CÂNCER COLORRETAL NO NORDESTE DO BRASIL: PANORAMA DA MORTALIDADE E IMPACTOS DE 2021 A 2024

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202504131424


Emylle Larissa Alves Pereira1; Sophia Vita Nunes Ramalho1; Rodrigo Afonso Saraiva Filho1; Niedja Carla Lima Almeida1; Lisandro Carlos da Silva Neto1; Rebeka Lira Souza Brito1; Lílian Dálath Lacerda Lima1; Maria Victoria Araújo Rafael2; Ewerton Freires Marques3


Resumo

O Câncer Colorretal (CCR) figura entre as maiores causas de morte no mundo, exercendo um impacto considerável nos sistemas de saúde e na qualidade de vida dos pacientes. O propósito deste estudo foi examinar a mortalidade causada por CCR na Região Nordeste do Brasil no período de 2020 a 2024, considerando as variações entre estados, idades, gêneros e grupos raciais. Dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) foram empregados, excluindo registros inacabados, de acordo com as normas éticas definidas. Os achados apontaram que a Bahia teve a taxa de mortalidade mais elevada na região, enquanto a Paraíba registrou um crescimento acima da média nacional. A população mais impactada foi a de 70 anos ou mais, com maior incidência de mortes entre homens e pessoas de cor parda. Os resultados destacaram a importância de estratégias preventivas, expansão de programas de rastreio e aprimoramentos na infraestrutura hospitalar para diminuir a taxa de mortalidade relacionada ao CCR na área.

Descritores: Neoplasias Colorretais; Colonoscopia; Sangue Oculto; Morbidade; Epidemiologia; Saúde Pública.

Abstract

Colorectal cancer (CRC) is among the leading causes of death worldwide, significantly impacting healthcare systems and patients’ quality of life. This study aimed to examine mortality caused by CRC in the Northeast region of Brazil from 2020 to 2024, considering variations across states, ages, genders, and racial groups. Data from the Department of Informatics of the Unified Health System (DATASUS) were used, excluding incomplete records in accordance with ethical guidelines. The findings indicated that Bahia had the highest mortality rate in the region, while Paraíba showed an increase above the national average. The most affected population was individuals aged 70 or older, with a higher incidence of deaths among men and people of mixed race. The results emphasize the importance of preventive strategies, the expansion of screening programs, and improvements in hospital infrastructure to reduce CRC-related mortality in the area.

Keywords: Colorectal Neoplasms; Colonoscopy; Occult Blood; Morbidity; Epidemiology; Public Health Surveillance.

1. INTRODUÇÃO

O câncer colorretal (CCR) está entre as principais causas de morte em todo o mundo, constituindo um desafio crescente para os sistemas de saúde, tanto públicos quanto privados (Sguiglia et al., 2024). Descreve-se pelo crescimento descontrolado de células cancerosas no cólon e reto, ligado a elementos genéticos, ambientais e comportamentais, tais como uma alimentação rica em gorduras, consumo excessivo de carne vermelha, sedentarismo e consumo de tabaco (Silva et al., 2024).

Nos últimos anos, a prevalência de CCR tem crescido significativamente, particularmente em nações em desenvolvimento, onde as práticas alimentares e a disponibilidade de rastreamento são restritas (Duarte et al., 2024). No Brasil, a enfermidade é uma das neoplasias mais diagnosticadas, causando um grande impacto socioeconômico devido aos altos custos do tratamento e à elevada taxa de incapacidade resultante das intervenções terapêuticas (Santo et al., 2025).

A prevenção e a detecção antecipada são fundamentais para diminuir a taxa de mortalidade e as consequências ligadas ao CCR. Programas de monitoramento que utilizam a colonoscopia e a detecção de sangue oculto nas fezes têm demonstrado eficácia na identificação antecipada e na diminuição da taxa de mortalidade (Bovell et al., 2024). Ademais, táticas de educação em saúde e alterações no modo de vida são essenciais na prevenção primária da enfermidade (Miranda et al., 2024).

Neste cenário, o propósito deste estudo foi examinar as tendências de mortalidade por câncer colorretal na Região Nordeste do Brasil no período de 2020 a 2024, examinando as disparidades entre estados, idades, gêneros e grupos raciais.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Definição e classificação do Câncer Colorretal (CCR)

O Câncer Colorretal (CCR) é um tumor maligno que atinge o cólon e o reto, representando uma das principais causas de morbimortalidade global. Descreve-se pelo crescimento descontrolado de células cancerígenas na mucosa do intestino, que podem se espalhar para órgãos como o fígado e os pulmões (Montalvan-Sanchez et al., 2024). O CCR pode ser categorizado com base na sua posição anatômica, sendo segmentado em câncer de cólon proximal, distal e retal, cada um apresentando características únicas em relação ao seu comportamento biológico e prognóstico (Silva et al., 2024). Adicionalmente, é possível subdividi-lo molecularmente em diversos perfis genéticos, tais como o instável microssatélite e o instável cromossomicamente, que afetam diretamente a resposta ao tratamento e a sobrevida dos pacientes (Duarte et al., 2024).

2.2 Fatores de risco e prevenção do Câncer Colorretal (CCR)

Vários fatores de risco estão associados ao desenvolvimento do CCR, com destaque para aqueles ligados ao estilo de vida, tais como uma alimentação rica em gorduras saturadas, excesso de carne vermelha e processada, obesidade, sedentarismo, tabagismo e consumo de álcool (Santo et al., 2025). Ademais, elementos genéticos e predisposição genética também têm um papel crucial, particularmente em pessoas com antecedentes familiares de doenças ou síndromes genéticas correlatas, como a síndrome de Lynch e a polipose adenomatosa familiar (Bovell et al., 2024).

A prevenção do CCR se fundamenta em dois principais métodos: a prevenção primária, que se concentra na diminuição dos fatores de risco que podem ser modificados através de alterações no estilo de vida, e a prevenção secundária, voltada para a detecção e rastreamento precoce da enfermidade (Silva et al., 2024). Programas de monitoramento populacional, que incluem a colonoscopia e a detecção de sangue nas fezes, são fundamentais para a detecção antecipada de lesões pré-malignas, contribuindo assim para a diminuição da incidência e mortalidade do CCR (Montalvan-Sanchez et al., 2024).

2.3 Diagnóstico e manejo clínico para o do Câncer Colorretal (CCR)

A confirmação do diagnóstico de CCR é feita através da combinação de sintomas clínicos, análises laboratoriais e imagens. Sintomas como hemorragia retal, mudança no comportamento intestinal, perda de peso sem explicação e dor abdominal contínua devem ser examinados através de procedimentos como colonoscopia com biópsia, tomografia computadorizada e ressonância magnética (Silva et al., 2024).

A gestão clínica do CCR é determinada pelo estágio da doença no momento do diagnóstico. Em fases iniciais, a excisão cirúrgica do tumor pode ser eficaz, enquanto em casos mais avançados, o tratamento requer terapias sistêmicas, tais como quimioterapia, imunoterapia e terapias direcionadas (Santo et al., 2025). Adicionalmente, progressos recentes na cirurgia minimamente invasiva, como a laparoscopia e a cirurgia robótica, têm mostrado vantagens na recuperação após a cirurgia e na diminuição de complicações (Bovell et al., 2024).

2.4 Reabilitação e qualidade de vida

A recuperação funcional dos pacientes com CCR é crucial para a melhoria da qualidade de vida após o tratamento. Numerosos pacientes lidam com complicações associadas à cirurgia, tais como incontinência urinária e sexual, bem como o efeito psicológico do diagnóstico e do tratamento (Silva et al., 2024).

Programas multidisciplinares que incluem assistência nutricional, fisioterapia, terapia ocupacional e suporte psicológico são essenciais para fomentar a reintegração social e a qualidade de vida dos pacientes (Duarte et al., 2024). Métodos como a reabilitação intestinal e a prática de exercícios físicos sob supervisão têm mostrado vantagens na recuperação funcional e na diminuição da fadiga associada ao câncer (Santo et al., 2025).

2.5 Protocolos e diretrizes para o manejo do Câncer Colorretal (CCR)

É essencial padronizar o cuidado ao paciente com CCR para assegurar a efetividade do tratamento e diminuir a variabilidade nos resultados clínicos. As orientações globais sugerem uma abordagem multidisciplinar, que engloba avaliação oncológica, cirurgia especializada, acesso a terapias sistêmicas inovadoras e assistência paliativa, quando necessário (Bovell et al., 2024).

No Brasil e em todo o mundo, a adoção de programas nacionais de rastreio e orientações fundamentadas em evidências tem se mostrado uma tática crucial para diminuir a pressão da doença no sistema de saúde e aprimorar os prognósticos clínicos dos pacientes (Montalvan-Sanchez et al., 2024).

3. METODOLOGIA

Este estudo epidemiológico descritivo e retrospectivo examinou a distribuição da mortalidade por câncer colorretal na Região Nordeste do Brasil, de 2020 a 2024. As informações foram coletadas do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) por meio do sistema TabNet, e dizem respeito a internações registradas nas Autorizações de Internação Hospitalar (AIH).

Para garantir a qualidade e a confiabilidade das informações examinadas, registros incompletos ou inconsistentes foram eliminados. A coleta de dados foi feita através do programa Tabwin e depois convertida para formatos compatíveis com o Microsoft Excel, possibilitando um processamento e análise mais minuciosos.

O estudo não necessitou da aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), uma vez que empregou informações de domínio público, disponibilizadas em conjunto por estados e municípios, sem identificação pessoal. Assim, o estudo segue os princípios éticos definidos pela Resolução no 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde (CNS, 2012), não representando perigos físicos, morais ou sociais para os participantes.

Variáveis epidemiológicas como gênero, idade, raça, número de mortes anuais e taxa de mortalidade foram examinadas, permitindo uma compreensão mais completa do efeito do câncer colorretal na população do Nordeste durante o período em análise.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O CCR tem sido um dos maiores desafios de saúde pública na região Nordeste do Brasil, com índices de mortalidade que apresentaram um aumento considerável de 2021 a 2024. A avaliação dos dados mostrou variações significativas nos índices de mortalidade por estado, idade, gênero e grupo étnico, destacando desigualdades no acesso a um diagnóstico precoce e a um tratamento apropriado.

Figura 1: Número de óbitos por CCR, registrados na região Nordeste no período de 2021-2024.
Fonte: DATASUS, 2025.

A distribuição por idade (Figura 2) revelou um padrão progressivo de crescimento da taxa de mortalidade à medida que a idade avança. Pessoas com 70 anos ou mais foram as mais impactadas, representando aproximadamente 60% das mortes registradas durante o período. Este padrão corresponde à literatura disponível, que indica a idade avançada como um dos principais fatores de risco para CCR, devido ao acúmulo de mutações genéticas, maior exposição a agentes carcinogênicos e doenças correlatas, como doença inflamatória intestinal e síndromes hereditárias (Duarte et al., 2024).

Figura 2: Número de óbitos por CCR, por faixa etária de adultos no Nordeste, no período de 2021-2024.
Fonte: DATASUS, 2025

No que se refere à avaliação por gênero (Figura 3), observou-se uma taxa de mortalidade masculina superior à feminina, representando aproximadamente 55% das mortes no período analisado.

Figura 3: Número de óbitos por CCR, por gênero no Nordeste, no período de 2021-2024.
Fonte: DATASUS, 2025.
DATASUS, 2025.

Este fenômeno pode ser ligado a aspectos comportamentais, tais como maior prevalência de tabagismo, consumo de álcool e menor comprometimento com as políticas de rastreamento preventivo (Santo; Paula et al., 2025). Em contrapartida, as mulheres costumam ter resultados mais severos após o diagnóstico, possivelmente por causa de demoras na detecção da enfermidade e obstáculos no acesso a tratamentos apropriados (Miranda et al., 2024).

A estratificação racial revelou diferenças notáveis nos índices de mortalidade (Figura 4), onde a maioria dos óbitos ocorreu entre pessoas pardas (48%), seguidas por indivíduos negros (32%) e brancos (18%). A comunidade indígena e amarela contribuiu com menos de 2% das mortes, mesmo que a subnotificação desses grupos seja um aspecto a levar em conta. Estes resultados destacaram a relevância dos fatores sociais na saúde, pois pessoas de menor renda enfrentam obstáculos para obter um diagnóstico precoce e tratamento especializado, afetando diretamente as taxas de sobrevivência (Bovell et al., 2024).

