REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11435474
RIBEIRO, Igor; SOUSA, Luiza Araújo; OLIVEIRA, Mariana Lourenço; PARDINI, Daniel Sousa; TONELLI, Stephanie Quadros; Orientador: Prof. Daniel Sousa Pardini; Coorientador(a): Prof (a). Stephanie Quadros Tonelli.
RESUMO
Introdução: Radix Entomolaris (RE) é uma raiz supranumerária localizada em posição distolingual, normalmente menor e mais curvada nos primeiros molares inferiores. Sua etiologia não é clara, mas apresenta uma frequência significativa. Metodologia: Os autores selecionaram dez artigos na íntegra para discussão e compreender as principais implicações das características da anatomia, diagnóstico e tratamento diante da complexidade do Radix entomolaris nos molares inferiores. Resultado: O sucesso do tratamento endodôntico, consiste na completa limpeza e modelagem dos sistemas de canais radiculares, assim como obturação tridimensional e selamento coronário adequado, muitas vezes complementado pela tecnologia, como a Tomografia Computadorizada que determina como padrão ouro na identificação do radix. Esta variação não aponta preferência de gênero, idade, posicionamento de lado mandibular, em contrapartida, o número de cúspides do molar inferior pode haver presença de raiz extra. E que requer adaptações para o tratamento. Conclusão: A identificação precisa da anatomia radicular, incluindo a presença de Raízes Entomolaris, é fundamental para que o profissional esteja proficiente das possíveis variações, a realização da correta conduta assim consequentemente para o sucesso endodôntico minimizando possíveis complicações.
Palavras-chaves: radix entomolaris; molar inferior; tratamento endodôntico; diagnóstico.
1 INTRODUÇÃO
O conhecimento da anatomia dentária, incluindo formas variantes, é determinante para o sucesso do tratamento endodôntico. Diante disso, a terapia endodôntica depende da completa limpeza e modelagem dos sistemas de canais radiculares, obturação tridimensional e selamento coronário adequado (PINHEIRO et al., 2022; MENDES et al., 2017). Carabelli (CARABELLI, 1844) descreveu pela primeira vez na literatura, a presença de uma raiz adicional lingual dos molares inferiores denominada Radix Entomolaris (RE).
Tradicionalmente, a forma mais comum de um primeiro molar inferior tem sido descrita resumidamente como um dente com duas raízes, com dois canais na raiz mesial e um ou dois canais na raiz distal (JAVED et al., 2023). A principal variante é a presença de uma terceira raiz acessória na face lingual do dente, denominada radix entomolaris, que se trata de uma raiz extranumerária. Essa raiz, por sua vez, consta menor do que as raízes mesial e distal, pode ser separada ou parcialmente fundida com as outras raízes e tem uma curvatura severa na maioria dos casos (BETANCOURT et al., 2022). Ainda assim, existe uma classificação do radix dividida em três tipos diferentes mencionadas por (PIAI, 2021; MOOR, 2004), sendo a classificação Tipo 1: uma raiz reta; Tipo 2: apresentando curva no terço coronal e reta a partir de então; e Tipo 3: uma curva inicial no terço coronal do canal radicular e uma segunda curva começando no meio e continuando até o terço apical.
Clinicamente, o exame radiográfico é considerado um procedimento indispensável para a avaliação e identificação do RE. Embora a radiografia seja uma representação de imagem bidimensional de um elemento tridimensional, a alteração da angulação do feixe pode fornecer informações adicionais e também pode-se lançar mão de uma tomografia para um exame mais detalhado. Dentro dessa sistemática, o radix pode ser identificado através de um diagnóstico criterioso, é realizado a partir radiografias periapicais as quais devem ser feitas em diferentes ângulos ou por uma tomografia para uma adequada interpretação, o que irá ajudar a identificar a dimensão da câmara pulpar e a anatomia radicular (WANG et al., 2011).
Em 2011, (WANG et al., 2011), classificaram radiograficamente o RE em três tipos e determinaram a melhor angulação do feixe horizontal do raio X para diagnóstico do RE. Os três tipos de características radiográficas típicas em radiografias ortorradiais são: Tipo I (visualização do RE entre as raízes mesial e distal), Tipo II (RE um pouco atrás da raiz distal) e Tipo III (não visualização do RE, pois este se encontra atrás da raiz distal). Radiografias com ângulo horizontal mesial de 25 graus adicionais são essenciais para a identificação pré-operatória e avaliação do RE, especialmente os tipos II e III.
