AVES POEDEIRAS: DESAFIOS, MANEJO NUTRICIONAL E STRESS CALÓRICO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7116012


Autoria de:
Ramos, Sônia De Paula1 ;
Sotero, Marcos Do Prado2,

1Aluna do Curso de Medicina Veterinária, Fametro-Am, Brasil,
paula-ramos30@hotmail.com;
2Professor orientador mestre, Fametro- Am , Brasil.


RESUMO

Uma excelente produtividade em aves poedeiras depende do conjunto de ações que atendam às necessidades dos animais, tais como nutrição, sanidade, genética e bem-estar. As aves por serem animais que possuem características anatômicas e fisiológicas pouco eficientes para o estresimos térmico por calor, a temperatura do ambiente é um parâmetro avaliado relacionado ao conforto térmico, sendo a zona térmica de neutralidade necessária para que a ave possa exercer todo seu potencial genético e ocorra maior aproveitamento das estratégias nutricionais. Assim o monitoramento do ambiente da ave é crucial porque seu índice de produtividade é mantido por meio de vários fatores ambientais. Isso permite que elas demonstrem suas características produtivas. Ao longo dos anos, a produção animal se ajustou às exigências do mercado consumidor e às mudanças da realidade ligadas aos desafios da produção e ao bem-estar animal. Objetivou-se realizar uma revisão de literatura acerca de fatores como estrutura física, manejo nutricional, biossegurança, estresse calórico e ambiência, pois todos parâmetros esses podem afetar diretamente o índice de produtividade das granjas.

PALAVRA-CHAVE: Manejo Nutricional. Aves Poedeiras. Stress Calórico. Produção.

ABSTRACT

An excellent productivity in laying birds depends on the set of actions that meet the needs of the animals, such as nutrition, health, genetics and well-being. As birds are homeothermic animals, the temperature of the environment is an evaluated parameter related to thermal comfort, being the thermal zone of neutrality necessary so that the bird can exercise its full genetic potential and take greater advantage of nutritional strategies. Thus monitoring the bird’s environment is crucial because its productivity index is maintained through various environmental factors. This allows them to demonstrate their productive characteristics. Over the years, animal production has adjusted to the demands of the consumer market and changes in reality linked to the challenges of production and animal welfare. The objective was to carry out a literature review about factors such as physical structure, nutritional management, biosecurity, heat stress and environment, as all of these can directly affect the productivity index of the farms.

KEYWORD: Nutritional Management. Laying Birds. Caloric Stress. Production.

  1. INTRODUÇÃO

A produção de alimentos é um grande desafio mundial, a pandemia pressionou a mudança na dieta e a busca por proteínas de baixo, dessa forma a demanda por consumo de ovos aumentou em todo o mundo. Os efeitos na oferta e demanda pressionou a inflação sobre os alimentos moldando o mercado e forçando o consumidor à procurar opções de alimentos concentrados, saudáveis e mais baratos, o que abre caminho para mais oportunidades no mercado para empresas de criação de aves e de produção de ovos.

De acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO)1, em 2021, a produção mundial de ovos de mesa atingiu 87,60 milhões de toneladas, aumento de 26,78% em relação a 2010, com adicional de 18,50 milhões de toneladas. Estima-se que em 2030, a produção mundial atinja 95 milhões de toneladas e alta de 9% no consumo mundial em relação a 2021. Atualmente, China, EUA, União Europeia, Índia e México são os principais países produtores de ovos, com a China produzindo cerca de 34,4 milhões de toneladas em 2021 (SOARES, 2022).

A produção de ovos de aves no Brasil hoje mudou muito ao longo dos anos, apresentando altos níveis de produção, graças às novas tecnologias, melhorias nas linhas de produção, saúde e nutrição das aves. Com isso, a indústria conseguiu aumentar seu potencial de produção para fornecer ao consumidor uma fonte saudável de proteína a baixo custo. Nos primórdios da indústria avícola brasileira, a Associação Brasileira de Proteína Animal, ou ABPA, relatou que as aves foram produzidas pela mistura de diferentes raças; estavam até nas casas de famílias regulares no Brasil. Atualmente, mais de 130 mil famílias rurais mantêm pequenos galinheiros que exportam produtos integrados para agroindústrias. A avicultura brasileira se destaca pela tradição, qualidade, sanidade, eficiência e disciplina. Isso permitiu que o setor se expandisse drasticamente em todo o país e fornecesse seus produtos aos consumidores mundiais, (ABPA, 2017).

A avicultura em escala industrial é uma das atividades agrícolas mais tecnológicas. É também uma parte essencial da economia mundial, conforme afirmado por VANDANA et al em 2020. Melhor nutrição, genética, saneamento e ambientes levam a avanços na saúde. (LOPES et al., 2015).

O potencial genético das galinhas é imenso, mas sua produtividade é afetada de várias maneiras pelo ambiente. Essas interferências podem afetar diretamente a sanidade, a produtividade e a expressão de todo o seu potencial das aves, (RANJAN et al., 2019). A produção de frangos de postura sofre as mesmas causas que outros animais quando se trata de perdas relacionadas à temperatura, (GOEL, 2020). Os climas tropicais chuvosos apresentam um problema mais significativo quando se trata de temperatura e umidade. (VANDANA et al., 2020).

As consequências econômicas significativas do estresse devido ao calor excessivo nas granjas são pronunciadas. O custo anual do estresse térmico, direta e indiretamente, gera uma perda entre US$ 128 e US$ 165 milhões. Estima-se que essa perda aumente ao longo do tempo à medida que a temperatura do mundo aumenta, (WASTI et al., 2020).

  1. IMPORTÂNCIA DO BEM-ESTAR NA PRODUÇÃO AVÍCOLA

Com o passar do tempo, as pessoas demonstraram crescente preocupação com o bem-estar dos animais. Para viver uma vida satisfatória, os animais precisam ter condições que lhes permitam interagir e existir em um bom ambiente. Isso é o que o bem-estar visa fornecer, e é descrito como a capacidade do animal de fazê-lo. O bem dos animais também aumenta a eficiência da fazenda como um todo. Enquanto proporciona economia ao produtor, também melhora a performance das espécies para a produção de alimentos de qualidade e em maior quantidade BROOM (1991).

