com base neste cenário pode-se pensar em avanços na qualidade de vida e soluções como o incentivo à economia criativa por parte do poder público. 

Palavras-chave: migração pendular, efeitos, impactos sociais, Valparaíso de Goiás

ABSTRACT:

Commuting mobility concerns the movement carried out by individuals who travel daily, from their home to where they work, study and pursue other activities. Generally, this migration occurs between dormitory cities and a metropolis, such as in Valparaíso de Goiás and the Federal District. This daily mobility intensifies vehicle traffic on the access roads to these locations. The research aims to analyze the social impacts caused by commuting in medium-sized cities. To prepare this study, bibliographical reviews and a survey of the census database of the Brazilian Institute of Geography and Statistics (2022) were carried out, searches of government agencies, data from the Federal District Planning Company (CODEPLAN), complete articles and magazines. Based on the analysis of variables: migration, housing, work, health, education, work, among others. It was observed that around 38 thousand inhabitants travel daily to the DF, in search of better living conditions, that is, 18.82%, of the population of Valparaíso de Goiás, which is a medium-sized region with a population of 198,861 population. The data show that the average distance traveled by commuting migrants, including departure and return home, is 70 km per day, reaching an average of 3 hours of travel. by private car is increasing, due to overcrowding on public transport. It is concluded that commuting causes several negative socioeconomic impacts, including traffic congestion, urban segregation and increased transport costs, culminating even in the decline of local resources. This daily commuting movement imposes a physical and mental exhaustion on citizens, significantly affecting their quality of life, health and mental well-being. Based on this scenario, it is possible to think about advances in the quality of life and solutions such as encouraging the creative economy on the part of public authorities. 

Keywords: commuting migration, effects, social impacts, Valparaíso de Goiás

1 INTRODUÇÃO

          Este artigo visa analisar de forma detalhada as causas implícitas ao aumento da migração pendular e os efeitos decorrentes desse movimento diário de pessoas. E procura especificamente amenizar os efeitos causados à população pela migração pendular incentivando a capacidade criativa de novos empreendedores. Para isso, serão utilizados dados estatísticos recentes, estudos de caso e revisões de literatura especializada, visando prover uma visão geral e detalhada desse fenômeno.

          Diante do exposto, configurou-se como objetivo de pesquisa “analisar os impactos sociais causados pela migração pendular em cidades de médio porte, Valparaiso de Goiás” e formulou-se a seguinte questão norteadora: como diminuir os efeitos negativos causados pela migração pendular na população na cidade de Valparaiso de Goiás?

           A história da migração não é um assunto novo. Estudos mostram que os homens primitivos, se deslocavam de um lugar para outro em busca de alimentos e condições favoráveis para a sua sobrevivência (SANTOS, 1994). Portanto, a migração é assunto histórico e social, pois depende do momento histórico e das condições vividas no momento para levar a um indivíduo decidir entre migrar ou ficar no local mais apropriado para sua sobrevivência.            A migração interna no Brasil foi mais intensa nas décadas de 1960 e 1980, devido a muitos nordestinos se deslocarem para a região sudeste em busca de melhores oportunidades nas grandes capitais (FRANCELLINO, 2020).

            Os deslocamentos domicílio-trabalho/estudo são um ponto referencial para a análise dos processos de metropolização e expansão urbana, também conhecida como migração pendular. A migração pendular caracterizada pelo deslocamento diário de indivíduos entre as suas residências e locais de trabalho ou estudo, tem crescido cada vez mais, principalmente em áreas metropolitanas (MOURA, BRANCO & FIRKOWSKI, 2005). Essa categoria de mobilidade populacional tem sido exacerbada nas últimas décadas por alguns fatores que analisaremos neste artigo, tais como a expansão urbana, a concentração de empregos em áreas centrais e a melhoria das infraestruturas de transporte. 