Em contra partida, a sondagem periodontal também pode facilitar a identificação do radix, assim como lupas para magnificação de imagem, microscópios odontológicos, câmara intraoral, outro método relevante é realizar a coloração do assoalho da câmara pulpar com azul metileno a 1% e o efeito borbulhante do hipoclorito de sódio quando em contato com restos pulpares do canal disto-lingual (GIRELLI et al., 2022).
Essa variação anatômica dos molares inferiores são condições clinicamente relevantes, que quando não identificadas aumentam a chance de incapacidade no tratamento endodôntico, pois irá resultar na permanência de material microbiano no conduto radicular. Diante disso, o profissional deve se atentar a fatores indicativos da presença do RE, como cúspide extra, convexidade cervical, proeminência do lobo distolingual, variação morfológica, podendo assim representar problemas endodônticos.
Consequentemente, para atingir um tratamento endodôntico eficaz, o cirurgião- dentista deve apresentar um conhecimento profundo sobre a anatomia dos canais radiculares, assim como suas diversidades anatômicas, devendo apresentar clareza sobre sua prevalência, morfologia, configuração do canal, diagnóstico e abordagem clínica.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
O primeiro molar inferior permanente é considerado na literatura o dente que assume a maior parte da força de mordida máxima, desempenhando uma função mastigatória significativa para a saúde e a eficiência do sistema estomatognático. Por conseguinte, isso ocorre porque os primeiros molares inferiores são os primeiros dentes permanentes a erupcionarem na boca, geralmente por volta dos 6 anos de idade (KANTILIERAK et al., 2019). Além disso, este grupo de dentes têm um grande número de fossas e fissuras na superfície oclusal, demonstram um efeito de autolimpeza deficiente. Portanto, os primeiros molares inferiores têm alto risco de lesão cariosa, sendo o elemento dentário mais propenso a ser submetido a um tratamento endodôntico.
Tradicionalmente, a morfologia de acordo com a literatura, fala que o primeiro molar inferior tem sido descrito resumidamente como um dente com duas raízes principais, uma raiz mesial e uma raiz distal. Além disso, com dois ou três canais: um na raiz mesial, que geralmente são mais curvos, e um ou dois canais na raiz distal, frequentemente mais largo e mais reto. Entretanto, sofre diversas variações em sua anatomia, podendo ser encontrada raízes extras. Por exemplo, a presença de uma terceira raiz é conhecida como radix entomolaris, localizada na raiz distal do lado lingual, citada pela primeira vez em 1844 por Carabelli (CARABELLI, 1844).
A raiz extra, denominada radix entomolaris, pode ser encontrada em molares inferiores, tanto nos primeiros e segundos, apesar da literatura relatar uma maior prevalência em primeiros molares (MENDES, 2018). Além disso, os primeiros e segundos molares mandibulares exibem uma morfologia de raiz dupla. Por exemplo, o primeiro molar pode apresentar cerca de 0% a 2,6% de chances de exibir uma raiz supranumerária, enquanto que o segundo molar possui uma prevalência de 1,8% a 2,7% (PINHEIRO et al., 2022).
O canal extra na raiz distal é a variação anatômica mais comum encontrada nos molares inferiores, com uma prevalência de 25,5%. Quando realizada uma abertura coronária de boa qualidade, são facilmente localizados a partir da observação do assoalho da câmara pulpar. Normalmente, a entrada do canal distal encontra-se centralizada entre as paredes vestibular e lingual: logo, se estiver localizada mais para lingual ou vestibular, a existência de outro canal radicular é altamente provável (MENDES, 2018; VERTUCCI, 1984). Os autores (KANTILIERAKI et al., 2019; TAHA et al., 2024) ressaltam que para o acesso coronário na cavidade do elemento dentário realizar uma extensão para distolingual, uma modificação prática na técnica endodôntica em resposta à presença do RE. Enquanto a abertura coronária de um molar inferior geralmente segue uma forma triangular, a presença de um canal ou raiz extra, demanda uma adaptação para uma abertura coronária de forma quadrangular ou trapezoidal.