Devido às exigências dos consumidores, o ator na produção avícola que agrega valor econômico é o bem-estar animal. O mercado internacional exige acompanhamento nessa prática. Molento, 2015, discorre que os produtores só buscarão produtividade quando o bem-estar animal não fornecer mais um bem comercializável. Em outras palavras, os produtores só se preocupariam com o bem-estar animal se isso lhes proporcionasse benefício econômico.

A produção de galinhas poedeiras requer diferentes métodos de produção. Conforme relatado pela Abreu & Abreu em 2017, os produtores devem considerar quatro coisas ao usar esses métodos. São os conhecimentos fisiológicos da ave, conceitos básicos do ambiente, conhecimentos de tipificação bioclimática e sistemas detalhados.

O Brasil possui protocolos e normas para o bem-estar das aves que contêm requisitos mínimos de saúde, nutrição e manejo. A União Brasileira de Avicultura (UBA), declarou em 2008 o primeiro Protocolo de Bem-Estar das Aves Poedeiras. Também conhecida como UBA, esta entidade representa a indústria avícola brasileira. O protocolo é utilizado como referência para produtores e empresas de ovos no Brasil. O Instituto Certified Humane Brasil fornece certificação para melhorias no bem-estar animal. Seu foco principal é a certificação de galinhas poedeiras, o que levou à criação de normas específicas para esses animais, (INSTITUTO CERTIFIED HUMANE BRASIL, 2019).

  1. DESAFIOS NA PRODUÇÃO DE OVOS NO BRASIL E NO AMAZONAS

A mudança na dieta e a busca por proteínas de baixo custo pressionaram a demanda do consumo de ovos em todo o mundo, e a pandemia tornou essa mudança ainda mais evidente. Os efeitos diretos e indiretos da pandemia moldam o mercado consumidor à procura de opções de alimentos concentrados, saudáveis e mais baratos, o que abre caminho para mais oportunidades no mercado para empresas de criação de aves e de produção de ovos (SOARES,2022).

De acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação em 2021, a produção mundial de ovos de mesa atingiu 87,60 milhões de toneladas, aumento de 26,78% em relação a 2010, com adicional de 18,50 milhões de toneladas. Estima-se que em 2030, a produção mundial atinja 95 milhões de toneladas e alta de 9% no consumo mundial em relação a 2021. Atualmente, China, EUA, União Europeia, Índia e México são os principais países produtores de ovos, com a China produzindo cerca de 34,4 milhões de toneladas em 2021 (XIMENES, 2022).

Por outro lado, a guerra instaurada entre Rússia e Ucrânia pode impactar fortemente a economia global. Toda a instabilidade no Leste europeu pode não apenas impactar a inflação como pode resultar em aumentos adicionais nos juros, comprometendo o crescimento econômico global e brasileiro para este ano ao reduzir o espaço para a melhoria dos preços e do consumo (SOARES,2022).

Os impactos da guerra deverão gerar intensos efeitos no Brasil, principalmente no tangente a combustíveis, alimentos e câmbio. Uma das razões é a maior exposição aos fluxos financeiros globais que o restante da América Latina, com o dólar subindo e a bolsa caindo mais que na média do continente. Em relação à produção de insumos, as importações nacionais de trigo sofrem grande pressão nesse momento, pois tanto a Rússia, quanto a Ucrânia ocupam posição de maiores exportadores globais e a Argentina, nosso principal fornecedor, passa por problemas climáticos com prejuízos na safra (XIMENES, 2022).

Em relação ao comércio exterior do milho, tanto a Rússia quanto a Ucrânia têm forte participação no mercado global, e o conflito só vem a inflacionar o mercado. Outro aspecto, seria a impossibilidade da importação de fertilizantes da Rússia. Até então, o Brasil comprava 20% dos fertilizantes do mercado russo. Mediante ao conflito, grandes serão os novos desafios para o mercado de produção de animais confinados em todo território nacional (SOARES, 2022).

Não bastando todos esses fatores afetando o mercado nacional, outros ainda afetam o mercado Amazonense, TAKANO (2020) afirmou que produzir ovos no Amazonas torna-se dispendioso pelos custos de logística dos insumos como milho e farelo de soja componentes da ração das aves, como exemplo produtores do estado de Mato Grosso adquirem a saca de ração por custo médio de R$ 75,00 enquanto no amazonas é comercializado por R$ 95,00, além disso, há grande dificuldade climática por fortes chuvas, altas temperaturas e umidade relativa do ar elevada.

Os parâmetros clima afeta diretamente as aves, pois mais de setenta por cento da massa corporal dos animais é composta por água e muitas das reações químicas que liberam energia ou que sintetizam novos compostos, ocorrem em um meio aquoso contendo uma complexa mistura de íons e outros solutos (Boschini et al., 2011). A temperatura é um fator crítico para a funcionalidade dos organismos, pois todas as reações bioquímicas são sensíveis a ela. Geralmente, as taxas de reações químicas aumentam à medida que a temperatura se eleva, mas nem todas as reações apresentam esta mesma sensibilidade (Pough et al., 2009).

As aves são animais homeotérmicos, com cobertura corporal dotada de penas, que favorecem certo isolamento térmico, mais dificulta a troca de calor com o meio. Além disso, não apresentam glândulas sudoríparas e possui reduzida capacidade de troca térmica, na forma latente (Figura 3), fato esse justificado por seu sistema termorregulador ser mais adequado para reter calor do que para dissipá-lo (Teixeira & Baião, 2012). Desta forma, o estresse por calor é um dos maiores entraves na produção de aves, principalmente em regiões onde predominam altas temperaturas, devido ao baixo desempenho, a imunossupressão e a alta mortalidade (Oliveira Neto et al., 2000, Naziroglu et al., 2000, Teixeira & Baião, 2012).

As atuais linhagens de galinhas poedeiras são cada vez mais produtivas, graças ao avanço do melhoramento genético, aliado aos planos nutricionais aplicados. Entretanto, o metabolismo dessas aves ficou mais acelerado, e sua capacidade termorregulatória é ineficiente em condições de alta temperatura e umidade. A susceptibilidade das aves ao estresse calórico aumenta à medida que o binômio envolvendo a temperatura ambiente e a umidade relativa do ar ultrapassa a zona de conforto térmico, dificultando assim a dissipação de calor, aumentando a temperatura interna da ave, com efeito negativo sobre o desempenho (Borges et al., 2003).

