ASPECTOS ESTRUTURAIS E PERFIL HIGIÊNICO-SANITÁRIAS DE PANIFICADORAS EM MUNICÍPIOS DO VALE DO GUARIBAS NO ESTADO DO PIAUÍ

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10845558


Adelina Feitosa Nogueira Moreira¹; Luis Evêncio da Luz2; Joquebede Silva Alves3; Luisy Gabrielle de Oliveira Trindade4; Erika Maria Matos Rulim5; Fabiola Barbosa Dantas6; Thaís de Sousa Ferreira7; Raimundo Danilo Carlos de Sousa8; Kelio Morais  dos Reis9; Ana Clara de Oliveira Linhares Fontenele10.


Resumo 

O presente artigo aborda a relevância das Boas Práticas de Fabricação (BPF) em panificadoras, enfatizando o papel essencial do setor de panificação na economia brasileira. O estudo consiste em pesquisa de campo no Vale do Guaribas, Piauí, avaliando as condições higiênico-sanitárias de panificadoras. Utiliza abordagens quantitativas e qualitativas, aplicando uma lista de checagem com 47 itens baseada na RDC N°275/2002 da ANVISA. Os estabelecimentos são classificados de acordo com percentuais de adequação. Os resultados revelam que a maioria das panificadoras não segue as diretrizes e padrões normativos, sugerindo uma lacuna entre o conhecimento teórico e sua aplicação prática. O estudo destaca não conformidades em categorias como vestuário, asseio pessoal, manipulação de produtos e condições estruturais. Cerca de 60% das panificadoras no Vale do Guaribas não atendem às normas microbiológicas da ANVISA, apresentando riscos à saúde pública. A necessidade de adequação é evidente, mas a estratégia para alcançar a conformidade deve ser adaptada às circunstâncias únicas de cada estabelecimento. Conclui-se que a conscientização e implementação efetiva das Boas Práticas são cruciais para garantir a segurança alimentar e a qualidade dos produtos oferecidos pelas panificadoras no Vale do Guaribas.

Palavras-chave: Panificação; Boas Práticas de Fabricação, Segurança alimentar, Piauí. 

Introdução 

As padarias e panificadoras são empresas que produzem e vendem pães e produtos de confeitaria. Estes estabelecimentos comerciais deixaram de ser responsáveis apenas pela fabricação artesanal e venda de pães frescos, biscoitos, bolos e outras guloseimas, passando também a fabricar uma gama de produtos alimentícios, os quais, quando de qualidade, garantem o sucesso de vendas e satisfazem as exigências do consumidor (Casaril; Abreu, 2016).

Considerado um dos maiores setores industriais do Brasil, o comércio de panificação, constituído por mais de 63,2 mil estabelecimentos frequentados diariamente por cerca de 43 milhões de clientes, vem contribuindo de forma promissora na economia do País. Pesquisa realizada pelo Instituto Tecnológico (ITPC), em parceria com a Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria, declarou que o campo movimentou cerca de R$ 84,7 bilhões em 2015, um faturamento de 2,7% superior ao registrado no ano anterior (Abip, 2015).

As Doenças Veiculadas por Alimentos (DVAs) estão diretamente ligadas com a má produção e manipulação dos alimentos, embora vários sejam os fatores que contribuem para essa ocorrência, destaca-se, principalmente, a ingestão de alimentos contaminados ofertados à população com deficiência na qualidade. As BPFs são medidas aplicadas para garantir alimentos de qualidade nas prateleiras, chegando até o consumidor final alimentos seguros, sem oferecer riscos à saúde. (Rios, 2012).

Apesar da expansão do número de panificadoras, os maiores problemas encontrados nesses estabelecimentos são as precárias condições higiênico sanitárias dos setores de produção, juntamente com o tempo prolongado de armazenamento das farinhas, dos produtos processados e as práticas incorretas de higiene pessoal e manipulação dos alimentos (Bramorski et al., 2004; Cardoso; Miguel; Pereira, 2011).

O controle de qualidade em estabelecimentos produtores de alimentos é fundamental, principalmente em relação ao correto uso de equipamentos, na fabricação e nos serviços prestados. Para tal, tem-se como ferramenta indispensável para a obtenção de alimentos o manual de boas práticas de fabricação (MBP) (Shinohara et al., 2016).