No exame radiográfico, os canais radiculares nem sempre são claramente visíveis, especialmente na região apical (terço apical) dos dentes, pois essa região tende a ser mais complexo em termos de anatomia radicular, incluindo a sobreposição de estruturas adjacentes. Além disso, (PINHEIRO et al., 2022) destaca que há a limitação da radiografia bidimensional em fornecer uma representação totalmente precisa da estrutura tridimensional dos dentes e dos tecidos circundantes. Essas sobreposições e distorções podem tornar difícil para o cirurgião – dentista interpretar completamente a imagem radiográfica. Por conseguinte, podem requerer técnicas adicionais, como radiografias com a técnica de Clark. Por outro lado, outros métodos, como CBTC, microscópio e lupas odontológicas, são ferramentas valiosas na odontologia para um diagnóstico preciso e uma melhor conduta dos profissionais, aumentando a segurança e eficácia dos procedimentos endodônticos.
O insucesso endodôntico pode estar associado à persistência de infecção devido a um canal perdido ou à eliminação ineficiente de microrganismos e restos de polpa necrótica durante a instrumentação química mecânica. Aprofundando a reflexão, (FILPO-PÉREZ et al., 2014) menciona que 58,66% das falhas foram atribuídas à incompleta obturação do canal. A segunda maior causa de falha foi a perfuração radicular, representando 9,61% dos casos. Constando assim, as duas maiores causas de fracasso são a obturação incompleta e imperfeita instrumentação.
3.1 INTRODUÇÃO
A polpa dental [20] é um tecido conjuntivo frouxo, constituído de células, matriz extracelular, vasos sanguíneos e nervos. A espessura da dentina secundária aumenta com o passar dos anos, diminuindo o volume da polpa dental. No dente do adulto, a polpa se caracteriza por ser pobre em células, suprimentos sanguíneo, linfático e nervosos. As principais alterações patológicas que acometem a polpa e os tecidos perirradiculares são de natureza inflamatória e de etiologia infecciosa, sendo a inflamação a principal resposta da polpa e dos tecidos perirradiculares a uma gama variada de estímulos que causam injúria tecidual [20].
Diante disso [10], o sucesso do tratamento endodôntico consiste no conhecimento da anatomia radicular interna e externa, realizando uma completa instrumentação, limpeza e obturação correta dos canais radiculares. Logo [21], devido a falta de conhecimento anatômico, erros de procedimento podem surgir, levando ao fracasso no tratamento. Os estudos descobriram que o número e a estrutura dos canais radiculares diferem entre os dentes. Somando isso, os molares, por sua vez, apresentam grande complexidade anatômica e por isso inúmeros estudos foram feitos para aumentar o conhecimento sobre eles [21]. Diante disso, molares inferiores apresentam duas raízes, mesial e distal, e três canais radiculares, denominados mésio-vestibular, mésio-lingual e distal, mas podem ainda apresentar raízes fusionadas ou extras (radix), istmos e canais extras, tanto na mesial (canal mésio-mesial) quanto na distal. [21].
Desta forma, uma terceira raiz adicional, mencionada pela primeira vez na literatura por Carabelli, com uma breve descrição sobre essa variação anatômica nos molares inferiores, é chamada de radix entomolaris [2]. Essa raiz adicional apresenta vários termos posicionais (raiz disto-lingual, raiz disto-lingual supranumerária, raiz extra disto-lingual, raiz distal adicional e raiz distal extra) quase substituíram completamente o termo mais comum ‘RE’ na literatura odontológica e antropológica recente [6]. Porém BLOK (1915), nomeou essa raiz de “praemolarica”, pois considerava que seria uma manifestação de um terceiro pré-molar, por acreditar que essa raiz adicional só era encontrada em primeiros molares inferiores. Como também foi encontrada em segundos e terceiros molares inferiores, LENHOSSEK (1922), renomeou esta raiz como Radix Entomolaris [2].
