AVALIAÇÃO DE CONTEÚDOS EDUCATIVOS NO YOUTUBE® SOBRE DIABETES GESTACIONAL

EVALUATION OF EDUCATIONAL CONTENT ON YOUTUBE® ABOUT GESTATIONAL DIABETES

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.11315001


Amabile Megumi Ando Magrini1
Cinthia Sayuri de Morais Hirata Bedor1
Filipe de Menezes Freire Pires1
Gian Carlo Silva Creoncio1
Glícia de Fátima Fernandes Oliveira1
Guilherme de Almeida Castro1
Gustavo Policarpo Nunes Nogueira Leite1
Hiquelme Vinícius Ferreira Rocha1
João Victor Rocha de Jesus Xavier dos Santos1
Thaíse Vieira Andrade1
Victor Quental Luciano1
Williana Ferreira dos Santos1
Luciana Alcoforado Mendes da Silva2


Resumo

A diabetes gestacional é definida como algum grau de intolerância à glicose com início na gravidez e com valores de referência específicos para a gestação. Esse trabalho aborda a avaliação de conteúdos educativos sobre diabetes gestacional disponíveis no YouTube®, com o objetivo de determinar a qualidade e a precisão dessas informações para gestantes. Utilizando uma metodologia descritiva, a pesquisa selecionou e analisou diversos vídeos com base em critérios de relevância, clareza e conformidade com diretrizes médicas reconhecidas. Foram empregadas técnicas de análise de conteúdo para identificar a consistência das informações apresentadas a partir do questionário Discern. Os resultados revelam que, apesar de alguns vídeos fornecerem informações valiosas e precisas, muitos apresentam dados incorretos ou incompletos, o que pode dificultar o manejo adequado da diabetes gestacional pelas pacientes. A conclusão destaca a necessidade de uma maior curadoria e avaliação dos conteúdos educativos no YouTube®, sugerindo que profissionais de saúde e instituições médicas devem participar mais ativamente na criação e divulgação de materiais educativos online para garantir a disseminação de informações corretas e acessíveis.

Palavras-chave: Diabetes Gestacional. Uso da Internet. Saúde Pública Digital.

1 INTRODUÇÃO

A diabetes mellitus (DM) é uma doença importante que pode causar uma desordem metabólica significativa e que possui ainda uma alta prevalência na população mundial (WASSERMAN; ZINMAN, 2004). De acordo com a associação americana de diabetes (2017), a DM pode ser classificada de forma geral nas seguintes categorias: Tipo 1, que está relacionada à destruição das células beta pancreáticas por processos autoimunes; tipo 2, relacionada à resistência insulínica principalmente pela dieta inadequada; Diabetes Mellitus Gestacional (DMG); tipos específicos de diabetes por outras causas a exemplo da diabetes tipo MODY ou diabetes induzidas por drogas/produtos químicos.

A diabetes gestacional é definida como algum grau de intolerância à glicose com início na gravidez e com valores de referência específicos para a gestação, como a glicemia de jejum maior ou igual a 92 mg/dL e menor que 126 mg/dL (FEBRASGO, 2019). Essa definição é aplicável quando o tratamento é baseado numa modificação alimentar ou na terapêutica com insulina e essa condição pode persistir ou não após a gestação (American Diabetes Association, 2003; American Diabetes Association, 2010). Segundo Tanure et al. (2014), uma das principais características da DMG está no nível de insulina que se mostram insuficientes para suprir as demandas necessárias, resultando no aparecimento de hiperglicemia. É uma doença que pode ocasionar aborto e em alguns casos, malformações congênitas e crescimento fetal anormal.

A DMG é um problema de ordem pública, sua incidência no Brasil é de 3% a 65% das gestações, podendo chegar a 17,8% de casos em outras partes do mundo (MARTINS; BRATI, 2021). De acordo com o Ministério da Saúde (2022), a diabetes gestacional está presente em 2 a 4% de todas as gestantes e apresenta riscos tanto para a mãe quanto para o feto. Vale ressaltar que dentre as complicações que a DMG pode trazer para o binômio, destaca-se a hiperglicemia materna como uma das principais causas de problemas relacionados ao feto e à mãe. Podem ocorrer outras condições como eclampsia, polidramnia por conta da diurese osmótica fetal, assim como casos mais complexos, além de possíveis episódios de infecção urinária, pielonefrite, cistite, candidíase, trabalho de parto prematuro, hipoglicemia, cetoacidose, necessidade de parto cirúrgico e alterações metabólicas, que também podem estar associadas à hiperglicemia, aumentando o risco de abortamento entre as gestantes.