Fisiologicamente as aves respondem ao estresse térmico por calor aumentando os mecanismos de dissipação e diminuindo a produção de calor metabólico, ou termogênese, reduzindo a ingestão de alimentos, assim como o consumo de energia metabolizável (Mujahid et al., 2007), consequentemente essas aves têm redução no ganho de peso e conversão alimentar. A redução do consumo de ração diminui o consumo de outros nutrientes de suma importância para a produção de ovos, como aminoácidos e minerais, portanto é essencial para a determinação da exigência nutricional levar em consideração a interação entre a nutrição e temperatura ambiente (Stringhini et al., 2005).

A habilidade das aves em direcionar a energia consumida para manutenção, peso e número de ovos está diretamente relacionada com as condições ambientais em que elas estão alojadas, portanto ambientes com temperaturas elevadas podem afetar o desempenho das aves, não somente devido a diminuição no consumo de alimentos, mas também o desvio de energia despendido pelo animal na tentativa de manter constante a temperatura corporal, além de induzir a uma hiperventilação dos pulmões durante a respiração (Jácome et al., 2007, Tinôco, 2001).

Esta hiperventilação ao nível dos alvéolos pulmonares, leva a perdas significativas de CO2, aumentando o pH do sangue e desencadeando a alcalose respiratória, reduzindo também a concentração de cálcio difusível no sangue, além da menor ingestão de cálcio que afeta a deposição deste na casca do ovo, há também redução na conversão da vitamina D3 em sua forma metabolicamente ativa, essencial para a absorção e utilização do cálcio pelo organismo (Plavnik, 2003).

Esses fatores podem resultar em ovos pequenos, de casca fina ou mesmo sem casca. A inclusão de bicarbonato de sódio na dieta é realizada para ajudar na manutenção da ingestão de ração, uma vez que o sódio é estimulante do consumo. Além disso, este composto fornece íons bicarbonato que entrará no processo de formação da casca (Carcalho, 2012). A adição de sais como carbonato de potássio, sal comum e cloreto de amônia também podem ser feitos para minimizar as perdas na produção ocasionadas pelo estresse térmico., com perda excessiva de dióxido de carbono do sangue, fator importante na formação do carbonato de cálcio para a casca (Jácome et al., 2007, Tinôco, 2001). A ventilação excessiva leva a uma alcalose respiratória que influencia no equilíbrio eletrolítico e mineral, o que resulta em ovos pequenos e de casca fina (Carcalho, 2012) além de diminuir a resistência a doenças (Garcia, 2003)

  1. MANEJO NUTRICIONAL

É essencial alimentar as poedeiras com ração farelada e bem estruturada e com valor nutricional completo. Isso pode ser feito adaptando os ingredientes aos fatores exigidos por cada fase das galinhas. De acordo com a Lohmann (2017), as suas matrizes são aves especializadas e selecionadas para alta produção de ovos devido à alta taxa de transformação em ovos sua demanda por nutrientes é alta. Na cria e recria as pintainhas devem receber uma dieta balanceada para que possam se desenvolver e se tornarem frangas com maturidade sexual no tempo adequado.

A granulometria da ração é de extrema importância, pois um grão muito fino ou muito grosso pode fazer com que as poedeiras selecionem os alimentos e desbalanceado a ração. A granulometria adequada proporciona melhor ação de enzimas endógenas e exógenas, melhor absorção de nutrientes, redução da seleção de partículas, desenvolvimento do trato digestório, bom funcionamento da moela e fígado, além de reduzir o custo e melhorar o rendimento na fábrica de ração. (EMBRAPA, 2006). Na (Tabela 1) segue uma recomendação de tamanho de partículas.

A dieta deve ser adequada para cada fase de vida da ave, garantindo o peso adequado em cada estágio. Não é recomendado a troca da dieta antes que a franga tenha atingido o peso esperado para o seu padrão adequado, seguindo o manual da linhagem. A redução da densidade e o aumento do teor de fibra bruta nessa fase são benéficos para aumentar a capacidade de consumo de alimento (HYLINE, 2016).

4.1 Manejo nutricional na fase de cria

Os níveis de nutrientes variam entre linhagens e entre idades. Segundo Genciline e Ancuite (2013), para poedeiras Isa Brown, a dieta inicial (0 a 5 semanas de idade) deve conter 20,5% de proteína bruta (PB) e 2950 kcal/kg de energia metabolizável (EM), 1,07% de cálcio (Ca). Desta forma, a dieta na fase de cria vai variar de acordo com a linhagem se a ave é leve, semipesada ou pesada.

4.2 Manejo nutricional na fase de recria

Para garantir um consumo adequado de ração no início da produção, a dieta de crescimento deverá conter pelo menos 3,0% de fibra e 2.850 a 2.950 kcal/kg em (tabela 2). Isso permitirá à franga desenvolver a capacidade de ingestão de ração e a composição corporal necessária à manutenção do desempenho de alto pico de postura e alta produção de massa de ovos no início da produção. É muito importante que a alimentação das aves seja elaborada com matérias primas de qualidade para atender os níveis nutricionais de linhagem (PLANALTO, 2016).

Na fase de recria dois são os pontos importantes para o desempenho futuro das aves um é o início da maturidade sexual e outro é a formulação da dieta com manejo alimentar. Com a transferência das frangas entre a 15ª e 16ª semana, as aves tendem a sofrer com estresse provocado pela mudança de ambiente. Sendo assim é importante maximizar o peso corporal da franga. A produção e o peso do ovo são influenciados pela maturidade sexual da ave. Aves que estão com peso recomendado pelos manuais produzirão ovos maiores. Se atingirem a maturidade sexual antes do peso ideal, essas produzirão ovos de menor tamanho. De acordo Gentinile e Ancuite (2013) na 18ª semana de idade poedeiras com 1.100 g produzirão ovos com 46,9 g e aves com 1.380 g produzirão ovos com 49,7 g. Entre 12 e 16 semanas de idade, em torno de 90% da estrutura corporal das poedeiras já está desenvolvida. Após o pico, tem-se uma redução do apetite e assim, reduz também o peso corporal o que acarreta a redução da produção como consequência da diminuição do consumo que é transformado em energia. A dieta pré-postura contém cerca do dobro do teor de cálcio que a ração de desenvolvimento além de apresentar níveis mais altos de proteína e aminoácidos (Tabela 3). O fornecimento dessa dieta acontece por cerca de dez dias antes do início planejado da postura, portanto, benéfico. Esse tipo de dieta melhora a uniformidade do lote, pois fornece um melhor suprimento nutricional para aves de maturação tardia e permite que as aves de maturação precoce obtenham cálcio suficiente para a produção de cascas nos primeiros ovos.

