ATUAÇÃO DO FISIOTERAPEUTA E A RESPOSTA DO RECÉM-NASCIDO AO MÉTODO CANGURU: REVISÃO INTEGRATIVA

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Ágda Pereira de Lima1*, Ana Paula Jesus de Matos2, Clodoaldo Bevilacqua da França3

1*Agda Pereira de Lima, graduanda em Fisioterapia do Centro Universitário São Lucas Afya Ji-paraná – UniSL, Ji-Paraná, Rondônia, Brasil .agdalima100592@gmail.com;
2Ana Paula Jesus de Matos graduanda em Fisioterapia do Centro Universitário São Lucas Afya Ji-paraná – UniSL, Ji-Paraná, Rondônia Brasil. paullynhamattosvp@gmail.com;
3Professor orientador Ms. em Fisioterapia, Centro Universitário são Lucas Afya- UniSL- Ji-Paraná, Rondônia, Brasil. clodoaldo77@hotmail.com.


Resumo 

No Brasil, estima-se que ocorrem cerca de 11,5% de nascimento de prematuros. A cada 3.000.000 de recém-nascidos, cerca de 345.000 são prematuros. A prematuridade é definida como ocorrência do nascimento antes do termo, ou seja, crianças nascidas antes da maturidade fetal. A assistência fisioterapêutica ao recém-nascido pré-termo é de fundamental importância, pois quando o tratamento é iniciado precocemente, mais chances a criança terá de obter resultados positivos, prevenindo ou minimizando possíveis sequelas, o método Canguru consiste em um processo de desenvolvimento constante desses recém-nascidos, visando maior participação da família e humanizar o atendimento aos recém-nascidos prematuros. O Ministério da Saúde por meio da portaria n° 693, em julho de 2000, normatizou a atenção humanizada e Método Canguru. O objetivo desse estudo foi demonstrar a importância da atuação do fisioterapeuta na UTIN por meio da aplicação do Método Canguru. Trata-se de uma revisão bibliográfica integrativa baseada em sites e artigos eletrônicos expostos nas bases de dados Scielo, Medline, Pubmed, Biblioteca Virtual em Saúde, Lilacs e Ebesco. Foram utilizados artigos como fatores de inclusão de 2005 a 2020 e exclusão artigos que não abordasse o tema especifico, foram utilizado neste trabalho 18 referencias. Conclui-se que a atuação do fisioterapeuta através do método canguru, promove o aleitamento materno, melhora da temperatura corporal, contribuindo para a melhora do controle térmico, aumento da saturação periférica de oxigênio, melhorando a oxigenação tecidual e a redução na frequência respiratória e da evolução neuropsicomotora.

Palavras-chave: Fisioterapia na UTIN; Método Canguru; Humanização da UTIN e Prematuridade

1. Introdução

No Brasil, estima-se que ocorrem cerca de 11,5% de nascimento de prematuros. A cada 3.000.000 de recém-nascidos, cerca de 345.000 são prematuros (LEAL et al., 2016).

A prematuridade é definida como ocorrência do nascimento antes do termo, ou seja, crianças nascidas antes da maturidade fetal. O modo mais utilizado para a classificação é de ordem cronológica, nascimento antes de 37 semanas de gestação, contadas a partir do primeiro dia do último período menstrual. Muitas causas podem levar as mães a ter um parto prematuro, entre elas destacam-se: mães com menor peso, tabagistas, etilistas, dependentes de substâncias psicoativas e com baixo nível socioeconômico (SILVA, 2017).

Muitos dos recém-nascidos pré-termo (RNPT) precisa de tecnologias neonatais avançadas e de cuidados intensivos para sobreviver, como o uso do surfactante exógeno e da ventilação mecânica (VM) para o manejo de distúrbios respiratórios (PEREIRA et al., 2015).

O principal papel da atuação do fisioterapeuta na Unidade de Terapia Intensiva neonatal (UTIN) é realizar o controle da VM e prevenir as alterações ocasionadas por doenças respiratórias. Portanto, utiliza-se no trabalho fisioterapêutico técnicas específicas como as posturas de drenagem, a vibração torácica e os exercícios respiratórios passivos. Para a remoção da secreção é realizada a aspiração endotraqueal e de vias aéreas superiores, esse procedimento é considerado conduta específica do fisioterapeuta pelos demais profissionais da equipe multidisciplinar. Todavia, o fisioterapeuta atua, também, prevenindo as alterações ocasionadas pela hospitalização, pela manutenção ou ainda normalizar e estabilizar padrões motores, bem como do tônus e trofismo muscular, além de estimular e acompanhar o desenvolvimento neuropsicomotor (RIOS et. al, 2008).