Inicialmente, o Ministério da Saúde (2022) recomenda a mudança dos hábitos de vida para o tratamento da DMG: alimentação balanceada e prática de exercícios físicos. Apesar da diabetes gestacional ser uma doença de alta prevalência e com grandes repercussões materno-fetais, o tratamento inicial é relativamente simples, visto que uma mudança de hábitos é capaz de evitar a necessidade de terapia insulínica durante o curso da gestação e previne o desenvolvimento da diabetes mellitus pós-parto.

De acordo com Tengland (2016), o empoderamento da população em relação ao conhecimento gera mais autonomia, o que é importante dentro do aspecto da prática médica, visto que um paciente com autonomia não só entende que deve realizar determinados tratamentos para sua saúde, mas o porquê de ter que fazê-lo. Pensando nisso, um grande veículo de informação é a internet e mais especificamente o YouTube®: uma plataforma virtual onde qualquer usuário pode postar vídeos sobre diversos assuntos e visualizar vídeos de outros usuários.  

A Internet é a maior ferramenta de busca de informações na atualidade, sendo o principal local para consultas de dados tanto da população em geral como de profissionais da área de saúde e a partir de sua popularização modificou a pesquisa bibliográfica que antes eram restritas aos livros, enciclopédias e revistas, ocorrendo também um rompimento de barreiras geográficas, culturais e sociais (HIRATA et al., 2010). 

A informação sobre saúde e doença está acessível na internet, mas muitas vezes ela é incompleta, contraditória, incorreta ou até fraudulenta. Por essas razões, a população muitas vezes tem dificuldade de distinguir, por exemplo, o certo do enganoso ou o inédito do tradicional (GARBIN et al., 2008; RIBEIRO et al., 2021). Com relativa facilidade, qualquer pessoa pode postar conteúdo, em todo o mundo, na forma de livros, conselhos, testemunho de curas milagrosas ou serviços clínicos (LISSMAN et al., 2001).

Mesmo com o crescente aumento do acesso às plataformas digitais e de conteúdos de qualidade, ainda é observado a disseminação de informações falsas. Com isso, urge a necessidade de uma avaliação a respeito das informações que chegam ao público-alvo. Nesse contexto, e entendendo a gravidade da DMG, cabe avaliar se o conteúdo transmitido através do YouTube® é de qualidade, se a definição e fisiopatologia, a epidemiologia, os fatores de risco e o tratamento são abordados de forma correta, com clareza e com informações verdadeiras de acordo com a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia.

Desse modo, o presente estudo tem por objetivo avaliar as informações que estão em vídeos compartilhados no YouTube® sobre a DMG. Essa avaliação tem por intuito identificar se as informações que chegam para o público-alvo são de qualidade, claras e objetivas.

2 METODOLOGIA

       Trata-se de um estudo descritivo que se prestou a analisar a qualidade da informação de vídeos postados na plataforma de compartilhamento de vídeos YouTube® com a temática diabetes gestacional. De acordo com LIMA-COSTA e BARRETO (2003), os estudos descritivos são aqueles caracterizados por descrever uma situação de saúde, determinando a distribuição de doenças e agravos segundo tempo, lugar e características a partir de dados primários e secundários. Nesses estudos é possível examinar incidência e prevalência de doenças e condições relacionadas à saúde de uma população. 

            O estudo foi realizado na plataforma de compartilhamento de vídeos YouTube® no período de 21 de março a 01 de abril de 2024. O objeto de estudo foi composto por vídeos postados da plataforma de compartilhamento de vídeos YouTube® que abordam a temática Diabetes Gestacional. 

Foram incluídos os vídeos que atenderam os seguintes critérios: 1) vídeos cujo título possuíam o descritor em saúde “diabetes gestacional”; 2) com duração de 4 a 20 minutos; 3) que foram postados entre março de 2023 e março de 2024; 4) voltados ao público geral; 5) em língua portuguesa; e 6) que abordavam temas como etiologia, fisiopatologia, epidemiologia, sintomas, diagnóstico, tratamento e prevenção da diabetes gestacional. Os critérios de exclusão foram: 1) vídeos vinculados a plataformas de estudos médicos divulgados pelo YouTube®; 2) vídeos que mesmo postados na plataforma tratavam de experiência pessoal; 3) vídeos repetidos; e 4) vídeos de animação.

