THE ROLE OF THE PSYCHOLOGIST IN THE HOSPITAL CONTEXT FACING THE INTENSIVE CARE UNIT
REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.12788481
Antônia do Socorro Cunha Furtado1; Diana Maria Sousa de Almeida Silva2; Ruth Raquel Soares de Farias3; Jonathan Ruan de Castro Silva4; Thamyris Tabosa de Sousa5; Denilson Gomes Silva6
RESUMO
Este artigo propôs-se a descrever a atuação do psicólogo na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) quanto à sua prática e relevância nesse setor. A pesquisa utilizou uma abordagem qualitativa, por meio de revisão integrativa da literatura, com foco na identificação e análise de estudos relevantes sobre o tema. Foi realizada uma busca online para selecionar as principais produções científicas, utilizando os descritores “Unidade de Terapia Intensiva” e “Psicologia Hospitalar”, obtidos por meio do DeCS/MeSH da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). As buscas abrangeram diversas bases de dados virtuais, incluindo a BVS, Pubmed, SciELO e PePSIC. A análise dos artigos selecionados foi guiada por critérios pré-estabelecidos, visando identificar tendências, desafios e oportunidades na atuação do psicólogo nesse contexto. Observou-se que a maioria dos artigos avaliados apontou para a importância do psicólogo na UTI como facilitador da comunicação entre pacientes, familiares e equipe médica, bem como no suporte emocional durante situações críticas. Considerou-se, portanto, que a Psicologia na UTI tem um papel crucial na promoção do bem-estar psicológico e na melhoria da qualidade de vida dos indivíduos em tratamento intensivo e de seus familiares. Adicionalmente, enfatizou-se a necessidade de aprimoramento na formação dos psicólogos e a escassez de pesquisa na Psicologia Intensivista, destacando a importância de mais estudos para melhorar tanto a compreensão quanto a prática profissional nesse contexto desafiador. Espera-se que os resultados dessa pesquisa contribuam para uma melhor compreensão da atuação do psicólogo na UTI e para o desenvolvimento de estratégias que promovam uma assistência mais humanizada e eficaz nesse ambiente.
Palavras-chave: Psicologia Hospitalar; Unidade de Terapia Intensiva; Atuação do Psicólogo.
1 INTRODUÇÃO
A atuação da Psicologia no contexto da saúde e, em particular, em ambientes hospitalares, tem evoluído significativamente no Brasil ao longo das últimas décadas. Desde sua regulamentação há 62 anos, a presença do psicólogo nesse cenário tem se fortalecido, especialmente a partir dos anos 90, quando houve um reconhecimento mais amplo de sua importância na equipe multiprofissional, principalmente no atendimento ao paciente hospitalizado. Este reconhecimento consolidou a presença do psicólogo na área da saúde, e proporcionou um ambiente promissor de trabalho, caracterizado pelo reconhecimento profissional, por salários atrativos e estabilidade (Schneider; Moreira, 2017).
Nesse cenário existem as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) que se destacam como setor hospitalar crucial no tratamento, especialmente por lidarem com pacientes em estado grave, com risco iminente de morte e que demandam cuidados intensivos contínuos. Diante desse contexto, a psicologia intensiva surge como uma abordagem que visa refletir sobre o atendimento psicológico em situações críticas como as vivenciadas nas UTI. Seu propósito é reconhecer os desafios enfrentados pelo paciente submetido a tratamentos invasivos na busca pela preservação da vida (Costa; Figueiredo; Schaurich, 2009; Gusmão, 2012).]
O estudo da atuação do psicólogo na UTI e seus desafios não só apenas contribui para o desenvolvimento da Psicologia Hospitalar, como também possibilita a produção de estratégias mais eficazes de intervenção e apoio emocional aos pacientes, familiares e equipe (Schneider & Moreira, 2017). Esse contexto justifica a pesquisa buscando fundamentar discussões dentro dessa temática. Apontam-se aqui o manejo e principais contribuições do psicólogo para o cuidado integral do paciente, da família, e por vezes, da equipe na UTI.
