ASPECTOS GERAIS DA DENGUE NO BRASIL: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

GENERAL ASPECTS OF DENGUE IN BRAZIL: A SYSTEMATIC REVIEW

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11225036


Layza Lopes da Silva¹, Samantha Alapenha Ferro Leite Sobral¹, Jonathas Leite Sobral¹, Marina Farias de Paiva¹, Fabiana Sousa de Macedo¹, Marcone Franco de Melo¹, Matheus Leonel Oliveira de Freitas¹


RESUMO

A dengue é classificada como a mais importante das arboviroses, sendo denominada como uma doença febril aguda de evolução benigna. Apresenta como vetor o mosquito Aedes aegypti, em que realiza a transmissão do vírus ao homem através de sua picada após repasto sanguíneo infectado. Trata-se de uma patologia presente em todo o território brasileiro, configurando-se como o maior instrumento de ações de políticas públicas no Brasil. Além disso, apresenta potencial em desencadear epidemias. Nesse contexto, o seguinte trabalho é caracterizado como uma revisão sistemática de literatura descritiva, sendo realizado pela coleta de dados disponíveis nos indexadores Google Acadêmico, SciELO e LILACS, através da pesquisa dos descritores “dengue”, “dengue hemorrágica”, “febre hemorrágica da dengue”, “dengue no Brasil” e “Aedes aegypti”. A partir da análise dos dados coletados, nota-se aumento de 16,5% da quantidade de casos de dengue no Brasil, quando comparados os anos de 2022 e 2023. Desse modo, o ano de 2023 apresentou a incidência de 753,9 casos a cada 100 mil habitantes. Sendo assim, denota-se a elevada incidência da doença, causando importantes impactos na saúde pública. Logo, conclui-se a complexidade dos desafios enfrentados para o controle da dengue, a qual aborda fatores ambientais, socioeconômicos e epidemiológicos, influenciando diretamente na propagação do vírus.

Palavras-chave: Dengue. Aedes aegypti. Epidemia. Incidência. Brasil.

ABSTRACT

Dengue is classified as the most important of the arboviruses, being called an acute febrile disease with a benign evolution. Its vector is the Aedes aegypti mosquito, which transmits the virus to humans through its bite after an infected blood meal. It is a pathology present throughout the Brazilian territory, becoming the largest instrument of public policy actions in Brazil. Furthermore, it has the potential to trigger epidemics. In this context, the following work is characterized as a systematic review of descriptive literature, being carried out by collecting data available in the Google Scholar, SciELO and LILACS indexers, through the search for the descriptors “dengue”, “hemorrhagic dengue”, “hemorrhagic fever of dengue”, “dengue in Brazil” and “Aedes aegypti”. From the analysis of the data collected, an increase of 16.5% in the number of dengue cases in Brazil is noted, when comparing the years 2022 and 2023. Thus, the year 2023 presented an incidence of 753.9 cases per 100 thousand inhabitants. Therefore, the high incidence of the disease is noted, causing important impacts on public health. Therefore, the complexity of the challenges faced in controlling dengue fever is concluded, which addresses environmental, socioeconomic and epidemiological factors, directly influencing the spread of the virus.

Keywords: Dengue. Aedes aegypti. Epidemic. Incidence. Brazil.

1 INTRODUÇÃO

Classifica-se a dengue como uma importante arbovirose, sendo denominada como uma doença febril aguda de evolução benigna. No entanto, possui possibilidade em evoluir para sua forma grave, a dengue hemorrágica. Apresenta como agente etiológico o vírus arbovírus do gênero Flavivírus, apresentando quatro sorotipos distintos: DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4. Como característica relevante, destaca-se a ausência de imunidade cruzada. Dessa forma, a infecção por um sorotipo não confere imunidade para os demais (Tauil, 2001).

Os mosquitos do gênero Aedes são os vetores da doença, obtendo como representante nas Américas a espécie Aedes aegypti. Nessa análise, a transmissão da dengue ocorre através da picada do mosquito A. aegypti no homem. O vetor adquire a capacidade de transmitir o vírus após o repasto sanguíneo infectado, apresentando um período de incubação de aproximadamente oito a doze dias. Desse modo, a transmissão ocorre no período de viremia, que obtém início um dia antes da febre e se estende até o sexto dia da doença (Brasil, 2002).

Trata-se de uma patologia presente em todo o território brasileiro, configurando-se como o maior instrumento de ações de políticas públicas no Brasil. Apresenta potencial em desencadear epidemias, como exemplo a epidemia de dengue que ocorreu no Brasil entre os anos de 2001 a 2003, apresentando um total de 1.564.112 casos notificados nesse período, e 217 óbitos. Além disso, verifica-se que a região Nordeste concentra o maior número de casos da doença, com aproximadamente 48,3% dos casos totais (Câmara et al, 2007).

Diante da alta incidência da dengue, observa-se fatores que propiciam a transmissão da mesma, abrangendo condições climáticas, como as estações chuvosas e altas temperaturas, visto que o mosquito apresenta um padrão comportamental sazonal; a presença de criadouros preferenciais, os quais influenciam na densidade do mosquito; e a domiciliação do vetor, passando de um ciclo silvestre para ser encontrado no habitat peridomiciliar (Donalísio; Glasser, 2002).

Desse modo, diante da alta prevalência da dengue no cenário brasileiro, e do desencadeamento de epidemias atuais, denota-se a importância que deve ser atribuída ao tema, de modo que verifique seus parâmetros atuais e contribua para o estabelecimento de estratégias eficientes de controle vetorial. Dessa maneira, a problemática instigadora para a realização do seguinte trabalho é: “qual é a situação atual da dengue no Brasil?”.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

A dengue é a mais importante das arboviroses, estando presente em cenário mundial. No Brasil, refere-se a uma doença negligenciada de elevada prevalência, obtendo seus primeiros casos relatados ainda no ano de 1685. Trata-se de um importante problema de saúde pública, com padrão de ocorrência em centros urbanos. Além disso, verifica-se o comportamento sazonal do mosquito vetor da doença, apresentando preferência em áreas tropicais, úmidas e quentes. Outrossim, ao analisar o cenário atual da doença, encontra-se números crescentes de casos de dengue, apresentando 1.040.481 casos no Brasil apenas no ano de 2020. (Menezes et al, 2021).

2.1 Quadro clínico

A infecção pelo vírus da dengue pode desencadear dois espectros clínicos: assintomático ou sintomático. Em pacientes sintomáticos, ocorrem manifestações sistêmicas, podendo ocorrer formas oligossintomáticas da doença ou evoluir para forma grave, a dengue hemorrágica. Geralmente, ocorrem três fases clínicas no curso da patologia: fase febril, crítica e de recuperação (Brasil, 2024).

Inicialmente, a fase febril apresenta duração de dois a sete dias, sendo regida de febre alta de início abrupto, podendo ser associada a sintomas gerais e inespecíficos, como exemplo cefaleia, dor retro-orbitária, mialgia, adinamia e artralgia. Além disso, podem ocorrer náuseas, vômitos, diarreia, anorexia e exantema maculopapular. Com o fim da fase febril, a maioria dos pacientes apresentam melhora progressiva do quadro (Brasil, 2024).

No entanto, a fase crítica ocorre em uma minoria de pacientes, apresentando início com o declínio da febre. Sinais de alarme também podem ocorrer nessa fase, como exemplo dor abdominal intensa e contínua, acúmulo de líquido em cavidades corporais, vômitos persistentes, lipotimia, hepatomegalia, letargia, irritabilidade e sangramento de mucosas. Por fim, a fase de recuperação ocorre em pacientes que passaram pela fase crítica da doença, sendo caracterizada pela melhora clínica (Brasil, 2024).

2.2 Dengue hemorrágica

A dengue hemorrágica é a forma de dengue grave mais importante, podendo estar associada a choque, desconforto respiratório e disfunção de órgãos. Qualquer um dos quatro sorotipos podem desencadear o quadro. No entanto, observa-se os sorotipos DEN-2 e DEN-3 associados com maior frequência a casos graves e óbitos (Dalbem et al, 2014).