O uso de vitaminas também é recomendado para auxiliar no desenvolvimento das aves e complementar a ração.

4.3 Manejo nutricional de produção

Na fase de postura, as necessidades energéticas estarão relacionadas com as necessidades de manutenção que variam de acordo com peso corporal, temperatura ambiente, empenamento, requisitos para ganho de peso corporal normal e as exigências para a produção de massa de ovos (% de produção x peso dos ovos). Como o consumo de ração é inversamente proporcional à temperatura ambiente, é importante saber qual é o consumo de ração de um determinado lote de poedeiras. Assim, a densidade de nutrientes da dieta poderá ser ajustada para fornecer, independentemente da ingestão de ração, o consumo adequado de todos os nutrientes essenciais. (PLANALTO, 2006).

O objetivo da dieta é atingir as metas de desempenho nas condições oferecidas de ambiente e com manejo exercido nas granjas. As necessidades nutricionais não-energéticas não vão variar conforme a temperatura e o empenamento, mas com a idade e com a produção da massa de ovos. Assim as galinhas devem consumir todos os nutrientes não energéticos essenciais. A deficiência de qualquer um dos 10 aminoácidos essenciais limitará o uso dos nove restantes. Na maioria das granjas é possível suplementar as aves com aminoácidos industriais. A sequência de aminoácidos limitantes como metionina, lisina, treonina, triptofano, isoleucina e arginina. Entretanto, a maioria das fábricas de ração acaba suplementando metionina e lisina sintéticas e a treonina passa a ser o primeiro aminoácido limitante na maioria das dietas de poedeiras comerciais. Como o consumo de ração varia consideravelmente em função da temperatura e do empenamento e as necessidades de nutrientes não energéticos permanecem relativamente constantes, os avicultores devem variar a densidade nutricional da dieta de acordo com o nível de consumo de ração (PLANALTO, 2006).

O fornecimento da ração deve ser aplicado da seguinte forma: Ração pré inicial de 1 a 35 dias de idade, Ração inicial fornecer de 36 a 60 dias de idade, Ração crescimento deve ser fornecido de 61 a 90 dias de idade e Ração maturidade fornecer de 91 a 105 dias idade, Ração pré-postura fornecer de 105 dias até o primeiro ovo, ração postura pico deve ser fornecida do primeiro ovo até 32 semanas de idade, Ração postura 1 deve ser fornecida de 33 semanas até 61 semanas de idade.

4.4 Manejo nutricional em stress calórico

Já para caso de Stress calórico o consumo de ração é regulado pelo consumo de energia pelas aves, assim é preciso adequar dietas nutricionalmente, promovendo a melhor relação nutriente/energia de acordo com a temperatura ambiente. Aves somente são eficientes em temperaturas elevadas quando estão consumindo adequadamente os nutrientes requisitados, então uma das formas de correção é aumentando a densidade da dieta, mantendo a relação energia/nutriente para atingir os níveis de desempenho desejados na temperatura ambiente que o animal se encontra. O manejo nutricional pode ser também adequado para ambientes em temperatura extrema, Garcia (2003) aconselha arraçoamento a noite para minimizar efeitos das altas temperaturas assim como adequações no programa de luz.

De acordo com Plavnik (2003) o consumo de ração se altera em aproximadamente 1,72% para cada 1°C de variação na temperatura ambiental entre 18 e 32°C, e, a queda é muito mais rápida (5% para cada 1°C) em temperaturas de 32 a 38°C. A diminuição do consumo de ração tem efeito no tamanho do ovo, ganho de peso e eficiência alimentar principalmente pela redução no consumo de energia e o peso dos ovos é alterado pela diminuição do consumo de proteína (Bertechini, 2012). Uma das formas de diminuir o impacto de altas temperaturas na produção é a correção dos níveis de energia das rações, elevando o consumo de energia metabolizável através do aumento da energia da ração com a utilização de óleos/gorduras e enzimas que incrementam o aproveitamento energético da dieta como amilases, lípases, entre outras (Bertechini, 2012).

A inclusão de gorduras na dieta estimula o consumo pelo aumento da palatabilidade e energia, além de reduzir o incremento calórico na digestão por disponibilizar mais facilmente energia para o organismo. De acordo com Rabelo et al. (2007) a inclusão a partir de 2% de óleo de soja em ração a base de milho e farelo de soja aumentou o peso dos ovos, sugerindo que a suplementação de gordura via dieta estimula a síntese proteica no oviduto influenciada pelo estrógeno plasmático. Rozenboim et al. (2007) ao expor aves durante 12 horas de estresse por calor (42ºC) observaram redução de 20% na produção de ovos a partir do segundo dia e cerca de 8 % no peso dos ovos com apenas um dia de estresse por calor, provavelmente devido a diminuição da função ovariana indicada pelo declínio de esteroides gonadais no plasma, sem haver diminuição dos níveis de FSH e LH, sugerindo então debilidade direta da função ovariana.

Rozenboim et al. (2007) levanta a hipótese de que essa possível redução na função ovariana é pela diminuição do fluxo sanguíneo nos ovários pela mudança do fluxo para as extremidades durante o estresse por calor. A suplementação de zinco na dieta para poedeiras em ambiente quente é recomendada, pois o íon é cofator da enzima anidrase carbônica responsável pela deposição de cálcio na casca. A taxa de produção de calor metabólico é reduzida quando as aves são expostas à temperatura elevada. Assim, a taxa de turnover proteico, que representa a síntese e a degradação de proteína, também é influenciada pela temperatura ambiente, pois gera grande quantidade de calor (Geraert et al., 1996, Teixeira & Baião, 2012).

Quando há diminuição da ingestão de alimentos há redução também do consumo de proteínas e assim aminoácidos. Para reverter a deficiência de aminoácidos na dieta, em ambientes quentes deve-se elevar a quantidade de aminoácidos sintéticos na dieta (metionina, lisina e treonina) com o mínimo incremento da proteína para não ocorrer um aumento na produção de calor endógeno gerado pela digestão proteica (Garcia, 2003).

