ATUAÇÃO DA EQUOTERAPIA EM CRIANÇAS COM SÍNDROME DE DOWN: UMA ANÁLISE BIBLIOGRÁFICA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202506121329


Licelia dos Santos1
Raiane Parada e Silva2
Soraia Araújo Lemos3


RESUMO

OBJETIVOS: Realizar uma análise bibliográfica sobre a atuação da equoterapia em crianças com Síndrome de Down, a partir de publicações científicas recentes. METODOLOGIA: Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de caráter bibliográfico, fundamentada na análise de materiais previamente publicados, como livros, artigos científicos e documentos eletrônicos. A busca por dados foi realizada nas bases SciELO, PubMed e Google Acadêmico, utilizando descritores combinados com operadores booleanos, e priorizando estudos publicados entre 2017 e 2025, em português, inglês e espanhol. A seleção considerou publicações que abordassem os benefícios motores, cognitivos e psicossociais da equoterapia em crianças com Síndrome de Down, sendo os dados analisados de maneira qualitativa, por meio de leitura crítica e categorização temática. RESULTADOS: A análise evidenciou que a equoterapia é uma abordagem terapêutica eficaz que promove não apenas ganhos no desenvolvimento motor, como também avanços significativos na socialização, autonomia e aspectos emocionais das crianças com Síndrome de Down. Os estudos revisados indicaram que o contato com o cavalo favorece o equilíbrio, a postura e o fortalecimento muscular, além de estimular o convívio social, a autoestima e a integração psicossocial. CONCLUSÃO: A equoterapia revelou-se uma intervenção relevante e complementar no processo terapêutico de crianças com Síndrome de Down, contribuindo para a qualidade de vida, o desenvolvimento integral e a inclusão social. Sua prática amplia as possibilidades de reabilitação ao integrar estímulos físicos, cognitivos e emocionais em um ambiente dinâmico e motivador, evidenciando a importância dessa abordagem no contexto multiprofissional de cuidado.

Palavras-chave: Equoterapia; Síndrome de Down; Desenvolvimento Motor; Reabilitação; Inclusão Social.

ABSTRACT

OBJECTIVES: To conduct a bibliographic analysis on the role of equine-assisted therapy (hippotherapy) in children with Down syndrome, based on recent scientific publications. METHODOLOGY: This is a qualitative, bibliographic research based on the analysis of previously published materials, such as books, scientific articles, and electronic documents. Data collection was carried out using the SciELO, PubMed, and Google Scholar databases, through a combination of standardized descriptors and Boolean operators, prioritizing studies published between 2017 and 2025 in Portuguese, English, and Spanish. The selected publications specifically addressed the motor, cognitive, and psychosocial benefits of equine-assisted therapy for children with Down syndrome. Data were analyzed qualitatively through exploratory and critical reading and thematic categorization. RESULTS: The analysis showed that equine-assisted therapy is an effective therapeutic approach that promotes not only improvements in motor development but also significant advances in socialization, autonomy, and emotional aspects of children with Down syndrome. The reviewed studies highlighted that interaction with horses enhances balance, posture, and muscle strengthening, while also fostering social engagement, self-esteem, and psychosocial integration. CONCLUSION: Equine-assisted therapy has proven to be a relevant and complementary intervention in the therapeutic process of children with Down syndrome, contributing to quality of life, holistic development, and social inclusion. Its practice expands rehabilitation possibilities by integrating physical, cognitive, and emotional stimuli in a dynamic and motivating environment, highlighting the importance of this approach within the multiprofessional care context.

KEYWORDS: Equine-Assisted Therapy; Down Syndrome; Motor Development; Rehabilitation;

1. INTRODUÇÃO

A Síndrome de Down (SD), também conhecida como trissomia do cromossomo 21, é uma condição genética que afeta o desenvolvimento físico, intelectual e motor dos indivíduos, sendo caracterizada principalmente por hipotonia muscular, atraso no desenvolvimento motor, dificuldades de equilíbrio e comprometimentos cognitivos (Rodrigues; Pereira, 2022). 

Frente a essas limitações, diversas abordagens terapêuticas vêm sendo exploradas para promover a inclusão e a autonomia dessas crianças. Dentre elas, destaca-se a equoterapia, um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo como agente facilitador no desenvolvimento físico, psicológico e social (Chaves; Almeida, 2018).

Com o avanço das práticas terapêuticas alternativas e integrativas, surge a necessidade de compreender melhor quais intervenções oferecem resultados consistentes e comprovados para o público com necessidades especiais. Nesse sentido, questiona-se de que forma a equoterapia pode contribuir efetivamente para o desenvolvimento global de crianças com Síndrome de Down, sobretudo nos aspectos motores e psicossociais. Considera-se como hipótese que a prática da equoterapia proporciona melhorias significativas no tônus muscular, na coordenação motora, no equilíbrio postural e na socialização dessas crianças, promovendo um avanço perceptível em sua qualidade de vida e em sua autonomia.

A relevância desta pesquisa está em reunir e sistematizar informações baseadas em evidências científicas sobre uma prática terapêutica que, embora amplamente utilizada, ainda carece de um reconhecimento mais profundo dentro das abordagens convencionais da saúde. De acordo com (Santos; Rêgo; Silva, 2022), a equoterapia representa uma ferramenta de reabilitação que combina benefícios físicos e emocionais, sendo uma alternativa eficaz para o tratamento de distúrbios motores e cognitivos. 

No entanto, Chaves; Almeida (2018) apontam que muitos dos estudos existentes ainda apresentam limitações metodológicas, o que reforça a necessidade de revisões sistemáticas e integrativas que consolidam o conhecimento produzido até o momento. Nesse contexto, este trabalho justifica-se pela importância de ampliar a discussão sobre os impactos positivos da equoterapia, fornecendo subsídios para profissionais da saúde, educadores e familiares que atuam diretamente no processo de reabilitação e inclusão de crianças com SD.

Assim, este estudo tem como objetivo geral realizar uma análise bibliográfica sobre a atuação da equoterapia em crianças com Síndrome de Down, a partir de publicações científicas recentes. A investigação busca compreender os benefícios proporcionados por essa intervenção, relacionando os efeitos observados no desenvolvimento motor com os impactos no comportamento e nas interações sociais. Além disso, pretende-se observar como os resultados variam conforme a frequência e o tempo de aplicação da terapia, bem como identificar quais metodologias têm sido mais eficazes no acompanhamento desses pacientes.

2. METODOLOGIA 

A presente pesquisa caracteriza-se como uma investigação de natureza qualitativa, com delineamento do tipo bibliográfico. De acordo com Lakatos; Marconi (2017), a pesquisa bibliográfica é aquela elaborada a partir de material já publicado, constituído principalmente de livros, artigos científicos e outros documentos disponíveis, com o objetivo de analisar e interpretar o conhecimento já produzido sobre determinado tema. 

Nessa perspectiva, buscou-se reunir, organizar e discutir publicações científicas recentes que abordassem a aplicação da equoterapia em crianças com Síndrome de Down, com foco nos benefícios motores, cognitivos e psicossociais dessa intervenção.

Conforme esclarece Gil (2019), a pesquisa bibliográfica permite uma abordagem sistemática de temas já explorados por outros autores, possibilitando a formulação de novas interpretações, correlações e questionamentos. Para tanto, este estudo utilizou como principais bases de dados científicas os portais SciELO (Scientific Electronic Library Online), PubMed (US National Library of Medicine) e Google Acadêmico, por serem amplamente reconhecidos e por fornecerem acesso a publicações científicas nacionais e internacionais revisadas por pares.

A estratégia de busca envolveu a utilização de descritores padronizados e combinados por meio de operadores booleanos, tais como: “equoterapia AND Síndrome de Down”, “hipoterapia AND crianças”, “terapia com cavalos AND desenvolvimento motor AND Síndrome de Down”. As buscas foram realizadas entre os dias 15 de março e 03 de abril de 2025, respeitando o recorte temporal de publicações compreendido entre os anos de 2017 e 2025, a fim de garantir a atualização e a relevância dos dados analisados.

Nessa perspectiva, buscou-se reunir, organizar e discutir 20 artigos, utilizando os critérios de inclusão: (1) artigos científicos completos publicados entre 2017 e 2025; (2) textos disponíveis em português, inglês ou espanhol; (3) estudos que abordassem diretamente os efeitos da equoterapia em crianças com Síndrome de Down; e (4) publicações revisadas por pares e com acesso online gratuito. Já os critérios de exclusão compreenderam: (1) resumos sem o texto completo disponível; (2) artigos duplicados nas bases consultadas; (3) estudos que abordassem a equoterapia em contextos que não envolvessem a Síndrome de Down ou que tratassem exclusivamente de adultos; e (4) materiais de opinião ou fontes não científicas.

A análise dos dados foi feita de forma qualitativa, por meio de leitura exploratória e crítica dos textos selecionados, a fim de identificar os principais resultados, metodologias utilizadas e contribuições teóricas de cada estudo. Essa análise permitiu a categorização dos conteúdos em temas centrais, como desenvolvimento motor, socialização, benefícios psicossociais e aspectos metodológicos da aplicação da equoterapia. A abordagem interpretativa seguiu os preceitos da análise de conteúdo, com atenção à coerência das evidências apresentadas nos estudos e sua relevância para o campo da saúde, educação e reabilitação de pessoas com deficiência.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

O presente estudo evidenciou a crescente utilização da equoterapia como intervenção terapêutica para crianças com Síndrome de Down, destacando-se por sua abordagem holística, que integra aspectos físicos, emocionais e sociais. Diversos autores têm explorado os benefícios dessa prática, apresentando convergências nos resultados observados, embora ressaltem desafios e limitações que merecem atenção.

Bezerra et al. (2022) realizaram uma revisão bibliográfica abrangente, identificando que a equoterapia contribui significativamente para o desenvolvimento neuromotor de crianças com Síndrome de Down.

Os autores destacam melhorias na coordenação motora, equilíbrio e tônus muscular, associadas à estimulação sensório-motora proporcionada pelo movimento do cavalo. Esses achados corroboram os resultados de estudos anteriores que enfatizam a importância da estimulação proprioceptiva e vestibular na reabilitação de crianças com essa condição.

Por outro lado, estudos como o de Santos et al. (2021) alertam para as limitações da equoterapia, especialmente no contexto brasileiro, onde a disponibilidade de profissionais qualificados e a infraestrutura adequada ainda são insuficientes. A pesquisa destaca que, apesar dos benefícios reconhecidos, a prática da equoterapia enfrenta desafios relacionados à acessibilidade e à formação especializada, o que pode comprometer a efetividade do tratamento em algumas regiões.

Adicionalmente, a revisão sistemática de Ramos et al. (2024) reforça a eficácia da Terapia Assistida por Equinos (TAE) no desenvolvimento global de crianças com Síndrome de Down, destacando melhorias não apenas nas habilidades motoras, mas também nos aspectos emocionais e sociais. Os autores enfatizam a necessidade de mais estudos com rigor metodológico para consolidar as evidências sobre os benefícios a longo prazo da equoterapia em comparação com outras terapias.

Portanto, a literatura científica converge para a conclusão de que a equoterapia oferece benefícios significativos no tratamento de crianças com Síndrome de Down, especialmente em termos de desenvolvimento motor e integração sensorial. Contudo, desafios como a falta de profissionais capacitados e a necessidade de pesquisas de longo prazo são aspectos que necessitam ser abordados para otimizar os resultados dessa intervenção terapêutica.

3.1 SÍNDROME DE DOWN

A Síndrome de Down (SD) é uma condição genética causada pela presença de um cromossomo extra no par 21. Também conhecida como trissomia 21, essa condição afeta o desenvolvimento físico e cognitivo do indivíduo. As características físicas mais comuns da SD incluem olhos amendoados, nariz achatado, boca pequena, orelhas pequenas e de implantação baixa, mãos curtas e largas, além de hipotonia muscular generalizada, que compromete a força e a estabilidade postural dos indivíduos (Coelho, 2016).

Os autores explicam que a trissomia do cromossomo 21 (TC21) possui origem genética, geralmente decorrente de uma falha na segregação correta dos cromossomos durante a meiose de um dos gametas, resultando na presença de três cópias do cromossomo 21.

Segundo Coelho (2016) e Brito e Guedes (2021), o diagnóstico é feito por meio da análise do cariótipo e das características clínicas associadas à TC21, tais como: características faciais distintas, hipotonia muscular generalizada (sintoma associado à disfunção neurológica) e atraso no desenvolvimento cognitivo. Além disso, pessoas com TC21 podem apresentar outras condições médicas associadas, como problemas de visão e audição, cardiopatias congênitas, hipotireoidismo, maior tendência ao sobrepeso, apneia do sono e alterações ortopédicas.

Considerando a TC21, Miguel et al. (2018) apresentam conceitos acerca das manifestações clínicas em crianças com SD, observando que elas podem interferir na capacidade de desempenhar de forma independente diversas atividades da rotina diária. Embora a literatura disponha de evidências sobre as limitações decorrentes dessa condição genética, em termos das funções de órgãos e sistemas, informações sobre o impacto dessas limitações no desempenho das atividades diárias em crianças em idade pré-escolar são menos frequentes, assim como a relação entre o desempenho das atividades de vida diária e a equoterapia.

Esses achados estão de acordo com Almeida e Souza (2020), que demonstram que o desenvolvimento psicomotor de crianças com SD apresenta atrasos significativos, afetando habilidades de locomoção, coordenação motora fina e ampla, equilíbrio, linguagem e habilidades adaptativas. Esses déficits comprometem a autonomia e a socialização, demandando intervenções terapêuticas interdisciplinares precoces que favoreçam o estímulo adequado ao desenvolvimento global.

Além disso, a American Academy of Pediatrics (AAP) recomenda que crianças com SD sejam acompanhadas por equipe multiprofissional desde os primeiros meses de vida, uma vez que intervenções precoces, como fisioterapia, terapia ocupacional e práticas complementares, como a equoterapia, podem reduzir os impactos das limitações impostas pela síndrome e potencializar habilidades motoras e sociais (Miller et al., 2021).

Dessa forma, compreender a complexidade da SD em seus aspectos físico, cognitivo, emocional e social é essencial para a formulação de estratégias terapêuticas que promovam o desenvolvimento e a inclusão plena e digna da criança na sociedade.

3.2 A EQUOTERAPIA E OS EFEITOS NO DESENVOLVIMENTO MOTOR DE CRIANÇAS COM SÍNDROME DE DOWN

No contexto educacional brasileiro, novas modalidades terapêuticas têm sido incorporadas para auxiliar profissionais da educação no processo de ensino e aprendizagem de crianças com diferentes tipos de deficiência. A equoterapia destaca-se como uma dessas intervenções, promovendo melhorias significativas na autoestima, concentração e postura dos praticantes, refletindo positivamente no ambiente escolar (Grapiglia, Silva e Peres, 2025).

A equoterapia se destaca na coordenação motora grossa devido ao movimento tridimensional proporcionado pelo cavalo, que estimula o sistema neuromuscular das crianças. Um estudo de Copetti et al. (2017), com 41 indivíduos, 20 praticantes de equoterapia e 21 não praticantes , utilizou o teste Körperkoordinationstest für Kinder (KTK) para avaliar a coordenação motora dos participantes.

Os resultados mostraram melhorias significativas na coordenação motora grossa das crianças que praticaram equoterapia. O estudo evidenciou que, por meio do contato com o cavalo e da realização de atividades específicas, as crianças desenvolveram habilidades motoras mais refinadas, como equilíbrio e coordenação de movimentos, essenciais para atividades cotidianas e para o aprimoramento do desenvolvimento físico (Copetti et al., 2017).

Rodrigues e Pereira (2022) discutem que a equoterapia tem impacto positivo no tônus muscular e na postura de crianças com Síndrome de Down. A revisão realizada por esses autores analisou oito estudos que investigaram os efeitos da equoterapia nesse aspecto, destacando que o movimento constante do cavalo ativa vários músculos, promovendo o fortalecimento da musculatura postural e o controle do tônus muscular.

Esse tipo de exercício contribui para o fortalecimento muscular e melhora a postura das crianças, fundamental para seu bem-estar e qualidade de vida. A prática regular auxilia na correção de posturas inadequadas e na melhoria da estabilidade postural, fatores que impactam diretamente a mobilidade e a independência da criança.

Alves et al. (2023) também apresentaram que crianças submetidas a sessões de equoterapia tiveram avanços notáveis no desenvolvimento psicomotor, incluindo ganhos em postura, equilíbrio e tônus muscular, além de melhorias nos aspectos cognitivos e biopsicossociais. Os autores ressaltam que a prática promove também o bem-estar emocional, sendo uma intervenção terapêutica valiosa no contexto da reabilitação multidisciplinar.

Esses achados demonstram que a equoterapia não só promove melhorias no desenvolvimento motor de crianças com Síndrome de Down, mas também oferece benefício global à saúde física e emocional. Ao integrar movimentos e interações com o cavalo, a equoterapia proporciona estímulos sensoriais e motores essenciais para o desenvolvimento equilibrado das crianças.

Conforme destacado por Rêgo e Silva (2022), essa prática oferece um ambiente seguro e estimulante, no qual as crianças melhoram suas habilidades motoras, controlam o tônus muscular e obtêm ganhos significativos na postura, refletindo em maior autonomia e qualidade de vida.

Esses resultados evidenciam a importância de investir na pesquisa e no uso da equoterapia como ferramenta terapêutica complementar às terapias tradicionais, como fisioterapia e terapia ocupacional.

3.3 DESAFIOS E LIMITAÇÕES DA EQUOTERAPIA NO TRATAMENTO DE CRIANÇAS COM SÍNDROME DE DOWN

A equoterapia tem se consolidado como uma intervenção eficaz no tratamento de crianças com Síndrome de Down, proporcionando benefícios significativos no desenvolvimento motor, emocional e social. No entanto, sua implementação enfrenta desafios relacionados à acessibilidade, custos e à adaptação inicial das crianças.

A acessibilidade à equoterapia é um obstáculo significativo, especialmente em regiões com infraestrutura limitada. Estudos indicam que a disponibilidade de centros especializados é restrita e que os custos associados à manutenção desses serviços, como cuidados com os animais e infraestrutura adequada, tornam o acesso ainda mais difícil para famílias de baixa renda.

De acordo com Nascimento et al. (2020), a escassez de centros especializados e o alto custo de manutenção da terapia dificultam o acesso de muitas famílias, especialmente em áreas periféricas e em regiões com menor desenvolvimento socioeconômico.

O estudo realizado por Costa e Ferreira (2021), no estado do Ceará, revelou que o custo médio mensal por criança atendida em centros de equoterapia é de aproximadamente R$200,00, valor considerado elevado para muitas famílias de classes média e baixa, o que compromete a eficácia da expansão desse tratamento.

Outro desafio relevante é a resistência inicial das crianças à equoterapia. O medo do cavalo e a adaptação ao novo ambiente terapêutico são barreiras comuns. Segundo Silva e Pinto (2019), muitos pacientes apresentam resistência no início do tratamento devido ao desconhecimento do cavalo e à mudança no ambiente terapêutico. Esse medo pode ser superado com a introdução gradual à terapia, em que o contato com o animal e o ambiente é feito de forma controlada e progressiva. Estudos apontam que a presença de profissionais qualificados, como psicólogos e terapeutas ocupacionais, pode contribuir significativamente nesse processo de adaptação.

A experiência de Almeida et al. (2018) com crianças com Síndrome de Down mostra que, após algumas sessões, as crianças tornam-se mais confortáveis com o cavalo e desenvolvem maior confiança, o que contribui para a eficácia do tratamento.

Portanto, embora a equoterapia ofereça benefícios substanciais no tratamento de crianças com Síndrome de Down, é essencial superar os desafios relacionados à acessibilidade e à adaptação inicial. Investimentos em políticas públicas que promovam a expansão dos centros de equoterapia, a capacitação de profissionais e o apoio às famílias são fundamentais para garantir que mais crianças possam usufruir dessa terapia de forma eficaz e inclusiva.

3.4 COMPARAÇÕES ENTRE A EQUOTERAPIA E OUTRAS MODALIDADES DE TERAPIA PARA SÍNDROME DE DOWN

Bevilacqua Junior et al. (2021) realizaram uma pesquisa que comparou os efeitos da equoterapia e da fisioterapia convencional sobre o equilíbrio e a mobilidade funcional de adolescentes com Síndrome de Down. O estudo revelou que o grupo submetido à equoterapia apresentou melhora mais significativa na mobilidade funcional e no equilíbrio dinâmico, observada por meio do teste Timed Up and Go, com resultados estatisticamente relevantes (p = 0,006). Esse achado sugere que o ambiente lúdico, associado ao contato com o cavalo, estimula não apenas o sistema neuromuscular, mas também a motivação, o que pode potencializar o engajamento e acelerar os resultados.

Por outro lado, a fisioterapia convencional, que oferece protocolos específicos e controlados para a correção postural e fortalecimento muscular, também apresenta resultados consistentes, especialmente em aspectos relacionados ao equilíbrio estático e à força segmentar. Silva et al. (2013) verificaram, por meio de seu estudo, que crianças com Síndrome de Down submetidas à fisioterapia convencional demonstraram maior estabilidade postural em comparação àquelas que participaram de sessões de equoterapia, destacando que a repetição de exercícios específicos em ambiente clínico controlado pode ser mais eficaz em casos de necessidades motoras localizadas ou déficits de equilíbrio mais severos.

Uma revisão sistemática conduzida por Ramos, Parisi e Nabeiro (2024) analisou a produção bibliográfica relacionada à Terapia Assistida por Equinos como ferramenta no desenvolvimento global de crianças com Síndrome de Down. Os autores concluíram que a TAE se mostra como uma ferramenta eficaz e importante, contribuindo para o progresso no desenvolvimento global e na evolução das habilidades funcionais dessas crianças. No entanto, ressaltam a necessidade de mais estudos com rigor metodológico para consolidar as evidências sobre os benefícios a longo prazo da equoterapia em comparação com outras terapias.

Esse achado acerca do TAE como ferramenta eficaz também é encontrado nos estudos de Siqueira et al. (2020), que apontam que a equoterapia contribui para o fortalecimento de vínculos afetivos e a ampliação da autoconfiança das crianças, aspectos que nem sempre são abordados com a mesma intensidade em terapias convencionais. Tais benefícios são considerados fundamentais, principalmente quando se trata da inclusão social e da qualidade de vida dos indivíduos com Síndrome de Down, ampliando a perspectiva de reabilitação para além do domínio físico.

Em síntese, a equoterapia apresenta vantagens relevantes em relação às terapias tradicionais, especialmente pela sua capacidade de promover o desenvolvimento global da criança em um ambiente estimulante e diferenciado. Contudo, a literatura científica destaca que a escolha entre essas abordagens deve ser pautada em uma avaliação individualizada, que considere tanto as necessidades clínicas quanto às condições emocionais e sociais da criança, além do suporte familiar e da disponibilidade de recursos na rede de atendimento.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa permitiu compreender a importância do acompanhamento multidisciplinar no desenvolvimento motor de crianças com atraso, especialmente aquelas com Síndrome de Down. Observou-se que a atuação fisioterapêutica precoce, aliada a abordagens complementares, como a equoterapia, contribui significativamente para o aprimoramento das funções motoras, cognitivas, emocionais e sociais dessas crianças.

O estudo evidenciou que o movimento tridimensional do cavalo estimula respostas neuromotoras específicas, promovendo o equilíbrio, a coordenação e a melhora do tônus muscular, além de proporcionar uma vivência social enriquecedora, que favorece a inclusão e o fortalecimento da autoestima. Essa forma de terapia destaca-se por integrar o ambiente natural e o contato com o animal, configurando-se como um recurso lúdico, prazeroso e motivador, que estimula a participação ativa da criança durante as sessões, fator essencial para a obtenção de resultados positivos.

Nesse contexto, o profissional de fisioterapia exerce papel central, sendo responsável por planejar, executar e adaptar estratégias terapêuticas individualizadas que considerem as particularidades de cada criança. Sua atuação é fundamental não apenas na reabilitação motora, mas também na promoção da autonomia, no fortalecimento dos vínculos familiares e na orientação de condutas que favoreçam o desenvolvimento global.

Os resultados indicam que a intervenção precoce, o trabalho integrado entre os profissionais de saúde, a família e o uso de terapias complementares, como a equoterapia, são determinantes para alcançar avanços efetivos no desenvolvimento e na inclusão social da criança com Síndrome de Down.

Por fim, o presente estudo contribui para o entendimento das estratégias de intervenção na infância e reforça a importância de valorizar a atuação do fisioterapeuta, além de ampliar o acesso a terapias integrativas, servindo de base para a construção de práticas terapêuticas mais eficazes e humanizadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa permitiu compreender a importância do acompanhamento multidisciplinar no desenvolvimento motor de crianças com atraso, especialmente aquelas com Síndrome de Down. Observou-se que a atuação fisioterapêutica precoce, aliada a abordagens complementares, como a equoterapia, contribui significativamente para o aprimoramento das funções motoras, cognitivas, emocionais e sociais dessas crianças.

O estudo evidenciou que o movimento tridimensional do cavalo estimula respostas neuromotoras específicas, promovendo o equilíbrio, a coordenação e a melhora do tônus muscular, além de proporcionar uma vivência social enriquecedora, que favorece a inclusão e o fortalecimento da autoestima. Essa forma de terapia destaca-se por integrar o ambiente natural e o contato com o animal, configurando-se como um recurso lúdico, prazeroso e motivador, que estimula a participação ativa da criança durante as sessões, fator essencial para a obtenção de resultados positivos.

Nesse contexto, o profissional de fisioterapia exerce papel central, sendo responsável por planejar, executar e adaptar estratégias terapêuticas individualizadas que considerem as particularidades de cada criança. Sua atuação é fundamental não apenas na reabilitação motora, mas também na promoção da autonomia, no fortalecimento dos vínculos familiares e na orientação de condutas que favoreçam o desenvolvimento global.

Os resultados indicam que a intervenção precoce, o trabalho integrado entre os profissionais de saúde, a família e o uso de terapias complementares, como a equoterapia, são determinantes para alcançar avanços efetivos no desenvolvimento e na inclusão social da criança com Síndrome de Down.

Por fim, o presente estudo contribui para o entendimento das estratégias de intervenção na infância e reforça a importância de valorizar a atuação do fisioterapeuta, além de ampliar o acesso a terapias integrativas, servindo de base para a construção de práticas terapêuticas mais eficazes e humanizadas.

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1Graduanda no curso de Fisioterapia das Faculdades Integradas Aparício Carvalho – FIMCA. E-mail: liceliasantos2@gmail.com

2Graduanda no curso de Fisioterapia das Faculdades Integradas Aparício Carvalho – FIMCA. E-mail: raiane123415farel@gmail.com

3Docente das Faculdades Integradas Aparício Carvalho – FIMCA. E-mail: soraia.lemos@fimca.com.br