BENEFÍCIOS DOS RECURSOS LÚDICOS APLICADOS NA PSICOLOGIA HOSPITALAR: REVISÃO DE LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7347426


Eliane Ribeiro Oliveira1
Roberta de Oliveira Campos1


RESUMO

A atividade lúdica é um mecanismo imprescindível a ser utilizado nos ambientes hospitalares. Através desse mecanismo, torna-se possível a criação de um vínculo afetivo entre o paciente e os profissionais de saúde, viabilizando melhor aceitação e adesão ao tratamento. Considerando esses aspectos, o presente trabalho teve por objetivo analisar através da revisão de literatura a aplicação dos recursos lúdicos na psicologia hospitalar, os objetivos específicos incluem: Descrever as técnicas lúdicas mais utilizadas no contexto hospitalar; Identificar os benefícios da ludicidade na forma como o paciente responde à hospitalização; e Descrever a percepção dos profissionais da saúde quanto ao uso do lúdico como recurso terapêutico. Para isso, utilizou-se da metodologia de revisão sistemática da literatura com artigos publicados no período de 2017 a 2022, por meio de buscas nas bases de dados Pubmed/Medline, Scielo, periódicos Capes e Google Acadêmico. Foram Selecionados 8 artigos publicados na íntegra, em língua portuguesa. Os achados evidenciaram através da análise de conteúdo que a aplicação do lúdico em espaços hospitalares é simples de implementar e é necessário para diminuir ou eliminar os traumas que a hospitalização causa ao indivíduo, além disso, os benefícios dessa técnica podem contribuir na diminuição dos efeitos estressores da internação e tornar a assistência prestada consideravelmente mais humanizada. Ele assume muitas formas diferentes, desde o estabelecimento de uma conversa até o uso de ferramentas como um jogo, contação de história ou um desenho.

Palavras-chave: Psicologia hospitalar; Estratégias lúdicas; hospitalização humanizada;

ABSTRACT

Playful activity is an essential mechanism to be used in hospital environments. Through this mechanism, it becomes possible to create an affective bond between the patient and the health professionals, enabling better acceptance and adherence to treatment. Considering these aspects, the present study aimed at analyzing the application of ludic resources in hospital psychology through a literature review: Describe the most commonly used playful techniques in the hospital context and the benefits of this practice; Identify how playfulness affects the way the patient responds to hospitalization; and Describe the perception of health professionals regarding the use of play as a therapeutic resource. For this, we used the methodology of systematic literature review with articles published in the period 2017 to 2022, through searches in the databases Pubmed/Medline, Scielo, Capes journals and Google Academic. Nine articles published in full, in Portuguese, were selected. The findings showed through content analysis that the application of play in hospital spaces is simple to implement and is necessary to reduce or eliminate the traumas that hospitalization causes to the individual; moreover, the benefits of this technique can contribute to reducing the stressful effects of hospitalization and make the assistance provided considerably more humanized. It takes many different forms, from establishing a conversation to the use of tools such as a game, storytelling, or a drawing.

Keywords: Hospital Psychology; Playful Strategies; Humanized Hospitalization; 

1. Introdução

Apesar de ser uma prática que está em alta ultimamente, as atividades lúdicas em hospitais e outros contextos de atenção à saúde são usadas desde o final do século XIX, quando organizações beneficentes desenvolveram programas de apoio a crianças hospitalizadas, nos quais jogos, histórias e atividades semelhantes foram propostos como meio de atendimento a crianças doentes. (WHITAKER; BARBOUR; WELDON, 2014).

Além disso, os ancestrais consideravam as atividades físicas de extrema importância para o desenvolvimento de seus filhos, uma vez que essa prática contribui para o bem-estar cognitivo, físico, social e emocional de crianças e jovens. Na prática, para eles, brincar era sinônimo de saúde e bem estar. (GONÇALVES, 2018).