Importante ressaltar que a carência de proteína acarreta principalmente redução do tamanho do ovo devido a necessidade desta na estrutura do albúmen, sem acarretar diminuição da produção do ovo. A granulometria, tanto da ração quanto de ingredientes específicos como o cálcio, pode reduzir o impacto das altas temperaturas no desempenho de poedeiras devido a melhor absorção dos nutrientes causada pela redução da taxa de passagem no trato digestivo das aves. O ajuste realizado juntamente com a oferta de ração nos horários mais frios do dia, com adequação do programa de luz, poder-se-á reduzir o efeito deletério da elevada temperatura ambiente na produção de ovos.

  1. AMBIÊNCIA

A galinha poedeira exige do ambiente condições precisas como temperatura, umidade, pressão, luminosidade, nível sonoro, conteúdo de oxigênio, gás carbônico e nitrogênio. Cada ave tem suas especificidades; quando alguma dessas variáveis se modifica é um desafio sobreviver; estes parâmetros dependem de diversos fatores, tais como a aclimatação da ave, idade e sexo. Os fatores térmicos como temperatura, umidade, radiação térmica e movimentação do ar são os que afetam diretamente a ave, pois comprometem sua função vital mais importante que é a manutenção da própria homeotermia (FRANÇA et al., 2012).

As aves precisam manter a temperatura interna do corpo em condições variáveis e conseguem realizar isso através de mecanismos orgânicos de controle representados por severas compensações fisiológicas. De acordo com França et al. (2012), estes ajustes são feitos em detrimento da produção destes animais que, ao invés de empregar os nutrientes para a síntese, os utilizam para produzir ou dissipar calor. Caso não ocorra desperdício de energia para compensar o frio ou combater o calor, é quando a ave se encontra em conforto térmico e consequentemente, de produtividade máxima. Fora da zona de conforto ocorre decréscimo de desempenho produtivo, reprodutivo e resistência do organismo, sendo que os extremos em qualquer sentido podem levar as aves a morte.

Quando a ave é exposta a estresse calórico, como é comum no Brasil durante o verão acontece queda no consumo de ração, no ganho de peso, além de levar a piores valores de conversão alimentar e maior mortalidade. Especificamente no caso de aves de postura e reprodutoras, ocorrerá uma redução na espessura da casca, número, peso e volume dos ovos. O problema se agrava à medida que a ave se desenvolve, pois existe uma correlação negativa da dissipação de calor com o peso corporal (FRANÇA et al., 2012).

5.1 Controle de temperatura

No aviário onde ficam alojadas as galinhas no período de início de produção a temperatura desejada é em torno de 18 a 20 Cº. A temperatura deve ser aumentada em 1 Cº ao passar de cada duas semanas até atingir 25 Cº. Após o período de pico a diminuição de temperatura no galpão vai fazer com que as galinhas consumam uma quantidade maior de alimentos, o que pode ser prejudicial para controle de peso do ovo e na conversão alimentar e peso corporal das poedeiras. A alta temperatura também tende a fazer com que as galinhas consumam menor quantidade de ração do que o indicado, pois ela estará em estresse devido ao calor (HYLINE, 2016).

CARACTERÍSTICAS ESTRUTURAIS EM GRANJAS DE POSTURA

6.1 Ambiente físico

Trata-se do ambiente que vai fornecer às aves todas as condições de conforto favoráveis ao seu desempenho. Muitas vezes, tanto o produtor como o técnico, esquecem que as aves estão confinadas, dessa maneira são privados de levar uma vida em condições naturais, portanto, tudo aquilo que elas necessitam deve ser fornecido pelo responsável; se as condições naturais não são ideais, elas reclamam com um desempenho fora dos padrões. (CAMPOS, 2000).

Curtis (1983) define o ambiente como a soma do impacto de fatores físicos, químicos, biológicos e sociais, que atuam e interagem influenciando o desempenho animal. Dentre estes, destacam-se temperatura, radiação, poeira, composição química do ar, doenças, fatores que promovem reações comportamentais etc. Esses fatores variam com a estação do ano e com a localização da região, bem como, por razões intrínsecas ao próprio animal como idade, sexo e alimentação fornecida. Ele distingue duas classes de modificações ambientais: as primárias e as secundárias. Modificações ambientais primárias são aquelas relacionadas ao invólucro, ou seja, aquelas relacionadas com o abrigo, com o galpão avícola propriamente dito e que permitem proteger a ave durante períodos em que o clima se apresenta extremamente quente ou frio, ajudando-a a aumentar ou reduzir sua perda de calor corporal. As modificações primárias correspondem ao acondicionamento térmico natural. As modificações secundárias correspondem ao manejo do microambiente interno das instalações. Geralmente envolvem um nível mais alto de sofisticação e compreendem processos artificiais de ventilação, aquecimento e refrigeração. As modificações secundárias, devem vir apenas após esgotados todos os recursos das modificações primárias e quando se pretende aumentar a densidade de alojamento de animais.

6.1.1 Localização

A localização das granjas é de suma importância para a obtenção de resultados satisfatórios no desenvolvimento da atividade. Em qualquer circunstância, para a instalação de novos complexos avícolas, sempre é preciso um estudo prévio ou planejamento das condições mínimas necessárias ao bom funcionamento das instalações. A localização das instalações deve ter em vista a redução da carga térmica de radiação, assim como concepção arquitetônica no desenho dos volumes. Convém atentar para o fato de que ao se planejar uma obra, deve-se evitar terrenos de baixada, evitando problemas com alta umidade, baixa movimentação de ar e insuficiente insolação higiênica no inverno. Deve-se estar atento também à possível obstrução do ar por outras construções e barreiras naturais e artificiais próximas aos galpões avícolas, o que dificultaria a ventilação natural, trazendo prejuízos ao conforto térmico no verão (TINÔCO, 2001).

6.1.2 Orientação

Para o clima tropical e subtropical, o eixo longitudinal dos pavilhões avícolas deve estar orientado no sentido leste-oeste, com o que se conseguira que a superfície exposta a oeste seja a menor possível, evitando-se sobreaquecimento pela forte insolação nas longas tardes de verão; que ao se dispor de uma fachada orientada totalmente a norte, o sol de inverno, que sobe pouco no horizonte, penetre até o interior do edifício em decorrência do deslocamento paralelo ao plano da trajetória aparente do sol para o norte, o que é desejável, enquanto no verão o próprio beiral atuará como guarda-sol (no caso do hemisfério sul); que tendo duas fachadas, uma permanentemente quente e a outra permanentemente fria, favorecesse também a ventilação natural naqueles edifícios que não dispõem de outro meio de ativa-la. (TINÔCO, 2001).

