EPIDEMIOLOGICAL CHARACTERISTICS OF HOSPITALIZATIONS OF ELDERLY IN A PUBLIC HOSPITAL IN THE SOUTH OF TOCANTINS BETWEEN 2019 AND 2024
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202505240951
Eduarda Souza da Silva1
Julia Alves Carvalho2
Thaís Bezerra de Almeida3
Resumo
Introdução: A expectativa de vida da população tem aumentado substancialmente nas últimas décadas, contudo, a longevidade vem acompanhada de comorbidades e condições que demandam maior necessidade de hospitalização hospitalar, mesmo sendo condições que poderiam ser evitadas ou controladas pela atenção primária. Objetivo: Descrever as características epidemiológicas das internações de idosos no Hospital Regional de Gurupi-TO. Metodologia: estudo de epidemiologia descritiva, transversal, com abordagem quantitativa, cujos dados foram extraídos do DATASUS, considerando o período entre 2019 e 2024. Resultados: as internações do HRG-TO corresponderam a cerca de 10% das internações do estado, sendo predominante entre a faixa de 60-69 anos, com maior frequência entre pacientes do sexo masculino, de raça parda. As doenças mais frequentes entre as causas de internação foram doenças do aparelho circulatório, respiratório e causas externas. O tempo médio de internação chegou a 9 dias, a taxa de mortalidade atingiu 21% e os custos por internação atingiram R$3.203, 91. Considerações Finais: A maior parte das doenças identificadas são sensíveis a atenção primária a saúde, portanto, passíveis de prevenção.
Palavras-chave: Perfil Epidemiológico. Idoso. Hospitalização.
1 INTRODUÇÃO
A longevidade é uma tendência atual da sociedade, a qual vem acompanhada de comorbidades e alterações fisiológicas relativas ao próprio processo de envelhecimento, de modo que a população idosa se mostra predominante nos diversos serviços de saúde (Barbosa et al., 2019; Pretto et al., 2020).
A maior parte dessas condições e patologias são consideradas Condições Sensíveis à Atenção Primária (CSAP), ou seja, são passíveis de prevenção e controle na Atenção Primária à Saúde (APS), cuja efetividade pode impactar no número de idosos atendidos em outros níveis de atenção (AMORIM et al., 2017).
Embora sejam CSAP, estudos demonstram que os idosos ainda representam uma significativa parcela do total de internações hospitalares, assim como estão mais suscetíveis às complicações e maior tempo de internação quando comparados à outras faixas etárias (NUNES et al., 2017; BARBOSA et al., 2019).
Na Inglaterra, a estimativa é de que cerca de 14% dos atendimentos realizados nos serviços de emergência sejam relativos às CSAP e que até 6% dessas internações poderiam ter sido evitadas se o paciente tivesse tido uma assistência mais efetiva na APS (STEVENTON et al., 2018).
No Brasil, o registro de internações de idosos ultrapassam o número de 2,5 milhões, sendo a região sul a que apresentou maior número de internações, proporcionalmente (AMORIM et al., 2018; KNABBEN et al., 2022).
Quanto as principais patologias responsáveis pelas internações de idosos, o Brasil segue a tendência mundial sendo as Doenças do Aparelho Circulatório (DAC), especialmente as Doenças Cardiovasculares (DCV), as mais frequentes, seguidas das doenças do aparelho respiratório e digestivo (MARQUES; CONFORTIN, 2015).
Além dessas patologias, as morbidades relativas às quedas também constituem importantes causas de internação de idosos, sendo a fratura de fêmur uma das principais consequências das quedas (TORRES; OLIVEIRA; PEIXOTO, 2020).
Apenas em 2019, por exemplo, foram registrados 63.102 casos de idosos com fratura de fêmur. Quando comparado ao ano de 2015, esse resultado representa um aumento de 33,86% dessa morbidade (SILVA et al, 2021).
É fundamental enfatizar que a maior longevidade e todas as condições associadas ao envelhecimento são uma realidade e uma tendência brasileira. E, mesmo assim, estudos demonstram que tanto instituições de saúde como profissionais não se encontram plenamente capacitados para o atendimento dessa população em todos os seus aspectos biopsicossociais (BORGES et al., 2015).
Tal fato endossa a importância de que sejam realizados estudos para o conhecimento do perfil epidemiológico das internações de idosos, a fim de que seja possível prover e otimizar os recursos necessários ao atendimento dessa população.
Ante o exposto, surgiu o questionamento quais as características epidemiológicas das internações de idosos no Hospital Regional de Gurupi-TO (HRG) no período entre 2019 e 2024?
Acredita-se que é essencial conhecer as características epidemiológicas de idosos internados em unidades hospitalares, a fim de que seja possível proporcionar a eles condições adequadas durante a sua permanência, como adequação da infraestrutura, treinamento das equipes de saúde, otimização dos recursos materiais, dimensionamento e capacitação adequada das equipes de saúde, entre outras.