Da mesma forma, Henri Sellier, então ministro da saúde francês, liderou as primeiras iniciativas de educação em ambientes hospitalares em 1935 na cidade de Paris. Acreditava que as instituições assistenciais poderiam acolher crianças órfãs e assim o fez, estabelecendo todo o sistema de supervisão dos serviços de higiene para acolher essa população. Essa ideia foi um avanço que se espalhou por toda a Europa e Estados Unidos. Com o início da segunda guerra mundial, houve também a necessidade de estabelecer instituições que atendessem veteranos de guerra ou crianças separadas de seus pais (RODRIGUES, 2019) 

Os hospitais não são lugares convidativos, mas o desenvolvimento de atividades lúdicas podem proporcionar mais aceitação uma vez que, é através do brincar que a criança aprende a reproduzir seu cotidiano, descobre o mundo e suas possibilidades, pois é um exercício livre e sem seguimentos ou roteiros, sendo algo totalmente natural da criança. (KISHIMOTO, 2008).

Uma criança geralmente ao se deparar com uma situação de hospitalização, se sente sobrecarregada, principalmente devido ao ambiente hostil do hospital. Paredes lisas, sem estímulo; pessoas enferma deitadas em seus leitos e outras desconhecidas que circulam de lá para cá que impedem o cumprimento de regras e bom-comém; a manipulação do corpo de forma invasiva e dolorosa. (OLIVEIRA 2003; SILVA 2019).

Desta forma, para pessoas hospitalizadas, o brincar pode ser uma ferramenta poderosa para reduzir sua tensão, raiva, frustração, conflito e ansiedade, melhorar suas capacidades de enfrentamento e domínio, e seus sentimentos de controle, sua cooperação e comunicação com o clínico. De acordo com Vygotsky (1994), o prazer não pode ser considerado a característica definidora do brinquedo, como muitos pensam. Para o autor, o brinquedo na verdade, preenche necessidades, entendendo-se estas necessidades como motivos que impelem a criança à ação. São exatamente estas necessidades que fazem a criança avançar em seu desenvolvimento.

Conforme explana De Assis Simoes et.al (2010) as atividades lúdicas proporcionam alterações no ambiente hospitalar, favorecendo melhor aceitação ao tratamento e promovendo interação entre clientes, profissionais e familiares. O lúdico deve ser utilizado como ferramenta diária nas atividades da equipe de saúde, contribuindo para o desenvolvimento de uma assistência de qualidade.

A atividade lúdica é considerada uma estratégia de humanização, que propicia o brincar de diversas formas. Esta atividade deve ser utilizada diariamente pela equipe de saúde, pois possibilita ao indivíduo tanto uma continuidade do desenvolvimento como a reintegração do bem-estar físico e emocional, resultando assim em uma hospitalização menos traumatizante, pois além de estabelecer uma interação entre o paciente, família e o profissional da saúde, torna o ambiente no qual o sujeito está inserido mais agradável. Nesse contexto, a sua prática concede que o sujeito exponha sentimentos negativos frente à hospitalização, bem como a mudança de comportamento (AZEVÊDO, 2013; CUNHA e SILVA, 2012; SIMÕES et al., 2010).

Para a Teixeira  et al. (2015) as atividades lúdicas proporcionam alterações no ambiente hospitalar, favorecendo melhor aceitação ao tratamento e promovendo interação entre clientes, profissionais e familiares. O lúdico deve ser utilizado como ferramenta diária nas atividades da equipe de saúde, contribuindo para o desenvolvimento de uma assistência de qualidade.

Diante do exposto, o objetivo do artigo é analisar através da revisão de literatura os recursos lúdicos aplicados na psicologia hospitalar. E como forma de definição do tema, os objetivos específicos incluem: Descrever as técnicas lúdicas mais utilizadas no contexto hospitalar; Identificar os benefícios da ludicidade na forma como o paciente responde à hospitalização; Descrever a percepção dos profissionais da saúde quanto ao uso do lúdico como recurso terapêutico.