A fisioterapia iniciada nos primeiros meses de vida oferece uma grande quantidade de estímulos ao bebê prematuro, sempre levando em consideração suas principais dificuldades com relevância na ausência ou presença de reflexos ou reações de acordo com o desenvolvimento motor (SILVA, 2017).

Vale ressaltar, ainda, a importância da participação da família no ambiente onde o bebê está inserido, já que é de extrema relevância na evolução do desenvolvimento motor e no quadro clínico da criança (FORMIGA et. al, 2013).

Visando maior participação da família e humanizar o atendimento aos RNPTs o Ministério da Saúde (MS), por meio da portaria n° 693, em julho de 2000, normatizou a atenção humanizada, o que lançou luz ao Método Canguru (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013).

Tecnicamente, o método canguru (MC) consiste em três etapas que propõem contato da pele do recém-nascido (RN) de baixo peso, na posição supina, com a pele dos seios dos pais. A primeira etapa tem início no pré-natal com risco alto e ocorre até a alta do RN da UTIN, tem como objetivo promover a participação da família sempre que possível. A segunda etapa consiste em um estágio pré-alta hospitalar, em que a família realiza cuidados ao seu filho e o contato pele a pele. Já a terceira ocorre com o acompanhamento da criança no ambulatório ou domicílio até que ele alcance o peso de 2500 gramas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013).

Mais detalhadamente as etapas são classificadas, primeiramente, como sendo o período após o nascimento do bebê de baixo peso, que não possui condições de ir para o alojamento conjunto, necessitando então de intervenção na unidade intensiva, onde é iniciado o mais cedo possível o contato entre mãe e filho, isso dependendo das condições clinicas do RN, podendo progredir até a colocação do bebe sobre o tórax da mãe ou do pai. É de extrema importância que os pais sejam orientados sobre as condições clinicas da criança, os procedimentos a serem realizados e os benefícios do método canguru. Após classifica-se como como um “estagio” pré-alta hospitalar. Ocorre após o período de adaptações realizadas na etapa anterior, nisso, a criança estará apta a permanecer em alojamento conjunto, permanecendo na posição “mãe canguru” por um tempo mais prolongado. E por último, quando o recém-nascido estiver clinicamente estável e com peso mínimo de 1,500g, ou seja, a criança receberá alta hospitalar com acompanhamento ambulatorial. Deve ser orientado aos pais, quanto a necessidade e importância de manter o recém-nascido na posição do método, e a forma correta de manusear a criança. Nesse período é essencial que a família retorne ao hospital para acompanhamento do recém-nascido até que a criança atinja no mínimo 2.500g (BRASIL. METODO CANGURU, 2011).

Entre os benefícios do método, destacam-se a promoção do aleitamento materno, a manutenção do controle térmico e redução da dor neonatal. Essa proposta de cuidado tem se mostrado favorável por permitir um maior estímulo no desenvolvimento neurocomportamental e psicoafetivo do recém-nascido e sobretudo a redução do período de internação e de risco de infecção neonatal (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013).

Este estudo visa demonstrar a importância da atuação do fisioterapeuta na UTIN por meio da aplicação do Método Canguru.

2. Materiais e métodos

Trata-se de uma revisão integrativa baseada em sites e artigos eletrônicos expostos nas bases de dados Scielo, Medline, Pubmed, Biblioteca Virtual em Saúde, Lilacs e Ebsco.

Os Descritores utilizados para a pesquisa foram: Fisioterapia na UTIN; método canguru; fisioterapia humanização da UTIN e prematuridade. Usou-se como critério de inclusão estudos publicado entre 2005 e 2020. Que tiveram como critérios de inclusão: idioma em português, inglês ou espanhol e ter como estudo a prematuridade, a atenção humanizada para os recém-nascidos prematuros (o método canguru) e a importância da atuação do fisioterapeuta e a resposta ao recém-nascido ao método canguru. Como critério de exclusão: artigos não relacionados a prematuridade, a atenção humanizada para os recém-nascidos prematuros (o método canguru) . Assim, foram utilizadas neste trabalho 18 referência.

3. Resultados e Discussões

Por meio da busca na literatura de estudos que tratam da atuação do fisioterapeuta e a resposta do recém-nascido ao método canguru, foram encontrado 80 artigos estavam conforme os termos da pesquisa, após leitura e revisão foram excluídos 62 artigos que não apresentavam ligação direta com o assunto proposto ou que apresentava duplicidade nas plataformas de busca, dos quais restaram 18 artigos que foram empregados para discutir os descritores investigados.