Além disso, os resultados deste estudo poderão contribuir para a construção do conhecimento acadêmico nas áreas de epidemiologia e de gestão de saúde pública, visto que através deste levantamento é possível melhorar o planejamento assistencial e otimizar a utilização de recursos humanos e materiais para o atendimento da população idosa.
Nesse contexto, este estudo tem como objetivo principal descrever as características epidemiológicas das internações de idosos no Hospital Regional de Gurupi-TO no período entre 2019 e 2024.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Teorias do envelhecimento
O envelhecimento é um processo inerente e progressivo dos seres vivos. Entre os humanos, é caracterizado por alterações de ordem sensorial, motora e psicológica que podem comprometer a sua autonomia, a execução das atividades do cotidiano, capacidade funcional e, consequentemente, a qualidade de vida do idoso (REIS et al., 2017).
Embora seja um processo natural do ser humano, a identificação dos agentes envolvidos no processo ainda são um desafio para os estudiosos, visto a complexidade relativa ao envelhecimento e a diversidade genética que constitui o organismo de cada pessoa (COSTA et al., 2016).
A fim de explicar o envelhecimento, diversos estudiosos se dedicaram a estudar os fatores envolvidos nesse processo gerando teorias que são divididas em dois grandes grupos: Teorias Programadas e Estocásticas (NASCIMENTO, 2020).
As Teorias Programadas explicam o envelhecimento partindo do pressuposto que os organismos funcionam como uma espécie de relógio biológico, regulando as diversas etapas da vida como crescimento, amadurecimento e senescência (MATERKO; FERNANDES; BRITO, 2020).
Segundo essas teorias, o envelhecimento costuma ser desencadeado por fatores intrínsecos ao organismo, como fatores genéticos. Contudo, passível de ter esse cronograma biológico alterado por interação entre indivíduo e ambiente, bem como as condições de vida nas quais ele encontra-se inserido (COSTA et al., 2016).
As Teorias Estocásticas, justificam o envelhecimento com base nos fatores que provocam agravos à saúde. Segundo essas teorias, o organismo sofre danos que provocam alterações de nível celular e molecular, como por exemplo estresse oxidativo, alterações imunológicas, metabólicas, neurológicas etc., as quais influenciam no processo de envelhecimento (MARTEKO; FERNANDES; BRITO, 2020).
Paralelamente à essas teorias, Nascimento (2020), descreve que estudiosos apontam a existência de teorias baseadas na Teoria da Evolução de Charles Darwin, que se fundamenta no pressuposto de que organismos melhores adaptados têm maior chance de sobrevivência. Uma das teorias mais difundidas desse grupo consiste na hipótese de que nas fases mais jovens da vida existem genes benéficos, os quais se tornam nocivos aos organismos nas fases tardias da vida resultando em prejuízos funcionais para as células, órgãos e sistemas e, assim, promovendo o envelhecimento.
Outros estudiosos apontam, ainda, a existência de outras teorias que se relacionam ao envelhecimento, sendo elas: Teorias Psicológicas, voltadas à explicar o a influência do envelhecimento sobre os processos de pensamento e comportamento humano, as Teorias Sociológicas, que se ocupam de explicar as relações sociais dos idoso, e as Teorias Epidemiológicas, ancoradas nos estudos acerca do aumento da expectativa populacional e quantitativo de idosos (MARTINS, 2017; TECHERA et al., 2017; HASWORTH; CANNON, 2017; WERNHER; MARTINS; LIPSKY, 2015).
Autores mais recentes consentem que o mais aceitável é que o processo de envelhecimento deve ser explicado por uma combinação entre as diversas teorias, de modo que o envelhecimento pode acontecer tanto pelo fenômeno biológico, como genético e molecular, assim como as relações que o indivíduo apresenta com o ambiente no qual está inserido (MELO et al., 2019; NASCIMENTO et al., 2020).
2.2 Senescência e senilidade
Independente da teoria, o envelhecimento apresenta duas circunstâncias distintas que provocam confusão entre o senso comum, acadêmicos e, até mesmo, profissionais: senescência e senilidade (COSTA et al., 2016).
A senescência pode ser explicada pelo processo biológico de envelhecimento, ou seja, o conjunto de mecanismos naturais e deletérios que acontecem no organismo durante a vida. Porém, vale enfatizar que tais alterações podem minimizar com a adoção de hábitos saudáveis de vida, como alimentação saudável, prática de exercícios físicos, sono de qualidade etc. (COSTA et al., 2016; BRASIL, 2023).
