Dra. Miriam Ribeiro Calheiros de Sá (RJ)
Fisioterapeuta; Doutora em Ciências – Área Saúde da Criança pelo Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira – IFF/Fiocruz; Professora colaboradora e orientadora no Programa de Pós-Graduação do IFF/Fiocruz; Pesquisadora: Pesquisas e ações intersetoriais entre educação e saúde na promoção da escolarização e do desenvolvimento de crianças com síndrome congênita do Zika vírus na Baixada Fluminense.
Dra. Martha Cristina Nunes Moreira (RJ)
Doutorado em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro; Professora e orientadora no Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e da Mulher – Mestrado e Doutorado do IFF/FIOCRUZ; pesquisadora – linha de pesquisa Estudos sobre Adoecimento Crônico e Deficiência.
CONTEXTUALIZAÇÃO:
No curso da década de 90 do século XX, nota-se uma mudança epidemiológica no perfil de condições de saúde com o incremento de condições crônicas, incluindo aquelas de transmissibilidade infecciosa, com curso crônico. Wagner (1996, 1998) atento a essa mudança e suas intercessões com a organização dos sistemas de saúde e as demandas que o modificarão, propõe um modelo de cuidados as condições crônicas de saúde. Tais preocupações são pautas de agendas internacionais, que culminam com a síntese proposta no ano de 2003, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), intitulada Cuidados inovadores para condições crônicas: componentes estruturais da ação. Retomando tais discussões e situando-as no Brasil dos anos 2000, Mendes (2011, 2012) ratifica a necessidade de uma reorientação dos serviços de saúde, voltada a atenção a essa população de pessoas com condições crônicas de saúde. Incluídas nessa categoria todas as condições onde a saúde é afetada por monitoramentos, cuidados contínuos, alta demanda por serviços, ações de reabilitação e alto custo. Cabe em nossa análise apontar que nesses autores não há um destaque às crianças e adolescentes, especificamente aqueles que não somente vivem com condições crônicas, mas os que cursam com complexidades que ainda se configuram invisíveis muitas vezes aos dados oficiais (Moura et al., 2017).
DESENVOLVIMENTO:
As considerações sobre crianças nesse cenário de cronicidade, e os desafios ao sistema de saúde e seus custos, é inaugurada pela categoria condições crônicas complexas de saúde em crianças (Simon et al., 2010, Cohen, 2011, Berry et al., 2014) (Figura 1), reorientando as práticas voltadas a essa população, destacando que essas condições de saúde demandam cuidado complexos. Em 2014, Moreira, Gomes e Sá publicaram uma revisão da literatura nacional e internacional, e a partir da mesma, trazem uma definição sobre condições crônicas em crianças e adolescentes, que ainda dialoga com o descritor \”doença crônica\”, a saber: duração ou permanência da condição na criança por mais de 03 meses, ou recidivas clínicas em pelo menos 03 vezes no último ano, portanto uma condição de saúde duradoura ao longo da vida; comprometimento funcional, da sociabilidade e participação da criança e do adolescente devido a condição de saúde; necessidade de apoio para funções tais como, interação, comunicação, necessidade de suporte tecnológico para manutenção da vida; processo de vulnerabilidades (sociais, emocionais, comportamentais); necessidade de cuidado integral à saúde com equipes de especialistas em diversos campos de conhecimento.
Figura 1. Imagem representativa de uma criança com condição de saúde crônica complexa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
As condições crônicas de saúde que afetam crianças e adolescentes, principalmente se associadas à definição de complexidade, são variadas, com repercussões na vida pessoal, familiar e comunitária dessa população. As equipes de saúde devem desenvolver estratégias de cuidados ampliados em saúde, que alcancem os aspectos únicos das crianças, adolescentes e as famílias sob seus cuidados.
REFERENCIAS:
Berry JG; Hall M, Neff J, Goodman D, Cohen E et al. Children with medição complexity and medicaid: spending and cost savings. Health Affairs. 2014. 33(12): 2199-2206
Cohen E, Kuo DZ, Agrawal R, Berry JG, Bhagat SK, Simon TD, Srivastava R. Children with medical complexity: an emerging population for clinical and research initiatives. Pediatrics. 2011 Mar;127(3):529-38. DOI: https://doi.org/10.1542/peds.2010-0910.
Mendes EV. As redes de atenção à saúde. / Eugênio Vilaça Mendes. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2011. 549 p.: il.
Mendes EV. O cuidado das condições crônicas na atenção primária à saúde: o imperativo da consolidação da estratégia da saúde da família. / Eugênio Vilaça Mendes. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2012. 512 p.: il.
Moreira MCN, Gomes R, Sá MRC. Doenças crônicas em crianças e adolescentes: uma revisão bibliográfica. Ciênc. saúde coletiva [Internet]. 2014 July [cited 2020 Oct 30]; 19(7): 2083-2094. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232014000702083&lng=en. DOI: https://doi.org/10.1590/1413-81232014197.20122013.
Moura EC, Moreira MCN, Menezes LA, Ferreira IA, Gomes R. Complex chronic conditions in children and adolescents: hospitalizations in Brazil, 2013. Ciênc. saúde coletiva [Internet]. 2017 Ago [citado 2020 Oct 30]; 22(8): 2727-2734. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232017002802727&lng=es. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232017228.01992016.
Organização Mundial da Saúde. OMS. Cuidados inovadores para condições crônicas: componentes estruturais de ação: relatório mundial. Brasília, 2003.
Simon TD, Berry J, Feudtner C, Stone BL, Sheng X, Bratton SL, Dean JM, Srivastava R. Children with Complex Chronic Conditions in Inpatient Hospital Settings in the United States. Pediatrics 2010 Oct;126(4):647-655. DOI: https://doi.org/10.1542/peds.2009-3266
Wagner EH, Austin BT, Von Korff M. Improving outcomes in chronic illness. Manag Care Q. 1996 Spring;4(2):12-25.
Wagner EH. Chronic disease management: what will it take to improve care for chronic illness? Eff Clin Pract. 1998 Aug-Sep;1(1):2-4.
COMPLEMENTAR:
Moreira MCN. Aspectos conceituais das condições crônicas de saúde na criança e adolescente. Aula ministrada no curso “abordagem fisioterapêutica a crianças com condições crônicas complexas de saúde – linha de cuidado da equipe de fisioterapia do IFF na assistência hospitalar”. Outubro de 2020. http://Youtu.be/0ZI6ggwhPzE