2. Material e Método

Trata-se de um artigo cientifico de revisão sistemática da literatura, onde foram consultados as bases de dados cientificos: Pubmed/Medline, Scielo, Periódicos Capes e Google Acadêmico. Foram selecionados artigos publicados que abordavam o tema em um intervalo dos últimos 5 anos (2017 a 2022) completamente disponíveis nas bases eletrônicas. Nos casos dos artigos que não abriram nas plataformas, usou-se o site SCI-HUB, colocando o número do DOI ou a URL do artigo para a revisão na íntegra. A pesquisa foi realizada no período de março a agosto de 2022, selecionando artigos científicos que completem o objetivo proposto à pesquisa.

Para a busca de dados foram utilizados os seguintes descritores: psicologia hospitalar, estratégias lúdicas, hospitalização humanizada; Humanização da assistência. Bem como a palavra AND como conector da língua inglesa. 

Os artigos encontrados foram primeiramente selecionados de acordo com o tema e objetivo do estudo, utilizando como critérios de inclusão trabalhos científicos mais recentes, que apresentassem as palavras consideradas nesse trabalho como chave. Os critérios de exclusão foram: trabalhos repetidos, artigos de revisão, e os que não estavam relacionados ao tema, bem como teses, textos incompletos, livros, resumos, cartas ao editor, resenhas e artigos que não incluíam a questão norteadora nas respectivas bases de dados. No total foram analisados vinte e cinco artigos, porém após análise, utilizamos nove (08) artigos para discussão final. 

3. Resultados

Foi elaborada a tabela 1 com os dados dos 8 artigos selecionados e estruturados para visualização e compreensão dos resultados. A descrição apresenta o nome dos autores e ano de publicação, titulo, objetivos, metodologia e principais resultados, abrangendo suas recomendações e conclusões.

Tabela 1 – Artigos selecionados para análise

AUTORES/ANOTITULOOBJETIVOMÉTODORESULTADOS/CONCLUSÕES
1. PAULA, Tailah Barros de et al.
2017
Potencialidade do Lúdico como Promoção de Bem-Estar Psicológico de Pacientes em HemodiálisePropor atividades lúdicas e relaxamento durante sessões de hemodiálisepesquisa qualitativa houve melhora relativa do humor e que elas contribuíram para melhor enfrentamento da situação de imobilidade e ociosidade durante as sessões de hemodiálise
2. SILVA, A. C.M ; SEI,M. B. 
2019
A Contação de Histórias e a humanização no hospital: vivências de profissionais da saúdeInvestigar o uso da Contação de Histórias na humanização da formação e do cuidado em saúdepesquisa qualitativa, exploratóriaObservou-se, que a influência da Contação de Histórias na prática profissional dos participantes, auxilia na interação paciente e equipe de saúde e serve de amparo para uma prática humanizada.
3. GESTEIRA, E C. R. et al.2020Projeto lúdico para crianças hospitalizadas: um relato de experiênciaSuscitar uma reflexão para a equipe multiprofissional sobre a importância da atividade lúdica para crianças hospitalizadasRelato de experiênciapermitiu aos profissionais de saúde uma reflexão acerca do lúdico na vida de crianças hospitalizadas, como estratégia de cuidado, atenção, comunicação e formação de vínculo.
4. ROCKEMBACH, J. A. et al.
2017
Inserção do lúdico como facilitador da hospitalização na infância: percepção dos paisconhecer a percepção dos pais quanto a inserção de atividades lúdicas durante a internação hospitalar da criançaestudo qualitativo, descritivo e exploratóriocom a utilização de atividades lúdicas, conclui-se que essas são capazes de tornar o ambiente hospitalar menos ameaçador, possibilitando resgatar sorrisos e alegria de ser criança.
5. SOUZA, L. da S. Etl.al 
2022
O Lúdico no Processo de Hospitalização das Crianças com Cânceranalisar as contribuições do lúdico para o processo de hospitalização das crianças com câncer.Pesquisa qualitativa com método da hermenêutica-dialética.foi constatado que a ludicidade é um recurso terapêutico enriquecedor, que contribuiu para ao desenvolvimento das crianças com câncer
6. SILVA, J.
2021
O lúdico como recurso terapêutico no tratamento de crianças hospitalizadas: percepção dos enfermeirosdescrever a percepção dos enfermeiros quanto ao uso do lúdico como recurso terapêutico no tratamento de crianças hospitalizadas.pesquisa exploratória, descritiva e qualitativa.Confirmou-se que os enfermeiros possuem uma concepção positiva sobre a relevância e os vários benefícios da inserção do lúdico no ambiente hospitalar pediátrico
7. PIMENTEL, M.; MESQUITA, C.; LIMA, G
2021
Piskatoomba no hospital: vestuário lúdico e minimização de estresse para crianças em tratamento de câncer.Abordar a experiência de crianças com câncer no contexto hospitalar a roupa como um possível elemento facilitador no tratamento da doença.Pesquisa exploratória, qualitativa de campoIdentificou-se que os recursos ergonômicos são adequados para ajudar a minimizar os obstáculos enfrentados nos procedimentos hospitalares
8. FURTADO, K. R. et al. 
2020.
O Uso do Jogo Digital Hospital Mirim como Estratégia de Enfrentamento à Procedimento Invasivo.Investigar os efeitos do serious game Hospital Mirim como estratégia de enfrentamento ao procedimento invasivo de coleta de sangue.Pesquisa ExperimentalDe modo geral, o jogo foi um instrumento facilitador ao enfrentamento da coleta de sangue pelas crianças, diminuindo a percepção da dor.