A senescência, portanto, é um processo evolutivo e que acomete os diversos sistemas do organismo e, consequentemente, provoca alterações fisiológicas e funcionais configurando novas condições de vida do indivíduo (BRASIL, 2023).
A senilidade, por sua vez, é caracterizada por um declínio funcional com base em mecanismos fisiopatológicos, ou seja, compreendem as doenças que são mais comuns entre os idosos, que acabam ocorrendo com maior intensidade nessa fase comprometendo a capacidade funcional, mas, de cunho patológico (COSTA et al., 2016, BRASIL, 2023).
As doenças mais comuns no envelhecimento estão relacionadas às Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), sendo o Diabetes Mellitus (DM), Hipertensão (HAS), Câncer (CA), doenças do aparelho circulatório, doenças crônicas do aparelho respiratório as mais frequentes nesta fase da vida, resultando em um alto número de internações hospitalares (BRASIL, 2020, 2023).
Outro aspecto importante enfatizar é que essas doenças são consideradas sensíveis à Atenção Primária (AP), ou seja, são passíveis de prevenção ou controle pela AP. Assim, a efetividade das ações de prevenção e promoção da saúde na AP podem refletir em menor número de internações hospitalares (AMORIM et al., 2017).
2.3 Hospitalização de idosos
A hospitalização de idosos representa um importante problema para a saúde pública, visto que os idosos estão mais suscetíveis a complicações de saúde devido a senescência e senilidade. Assim, estão mais suscetíveis a infecções hospitalares, complicações iatrogênicas, maior tempo de permanência, maior risco de declínio funcional, reinternações e institucionalização no pós-alta (TEIXEIRA; BASTOS; SOUZA, 2017).
Concomitantemente, é crescente a preocupação com a abordagem do idosos hospitalizado, uma vez que essa população demanda uma abordagem sistematizada e especializada para atender essa população de forma que atendam suas necessidades resultantes das condições clínicas relativas ao agravo à sua saúde, as comorbidades e às consequências da própria senescência (MIRANDA; BORGES; RIBEIRO, 2019).
Essas condições delineiam nesta população maior vulnerabilidade e uma condição clínica mais complexa que a de populações mais jovens, requerendo das instituições uma infraestrutura apropriada e profissionais com habilidades para prestar atendimento de qualidade e com segurança (SANTOS et al., 2022).
Tais situações resultam maior gasto com saúde pública e privada, uma vez que quanto maior for a necessidade de atendimento de média e alta complexidade durante a internação e quanto maior for a perda da funcionalidade e de dependência do idoso no pós-alta maiores são os custos (NUNES et al., 2017).
3 METODOLOGIA
Estudo de epidemiologia descritiva, transversal, com abordagem quantitativa, cujos dados foram extraídos do DATASUS, considerando o período entre 2019 e 2024.
Foram incluídos neste estudo os dados disponíveis no DATASUS de pacientes com idade ≥60 anos, que estiveram internados no HRG no período entre 2019 e 2024. E foram excluídos os pacientes internados no HRG com idade inferior a 60 anos no período estudado.
As variáveis elencadas foram: faixa etária, sexo, raça, CID10, caráter de internação, tempo médio de permanência (TMP), taxa de mortalidade e valor médio de internação.
Os dados disponíveis no DATASUS foram compilados para planilhas do Microsoft Excel, onde foram calculadas frequência absoluta e relativa. Não foi necessário realizar testes estatísticos, visto que não há hipóteses a serem testadas. Os resultados foram dispostos em tabelas e gráficos de modo a facilitar a análise e descrição dos resultados.
A discussão dos resultados foi realizada através de busca de artigos científicos, dissertações, teses, manuais e cartilhas de entidades que tratem da internação hospitalar de idosos, disponíveis em base de dados eletrônica como Scientific Electronic Library Online (SciELO), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), National Center of Biotechnology Information (NCBI), Biblioteca Regional de Medicina (BIREME), Google Acadêmico e Physiotherapy Evidence Database (PEDRO).
Segundo a Resolução 466/2012, que trata ética em pesquisas e testes com seres humanos, não foi necessário submeter este trabalho à aprovação junto ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) em razão do método de pesquisa escolhido.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS
De acordo com o DATASUS , no Tocantins, 108.704 idosos sofreram internação hospitalar no período entre 2019 e 2024. Destas, aproximadamente 10% ocorreram no Hospital Regional de Gurupi – TO, sendo o ano de 2024 o que apresentou maior taxa de internação.

