ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE CARDIOVASCULAR: UMA REVISÃO INTEGRATIVA SOBRE A PREVENÇÃO E MODULAÇÃO DO RISCO

PHYSICAL ACTIVITY AND CARDIOVASCULAR HEALTH: AN INTEGRATIVE REVIEW ON RISK PREVENTION AND MODULATION

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202507311424


Gabriela Cristina Lima Areal Alencar1*
Emanuely Ximenes Furtado1
Emanuele Aguiar Scatolin1
Elissamia Oliveira de Mendonça1
Lúcia Araujo da Silva1
Rodrigo da Silva Justo1


RESUMO 

INTRODUÇÃO: As doenças cardiovasculares (DCVs) representam a principal causa de morbimortalidade global e são um problema de saúde pública crescente, inclusive no Brasil. Fatores de risco comportamentais modificáveis, como sedentarismo, contribui significativamente para seu desenvolvimento e evolução clínica. Este artigo objetiva avaliar a influência da atividade física (AF) no risco cardiovascular, consolidando evidências da literatura. METODOLOGIA: Trata-se de uma revisão integrativa de literatura. A busca foi realizada na plataforma digital SciELO, entre o período de janeiro de 2020 a julho de 2025, totalizando 32 trabalhos. RESULTADOS E DISCUSSÃO: A revisão demonstrou que a idade influencia a inatividade física e o risco cardiovascular, com crianças e adolescentes tornando-se alvos das pesquisas sobre o sedentarismo e beneficiando-se da persistência em exercícios. Diferenças de gênero são notáveis, com mulheres mais inativas, porém com boa resposta em atividades moderadas, enquanto homens precisam de atividades vigorosas. Protocolos variados de AF demonstraram eficácia, desde caminhadas à musculação intensa. CONCLUSÃO: A presente revisão integrativa reforça a relação intrínseca e multifacetada entre a AF e o risco cardiovascular. Os achados consolidam a inatividade física e o comportamento sedentário como fatores de risco prevalentes. Contudo, a prática regular de AF emerge como uma estratégia profilática e terapêutica poderosa, capaz de modular favoravelmente múltiplos parâmetros fisiológicos. As disparidades observadas em relação à idade, gênero, status socioeconômico e ocupação sublinham a necessidade de abordagens personalizadas e políticas públicas robustas. 

Palavras-chave: Atividade Física, Risco Cardiovascular, Sedentarismo.

ABSTRACT

INTRODUCTION: Cardiovascular diseases (CVDs) are the leading cause of global morbidity and mortality, representing a growing public health concern, including in Brazil. Modifiable behavioral risk factors, such as sedentary lifestyle, significantly contribute to their development and clinical progression. This article aims to evaluate the influence of physical activity (PA) on cardiovascular risk, consolidating evidence from the literature. METHODOLOGY: This is an integrative literature review. The search was conducted on the SciELO digital platform, covering the period from January 2020 to July 2025, totaling 32 selected works. RESULTS AND DISCUSSION: The review demonstrated that age influences physical inactivity and cardiovascular risk, with children and adolescents becoming targets of sedentary lifestyle research and benefiting from consistent exercise. Gender differences are notable, with women being more inactive but showing good responses to moderate activities, while men require vigorous activities for similar benefits. Varied PA protocols, ranging from walking to intense strength training, proved effective. CONCLUSION: This integrative review reinforces the intrinsic and multifaceted relationship between PA and cardiovascular risk. The findings consolidate physical inactivity and sedentary behavior as prevalent risk factors. However, regular PA emerges as a powerful prophylactic and therapeutic strategy, capable of favorably modulating multiple physiological parameters. Observed disparities regarding age, gender, socioeconomic status, and occupation underscore the need for personalized approaches and robust public policies.

Keywords: Physical Activity, Cardiovascular Risk, Sedentary Behavior.

INTRODUÇÃO

A relação entre a atividade física (AF) e o risco cardiovascular é um tema de crescente relevância na saúde global, dada a alta prevalência de doenças cardiovasculares (DCVs) e seus impactos na morbidade e mortalidade. As DCVs representam a principal causa de morte em escala mundial, sendo responsáveis por 16% do total de óbitos em 2019. No Brasil, assim como em outros países em desenvolvimento, essas doenças também lideram as estatísticas de hospitalizações e atendimentos ambulatoriais1. Fatores de risco comportamentais modificáveis, como o sedentarismo, tabagismo, consumo excessivo de álcool e má alimentação, desempenham um papel crucial no desenvolvimento e evolução clínica das DCVs2,3. A hipertensão arterial, por exemplo, afeta quase um bilhão de pessoas globalmente e é um dos mais importantes fatores de risco para DCVs, com projeções indicando que 1,5 bilhão de adultos serão afetados até 20254.

A inatividade física e o comportamento sedentário (CS) são amplamente reconhecidos como fatores de risco independentes para as DCVs5,6. A prevalência da inatividade física é alarmante, especialmente entre jovens. Em um estudo com crianças de seis a dez anos, apenas cerca de metade atendeu às recomendações de atividade física moderada a vigorosa, enquanto comportamentos de risco, como baixo consumo de frutas e vegetais, e excessivo tempo em CS, foram observados7. Entre adolescentes em Recife, Brasil, 52,4% apresentaram inatividade física, sendo as meninas mais inativas (68,7%) em comparação aos meninos (36,4%)8. No contexto adulto, 48,8% dos pacientes hipertensos foram classificados como fisicamente inativos, e, no contexto adulto, a inatividade é prevalente, com 48,8% dos pacientes hipertensos classificados como fisicamente inativos9. Adicionalmente, dados de atividade laboral revelam que uma parcela significativa de professores (42%) era insuficientemente ativos10.

Felizmente, a prática regular de atividade física tem se mostrado uma intervenção eficaz na prevenção e no manejo do risco cardiovascular5. Estudos demonstram que a atividade física no tempo livre está inversamente associada ao risco de HA1, com reduções de 28% em homens e 35% em mulheres que a praticam4. Em outro estudo, o risco de HA foi reduzido em 35% entre homens e 66% entre mulheres classificadas como muito ativas fisicamente11. Além da hipertensão, a atividade física regular melhora a função do sistema circulatório, reduzindo a morbidade e mortalidade por DCVs12, e pode aumentar os níveis de lipoproteína de alta densidade (HDL), com um efeito dose-resposta observado tanto em homens quanto em mulheres13.

Diante desse cenário, o presente artigo tem como objetivo avaliar a influência da execução de atividade física no risco cardiovascular, consolidando evidências da literatura para fornecer uma compreensão abrangente sobre a relação entre esses importantes aspectos da saúde.

MÉTODO 

Este estudo é uma revisão integrativa de literatura, método que permite a síntese de conhecimentos sobre o tema a partir da análise de pesquisas já publicadas. Permitindo a inclusão de estudos com diferentes delineamentos metodológicos (quantitativos e qualitativos), proporcionando uma compreensão abrangente da correlação entre atividade física e o risco a doenças cardiovasculares.  

A busca pelos artigos foi realizada na plataforma digital SciELO. As buscas foram conduzidas utilizando uma combinação de descritores controlados e palavras-chave relevantes “atividade física AND cardiovascular”. Resultando em 295 publicações.

As buscas foram limitadas a publicações nos idiomas português e inglês, com um recorte temporal de publicações datadas de janeiro de 2020 a julho de 2025 (cinco anos e seis meses), totalizando 83 trabalhos.

Foram incluídos artigos originais e revisões que abordassem a temática delineada, seus impactos na saúde metabólica e na qualidade de vida das pacientes. Os estudos deveriam estar disponíveis na íntegra. Foram excluídos: teses, dissertações, editoriais, cartas ao editor, resumos de congressos, duplicatas e artigos que não se enquadravam na questão norteadora.

Os artigos identificados foram primeiramente rastreados por seus títulos e resumos para verificar a relevância inicial. Em seguida, os textos completos dos artigos pré-selecionados foram lidos na íntegra. A seleção final foi realizada por dois revisores de forma independente, e em caso de divergência, um terceiro revisor foi consultado para dirimir o conflito. A amostra final da pesquisa apontou 32 trabalhos relevantes. 

Para dados estatísticos e informações globais, utilizou-se a cartilha ‘World health statistics 2024: Monitoring health of the SDGs, Sustainable Development Goals’, disponível no website da Organização Mundial da Saúde (OMS).

A ilustração 1 mostra o processo de seleção dos estudos conduzidos conforme as diretrizes do Fluxograma PRISMA.  

Ilustração 1: Fluxograma PRISMA do método de pesquisa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A presente revisão integrativa explorou a vasta literatura sobre a relação entre atividade física e risco cardiovascular, com o objetivo de consolidar os achados e discutir a influência da prática regular de exercícios na prevenção e manejo das doenças cardiovasculares (DCVs). Os estudos analisados abrangeram diversas faixas etárias, tipos de intervenção, contextos sociais e condições de saúde, evidenciando a complexidade e a relevância do tema.

A idade emerge como um fator determinante na prevalência de inatividade física e no risco cardiovascular. Em crianças de seis a dez anos, observou-se que apenas uma parcela atende às recomendações de atividade física moderada a vigorosa, e o tempo excessivo em comportamento sedentário é um considerado de risco7. Adolescentes também apresentam alta prevalência de inatividade física, com 52,4% dos estudados em Recife sendo inativos8. No grupo de idosos, a persistência em exercícios regulares demonstrou melhorar indicadores de saúde cardiovascular, como a redução da rigidez dos vasos sanguíneos e o aumento da variabilidade da frequência cardíaca14. Em contrapartida, a doença cardiovascular aterosclerótica (DCVA) torna-se mais comum após os 60 anos, destacando a importância da atividade física ao longo de toda a vida para mitigar os riscos associados ao envelhecimento 5.

As diferenças de gênero/sexo também são evidentes nos resultados. Estudos indicam que a incidência de hipertensão arterial (HA) pode ser reduzida em 28% entre homens e 35% entre mulheres em atividade física4. Outra pesquisa reforça essa disparidade, mostrando uma redução de risco de HA de 35% para homens e 66% para mulheres classificadas como muito ativas fisicamente11

Adolescentes do sexo feminino foram mais inativas (68,7%) em relação aos meninos (36,4%)8, o que pode contribuir para um maior risco cardiovascular em mulheres não brancas, que apresentaram menor atividade física e maior estresse perceptivo15. É crucial notar que as intervenções de atividade física devem ser sensíveis ao gênero, considerando as particularidades fisiológicas e sociais. Por exemplo, embora a prática regular de atividade física no tempo livre (AFTL) esteja positivamente associada ao aumento dos níveis de lipoproteína de alta densidade (HDL) – o ‘colesterol bom’, um importante fator protetor cardiovascular –, a intensidade necessária para elevar o HDL difere entre os sexos: em mulheres, caminhada, atividade moderada e vigorosa discriminam o HDL elevado, enquanto em homens essa relação é observada apenas na intensidade vigorosa13.

Os benefícios da atividade física estendem-se à melhoria de diversos indicadores de saúde cardiovascular, com uma variedade de modalidades e protocolos demonstrando eficácia na redução do risco. O exercício aeróbico, por exemplo, tem a capacidade de otimizar a função vascular e a reatividade do músculo liso12, além de melhorar a capacidade funcional e promover a remodelação cardíaca mesmo em casos de infarto do miocárdio pequeno, como observado em estudos com ratos16.

A aplicabilidade desses benefícios é ampla, estendendo-se a diversas populações e contextos. Em humanos, a corrida apresentou um bom efeito protetor cardíaco em voluntários saudáveis, com um programa de 45 minutos, quatro vezes por semana, durante três semanas, mantendo uma intensidade entre 50% e 71,5% da frequência cardíaca máxima17. O Método Pilates (MP), com duas sessões de 60 minutos por semana ao longo de oito semanas, mostrou-se superior ao treinamento aeróbico na redução da pressão arterial monitorada por 24 horas em pacientes hipertensos18. Intervenções mais abrangentes, como uma abordagem remota que incluiu duas caminhadas, uma videoaula de exercícios aeróbicos e duas videoaulas de exercícios de força muscular por semana (30 minutos cada, em intensidade moderada) durante oito semanas, resultaram na redução da circunferência da cintura e no aumento da capacidade cardiorrespiratória e da aptidão física geral19. A dança esportiva aeróbica, praticada em intensidade moderada por 90 minutos, duas vezes por semana, ao longo de três meses, também demonstrou melhorar a forma corporal e a função cardiovascular em adultos de meia-idade e idosos20. Adicionalmente, mesmo em populações com alto risco, como bombeiros expostos ao combate a incêndios florestais, a acumulação de atividade física intensa levou a uma redução do tempo em comportamento sedentário e a uma maior capacidade de lidar com a sobrecarga cardiovascular21. Dessa forma, a promoção de um estilo de vida ativo e a redução do comportamento sedentário são estratégias cruciais para a prevenção e o controle dos fatores de risco cardiovasculares em todas as faixas etárias22, 23.

A seguir, a Tabela 1 detalha os diferentes tipos de exercícios, suas intensidades, durações e a progressão ao longo das semanas ou meses, conforme descrito nos estudos.

Tabela 1: Correlação entre os tipos de Exercícios, Intensidade e Duração das Intervenções para modificação de risco cardiovascular.

Os fatores sociais e socioeconômicos exercem influência significativa na adesão à atividade física e, consequentemente, no risco cardiovascular. Adolescentes das classes econômicas D e E apresentaram maior inatividade física8. Mulheres com menor escolaridade e percepção negativa da saúde reportaram um maior número de barreiras para a prática de atividade física9. No entanto, houve uma tendência para maiores valores médios de saúde cardiovascular com o aumento da escolaridade, especialmente entre mulheres25, 26. Essas observações ressaltam a importância de considerar as disparidades socioeconômicas e educacionais ao desenvolver intervenções de saúde pública.

No contexto da profissão, trabalhadores da indústria apresentaram um fator de proteção quando há atividade física suficiente e de risco quando comprovado o sedentarismo e/ou tabagismo, com o menor tempo livre influenciando negativamente a adoção de comportamentos saudáveis, sendo os trabalhadores do turno noturno os mais beneficiados por adotarem hábitos de exercício no contraturno3. Professores, por exemplo, em sua maioria, eram insuficientemente ativos, com um baixo número de passos diários associado a fatores de risco cardiometabólicos10. Em contrapartida, bombeiros em combate a incêndios florestais acumularam mais que o dobro da recomendação mínima de atividade física semanal em três dias e apresentaram pouco tempo em comportamento sedentário, apesar do elevado risco cardiovascular inerente à profissão21. A atividade física no tempo livre (AFTL) mostrou-se inversamente associada ao risco de HA1 e positivamente associada ao aumento de HDL13, destacando sua importância para indivíduos em diversas profissões e a necessidade de personalizar as abordagens médicas a diferentes grupos de pacientes.

A pesquisa em modelos animais tem fornecido insights importantes sobre os mecanismos fisiológicos subjacentes aos benefícios da atividade física. Em ratos, o exercício aeróbico regular de longo prazo induziu alterações na função vascular da aorta torácica e reatividade do músculo liso vascular12. Em camundongos, o treinamento aeróbico de intensidade moderada alterou o volume e o remodelamento das fibras colágenas, além de reduzir o estresse oxidativo em ventrículos esquerdos24. Esses achados laboratoriais complementam os estudos em humanos, elucidando as adaptações moleculares e celulares promovidas pela atividade física.

Em relação à atividade física após infarto, um estudo com ratos Wistar com infarto do miocárdio pequeno (<30% da área total do ventrículo esquerdo) demonstrou que o exercício aeróbico tardio (após três meses da indução do infarto do miocárdio, com treino em esteira três vezes por semana por 12 semanas) melhorou a capacidade funcional e a remodelação cardíaca, preservando a geometria ventricular esquerda16. Este resultado é crucial, pois sugere que a reabilitação baseada em exercícios pode ser uma estratégia eficaz para melhorar o prognóstico de pacientes pós-infarto.

Embora a atividade física seja um pilar fundamental na prevenção e controle do risco cardiovascular, é crucial reconhecer a interconexão com outros fatores de risco modificáveis. A dieta inadequada, caracterizada pelo baixo consumo de frutas, vegetais e leite, e alto consumo de refrigerantes, foi observada em crianças7. O consumo moderado e alto de alimentos ultraprocessados foi positivamente associado a trajetórias de risco cardiovascular médio e alto27. Adolescentes cuja refeições foram realizadas ao assistir televisão (cerca de 60% dos entrevistados) e/ou sem a supervisão dos responsáveis (cerca de 40% dos entrevistados) foram negativamente associadas ao risco de DCVs8. Padrões alimentares saudáveis, com maior consumo de frutas e vegetais, foram associados à prática de atividade física moderada e vigorosa28.

O estresse perceptivo em casa, no trabalho, socialmente e financeiramente também são fatores de risco significativo, com mulheres não brancas apresentando maior estresse e risco cardiovascular15. Além disso, hábitos de vida sedentária e tabagismo foram consistentemente identificados como fatores de risco2, 3, 5. A obesidade, por sua vez, triplicou desde 1980 e está diretamente ligada ao aumento do risco de ateromas causando DCVs, embora a redução de peso melhore significativamente os fatores de risco relacionados à obesidade. A atividade física influencia o estilo de vida, diminuindo a possibilidade de fumar, reduzindo o estresse e o apetite5, reforçando a importância de uma abordagem multifacetada para a saúde cardiovascular. 

A promoção da atividade física é uma estratégia crucial para a saúde cardiovascular em todas as idades, englobando não apenas os ganhos físicos e fisiológicos, mas também os fatores psicológicos e sociais que influenciam diretamente a adesão e o bem-estar geral. Para crianças e adolescentes, a atividade física é essencial para o desenvolvimento, a inserção social e a diversão, proporcionando benefícios inequívocos que se estendem à qualidade de vida e à saúde cardiovascular30. No entanto, a falta de atividade física e o

sedentarismo estão intrinsecamente ligados a fatores sociodemográficos e de estilo de vida que aumentam o risco de doenças cardiovasculares em adultos, como idade avançada, gênero, raça/cor, escolaridade e autoavaliação da saúde. A complexidade desses fatores ressalta que combater o sedentarismo e promover um estilo de vida ativo exige ações coordenadas que vão além da simples prescrição de exercícios, incluindo educação, acesso a ambientes propícios e apoio psicossocial, especialmente para os grupos mais vulneráveis31.

Aprofundando na visão fisiológica e molecular, a atividade física regular orquestra uma série de adaptações que subjazem aos seus benefícios cardiovasculares. Em um nível fundamental, o controle da pressão arterial é aprimorado pela atividade física, que promove a vasodilatação e otimiza o fluxo sanguíneo, conforme evidenciado em estudos com exercícios aeróbicos que impactam a reatividade do músculo liso vascular12. Essa melhora na função vascular e endotelial é crucial, pois as células progenitoras endoteliais, que desempenham um papel vital na manutenção da saúde dos vasos, têm suas funções aprimoradas pelo exercício físico, o que é particularmente relevante em condições como a síndrome metabólica29.

Além disso, a atividade física exerce um impacto significativo no perfil lipídico, elevando os níveis de lipoproteína de alta densidade (HDL), um marcador consistentemente associado à proteção cardiovascular13. Essa modulação lipídica, juntamente com a capacidade de influenciar o controle autonômico cardíaco – melhorando a regulação da frequência cardíaca e sua recuperação pós-esforço14, 32 – demonstra a abrangência dos efeitos benéficos. A redução do estresse oxidativo e da inflamação com aplicação de treinamento aeróbico24, representa um mecanismo molecular chave pelo qual o exercício atenua processos que contribuem para a aterosclerose e outras DCVs. Esses processos fisiológicos e moleculares sublinham a complexidade e a eficácia da atividade física como uma intervenção terapêutica e preventiva robusta para a saúde cardiovascular.

Ao analisar o processo de envelhecimento, observa-se que o conceito de envelhecimento ativo, fundamentado nos pilares de saúde, segurança, participação e aprendizagem contínua, desempenha um papel crucial na qualidade de vida dos indivíduos. Neste contexto, foram identificadas correlações estatisticamente significativas entre a prática de atividade física e a prevalência de fatores de risco para doenças cardiovasculares33. Isso sugere que a promoção da atividade física é um componente que pode ser inserido e aprendido, auxiliando na mitigação dos riscos cardiovasculares.

A tabela 2 oferece uma visão fisiológica e molecular dos benefícios da atividade física.

Tabela 2: Mecanismos de Ação da Atividade Física na Saúde Cardiovascular.

CONCLUSÃO

A presente revisão integrativa reforça, de forma abrangente, a relação intrínseca e multifacetada entre a atividade física e o risco cardiovascular. Os achados consolidam a inatividade física e o comportamento sedentário como fatores de risco independentes e prevalentes em diversas faixas etárias e contextos socioeconômicos, desde a infância até a vida adulta e o envelhecimento.

Assim, a prática regular de atividade física emerge como uma estratégia profilática e terapêutica importante, capaz de modular favoravelmente múltiplos parâmetros fisiológicos e moleculares. Ela demonstra eficácia na redução da incidência e no manejo da hipertensão arterial, na melhoria do perfil lipídico através do aumento do HDL, na otimização da função vascular e endotelial, e no controle autonômico cardíaco. As evidências apresentadas destacam a efetividade de variadas modalidades e protocolos de exercícios, adaptáveis a diferentes populações, incluindo aquelas com condições específicas como o pós-infarto.

As disparidades observadas em relação à idade, gênero, status socioeconômico e ocupação sublinham a necessidade de abordagens personalizadas e políticas públicas robustas. É fundamental que as intervenções visem superar as barreiras à adesão à atividade física, promovendo um estilo de vida ativo que integre a dieta saudável e o manejo do estresse. Em suma, o investimento na promoção da atividade física é um pilar essencial para a redução da morbimortalidade cardiovascular global, com impactos positivos na saúde e qualidade de vida da população.

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1Acadêmico de Medicina. Centro Universitário Uninorte, AC, Brasil

*Autor correspondente: gabykris@gmail.com