AUTOTRANSPLANTE DENTÁRIO: UMA REVISÃO DE LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202503251547


Lorrana Costa1
Marjorie Sartorio Barbosa Gonçalves1
Priscila Brochado1
Marcos Villa-Nova2
Rodrigo Resende3,4
Marcelo J. Uzeda3,4
Rafael Coutinho3


RESUMO

O autotransplante dentário é uma técnica eficaz para substituir dentes ausentes, sendo particularmente vantajosa para pacientes em crescimento, onde a preservação do osso alveolar e a manutenção da estética e função dentária são essenciais. Estudos mostram que as taxas de sucesso podem variar entre 75% e 98%, dependendo de fatores como a seleção criteriosa do dente doador e o cuidado pós-operatório. Esta técnica tem se mostrado uma alternativa viável e natural aos implantes e próteses, especialmente quando o paciente não é um candidato ideal para essas opções tradicionais.

Pesquisas revelam que o autotransplante é mais bem-sucedido em pacientes jovens, nos quais o dente doador possui raiz parcialmente desenvolvida, o que aumenta a probabilidade de regeneração radicular. A taxa de sobrevivência desses dentes pode chegar a 87,39%, e o sucesso clínico, a 90,29%, quando o procedimento é adequadamente planejado e realizado. Complicações como anquilose e reabsorção radicular, no entanto, podem comprometer o sucesso a longo prazo, indicando a necessidade de um planejamento cuidadoso para minimizar riscos associados.

Adicionalmente, há uma proposta de padronização dos critérios de avaliação dos resultados do autotransplante, especialmente em dentes com ápices abertos que demonstram taxas de sobrevivência superiores a 95%. Essa padronização visa oferecer dados consistentes e aprimorar a análise dos fatores que influenciam o sucesso do procedimento, como o estágio de desenvolvimento radicular e as técnicas cirúrgicas.

Com isso, o autotransplante dentário é reforçado como uma alternativa promissora e efetiva para a substituição de dentes, especialmente em casos que exigem uma abordagem mais biológica e natural.

Palavras-chave: Autotransplante, autotransplante dentário, transplantes de dentes, transplante autólogo.

ABSTRACT

Dental autotransplantation is an effective technique for replacing missing teeth, particularly beneficial for growing patients, where preserving alveolar bone and maintaining dental aesthetics and function are essential. Studies indicate that success rates range from 75% to 98%, depending on factors such as careful donor tooth selection and proper postoperative care. This technique has proven to be a viable and natural alternative to implants and prosthetics, especially for patients who are not ideal candidates for these conventional options.

Research suggests that autotransplantation is most successful in younger patients, particularly when the donor tooth has a partially developed root, increasing the likelihood of root regeneration. The survival rate of transplanted teeth can reach 87.39%, while clinical success rates can be as high as 90.29% when the procedure is meticulously planned and executed. However, complications such as ankylosis and root resorption can compromise long-term outcomes, underscoring the importance of careful planning to minimize associated risks.

Furthermore, there is a growing proposal to standardize criteria for evaluating autotransplantation outcomes, particularly in teeth with open apices, which have demonstrated survival rates exceeding 95%. This standardization aims to provide consistent data and enhance the analysis of factors influencing procedural success, such as root development stage and surgical techniques. Thus, dental autotransplantation continues to be reinforced as a promising and effective alternative for tooth replacement, particularly in cases requiring a more biological and natural approach.

Keywords: Autotransplantation, dental autotransplantation, tooth transplantation, autologous transplantation.

INTRODUÇÃO

O autotransplante dentário, uma técnica cirúrgica que envolve a transferência de um dente de uma área para outra dentro da cavidade oral do mesmo paciente, proporciona uma alternativa biológica para a substituição de dentes perdidos. Segundo Dokova et al. (2024), o autotransplante é especialmente valioso em pacientes jovens, pois permite a preservação do osso alveolar e a manutenção da funcionalidade e da estética natural dos dentes. Embora a colocação de implantes dentários e próteses fixas sejam soluções amplamente usadas, essa técnica oferece uma abordagem fisiológica para casos onde o paciente não é um candidato ideal para intervenções protéticas convencionais.