A orientação leste-oeste em galpões para confinamento de animais é recomendado universalmente, a fim de minimizar a incidência direta do sol sobre os animais através das laterais da instalação, já que nesse caso o sol transita o dia todo sobre a cumeeira da instalação. Porém, em certos locais, este tipo de orientação pode prejudicar a ventilação natural, podendo ser a orientação norte-sul mais recomendável, quando se faz o cálculo do balanço térmico total do abrigo. Em outros locais, a própria topografia do terreno impede que o aviário seja construído na orientação leste-oeste. Nestes casos, sugere-se que a radiação incidente nas laterais do abrigo seja amenizada através do uso de beirais maiores, além do plantio de árvores e arbustos ao redor das instalações para sombreamento (SOUZA, 2005).

6.1.3 Disposição das construções

O afastamento entre galpões deve ser suficiente para que uns não atuem como barreira à ventilação natural nos outros. Assim, recomenda-se afastamento de 10 vezes a altura da construção para os primeiros galpões a barlavento, sendo que do segundo galpão em diante o afastamento deverá ser de 20 a 25 vezes essa altura. Nem sempre será possível atender a essa recomendação por razões relativas à área disponível, topografia ou fluxograma de trabalho, mas deve-se, ao máximo tentar se aproximar dessa situação. Na pior das hipóteses, deve-se possibilitar afastamentos entre galpões de no mínimo 35 a 40 m. (TINÔCO, 2001).

6.1.4 Proteção contra insolação

A principal causa do desconforto térmico dos galpões avícolas no verão é a insolação, a qual durante o dia, contribui com a parcela mais substancial de calor que penetra na construção, especialmente no caso de galpões abertos, como é o caso do Brasil. Para atenuar o efeito da insolação, o primeiro artifício objetivando o conforto térmico em climas quentes é o sombreamento natural ou artificial. Segundo Bond et al. (1976), o sombreamento pode reduzir, em muitas regiões, cerca de 30% da carga térmica de radiação (CTR) incidente sobre o animal.

O tipo de sombra ideal, segundo Kelly et al. (1950), embora seus valores comparativos sejam de difícil mensuração, é a sombra produzida por árvores, pois a vegetação transforma parte da energia solar, pela fotossíntese, em energia química latente, reduzindo os efeitos da insolação durante o dia. Assim, o emprego de árvores altas pode produzir um microclima ameno nas instalações, devendo-se evitar árvores que possam diminuir a ventilação no interior (quebra-ventos).

De acordo com Santos et al. (1993), Turco et al. (1994), Abreu et al. (1995), Tinôco (1996), Baêta e Sousa (1997) e Zanolla (1998), para condições brasileiras, o sombreamento através de coberturas reduz entre 20 e 40% da carga térmica de radiação no interior de instalações para animais. Bond et al. (1969) mediram a radiação térmica recebida de várias partes da instalação que envolviam um animal à sombra e conclui-se que 28% da carga térmica radiante provinha do céu, 21% do material de cobertura, 18% da área não sombreada e 33% da área sombreada. Assim, os autores concluíram que a quantidade de carga térmica de radiação devido ao material de cobertura e sua sombra detém mais de 50% da radiação térmica total. A cobertura reduz a carga térmica de radiação proveniente do sol e do céu, e substitui uma área de solo aquecido por uma área de solo sombreado, mas adiciona uma nova fonte de energia: o material de cobertura.

Assim, é no telhado que a radiação solar atua com maior intensidade, sendo que o fluxo de calor que atravessa o mesmo no pico de calor é da ordem de cinco vezes maior que aquele disperso no ambiente interno. Esse calor pode ser controlado pela ventilação adequada e o efeito da radiação pelo isolamento térmico (NÄÄS, 1989). Vale a ressalva, contudo, de que mesmo à sombra, a ave está sujeita à radiação indireta oriunda do céu distante, do solo sombreado, do solo aquecido e das estruturas que estejam próximas ao local (TINÔCO, 2001).

6.2 Dimensões recomendadas para as instalações avícolas

A largura a ser considerada para o galpão está relacionada ao clima da região onde ele será construído e ao projeto de organização das gaiolas. Segundo Tinôco (1996), normalmente recomenda-se como limites máximos: – larguras até 8,00 a 10,00 m – clima quente e úmido – larguras até 10,00 a 14,00 m – clima quente e seco. No que diz respeito ao pé-direito, desde 1950, Kelly et al. verificou que, à medida que se aumenta o pé-direito de uma cobertura, não se altera o tamanho da sombra, mas diminui a temperatura do solo, porque a sombra se move mais rapidamente. Segundo esses autores, em locais onde a ocorrência de céu descoberto, altas temperaturas, baixa precipitação e baixa umidade são constantes, coberturas com pé-direito variando de 3,00 a 4,00 m são recomendadas, pois possibilitam maior exposição dos animais ao céu, que geralmente é mais frio que a superfície animal. Esses autores mostraram em seus estudos que, aumentando-se a altura do abrigo, os animais na sombra ficam expostos a maior exposição do céu frio, possibilitando, assim, aumento do efeito de arrefecimento térmico ambiente.

Conforme Givens (1965), em locais onde o céu se apresenta total ou parcialmente encoberto e com alta umidade relativa, instalações com pé-direito alto não são recomendadas, pois expõem o animal a maior carga térmica de radiação. Esse acréscimo se deve, provavelmente, à reflexão da radiação solar pelas nuvens. De acordo com Kelly et al. (1957), pé-direito alto é recomendado para áreas com céu claro e baixa umidade relativa do ar.

6.3 Arborização

De acordo com Cavalhiero (1994), algumas considerações devem ser observadas no planejamento de uma arborização, sob o aspecto do conforto ambiental: as árvores possibilitam a diminuição da temperatura do ar de 6 a 8ºC através da transpiração, do sombreamento, enriquecimento da umidade relativa do ar, e através da fotossíntese.