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 A UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA
O setor de Terapia Intensiva (UTI) é uma unidade hospitalar centrada em cuidados intensivos e contínuos a pacientes com quadros graves ou que apresentem riscos que comprometem sua saúde, podendo inclusive levar a morte. Esta unidade é composta por uma equipe multiprofissional capacitada e preparada que busca uma recuperação efetiva do paciente, acompanhado de uma assistência para agir sobre a complexidade, o estresse e a sobrecarga de trabalho que este tipo de serviço proporciona (Coelho, 2011).
As UTIs surgem para suprir a falta de recursos humanos e materiais ao atendimento de pacientes graves, em estado crítico, mas com situação ainda reversível em um lugar que possa haver a observação constante, e centralização desses pacientes (Villa; Rossi, 2002).
A Portaria Nº 895, de 31 de março de 2017, fala sobre o cuidado progressivo ao paciente crítico ou grave avaliando os critérios necessários para admissão e alta, classificação e habilitação dos leitos da Unidade de Terapia Intensiva adulto, pediátrico, UCO e queimados no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS (Brasil, 2017).
A rotina da UTI é marcada por procedimentos invasivos, verificações periódicas de sinais e eliminações fisiológicas. É nesse cenário, que os pacientes vivenciam desconfortos físicos e psicológicos decorrentes da rotina complexa ao qual estão sujeitos nesse cuidado. Diante disso, é comum a família do paciente querer estar perto do seu familiar e ser informado passo a passo sobre o cuidado prestado (Eugenio et al., 2017).
A terapia intensiva é um setor onde se utiliza de tecnologias precisas e avançadas. Combinados a isso se soma um conjunto de elementos como equipamentos e recursos humanos especializados que auxiliam na observação contínua do paciente, a fim orientar decisões e intervenções em situações de descompensação (Machado et al., 2012).
Na UTI, é muito comum no seu cotidiano alternância de emergências clínicas que influem no bem-estar ou mal súbito do paciente (Monteiro-Júnior, 2010). Essas variações torna o ambiente estressante e agressivo, sentimentos esses que agem negativamente no emocional da equipe multiprofissional, ainda mais em quem está diretamente na assistência ao paciente grave e tem que lidar com mortes frequentes (Rodrigues, 2012).
2.2 A INSERÇÃO DO PSICÓLOGO NA UTI
A Psicologia Intensiva busca integrar-se nas equipes de cuidados intensivos para oferecer suporte não apenas ao paciente, mas também à sua família, além de auxiliar a equipe interdisciplinar na compreensão das diversas dimensões que envolvem o processo de adoecimento e morte (Gusmão, 2012).
Algumas das funções do psicólogo na terapia intensiva incluem trabalhar a relação emocional do paciente com a doença e a necessidade de permanecer na UTI, orientar o paciente durante a internação, avaliando seu estado psicológico e lidando com intercorrências emocionais, facilitar a expressão não verbal de pacientes que estão entubados ou impossibilitados de se comunicar verbalmente, promover a expressão de sentimentos e emoções dos pacientes em relação ao seu tratamento e experiência na UTI, expandir a consciência adaptativa do paciente diante do ambiente estressante, e incentivar a equipe a reconhecer e lidar com suas próprias dificuldades emocionais em momentos críticos, oferecendo suporte psicológico para fortalecimento profissional (Simonetti, 2004; Peres; Lopes, 2012).
O psicólogo desempenha um papel essencial na preparação dos familiares de pacientes em situações críticas, como pré-óbito ou morte súbita. Essa preparação inclui oferecer apoio psicológico e criar um espaço acolhedor para que os familiares possam expressar suas dúvidas e fantasias relacionadas à doença e à permanência na UTI. Além disso, é fundamental realizar acompanhamento psicológico contínuo dos familiares, proporcionando um ambiente propício para que possam expressar suas preocupações e necessidades. Tais intervenções visam, de maneira geral, promover a humanização do ambiente hospitalar, melhorando não apenas a qualidade de vida dos pacientes, mas também de suas famílias e da equipe de saúde envolvida no cuidado (Peres; Lopes,2012).