4. Discussão

4.1 Principais atividades Lúdicas em ambientes hospitalares 

Os autores destacam uma variedade de estratégias de atividades lúdicas terapêuticas que os profissionais de saúde podem empregar para estimular uma melhor interação do paciente com o ambiente hospitalar. Paula et al, (2017) utilizaram como ferramentas ludicas em um grupo de pacientes que realizavam sessões de hemodiálise o Relaxamento e visualização de imagens, o jogo “Quem sou eu? e a produção gráfica. De acordo com os autores o objetivo das atividades eram reduzir sentimentos de ansiedade e gerenciamento de estresse bem como, possibilitar a livre expressão, pois emoções, sentimentos, percepções e sentimentos podem ser expressos por meio de desenhos.

Os estudos realizados por Souza, et.al (2022) utilizarem a brinquedoteca, para a aplicação de brincadeiras, jogos e mostras artísticas como tratamento de crianças com câncer. Os jogos desenvolvidos com as crianças são classificados, de acordo com os autores apud Melo (2003) em jogos populares, esportivos e de salão, por exemplo: pega-pega de balão, amarelinha, handebol sentado, basquetebol adaptado, quebra-cabeça, jogo das letras, etc.

Já a experiência de Silva & Sei (2019), contou com a participação de cinco profissionais de diferentes áreas da saúde integrantes do Projeto SensibilizArte que utiliza como recurso lúdico a Contação de Histórias com o objetivo de investigar o uso desse método na humanização da formação e do cuidado em saúde, os autores destacam que a influência da Contação de Histórias na prática profissional dos participantes, auxiliam na interação do paciente e equipe de saúde e serve de amparo para uma prática humanizada. 

Outra atividade lúdica bastante utilizada em hospitais é o teatro de fantoches, conforme apontam Gesteira et. al (2020 p.1), “As histórias eram baseadas nos clássicos infantis, e diferentes enredos associados ao uso de músicas, fantoches e fantasias que favoreciam a imaginação de crianças e acompanhantes”. 