Três pesquisadores foram responsáveis pela seleção e análise de vídeos sobre a temática de diabetes gestacional disponíveis para o público geral na plataforma de compartilhamento de vídeos YouTube®. Cada um deles, individualmente, realizou uma busca utilizando o descritor em saúde “diabetes gestacional” e foram aplicados os filtros disponíveis na própria plataforma que correspondem aos critérios de inclusão descritos anteriormente. Foram selecionados os 30 primeiros vídeos de acordo com a ordem de relevância. A busca foi feita em uma janela de navegador em modo anônimo para evitar a influência do algoritmo utilizado pelo site. Nos casos de divergência ao confrontar os achados de cada pesquisador, os resultados do terceiro pesquisador foram utilizados como critério de desempate, para que, ao final, todos pudessem analisar o mesmo material.

A seguir, individualmente, cada um dos pesquisadores realizou a análise da qualidade das informações contidas nos vídeos selecionados através da ferramenta DISCERN (REDDY et al., 2023) que avalia a qualidade das informações disponíveis na internet sobre temas da área da saúde por meio de um questionário com 16 perguntas a serem respondidas com uma escala de 1 a 5, no qual 1 não satisfaz o critério e 5 o satisfaz completamente. As perguntas são divididas em 3 seções, sendo a primeira seção sobre a confiabilidade, a segunda sobre a qualidade e a terceira é a avaliação geral da publicação. O DISCERN foi desenvolvido pela Universidade de Oxford juntamente com a British Library. A versão em português é adequada, com boa convergência entre as questões, boa consistência interna e boa reprodutibilidade (LOGULLO et al., 2019). Após a avaliação individual dos vídeos selecionados, foi realizada a discussão dos achados para verificar se a qualidade da informação dos vídeos é adequada, usando como referência a literatura da FEBRASGO e Ministério da Saúde sobre o tema.

3 RESULTADOS

Foram selecionados 30 vídeos na primeira etapa, desses, 14 analisados após aplicados os critérios de inclusão e exclusão. Depois da apreciação, observou-se que 5 (31,25%) tratavam de experiências pessoais; 4 (25%) eram de plataformas de ensino médico; 1 (6,25%) era em espanhol; 5 (31,25%) não tinham as palavras-chave “diabetes gestacional” no título. A síntese das buscas está demonstrada na Figura 1. 

Figura 1 – Fluxograma de busca e seleção dos vídeos

Fonte: autores.

3.1 CLASSIFICAÇÃO DOS VÍDEOS PELOS AVALIADORES

Após classificação dos vídeos segundo o Discern (REDDY et al., 2023), observou-se que 57% dos vídeos têm seus objetivos claros, porém boa parte deles se mostrou parcialmente claro (28%) e uma parte menor ainda não se mostrou efetivamente clara (7%) em seus objetivos. Além disso, 71% alcançaram suas finalidades plenamente. Obteve-se também que a totalidade dos vídeos apresentaram informações relevantes. Em tempo, 78% dos que foram selecionados não demonstraram alto grau de transparência nas fontes de informações utilizadas e boa parte deles (71%) se mostrou totalmente equilibrada e imparcial. Mais da metade (64%) não demonstraram de forma alguma como funciona o tratamento e nenhum deles o descreveu totalmente – conforme preconiza o Ministério da Saúde -, enquanto o restante apresentou parcialmente. Apenas um descreveu os benefícios do tratamento de maneira completa, 3 (21%) de forma parcial e 8 (57%) não falaram sobre o assunto. Nenhum deles expôs os riscos dos tratamentos, sendo que a maioria expressou razoavelmente o que acontece caso a diabetes gestacional não seja tratada. Ainda sobre a terapia, poucos deles informam como as alternativas disponíveis podem afetar a qualidade de vida geral da paciente, sendo que 64% deixaram de trazer essa informação. Ademais, 71% dos vídeos não esclarecem sobre a possibilidade de haver mais de uma opção de tratamento (Tabela 1).

A tabela 1 é o resultado da análise de dois avaliadores com as divergências resolvidas pelo consenso do terceiro e foi organizada conforme as perguntas classificatórias do questionário utilizado, sendo “n” a quantidade de vídeos enquadrados em cada subcategorização (1, 2, 3, 4 ou 5) com suas respectivas porcentagens.

Tabela 1: Avaliação dos vídeos selecionados conforme o Discern

  n (%)   
DICERN1. Não23. Parcialmente45. Sim
Os objetivos são claros?1 (7%)1 (7%)4 (28%)08 (57%)
Alcança seus objetivos?001 (7%)2 (21%)11 (71%)
Traz informações relevantes?000014 (100%)
Está claro quais as fontes de informações que foram utilizadas?9 (64%)2 (14%)02 (14%)1 (7%)
Está claro quando as informações foram produzidas?3 (21%)02 (14%)09 (64%)
O texto é equilibrado e imparcial?1 (7%)02 (14%)1 (7%)10 (71%)
Fornece outras fontes adicionais de suporte e informação que possam ser consultadas?12 (85%)001 (7%)1 (7%)
Aponta questões para a qual ainda não há certeza?14 (100%)0000
Descreve como funciona cada tratamento?9 (64%)1 (7%)4 (28%)00
Descreve os benefícios de cada tratamento?8 (57%)2 (14%)3 (21%)01 (7%)
Descreve os riscos de cada tratamento?14 (100%)0000
Descreve o que aconteceria caso nenhum tratamento fosse utilizado?3 (21%)05 (35%)1 (7%)5 (35%)
Descreve como as alternativas de tratamento afetam a qualidade de vida em geral?9 (64%)2 (14%)01 (7%)2 (14%)
Fica claro que pode haver mais de uma opção de tratamento?10 (71%)001 (7%)3 (21%)
Oferece suporte para que a decisão seja tomada de forma compartilhada?5 (35%)23 (21%)1 (7%)3 (21%)
 1. Baixa23. Moderada45. Alta
Avaliação geral como fonte de informação sobre as alternativas de tratamento4 (28%)2 (14%)4 (28%)3 (21%)1 (7%)

Legenda: n, número de vídeos.

Fonte: autores. 

A tabela 2 demonstra a síntese das análises dos vídeos sobre as categorizações mais relevantes para a informação do público leigo segundo a opinião dos autores, onde “n” representa as subdivisões 4 e 5 de cada questão do Discern (REDDY et al., 2023). A grande maioria alcança os objetivos de informar sobre a DMG com informações relevantes de modo imparcial e sensato, todavia foram poucos os vídeos que indicaram as fontes de informações e transmitiram de forma precisa sobre os possíveis tratamentos da patologia.

Tabela 2: Síntese dos resultados das avaliações

Síntese dos resultadosn (%)
Os objetivos são claros?8 (57%)
Alcança seus objetivos?13 (92%)
Traz informações relevantes?14 (100%)
Está claro quais as fontes de informações que foram utilizadas?3 (21%)
O texto é equilibrado e imparcial?11 (78%)
Avaliação geral sobre alternativas de tratamento4 (28%)

Legenda: n, número de vídeos.

Fonte: autores. 

A soma das visualizações, likes e comentários dos vídeos totaliza 157.825, 627 e 54 respectivamente, o que mostra a relevância do tema para uma gama de indivíduos. No entanto, algo chama atenção: os vídeos com mais visualizações não são os que apresentam maior interação (likes e comentários). Ademais, 6 foram feitos por profissionais da saúde não médicos, nenhum deles era vlog, um se tratava de material jornalístico e 7 foram feitos por médicos. O resultado das categorizações por visualizações e suas interações estão contidos na tabela 3.

Tabela 3: Variação de interação (likes e comentários) classificados consoantes à faixa de visualizações

VisualizaçõesLikesComentáriosN. de vídeos
0 a 9990 a 730 a 168
1000. a 1.9990 a 630 a 191
2.000 a 4.9990 a 2370 a 62
5.000 ou mais0 a 183

Fonte: autores.

4 DISCUSSÃO:

Na última década, a busca por informações rápidas e acessíveis aumentou exponencialmente. Em um recorte sobre a área da saúde, é importante destacar que a internet é um meio de comunicação livre de regras e pode não oferecer referencial teórico seguro sobre patologias (GIGLIO et al., 2012). Segundo Szmuda (2020), os conteúdos audiovisuais publicados nas plataformas da internet, em destaque no YouTube®, tendem a ser os mais acessados pelo público em geral. O alcance do site é de mais de dois mil milhões de usuários e isso o torna a segunda base de dados mais popular do mundo. 

Nesse sentido, visando verificar o teor de clareza, relevância e transparência dos vídeos publicados na base de dados YouTube® sobre a DMG, o presente estudo analisou 14 vídeos. Foi possível observar que mais de 57% dos vídeos analisados apresentaram objetivos claros, relevantes, imparciais e com fontes seguras de informações. Para Furtado (2022) o YouTube® é uma base de dados de interação entre paciente e profissionais de saúde, a qual promove a obtenção de conhecimentos sobre essa temática. Ao correlacionar o presente estudo com dados da literatura, é possível inferir que o YouTube® tem grande impacto na propagação das informações sobre a diabetes gestacional para público geral.