De acordo com a RDC/216, “Boas Práticas” são procedimentos de higiene que devem ser obedecidas pelos manipuladores, desde a escolha e compra dos produtos a serem utilizados na produção do alimento até a venda para o consumidor, com o objetivo de evitar a ocorrência de doenças provocadas pelo consumo de alimentos contaminados (Brasil, 2004).

Com isso, o Ministério da Saúde publicou a resolução n° 275, de 21 de outubro de 2002 que disponibiliza um check-list, instrumento bastante utilizado para verificar as condições higiênico-sanitárias dos estabelecimentos, e a resolução n° 216, de 15 de setembro de 2004, com a finalidade de aprimorar as ações de controle higiênico-sanitário na área de alimentos (Brasil, 2002; Brasil, 2004; Ferreira; Silva; Souza, 2012).

Desta forma as panificadoras devem seguir o MBP para o processo de produção dos alimentos, em conformidade com as legislações vigentes, que regulamentam todas as indústrias de alimentos, garantindo produtos seguros e de qualidade (Cardoso; Miguel; Pereira, 2011).

O Território Vale do Rio Guaribas se estende por uma área de 22.059,4 km2, agrupando 36 municípios. A população residente nessa área totaliza 302.203 habitantes, sendo composto por pequenos municípios. Dos 36 municípios, 29 (81%) possuem população de até 10 mil habitantes, sendo 13 (36%) municípios com população inferior a 5 mil habitantes (MDA, 2014).

Frente a esse contexto, avaliar as condições higiênico-sanitárias de locais de produção e comercialização de alimentos, como as panificadoras, em municípios situados no Vale do Guaribas, no Estado do Piauí é relevante, uma vez que a ingestão desses alimentos contaminados pode causar diversas doenças para a população, configurando-se como um problema de saúde pública. O acelerado crescimento do conhecimento nos últimos anos tornou impraticável o ensino tradicional, baseado exclusivamente na transmissão oral de informação.

Revisão de Literatura

O ambiente alimentar diz respeito ao contexto físico, econômico, político e sociocultural em que os consumidores interagem com o sistema alimentar para adquirir, preparar e consumir alimentos. De acordo com Figueiredo e Costa Neto (2001), a qualidade para a indústria de alimentos faz referência ao aspecto segurança do produto, o que é sempre um fator determinante, já que qualquer problema pode afetar a saúde do consumidor. Serafim e Silva (2008) acrescentam que para eliminar os riscos de contaminação, sejam eles provocados por perigos físicos, químicos ou biológicos, as indústrias de alimentos vêm adotando medidas mais preventivas do que corretivas, como é o caso do Sistema APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle), associado às Boas Práticas de Fabricação (BPF).

A adoção do BPF representa uma das mais importantes ferramentas para o alcance de níveis adequados de segurança alimentar e com isso a garantia da qualidade do produto final. Em geral, as Boas Práticas consideram alguns pontos, dentro dos quais podemos citar práticas referentes à higiene pessoal, áreas externas, ventilação e iluminação adequadas, controle de pragas, facilidade de limpeza e manutenção dos equipamentos e controle de produção (Akutsu et al., 2005).

Segundo dados do PROPAN (2006), com 52 mil empresas em todo o país, faturando cerca de 3,3 bilhões de reais, a panificação nos últimos anos, é um dos segmentos que mais cresce na economia brasileira, sendo considerado um dos seis maiores segmentos industriais. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria da Alimentação – ABIA, as vendas nas panificadoras crescem cerca de 100 % ao ano, e saltaram em 2006, para R$ 8 bilhões em 2008. Sua participação no setor industrial de produtos alimentícios é de 36,2 %, e na indústria de transformação é de 7 % (Sebrae, 2010).

A segurança alimentar é considerada um desafio atual. Preconiza alimentos seguros, nutricional mente adequados e livres de contaminantes de origem química, física e biológica, que podem colocar em risco a saúde dos consumidores (Clemente, 1999; Goes et al., 2001). De acordo com estudos estatísticos da Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 60 % dos casos de doenças de origem alimentar decorrem do descuido higiênico-sanitário de manipuladores, das técnicas inadequadas de processamento e da deficiência de higiene da estrutura física, utensílios e equipamentos (OMS, 2010).

A razão da existência do BPF está em ser uma ferramenta para combater, minimizar e sanar as diversas contaminações. Logo, pode-se definir as Boas Práticas como procedimentos necessários para garantir a qualidade sanitária dos alimentos, oriundas de normas legais que têm o papel de auxiliar e principalmente orientar a garantia de qualidade de todos os processos da produção ou industrialização dos alimentos (Brasil, 2004).