Da mesma forma, Rockembach, et al. (2017) utilizaram fantoches e brinquedos em um experimento realizado em um hospital com 06 crianças com idades entre 05 e 10 anos de diagnósticos diversos. Um dos pesquisadores do estudo, aplicou o lúdico na unidade todas as tardes durante o período de internação das crianças para estimula-los a usar a imaginação e criar suas próprias realidades por meio de máscaras, fantoches, jogos, fantasias e desenhos. Para os autores, a utilização de instrumentos hospitalares fictícios e bonecas, oportunizou para as crianças conhecer, experimentar e repetir o procedimento brincando, adquirindo assim, conhecimentos em relação ao cuidado a que estavam sendo submetidos e passando a percebê-los de forma menos ameaçadora.

Pimentel, et al (2021) realizou uma pesquisa de campo em um hospital, analisando os impactos na experiência de tratamento da criança com câncer por meio do vestuário com recursos ergonômicos e ludicidade. Os autores verificaram que as roupas promoverem a interação com a criança, onde os entrevistados confirmam o potencial: “a criança, ela já vem com algo de querer mostrar o que é novo, e com certeza vai chegar pra enfermagem e contar como a roupa funciona, isso aumenta o vínculo”, tornando possível também criar histórias e estimular fantasias positivas, fazendo das peças de roupa da coleção um recurso de brincadeira . 

Por sua vez, Furtado et al (2020), em seu experimento com um grupo de 40 crianças com idade entre seis e 10 anos, utilizou como ferramenta lúdica O jogo digital “hospital Mirim” (serious game, em inglês), O jogo foi desenvolvido no Instituto de Computação da Universidade Federal de Mato Grosso e tem por objetivo simular e orientar o jogador passo a passo para que este realize o procedimento de coleta de sangue. O jogo possui propósito de diminuição de medo, estresse, ansiedade e dor (Lemos et al., 2016).

4.2 Benefícios da terapia lúdica na forma como o paciente responde à hospitalização.

Gesteira et al. (2020) Descreveram em seu relato de experiencia as interações com crianças hospitalizadas que envolveram a contação de histórias, juntamente com o uso de fantoches, músicas, fantasias, e fábulas e foi possível observar que as atividades estimularam a imaginação das crianças, promovendo a humanização e a redução dos efeitos da doença, além de garantir variedade e dar às crianças a chance de buscar a manutenção emocional.

No estudo realizado por Paula et al, (2017), o feedback dos participantes sobre as atividades aplicadas indicam que houve melhora no humor e que elas ajudaram os participantes a lidar melhor com a situação de imobilidade e ociosidade durante as sessões de hemodiálise, além de permitir que expressassem suas necessidades singulares e subjetivas.

Silva (2021) concluiu em seu estudo que a utilização do lúdico como recurso terapêutico em ambiente hospitalar oferece uma série de vantagens à criança hospitalizada, destacando-se a redução do estresse. O Autor acrescenta que o lúdico interfere de forma positiva no que concerne aos efeitos estressores que o processo de hospitalização ocasiona ao indivíduo, promovendo bem-estar e tranquilidade diante da utilização de brincadeiras.

Pimentel, et al (2021) ao estudar a utilização de vestimentas lúdicas em seu experimento descobriu que essa ferramnta tem o potencial de melhorar a experiência hospitalar de uma criança com câncer, reduzindo potencialmente a ansiedade, o estresse e a resistência da criança durante os procedimentos. Por meio do uso repetido e da interação com os objetos, espera-se melhorar a qualidade de vida da criança durante o tratamento hospitalar. Isso reduzirá seus níveis de estresse e lhes dará mais oportunidades para memórias positivas. Os pesquisadores observaram uma diminuição da ansiedade e, consequentemente, da tensão, ao utilizar recursos distrativos e divertidos nas roupas dos pequenos, usadas durante os procedimentos. Afirmam ainda, que as soluções estratégicas para as peças poderiam reduzir a manipulação do corpo, diminuir as obstruções relacionadas ao vestuário e tornar a experiência hospitalar melhor para as crianças com câncer, podendo impactar na forma como lidam com o medo, o estresse e a resistência durante os procedimentos.

