ASSÉDIO VIRTUAL E O IMPACTO SILENCIOSO DO CYBERBULLYING E ABUSO ONLINE EM ADOLESCENTES

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202411151348


Thiago Marinho da Silva1


RESUMO

A presente pesquisa investiga o fenômeno do assédio virtual e do cyberbullying entre adolescentes, destacando suas repercussões emocionais, sociais e jurídicas. O problema central reside na necessidade de compreender como o ordenamento jurídico brasileiro pode aprimorar a prevenção e a intervenção nesses casos, garantindo a proteção das vítimas e a responsabilização efetiva dos ofensores. O estudo tem como objetivo geral identificar as estratégias de enfrentamento utilizadas pelos adolescentes diante do assédio virtual e avaliar a eficácia das políticas públicas e dos programas de intervenção existentes. A metodologia aplicada baseou-se em pesquisa bibliográfica e análise qualitativa de dados, utilizando uma abordagem interdisciplinar entre direito, educação e tecnologia. Os resultados indicaram que, apesar dos avanços legislativos, a aplicação prática das normas enfrenta desafios, como a identificação dos ofensores e a integração entre plataformas digitais e autoridades judiciais. A pesquisa revelou a importância do apoio familiar e escolar como elementos fundamentais no enfrentamento das agressões virtuais, além de destacar a necessidade de campanhas educativas contínuas e uma articulação eficiente entre diferentes agentes sociais. Conclui-se que a prevenção e a mitigação dos impactos do assédio virtual exigem uma abordagem integrada, capaz de combinar esforços jurídicos, educacionais e tecnológicos. A pesquisa oferece contribuições relevantes para o aprimoramento de políticas públicas e abre novas possibilidades para investigações futuras na área.

Palavras-chave: Assédio virtual. Cyberbullying. Políticas públicas.

ABSTRACT

This research investigates the phenomenon of virtual harassment and cyberbullying among adolescents, highlighting its emotional, social, and legal implications. The central problem lies in the need to understand how the Brazilian legal system can enhance prevention and intervention, ensuring victim protection and the effective accountability of offenders. The primary objective is to identify the coping strategies adopted by adolescents when facing virtual harassment and assess the effectiveness of current public policies and intervention programs. The applied methodology is based on bibliographic research and qualitative data analysis, using an interdisciplinary approach between law, education, and technology. The results indicated that, despite legislative advances, practical enforcement faces challenges, such as offender identification and cooperation between digital platforms and judicial authorities. The research emphasized the importance of family and school support as fundamental elements in addressing virtual aggression and stressed the need for continuous educational campaigns and efficient coordination among various social actors. It concludes that preventing and mitigating the impacts of virtual harassment requires an integrated approach capable of combining legal, educational, and technological efforts. This study offers significant contributions to the improvement of public policies and opens new avenues for future research in the field.

Keywords: Virtual harassment. Cyberbullying. Public policies.

1. INTRODUÇÃO

O presente estudo insere-se na área do Direito Processual Penal e tem como objeto a análise do assédio virtual, especialmente nas formas de cyberbullying e assédio sexual online, com foco na experiência de adolescentes. A crescente utilização de tecnologias digitais e a expansão das redes sociais criaram um novo cenário no qual as práticas de violência se reinventaram, exigindo do ordenamento jurídico adaptações para assegurar proteção às vítimas e responsabilização dos ofensores. No contexto brasileiro, as legislações existentes, como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), foram ampliadas para incluir novos crimes digitais, mas ainda há desafios na sua aplicação prática e na efetiva garantia dos direitos dos jovens em ambientes virtuais.

O assédio virtual e o cyberbullying envolvem uma série de práticas abusivas realizadas por meio de plataformas digitais, caracterizadas pela repetição das ofensas e pela facilidade de anonimato dos agressores. No caso do assédio sexual online, o impacto torna-se ainda mais profundo, pois além da violação da intimidade, a vítima é exposta a situações de humilhação pública e violência psicológica, com repercussões duradouras. A falta de fronteiras físicas e temporais das agressões digitais impõe ao sistema jurídico a necessidade de aprimorar suas ferramentas de proteção e reparação de danos.

Nesse cenário, surge o problema central da pesquisa: como o ordenamento jurídico pode aprimorar a prevenção e a intervenção contra o assédio virtual, garantindo proteção efetiva às vítimas adolescentes e responsabilização eficiente dos agressores? A complexidade desse problema envolve não apenas a análise das legislações vigentes, mas também a compreensão de como o sistema de justiça, as plataformas digitais e as instituições educacionais podem atuar de forma integrada para enfrentar esses fenômenos. Entre as hipóteses levantadas, considera-se que o aprimoramento das políticas públicas e a articulação entre diferentes agentes sociais são fundamentais para minimizar a incidência dessas violências e seus impactos nas vítimas.

O objetivo geral desta pesquisa é identificar as estratégias de enfrentamento utilizadas por adolescentes diante do cyberbullying e do assédio sexual online, incluindo o papel do apoio social, a busca por ajuda institucional e o uso de recursos online. A pesquisa busca, ainda, analisar a eficácia das políticas públicas e programas de intervenção existentes, com o intuito de propor melhorias que possam garantir maior segurança e bem-estar aos adolescentes no ambiente digital.

A justificativa para a realização deste estudo reside na relevância social, acadêmica e jurídica da temática. No campo social, o aumento dos casos de assédio virtual e cyberbullying durante a pandemia de COVID-19 evidenciou a vulnerabilidade dos adolescentes e a necessidade de políticas eficazes para lidar com essa questão. A pesquisa contribui para a sensibilização da sociedade e para a promoção de uma cultura de cidadania digital, essencial para a convivência saudável em ambientes virtuais.

No campo acadêmico, o estudo se destaca pela escassez de pesquisas que abordem o assédio virtual sob a perspectiva jurídica e processual penal, especialmente com foco na população adolescente. A análise interdisciplinar entre direito, psicologia e tecnologia proposta neste trabalho permite um avanço significativo na compreensão dos fenômenos investigados e abre novas possibilidades para estudos futuros sobre o tema.

Do ponto de vista jurídico, a pesquisa é relevante porque contribui para o aprimoramento das legislações e práticas processuais relacionadas aos crimes digitais. A responsabilização dos agressores e a proteção das vítimas envolvem desafios que vão além da aplicação da norma, exigindo uma atuação proativa do sistema de justiça e a articulação com outros setores, como educação e tecnologia. Nesse sentido, o estudo propõe recomendações que podem subsidiar a criação de novas políticas públicas e o desenvolvimento de programas mais eficazes de prevenção e intervenção.

Portanto, este trabalho apresenta uma abordagem abrangente e crítica sobre o assédio virtual e suas implicações, com foco na proteção de adolescentes e na construção de um ambiente digital mais seguro. A pesquisa contribui para o fortalecimento das instituições envolvidas no enfrentamento dessas violências e para a promoção de práticas de cidadania digital, buscando respostas eficazes para um problema que afeta diretamente a integridade física, psicológica e emocional dos jovens. Ao final, espera-se que os resultados alcançados possam orientar futuras ações legislativas e institucionais, beneficiando tanto a comunidade acadêmica quanto a sociedade como um todo.

2.1 Impacto psicológico, emocional e social nas vítimas

O fenômeno do cyberbullying e do assédio sexual online tem gerado preocupações significativas entre juristas e pesquisadores sociais, considerando seus efeitos devastadores sobre adolescentes. As agressões no ambiente digital, marcadas pelo anonimato e pela repetição, potencializam o impacto emocional e social, causando consequências duradouras. Nesse contexto, destaca-se que “a violência virtual impõe uma dificuldade adicional para os adolescentes identificarem zonas seguras, pois o ambiente digital permeia suas rotinas diárias” (Sanches et al., 2019, p. 5).

As consequências psicológicas incluem sintomas de depressão, ansiedade e fobia social, comprometendo o bem-estar e a saúde mental das vítimas. Estudos revelam que “adolescentes expostos ao cyberbullying frequentemente apresentam insegurança e retraimento social, além de desenvolverem baixa autoestima” (Caetano et al., 2016, p. 207). No caso da violência sexual online, os traumas podem ser ainda mais severos, com algumas vítimas manifestando transtornos de estresse pós-traumático devido à exposição pública e humilhação.

Em termos emocionais, as vítimas enfrentam dificuldades de interação e desenvolvimento, muitas vezes optando pelo isolamento social. De acordo com Oliveira e Oliveira, “a exposição constante à violência online pode gerar um ciclo de exclusão, em que a vítima se afasta de ambientes sociais para evitar novas agressões, fragilizando ainda mais suas relações” (2024, p. 1365). Assim, há impactos diretos na capacidade de adaptação e participação social dos adolescentes.

No aspecto social, os adolescentes vitimados pelo assédio virtual demonstram dificuldades em manter vínculos interpessoais. “A exclusão nas redes sociais e a difamação digital implicam na marginalização das vítimas, prejudicando sua socialização e ampliando o estigma” (Santos et al., 2021, p. 230). Além disso, o medo de novas agressões contribui para uma retração ainda maior no ambiente escolar e familiar.

A literatura aponta que a gravidade desses impactos é ampliada pela falta de apoio institucional e familiar adequado. “Sem o suporte necessário, muitas vítimas acabam silenciadas, temendo represálias ou julgamentos, o que agrava ainda mais o quadro emocional” (Sanches et al., 2019, p. 7). Essa falta de acolhimento revela uma lacuna nas estratégias de enfrentamento e proteção oferecidas às vítimas.

Pesquisas anteriores sugerem que os adolescentes que possuem redes de apoio mais robustas, tanto familiares quanto institucionais, apresentam maior capacidade de enfrentamento. “A presença de um sistema de apoio efetivo permite que as vítimas encontrem formas mais saudáveis de lidar com a violência sofrida” (Rafael et al., 2017, p. 1335). Por outro lado, a ausência desse apoio tende a perpetuar a situação de vulnerabilidade.

Do ponto de vista jurídico, a legislação brasileira reconhece o impacto do assédio virtual, mas enfrenta desafios na sua aplicabilidade. “Embora haja avanços legais, ainda existem dificuldades na identificação dos agressores e na efetiva responsabilização no ambiente digital” (Nucci, 2021, p. 284). Isso reforça a necessidade de medidas mais eficazes para proteger as vítimas e punir os ofensores.

Por fim, a prevenção e a intervenção nesse campo exigem uma abordagem interdisciplinar, combinando ações jurídicas, educacionais e sociais. “Somente uma resposta coordenada pode reduzir a incidência e mitigar os impactos do assédio e do cyberbullying na vida dos adolescentes” (Oliveira e Oliveira, 2024, p. 1369). Dessa forma, é essencial o fortalecimento das políticas públicas que promovam a educação digital e a conscientização.

O entendimento desses impactos é crucial para a elaboração de estratégias mais eficazes de enfrentamento e prevenção. O diálogo entre direito e psicologia pode contribuir significativamente para a formulação de políticas públicas mais adequadas e inclusivas. A implementação de medidas que garantam proteção e acolhimento às vítimas é essencial para reduzir a vulnerabilidade dos adolescentes no ambiente digital.

2.2 Estratégias de enfrentamento e apoio social

Os adolescentes que enfrentam cyberbullying e assédio sexual online desenvolvem estratégias diversas para lidar com essas formas de violência, buscando apoio social e utilizando recursos digitais. A combinação de mecanismos institucionais, familiares e de plataformas digitais revela a complexidade do enfrentamento. “A adoção de medidas proativas e a busca por apoio social são essenciais para reduzir os danos e promover a resiliência” (Watts et al., 2017, p. 270).

A análise dessas estratégias permite compreender como o amparo social e as respostas institucionais impactam a vida das vítimas. O apoio familiar é uma das principais formas de enfrentamento, oferecendo às vítimas suporte emocional e orientação prática. A literatura aponta que “o papel dos familiares é fundamental para garantir um ambiente seguro e incentivar o adolescente a denunciar e buscar ajuda” (Barlett e Chamberlin, 2017, p. 447).

No entanto, nem sempre as famílias estão preparadas para lidar com a violência digital, o que pode dificultar a construção de uma rede de proteção eficiente. As escolas desempenham papel central na criação de um ambiente de acolhimento e conscientização sobre o impacto das violências virtuais. Políticas educativas eficazes podem promover debates sobre cidadania digital e orientar alunos e professores a identificar e agir contra o cyberbullying” (Santos et al., 2015, p. 8).

Contudo, há desafios em implementar ações coordenadas devido à falta de treinamento específico para os educadores e ao desconhecimento de ferramentas legais. As plataformas digitais também oferecem recursos importantes para o enfrentamento do assédio, como bloqueio de usuários e denúncias anônimas. “Essas ferramentas são essenciais para garantir a proteção das vítimas e reduzir a incidência das agressões online” (Chao e Yu, 2017, p. 5).

No entanto, a efetividade dessas ações depende da cooperação entre as plataformas e os órgãos de justiça, o que nem sempre ocorre de forma adequada. A atuação das autoridades policiais e judiciais é imprescindível para garantir a responsabilização dos ofensores e a proteção das vítimas. O Código Penal brasileiro, após as alterações promovidas pela Lei nº 11.829/08, prevê a criminalização de comportamentos relacionados ao assédio digital (Santos, 2015, p. 3).

No entanto, a aplicação dessas normas encontra obstáculos na identificação dos autores dos crimes, especialmente devido ao anonimato na internet (Shida, 2014, p. 282). A busca por apoio entre amigos e colegas é outra estratégia relevante, pois cria uma rede de solidariedade e ajuda mútua entre adolescentes. “Grupos de apoio informal permitem que as vítimas compartilhem experiências e encontrem amparo emocional” (Barlett e Chamberlin, 2017, p. 448). Contudo, a falta de preparo dos pares para lidar com situações de violência pode limitar a eficácia desse tipo de apoio.

Além das estratégias individuais, as políticas públicas desempenham papel essencial na promoção de campanhas educativas e preventivas. Ações governamentais que envolvem escolas e famílias são fundamentais para “conscientizar a sociedade sobre os riscos do ambiente virtual e incentivar o uso responsável das plataformas digitais” (Santos et al., 2014, p. 56). O sucesso dessas campanhas, no entanto, depende da colaboração entre diferentes setores da sociedade.

O diálogo entre plataformas digitais e o sistema de justiça também é necessário para aprimorar as respostas ao assédio online. “A cooperação entre empresas de tecnologia e autoridades jurídicas é indispensável para garantir uma intervenção rápida e eficaz” (Chao e Yu, 2017, p. 8). A falta de regulamentação específica em alguns casos, porém, ainda dificulta a harmonização entre as esferas privada e pública.

A análise dessas estratégias mostra que a integração entre família, escola, plataformas digitais e órgãos de justiça é crucial para o enfrentamento do assédio virtual. “Somente uma abordagem coordenada pode proporcionar às vítimas o suporte necessário para minimizar os impactos da violência” (Watts et al., 2017, p. 273). Além disso, é preciso fortalecer as campanhas educativas e promover a inclusão digital para prevenir futuras agressões.

Portanto, compreender as estratégias de enfrentamento e o papel do apoio social é essencial para o aprimoramento das respostas institucionais e sociais. A articulação entre diferentes agentes pode contribuir para a criação de uma cultura digital mais segura, onde as vítimas encontrem suporte efetivo e os ofensores sejam devidamente responsabilizados.

2.3 Análise das políticas e programas de prevenção e intervenção

O desenvolvimento de políticas públicas e programas de intervenção voltados para a prevenção do cyberbullying e do assédio sexual online representa um desafio para o sistema jurídico e educacional. As iniciativas visam não apenas coibir essas práticas, mas também oferecer suporte adequado às vítimas. “O enfoque preventivo demanda uma abordagem interdisciplinar, envolvendo não só a legislação penal, mas também campanhas educativas e programas escolares” (Greco, 2017, p. 245). A análise crítica dessas políticas permite identificar lacunas e propor melhorias necessárias para a efetividade dessas ações.

As legislações brasileiras têm avançado na definição de crimes digitais e na proteção das vítimas. O Código Penal, por exemplo, foi atualizado para criminalizar condutas específicas relacionadas ao ambiente virtual (Greco, 2017, p. 118). Entretanto, “a aplicabilidade dessas normas enfrenta dificuldades práticas, especialmente na identificação de agressores e na coleta de provas” (Torres-Acuña et al., 2019, p. 29). Assim, há a necessidade de aprimorar os mecanismos de investigação e fortalecer a atuação das autoridades.

A adoção de programas educativos nas escolas tem se mostrado eficaz para conscientizar os alunos sobre os riscos da violência online. Iniciativas pedagógicas que promovem a cidadania digital são essenciais para evitar a propagação do assédio virtual. “Campanhas de conscientização e debates em ambiente escolar favorecem a formação de comportamentos mais responsáveis e éticos” (Lima et al., 2012, p. 15). No entanto, muitos estabelecimentos de ensino ainda carecem de recursos para implementar essas ações de forma contínua.

As plataformas digitais também têm adotado medidas para prevenir o assédio e o cyberbullying, desenvolvendo políticas internas de bloqueio e denúncia. Embora esses recursos sejam importantes, “a efetividade das plataformas depende da celeridade na resposta e da colaboração com as autoridades” (Triantoro, 2016, p. 27). Muitas vítimas relatam dificuldades em obter respostas rápidas, o que aumenta sua sensação de desamparo diante das agressões.

As campanhas governamentais de prevenção são ferramentas importantes na disseminação de informações sobre os perigos do ambiente digital. No entanto, a abrangência dessas campanhas ainda é limitada. “É fundamental ampliar o alcance das ações preventivas para que possam envolver toda a comunidade, promovendo um ambiente virtual mais seguro” (Menti e Araújo, 2017, p. 82). A articulação entre diferentes setores é indispensável para que essas ações tenham impacto duradouro.

A cooperação entre o setor público e privado é outro fator essencial para a eficácia das políticas de intervenção. A integração entre escolas, plataformas digitais e órgãos governamentais pode “fortalecer as respostas institucionais e proporcionar um suporte mais eficiente às vítimas” (Torres-Acuña et al., 2019, p. 31). A falta de coordenação, entretanto, ainda representa um obstáculo para a implementação de programas mais abrangentes.

Além da prevenção, é necessário aprimorar os mecanismos de intervenção e proteção. A atuação das autoridades judiciais é crucial para garantir a responsabilização dos ofensores e a segurança das vítimas. “A resposta eficiente da justiça pode desincentivar a prática do assédio e garantir maior proteção às vítimas” (Greco, 2017, p. 248). A criação de delegacias especializadas e o treinamento de agentes públicos são estratégias que precisam ser ampliadas.

A articulação entre legislação e educação é essencial para promover mudanças culturais e comportamentais. A integração dessas áreas contribui para a construção de um ambiente digital mais saudável e para a redução da violência online. “Educação e regulamentação são pilares complementares na promoção de uma cultura de respeito e segurança no ambiente virtual” (Lima et al., 2012, p. 19). Essas ações devem ser contínuas e adaptadas às novas dinâmicas sociais e tecnológicas.

O monitoramento e a avaliação dos programas de prevenção são fundamentais para assegurar sua eficácia e identificar pontos de melhoria. As políticas públicas precisam ser constantemente revisadas para acompanhar as transformações no uso das tecnologias e nas formas de violência. “A adaptação das ações preventivas à evolução dos comportamentos digitais é essencial para garantir a relevância das iniciativas” (Menti e Araújo, 2017, p. 85).

Assim, a análise das políticas e programas de intervenção mostra que, embora existam avanços, ainda há desafios significativos a serem superados. A articulação entre diversos agentes sociais e o aprimoramento das respostas institucionais são essenciais para enfrentar o problema do cyberbullying e do assédio sexual online. Fortalecer a educação digital e promover uma justiça eficiente são caminhos indispensáveis para assegurar um ambiente virtual mais seguro para os adolescentes.

2.4 Propostas para redução da incidência e mitigação de impactos

A formulação de propostas para reduzir a incidência do cyberbullying e do assédio sexual online demanda ações articuladas entre diferentes setores, considerando tanto o aspecto preventivo quanto a mitigação dos impactos nas vítimas. É necessário combinar esforços legais, educacionais e tecnológicos para criar um ambiente digital mais seguro. “A promoção de uma cidadania digital consciente deve ser priorizada, com foco na prevenção das violências virtuais desde os primeiros anos de educação” (Fávero et al., 2020, p. 213). Nesse contexto, o desenvolvimento de programas integrados pode garantir uma abordagem mais eficiente e sustentável.

As escolas têm papel essencial na formação de valores e comportamentos digitais responsáveis. Programas educativos que incentivam o uso consciente das tecnologias e orientam sobre as consequências do assédio online são fundamentais. “A implementação de campanhas educativas voltadas para a prevenção do cyberbullying promove uma cultura de respeito e reduz a incidência desses casos” (Barlett e Gentile, 2012, p. 128). No entanto, essas iniciativas devem ser contínuas e adaptadas às novas dinâmicas tecnológicas e sociais.

A atuação das famílias também é imprescindível para combater esses fenômenos, já que o suporte familiar adequado pode prevenir comportamentos abusivos e auxiliar na recuperação das vítimas. “A orientação dos pais sobre a supervisão do uso da internet é uma medida eficaz para minimizar o risco de envolvimento dos adolescentes em comportamentos violentos” (Barlett et al., 2019, p. 254). As campanhas de conscientização voltadas para os responsáveis são necessárias para fortalecer esse papel preventivo.

As plataformas digitais devem aprimorar suas políticas internas de segurança, investindo em sistemas mais eficazes de denúncia e moderação de conteúdo. “A colaboração entre plataformas e autoridades jurídicas é essencial para a rápida remoção de conteúdos ofensivos e a responsabilização dos ofensores” (Cunha, 2016, p. 221). Essas plataformas também podem desenvolver ferramentas que facilitem o acesso a recursos de apoio e orientação para as vítimas.

As campanhas públicas de prevenção são fundamentais para disseminar informações sobre os perigos do ambiente digital e promover uma cultura de paz nas redes. É importante que essas campanhas envolvam diferentes setores da sociedade e “utilizem linguagens acessíveis aos jovens para alcançar maior eficácia” (Souza et al., 2017, p. 2078). A articulação entre instituições públicas e privadas é necessária para ampliar o alcance dessas iniciativas.

No campo jurídico, é fundamental aprimorar a legislação e garantir a efetiva aplicação das normas existentes. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) já estabelece princípios importantes, mas “há necessidade de reforçar as medidas específicas para os crimes digitais e ampliar a proteção das vítimas” (Fávero et al., 2020, p. 215). A criação de delegacias especializadas em crimes cibernéticos pode fortalecer a investigação e reduzir a impunidade.

A capacitação de profissionais de diferentes áreas também é crucial para lidar com esses problemas de forma integrada. Professores, agentes de segurança e profissionais de saúde devem ser preparados para identificar sinais de violência digital e orientar as vítimas. “A formação contínua desses profissionais é essencial para promover respostas mais eficazes” (Cunha, 2016, p. 225). Além disso, é necessário desenvolver protocolos claros para situações de emergência.

A promoção de espaços seguros de acolhimento para vítimas de violência virtual é uma medida que pode minimizar os danos emocionais e sociais causados por essas agressões. Centros de apoio e serviços especializados devem estar disponíveis para garantir a assistência adequada às vítimas. “O acolhimento imediato e a disponibilização de recursos terapêuticos são fundamentais para a recuperação” (Barlett et al., 2019, p. 253). Esses serviços precisam ser amplamente divulgados para facilitar o acesso.

A parceria entre o sistema de justiça e as plataformas digitais é outra estratégia essencial para reduzir a incidência de crimes virtuais. A criação de protocolos de cooperação pode agilizar a identificação de ofensores e a remoção de conteúdos ofensivos. “Uma resposta rápida e coordenada é necessária para evitar que os danos se perpetuem no ambiente digital” (Souza et al., 2017, p. 2085). A regulamentação mais rígida pode inibir práticas abusivas.