Barradas et al. (2006) ressalta a relevância da presença do fisioterapeuta na UTIN, já que esse possui uma visão mais amplas sobre biomecânica e evolução neuropsicomotor. Para eles o fisioterapeuta é o principal agente facilitador do desenvolvimento do recém-nascido. Destacam, também, a importância do posicionamento no MC. Explicaram que o decúbito ventral e lateral promove melhor conforto ao recém-nascido.

Por estar em contato direto com o recém-nascido e por desempenhar funções exclusivas, o fisioterapeuta é benéfico dentro da UTIN, visto que seus cuidados e intervenções, principalmente na oxigenoterapia, pode diminuir custos hospitalares, tempo de internação, patologias derivadas do tempo de internação e facilitar o desenvolvimento psicomotor do nascido imaturo, isso foi o que afirmou o estudo de Oliveira et al. (2019).

Maia (2010) também concluiu que uma UTIN humanizada é critério essencial para o desenvolvimento do recém-nascido. Explicou que a separação da sua mãe, o toque despreparado pelos profissionais, estímulos nocivos como a dor, luz forte e contínua, barulho, procedimentos invasivos e oscilações de temperatura são situações que estressam o recém-nascido. Por isso, apontou que o ambiente da UTIN deve ser totalmente controlado, desde a preparação adequada dos profissionais até a iluminação, visto que isso garante um ambiente mais humano. Constatou ainda, MC deve ser integrado a terapêutica como fonte de disseminar afeto. O método deve ter aplicação especial e individual e objetivar maior integração do recém-nascido com sua família.

Bilotti et al. (2016) em concordância com o estudo anterior completa sugerindo que o MC é uma alternativa de humanização sem contraindicações. Confirma em concordância que o método estimula o vínculo afetivo mãe-filho e comprova diminuir gastos e tempo de internação, além de favorecer a adesão ao aleitamento materno.

Enquanto o Ministério da Saúde (2017), explica na 3° edição do Manual De Atenção Humanizada Ao Recém-Nascido – Método Canguru, que a equipe multidisciplinar da UTIN deve auxiliar a adesão da família ao MC. Destaca, ainda, que a adesão ao MC proporcionará trocas sensitivas, tais como táteis, auditivas e sensoriais globais, entre a mãe o recém-nascido, isso devido ao contato entre as peles. Alertou, também, que os profissionais devem proporcionar experiências agradáveis enquanto manuseiam o recém-nascido, sobretudo aqueles que tem maior contato, caso dos fisioterapeutas.

Por sua vez Gesteira et al. (2016) descreve que ainda há insegurança da equipe multidisciplinar quanto a aplicação do MC, isso porque ainda existe variáveis que não foram completamente equalizadas. A falta de estrutura física com o objetivo de propiciar um ambiente particular, calmo, discreto é uma das variáveis que se discute. Outra variável exposta é a falta de conhecimento e preparo profissional para a realização adequada do MC. Eles sugeriram a educação permanente e a criação de protocolos para a resoluções dos problemas achados.

Concordando com Gesteira et al. (2016) Cardoso et al. (2006) descreve que a utilização do MC deve ser realizada por profissionais capacitados e seguros de todos os processos envolvidos no método. Para eles a aplicação correta do MC promove benefícios duradouros, humaniza o atendimento e aumenta a adesão ao aleitamento materno, contudo afirmam que nem todos os recém-nascidos necessitam da utilização do método e que esse não é substituto de outras tecnologias utilizadas atualmente nas UTINs.

Almeida et al. (2012) ressalta a importância de uma equipe multidisciplinar especializada. Eles apontam a especialização como um pré-requisito para uma UTIN humanizada em sua totalidade. Todos os componentes devem possuir qualificação para que o atendimento seja seguro, tanto na aplicação do MC, quanto nas outras intervenções. Salientam que a prematuridade é problema de saúde pública e que necessita de profissionais que saiba lidar com esse problema.

Ao pesquisar os efeitos do MC na resposta fisiológica e no estado comportamental do recém-nascido imaturo grave em VM, Madureira (2010) observou que o MC promoveu estabilidade fisiológica, o recém-nascido permaneceu com parâmetros VM dentro dos limites aceitáveis. Assim como houve estabilidade comportamental, a capacidade de atingir os últimos estágios do sono (sono profundo) foi aumentada na segunda meia hora de intervenção.

Assim como no estudo anterior, Almeida, Almeida e Forti (2007) observaram que o MC aplicado com segurança pelo fisioterapeuta capacitado contribuiu para o controle térmico, aumento da saturação periférica de oxigênio, redução da frequência respiratória promovendo maior conforto ao recém-nascido. Assim, concluíram que o MC trouxe alterações fisiológicas benéficas. Eles sugeriram que o incentivo ao uso do método deve ser prioridade se comparado os benefícios e seus baixos custos de realização.