Figura 4: Número de óbitos por CCR dividido por raça, na região Nordeste, no período de 2021-2024.
Fonte: DATASUS, 2025.

A avaliação detalhada da Paraíba revelou que as mortes cresceram de forma progressiva com a idade, sendo mais marcantes na faixa etária de 70 a 79 anos, seguida pelo grupo de 60 a 69 anos (Figura 5). Este padrão corrobora resultados anteriores que indicam a idade avançada como um dos fatores de risco mais significativos para a CCR. Ademais, o aumento da mortalidade na Paraíba foi superior à média nacional, o que pode estar ligado a desafios regionais na infraestrutura de saúde (Silva et al., 2024).

Figura 5: Número de óbitos por CCR dividido por faixa etária em adultos, no estado da Paraíba, no período de 2021-2024.
Fonte: DATASUS, 2025.

A revisão temporal indica que a taxa de mortalidade por CCR na região Nordeste persistiu alta ao longo dos anos analisados, sem apresentar reduções significativas. A estabilidade dos índices sugere desafios contínuos na identificação antecipada e no tratamento adequado da enfermidade. Para Silva et al., (2024), é fundamental tomar ações imediatas, como o aumento dos programas de rastreamento populacional, a ampliação da oferta de exames como a colonoscopia e campanhas de sensibilização acerca dos sintomas e fatores de risco do CCR, para mudar essa situação.

6. CONCLUSÃO

Os resultados deste estudo revelaram um padrão alarmante de mortalidade por CCR na região Nordeste, com um crescimento constante da taxa de mortalidade ao longo dos anos e diferenças significativas entre estados, faixas etárias, gêneros e etnias. Estados como Bahia e Pernambuco registraram as maiores taxas de mortalidade, ao passo que a Paraíba, mesmo com índices mais baixos, ainda lida com desafios consideráveis no diagnóstico e tratamento da enfermidade.

A maioria dos óbitos ocorre entre os idosos, o que enfatiza a importância de estratégias de monitoramento constante e medidas preventivas direcionadas a este grupo, que incluem o controle de fatores de risco e a expansão do acesso a exames de detecção antecipada. Ademais, a elevada taxa de mortalidade masculina destaca a relevância de campanhas focadas na sensibilização sobre a participação em programas de rastreamento. As desigualdades raciais identificadas destacaram a necessidade de políticas públicas que assegurem igualdade no acesso ao tratamento, principalmente para os grupos mais vulneráveis.

Com a manutenção das taxas de mortalidade ao longo dos anos estudados, fica clara a necessidade de ações adicionais para diminuir a letalidade do CCR na área. Aprimorar a infraestrutura hospitalar, expandir o acesso à assistência especializada e investir em programas de prevenção são essenciais para aprimorar as perspectivas e minimizar os efeitos da enfermidade na população do Nordeste do Brasil.

7. REFERÊNCIAS

BOVELL, A. A. N. et al., Incidence, trends and patterns of female breast, cervical, colorectal and prostate cancers in Antigua and Barbuda, 2017–2021: a retrospective study. BMC cancer, v. 25, n. 1, p. 72, 2025.

CNS, Conselho Nacional de Saúde. Resolução n° 466 de 12 de dezembro de 2012. Regulamenta a Resolução nº 196/96 acerca das Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas Envolvendo Seres Humanos. Brasília (DF): Ministério da Saúde, 2012. Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf. Acesso em: 10 fev. 2025.

DATASUS. Departamento de Informática do SUS. Banco de dados sobre internações hospitalares por câncer de colorretal no Brasil. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2024. Disponível em: http://www.datasus.gov.br. Acesso em: 23 fev. 2025.

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SILVA, M. P. M. E. et al. From oncologist to surgeon-genetics in colorectal metastasis for surgeons. Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva (São Paulo), v. 37, p. e1869, 2024.


1 Discentes do Curso de Medicina. Centro Universitário Facisa – Campina Grande, PB.
2 Discente do curso de Medicina do Centro Universitário Nassau – Campina Grande, PB.
3 Médica pelo Centro Universitário Facisa – Campina Grande, PB.
4 Médico pelo Centro Universitário Santa Maria – Cajazeiras, PB.