Em relação a Boulos (1999), as Boas Práticas de Fabricação são normas de procedimentos para atingir um determinado padrão de identidade e qualidade a um produto ou serviço na área de alimentos, cuja eficácia e efetividade devem ser avaliadas através de inspeção e/ou investigação, cujas normas estabelecem métodos rigorosos de higiene com os equipamentos, ambiente, utensílios, um cuidadoso manuseio dos alimentos, cuidados pessoais, produzindo alimentos limpos, seguros e saudáveis. 

Como descrito na Resolução – RDC no 275, de 21 de outubro de 2002 (Brasil, 2002), as empresas produtoras/ industrializadoras de produtos alimentícios devem estar com seus índices microbiológicos sanitários para alimentos destinados ao consumo humano dentro dos padrões especificados pela mesma, aperfeiçoando ações de controle sanitário na área de alimentos, visando a proteção à saúde da população, criando um instrumento genérico de verificação das Boas Práticas de Fabricação aplicável à esses estabelecimentos e trazendo a Lista de Verificação que restringe-se especificamente às Boas Práticas de Fabricação de Alimentos. 

Metodologia 

Esse trabalho consiste em uma pesquisa de campo descritiva observacional e exploratória, com abordagens quantitativas e qualitativas, a fim de avaliar e caracterizar as condições higiênico-sanitárias e estruturais de panificadoras em municípios do Vale do Guaribas no Estado do Piauí. Os estabelecimentos serão selecionados com base em conveniência e maior fluxo de pessoal, onde todos serão identificados por números e pelo nome do município visando manter em sigilo o local das mesmas.

Ao chegar nos supermercados, realizar-se-á um levantamento observacional dos estabelecimentos, através da aplicação de uma lista de checagem contendo 47 itens, referentes ao vestuário, asseio pessoal, hábitos higiênicos, área de atendimento ao cliente, área de resíduos, higienização de equipamentos e utensílios e manipulação do produto, Para isso será utilizado um roteiro de inspeção (check-list) adaptado conforme a RDC N°275/2002 da ANVISA, contendo questões referentes sobre as condições de funcionamento dos estabelecimentos comerciais no quesito das condições higiênico-sanitárias das supermercados.

O check-list será aplicado e preenchido pela própria pesquisadora, no qual os itens que apresentarem conformidades aos padrões adequados serão computados como “SIM”, os itens que não possuírem conformidade corresponderá a “NÃO” e aqueles que não forem pertinentes à avaliação da lanchonete será considerado a resposta “NÃO SE APLICA” (NA).

Para realização dos cálculos, as respostas “SIM” serão contabilizadas por 1 ponto, enquanto a resposta “NÃO” possuirá o valor O. Os itens que apresentarem a resposta “NÃO SE APLICA” não será utilizado na soma final e será diminuído do total de itens. Para o cálculo do percentual de adequação global será usado a fórmula baseada na metodologia também realizada por SANTOS e FERREIRA (2016): % de adequação=(Total (SIM) )/(Total de itens-Itens NA) × 100

A referida avaliação definirá os percentuais de adequação, em: Bom (Grupo 1, 76100%), Regular (Grupo 2, 51-75%) e Deficiente (Grupo 3, 0-50%), classificação estabelecida na RDC 275/2002 da ANVISA, que define os procedimentos de Boas Práticas para esses estabelecimentos Produtores/ Industrializadores de Alimentos (Brasil, 2002). Os dados obtidos por essa avaliação e os cálculos serão todos digitados no programa Microsoft Excel® 2013, com uma planilha para cada local. Por fim, serão comparadas as informações. 

Resultados e discussão

 O Território do Vale Do rio Guaribas – PI é localizado no sudeste piauiense, é composto por 23 municípios: Alagoinha do Piauí, Alegrete do Piauí, Aroeiras do Itaim, Bocaina, Campo Grande do Piauí, Dom Expedito Lopes, Francisco Santos, Fronteiras, Geminiano, Itainópolis, Monsenhor Hipólito, Paquetá, Picos, Pio IX, Santana do Piauí, Santo Antônio de Lisboa, São João da Canabrava, São José do Piauí, São Julião, São Luis do Piauí, Sussuapara, Vera Mendes e Vila Nova do Piauí (Santos; Sousa; Lima; Lima, 2012).

Figura 1: Municípios do vale do rio guaribas. Figura 2: Estado do Piauí dividido pelas suas mesorregiões.

É interessante notar que, apesar do avanço socioeconómico demonstrado pelo desenvolvimento progressivo dos municípios em questão (Trece; Balassiano, 2022), nos encontramos num cenário único em que algumas localidades parecem estar inábeis para a presença de panificadoras. Esta diferença leva-nos a considerar os fatores que contribuem para esta lacuna entre o avanço tangível e os aspectos inexplorados da infraestrutura comercial. A ausência de pontos comerciais em alguns municípios pode ser atribuída a uma série de fatores inter-relacionados, incluindo económicos, sociais, geográficos e regulamentares. 

Cada comunidade pode ter uma combinação única destes componentes, que molda a paisagem comercial e influencia a presença deste tipo particular de estabelecimento. Questões demográficas e padrões de consumo podem ter impacto na viabilidade económica destes estabelecimentos, isto é, a instalação de panificadoras pode não ser vista como um investimento rentável para os empresários se a população local for pequena ou se os hábitos alimentares da região não indicarem uma necessidade significativa de produtos de panificação (Sebrae, 2022). Embora existam pequenos restaurantes e estabelecimentos do tipo lanchonete, o escopo deste estudo, que foca em padarias e panificadoras – produzem produtos alimentícios a partir de massa à base de farinha que depois é assada no forno, além de comercializá-los, não é congruente com essas modalidades de fornecimento de alimentos. Os vários parâmetros parecem justificar o fato de que em algumas localidades, na pesquisa de campo, não foi possível localizar nenhuma panificadora. Tais municípios seriam: Alagoinha do Piauí, Aroeiras do Itaim, Campo grande, Fronteiras, Monsenhor Hipólito, Paquetá, Pio IX, São Julião e Vera Mendes. Utilizando uma análise abrangente de 18 estabelecimentos comerciais, avaliou-se o índice de adequação e os estabelecimentos foram categorizados das seguintes formas: Grupo 1:

Três panificadores receberam classificação “bom” por superarem o padrão estabelecido de 76%.  Quatro panificadoras foram designados como “regulares”, apresentando índice de adequação entre 51% e 75%. Ademais, as 11 panificadoras restantes foram rotuladas como “deficientes” com taxas de adequação variando de 9,6% a 45,1%.  Como demonstrado no gráfico:

Gráfico 1: Classificação das panificadoras analisadas.

 A percentagem em discussão é derivada de um cálculo que multiplica por cem (100) a proporção do grupo específico para todos os panificadores. Esta metodologia oferece uma avaliação mais precisa de como as panificadoras estão distribuídas de acordo com suas respectivas classificações. Tal analise mostra que mais de 60% das panificadoras localizadas no vale do Rio Guaribas não atendem às diretrizes e normas microbiológicas da ANVISA.

Apesar do número significativo, é possível ressaltar que, já os outros 40% se apresentam em estado “bom” ou “regular”.

De forma mais incisiva, o gráfico 2 demonstra o índice de adequação de cada panificadora de forma isolada, a fim de fornecer uma análise completa de quais estabelecimentos estão em conformidade com as normas estabelecidas. Não foi possível observar uma relação com a proximidade dos municípios, ou qualquer outro tipo de padrão. Sendo assim as variações nos resultados não podem ser atribuídas a fatores geográficos ou culturais regionais que sejam exclusivos da área. Isto sugere que os fatores que influenciam a conformidade ou a não conformidade são quase certamente internos a cada estabelecimento, e podem ter a ver com a gestão, a formação dos funcionários, os recursos disponíveis, ou mesmo a consciência individual da importância das normas e práticas estabelecidas.

Gráfico 2: percentual de adequação das panificadoras.

Com exceção de Picos, que das quatro padarias analisadas, as 3 panificadoras com classificação “bom” 2 são da cidade, e outras 2 estão no grupo 2 classificado como “regular”.  A cidade que já foi cotada a capital do estado, confere a condição de polo comercial no Piauí, bem como para outros estados; particularmente para combustíveis, serviços e frutas. De acordo com o IBGE (2013), a região fiscal de Picos acumulou mais receitas do que as regiões fiscais combinadas de Parnaíba, Floriano e Campo Maior, ficando atrás apenas da região fiscal de Teresina. 

Por servir de modelo para cidades pequenas, ter uma grande base populacional e atender a diversas causas, são esperados mais estabelecimentos. Dentro de um aspecto mais amplo existem outras panificadoras na cidade mas longe do centro, estas atendem predominantemente bairros mais periféricos, desviando-se do núcleo urbano onde as atividades comerciais são mais intensas e consolidadas. 

Todos os estabelecimentos visitados apresentaram alguma inconformidade avaliada no checklist. Entretanto o destaque torna-se para aqueles que obtiverem resultado “deficiente” no índice de adequação. Aspectos relacionados a categoria 1, 2 e 3, que refere-se a vestuário, asseio pessoal e hábitos higiênicos, respectivamente, trazem grave prejuízo às condições higiênico sanitárias dos estabelecimentos. Em unanimidade, nenhuma panificadora apresentou o uso de equipamentos de proteção individual, O ministério da saúde enfatiza que sem o uso adequado de EPIs, há maior risco de contaminação dos alimentos por microrganismos encontrados nas mãos, cabelos, vias respiratórias e roupas dos manipuladores. 

Segundo a Organização mundial de saúde (2006) existe a possibilidade de sangue ou outros fluidos corporais contaminarem os alimentos se o manipulador sofrer um corte ou ferimento, além de aumentar as chances de contaminação cruzada. Apesar dos hábitos higiênicos estarem em sua maioria em conformidade, é importante reduzir a zero (0), pois qualquer lapso no processo de higiene pode levar à contaminação dos alimentos. Todos os anos, as doenças transmitidas através dos alimentos causam milhões de doenças e milhões de mortes em todo o mundo (OMS, 2015). E. coli, Salmonella e Listeria monocytogenes são exemplos de microrganismos patogénicos que podem prosperar em condições desfavoráveis e resultar em doenças de origem alimentar que podem ser evitadas através da adesão a práticas de higiene rigorosas (Jay; Loessner; Golden, 2005). 

Na categoria 4, que é a área de atendimento ao cliente, onde foi possível encontrar objetos em desuso e animais domésticos, pisos e paredes inadequadas, além da área de receber dinheiro é a mesma da manipulação de alimentos. A Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) nº 216/04 traz o requisito para uma unidade de serviço de alimentação compreende os seguintes aspectos: edificação, instalações, equipamentos, móveis e utensílios, controle de vetores e pragas urbanas, abastecimento de água, manejo de resíduos, higiene e saúde dos manipuladores, matérias-primas, ingredientes e embalagens, preparação do alimento, armazenamento e transporte do alimento preparado, exposição ao consumo do alimento preparado (BRASIL, 2004).

Importante também ressaltar que houve uma discrepância significativa com a área de produção. Este último apresentava sinais de evidente negligência e estava situado atrás do estabelecimento, fora do campo de visão dos clientes. A falta de monitorização adequada e a aparente falta de compromisso por parte da gestão e dos colaboradores conduziram a práticas abaixo da média, comprometendo potencialmente os padrões de higiene e qualidade que foram estabelecidos pela literatura e regulamentos relevantes.

O que traz mais adiante para a categoria 6, higienização de equipamentos e utensílios, que por sua vez não estavam sendo limpos com a frequência e eficácia exigidas pelas regulamentações sanitárias. Caso os utensílios não sejam limpos, possibilitarão a permanência de bactérias e fungos. Estes poderão entrar em contato com o alimento, vindo a tornar-se um problema grave. Desta forma, as primeiras superfícies das roupas devem ser limpas e enxaguadas para posteriormente serem higienizadas (Lopes, 2007). A louça deve passar constantemente por uma avaliação microbiológica para controle da eficiência do procedimento de higienização, evitando-se a contaminação dos alimentos produzidos (Pinheiro et al., 2010)   A categoria de número 5 e 9, referente ao manejo de resíduos e controle de vetores, estão e junção, devido à falta de Recipientes para coleta de resíduos no interior do estabelecimento, a não Retirada frequente dos resíduos, são fatores que atraem pragas. O lixo, além de atrair insetos e outros animais para a área de preparo dos alimentos, é um meio ideal para a multiplicação de micróbios patogênicos, conforme dados da ANVISA (2004).  De acordo com a legislação municipal de São Paulo (Portaria 2.619/11), o programa de controle de plantas daninhas e pragas urbanas deve consistir em medidas preventivas e corretivas, ser continuamente desenvolvido e levar em conta todas as medidas necessárias para evitar a atração, acesso, proliferação, e uso de desinfetantes que detêm pragas. Foi possível observar moscas em contato com os alimentos, mesmo quando em local apropriado na maioria dos estabelecimentos. 

Já na categoria 7, quanto a manipulação dos produtos, não foi possível observar área para lavagem das mãos, sabonete, produtos antissépticos, mesmo a área de manipulação doa alimento, sendo ao lado da área de pagamentos. Até mesmo produtos químicos e que seriam de limpeza e deviam estar em local apropriado não se encontravam, juntamente com os microrganismos, a contaminação química e física é uma preocupação; a presença de produtos químicos inadequados ou objetos estranhos nos alimentos pode representar sérios riscos à saúde (FAO/OMS, 2006). Portanto, é fundamental que os protocolos e práticas higiênicas sejam seguidos em todos os momentos, sendo fundamental o treinamento contínuo e a capacitação dos manipuladores (Brasil, 2004).  

Por fim a categoria 8, alusivo a instalações sanitárias, em sua grande maioria não eram para serviço dos clientes, sendo restrito apenas a funcionários e comunicação direta com a área de trabalho.  Ainda assim foi possível observar a ausência de sinalizações como a forma de lavar as mãos corretamente, sem os produtos necessários, o piso e as paredes estavam descascando, apresentando insatisfatório estado de conservação. Segundo a ANVISA, na higiene simples das mãos, devemos colocar uma quantidade suficiente de sabão líquido para cobrir toda a superfície da mão e fazer a técnica durante 40 a 60 segundos. (Brasil, 2018).

De forma geral as não conformidades trazem grande risco microbiológico para os clientes de determinadas panificadoras. É possível analisar suas deficiências pertinentes em cada uma e procurar melhorias individuais, além de incentivar os acertos. Se possível a analise microscópica de determinados pães, bolos etc. ofertados, para confirmar a contaminação dos produtos e promover de forma incisiva a mudança dos hábitos prejudiciais as saúde da população piauiense.

Conclusão

 Após uma análise sistemática das práticas utilizadas pelos panificadores em questão, descobre-se que a maioria não segue as diretrizes e padrões normativos estabelecidos pela literatura e órgãos reguladores. Este cenário sugere uma lacuna entre o conhecimento teórico disponível e sua aplicação prática no ambiente de produção. Embora possa ser viável implementar medidas adequadas para alterar esta situação, é crucial reconhecer que a solução não é a mesma para todos os estabelecimentos. Cada panificadora possui características e desafios únicos que exigem estratégias personalizadas. Como resultado, embora alguns possam beneficiar mais da formação e do desenvolvimento de competências, outros poderão necessitar de revisões estruturais ou de gestão. Concluindo, a necessidade de adequação é premente, mas a estratégia para alcançar a conformidade deve ser adaptada às circunstâncias únicas de cada estabelecimento.

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¹Adelina Feitosa Nogueira Moreira, graduanda em nutrição pela Universidade Federal do Piauí – CSHNB. E-mail: adelinafeitosanmoreira@gmail.com;
2Prof. Dr. Luís Evêncio da Luz, Orientador. E-mail: evencio@ufpi.edu.br;
3Joquebede Silva Alves, graduanda  em nutrição pela Universidade Federal do Piauí – CSHNB. E-mail: joquebedesilva@ufpi.edu.br
4Luisy Gabrielle de Oliveira Trindade, graduanda  em nutrição pela Universidade Federal do Piauí – CSHNB. E-mail: luisygabrielle@ufpi.edu.br
5Erika Maria Matos Rulim, graduanda  em nutrição pela Universidade Federal do Piauí – CSHNB. E-mail: erikarulim2018@gmail.com
6Fabiola Barbosa Dantas, graduanda  em nutrição pela Universidade Federal do Piauí – CSHNB. E-mail: fabioladantas18@ufpi.edu.br
7Thaís de Sousa Ferreira, graduanda  em nutrição pela Universidade Federal do Piauí – CSHNB. E-mail: thaissousa@ufpi.edu.br
8 Raimundo Danilo Carlos de Sousa, graduando  em nutrição pela Universidade Federal do Piauí – CSHNB. E-mail: danilocarlos@ufpi.edu.br
9 Kelio Morais  dos Reis, graduando em nutrição pela Universidade Federal do Piauí – CSHNB. E-mail: keliomorais27@ufpi.edu.br
10Ana Clara de Oliveira Linhares Fontenele, graduanda em nutrição pela Universidade Federal do Piauí – CSHNB. E-mail: anaclarafontenele@ufpi.edu.br