O Estado do Tocantins possui 17 hospitais públicos de gestão estadual, onde 13 atendem demanda de média complexidade e 4 atendem demanda de alta complexidade, sendo o HRGTO um dos hospitais de alta complexidade (TOCANTINS, 2015).
Assim sendo, é natural que haja uma demanda alta de internação nessa unidade, visto que a unidade é referência de alta complexidade para outros 18 municípios localizados na região de saúde Ilha do Bananal (TOCANTINS, 2013).
Quanto a idade dos idosos, a faixa de 60-69 anos foi a que apresentou maior número de internações no período, representando 39,20% dos casos, seguida da faixa de 70-79 anos, abrangendo 32% dos casos e os idosos com idade de 80 anos ou mais alcançando 28,83% do total.

Figura 1 – Distribuição das internações de idosos por faixa etária e por ano.
Fonte: DATASUS (2025).
Semelhante a este, os achados de Lima et al., (2022) que avaliaram as internações por queda no Brasil demonstraram que a faixa etária mais acometida foi a de 60-69 anos. Em contrapartida, Stolt et al., (2020) descreveram em seu estudo que as taxas de internação são mais altas nessa faixa etária na região Norte e Nordeste, enquanto no Centro-Oeste as taxas de internação mais altas concentram-se entre a faixa de 70-79 e no Sul e Sudeste entre os longevos, ou seja, entre os idosos com 80 anos ou mais.
Não houve estudos que abordassem razões para a faixa etária mais frequente nas internações ser a de 60-69 anos. Porém, este fenômeno pode ser explicado pelo fato de a população idosa nessa faixa etária ser maior e mostrar-se ascendente nos últimos anos, enquanto a faixa de ≥70 anos mostrarem-se praticamente estacionária nos últimos anos, como demonstrado no último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (IBGE, 2023).
Quanto ao sexo, 6.330 idosos internados eram do sexo masculino, correspondendo a 57% do total de internações, e 4.768 do sexo feminino, abrangendo 43% do total de internações. Esse achado foi semelhante ao estudo de Dynkoski et al., (2022), cujo percentual de internações foram estratificadas por sexo e patologia, sendo os pacientes do sexo masculino mais frequentes entre as internações.