O canal extra na raiz distal é a variação anatômica mais comum encontrada em molares inferiores, com uma prevalência de 25,5%, na qual pode se apresentar como radix entomolaris, quanto localizada lingualmente, e radix paramolaris, quando localizada vestibularmente [2]. O RE ocorre nos primeiros, segundos e terceiros molares inferiores, sendo encontrado com menor frequência nos segundos molares inferiores [2]. Quando realizada uma abertura coronária de boa qualidade, são facilmente localizados a partir da observação do assoalho da câmara pulpar. Esta raiz supranumerária está localizada em posição distolingual, normalmente menor e mais curvada nos primeiros molares inferiores, sendo que, a entrada do canal distal encontra-se centralizada entre as paredes vestibular e lingual, logo, se estiver localizada mais para lingual, ou vestibular, a existência de outro canal radicular é altamente provável [2].
A etiologia da RE ainda não está clara, mas diversos estudos demonstram que fatores genéticos, raciais e étnicos podem afetar a forma e a morfologia das raízes e dos canais radiculares dos molares [15]. Diante do mencionado, o RE varia de 3 a 5% nas populações africanas, caucasianas e indígenas e até 30% nas populações com características mongóis, como chineses, esquimós e americanos. Populações de países americanos como os Estados Unidos e o Brasil apresentam uma prevalência de 2,2% e 4,2%. Contudo, como a população brasileira é miscigenética, com ancestrais da Europa, África, indígenas, tribos e muitas outras etnias, acredita-se que a frequência de ER no território brasileiro pode ser maior do que em outros países [3].
A determinação da curvatura do canal radicular é um procedimento fundamental para o planejamento endodôntico, permitindo o planejamento preciso da instrumentação do canal radicular [15]. Para isso, a fim de evitar falhas em perceber a curvatura e os raios do canal antes do tratamento que podem levar a erros de preparação – zíperes apicais, perfurações, bloqueios do canal ou separação do instrumento – podendo deixar o canal despreparado e comprometer o resultado do tratamento, é lançado mão da tomografia computadorizada de feixe cônico (TCFC).
Em síntese [15], para o sucesso do tratamento endodôntico de todos os canais do dente, o diagnóstico radiográfico desempenha um papel fundamental. O RE pode ser diagnosticado por radiografias periapicais com mudanças no feixe horizontal ou por TCFC. Apesar do seu uso generalizado, as radiografias periapicais produzem imagens limitadas, como as mudanças morfológicas, a densidade óssea, a volta dos ângulos de raios-X e contraste que influenciam a interpretação. Contudo, por melhor que seja a radiografia e por mais conhecimento que o clínico tenha, ela reproduz uma imagem bidimensional de um objeto tridimensional, resultando em sobreposição de estrutura sobrejacente. Para isso, a tomografia computadorizada de feixe cônico (TCFC) surgiu como uma ferramenta útil para auxiliar no diagnóstico de dentes com anatomias radiculares complexas, ajudando na identificação de estruturas anatômicas essenciais e na determinação do ângulo de curvatura do canal radicular que está relacionado à fratura do instrumento como o RE e, diante disso, a falta de informação pode interferir na condução de um diagnóstico preciso.
3.2 MATERIAL E MÉTODOS
Este estudo compõe-se em uma revisão de literatura realizada no período de Janeiro a Junho de 2024 realizou-se uma busca nas bases de dados PubMed, BVS e Google Acadêmico, utilizando como descritores os seguintes descritores: radix entomolaris; estudos de prevalência; diagnóstico de radix, tratamento endodôntico; estudos clínicos, o que resultou em 90 artigos encontrados na base de dados PubMed, no Portal Regional da BVS foram encontrados 105 artigos e no Google Acadêmico foram encontrados 37 artigos, totalizando um total de 232 artigos.
Foram incluídos neste trabalho os artigos publicados entre 2020 a 2024, foram considerados artigos de revisão da literatura, revisão sistemática, estudos de relatos de caso, pesquisa in vitro, tanto na língua portuguesa e inglesa, sobre raízes extras em dentes permanentes e o qual abordasse sobre o diagnóstico do Radix Entomolaris, destacando a importância do conhecimento anatômico para a terapêutica endodôntica, sua definição, características morfológicas, prevalências e diagnóstico totalizando, assim, dez estudos. Foram excluídos 222 depois da leitura de seus resumos que não apresentavam informações condizentes com o objetivo deste estudo. (FIGURA 1)
Foram excluídos artigos em outros idiomas que não fosse o português e o inglês, que citasse outras variações anatômicas, que tratasse de Radix Entomolaris em dentes decíduos, artigos não sendo públicos, junto com os que foram classificados como estudos laboratoriais e que não tinham relação com o objetivo do presente estudo. Para a seleção dos artigos, o primeiro passo foi incluir os artigos utilizando as palavras chaves e cujos os títulos continham informações condizentes com os objetivos desta pesquisa, posteriormente esses artigos foram selecionados e fez-se a leitura dos resumos, para excluir os que não possuíam relações com este estudo.