Furtado et al (2020), perceberamque o jogo pode ser avaliado como um brinquedo terapêutico digital interativo que apresenta função psicoeducativa e lúdica no sentido de proporcionar à criança a vivência de uma experiência em relação ao procedimento de coleta de sangue, os autores concluiram que o jogo foi um instrumento facilitador ao enfrentamento da coleta de sangue pelas crianças, diminuindo a percepção da dor.

Silva & Sei (2019) citando Braga et al. (2011) acreditam que a Contação de Histórias é um recurso capaz de trazer alívio e diminuir os efeitos negativos da hospitalização, favorecendo o surgimento de posturas de enfrentamento e adesão ao tratamento.

Os seis pais de crianças internadas entrevistados por Rockembach, et al. (2017), realizada em uma unidade de internação pediátrica de um hospital universitário, em uma cidade do Rio Grande do Sul, deescreveram os sentimentos que emergiram durante a hospitalização; notaram as explosões de medo da criança, o desejo de voltar para casa e o comportamento agressivo em relação ao ambiente hospitalar. Essas situações impactaram negativamente na permanência da criança. De acordo com o entendimento dos pais, as atividades lúdicas terapêuticas ajudaram a criança a se adaptar na unidade pediátrica, pois mudaram seus comportamentos negativos e trouxeram benefícios enquanto a criança estava internada. 

Ou autores reforçam ainda que o lúdico consegue modificar o imaginário infantil uma vez que possibilita modificar o olhar sobre o adoecimento e sobre as suas consequências negativas. Em um ambiente hospitalar, uma criança pode expressar seus medos, ansiedades e dúvidas, bem como como eles diferem das intervenções e desafios da separação. Pode-se inferir das falas dos pais que o uso do lúdico, seus filhos tiraram de foco a doença e a hospitalização, direcionando para as brincadeiras

Na pesquisa de Souza et. Al (2022) que teve como público-alvo crianças de 03 – 08 anos de idade, que estavam no hospital para fazer quimioterapia e consultas rotineiras, concluiu que a ludicidade é responsável por proporcionar momentos de alegria, alívio, prazer para as crianças com câncer, melhorando a sociabilidade e interação delas, além de contribuir para a melhor aceitação do tratamento hospitalar, também promovendo o bem-estar, diminuindo os efeitos colaterais ocasionados pelo tratamento das crianças com câncer.

4.3 Percepção dos profissionais da saúde quanto ao uso do lúdico como recurso terapêutico

No que se refere á percepção dos profissionais em relação ao lúdico no ambiente hospitalar, o estudo de Silva (2021) resolveu investigar a percepção dos enfermeiros quanto ao uso do lúdico como recurso terapêutico no tratamento de crianças hospitalizadas com entrevistas conduzidas a 10 enfermeiras assistenciais da ala pediátrica de um Hospital Regional de Emergência e Trauma de um Município Paraibano. Os resultados da pesquisa mostram que Diante de um desenvolvimento infantil adequado, as enfermeiras acreditam que o lúdico exerce a função de facilitador para a estimulação do imaginário e contribui para a formação de fantasias da criança, estabelecendo uma conexão entre o mundo real e o ilusório. 

Por outro lado, outros entrevistados da pesquisas fizeram inferência à prática do lúdico no ambiente hospitalar como aquela que possibilita a diversão e o entretenimento da criança. Diante do exposto, a pesquisa deixa clara que, na opinião dos entrevistados, o uso da terapia ludica é uma tática que estimula a distração e a diversão da criança na situação em que ela se encontra, permitindo que a criança escape de condições de vida desagradáveis por meio de jogos, atividades e objetos que tenham significado para ela. Além disso, a técnica citada possibilita que a criança desenvolva sua criatividade por meio da estimulação, seja ela motora ou perceptiva, SILVA (2021).