Pesquisas indicam que as taxas de sucesso e sobrevivência do autotransplante são comparáveis ou até superiores às dos implantes em certos contextos, variando entre 75% e 98%. Estudos como o de Jaber et al. (2024) destacam que fatores como o estágio de desenvolvimento da raiz do dente doador e os cuidados pós-operatórios são determinantes para o sucesso do procedimento. 

Dentes com ápices abertos, por exemplo, apresentam uma elevada capacidade de revascularização e integração ao novo local, o que favorece a regeneração dos tecidos e resulta em prognósticos favoráveis. Essas evidências sustentam a recomendação do autotransplante como uma alternativa promissora para pacientes em crescimento e para aqueles que buscam uma solução mais natural e acessível.

Contudo, o êxito do autotransplante dentário depende de um planejamento rigoroso e de uma equipe multidisciplinar experiente. Conforme relatado por Tan et al. (2023), fatores como a experiência do cirurgião, a condição do dente doador e a técnica de imobilização pós-operatória são cruciais para o sucesso. Complicações como a anquilose e a reabsorção radicular são desafios frequentemente enfrentados, ressaltando a importância de seguir protocolos estabelecidos e de uma seleção criteriosa dos casos. Além disso, a padronização dos critérios de sucesso é essencial para uma avaliação precisa dos resultados clínicos e para possibilitar comparações com outras alternativas de tratamento.

Diante desse cenário, o presente artigo busca sintetizar as evidências disponíveis sobre o autotransplante dentário, com enfoque nos fatores que influenciam seu sucesso e nas complicações que podem impactar o prognóstico a longo prazo. A necessidade de padronizar os parâmetros de avaliação será também discutida, promovendo uma prática baseada em dados consistentes e comparáveis, o que contribuirá para um uso mais eficaz e embasado da técnica.

METODOLOGIA

A metodologia consiste em uma revisão de literatura, com o objetivo de compilar e avaliar as evidências disponíveis sobre as taxas de sucesso e os fatores de risco associados ao autotransplante dentário. 

Esse estudo foi realizado de acordo com os princípios descritos na declaração de Helsinki sobre experimentação envolvendo seres humanos.

Foram utilizados três artigos principais como base: Dokova et al. (2024), Jaber et al. (2024) e Tan et al. (2023). Foram escolhidos por serem recentes e abrangentes, fornecendo dados sobre diferentes aspectos do autotransplante, como taxas de sobrevivência, complicações e métodos de avaliação de sucesso e falha do procedimento .

A coleta de dados foi realizada por meio de buscas em bases de dados científicas como PubMed, Scopus, e MEDLINE, conforme metodologia utilizada por Jaber et al. (2024), a fim de garantir a abrangência das informações. Os critérios de inclusão seguiram o padrão de revisões sistemáticas, revisões de literatura, excluindo artigos publicados anteriormente à 2014. Os dados extraídos dos estudos foram categorizados de acordo com os fatores que influenciam o sucesso e a sobrevivência do autotransplante, como o estágio de desenvolvimento do dente doador e as técnicas de imobilização utilizadas no pós-operatório .

Usamos as seguintes palavras chaves para busca, autotransplante, autotransplante dentário, transplantes de dentes, transplante autólogo.

Para análise comparativa dos dados, foi proposta a criação de um índice de resultados para o autotransplante, conforme sugerido por Tan et al. (2023), que propõem a padronização dos critérios de sucesso e sobrevivência em estudos de autotransplante dentário. 

Esse índice permitiu uma análise consistente e sistemática dos resultados, promovendo uma visão mais clara dos fatores que influenciam o sucesso do procedimento em diferentes contextos clínicos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na presente pesquisa  analisamos fatores que influenciam o sucesso do autotransplante dentário, que é uma opção de tratamento para substituição de dentes perdidos principalmente em pacientes jovens e que apresentam dentes imaturos, ou seja, ápices abertos, e, a partir dessas condições mostra maior taxa de sobrevivência, devido a menor chance de anquilose, além do tempo cirúrgico, pouco manuseio do dente doador e da área que receberá o autotransplante, sendo importante para evitar danos ao ligamento periodontal, porém, esse procedimento é pouco realizado por profissionais, perante outras opções de tratamento que são mais utilizadas. 