           Compreender as causas e efeitos da migração pendular é fundamental para o planejamento urbano e a elaboração de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento da qualidade de vida dos cidadãos. Estudos indicam que a migração pendular é motivada por uma combinação de fatores econômicos, sociais e até espaciais. (MOURA & COSTA, 2013), apresentam que mais da metade de algumas regiões brasileiras registraram no ano de 2010 andamento deste tipo de deslocamento, em que envolvem mil ou mais pessoas em movimento de entrada e saída nos municípios.  

           Uma das principais causas compreende a busca por melhores oportunidades de emprego, a desigualdade no custo de vida entre áreas centrais como Brasília e periféricas como o município de Valparaíso de Goiás e a disponibilidade de um transporte público mais eficiente. Os efeitos dessa migração são amplos e impactam tanto os indivíduos quanto às regiões. Entre os impactos mais observados estão o aumento dos congestionamentos em vias urbanas, a superlotação dos transportes públicos e os efeitos desvantajosos sobre a saúde e o bem-estar dos cidadãos devido ao tempo gasto em deslocamentos. (SERRA et al., 2019).

            A maior parcela das pessoas que fazem esse percurso diário, buscando a própria sobrevivência, trabalha em empregos que requisitam mão-de-obra de baixa qualificação ou conquistam suas rendas no mercado informal. Outros procuram as cidades do DF para ter acesso a saúde e educação (QUEIRÓZ, 2006). Isso evidencia a baixa qualidade de vida dos moradores do Entorno, pois necessitam deslocar de suas moradias habituais para procurar não só a sobrevivência, mas também os serviços de saúde e educação que não são ofertados nas cidades onde reside, gerando assim uma sobrecarga nos serviços oferecidos pela alta demanda do Entorno, fato que como podemos observar tem suas raízes na construção, distribuição do uso do solo e na urbanização de Brasília, como afirma Ferreira & Paviani (1985).

2 REVISÃO DA LITERATURA

O deslocamento pendular é um fenômeno que tem crescido e sido observado cada vez mais devido a sua característica que é o deslocamento de indivíduos que moram nas periferias e precisam se deslocar para dentro dos limites de cidades próximas, em busca de melhores oportunidades de emprego ou estudo. Esse fenômeno tem sido vastamente estudado por diversos pesquisadores, que destacam a importância das causas e efeitos negativos da migração pendular e de como as mudanças sociais, urbanas e econômicas afetam a vida de milhares de pessoas todos os dias. Para compreender melhor sobre esse assunto recorre-se a diferentes abordagens teóricas que exploram sobre a migração pendular. 

Clark et al. (2020), fala sobre como o tempo de deslocamento mais distante da cidade de moradia está associado ao desgaste físico e mental do cidadão. Adams (1995) pressupondo, a partir de seus estudos e formulações de teorias, que as áreas geográficas são definidas, basicamente, em termos de deslocamento diário da residência para o trabalho. Ham, Peng & Xu (2023) Falam em seus estudos sobre o enfrentamento dos indivíduos que precisam se deslocar diariamente, precisando utilizar o transporte público para realizarem suas atividades diárias, ocorrendo um dos efeitos negativos da migração pendular levando ao agravamento da qualidade do ar urbano devido à urbanização, ao progresso econômico e ao transporte público. 

Beaujeu-Garnier (1980), conceituou migração pendular nos clássicos da geografia humana, com ênfase em geografia da população. Porém, a visão de análise do geógrafo difere da do demógrafo, especificamente em razão da natureza da preocupação da geografia com a espacialização dos fenômenos. Cintra, et al. (2009), destaca o conceito de migração pendular como característica o deslocamento de uma pessoa entre dois locais no espaço geográfico que transpassa, ou seja, quando o indivíduo sai para o seu local de trabalho ou estudo e outro quando volta para a sua residência. Ferreira (2017), define movimento pendular como deslocamento diário de pessoas que saem de um município para outro para trabalhar ou estudar e regressam para o município onde moram diariamente.

Queiroz (2006), observou em seus estudos sobre alguns problemas enfrentados pela população do Entorno de Brasília, frutos da urbanização no Distrito Federal ao longo de algumas décadas. O exemplo notado por ele foi a falta de equipamentos urbanos e empregos nas cidades que compõem a região, tendo como uma das causas o intenso processo de migração pendular, principalmente entre os estados de Goiás e Brasília.

Dados coletados pela CODEPLAN (2018), demonstram que mais da metade da população ativa de Valparaíso de Goiás se desloca para trabalhar ou em busca de outros benefícios fora do município, especificamente no Distrito Federal. Nesse quesito, Ramos (2016), levou em consideração em seus estudos que a especulação imobiliária ocorrida nas últimas décadas causou um encarecimento habitacional, fazendo com que esse processo levasse moradores do Distrito Federal a morarem nos municípios goianos da Região Metropolitana de Brasília, incluindo o município de Valparaíso de Goiás em decorrência de programas de incentivos público-privado onde há melhores oportunidades de créditos. Com isso, o município de maior população da região, fez com que o movimento com grande fluxo de pessoas que se deslocam para trabalhar diariamente acarretasse uma sobrecarga na BR-040, tendo como efeito um grande congestionamento na entrada de Santa Maria e Brasília.

3 METODOLOGIA  

 A metodologia adotada para a elaboração deste artigo baseia-se em uma abordagem qualitativa e que envolve revisão bibliográfica, análise de estudos de caso e síntese de informações para fornecer uma visão abrangente sobre o tema “Causas e efeitos da migração pendular para a população de Valparaíso de Goiás” Foi realizada uma revisão detalhada da literatura científica e técnica relacionada a migração pendular, usou-se a base de dados do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), como apoio metodológico foi feito análise dos dados da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (CODEPLAN), sendo responsável pela pesquisa metropolitana por amostra de domicílios-PMAD que apresentou uma análise detalhada da região de Valparaíso de Goiás, usada como ponto de partida para essa pesquisa a partir da análise das variáveis: migração, idade, sexo saúde, educação, trabalho, transportes coletivos, etc.

 A PMAD fornece uma base de dados abrangendo os aspectos socioeconômicos dos municípios que compõem a Área Metropolitana de Brasília (AMB). É composta por 12 municípios goianos que fazem fronteira com o DF e que possuem alto nível de integração com o Distrito Federal. A população alvo é composta pelos domicílios particulares permanentes das áreas urbanas dos municípios. A base de endereços utilizada foi o Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos (CNEFE). Esse cadastro é composto pela listagem dos endereços dos setores censitários realizado pelo Censo Demográfico de 2010. Os resultados expandidos foram ajustados a partir da atualização dos setores censitários da base de endereços do CNEFE do IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

4 BRASILIA COMO METRÓPOLIS ACOLHEDORA DOS MIGRANTES PENDULARES 

            Brasília foi concebida como fruto da modernidade arquitetônica, de acordo com as ideias do urbanista Lúcio Costa e o arquiteto Oscar Niemeyer influenciado pelos ideais da Arquitetura Moderna, baseado na Carta de Atenas de 1933 que tem como principal objetivo a separação das áreas residências, comerciais, setores produtivo, hoteleiro, hospitalar, diversão, entre outros setores isolados encontrados na capital federal, fato que contribuiu para uma política de segregação socioespacial da massa trabalhadora do Distrito Federal amparado em um discurso racionalista e amplamente divulgado pelas ações políticas da elite burguesa com interesses nas áreas nobres do Plano Piloto, surgindo assim uma população totalmente segregada e dependente da infra-estrutura da capital, ocupando espaços impróprios à moradia por não terem condições de arcarem com os altos custos das moradias no quadrilátero fértil do Plano Piloto. Queiroz (2006). A população migrante formava favelas e acampamentos no espaço em construção. Para abrigar essa população foram criados núcleos periféricos ao Plano Piloto, como solução para impedir o crescimento desordenado no centro. Inicia-se, então, um processo de seletividade espacial e de segregação, que se acentua com a vinda de novos contingentes migratórios e com as posteriores transferências de favelas e acampamentos (FERREIRA E PAVIANI, 1985, p.51). Como política pública na tentativa de solucionar o problema estrutural do Entorno e como política de gestão de territórios foi criada a Rede Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal, como mostra o mapa a seguir.

Mapa 01-Municípios que compõem a RIDE- Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno

 A população que compõe a RIDE enfrenta regularmente a migração pendular com a intenção de satisfazer suas necessidades que não são atendidas pelas políticas públicas, seja de trabalho ou tratamento de saúde são geralmente pessoas com poucas, ou sem nenhuma oportunidade e que não dispõe de outra maneira para manter sua própria subsistência a não ser procurar os grandes centros urbanos mais próximos, no caso Brasília.

5 DISCURSÃO DOS RESULTADOS  

           Há registros de Valparaíso de Goiás que remontam a 1959, com a implantação do primeiro loteamento, denominado Parque São Bernardo, que surgiu em decorrência da construção de Brasília. Hoje, São Bernardo é um dos bairros da cidade. Na ocasião, a região recebeu grande número de migrantes, entre os quais um engenheiro civil natural de Valparaiso no Chile, que teria sido o responsável pelo primeiro projeto habitacional da cidade, sendo o nome da cidade uma homenagem a este engenheiro. Contudo, pesquisas recentes indicam que Cesar Barney, arquiteto colombiano, natural de Cali, foi o responsável pelo projeto urbanístico. Todavia, apenas em 19 de abril de 1979 foi inaugurado o pequeno Núcleo Habitacional Valparaíso I, pelo prefeito de Luziânia, Walter José Rodrigues, que também empossou o primeiro administrador regional da localidade, Clóvis José Rizzo Esselin de Oliveira Almeida. Na época, o núcleo habitacional contava com apenas 864 casas, uma escola estadual e o prédio da administração regional. Não havia comércio, e a distribuição de água não era frequente e só havia transporte público na BR-040. Em 2 de maio de 1980, o Decreto-Lei n° 972 instituiu e oficializou o dia 19 de abril comemorativo ao aniversário da fundação do Núcleo Habitacional Valparaíso. Nesta época, já contava com um posto telefônico, uma agência de Correios e Telégrafos, onze lojas comerciais, uma escola estadual de primeiro grau, duas escolas particulares, já extintas, uma igreja católica, duas igrejas batistas, uma Assembleia de Deus. Em 18 de julho de 1995 foi elevado à categoria de município com a denominação de Valparaíso de Goiás, pela Lei Estadual nº 12667, desmembrado de Luziânia (PMDA, 2018, p.18).

            Valparaíso de Goiás, tem uma população urbana de 198.861 habitantes. O quadro 01 mostra que a população feminina é ligeiramente superior, com 50,87% (101.161), como se pode perceber o número da população masculina inferior, com 49,13% (97.700).

Quadro – 01. População segundo o sexo

                       Sexo                            Nº                            %
Masculino                                           97.700                                              49,13
Feminino                                          101.161                                              50,87
Total                                           198.861                                            100,00   

Fonte: censo IBGE/Quadro elaborado pelos autores

De acordo com a faixa etária pode-se observar que a população do município apresenta um perfil jovem, uma vez que mais de dois terços de seus moradores (69,99%) somam até 39 anos de idade. A faixa etária em que se concentra a força de trabalho, de 15 a 59 anos, corresponde a 68,18% da população.

A população com até 24 anos apresenta percentual elevado de 40,89% (81.314), dos quais 24,94% (49.596) são crianças e pré-adolescentes entre 0 a 14 anos, e 17,28% (34.363) jovens de 15 a 24 anos. A faixa que vai dos 25 aos 39 anos compõe 26,86% (53.414) da população municipal. A população com 40 anos ou mais representa 32,25% (64.132) do total, sendo que destes 24,26% (48.243) possuem idade entre 40 a 59 anos. A população idosa, com 60 anos ou mais, representa 7,99% (15.889) dos habitantes do município, dos quais 0,65% (1.292) possui 80 anos ou mais.

          Ao se examinar a naturalidade dos habitantes de Valparaíso de Goiás (por unidade da federação ou outro país), nota-se que a maior parcela, 45,55% (75.009), é natural do DF. No segundo lugar, aparecem os nascidos no Estado de Goiás, 12,11% (19.943); na terceira posição o Estado do Piauí, 8,71% (14.347); seguido, muito de perto, pelos nascidos no Maranhão com 13.692 (8,32%) na quarta colocação; em quinto lugar a Bahia, com 8.930 (5,42%); e Minas Gerais, com 8.394 (5,10%), segundo os levantamentos apresentados. Em relação aos dados apresentados verificou-se uma relação direta entre a faixa etária e naturalidade de habitantes de Valparaíso de Goiás por unidade da federação, com a maior parcela natural do DF, isso explica um alto grau da migração pendular de Valparaíso ao Distrito Federal.              

         Da análise da região de procedência dos moradores de Valparaíso, a maior parcela, ou seja, 57,19% da população (94.178), migrou do Distrito Federal. O segundo grupo mais numeroso se origina na Região Nordeste, com 30.123 (18,29%). Em terceiro lugar, os nascidos no município, com 19.943, correspondendo a 12,11%. Curioso observar, que apenas 2,57% (4.227) se originam em outros municípios de Goiás. Isso explica o efeito da migração pendular existente atualmente alto grau de migrante.

   Mapa 02 – População segundo o Estado de procedência e dinâmica migratória

Quando se analisa o local de residência relacionado ao local de estudo, verifica-se que do total de 41.493 estudantes de Valparaíso de Goiás, a maioria, 81,49% (33.814), estuda no próprio município. Dos 7.025 alunos (16,93%) Brasília, a preferência de 6,46% é pela Região Administrativa do Gama (2.679), seguido pelas RAs do Plano Piloto, com 4,88% (2.024), Santa Maria, com 3,01% (1.250) e Taguatinga, com 1,29% (536). Declararam estudar em outros municípios da Periferia Metropolitana de Brasília -PMB, 1,15% (476).

          Quanto ao local de trabalho, observa-se que 16,05% da população total trabalham no próprio município (26.432 pessoas), correspondendo a 39,05% da população ocupada. A maioria da população ocupada, 37.207 (54,97%), trabalha no DF, com a expressiva concentração no Plano Piloto com 32,10% (21.729 pessoas). Em segundo lugar aparece a RA do Gama com 4.048, correspondendo a 5,98% da população ocupada. Declararam trabalhar em outros municípios da Periferia Metropolitana de Brasília 2.143 pessoas (3,17%).

             Quanto ao meio de transporte utilizado pelos moradores para ida ao trabalho, mostram que 39,75% das pessoas que trabalham (26.908) utilizam o ônibus, enquanto 0,79% (536) vão para o trabalho usando a multimodalidade ônibus e automóvel. No que se refere ao modo particular motorizado, 31,84% (21.550) recorrendo ao automóvel ou utilitário; e 3,87% (2.619) usam a motocicleta. Quanto aos modos de mobilidade ativos, é expressivo o número das pessoas que vão a pé para o trabalho, 11.847 (17,50%), e aqueles que usam a bicicleta somam 1.726 (2,55%).

                           Figura 01 – Empresas por Porte e Natureza Jurídica

                                Fonte: Receita Federal (2024)

            De acordo com a pesquisa a receita federal registrou até este momento um total de empresas, 10.6%, correspondem a outros (1,829 estabelecimentos), 59.7% correspondem a Microempresário Individual (MEI) (10,349 estabelecimentos), 26.7% correspondem a Microempresa (ME) (4,627 estabelecimentos), e 3.04% correspondem a Empresa de Pequeno Porte (EPP) (526 estabelecimentos). Do ponto de vista jurídico, destacam-se Empresário (Individual) (28,925 estabelecimentos), Sociedade Empresária Limitada (8,693 estabelecimentos), e Candidato a Cargo Político Eletivo (1,357 estabelecimentos).

       Figura 02 -Taxa de crescimento dos estabelecimentos (Empresa de Pequeno Porte (EPP))

             Fonte: Receita Federal (2023)

          Em relação à taxa de crescimento dos estabelecimentos das empresas de porte (EPP) pose-se observar um aumento de 400% como pode se ver na figura 02, das atividades imobiliárias na região e menos (-60%) nas atividades de comércio e reparação de veículos automotores e motocicletas, em contrapartida, houve um aumento 140% na construção de edificação, isso vem a corroborar com o crescimento das atividades imobiliárias do Valparaíso de Goiás, figura 02.

     Figura 03 – Taxa de crescimento dos estabelecimentos (Microempresário Individual (MEI))

           Fonte: Receita Federal (2023)

           A cidade de Valparaíso de Goiás tem hoje um registro de 10.349 de microempreendedores individuais e apresentou um crescimento 32,2% no setor de reparação e manutenção de equipamentos de informática, comunicação e objetos pessoais e domésticos, esse tipo de atividade pode ser classificada como economia criativa, já em relação a atividades cinematográficas, produção de vídeos e de programação de televisão, gravação de som e edição de música, atividades também classificadas como atividades criativas houve uma diminuição no setor de (-35%), isso vem da decorrência de poucos investimentos do setor público. Por outro lado, pode-se constatar que houve uma parcela de pessoas que saíram da informalidade para abrir  o seu próprio negócio aproveitando as vantagens oferecida pelo MEI, observa-se o crescimento exponencial de três setores: fabricação de produtos diversos com um crescimento de 80%, manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos com crescimento de 78,6% e educação com crescimento do setor do ensino fundamental com 29,2%, figura 03, isso vem a favorecer  os 24,94% (49.596) crianças e pré-adolescentes entre 0 a 14 anos.

6   CONSIDERAÇÕES FINAIS  

         Em conformidade com os resultados apresentados pode-se verificar que a migração pendular no município de Valparaíso de Goiás tem início em 1959, com a implantação do primeiro loteamento, denominado Parque São Bernardo, que surgiu em decorrência da construção de Brasília. Na ocasião, a região recebeu grande número de migrantes vindo de toda parte do Brasil.

         Verificou um crescimento desordenado da cidade, sem infraestrutura, saneamento básico e postos de trabalho para suprir as necessidades dos migrantes que foram habitando a cidade, por ser umas das cidades mais próximas de Brasília.

         A pesquisa mostrou que houve uma expansão imobiliárias após o seu processo de emancipação, com lotes e casa com valores que atingiram um teto de 50% mais barato, e grande facilidade na hora da compra em relação ao Distrito Federal.

         O grande achado da pesquisa foi em relação à população em análise da região de procedência dos moradores de Valparaíso, a maior parcela, ou seja, 57,19% da população (94.178), mapa 02, migrou do Distrito Federal. Isso vem constatar uma das maiores causas da migração pendular da cidade, pessoas que saíram do DF por causas dos altos valores de compra e aluguéis dos imóveis, mas não deixaram os seus empregos na metrópole. O setor imobiliário vem até hoje corroborando com a mobilidade. Pode-se constatar com o crescimento das atividades mobiliarias que atingiu um patamar de crescimento de 400% em 2023, figura 02. 

           Durante a pesquisa com as análises dos dados percebemos que a população possui características empreendedora, pode-se verificar na figura 01 que mostra o Microempresário Individual (MEI) (10,349 estabelecimentos), com um crescimento 32,2% no setor de reparação e manutenção de equipamentos de informática, comunicação e objetos pessoais e domésticos, no ano de 2023, figura 03, isso representa um avanço da economia criativa no município. 

          Diante de exposto foi apresentado várias causas e efeitos que ocasionaram a população do município devido à migração pendular e, em resposta a questão norteadora o grupo de pesquisa sugere junto a população local o fortalecimento da economia criativa, já que foi verificado durante o trabalho um crescimento no número de microempreendedores individuais, promover ações informativas junto a população para as criações de novos negócios e buscar incentivo junto ao poder público para desenvolver estratégias e criação de novos negócios como fonte de geração de renda, amenizando os efeitos causado a população pela migração pendular.

            A economia criativa abrange uma variedade de setores, refletindo a diversidade de atividades que envolvem a geração de valor a partir da inovação, criatividade e do conhecimento de pesquisadores, artistas, consumidores, comunidades carentes, grupos de minorias, gestores públicos e empresários trabalham em conjunto, desenvolvendo novas práticas econômicas e sociais, o que acaba por transformar estes locais em fontes de recursos para o desenvolvimento de novos produtos, serviços rentáveis e sustentáveis. (CONFERÊNCIA…, 2012). 

           Segundo o texto acima pode-se observar que existem várias atividades que podem ser exploradas e implantadas junto à comunidade local, se for colocado em prática pode se afirmar que haverá uma grande diminuição da migração pendular no município de Valparaíso de Goiás.

7 REFERÊNCIAS

ADAMS, J.S. Classifying settled areas of the United States: conceptual issues and proposals for new approaches. In: DAHMAN, D.C.; FITZSIMMONS, J.D. (Ed.). Metropolitan and nonmetropolitan areas: new approaches to geographical definition. Washington: Population Division/US Bureau of the Census, September 1995. p. 9-83. (Working paper, n. 12).

BEAUJEU-GARNIER, J.(1980). Geografia da população. São Paulo: Companhia Editora Nacional.

CINTRA, A. et al. (2009) Movimento pendular da população na Região Sul, In: Observatório das metrópoles: Território, Coesão Social e Governança. Democrática.

CODEPLAN/GDF. Pesquisa Metropolitana por Amostra de Domicílios (PMAD) – Valparaíso de Goiás 2017-2018. Disponível em: https://www.codeplan.df.gov.br/wpcontent/uploads/2018/03/PMAD_2017-2018-Valparaiso_de_Goias.pdf Acesso em 10 de julho de 2024. 

CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE COMÉRCIO E DESENVOLVIMENTO (Unctad). Relatório de economia criativa 2010: economia criativa, uma opção de desenvolvimento. São Paulo: Itaú Cultural, 2012.

CLARK , B.; Chatterjee, K.; Martinho, A.; Davis, A. Como o deslocamento afeta o bemestar subjetivo. Transporte 2020. Disponível em:

https://link.springer.com/article/10.1007/s11116-019-09983-9 Acesso em 09 de julho de 2024

FERREIRA, Ulisses Carlos Silva. Movimento Pendular, principais destinos e tempo de deslocamento para o trabalho na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. ENANPUR, v 2, n 2, p. 1-15, 2017.

FRANCELLINO, Sandra Maria R.L. Migração pendular de estudantes

universitários na região de Aquidauana – Mato Grosso do Sul- Brasil. Campo Grande, MS. Brasil: UFMS, 2020.  Disponível em: https://www.unilim.fr/trahs/2395&file=1/ Acesso em 03 de julho de 2024.

HAN, Libian; PENG, Chong & XU, Zhenyu O efeito do tempo de deslocamento na qualidade de vida: evidências da China. Internacional J. Meio Ambiente. Res. Saúde Pública 2023, 20, 573. Disponível em: https://www.mdpi.com/1660-4601/20/1/573 Acesso em 09 de julho de 2024. 

https://datampe.sebrae.com.br/profile/geo/valparaiso-de-goias. Acesso em 023 de julho de 2024.