Já a pesquisa exploratoria de Silva & Sei (2019) que objetivou discutir o uso da Contação de Histórias no ambiente hospitalar como um instrumento para humanização da formação de profissionais de saúde, enfatiza por meio dos relatos dos profissionais entrevistados, que a Contação de Histórias se configura como um apoio, uma base obtida na formação que eles carregam durante os atendimentos, cuja experiência influencia na atuação profissional. Tem-se um aprendizado a partir da proximidade com o paciente, que gera sentimentos fortes, demonstrados nos relatos emocionados, carregados de significação, que engajam os profissionais em busca da construção de um cenário em saúde mais humanizado.

Pimentel, et al (2021) ao questionar os profissionais de saude sobre o controle das reações negativas no contexto hospitalar, afirma que a maioria dos profissionais cita a criação de vínculo com a criança como um ponto bastante importante, pois, uma vez que a criança confia naquele profissional, ela passa a permitir que ele realize o que for necessário no momento. Os autores acrescentam que é possível criar essa relação de várias maneiras: i) estratégias lúdicas para explicar o que será feito; ii) conversa e respeito ao espaço da criança; iii) distração; iv) apoio dos acompanhantes e/ou da equipe psicológica.

 Os estudos de Rockembach, et al. (2017), corroboram com esses resultados uma vez que de acordo com os autores a importância do lúdico também é reconhecida pelos enfermeiros pediátricos, cujos benefícios são apreciados pela criança, pela família e pelos profissionais, pois é capaz de diminuir expressivamente a ansiedade e a dor que são vistas como malefícios relacionados à hospitalização. Para os profissionais a brincadeira torna o ambiente mais familiar e promove maior contato e interação com a criança, tornando-se uma ferramenta terapêutica.

5. Considerações Finais 

A hospitalização é vista como uma situação traumática para todos os indivíduos, independentemente da idade, seja por: tempo de permanência, ansiedade, medo, solidão, vulnerabilidade, separação da família, ambiente desconhecido, perda de privacidade ou procedimentos que normalmente são dolorosas.

Os achados que compõem esse estudo, evidenciam que dentro de um contexto terapêutico, as atividades lúdicas podem mudar o ambiente hospitalar e ajudar o paciente a se recuperar mais rápido. Além disso, auxiliam na melhor relação entre o hospitalizado e a equipe multiprofissional, promovendo maior aceitação do tratamento.

A bibliografia estudada também aponta que entre as principais atividades lúdicas utilizadas no ambiente hospitalar, destacam-se os jogos, as brincadeiras, os desenhos, a contação de historia por meio dos teatros com fantoches, cantigas e outros, bem como a a utilização de adereços e vestuários lúdicos. 

As ferramentas lúdicas discutidas nesta revisão apresentaram benefícios permitiram que os pacientes expressem seus sentimentos, medos, opiniões e dúvidas. Essas ferramentas também atendem ao requisito ético de adequar os métodos ao nível socioeconômico e ao contexto dos participantes, respeitando sua autonomia. Apesar dos benefícios da utilização desses recursos, esta revisão destaca a necessidade e o potencial de desenvolvimento de novos estudos para fortalecer sua aplicabilidade.

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Vygotsky, L. S. (1994). O papel do brinquedo no desenvolvimento. Em M.Cole, V. J. Steiner, S. Scribner & E. Souberman (Orgs.), A formação social da mente (pp. 121-138). São Paulo: Martins Fontes.


1Monografia apresentada ao curso de Psicologia do Centro Universitário Metropolitano de Manaus – FAMETRO como parte dos requisitos para obtenção do título de Psicólogo.
Orientador: Professor Me. Wollace Sacantberuy Da Rocha