Por fim, os artigos que foram selecionados nesta segunda etapa, foram lidos na íntegra, para que os autores pudessem compreender todas as suas particularidades e assim discuti-los. Finalizada a coleta dos dados, assim aplicados os critérios de inclusão e exclusão, os estudos que estavam dentro dos parâmetros pré-estabelecidos, foram selecionados, e por fim foram analisados e discutidos.
3.3 RESULTADO E DISCUSSÃO
TABELA 1: Etapas de busca e seleção de artigos em revisões sistemáticas da literatura.
Os resultados com relação as variações anatômicas dos molares inferiores têm sido estudadas para avaliar sua prevalência: com relação ao paciente (sexo e idade) e ao tipo de dente (primeiro ou segundo molar inferior), ao aspecto da coroa e assoalho pulpar, a conformidade/morfologia dos canais radiculares, a influência da utilização de exames e tecnologias complementares e até mesmo à técnicas de instrumentação [10].
A raiz terciária é caracterizada principalmente por seu tamanho menor e curvatura significativa em relação às raízes primárias, o que exige atenção durante a terapia endodôntica [3]. Os molares inferiores são os dentes que apresentam diversas variações anatômicas na disposição e números de canais. Além do mais, o primeiro molar pode apresentar cerca de 0% a 2,6% de chances de exibir uma raiz supranumerária, enquanto que o segundo molar 1,8% a 2,7% [2].
Essa diversidade de configurações anatômicas do RE pode ser um desafio endodôntico para os cirurgiões dentistas. Nesse sentido, a frequência da RE varia consideravelmente devido a variações na herança étnica ou na morfologia dental, sugerindo uma origem genética específica, enquanto outros consideram o RE como uma anomalia genética [9].
No estudo 71,72% dos pacientes apresentaram simetria bilateral de RE e a prevalência de primeiros molares inferiores com três raízes foi maior em homens do que em mulheres [5]. Já em contrapa, foi realizado um estudo na Universidade de Sichuan, de outubro de 2017 a março de 2018, na qual foram analisadoso número de raízes e canais, a morfologia do canal radicular e a taxa de detecção do RE nos diferentes grupos de acordo com o sexo e suas simetrias bilaterais foram analisados pelo teste Qui-quadrado. Nos resultados obtidos a simetria bilateral se destacou em mais de 70% dos casos quanto ao número de raízes, número de canais e a morfologia deles, apresentando maior incidência de três raízes dos molares do lado esquerdo. Diante da incidência por gênero, não foi encontrado diferenças estatisticamente significativas entre pacientes do sexo masculino e feminino. Essa constatação sugere que a presença da terceira raiz não está associada a uma preferência por determinado gênero [9].
Aprofundando a reflexão, uma descoberta importante foi a falta de diferenças estatisticamente significativas na frequência de terceira raiz entre os lados esquerdo e direito dos molares inferiores. Essa constatação sugere uma distribuição uniforme dessa variação anatômica em ambos os lados da mandíbula, enfatizando a importância de uma abordagem bilateral durante o tratamento endodôntico [9].
A inspeção clínica da coroa do dente e a análise da morfologia cervical das raízes com uma sondagem periodontal também podem facilitar a identificação de uma raiz adicional. Uma maior proeminência da cúspide distolingual, em combinação com uma proeminência ou convexidade cervical, pode indicar a presença de uma raiz extra. Em relação ao acesso, pode-se optar por uma abertura quadrangular ou trapezoidal em vez da tradicional triangular. De acordo com a lei da simetria, há uma equidistância entre o orifício do canal e a linha traçada de mesial a distal através do assoalho da câmara pulpar, de modo que o uso de outro acesso permitiria um maior campo de visão [3].