Os conteúdos mais abordados nos vídeos analisados por esse estudo são sobre desfechos da falta de tratamento, opções de tratamento e decisão conjunta médico-paciente. Em estudos relacionados à busca de informações em base de dados como YouTube®, descreve-se que a maioria dos vídeos tendem a relatar menos sobre “epidemiologia” e “diagnósticos”, que apesar de serem temáticas introdutórias necessárias, o público considera pouco atrativas (SHIELDS, 2021). Esse contexto demonstra que o YouTube® recomenda o que gera maior número de visualizações e likes em detrimento de informações robustas que contenham todo o aspecto científico do perfil de acometimento e formas diagnósticas da DMG.

Outro aspecto importante é o número de visualizações, likes e comentários dos vídeos que totalizaram mais de 157 mil. Diante desse contexto, é evidente o impacto do YouTube® na disseminação da informação, embora subestimado. O paciente tem usado informações on-line para questionar e discutir mais sobre diagnóstico e tratamento (CHILTON, 2008). Dalpoz (2022) infere que é preciso encorajar os criadores de conteúdo do YouTube® a categorizar, sistematizar e referenciar de acordo com a literatura científica suas publicações. 

De tal forma, pode-se observar também que não existe relação íntima da qualidade do conteúdo ofertado com a popularidade dos vídeos analisados. Dito isso, pode-se deduzir que as informações passadas para as pacientes com diabetes gestacional são variáveis em relação à qualidade ofertada. Portanto, vídeos de alta popularidade podem não oferecer informações importantes ou transmitir conteúdos rasos e pouco abrangentes.

De acordo com Birch (2022), o algoritmo de pesquisa do YouTube® pode não levar em consideração a qualidade dos vídeos para sugerir os conteúdos, dispondo como base as palavras-chave da pesquisa; portanto a virtude dos conteúdos tem significativa variação entre os vídeos ofertados. Porém, existem excelentes produções audiovisuais disponíveis, com boa confiabilidade, qualidade e abrangência. Entretanto, com base no que fora exposto é difícil garantir que tais produções sejam acessadas, pois não são necessariamente vídeos altamente recomendados pela plataforma, nem os mais vistos, curtidos ou acessados.

Conforme Coelho (2013), não é infrequente que informações de saúde divulgadas na internet afetem a relação médico-paciente, seja prejudicando o tratamento ou até mesmo levando o paciente a trocar o profissional médico. Nesse sentido, observa-se que as informações publicadas no YouTube® podem generalizar quadros e condutas, muitas vezes levando o paciente a construir um conceito prévio de conduta e tratamento para a sua condição, podendo interferir, assim, na relação médico-paciente devido à desilusão ao se deparar com a singularidade do seu caso.

5 CONCLUSÃO

Concluiu-se que os vídeos analisados nesse estudo sobre Diabetes Mellitus Gestacional encontrados na plataforma YouTube® têm a intenção de contribuir no entendimento desse problema de saúde que afeta uma fração considerável da população. Porém, falta-lhes por vezes um complemento importante que é a validação das informações expostas na forma de referências de estudos confiáveis. Além disso, considerando que cada caso é singular, não se pode, assim, o apresentador (a) expor possíveis direcionamentos de como conduzir a doença de forma generalizada, embora as bases do tratamento para a DMG sejam popularmente conhecidas, a avaliação médica do paciente é indispensável.

Levando em consideração, também, que o algoritmo direciona vídeos com alta quantidade de visualizações, comentários e likes, nem sempre os que possuem mais engajamento refletem a verdade sobre o que se está sendo transmitido, podendo, no caso de tratamentos voltados à saúde, levar o paciente ao tratamento incorreto. Apesar disso, um fator positivo nas análises foi a observação de que a maior parte dos vídeos eram apresentados por profissionais de saúde que se expressavam de modo imparcial e equilibrado.

Logo, sugere-se que os criadores de conteúdos da plataforma YouTube® se atentem às informações divulgadas, de preferência voltados à saúde, e que a própria plataforma, em si, desenvolva estratégias para filtrar conteúdos que são expostos, levando em consideração a validade da informação e as fontes de onde são extraídas, a fim evitar desinformações e prover conteúdos verídicos para os telespectadores.

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1 Discente do Curso de Graduação em Medicina da Faculdade Estácio IDOMED Campus Juazeiro-BA. e-mail: 

2 Docente do Curso de Graduação em Medicina da Faculdade Estácio IDOMED Campus Juazeiro-BA. Mestre em Ciências da Saúde (UPE). e-mail: