HOSPITAL NURSING CARE FOR PERSONS WITH BODERLINE PERSONALITY DISORDER
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11242180
Izabel Oliveira Moreira1; Jessica Batista Brito2; Joice Alves De Souza3; Bruno Santos de Assis4
Resumo: o transtorno de personalidade boderline (TPB), é um distúrbio de personalidade. Estima-se que a sua prevalência, na população geral, seja de 1,6% a 5,9%. Sendo que 75% das pessoas com TPB são mulheres. A hospitalização é indicada em circunstâncias específicas, como, exposição pessoal ou de terceiros a situações de risco. Nesse cenário, a equipe de enfermagem é a classe profissional da saúde, que mais tem contato com o paciente durante o período de hospitalização. Objetivo: conhecer a importância da assistência de enfermagem hospitalar à pessoa com transtorno de personalidade boderline, identificar os principais desafios impostos aos profissionais de enfermagem durante a assistência, além de refletir sobre as medidas de prevenção do suicídio no transtorno de personalidade boderline. Método: trata-se de uma revisão narrativa da literatura, a qual tem o objetivo de resumir e integrar as principais informações acerca de um determinado assunto ou tema, levando em consideração assim vários autores. Resultados: esse estudo revelou a importância da assistência de enfermagem, através de intervenções que promovem o fortalecimento da relação terapêutica entre paciente e enfermeiro. Destacou a importância do conhecimento profundo sobre o TPB, do uso de tecnologias que permitem autorreflexão sobre a prática de enfermagem, além de cuidados como, o preparo e a administração de medicamentos, proteção do paciente, orientação do paciente e da família. Apontou desafios enfrentados pelos profissionais de enfermagem, como, a falta de apoio psicológico, sobrecarga de trabalho, carência de informações sobre o TPB, entre outros. Por fim, propôs refletir sobre as medidas de prevenção do suicídio. A psicoterapia, se mostrou eficaz no tratamento do TPB, por reduzir a tendência suicida, a automutilação e a hospitalização. Conclusão: diante do exposto, observou-se a carência de artigos que associam a assistência de enfermagem à pessoa com TPB, revelou carência de conhecimento dos profissionais que atuam na saúde mental, fato que interfere na dispensa de cuidados adequados. Constatou-se que, o tratamento eficaz do TPB reduziu as chances de suicídio e a prática de comportamentos de risco.
Palavras-chave: Transtorno de Personalidade Boderline. Assistência de Enfermagem Hospitalar. Saúde Mental.
Abstract: boderline personality disorder (BPD) is a personality disorder. Its prevalence in the general population is estimated at between 1.6% and 5.9%. 75% of people with BPD are women. Hospitalization is indicated in specific circumstances, such as exposing oneself or others to risky situations. In this scenario, nursing staff are the health professionals who have the most contact with patients during hospitalization. Objective: to understand the importance of hospital nursing care for people with boderline personality disorder, to identify the main challenges imposed on nursing professionals during care, and to reflect on suicide prevention measures in boderline personality disorder. Method: this is a narrative review of the literature, which aims to summarize and integrate the main information on a particular subject or theme, thus taking into account several authors. Results: this study revealed the importance of nursing care, through interventions that promote the strengthening of the therapeutic relationship between patient and nurse. It highlighted the importance of in-depth knowledge of BPD, the use of technologies that allow self-reflection on nursing practice, as well as care such as preparing and administering medication, protecting the patient, and guiding the patient and family. It pointed out challenges faced by nursing professionals, such as the lack of psychological support, work overload, lack of information about BPD, among others. Finally, it proposed a reflection on suicide prevention measures. Psychotherapy proved to be effective in treating BPD by reducing suicidal tendencies, self-harm and hospitalization. Conclusion: in view of the above, there was a lack of articles associating nursing care with people with BPD, revealing a lack of knowledge on the part of mental health professionals, a fact that interferes with the provision of adequate care. Effective treatment of BPD was found to reduce the chances of suicide and the practice of risk behaviors.
Keywords: Borderline Personality Disorder. Hospital Nursing Care. Mental Health.
1. INTRODUÇÃO
O transtorno de personalidade limítrofe ou boderline (TPB), é um distúrbio de personalidade que afeta várias dimensões da vida da pessoa acometida com essa enfermidade, esses individuos podem apresentar alta utilização de cuidados dos serviços de saúde (MILLER, 2022). O TPB é caracterizado por instabilidade na autoimagem e nos relacionamentos, sentimento crônico de vazio, automutilação, comportamento suicída, flutuações extremas de humor, agressividade, impulsividade, entre outros (APA, 2014; LEICHSENRING et al., 2023).
De acordo com a 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), para diagnosticar um transtorno de personalidade, é necessãrio avaliar, a longo prazo, os padrões de funcionamento do indivíduo, e as características particulares da personalidade, que devem estar evidentes até o início da fase adulta. O indivíduo com TPB é sensível às circunstâncias do ambiente, tem medo de ser abandonado e necessidade de manter outras pessoas próximas. Como forma de evitar o abandono, pode incluir ações como automutilação ou comportamentos suicidas (APA, 2014).
Os critérios de diagnóstico para o Trantorno de Personalidade Boderline (TPB), podem incluir cinco, ou mais, dos nove comportamentos descritos a seguir: esforços desesperados para evitar abandono real ou imaginado; padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos caracterizado pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização; perturbação da identidade: instabilidade acentuada e persistente da autoimagem ou da percepção de si mesmo; impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente autodestrutivas, como exemplos: sexo, abuso de substância, compulsão alimentar; recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de comportamento automutilante; instabilidade afetiva devido acentuada reatividade de humor; sentimentos crônicos de vazio; raiva intensa e inapropriada ou dificuldade em controlá-la; ideação paranoide transitória associada a estresse ou sintomas dissociativos intensos (APA, 2014).
Segundo Paris (2019), o TPB está associado a comportamentos suicidas e de automutilação, existindo uma correlação estabelecida entre transtorno de personalidade boderline e aumento do risco de suicídio, quando comparado aos índices de suicídio na população geral. A taxa de óbito por suicídio é de 8 a 10% das pessoas com TPB, e o risco é maior entre adultos jovens (APA, 2014).
Para Leichsenring (2023), a etiologia do TPB está relacionada com a combinação de diversos fatores, sejam de ordem neurobiológica, genética, psicossocial e de fatores ambientais.
Estima-se que a prevalência do TPB na população seja 1,6%, embora possa chegar a 5,9%. Nos pacientes tratados durante uma internação psiquiátrica por transtornos mentais, a prevalência é cerca de 20%. Em relação ao gênero, 75% dos pacientes diagnosticados com esse transtorno são mulheres (APA, 2014). Nos Estados Unidos da América (EUA), o transtorno de personalidade limítrofe (TPB) afeta aproximadamente 0,7% a 2,7% dos adultos (LEICHSENRING et al., 2023).
Neste contexto, os pacientes que sofrem de transtorno de personalidade boderline são predominates em diversos ambientes, prontos socorros, hospitais psiquiátricos e gerais, consultas ambulatoriais. No entanto o TPB continua a ser uma das condições de saúde mental mais estigmatizadas e negligenciadas (GREINER et al., 2022). Muitas das pessoas acometidas pelo TPB têm outros transtornos mentais coexistentes, como, depressão, transtorno bipolar, transtornos de ansiedade, transtornos alimentares e abuso de drogas. (LEICHSENRING et al., 2023).
Estudos anteriores asseguram que, atualmente o prognóstico dos pacientes com transtorno de personalidade borderline é bastante favorável, desde que seja feito acompanhamento psicológico é psiquiátrico, sendo que a psicoterapia é o padrão ouro para o tratamento para essa doença (LEICHSENRING et al., 2023; GREINER et al., 2022; PARIS, 2019).
Ainda nesse sentido, a hospitalização da pessoa com TPB é indicada em circunstâncias específicas, relacionadas a exposição de situações de risco. Nesse cenário a equipe de enfermagem, é a classe de profissionais de saúde que mais têm contato com o paciente, e ao cuidar da pessoa com TPB cria proximidade, promovendo acolhimento (BRASIL, 2013; AGNOL et al., 2019).
Desta forma, o presente estudo justifica-se pela necessidade de aprofundar o conhecimento sobre as atribuições da equipe de enfermagem frente a assistência à pessoa com transtorno de personalidade boderline. Visto que esses cuidados, prestados no ambiente hospitalar, são de extrema importância.
Contudo, esta revisão da literatura objetivou conhecer a importância da assistência de enfermagem hospitalar à pessoa com transtorno de personalidade boderline, identificar os principais desafios impostos aos profissionais de enfermagem durante a assistência, além de refletir sobre as medidas de prevenção do suicídio no transtorno de personalidade boderline.
2. METODOLOGIA
A presente pesquisa trata-se de uma revisão narrativa da literatura, a qual tem o objetivo de resumir e integrar as principais informações acerca de um determinado assunto ou tema, levando em consideração assim vários autores.
Para a construção desta revisão, foram utilizados os seguintes documentos: artigos científicos, manual do Ministério da Saúde (MS), da Organização Mundial da Saúde (OMS), da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e do Conselho Regional de Psicologia do Distrito Federal (CRP DF). Para que fossem incluídos neste estudo de revisão narrativa, foram estabelecidos critérios específicos, tais como, a disponibilidade eletrônica dos documentos, publicados em português, francês, inglês ou espanhol e abordar o tema proposto nesta pesquisa.
A seleção dos documentos para este estudo considerou um recorte temporal de seis anos e a coleta dos dados foi realizada no primeiro semestre de 2024. Foram selecionados 12 artigos científicos, para esta pesquisa, além de outros três documentos, com data de publicação anterior a 2018, estes foram considerados devido a relevância para essa pesquisa, se trata de um manual do Ministério da Saúde (MS), publicado em 2013; um manual da American Psychiatric Association (APA), publicado em 2014; e um manual da World Health Organization (WHO), também publicado em 2014. Inicialmente, os artigos foram selecionados a partir da leitura dos títulos e dos resumos, e, quando o título e/ou resumo se revelou insuficiente, foi necessária a avaliação através da leitura na íntegra.
As bases de dados utilizadas para a seleção dos artigos foram: Biblioteca Virtual da Saúde (BVS)-(DECS), Biblioteca Eletrônica Científica Online (SCIELO), Literatura Científica e técnica de Países da América Latina e Caribe (LILACS), PubMed e Ministério da Saúde (MS). Para a estratégia de busca, foram utilizados os seguintes descritores: Borderline personality disorder AND Hospital nursing care AND Mental health.
3. DESENVOLVIMENTO
Com a finalidade de encontrar os objetivos propostos, por esta revisão da literatura, o presente estudo foi dividido em três eixos temáticos, relacionados a seguir.
3.1 IMPORTÂNCIA DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM HOSPITALR À PESSOA COM TRANSTORNO DE PERSONALIDADE BODERLINE
Primeiramente, as intervenções de enfermagem devem promover apoio a recuperação da pessoa com TPB e fortalecimento da relação terapêutica. O estudo de Labayen (2022), destacou as seguintes atitudes dos enfermeiros de saúde mental, que os participantes com TPB perceberam como positivas na relação terapêutica, sendo elas: confiança na recuperação da pessoa, não julgamento, sentido de humor, disponibilidade e humanidade.
Neste contexto, o conhecimento aprofundado do TPB permite que os enfermeiros de saúde mental desenvolvam maior autoconsciência, conhecimento e compreensão dos indivíduos e percepção dos desafios terapêuticos, o que pode melhorar a motivação dos enfermeiros para aprimorar o cuidado dos pacientes com esse diagnóstico (LABAYEN, 2022).
Seguindo tal lógica, um estudo Português, com 221 enfermeiros especialistas em saúde mental, desenvolveu e avaliou as propriedades psicométricas da Escala de Avaliação do Relacionamento Terapêutico-Enfermeiro (TRAS-Nurse). A ferramenta dispõe de uma escala com 25 itens, distribuídos em quatro fatores: empatia, autoconhecimento, envolvimento e orientação, com a finalidade de avaliar o relacionamento terapêutico (RT) entre o enfermeiro e o paciente. Se trata do primeiro instrumento criado para mensurar o RT na enfermagem. O seu uso propõe que o enfermeiro reconheça as suas emoções e o impacto delas no relacionamento terapêutico com o paciente. A TRAS-Nurse é uma ferramenta de avaliação de autorrelato, que pode gerar autorreflexão do que pode ser melhorado e, consequentemente, aumentar a autoconsciência dos enfermeiros, o que é fundamental para otimizar a qualidade do relacionamento terapêutico (COELHO, 2021).
Adicionalmente, Agnol (2019) destacou outros cuidados de enfermagem, como, o preparo e a administração de medicamentos, de acordo com a prescrição médica. Sendo que a terapia medicamentosa é instituída, principalmente, nos primeiros dias de internação, devido ao maior risco de agressividade do paciente com TPB, para si e para os outros. Proteção do paciente, através da contenção mecânica, quando outros recursos foram insuficientes para estabilizar o quadro de agitação do paciente, protegendo a sua integridade física e demais demais pessoas. Porém é fundamental estabelecer cautela no emprego da contenção física.
Conforme o Manual do MS, a internação, quando necessária, deve ocorrer prioritariamente nos serviços de saúde especializados, seja nos Caps, ou nos hospitais gerais de forma articulada com a rede. O documento ainda recomenda que a assistência dos profissionais de saúde deve ser pautada no acolhimento integral do usuário para fortalecimento do vínculo usuário/profissional. As intervenções devem proporcionar ao paciente momentos de pensamento e reflexão, ter boa comunicação, ter empatia, escutar o paciente e a família, acolher o paciente e suas queixas emocionais, além disso oferecer suporte na medida certa, de forma que não gere sobrecarga no profissional (BRASIL, 2013).
Além disso, no estudo de Agnol (2019), segundo os participantes da entrevista, as práticas de enfermagem estavam voltadas para a tentativa de acolher bem o paciente internado, por meio da escuta atenta, compreensão e paciência; realização de entrevista com o paciente, sempre que era possível, e com a família, para ampliar o acesso as informações sobre o paciente, além de nortear as orientações voltadas para os familiares; apresentação do espaço físico da unidade de internação; funcionamento do serviço de saúde e explicação sobre regras de permanência.
Do mesmo modo, os profissionais reconheceram o estresse vivenciado pelo paciente boderline, demonstrando a importância de não julgar ou de invalidar os sentimentos do paciente com TPB (GREINER et al., 2022). Nos casos de tentativa de suicídio, os profissionais de saúde deverão realizar notificação obrigatória aos ógãos competentes, em até 24 horas após ter conhecimento do fato. Tendo em vista a necessidade de implementar intervenções emergenciais efetivas, como o encaminhamento para rede psicossocial (CRP DF, 2020).
3.2 DESAFIOS ENFRENTADOS PELOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM, DURANTE A ASSISTÊNCIA À PESSOA COM TRANSTORNO DE PERSONALIDADE BODERLINE
Atualmente, os cuidados de enfermagem são permeados por muitas barreiras que dificultam uma adequada assistência. No que diz respeito as dificuldades vivenciadas pelos profissionais de enfermagem que participaram de uma pesquisa, relataram falta de apoio psicológico para o profissional, insegurança em estabelecer um relacionamento de confiança com o paciente, devido as características de instabilidade no comportamento. Ainda, apontou a necessidade de se ter educação permanente e do desenvolvimento de habilidades, como, flexibilidade e paciência para lidar com as situações vivenciadas (AGNOL, 2019; LAMONT, 2021).
Embora sejam escassas as pesquisas que associam a assistência de enfermagem à assistência da pessoa com transtorno de personalidade borderline (TPB), alguns estudos perceberam que as atitudes negativas dos profissionais de saúde, em relação a estes pacientes, podem diminuir a qualidade dos cuidados recebidos pelo paciente, além de comprometer as expectativas dos usuários e de suas famílias (LAMONT, 2021; OLIVEIRA, 2023).
Nesse sentido, uma pesquisa européia realizada com 126 profissionais da saúde, destes 19 eram enfermeiros, todos com experiência em saúde mental que e trabalhavam com pacientes com TPB, responderam dois questionários, um para testar o conhecimento sobre o transtorno de personalidade borderline e o outro em forma de escala Likert, para avaliar as atitudes do profissional em relação a esses pacientes (por exemplo, grau de conforto, envolvimento, esperança, evitação com esses pacientes). O número de acertos do primeiro questionário foi relativamente baixo (54%), considerando que os profissionais são experientes na área. Sobre o segundo questionário, as atitudes em relação aos pacientes com TPB, mostraram insegurança do profissional em assumir o comando deles, 1 a cada 5 participantes gostaria de evitar esses pacientes, mais de 12% não os apreciavam e 23% os achavam manipuladores. Além disso, quase metade dos profissionais tinham pouca confiança na sua capacidade de fazer diferença positiva na vida dos pacientes (GREINER et al., 2022).
Seguindo tal lógica, de acordo com a análise de Oliveira (2023), as atribuições da enfermeira na saúde mental estão baseados no modelo biomédico. As enfermeiras são as principais responsáveis por desenvolver as atividades gerenciais e de assistência, como: triagem/classificação de risco e administração de medicamentos. Esses achados sugerem que o trabalho está focado nos sintomas da doença, fragmentando o cuidado a pessoa com TPB.
Além disso, um estudo sobre o cuidado dispensado à pessoa com transtorno mental, realizado com 22 enfermeiros de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), no Município de Três Lagoas, evidenciou a falta de identificação e afinidade desses profissionais, com a área de saúde mental, devido a falta de capacitação em saúde mental, além da carência de habilidades na abordagem e acolhimento dos pacientes e seus familiares. Nesse mesmo estudo foram observados, a influência das experiências prévias malsucedidas, na relação entre o profissional e o paciente, ocasionando temor permanente em alguns dos profissionais entrevistados (SABEH et al., 2023).
Corroborando com esses achados, uma pesquisa composta por estudos de múltiplas nacionalidades, apontou diferenças entre a realidade brasileira e o contexto internacional. Uma parte dos estudos brasileiros, apontou conflitos relacionados as atribuições profissionais, bem como a falta de capacitação para atuar em saúde mental. Evidenciando que as enfermeiras possuem atribuições diversas no trabalho, fator que dificulta o fortalecimento do seu papel profissional, gerando sentimento de insegurança, de insatisfação no trabalho, comprometendo a sua autonomia e prejudicando a qualidade da assistência prestada (OLIVEIRA, 2023).
Portanto, cabe ainda destacar outros obstáculos que interferem no cuidado de qualidade, são eles: as inadequações da estrutura física dos serviços de saúde mental, subdimensionamento de pessoal de enfermagem, bem como a ausência de apoio psicológico para com os profissionais que atuam diretamente no cuidado aos pacientes com transtorno de personalidade borderline (AGNOL, 2019).
3.3 MEDIDAS DE PREVENÇÃO DO SUICÍDIO NO TRANSTORNO DE PERSONALIDADE BODERLINE
Sobretudo, o comportamento suicida é composto por elementos que envolve a ideação suicida, o planejamento do suicídio, a tentativa de autoextermínio e o suicídio (WHO, 2014). A tentativa de suicídio corresponde a qualquer atitude suicida, não fatal, ou dano provocado em si mesmo, de forma intencional, enquanto o suicídio é reconhecido como o ato de tirar a própria vida (MS, 2024).Entender o que motivou o ato e a letalidade dos métodos escolhidos pela pessoa para a concretização desse plano, é fundamental para avaliar o risco de uma nova tentativa, já que a chance de suicídio é maior em pessoas que tentarem esse ato sucessiva vezes (CRP DF, 2020).
Entretanto, o transtorno de personalidade borderline está associado não somente às tentativas de suicídio, mas também a outros comportamentos autolesivos. Tais dados indicam a importância da detecção, referenciamento e manejo dos transtornos mentais. Em relação ao manejo, é importante que profissionais estejam atentas e atentos aos possíveis avisos dados pelas pessoas em sofrimento psíquico, assim como o grau de letalidade que os avisos e tentativas podem significar (CRP DF, 2020; APA 2014).
Evidentemente, os prejuízos na vida da pessoa com TPB, assim como o risco de suicídio, são maiores entre os adultos jovens e tendem a diminuir, de forma gradativa, com o avançar da idade (APA, 2014). Segundo a literatura, os pacientes com TPB têm mais propensão a desenvolver outros transtornos mentais, como, transtorno por uso de substâncias, esquizofrenia, transtorno bipolar e/ou transtorno alimentar (APA, 2014; BROADBEAR, 2022). Diante disso, os profissionais da saúde mental devem oferecer apoio a pessoa em sofrimento psíquico (CRP DF, 2020).
Além disso, de acordo com a APA (2014), os atos de automutilação, ameaças e tentativas de suicídio, são muito comuns, e geralmente ocorrem devido as situações em que o indivíduo com TPB se sente ameaçado por condições de separação ou rejeição. A ideação suicida recorrente, ou pensamento crônico de suicídio, é com frequência um dos principais motivos pelo qual essas pessoas buscam por ajuda (APA, 2014; WARRENDER, 2021; BROADBEAR, 2022; MILLER, 2022). Essas informações indicam a importância da detectar, referenciar e manejar adequadamente esse transtorno mental (CRP DF, 2020).
Conforme um estudo Australiano, foi realizada uma auditoria eletrônica retrospectiva de 157.364 atendimentos feitos no pronto socorro (PS) de três grandes hospitais, entre maio de 2015 e abril de 2016. De todos os atendimentos, 583 foram de pacientes com diagnóstico de transtorno de personalidade borderline (TPB), que compareceram ao pronto socorro, 2.807 vezes, durante o período da auditora. Os principais motivos que os levaram ao PS, estavam relacionados à ideação suicida, automutilação ou overdose (BROADBEAR, 2022).
Além disso, nesse mesmo estudo, a polifarmácia ficou evidente, nas pessoas que frequência procuraram antendimento no PS. Nesses casos, os medicamentos prescritos foram associados as ocorrências de overdose, superando as overdoses por drogas ilícitas ou relacionadas ao álcool, ressaltando o risco associado à prescrição de medicamentos psicoativos a pacientes cronicamente suicidas (BROADBEAR, 2022).
Broadbear (2022), também percebeu lacunas no registro dos prontuários dos pacientes, por não conter informações sobre a motivação do paciente pela procura do serviço de saúde, criticando a atitude de desinteresse dos profissionais, em querer saber do próprio paciente o que estava acontecendo. Sugerindo que, a simples atitude de perguntar aos pacientes “o que está acontecendo com você?” é uma intervenção psicoterapêutica simples que pode melhorar a compreensão e promover a empatia, diminuindo situações de carga emocional e contratransferências prejudiciais com a equipe do PS. Também, sugere o treinamento em intervenção psicológica e o desenvolvimento de estratégias de encaminhamento do PS para o tratamento e acompanhamento adequado do TPB, como medida de reduzir a probabilidade de crises e a dependência pela procura de pronto socorros hospitalares para cuidados de episódios agudos (BROADBEAR, 2022).
Certamente, os profissionais que atuam na área de saúde mental, principalmente os psicólogos, usam durante os momentos de crise várias técnicas diretivas, com o objetivo de proteger a vida, diminuir riscos e danos, além de fazer a pessoa retomar o equilíbrio para permitir a conquista de outros objetivos terapêuticos (CRP DF, 2020).
Visto que os indivíduos que se engajam em intervenções terapêuticas frequentemente demonstram melhoras que podem ser observadas no primeiro ano de tratamento. Além disso, dos 30 aos 50 anos, a maioria dos indivíduos com o TPB alcançam maior estabilidade nos seus relacionamentos e na vida profissional (APA, 2014). Logo o tratamento de primeira linha para o transtorno de personalidade borderline é a psicoterapia, por reduzir a tendência suicida, a automutilação e a hospitalização (APA, 2014; WARRENDER, 2021).
Nesse mesmo sentido, a terapia comportamental dialética e a terapia baseada na mentalização, também mostraram efeitos positivos no tratamento do TPB, por reduzir, de forma significativa as tentativas de suicídio e as ocorrências de hospitalizações psiquiátricas. Assim, o uso de estratégias de comunicação, como entrevistas motivacionais e técnicas de resolução de problemas, podem ajudar os profissionais de saúde a aprender a lidar com os comportamentos dos pacientes com transtorno de personalidade borderline (MILLER, 2022).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa revelou a importância da assistência de enfermagem à pessoa com transtorno de personalidade boderline, através de intervenções voltadas para o cuidado das necessidades do paciente com TPB, apoio a sua recuperação, e o fortalecimento do vínculo entre paciente/profissional por meio do relacionamento terapêutico, por viabilizar a escuta e melhor compreensão do paciente, dando-lhe direcionamento para desenvolver mais autonomia. Dentre tantas atitudes importantes na assistência de enfermagem à pessoa com TPB, o conhecimento aprofundado sobre TPB, o uso de ferramentas/tecnologias para o cuidado de qualidade e o desenvolvimento de habilidades comportamentais, se destacaram devido o impacto positivo na percepção da equipe de enfermagem, dos pacientes e de seus familiares.
Evidenciou também, alguns dos desafios impostos aos profissionais de enfermagem, dentre os quais destacam-se: a carência na formação dos profissionais de enfermagem, a graduação, por si só, não se mostrou suficiente no preparo do profissional para lidar com o TPB; o estigma em torno do TPB, por dificultar a relação entre os profissionais de saúde mental e o paciente; a falta de apoio psicológico para o profissional e o subdimensionamento de enfermagem, ao comprometer a vida pessoal do profissional e o seu desempenho no trabalho.
Por fim, apontou que dentre as principais medidas para a prevenção do suicídio no transtorno de personalidade boderline, a psicoterapia se mostrou como a ação mais eficiente, já que diversos estudos comprovaram que a pessoa que recebe o tratamento adequado, tem menor chance de cometer suicídio, além de reduzir as práticas de comportametos autolesivos.
Desse modo, uma das principais dificuldades encontradas, para produção desta pesquisa, foi a escassez de estudos que associam a assistência de enfermagem à pessoa com transtorno de personalidade boderline. Considerando a relevância desse tema para estudantes e profissionais de saúde, sugere-se novos estudos afim de melhor explorá-lo.
REFERÊNCIAS
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1Aluna do Curso de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário LS, e-mail: izabelrocha21@gmail.com
2Aluna do Curso de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário LS, e-mail: jessicabatistabrito8@gmail.com
3Aluna do Curso de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário LS, e-mail: js7655889@gmail.com
4Professor orientador Me. Bruno de Assis.Enfermeiro Mestre em Ciência Política com linhas de pesquisa em Direitos Humanos, Cidadania e Estudos sobre a Violência, Professor e Coordenador do Curso Bacharelado em Enfermagem da UNILS, e-mail: bruno.assis@unils.edu.br