Para a caracterização da febre hemorrágica proveniente da dengue, torna-se necessário a presença dos seguintes fatores: sangramento espontâneo, extravasamento de plasma, febre e trombocitopenia (Dalbem et al, 2014). Além disso, sinais de choque podem ser observados, os quais desencadearão hipoperfusão tecidual, resultando em acidose metabólica e coagulação intravascular disseminada (CIVD). Ainda em consequência do choque, podem ocorrer alterações cardíacas importantes, ocasionando insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida e miocardite. Por sua vez, o desconforto respiratório é proveniente de situações como síndrome da angústia respiratória aguda (SARA) e sobrecargas de volume (Brasil, 2024).

2.3 Diagnóstico

Para o estabelecimento do diagnóstico de dengue, torna-se necessário associar o quadro clínico do paciente com exames complementares e laboratoriais. Como exame padrão para auxiliar na confirmação da hipótese diagnóstica, encontra-se a sorologia diagnóstica, a qual possui a capacidade de detectar anticorpos específicos. No entanto, a mesma deve ser realizada após seis dias do início dos sintomas, com o intuito de aprimorar sua acurácia diagnóstica. Outro método laboratorial disponível é a imuno-histoquímica, detectando o vírus e seus antígenos virais. Entretanto, existem limitações em sua aplicabilidade, devendo ser realizada em até cinco dias do início dos sintomas (Saito et al, 2017).

Outros exames complementares que podem ser realizados para auxiliar o diagnóstico são o hemograma, objetivando a análise das plaquetas, hematócrito, hemoglobina e leucograma; e a prova de laço para detectar a presença de algum distúrbio hemorrágico, sendo realizada com a colocação de um garrote no membro superior do paciente por cinco minutos no adulto e três minutos na criança, esperando que haja o surgimento de petéquias na área delimitada pelo profissional examinador (Saito et al, 2017).

3 METODOLOGIA

A seguinte pesquisa é caracterizada como uma revisão sistemática de literatura de natureza descritiva. A mesma foi realizada pela coleta de dados disponíveis nos indexadores Google Acadêmico, Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), através da pesquisa dos descritores “dengue”, “dengue hemorrágica”, “febre hemorrágica da dengue”, “dengue no Brasil” e “Aedes aegypti”, utilizando-se os operadores booleanos “and” e “or” entre os mesmos, de forma isolada ou associada.

Com fins de selecionar os artigos encontrados na pesquisa inicial, determinou-se os critérios de inclusão e exclusão a serem utilizados. Dessa maneira, os critérios de inclusão são: artigos publicados a partir do ano 2000, artigos gratuitos e artigos disponíveis nos idiomas Inglês e Português. Já os critérios de exclusão definidos são: artigos duplicados, monografias, artigos com publicação anterior ao ano de corte definido, artigos pagos. Logo, foram encontrados na busca inicial 437 artigos científicos, e após o processo de seleção foram eleitos 12 artigos para comporem o estudo.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Inicialmente, ao ser realizada a pesquisa das palavras-chave nos respectivos indexadores indicados, foram encontrados um total de 437 artigos científicos. No entanto, após todo o processo de seleção dos estudos, foram selecionados 12 artigos para comporem a seguinte revisão de literatura. Os estágios de seleção estão ilustrados no fluxograma 1, envolvendo os trabalhos excluídos e leitura de seus componentes, como título, resumo e íntegra.

Fluxograma 1. Etapas de seleção dos estudos encontrados

Fonte: Elaboração por parte dos autores.

A partir da análise das informações encontradas nos estudos analisados, considera-se a dengue como uma doença tropical, desencadeando problemas de saúde pública em nível internacional, e não apenas circunscrito no Brasil, visto que existem mais de dois bilhões de pessoas vivendo em áreas de transmissão da doença. Dessa forma, com a propagação do vírus e de seu vetor, verifica-se a ocorrência de epidemias da dengue desde meados da década de 80, caracterizando um desafio importante para os órgãos de saúde pública (Mendonça; Souza; Dutra, 2009).

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), epidemias de dengue tendem a ocorrer a cada três a cinco anos, principalmente nas Américas, apresentando 2.811.433 de casos notificados no ano de 2022 nesse mesmo território. A primeira epidemia de dengue no Brasil ocorreu ainda no ano de 1981, no estado de Roraima. No entanto, houve disseminação da doença pelo país, estando presente atualmente em todas as unidades federativas (Brasil, 2023).

Em uma análise epidemiológica atual, nota-se aumento de 16,5% da quantidade de casos de dengue no Brasil, quando comparados os anos de 2022 e 2023. Desse modo, o ano de 2023 apresentou a incidência de 753,9 casos a cada 100 mil habitantes. Além disso, nesse mesmo ano, verificou-se maior incidência da doença na região Sul, seguida da região Sudeste. Quanto a circulação dos sorotipos, identifica-se maior prevalência do DEN-1 e DEN-2 em todo o território brasileiro, sendo acrescido do sorotipo DEN-3 nos estados do Pará, Acre e Roraima, norte do país (Brasil, 2023).

Devido a elevada transmissibilidade e incidência da dengue, estratégias de controle da doença são almejadas. No entanto, o comportamento vetorial é um importante desafio para a implementação das mesmas, visto que o mesmo apresenta uma importante capacidade de se adaptar em meios desfavoráveis para o seguimento de seu ciclo de vida, resistindo até mesmo à dessecação. Em síntese, a capacidade de proliferação do A. aegypti se associa a presença de condições sanitárias favoráveis, contribuindo para o surgimento de seus criadouros e para a transmissibilidade da patologia (Tauil, 2002).

Logo, devido a baixa eficácia e elevados custos atribuídos a estratégias de vigilância vetorial, as quais são insuficientes quando realizadas de maneira exclusiva com fins de interromper a transmissão da doença, a OMS estabelece uma preferência para o emprego de vacinas específicas para a dengue, de forma que propicie uma resposta imunológica duradoura contra todos os seus sorotipos, apresente pouca ou nenhuma toxicidade, obtenha custos viáveis e estabilidade em temperatura de refrigeradores. Sendo assim, objetiva-se seu uso em massa e a estipulação de grupos prioritários para a vacinação (Maciel; Júnior; Martelli, 2008).

5 CONCLUSÃO

A partir das informações expostas, conclui-se a complexidade dos desafios enfrentados para o controle da dengue, a qual aborda fatores ambientais, socioeconômicos e epidemiológicos, influenciando diretamente na propagação do vírus. Dessa maneira, a ausência de infraestrutura adequada no território brasileiro, associada a desigualdades socioeconômicas e questões educacionais, criam obstáculos para a implementação de medidas de controle eficientes. Ademais, a resistência do A. aegypti a inseticidas e as mudanças climáticas conferem desafios adicionais, necessitando de estratégias adaptativas a esse cenário e inovadoras.

Desse modo, abordando os desafios presentes no controle da dengue, é contundente considerar a implementação de variadas estratégias de prevenção, de modo que objetive conter a propagação viral. Aliadas a esse processo, obtemos iniciativas de educação pública, em que desempenham papéis relevantes na conscientização da população acerca das medidas preventivas, como eliminação de criadouros e proteção individual contra as picadas do vetor.

Ademais, programas de vigilância epidemiológica são de extrema importância para detectar surtos epidêmicos de maneira precoce, direcionando intervenções eficazes. Além disso, destaca-se o fortalecimento dos sistemas de saúde como medidas cruciais e eficientes no controle de epidemias, realizando a capacitação profissional e melhoria do acesso aos serviços de saúde.

Portanto, torna-se fundamental a parceria entre órgãos governamentais, instituições de pesquisa e a sociedade civil, desenvolvendo-se estratégias abrangentes de controle e prevenção. Assim, a integração de abordagens fundamentadas em evidências científicas, associadas com a participação da comunidade, pode contribuir para a redução da incidência da doença, auxiliando na melhora de seu impacto sobre a saúde pública e a qualidade de vida das populações afetadas.

REFERÊNCIAS

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