Menezes (1996), em trabalho sobre a influência da arborização no desempenho térmico de aviários dos índices de conforto térmico e produção de ovos verificou que há um efeito altamente significativo da arborização na redução da temperatura interna dos aviários, bem como na variação entre as temperaturas internas e externas da região, na temperatura de globo negro, nos índices de conforto térmico, e principalmente na produção total de ovos. A temperatura interna às 16 horas, dos aviários localizados na região arborizada foi 3ºC (10,3%) inferior que nos aviários da região não arborizada. O mesmo autor verificou, que variação da temperatura interna dos aviários em função de regiões arborizadas e não arborizadas, no horário das 16 horas. Com relação a temperatura de globo negro, houve uma redução de 3,3ºC (11,32%), também com relação a carga térmica de radiação (CTR), observou-se que houve uma redução de 22,5 W/m² para a região arborizada. Relacionando a produção total de ovos, fez-se uma análise por aviários individuais e por seção (conjunto de 12 aviários), verificou-se que na região arborizada, a produção do aviário foi 23,1% superior ao da região não arborizada, e na comparação entre as seções essa diferença foi de 12,5%.

6.4 Ventilação

Uma instalação avícola ideal em termos de conforto térmico proporcionado às aves, prevê uma circulação de ar adequada com a finalidade de remover o excesso de umidade e calor concentrado no interior dos galpões. Em casos de meses mais frios, é desejável manter a temperatura interna do aviário em níveis adequados à sobrevivência e produtividade do lote. Neste caso, a função da ventilação seria apenas renovar o ar interno, controlando a concentração de gases, poeira e vapor d’água produzidos no interior dos aviários. Esta ventilação pode ser natural, através de aberturas laterais, que permitam a entrada do vento externo e/ou utilização do princípio de termossifão com construção de lanternins. No caso de ventilação forçada, pode-se fazer o uso de ventiladores e/ou exaustores. Convém ressaltar que na maioria das regiões produtoras do país, somente a ventilação natural não é o suficiente para manter lotes mais pesados dentro da região de termoneutralidade (CURTIS, 1983).

O fluxo de ar que entra ou sai de uma construção depende de pressão entre os ambientes interno e externo, da resistência ao fluxo de ar oferecida pelas aberturas, obstruções internas e de uma série de implicações relativas à forma do prédio. O dimensionamento de um sistema de ventilação natural é complexo, especialmente porque as quantidades, intensidade e direção dos ventos modificam-se continuamente. Outro aspecto relevante é que os efeitos da incidência de ventos ficam muito reduzidos quando o pavilhão se situa longitudinalmente em relação à principal direção do vento. Por exemplo, no caso do Brasil, em que predomina na maior parte das regiões o vento vindo do Sul; o eixo da instalação (tomado na cumeeira) deverá ter direção do oeste para leste, para que os benefícios do vento sejam os maiores possíveis (TINÔCO, 2001).

Controlando-se convenientemente a entrada de calor no aviário, bem como facilitando a saída do calor produzido, a ventilação passa a ser uma complementação dos requisitos de conforto. A ventilação é um meio eficiente de redução da temperatura dentro das instalações avícolas, por aumentar as trocas térmicas por convecção. Desvios das situações ideais de conforto originam surgimento de desempenho baixo do lote, em consequência de estresse e o uso de artifícios estruturais para manter o equilíbrio térmico entre a ave e o meio, são necessários. A ventilação adequada se faz necessária também para eliminar o excesso de umidade do ambiente e da cama, proveniente da água liberada pela respiração das aves e através dos dejetos; e para permitir a renovação do ar regulando o nível de oxigênio necessário às aves, eliminando gás carbônico e gases de fermentação (ABREU e ABREU, 2000).

Segundo Souza (2005), em aviários lateralmente abertos, o manejo de cortinas é fundamental para obter um lote saudável, elevado bem-estar e produtivo durante todo período de crescimento do lote. Um bom manejo da ventilação, significa evitar súbitas mudanças na temperatura do aviário.

6.4.1 Uso do lanternim

Na ventilação térmica, as diferenças de temperatura provocam variações de densidade do ar no interior dos aviários, que causam, por efeito de tiragem ou termossifão, diferenças de pressão que se escalonam no sentido vertical. Essa diferença de pressão é função da diferença de temperatura entre ar no interior e exterior do aviário, das áreas de entrada e de saída do ar e da diferença de nível entre elas. Esse efeito é também denominado “efeito chaminé” e, considerando um aviário naturalmente ventilado, esse efeito existe independentemente da velocidade do ar externo, podendo favorecer ou prejudicar a tiragem natural (ABREU e ABREU, 2000).

Um telhado dotado de grande inclinação motiva, maior velocidade do ar sobre a cumeeira e, como conseqüência, ocorre uma pressão negativa mais acentuada, sendo o ar mais rapidamente succionado para fora da dependência, o que é desejável. Uma forma de direcionar o fluxo de ar é localizar a abertura de saída de ar na cumeeira, pois, nessa região há sempre alguma pressão negativa. Uma abertura com essas características, é denominada de lanternim (Figura 1). Recomenda-se que o lanternim seja construído em duas águas, disposto longitudinalmente em toda extensão do telhado, ser equipado com sistema que permita fácil fechamento e com tela de arame para evitar a entrada de pássaros. Deve permitir abertura mínima de 10% da largura do aviário, com sobreposição de telhados com afastamento de 5% da largura do aviário ou 40 cm no mínimo. As extremidades do lanternim devem estar no máximo a 5 cm da abertura do telhado para evitar entrada de chuva no aviário (ABREU e ABREU, 2000).

6.5 Iluminação

A iluminação é o outro fator de extrema importância no inverno. Programas de luz são utilizados para otimizar o ganho de peso, a eficiência alimentar, as características de carcaça e o estado sanitário do plantel. Igualmente à temperatura, umidade e qualidade do ar tem de estar em níveis adequados para manter o bem-estar das aves no aviário. A qualidade do material utilizado na construção do aviário também influencia na manutenção do ambiente ideal (ABREU, 2002).

O fator luz ou luminosidade, como elemento indispensável à produção das aves, foi inicialmente reconhecido em 1944. Naquela ocasião, o efeito da luz sobre a idade da maturidade sexual e sobre a posterior taxa de ovulação das poedeiras foram estudados intensamente, chegando-se a conclusão do valor que a luz exerce sobre a melhoria da produção das poedeiras. Entretanto, a produção industrial, tanto de frangos de corte como de poedeiras e reprodutoras, estava apenas em conjecturas (CAMPOS, 1975).