Portanto, a combinação de ações preventivas e de mitigação dos impactos é essencial para enfrentar o problema do assédio virtual e do cyberbullying. A articulação entre famílias, escolas, plataformas digitais e o sistema de justiça pode criar um ambiente mais seguro e acolhedor para os adolescentes. É necessário que as estratégias sejam adaptadas continuamente às transformações digitais para garantir a eficácia das políticas e programas de prevenção.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo buscou compreender o fenômeno do assédio virtual e do cyberbullying, com foco nas experiências e estratégias de enfrentamento utilizadas por adolescentes, bem como nas políticas e programas de prevenção e intervenção aplicados ao contexto brasileiro. A pesquisa demonstrou que, além dos efeitos devastadores no bem-estar psicológico e emocional das vítimas, o ambiente digital potencializa a perpetuação dessas agressões pela facilidade de anonimato e pela ampla disseminação de conteúdos ofensivos.

Esses aspectos revelam a necessidade urgente de medidas mais eficazes para combater e mitigar os impactos dessas violências. O levantamento bibliográfico evidenciou que o apoio social desempenha papel fundamental na recuperação das vítimas, mas também destacou falhas significativas nas redes de suporte disponíveis. O papel da família e das instituições educacionais precisa ser fortalecido por meio de campanhas educativas e capacitação contínua, promovendo um ambiente seguro onde as vítimas se sintam acolhidas e encorajadas a denunciar os agressores.

A integração de escolas e famílias é essencial para conscientizar sobre cidadania digital e prevenir futuras agressões. As análises indicaram que as políticas públicas e programas de prevenção ainda enfrentam limitações quanto à sua aplicação prática. Apesar dos avanços legislativos, como as atualizações do Estatuto da Criança e do Adolescente, a identificação dos ofensores e a responsabilização efetiva ainda constituem desafios para o sistema de justiça. A criação de delegacias especializadas e a adoção de protocolos mais claros podem contribuir para a superação desses obstáculos.

Os dados levantados também apontaram que, embora as plataformas digitais tenham implementado mecanismos de denúncia, esses recursos nem sempre são suficientes para garantir proteção adequada. A cooperação entre plataformas e autoridades judiciais é imprescindível para assegurar respostas rápidas e eficientes, minimizando o impacto das agressões e evitando a perpetuação dos danos no ambiente online.

A pesquisa sugere que a atuação interdisciplinar é a chave para a construção de um ambiente digital mais seguro. O diálogo entre educadores, operadores do direito e empresas de tecnologia deve ser aprimorado, de modo a integrar conhecimentos e recursos em uma abordagem mais abrangente e eficaz. A promoção de campanhas educativas que alcancem diferentes faixas etárias e contextos sociais é fundamental para consolidar essa cultura de prevenção.

Uma das limitações identificadas na presente pesquisa é a insuficiência de dados empíricos mais amplos sobre a eficácia das iniciativas existentes, o que aponta para a necessidade de estudos futuros. Pesquisas qualitativas e quantitativas com diferentes grupos de adolescentes podem oferecer uma compreensão mais aprofundada sobre o fenômeno e auxiliar na formulação de políticas mais adequadas às realidades regionais e culturais.

Além disso, novas investigações podem explorar a influência de fatores culturais e socioeconômicos na vulnerabilidade ao assédio virtual, ampliando o escopo para analisar como as desigualdades sociais impactam as experiências das vítimas. A internacionalização da pesquisa também pode contribuir para a troca de boas práticas entre países que enfrentam problemas semelhantes, enriquecendo as estratégias de combate ao fenômeno.

Por fim, recomenda-se a continuidade dos esforços acadêmicos e institucionais para desenvolver metodologias inovadoras de prevenção e intervenção, considerando as rápidas mudanças nas tecnologias digitais. A inclusão de adolescentes nos processos de elaboração dessas políticas pode garantir maior aderência às suas necessidades e expectativas, fortalecendo as ações de enfrentamento.

Em termos de aplicação prática, a pesquisa abre caminho para a formulação de políticas públicas mais eficazes e para a implementação de programas educativos contínuos nas escolas. A articulação entre os diferentes agentes envolvidos é essencial para consolidar um ambiente digital seguro e inclusivo, onde adolescentes possam exercer sua cidadania digital sem medo de agressões ou represálias. Assim, o trabalho desenvolvido lança bases para avanços futuros e reafirma a importância de uma abordagem integrada e humanizada na luta contra o assédio virtual e o cyberbullying.

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1Graduando do Curso de Direito do Centro Universitário Fametro.