Oliveira et al. (2015) discorda quanto ao custo do MC, eles concluíram que o aumento da prevalência de prematuridade gera um maior empenho de valores para o atendimento desse público. Afirmam, ainda, que as intervenções não podem ser olhadas separadamente, já que se trata de um conjunto de ações que visam a manutenção da vida do recém-nascido. Para eles a prematuridade é um problema grave de saúde pública e que deve ser estudado com mais afinco. Contudo, afirmam que as UTINs são essenciais e que seu atendimento deve ser o mais humano possível, afim de amenizar a os problemas causados pelo evento da prematuridade.

Teixeira et al. (2019) concorda com estudos anteriores quanto aos benefícios da MC, contudo afirma que a grande maioria dos profissionais conhecem o método, mas preferem não aplicar. Para eles essa preferência é devido ao ainda baixo número de publicações científicas descrevendo a aplicação do método. Além disso descreveram que o fisioterapeuta é o principal responsável por aplicar o MC dentro da UTIN.

Teixeira et al. (2019) e Lopes e Mendes (2013) concordaram em seus estudos que a MC não tem efetividade comprovada sobre o sistema respiratórios do RN, demonstraram não ter ligação direta do método com a evolução do quadro respiratório do bebê. Para eles, a intervenção fisioterapêutica com a VM é a principal responsável pelo sucesso. Afirmam, ainda, que o MC está intrinsecamente ligado à evolução neuropsicomotor.

Nicolau et al. (2008) e Mota, Sá e Frota (2005) concordaram com os estudos acima quanto ao sucesso da VM na evolução do quadro respiratório do RN e quanto a evolução neuropsicomotora proporcionada pelo MC. Afirmam que o principal efeito do MC é o ganho de peso, já que esse ganho está ligado ao aumento da massa muscular e óssea do bebê. Sendo assim, o ganho de peso favorece a aprendizagem motora, já que a capacidade muscular do RN foi aumentada, assim, ao desenvolver sua capacidade motora estímulos mais constantes de atividades são enviadas ao sistema nervoso, o que acelera seu desenvolvimento, potencializando a capacidade psíquica do bebê.

Mota, Sá e Frota (2005) ao estudar separadamente grupos de recém-nascidos tratados com MC e grupos não tratados com MC, observou que a atividade multidisciplinar era maior nos grupos que não estavam utilizando o MC, o que levou a conclusão que o MC promove menor fadiga ao profissional, já que sua atividade é menor, visto o MC promover maior tempo de sono profundo, diminuir a irritabilidade do recém-nascido, além da evolução mais rápida para alta hospitalar.

Lopes e Mendes (2013) consideram o fisioterapeuta peça central na recuperação do recém-nascido interno em UTIN, já que é esse responsável por diminuir os efeitos deletérios da permanência na unidade de terapia intensiva. Afirma que a necessidade de VM na grande parte dos casos, expõem a essencialidade do fisioterapeuta na atenção ao recém-nascido. Sendo esse também responsável por desenvolver e aplicar técnicas que promova melhor desenvolvimento e evolução da criança. É responsabilidade, também, a observação e estimulação do desenvolvimento motor, para evitar atrasos que impeçam um adequado prognóstico do recém-nascido.

E Nicolau et al. (2008) resume bem as conclusões dos autores acima quando relata que o MC é benéfico para o recém-nascido, desde que aplicado por profissional capacitado. Retrata o fisioterapeuta como profissional essencial para a humanização da UTIN e capaz de realizar o método com segurança, já que é o profissional que mais contato tem com o recém-nascido.

4. Conclusões

Como observado, há unanimidade quanto a importância do fisioterapeuta na UTIN. É notável, também, os benefícios que o MC proporciona ao RNPT e sua família, por isso a necessidade de uma aplicação por profissional capacitado que conheça a técnica e seus desdobramentos.

O fisioterapeuta é o profissional capaz de exercer com excelência a aplicação do MC, além de ser o componente da equipe multidisciplinar com maior capacidade para diagnosticar e prevenir complicações neuropsicomotoras ocasionadas pela hospitalização.

Portanto, é necessário que o fisioterapeuta se capacite para a realização do MC, visto ser um dos profissionais mais indicado para tal procedimento. É importante que o fisioterapeuta conheça a técnica para realiza-la com perfeição.

O conhecimento sobre o desenvolvimento neuropsicomotor do fisioterapeuta aliado aos benefícios da MC expõe uma grande chance de sucesso no tratamento do RNPT.

6. Referências

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