Por volta de 1960, estando já implantados os diversos setores de produção e comercialização, consolidando assim, a indústria avícola, iniciou-se o emprego constante de novas técnicas com o objetivo de melhorar economicamente a produção. Desta maneira, os trabalhos pioneiros sobre os efeitos da luz na produção das aves passaram a ser divulgados, motivando novas pesquisas no setor. Surgiram diversos programas de iluminação, uns simples, outros bastante complicados, sendo que atualmente esses programas constituem parte integrante do bom manejo das granjas de produção avícola (CAMPOS, 1975).

6.6 Temperatura da água

Durante os períodos de altas temperaturas, os lotes aumentam sua demanda pela ingestão de água. A relação entre a taxa de ingestão de água pela ingestão de alimentos é de aproximadamente 2:1 sob temperaturas de 21°C, mas aumenta para 8:1 sob temperaturas acima de 38°C. Desta forma, deve-se deixar uma quantidade de água suficiente disponível ao lote. Bebedouros adicionais podem auxiliar na melhor distribuição de água ao lote sob condições de estresse térmico. Resfriar a água de bebida através de uma maior taxa de renovação da água dos bebedouros, tem demonstrado resultados favoráveis na diminuição dos efeitos negativos de estresse térmico. Linhas menores de distribuição de água no interior dos aviários também tem auxiliado na diminuição da temperatura da água de beber (SOUZA, 2005).

6.7 Biossegurança

Biossegurança pode ser entendida como desde a higiene pessoal da equipe de trabalho da granja, isolamento da propriedade, limpeza dos galpões e gaiolas, desinfecção e controle de veículos, ração de qualidade, programa de vacinação correto e em dia, ao transporte das aves ao abatedouro ou embalagem dos ovos (GAMA, 2002). O sucesso desse programa só será alcançado desde que todos esses componentes funcionem em plena harmonia.

  1. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os avanços tecnológicos nas áreas de genética, saúde e nutrição fazem das aves poedeiras atuais uma cultura altamente avançada. Mudanças na cadeia de produção de ovos requerem preparação. Isso inclui ajustes devido a mudanças no ambiente, genética das aves, bem-estar animal e práticas de manejo. Esses ajustes são necessários para atender às necessidades dos consumidores e das grandes indústrias.

A indústria de ovos se preocupa muito com os efeitos prejudiciais do estresse térmico em seus animais. Observar o comportamento das aves é crucial para reconhecer quando elas sofrem estresse térmico. Minimizar os efeitos nos animais requer estratégias que usam muitos recursos. Cada local requer um plano de ação diferente devido às diferenças em sua realidade prática e climatológicas. Para dar conta disso, deve-se adaptar qualquer informação teórica sobre o assunto às circunstâncias específicas de cada local.

  1. REFERÊNCIAS

ABREU, V. M. N. et al. Enriquecimento ambiental de gaiolas como estratégia prática Para incrementar o bem-estar e a produção de ovos de poedeiras pesadas. Concórdia: Embrapa Suínos e Aves, 2006. 5p. (Comunicado Técnico, 447).

ABREU, V. M. N; MAZZUCO, H; SILVA, I. J. O. Bem-estar animal: A ave não é uma máquina. Concórdia: Embrapa Suínos e Aves, 2017. 2p

ALVES, SP. Uso da zootecnia de precisão na avaliação do bem-estar bioclimático de aves poedeiras em diferentes sistemas de criação. Piracicaba. 2006. 128f. Tese (Doutorado em agronomia, área de física do ambiente agrícola) – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – ESALQ, USP.

AMARAL, Gisele Ferreira et al. Avicultura de postura: estruturadacadeiaprodutiva, panorama do setor no Brasil e no mundo e o apoiodoBNDES. Disponível em: https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/bitstream/1408/9579/3/BS%2043%20Avicultura%20de%20postura_estrutura%20da%20cadeia%20produtiva_corrigido_P_BD.pdf

AQUINO, F. M. Aves matrizes e poedeiras: descarte e aproveitamento econômico em Santa Catarina. Florianópolis: BRDE, 2005. 28p.

ARAÚJO, D. M. et al. Farelo de trigo na alimentação de poedeiras semipesadas na fase de recria. Revista brasileira de Zootecnia, [S.l.], v. 37, n. 1, p.67-72, 2008.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PROTEÍNA ANIMAL. História da Avicultura no Brasil. Disponível em: <http://abpa-br.com.br/setores/avicultura>.

ÁVILA, V. S. et al. Guia de manejo para poedeiras coloniais de ovos castanhos. Concórdia: Embrapa suínos e aves, 2017a. 10 p.

BARBOSA FILHO, J.A. Avaliação do bem-estar de aves poedeiras em diferentes sistemas de produção e condições ambientais, utilizando análise de imagens. Piracicaba: ESALQ/USP. 2004. 123p. Dissertação Mestrado

NAWAZ, A. H. et al. Poultry response to heat stress: its physiological, metabolic, and genetic implications on meat production and quality including strategies to improve broiler production in a warming world. Frontiers in Veterinary Science, v. 8, p. 814, 2021.

PAVAN, A. C. et al. Efeito da Densidade na Gaiola sobre o Desempenho de Poedeiras Comerciais nas Fases de Cria, Recria e Produção. Revista Brasileira de Zootecnia, [S.l.], v. 34, n. 4, p. 1320-1328. 2005.

RANJAN, A. et al. Effect of heat stress on poultry production and their managemental approaches. International Journal of Current Microbiology and Applied Sciences, v. 8, n. 2, p. 1548-1555, 2019.

ROCHA, J. S. R; LARA, L. J. C; BAIÃO, N. C. Produção e bem-estar animal: aspectos éticos e técnicos da produção intensiva de aves. Ciências Veterinárias dos Trópicos, Recife, v. 11, n. 1, p.49-55, abr. 2008.

SAUCEDA, D. R. Qualidade de ovos e metabolismo em poedeiras com diferentes idades e fitase na dieta em sistema orgânico. 2017. 117 f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2017.

WASTI, S. et al. Impact of heat stress on poultry health and performances, and potential mitigation strategies. Animals, v. 10, n. 8, p. 1266-1286, 2020.

WILLER, H. LERNOUD, J. The world of organic agriculture: Statistics & emerging trends. Frick: Research Institute of Organic Agriculture, 2019. 351 p.