No tocante à equipe multiprofissional, essa é composta por uma variedade de profissionais da saúde, incluindo médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e outros, que desempenha um papel essencial no cuidado aos pacientes e seus familiares. É crucial que esses profissionais trabalhem de forma integrada, enxergando o paciente como um todo e adotando uma abordagem humanizada. O psicólogo hospitalar, em particular, tem a responsabilidade de transmitir suas observações e percepções sobre o paciente aos demais membros da equipe, promovendo uma compreensão abrangente da situação. Além disso, ele deve conscientizar os colegas sobre a importância do trabalho interdisciplinar, facilitando a comunicação entre os membros da equipe e atuando como mediador entre eles e os pacientes/familiares. A troca de informações entre os profissionais é fundamental para garantir um cuidado completo e eficaz ao paciente (Lara e Kurogi, 2022).
Reitera-se, diante dessas questões, que a presença do psicólogo na UTI é fundamental para proporcionar um atendimento humanizado, que considere não apenas a dimensão física, mas também a emocional e psicológica dos pacientes, seus familiares e a equipe de saúde (Santos et al., 2011). No entanto, a atuação do psicólogo na UTI não está isenta de desafios, que vão desde lidar com a complexidade do ambiente hospitalar até gerenciar as próprias emoções (Lucchesi; Macedo; De Marco, 2008).
Diante desse contexto, o presente estudo segue seu percurso metodológico com o objetivo descrever a atuação do psicólogo hospitalar na UTI, destacando sua importância devido à complexidade e delicadeza das situações enfrentadas por pacientes e familiares nesse cenário.
3 METODOLOGIA
A pesquisa utilizou-se da abordagem qualitativa através do estudo de revisão integrativa que, de acordo com Freire et al. (2014), tem sido utilizada como recurso metodológico, a qual fez uso de estratégia sistematizada para agrupar e produzir resultados de estudos sobre um determinado tema, com o objetivo de aprofundar e reforçar o conhecimento científico de determinadas áreas e subsidiar a tomada de decisões dos profissionais.
Para a realização da revisão integrativa, foi necessário guiar-se por seis passos específicos: a identificação do tema e seleção da hipótese ou questão de pesquisa; acordo sobre os critérios de inclusão e exclusão dos estudos ou busca na literatura; delimitação dos dados a serem extraídos dos estudos selecionados e categorizá-los; avaliação dos estudos incluídos; interpretação dos resultados; e apresentação da revisão/síntese do conhecimento (Ercole; Melo; Alcoforado, 2014).
Para coletar os dados, foi realizada uma busca online para selecionar as principais produções científicas nacionais, utilizando os descritores “Unidade de Terapia Intensiva” e “Psicologia Hospitalar”. Esses descritores foram obtidos por meio de consulta ao DeCS/MeSH da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). As buscas foram conduzidas em diversas bases de dados virtuais, incluindo a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Pubmed, Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Periódicos Eletrônicos em Psicologia (PePSIC).
As buscas foram conduzidas de agosto de 2023 a abril de 2024. Os critérios de inclusão adotados para a seleção da amostra foram: I) estudos em formato de artigo, incluindo trabalhos empíricos e revisões da literatura, II) publicações em português e espanhol, e III) disponibilidade do texto completo, IV) artigos publicados nos últimos 10 anos.
Foram retiradas da análise teses, dissertações, monografias, resumos simples, e publicações que após uma revisão de leitura, não se alinhasse com os objetivos da pesquisa. Além disso, foram excluídas quaisquer publicações duplicadas encontradas nas bases consultadas. Optou-se por incluir somente artigos científicos com o objetivo de ampliar a divulgação do trabalho do Psicólogo Hospitalar na comunidade científica de maneira mais eficaz; pois, artigos científicos costumam ter um impacto mais expressivo nessa comunidade em comparação com outras formas de publicação acadêmica.