Figura 2 – Percentual de internações por sexo.
Fonte: DATASUS (2025).
Esse achado desperta a atenção visto que a população feminina tem crescido nos últimos anos, segundo o último censo do IBGE (IBGE, 2023). E, embora não tenha sido encontrado um estudo que pudesse justificar esse achado, acredita-se que este fenômeno pode estar relacionado ao fato de as mulheres cuidarem melhor da sua saúde no decorrer da vida (SILVA JÚNIOR et al., 2022).
Sobre a raça, 10.544 das internações foram de pessoas autodeclaradas pardas (94%), 435 foram de pessoas brancas (4%), 181 de pessoas negras (2%) e 43 pessoas autodeclaradas amarelas, indígenas ou não informaram a raça (0,4%). Esse achado pode ser explicado pelo fato de a população da região estudada ser predominantemente autodeclarada como parda, correspondendo a aproximadamente 60% da população total (IBGE, 2025).

Figura 3 – Percentual de internações por raça
Fonte: DATASUS (2025)
Acerca das causas das internações, as 3 categorias de CID-10 com maior número de casos registrados foram: IX. Doenças do Aparelho Circulatório, onde foram registrados 2.384 casos no período, X. Doenças do Aparelho Respiratório, responsável por 1.634 internações e XIX. Lesões, envenenamento e algumas outras consequências de causas externas, responsáveis por 2.110 internações, juntas representam cerca de 55% do total das internações do período.


Em razão da expressividade das ocorrências tendo como causa essas três categorias, neste estudo foram exploradas afundo apenas as doenças abrangidas por estas categorias, das quais foram elencadas apenas as doenças com maior frequência entre os internados. Dentro da categoria IX. Doenças do aparelho circulatório, as cinco patologias mais frequentes foram Acidente vascular cerebral (35,82%), insuficiência cardíaca (23,57%), Infarto agudo do miocárdio (19,24%), transtornos de condução e arritmia cardíaca (10,7%) e outras doenças sistêmicas do coração (10,64%), onde juntas representaram 74,6% do total das doenças dessa categoria.

Dentre as doenças apresentadas na categoria X. Doenças do aparelho circulatório, as três mais frequentes foram Pneumonia (64,36%), outras doenças do aparelho respiratório (24,32%) e Bronquite, enfisema e outras doenças pulmonares obstrutivas crônicas (11,31%), as quais representaram 98,33% do total das doenças dessa categoria.

E, por fim, as patologias da categoria XIX. Lesões, envenenamento e algumas outras consequências de causas externas. Neste grupo de doenças as cinco mais frequentes foram Fratura de outros ossos dos membros (42,9%), Fratura do fêmur (24,16%), Complicações precoce de traumatismos e complicações cirúrgicas não classificadas em outra parte (NCOP) (15,76%), Traumatismo intracraniano (9,34%) e Fraturas múltiplas (7,82%), juntas representando 81,7% de todas as doenças dessa categoria.

Silva (2022) corrobora esses resultados em sua obra onde fez um estudo de série temporal acerca das internações de idosos na IV Região de Saúde do Rio Grande do Norte, cujos resultados demonstraram que as doenças do aparelho circulatório e do aparelho respiratório correspondem as principais causas de internação.
Embora as causas relativas as lesões, envenenamentos e consequências de causas externas não esteja entre as três principais no estudo de Silva (2022), ainda se encontra entre as causas mais frequentes.
Semelhantemente, no trabalho de Dynkoski et al., (2025) identificaram que as principais causas de internação foram insuficiência cardíaca, doenças pulmonares, doenças cerebrovasculares, angina e diabetes mellitus, as quais, em sua maioria, encontram-se enquadradas nas categorias identificadas como mais frequentes neste trabalho.
Chama a atenção nestes estudos o fato das causas mais frequentes de internação entre idosos serem doenças sensíveis a APS, com exceção das doenças relativas a lesões, envenenamento e consequências de causas externas.
Acerca do caráter de atendimento, 95% das internações foram classificadas como atendimentos de urgência e apenas 5% classificadas com atendimento eletivo. Esse achado também encontra-se dentro do esperado pelo motivo da unidade estudada ser uma unidade de referencia da rede de urgência e emergência do estado (TOCANTINS, 2015).