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Brasileiro de 2010. Valparaíso de Goiás: IBGE, 2022. Disponível em:

https://cidades.ibge.gov.br/brasil/go/valparaiso-de-goias/panorama Acesso em 08 de julho de 2024.

MOURA, Rosa; BRANCO, Maria Luisa Gomes Castello; FIRKOWSKI, Olga Lucia. C. Freitas Movimento pendular e perspectivas de pesquisa em aglomerados urbanos. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 19, n. 4, p. 121-133, out./dez. 2005. Disponível em: https://www.scielo.br/j/spp/a/NWrbPYkHk5DXS3sh7yGBnSf/# Acesso em 02 de julho de 2024.

MOURA, R.; Delgado. P. R.; COSTA, M. A. Movimento pendular e políticas públicas: algumas possibilidades inspiradas numa tipologia dos municípios brasileiros. In: BOUERI, R.; COSTA, M. C. (Eds.). Brasil em desenvolvimento 2013: Estado, Planejamento e Políticas Públicas. Brasília: Ipea, 2013. v. 3, p. 665-696. Disponível em: https://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/3941/1/Livro-

Brasil_em_desenvolvimento_2013_v_3.pdf Acessado em 03 de julho de 2024.

PAVIANI, A (Org). e FERREIRA, I.C.B. “Brasília, Ideologia e Realidade Espaço Urbano em Questão”, São Paulo, CNPQ, 1985.

QUEIRÓZ, Eduardo Pessoa de. A migração intrametropolitana no Distrito Federal e Entorno: o consequente fluxo pendular e o uso dos equipamentos urbanos de saúde e

educação. Trabalho apresentado no XV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambú- MG – Brasil, de 18 a 22 de setembro de 2006. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/38976961_A_formacao_historica_da_regiao_do_Di strito_Federal_e_entorno_dos_municipios-genese_a_presente_configuracao_territorial Acesso em 09 de julho de 2024.

RAMOS, Matheus Silva Pereira. Centralidade das cidades de Gama e Santa Maria na região periférica metropolitana de Brasília. 2016. xi, 50 f., il. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado e Licenciatura em Geografia)—Universidade de Brasília, Brasília, 2016. Disponível em: https://bdm.unb.br/handle/10483/19248 Acesso em 10 de julho de 2024. 

SANTOS, R. B.(1994). Migrações no Brasil. São Paulo: Scipione. 

SERRA et al. Desigualdades Socioespaciais de acesso a oportunidades nas cidades brasileiras – 2019. Brasília: Ipea, 2020. Disponível em: https://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/9586/1/td_2535.pdf Acesso em 03 de julho de 2024.


¹Docente do Curso Técnico de Ciências de Dados da EFG Campus Paulo Renato de Souza. Mestre em Engenharia (UnB). Mestre em Engenharia (Acadêmico) UnB, participante do grupo de pesquisa(Análise estatística de dados voltados para a Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS) UnB; pós-Graduado em Gestão de Negócio (UnB); pós-graduado em Matemática (IPEMIG); pós-graduado em gestão de RH empresarial (IGUAÇU); consultor financeiro de empresa privadas no DF e Entorno; licenciatura em matemática (UDF); bacharel em ciências econômicas (UNEB); extensão universitária em planejamento e estratégia para Gestão Escolar Fundação Getúlio Vargas, FGV, Brasil; extensão universitária de Análise Introdutória de Crédito e Risco de Crédito na Instituição de Ensino FGV IBRE – Instituto Brasileiro de Economia; Coordenador do GPI(EFG); docente do Curso Técnico de Ciências de Dados da EFG Campus Paulo Renato de Souza. e-mail: evangelista.jose@yahoo.com.br.

² Discente bolsista da Escola do Futuro Paulo Renato de Souza.Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade Católica de Brasília (2017). Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Economia do Bem-estar Social. e-mail: mirtes.vanusa@gmail.com