Após uma revisão crítica do material selecionado, procedeu-se a uma análise minuciosa do conteúdo bibliográfico para identificar os elementos fundamentais dos estudos. Essa análise foi realizada visando à elaboração dos resultados e à discussão da pesquisa, por meio da categorização das informações. Em seguida à análise dos estudos, estes foram agrupados em quadros que incluem os nomes dos autores, o tipo de estudo, a abordagem metodológica e os principais resultados encontrados.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Com base nos dados da pesquisa realizada, foi possível identificar e analisar os artigos relevantes sobre o papel do psicólogo na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Inicialmente, foram localizados um total de 83 artigos na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), 16 no Index Psicologia, 54 no Lilacs e 13 na Medline. Desses, 11 foram selecionados e lidos na íntegra, enquanto 10 foram excluídos por não estarem alinhados com o tema central da pesquisa ou por serem duplicados.
Além disso, foram encontrados 9 artigos na Scientific Electronic Library Online (Scielo), todos eles foram lidos integralmente. No entanto, um foi excluído por não se enquadrar no foco central do tema, e quatro foram excluídos por ultrapassarem o limite do ano de publicação. Ao final, 5 artigos foram incluídos na revisão, conforme a figura 1.
Os resultados obtidos a partir da análise desses estudos revelaram que o papel do psicólogo na UTI é bastante diversificado. Ele abrange desde o fornecimento de apoio emocional aos pacientes e familiares até a integração com a equipe multidisciplinar. As principais áreas de atuação do psicólogo incluem o acolhimento das famílias, a preparação para a morte e o suporte durante o processo de luto.
Os estudos também ressaltaram a importância da comunicação eficaz entre os membros da equipe e a necessidade de lidar com desafios éticos e hierárquicos dentro do ambiente hospitalar. Estratégias de regulação emocional, como a terapia pessoal, são fundamentais para lidar com o estresse e a carga emocional do trabalho.
Figura 1. Processo de seleção dos artigos para amostra final
Fonte: Dados da pesquisa
Durante a análise dos periódicos, percebeu-se que a Revista Brasileira de Terapia Intensiva foi a fonte mais comum, representando 30% dos artigos examinados. Quanto ao tipo de pesquisa, notamos que metade dos estudos foram quantitativos, indicando uma preferência por abordagens que utilizam dados numéricos e escalas para explorar hipóteses. Além disso, foi encontrada uma variedade de estudos qualitativos, descritivos, exploratórios e análises teóricas e interpretativas, cada um trazendo uma perspectiva única para entender os temas abordados. Essa diversidade metodológica encontrada na literatura revisada contribuiu para uma análise mais ampla e enriqueceu as conclusões desta revisão integrativa.
Apesar do desafio de lidar com sentimentos difíceis, os estudos destacaram a dedicação e o comprometimento do psicólogo hospitalar com seu trabalho. Ficou enfatizada a importância de cuidar da saúde emocional e buscar constantemente o aprimoramento profissional. Portanto, a atuação do psicólogo hospitalar é crucial para garantir um atendimento humanizado e de qualidade aos pacientes e suas famílias, exigindo sensibilidade, ética e dedicação por parte desses profissionais.
Com base na análise dos artigos, identificaram-se variáveis significativas para a avaliação das publicações científicas relacionadas à pesquisa, conforme ilustrado no Quadro 1.
Quadro 1. Caracterização dos estudos da amostra final
ID | Autores/ano | Objetivo do estudo | Método |
1 | Vieira, A. G. et al./2018 | Sistematizar a ação e os saberes do psicólogo hospitalar junto aos pacientes, familiares e equipes de UTIs. | Revisão da literatura |
2 | Blanck et al./2021 | Descrever o papel do psicólogo hospitalar na UTI, incluindo análise histórica, caracterização do ambiente e interação com pacientes, familiares e equipe médica. | Revisão da literatura |
3 | Santos et al./2012 | Avaliar a atuação do psicólogo na UTI, examinando sua interação com pacientes, famílias e equipe médica, enfatizando o papel essencial do psicólogo nesse cenário crítico. | Revisão da literatura |
4 | Schneider, A. M. B et al./2017 | Analisar o perfil do psicólogo hospitalar em UTIs de hospitais públicos e privados em Porto Alegre, RS. | Pesquisa qualitativa descritiva |
5 | Silva et al./2017 | Compreender desafios do psicólogo hospitalar em Salvador, BA. | Pesquisa qualitativa descritiva |
Ressalta-se que os estudos que realizaram revisões de literatura basearam-se em fontes reconhecidas por sua credibilidade, como a Revista Brasileira de Terapia, juntamente com as bases de busca Pepsic e Scielo. A amostra final também contou com dois estudos empíricos cujos participantes eram psicólogos atuantes na área há uma média de dois anos. Quanto ao método e instrumento de coleta de dados, esses estudos utilizaram-se de entrevistas semiestruturadas com o objetivo de explorar suas experiências, desafios enfrentados, estratégias de intervenção utilizadas e percepções sobre a integração na equipe multiprofissional e o impacto emocional do trabalho em um ambiente de cuidados intensivos. Essas entrevistas buscavam também identificar lacunas na formação acadêmica e necessidades de desenvolvimento profissional contínuo.
Os resultados desses artigos que compõem a amostra final estão apresentados no Quadro 2 destacando os principais achados encontrados, a seguir.
Quadro 2. Resultados dos artigos da amostra final
ID | Principais achados |
1 | Os resultados apontaram a importância do psicólogo na UTI no manejo de situações de fim de vida, rituais de despedida, luto antecipatório, elaboração da morte. Para tanto, o psicólogo deve organizar seu trabalho em torno da tríade paciente, família e equipe, tornando-se um elo capaz facilitar e potencializar a o fluxo de comunicação. |
2 | O psicólogo contribui diretamente na manutenção do ambiente de interação entre paciente, família e equipe e aceitação de notícias. |
3 | Além do suporte ao paciente e família, a atuação do psicólogo na UTI está relacionada a uma melhora do relacionamento entre a equipe, bem como da equipe com os pacientes. |
4 | Ficou evidente que o trabalho do psicólogo na UTI contribui para um olhar mais amplo e cuidadoso sobre os aspectos emocionais que alteram e comprometem significativamente o estado do paciente. Sua atuação também ajuda no suporte à família e à equipe no enfrentamento do processo/tratamento na internação. |
5 | Demonstrou desafios na atuação do psicólogo no contexto da UTI envolvendo a necessidade de capacitação específica nos cursos de Psicologia e de constante atualização profissional para melhor desempenho nessa área. Além disso, destacou-se a importância do cuidado pessoal dos psicólogos, adaptações técnicas no atendimento em UTIs e a carência de produção de estudos na área. |
A atuação do psicólogo, especialmente em ambientes críticos como a UTI, desempenha um papel crucial no cuidado integral dos pacientes e de suas famílias. Sua presença nesses contextos visa oferecer suporte emocional, auxiliar no enfrentamento do estresse e promover o bem-estar psicológico durante internações prolongadas e situações críticas de saúde.
Entende-se que a UTI é um ambiente hospitalar onde a tecnologia muitas vezes obscurece os aspectos humanos do cuidado; e que os profissionais podem se ver tão imersos nas demandas técnicas que correm o risco de perder de vista a humanidade dos pacientes e suas famílias. Nesse sentido, a Psicologia Intensiva surge como uma abordagem que visa reconhecer e enfrentar os desafios emocionais e psicológicos presentes nessas situações críticas.
É fundamental que o psicólogo esteja preparado para trabalhar não apenas com o paciente, mas também com seus familiares e a equipe de saúde. Suas habilidades incluem desde orientar e oferecer suporte emocional aos pacientes durante a internação, prepará-los para uma comunicação difícil envolvendo diagnóstico e tratamento, como também promover a conscientização sobre a importância do trabalho interdisciplinar.
Os artigos destacam a importância do trabalho dos psicólogos em equipes multidisciplinares, ressaltando sua essencialidade, especialmente no apoio aos familiares. Eles enfatizam que os familiares percebem o psicólogo como um profissional de suporte, que desempenha um papel fundamental no amparo emocional e no desenvolvimento de estratégias de enfrentamento. Essa abordagem reforça a ideia de que a presença do psicólogo contribui significativamente para o bem-estar dos pacientes e de seus familiares em ambientes hospitalares críticos.
Por meio da presente revisão bibliográfica verificou-se que os autores dos artigos analisados incorporam em suas teorias as experiências vivenciadas no atendimento de pacientes e familiares em ambientes hospitalares. Evidenciando também que no contexto do trabalho multiprofissional, é crucial que os demais profissionais compreendam o papel do psicólogo. Assim destacam Tavares et al. (2012) ao afirmarem que o psicólogo contribui para a equipe ao trazer uma perspectiva sobre a subjetividade do paciente, facilitando a comunicação entre este, sua família e os demais membros da equipe; e uma vez em acompanhamento individual com o paciente, o psicólogo registra pontos importantes de sua evolução e pode identificar necessidades psicológicas relevantes.
Ferreiras e Mendes (2013) ressaltam a importância do papel do psicólogo no acompanhamento de visitas e despedidas na UTI, destacando a necessidade de lidar com empatia e respeito diante da dor dos familiares. Durante esses momentos, é crucial oferecer acolhimento, investigar as necessidades dos familiares e orientá-los no processo de enfrentamento do luto. Observou-se que o estudo de Blanck et al. (2021) nos resultados apresentados também destacou esse papel do psicólogo nos cuidados intensivos.
Por sua vez, Santos, Almeida e Junior (2012) enfatizam que os familiares de pacientes internados enfrentam incerteza e insegurança, podendo experimentar padrões semelhantes aos do luto. Nesse contexto, o suporte psicológico se torna fundamental para auxiliar a família a lidar com a dor decorrente da perda. Como apontaram Viera et al. (2018) em seu estudo descrito na amostra final desta revisão.
Esses estudos corroboram a importância do trabalho do psicólogo hospitalar no suporte emocional a pacientes e familiares, destacando a necessidade de uma abordagem empática e sensível diante das diferentes demandas emocionais enfrentadas durante o processo de internação e tratamento (Tavares et al., 2012; Ferreiras; Mendes, 2013; Santos, Almeida; Junior, 2012).
Com essas observações, reitera-se que a presente pesquisa, utilizando a abordagem da revisão integrativa, busca fomentar o escopo de debates importantes na área da Psicologia Hospitalar procurando identificar estudos que discorram sobre a atuação do psicólogo na UTI.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo se dedicou a descrever sobre a importância e a prática do psicólogo na UTI. Por meio de uma revisão de literatura, foram analisados estudos relevantes para compreender melhor quais são as estratégias importantes para o suporte emocional de pacientes e suas famílias, e na participação em equipe multiprofissional.
Foi possível compreender que o fazer do psicólogo é baseado em estratégias utilizadas para oferecer um cuidado integral e humanizado ao paciente, família e equipe; e que ele pode encontrar desafios quanto ao conteúdo dos conflitos, ao manejo de ruídos de comunicação entre o trinômio paciente-família-equipe, à necessidade de aperfeiçoamento profissional e à constante prática de autocuidado.
Pode-se considerar que ainda é necessária uma maior produção de artigos específicos sobre o tema, pois o saber científico oferece insights valiosos para aprimorar a prática profissional. Espera-se que este trabalho some às discussões sobre o tema e que contribua na reflexão sobre o papel do psicólogo na UTI.
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1Graduando Bacharelado em Psicologia, pela Faculdade de Ensino Superior do Piauí (2024). e-mail: antoniacfurtado@gmail.com
2Graduando Bacharelado em Psicologia, pela Faculdade de Ensino Superior do Piauí (2024). e-mail: dianadealmeida567@gmail.com
3Doutorado pelo programa de Biotecnologia (RENORBIO – UFPI) 2016. Professora da Faculdade de Ensino Superior do Piauí (FAESPI) – e-mail: ruthraquelsf@gmail.com
4Graduado em Psicologia pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). Pós-graduado em Terapia Cognitivo-Comportamental com experiência profissional na área clínica – e-mail: jonathancastro@faespi.com.br
5Doutoranda em Teoria e Pesquisa do Comportamento pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar) na linha Processos Psicossociais e sua Avaliação em Diferentes Contextos (2021).
6Mestre em Saúde da Família pelo Centro Universitário UNINOVAFAPI (2016) em Teresina/PI. Possui especialização em Gestalt-Terapia pela Faculdade Unida de Vitória/CFAPI (2013).