Vale lembrar que é sempre importante uma avaliação prévia do paciente que será submetido ao autotransplante, comparar resultados estéticos e se essa intervenção cirúrgica terá algum impacto negativo na vida do mesmo, vale salientar também o custo-eficácia e resultados pulpares e perirradiculares após a cirurgia. Para esse procedimento torna-se fundamental a cobertura antibiótica, que tem por objetivo reduzir a contaminação bacteriana, minimizando assim, a infecção. 

Os terceiros molares foram os elementos dentários que demonstraram melhor opção de substituição biológica em pacientes com a dentição permanente, já na dentição decídua, os elementos dentários da região anterior são mais utilizados.  

Em paciente com ápice aberto, há presença de uma maior vascularização e uma melhor cicatrização da polpa após o autotransplante. Já em pacientes com ápice fechado, temos um maior risco de Necrose Pulpar e Reabsorção Radicular externa. As taxas de insucesso do autotransplante dentário estão relacionadas diretamente a Anquilose dentária. 

É necessário o acompanhamento clínico e radiográfico em longo prazo para certificar o sucesso da cirurgia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O autotransplante dentário é uma alternativa promissora, especialmente em pacientes jovens. Evidências nos mostram que o autotransplante não apenas oferece uma solução funcional e estética, mas também contribui para a preservação do osso alveolar e promove uma integração natural com o sistema estomatognático do paciente. O prognóstico é favorável em dentes imaturos devido ao seu potencial de revascularização e desenvolvimento radicular.

O estágio de desenvolvimento do dente doador e a habilidade do cirurgião são essenciais para minimizar complicações. O procedimento pode servir como solução temporária até que o paciente atinja a maturidade esquelética, momento em que um tratamento definitivo. (Jaber et al., 2024).

No entanto, embora as taxas de sucesso sejam promissoras, com sobrevivência de até 98% em dentes de ápice aberto, a técnica ainda enfrenta desafios.

REFERÊNCIAS

  1. Dokova, A. F., et al. “Advancements in Tooth Autotransplantation.” JADA 155.6 (2024): 475-483. DOI: 10.1016/j.adaj.2024.01.006 
  2. Jaber, M., et al. “Long-Term Evaluation of Tooth Transplantation: An Umbrella Review.” Journal of Clinical Medicine 13.3341 (2024): DOI: 10.3390/jcm13113341 
  3. Tan, B. L., et al. “Tooth Autotransplantation: An Umbrella Review.” Dental Traumatology 39.S1 (2023): 2-29. DOI: 10.1111/edt.1283
  4. Lacerda-Santos R, Canutto RF, Araújo J, Carvalho FG, Münchow EA, Barbosa TS, et al. Effect of orthodontic treatment on tooth autotransplantation: systematic review of controlled clinical trials. Eur J Dent. 2020;14:467-82.
  5. Lucas-Taulé E, Bofarull-BallúsA, Llaquet M, Mercade M, Hernández-Alfaro F, Gargallo-Albiol J. Does root development status affect the outcome of tooth autotransplantation? A systematic review and meta-analysis. Materials (Basel). 2022;15:3379.
  6. Akhlef Y, Schwartz O, Andreasen JO, Jensen SS. Autotransplantation of teeth to the anterior maxilla: a systematic review of survival and success, aesthetic presentation and patient-reported outcome. Dent Traumatol. 2018;34:20–7.
  7. Kakde, K.K.R Tooth Autotransplantation as an Alternative Biological Treatment: Uma revisão de Literatura. Cureus 2022, 14, e3049. 
  8. Machado, L.A.; Do Nascimento, R.R.; Ferreira, D.M.; Mattos, CT.; Vilella, O.V. Prognóstico a longo prazo do autotransplante dentário: Uma revisão sistemática e meta-análise. Int. J. Oral Maxillofac. Surg. 2016. 45,610-617.
  9. Rohof, E.C.; Kerdijk, W.; Jansma, J.; Livas, C.;Ren, Y. Autotransplante de dentes com formação incompleta da raiz: A systematic review and meta-analysis. Clin. Oral Investig. 2018,22, 1613-1624.

1Aluna do curso de Mestrado em Clínica Odontológica, Universidade Iguaçu, Nova Iguaçu, Rio de Janeiro.
2Aluno do curso de especialização em Implantodontia, INSIDE Odontologia, Rio de Janeiro.
3Professor do curso de Mestrado em Clínica Odontológica, Universidade Iguaçu, Rio de Janeiro.
4Professor do Departamento de Cirurgia Oral, Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro.