ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA NO PÓS-OPERATÓRIO DE MASTECTOMIA TOTAL

THE ROLE OF PHYSIOTHERAPY IN THE POST-OPERATIVE PERIOD OF TOTAL MASTECTOMY

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11113818


Pabloena da Silva Pereira1, Ângelo Henrique Bassal da Costa2, Elzeane Queiroz da Fonseca3, Ester Silva de Souza4, Maria Antonia Vieira Amâncio5, Sara De Souza Fernandes6.


RESUMO

Introdução: O câncer de mama é uma doença causada pela multiplicação desordenada de células anormais da mama, é uma das maiores causas de óbitos por câncer na população feminina do Brasil. Objetivos: Demonstrar a importância do tratamento fisioterapêutico na mulher mastectomizada. Tendo como objetivos específicos: mostrar as consequências psicossociais na mulher mastectomizadas; evidenciar os recursos fisioterapêutico no pós-operatório de mastectomia; apresentar o papel da fisioterapia no tratamento pós-mastectomia. Metodologia: O presente trabalho trata-se de uma pesquisa bibliográfica qualitativa, de caráter descritivo, com coleta retrospectiva de dados. Resultados e Discussão: Foram analisados 10 artigos, onde evidenciou-se que as mulheres que se submetem a exercícios supervisionados têm recuperação significante maior na amplitude de movimento quando comparadas com mulheres que não se submeteram a um programa de fisioterapia. Conclusão: Os exercícios que podem auxiliar a mulher na reabilitação da mastectomia através do suporte fisioterapêutico foram a cinesioterapia, a drenagem linfática manual.

Descritores: Fisioterapia. Câncer de mama. Mastectomia.

ABSTRACT

Introduction: Breast cancer is a disease caused by the disordered multiplication of abnormal breast cells and is one of the biggest causes of death from cancer in the female population in Brazil. Objectives: Demonstrate the importance of physiotherapeutic treatment in mastectomized women. With specific objectives: to show the psychosocial consequences in mastectomized women; highlight physiotherapeutic resources in the post-operative period of mastectomy; present the role of physiotherapy in post-mastectomy treatment. Methodology: The present work is a qualitative bibliographical research, of a descriptive nature, with retrospective data collection. Results and Discussion: 10 articles were analyzed, which showed that women who undergo supervised exercises have significantly greater recovery in range of motion when compared to women who did not undergo a physiotherapy program. Conclusion: The exercises that can help women in mastectomy rehabilitation through physiotherapeutic support were kinesiotherapy and manual lymphatic drainage.

Keywords: Physiotherapy, Breast cancer, mastectomy.

1. INTRODUÇÃO

O câncer de mama é uma doença causada pela multiplicação desordenada de células anormais da mama, é uma das maiores causas de óbitos por câncer na população feminina do Brasil1. A mastectomia é uma das intervenções cirúrgicas que pode ser de retirada total ou parcial da mama, associada ou não à retirada dos gânglios linfáticos da axila2. A área da fisioterapia que atua na área oncológica tem como finalidade preservar e restaurar a integridade cinético-funcional área órgãos e sistemas, bem como prevenir os distúrbios causados pelo tratamento oncológico, assim como a orientação, lidando com sequelas próprias do tratamento, atuando de forma preventiva para minimizá-las.3

A aplicação da fisioterapia no pós-operatório de mulheres mastectomizadas é de suma importância para sua reabilitação, tendo em vista que no Brasil, em 70% dos casos de câncer de mama é realizada a mastectomia1. As técnicas fisioterapêuticas como a drenagem manual e da cinesioterapia atuam diretamente na preservação e restauração da integridade cinético-funcional da área dos órgãos mamários, pois, na maioria das vezes, a retirada do músculo peitoral maior acaba gerando queda da força e do membro superior envolvido, além de um provável trauma do nervo torácico longo; pode ocorrer fraqueza do músculo serrátil anterior, com procedentes de alterações na estabilização e rotação da escápula para cima, limitando a abdução ativa do braço.4

Os recursos e técnicas fisioterápicas utilizadas no tratamento refere-se a cinesioterapia, composta por alongamento, fortalecimento muscular e relaxamento, sendo de forma passiva, ativo-assistida, autopassiva, e ativa contra a ação da gravidade. As drenagens linfáticas manuais, que associadas à massagem buscam o relaxamento e o aumento da absorção do fluxo linfático superficial.5

As consequências que ocorrem no órgão envolvido, após a mastectomia são diversas, dentre elas está o quadro álgico, restrição de força muscular, baixa amplitude de movimento, linfedema, parestesias, que interferem no psicológico e na qualidade de vida das pacientes.2

Justifica-se cientificamente, que ajudará a prevenir as complicações pós-cirúrgicas, reabilitação precoce para as atividades da vida diária, redução de algias, edema, comprometimentos posturais, funcionais, linfáticas, além que a fisioterapia promove o relaxamento muscular, manter a amplitude de movimento do membro superior, flexão e abdução da articulação glenoumeral e melhorar o aspecto e maleabilidade da cicatriz.2

No âmbito social, este estudo visa auxiliar a comunidade, tendo em vista que de acordo com o INCA (2023), o Amazonas tem uma estimativa de cerca de 15 mil casos de câncer de mama até 2025, sendo importante assim, a atuação do profissional fisioterapeuta na recuperação das mulheres em pós operatório.7

Pode-se citar ainda que a vivência durante os estágios e a afinidade com a temática escolhida pelo grupo foi primordial para o desenvolvimento desse estudo. Vale frisar ainda a contribuição para o acervo acadêmico acerca da temática abordada, sendo percebido durante este estudo que as pesquisas aplicadas são escassas, com poucas atualizações sobre o tema em questão.

Dessa forma, levanta-se o seguinte questionamento: Quais são as condutas aplicadas pelo fisioterapeuta para a reabilitação da mulher pós mastectomia? As limitações desse estudo se deram a partir da busca de estudos aplicados em campo prático, tendo em vista a vasta publicação de revisão literária.

O objetivo geral desse estudo é demonstrar a importância do tratamento fisioterapêutico na mulher mastectomizada. Tendo como objetivos específicos: mostrar as consequências na mulher mastectomizadas; evidenciar os recursos fisioterapêutico no pós-operatório de mastectomia; apresentar o papel da fisioterapia no tratamento pós-mastectomia.

2. MÉTODO
2.1 Características do Estudo

Esse estudo trata-se de uma pesquisa bibliográfica qualitativa, de caráter descritivo, com coleta retrospectiva de dados. Optou-se por este método de revisão integrativa da literatura porque pretendia-se integrar as pesquisas já concluídas6.

2.2 Base de dados

Quanto aos procedimentos de busca, os dados foram adquiridos através da seleção de documentos eletrônicas, bem como artigos da literatura nacional e indexados nas bases de dados do PubMed, Scielo e LILACS.

2.3 Fontes Bibliográficas

Para o levantamento dos artigos foram utilizados os seguintes descritores: fisioterapia, câncer de mama, mastectomia, physiotherapy, breast cancer, mastectomy.

2.4 Critérios de Inclusão

Quanto aos critérios de inclusão e exclusão, ficou definida uma amostra de documentos publicados entre os anos de 2018 à 2023, abordando a temática. Quanto a metodologia de análise de dados, observou-se que a partir da escolha dos artigos, manuais e livros estes foram lidos e utilizados para o desenvolvimento do mesmo.

2.5 Coleta de dados

Foi realizada nos meses de agosto de 2023 à abril de 2024, através de análises de artigos já publicados, destacando a ideologia dos mesmos.

2.6 Aspectos éticos

O presente estudo não será submetido ao Comitê de Ética Humano. Uma vez que, a coleta de dados não foi realizada em seres humanos, dispensa a apreciação do comitê, conforme resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde.

Fluxograma 1 – Seleção dos artigos

Fonte: Autoria própria

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Inicialmente foram encontrados 127 títulos sobre o tema e, destes, 10 artigos corresponderam aos critérios de inclusão previamente estabelecidos, evidenciando os recursos fisioterapêutico no pós-operatório de mastectomia (tabela 1).

Autores/ Ano              Tipo de EstudoCaracterísticas da AmostraTipos de IntervençãoPrincipais Variáveis AnalisadasResultados Significativos
RETT, M.T. et al. (2022).Ensaio clínico autocontrolado.Foram realizados 20 atendimentos individualizado, envolvendo mobilização passiva glenoumeral e escapulotorácica, mobilização cicatricial; alongamento passivo da musculatura cervical e MMSS, exercícios pendulares; e exercícios ativos-livres de ombro isolados ou combinados para flexão/extensão/abdução/adução/rotação medial e lateral e resistidos, com auxílio de faixas elásticas e halteres de 0,5 a 1,0kg.Cinesioterapia.Foi realizada uma anamnese para descrição dos dados pessoais e clínicos. O exame físico foi conduzido antes da 1ª e após as 10ª e 20ª sessões, por um único examinador com um ano de experiência. Entre as avaliações e os atendimentos, as participantes tinham em média um ou dois dias de descanso.Das 64 mulheres selecionadas, 49 finalizaram o estudo (Figura 1). A média de idade foi 50,61±11,14 anos e IMC de 27,01±5,43kg/m2. Das participantes, 27 (55,1%) eram casadas e 17 (34,6%) ocupavam-se com atividades domésticas. Quarenta (81,6%) mulheres realizaram mastectomia radical modificada e nove (18,4%) quadrantectomia, sendo predominantemente do lado esquerdo. Foram retirados em média 16,4±5,9 linfonodos axilares, dos quais 2,92±1,65 estavam comprometidos. Quanto aos tratamentos adjuvantes, 29 (59,1%) realizaram quimioterapia (QT) e 23 (46,9%) fizeram radioterapia (RT). 
COELHO, C.N.; et al. (2021).Pesquisa de campo quali-quantitativa20 mulheres na faixa etária de 30 a 49 anos.Cinesioterapia, Hidroterapia.Entre as participantes, 45% encontrou o nódulo na mama pela mamografia de rotina, 90% das mulheres não teve complicações pós-operatório e que dessas complicações apenas 20% apresentou a presença de linfedema, das 20 mulheres 90% recebeu orientações sobre os cuidados e 50% realizou a fisioterapia, 65% teve a mobilidade articular diminuída e a importância da fisioterapia foi avaliada em 90% das mulheres com nota 10.Pode se observar que a fisioterapia é bem avaliada para todas as pacientes que realizaram a mastectomia, sendo de extrema importância no pós-operatório, evitando complicações como linfedema e na diminuição da amplitude de movimento.
SÁ, L.; et al. (2020).Pesquisa bibliográfica de base documental.Bases de dados BVS, PubMed, SciELO, PEDro, e Google Acadêmico. Exercícios livres, alongamentos, massoterapia, mobilização cicatricial e pompagem, O processo de análise do artigo selecionado deu-se por meio da leitura exploratória e detalhada de títulos, resumos e dos resultados das pesquisas, onde se buscaram os recursos fisioterapêuticos aplicados na reabilitação de mulheres pós mastectomizadas.Dentre os recursos fisioterapêuticos os mais utilizados destacam-se exercícios livres, alongamentos, massoterapia, mobilização cicatricial e pompagem, onde estes têm o intuito de reduzir os impactos das disfunções advindas da cirurgia que influência diretamente na funcionalidade e a qualidade de vida da paciente pós mastectomizada
CASASSOLA, M.; et al, (2020).Pesquisa de base documental.Documentos e artigos anexados nas bases de dados Scielo, PUBMED e Lilacs.Alongamentos; mobilização articular; mobilização neural; educação em saúde; massagem cicatricial; terapia miofascial; terapia convencional descongestiva; terapia vibratória; acupuntura; exercício ativo e fortalecimento muscular.Os indicadores de funcionalidade encontrados foram amplitude de movimento, força muscular, volume do membro, dor, funcionalidade e qualidade de vida.Os resultados apresentados neste estudo evidenciam a importância da fisioterapia, tanto para identificar as possíveis complicações, quanto para o tratamento. 
TANTAWY SA; et al. (2019).Estudo comparativo.66 mulheres foram alocadas aleatoriamenteao grupo Kinesio Taping (KT) (n = 33) e grupo de vestimenta de pressão (PG) (n = 33).Kinesio Taping e da vestimenta de pressão no linfedema..O grupo KT recebeu aplicação de Kinesio Taping (2 vezes por semana durante 3 semanas), enquanto o grupo PG recebeu vestimenta de pressão (20 a 60 mmHg) por pelo menos 15 a 18 horas por dia durante 3 semanas. As medidas de desfecho foram circunferência do membro, questionário do Índice de Dor no Ombro e Incapacidade (SPADI), força de preensão manual e qualidade de vida no início e no final da intervenção.O KT apresentou alterações significativas na circunferência dos membros, no SPADI, na força de preensão manual e na qualidade de vida geral do que o PG no tratamento de indivíduos com diagnóstico de linfedema após mastectomia.
AMMITZBØLL G; et al. (2019).Estudo de ensaio clínico randomizado.Amostra de 158 mulheres de 18 a 75 anos.Treinamento de resistência progressivaOs participantes foram alocados por randomização por computador para controle de cuidados habituais ou intervenção PRT na proporção de 1:1. A intervenção, iniciada na terceira semana de pós-operatório, consistiu em três vezes de PRT por semana, supervisionado em grupo nas primeiras 20 semanas e autoadministrado nas 30 semanas seguintes.Entre os 158 participantes recrutados, encontramos um aumento do funcionamento emocional clinicamente relevante com nove pontos em ambos os acompanhamentos (p = 0,02) e 16 e 11 pontos em 20 semanas e 12 meses, respectivamente (p = 0,04) no funcionamento social.
SCHLEMMER, G.B.V.; et al. (2019).Estudo descritivo, quantitativo com abordagem quase experimental, sem grupo controle, com pré e pós teste.A amostra foi composta por 5 mulheres mastectomizadas, com idade entre 45 e 59 anos, sedentárias, que reali-zaram mastectomia radical ou radical modificada, entre 1 ano e 4 anos.Fisioterapia aquáticaApós a análise dos dados, verificou-se que a média de idade e o desvio padrão (DP) das cinco participantes foi 51,4 ± 5,59 anos, respectivamente. Das cinco participantes, apenas duas tinham a hipertensão como doença associada, nenhuma delas fazia tratamento para reposição hormonal, somente uma havia realizado reconstrução mamária e também somente uma havia feito radioterapia como tratamento coadjuvante.Ao fim do tratamento foi verificada melhora clinicamente significativa na qualidade de vida em relação à avaliação PRÉ. Nas trinta primeiras questões do questionário relacionadas à qualidade de vida específica a média e o DP do resultado da avaliação PRÉ foi de 66 ± 23,35 e da avaliação PÓS de 61,6 ± 22,54.
ODYNETS, T.; et al. (2018).Estudo experimental.No geral, 68 mulheres preencheram os critérios de elegibilidade e foram incluídas no estudoFisioterapia aquáticaElas foram alocados aleatoriamente para o programa de fisioterapia aquática (grupo experimental, n = 34) e programa de fisioterapia Pilates (grupo de controle ativo, n = 34). Ambos os grupos participaram de programas relevantes por 12 semanas e receberam 36 sessões de reabilitação.Alguns estudos analisaram programas de terapia aquática e satisfação do paciente em mulheres após cirurgia de câncer de mama [3, 4, 9], outras investigações [16–18] focaram na análise dos exercícios de Pilates como práticas úteis para mulheres com linfedema, fadiga e distúrbios do sono. Estudos anteriores aplicaram as frequências de intervenção de 2–3 sessões por semana, durações de 4 a 8 semanas, com diferentes combinações de intensidade para pacientes com câncer de mama.
ODYNETS, T.; et al. (2018).Estudo experimental.No geral, 115 mulheres com dor pós-mastectomia foram inscritaaeróbica aquática (corrida aquática, construção aquática, alongamento aquático), natação condicional e aeróbica recreativa.Os indivíduos foram submetidos a tratamento cirúrgico e radioterapia adjuvante para câncer de mama. Eles foram designados aleatoriamente para o primeiro (grupo A, n = 45), o segundo (grupo B, n = 40) e o terceiro programa de reabilitação física individualizado (grupo C, n = 30).Observou-se que a maioria das características da dor investigadas em todos os grupos estudados melhorou continuamente durante o ano de reabilitação. Após 6 meses de reabilitação, o valor médio da qualidade cognitiva da dor foi estatisticamente superior no grupo C em comparação com o grupo A em 0,43 pontos (p < 0,01).
IBRAHIM M.; et al. (2018).Estudo de ensaio piloto randomizado controlado.Um total de 59 pacientes jovens com câncer de mama (29 no grupo de intervenção e 30 no grupo de controle).Exercícios de resistência e amplitude.Durante um período de 18 meses, a amplitude de movimento, a força de preensão manual e a dor aos movimentos dos ombros foram avaliadas em 6 pontos.Embora as diferenças não tenham sido estatisticamente significativas, a rotação externa e a abdução horizontal do ombro melhoraram no grupo de intervenção imediatamente após a intervenção com exercício (3 meses) e mostraram uma tendência a menos dor ao movimento. No entanto, 18 meses após a radiação, os grupos de controle e de intervenção mantiveram uma perda residual de amplitude e dor persistente com o movimento. A radiação na axila e/ou parede torácica produziu limitações de longo prazo (18 meses) na flexão e abdução horizontal em comparação com o hipofracionamento, o que resultou em maior flexão e rotação externa aos 18 meses.
3.1 Consequências na mulher mastectomizada

O diagnóstico do câncer gera um estresse emocional importante, que pode resultar em distúrbios do sono. O distúrbio mais prevalente é a insônia e está relacionada ao medo da recorrência, depressão e sintomas vasomotores decorrente do tratamento hormonal7.

Distúrbios persistentes podem levar à depressão, fadiga crônica e alterações cognitivas. A prevalência de depressão em pacientes com câncer é três vezes mais alta do que na população em geral e está relacionada com uma pior qualidade de vida7.

A imagem corporal é a percepção cognitiva da aparência física. Nas pacientes mastectomizadas, a imagem corporal esteve alterada não somente após a cirurgia, mas também após a quimioterapia e radioterapia8. Em seu estudo que as pacientes que tinham a autoimagem menos alterada apresentaram melhores resultados na reabilitação e que a imagem corporal é fator prognóstico de qualidade de vida9.

Segundo Rett10, nas falas, também, pode-se observar uma grande insegurança em relação às atividades laborais. Muitas precisaram parar de trabalhar ou mudar de função em razão das sequelas do tratamento. Este é certamente um assunto muito sério e impactante na vida da mulher após tratamento para o câncer de mama; no entanto, ainda é muito pouco abordado na literatura e merece ser mais explorado10.

As primeiras semanas de uma mastectomia são caracterizadas pelo movimento de reorganização para uma reinserção no mundo individual, social e espacial, visto que a mutilação dela decorrente favorece o surgimento de muitas questões na vida das mulheres, especialmente aquelas relacionadas à imagem corporal. A forma como a mulher percebe e lida com essa nova imagem e como isso afeta sua existência, são pontos cruciais para um entendimento da nova dinâmica que a vida dessas mulheres assume11.

O impacto sobre a vida social interfere diretamente no quadro de saúde da população que, diante de uma doença crônica que necessita de acompanhamento contínuo, fica ainda mais fragilizada com as consequências desse tratamento12.

O trabalho externo representa para muitas mulheres uma realização pessoal, significando mais do que sua subsistência, mas também sua independência e autonomia, fazendo com que se sintam valorizadas como pessoas. A realidade sócio-ocupacional da maioria das pacientes deste estudo é de atividades laborais mais pesadas; Portanto, como o tratamento oncológico não tem fim, essas mulheres não conseguem retornar ao trabalho e, muitas vezes, se veem obrigadas a se reinserir em outro tipo de atividade13.

A mastectomia causa um impacto que afeta não apenas a mulher, mas estende-se ao seu âmbito familiar, contexto social e grupo de amigos. Esse impacto é potencializado pelos tratamentos indicados associados à cirurgia. A situação da doença e da mastectomia afeta os relacionamentos interpessoais na família, visto que diante de todo o processo, as alterações de ordem física, emocional e social na vida da mulher se estendem aos familiares14.

Sabe-se que o câncer de mama e a consequente mutilação causada pela cirurgia não afetam apenas as relações familiares: as relações sociais são profundamente afetadas, já que o câncer ainda possui uma conotação de contágio e terminalidade, causando preconceito por parte das pessoas. Aliado a esse aspecto, o constrangimento associado à doença estigmatizante, leva a mulher a se afastar do seu convívio social15.

A qualidade de vida relacionada à saúde é um conceito centrado na avaliação subjetiva do paciente, porém ligado ao impacto da saúde sobre a capacidade de o indivíduo viver plenamente. Dessa forma, depende de percepções, crenças, sentimentos e expectativas individuais, variando ao longo do tempo, de acordo com as mudanças ocorridas com a pessoa e com o que está à sua volta, envolvendo as dimensões física, social e psicológica, interligadas entre si16.

A forma como a mulher irá reagir à mutilação de sua mama e suas consequências será de acordo com algumas variáveis que dizem respeito à sua história de vida, ao contexto social, econômico e familiar em que está inserida17. A mulher se depara com uma série de impedimentos provocados pela cirurgia mutiladora que vão desde às paralisias e deficiências até a interrupção da carreira, no cuidado da casa e dos filhos. Nesse momento, a mulher pode vivenciar vários lutos, e, no momento de reassumir essas responsabilidades, pode apresentar uma série de dificuldades, muitas vezes em decorrência da vergonha e da dificuldade em lidar com o próprio corpo. Nesse momento pós-cirúrgico, é necessário que ela passe por um processo de reabilitação que envolve processos de reaprendizagem de habilidades físicas como também redescobrir seu papel dentro da família, da comunidade e da sociedade18.

O câncer de mama implica um elevado grau de comprometimento na autoimagem corporal, o que pode acarretar danos ao conceito que se tem de si próprio e à aceitação ou não da própria sexualidade dentro do relacionamento sexual, visto que a mulher está carregada de sentimentos de intensa insegurança e medo19.

A percepção do próprio corpo é fundamental tanto para se lidar com a própria sexualidade como para se relacionar com o outro. Por causa da importância simbólica do seio, que representa a característica primordial da sensualidade, maternidade e da identidade feminina, alterações psicossociais podem ocorrer nas pacientes que não aceitam a perda do seio20.

A mastectomia altera a autoimagem e o autoconceito, levando as mulheres a se sentirem desvalorizadas, envergonhadas e repulsivas, evitando contatos sociais e sexuais. Assim, quando a mulher necessita retirar a mama devido ao câncer, sentimentos de angústia e dor estão sempre presentes. É de se prever que a mulher se sinta atingida em sua própria14.

3.2 O papel da fisioterapia

A atuação fisioterapêutica se dá através da associação multidisciplinar de drenagem linfática manual, exercícios metabólicos e uso de braçadeira. Segundo Leduc, a drenagem linfática manual trata-se de uma técnica que drena os líquidos excedentes que banham as células, mantendo dessa forma, o equilíbrio hídrico dos espaços intersticiais12. A mesma pode ser realizada de duas formas captação e evacuação onde a captação é realizada no mesmo nível da infiltração e a evacuação técnica realizada na paciente é a transferência dos líquidos captados longe da zona de captação13.

Mulheres que se submetem a exercícios supervisionados têm recuperação significante maior na amplitude de movimento quando comparadas com mulheres que não se submeteram a um programa de fisioterapia. Por isso é importante salientar que a amplitude de movimento foi medida por meio de um bom alinhamento postural na posição ortostática de acordo com a funcionabilidade articular mesmo com as alterações posturais visíveis é mais preciso essa verificação do ganho de amplitude devido às posições funcionais4.

A fisioterapia deve ser incluída no planejamento da assistência para a reabilitação física no período pós- operatório do câncer de mama, uma vez que, na mastectomia, a remoção do músculo peitoral maior resulta em queda da força e função do membro superior envolvido, além de um possível trauma do nervo torácico longo, fraqueza do músculo serrátil anterior, com consequentes alterações na estabilização e rotação da escápula para cima, limitando a abdução ativa do braço15.

A atuação fisioterapêutica utiliza-se de recursos capazes de intervir na recuperação funcional da cintura escapular, do membro superior envolvido e da profilaxia de sequelas como retração, aderência cicatricial e de complicações como fibrose e linfedema16. O tratamento fisioterapêutico deve-se iniciar o mais precocemente possível a fim de prevenir complicações tais como as dores e espasmos musculares cervicais resultantes da reação de defesa muscular pós cirurgia, e a restrição da movimentação ativa de ombro17.

A intervenção precoce da fisioterapia, aplicada ainda no ambiente hospitalar, não só ajuda a prevenir as complicações pós-cirúrgicas, como também reabilita as pacientes mais cedo para as atividades da vida diária (AVD), e ainda, permite a elas que possam se valer da colaboração e do incentivo da equipe médica para o tratamento18.

A atuação fisioterapêutica deve começar o mais precoce possível, sendo que a introdução da drenagem linfática manual, o ultrassom e por fim a cinesioterapia devem ser aplicadas após a cirurgia e pode trazer inúmeras vantagens para a paciente, como prevenção do linfedema, de retrações miotendíneas, alívio da dor e melhora funcional do ombro, além do encorajamento ao retorno precoce às atividades de vida diária19.

A forma de tratamento que se mostra mais eficaz para pacientes com linfedema é a Terapia Física Complexa (TFC) desenvolvida por FoldiLeduc, que consiste de drenagem linfática manual (DLM), cuidados com a pele, compressão e exercícios miolinfocinéticos, que visam a ativação da atividade muscular e a recuperação da amplitude de movimento articular, tendo como princípio a drenagem do líquido intersticial acumulado no membro afetado. A forma de aplicação sofre modificações a depender do quadro clínico do paciente20.

A conduta da Fisioterapia é de fundamental importância, pois através de um conjunto de abordagens terapêuticas é capaz de melhorar a qualidade de vida, amenizando sequelas das complicações e facilitando a recuperação funcional da mulher mastectomizada15.

Num contexto geral, a fisioterapia facilita integração ao lado operada ao resto do corpo, facilitando o retorno da sua rotina, finalmente auxiliando na prevenção de outras complicações comuns na paciente operada do câncer de mama16. A abordagem fisioterapêutica é atualmente a primeira escolha para reabilitação, sendo o seu papel, fundamental, ante o severo processo de tratamento do CA de mama, atuando ao longo de toda linha de cuidados do câncer, prevenindo, minimizando e reabilitando complicações decorrentes, principalmente as físico funcionais14.

O fisioterapeuta fundamenta suas ações em mecanismos terapêuticos próprios, sistematizados pelos estudos da biologia, das ciências morfológicas, das patologias, da biomecânica, da cinesia, da bioquímica, das ciências fisiológicas da biofísica, da biomecânica, da sinergia funcional, e da cinesia patológica de órgãos e sistemas do corpo humano e as disciplinas comportamentais e sociais11.

3.3 Recursos terapêuticos
3.3.1 Drenagem linfática manual

A drenagem linfática manual (DLM) consiste na movimentação de fluidos através de canais linfáticos, para reduzir o edema e melhorar o uso funcional dos membros envolvidos em mulheres mastectomizadas17.

De acordo com Rocha et al.18 é necessário citar que esse tipo de drenagem é muito importante no pós-operatório por contribuir para facilitar a circulação linfática, além de eliminação residual, reduzir edemas, sendo essencial para os pacientes que desenvolvem linfedema logo após a mastectomia em razão do esvaziamento axilar que é realizado durante o procedimento cirúrgico.

Essa abordagem inicia-se com o estímulo dos linfonodos (gânglios linfáticos) corporais e em seguida com os movimentos para drenagem da linfa. As manobras são feitas com pressões leves e suaves, comprimindo apenas o tecido superficial, sem alcançar a musculatura11. O ritmo é lento e o número de repetições das manobras precisará ser de pelo menos oito vezes, em cada local. A DLM terá de acompanhar a direção da circulação sanguínea e do fluxo linfático, começando pela região proximal e logo em seguida pela distal. Isso consiste no conceito de que é imprescindível esvaziar antes de retornar novos líquidos, pois, do inverso, se congestionaria ainda mais um sistema já cheio20.

A drenagem linfática manual (DLM) é uma prática de massagem com manuseios de maneira lentas, rítmicas e suaves que envolvem a superfície da pele e seguem os caminhos anatômicos linfático do corpo, visando a drenar o excesso de líquido no interstício, no tecido e dentro dos vasos, por meio das anastomoses superficiais áxilo-axilar e áxilo-inguinal; a estimular pequenos capilares inativos; e a aumentar a motricidade da unidade linfática, além de dissolver fibroses linfostáticas que se oferecem em linfedemas mais exuberantes11.

O objetivo central da drenagem linfática nas pacientes que se submeteram a mastectomia é devolver à normalidade a circulação linfática de forma eficaz em função da ocorrência de obstrução linfática após tratamento do câncer da mama que ativa os mecanismos compensatórios, a fim de evitar a instalação do edema, sendo eles: circulação colateral por dilatação dos coletores remanescentes; dilatação dos vasos pré-coletores, conduzindo a linfa a regiões íntegras; neo-anastomoses linfáticas ou venosas; aumento da capacidade de transporte por incremento do trabalho das válvulas e dos linfangions; estímulo do mecanismo celular, produzindo na região edemaciada um aumento da pinocitose e um acúmulo de macrófagos que atuam na proteólise extra linfática12.

3.3.2 Cinesioterapia

O termo cinesioterapia advém do grego, no qual kínesis quer dizer “movimento” e therapeia “terapia”, logo este trata-se do “estudo do movimento” a qual na prática compreende a aplicação de movimentos ativos e passivos com os objetivos de identificar as disfunções corporais e aplicar a terapia no ponto adequado2.

Na cinesioterapia podem ser incluídos os exercícios com movimentos passivos, os quais são realizados com a força aplicada totalmente pelo fisioterapeuta, auxiliando na prevenção de lesões musculares, aderências capsulares, além de manter a integridade das articulações, a flexibilidade muscular e dos tecidos moles; já nos ativos são realizados com a força do próprio paciente7.

Ajuda a manter ou aumentar a amplitude do movimento, estimula o fortalecimento ósseo, a flexibilidade muscular, desenvolve a coordenação motora, aumenta a força e melhora o funcionamento dos sistemas cardiovascular e circulatório; podem ainda ser realizados os movimentos ativos assistidos, o qual tem auxílio parcial do fisioterapeuta3.

O objetivo da cinesioterapia é reeducar o movimento, melhorar a função e ganho de amplitude de movimento. Entre alguns dos exercícios terapêuticos aplicados na cinesioterapia estão os alongamentos, reeducação e correção postural, treino de marcha e equilíbrio, coordenação motora, exercícios respiratórios, dentre outros11.

No que se refere aos benefícios, a cinesioterapia ajuda no alívio de dores musculares, auxilia na melhora da amplitude de movimentos do corpo, atua na melhora na postura e na correção das alterações da coluna vertebral20.

4. Conclusão

A partir do desenvolvimento desse estudo foi possível compreender os aspectos que cercam a mastectomia, bem como o papel da fisioterapia frente a recuperação e a reabilitação dessas mulheres, gerando mais qualidade de vida através da amplitude de movimentos e do fortalecimento muscular da área afetada.

Os exercícios que podem auxiliar a mulher na reabilitação da mastectomia através do suporte fisioterapêutico foram a cinesioterapia, a drenagem linfática manual, o ultrassom terapêutico, Exercícios de resistência e amplitude, aeróbica aquática (corrida aquática, construção aquática, alongamento aquático), natação condicional e aeróbica recreativa, Kinesio Taping e da vestimenta de pressão no linfedema.

5. Referências Bibliográfica
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1Mestre em Ciências Dermatológicas pela Universidade do Estado do Amazonas; Docente do Curso de Fisioterapia na Universidade Paulista (UNIP);

2Graduando(a) do Curso de Fisioterapia da Universidade Paulista (UNIP)

3Graduando(a) do Curso de Fisioterapia da Universidade Paulista (UNIP)

4Graduando(a) do Curso de Fisioterapia da Universidade Paulista (UNIP)

5Graduando(a) do Curso de Fisioterapia da Universidade Paulista (UNIP)

6Graduando(a) do Curso de Fisioterapia da Universidade Paulista (UNIP)