Figura 4 – Percentual do caráter de atendimento das causas de internação
Fonte: DATASUS (2025)
Sobre o Tempo Médio de Permanência (TPM) hospitalar, os dados variaram entre 9,1 dias e 8,6 dias, sendo o ano de 2019 com o maior TPM (9,1 dias) e o ano de 2021 com menor TPM (7,6 dias). Esses resultados são considerados altos quando comparados com o trabalho de Silva et al., (2020), cuja predominância do tempo de internação de idosos foi de até 3 dias internados, representando 48% do total da população estudada, seguido de 32% de idosos que ficaram internados de 3 a 7 dias e 28% que ficaram internados mais de 7 dias.

Figura 5 -Tempo médio de permanência hospitalar em dias
Fonte: DATASUS (2025)
Embora o tempo médio de internação do estudo de Silva et al., (2020) tenha sido significativamente menor que os achados desta pesquisa, esses dados não representam a média nacional. Outros trabalhos, como o de Abramovecht et al. (2025) apresentam tempo de permanência superior a 10 dias.
Acerca da Taxa de mortalidade, os resultados variaram entre 12,72% e 21,15%, sendo o ano de 2021 o que apresentou maior taxa de mortalidade (21,15%) e o ano de 2024 o que apresentou menor taxa de mortalidade (12,72%).
No estudo de Abramovecht et al., (2025) a taxa global de mortalidade de idosos chegou a 28,54%, tendo como fatores associados o tempo de permanência, a internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e uso de Ventilação Mecânica (VM). Neste trabalho não foi possível avaliar esses fatores em razão de não ter sido feito uma pesquisa documental em prontuário e sim uma busca no banco de dados do DATASUS.

Figura 6 – Mortalidade absoluta
Fonte: DATASUS (2025)
Esses resultados assemelham-se aos de Silva et al., (2020), cujo mortalidade dos pacientes também foi relacionada ao tempo de internação, presença de comorbidades e internação em UTI.
Quanto ao custo das internações, no período foram gastos R$ 22.440.13,5, sendo o ano de 2021 o que apresentou maior custo a saúde pública (R$5.770.242,87). Acerca do custo médio por internação, foram gastos em média entre R$1.341,28 e R$3.203,91 no período, sendo o ano de 2021 o que apresentou maior custo por internação.
No trabalho de Borges et al., (2023) onde foram analisados os custos com internação no período entre 2015 e 2019 de um hospital do interior de São Paulo, o custo total das internações no período avaliado foi de cerca de R$3 milhões, enquanto neste estudo o custo total foi 92% maior.

Tal situação pode estar relacionada ao fato de o período estudado ter sido acometido pela Pandemia por Covid-19, cujos gastos com saúde aumentaram substancialmente em razão do aumento do custo dos insumos, materiais e equipamentos durante a pandemia e toda a crise econômica arrastada pela referida.
5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse estudo demonstrou que a maior parte das internações em um dos maiores hospitais de referência da rede de urgência e emergência do estado são causadas pode doenças que são sensíveis a APS. E, portanto, reafirmam a importância de uma APS fortalecida e efetiva no controle e na prevenção de doenças não infecciosas e suas consequências, pois, através dessa política é possível prevenir diversas doenças evitáveis com cuidados adequados de saúde, mudanças de hábitos, adoção de um estilo de vida mais saudável e, até mesmo, diagnóstico precoce de patologias que podem ser tratadas. Acredita-se, desse modo, que muitas internações poderiam ser evitadas com uma APS mais fortalecida e efetiva.
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1Discente do Curso de Fisioterapia da UnirG – Campus Gurupi. E-mail: duda44050@gmail.com
2Discente do Curso de Fisioterapia da UnirG – Campus Gurupi. E-mail: juliaalvescarvalho25@gmail.com
3Docente do Curso de Fisioterapia da UnirG – Campus Gurupi. Especialista em Saúde Pública. E-mail: thaistba@hotmail.com