A técnica de Clark,é de fundamental importância no diagnóstico do RE. Nesta técnica, o paciente é submetido à baixa dose de radiação, quando comparada às tomografias; em contrapartida, resulta em imagens bidimensionais, onde as informações não tem tanta precisão [2].
Dentro dessa sistemática [3], a presença de um maior número de cúspides nem sempre implica em um aumento proporcional no número de raízes. No entanto, é importante notar que a adição de uma raiz adicional está quase sempre correlacionada com um aumento no número de cúspides. Esta relação complexa entre o número de cúspides e raízes, como evidenciado pela variação anatômica da RE, aponta para a necessidade de uma análise mais aprofundada para compreender completamente sua interconexão.
Um estudo recente realizado na Faculdade de Odontologia da Universidade de La Frontera, Temuco, Chile, entre novembro de 2014 e dezembro de 2020 buscou investigar essa prevalência em uma amostra de 111 pacientes, que contemplavam indivíduos com idades entre 18 e 75 anos e formação radicular completa. Os resultados revelaram uma prevalência de terceira raiz de 5,7% nos MFM permanentes examinados, com um total de 12 casos identificados dentro da amostra. Contudo, um fator predisponente associado à presença de uma terceira raiz é a etnia, na qual vários estudos realizados em diferentes regiões demonstram que a frequência de ocorrência de ER varia em relação à população estudada e à sua localização geográfica. Esses achados indicam a importância de considerar a possibilidade da presença dessa variação anatômica durante o diagnóstico e planejamento do tratamento endodôntico [9].
Nesse mesmo estudo [9], foi explorado o papel da tomografia computadorizada de feixe cônico (TCFC) na visualização e avaliação do RE em molares inferiores com três raízes (PMFM), destacando que a TCFC se tornou uma ferramenta valiosa para o diagnóstico e tratamento endodôntico, permitindo a visualização em três dimensões de estruturas anatômicas dentárias de difícil acesso. Destacam as vantagens da Tomografia Computadorizada de Feixe Cônico (TCFC), como a menor dose de radiação em comparação com a Tomografia Computadorizada de cone Beam (CBTC) e a capacidade de fornecer detalhes mais precisos do que as radiografias periapicais e panorâmicas.
Por outro lado, há algumas limitações e desafios no uso de métodos de imagem, como radiografia e tomografia computadorizada, na detecção do RE [8]. Foi observado que alguns o RE apenas em um plano sagital de raio-X. O estudo de caso relatado na Clínica de Odontologia da Pós Graduação em Endodontia do Centro Universitário – UNIT [2], ilustra a importância da tomografia computadorizada Cone Beam na confirmação do RE. Assim, o autor aborda as diferentes técnicas radiográficas utilizadas na Odontologia, destacando a técnica de Clark como fundamental na Endodontia para o diagnóstico do RE.
O estudo realizado na FACSETE (Faculdade de Sete Lagoas) [1], oferece uma análise detalhada das características e desafios associados ao tratamento do canal do RE. Um ponto destacado é a natureza do RE, que geralmente é mais curto e mais curvado do que os outros canais radiculares. O autor aponta que o RE tem uma média de comprimento de aproximadamente 18,09 mm, com uma curvatura prevalente no sentido distolingual.
Dessa forma, a análise da curvatura do canal radicular é fundamental para o sucesso de procedimentos endodônticos e a frequência com que os canais se unem deve ser considerada durante o alargamento e obturação. A curvatura do canal e a união dos canais podem influenciar na seleção e o manuseio dos instrumentos endodônticos, e a fratura de instrumentos dentro do canal pode ocorrer com mais frequência em canais curvos devido ao aumento do estresse mecânico. [22]
No que diz respeito ao manejo endodôntico [19], o autor destaca a necessidade de adaptações no acesso e no uso de instrumentos específicos para lidar com a variação anatômica do RE. Além disso, destaca a importância da irrigação adequada com soluções como o hipoclorito de sódio (NaOCl) e o ácido etilenodiaminotetracético (EDTA) como parte integral do tratamento. Isso garante a limpeza e desinfecção eficazes dos canais radiculares, fundamental para o sucesso do tratamento endodôntico. Ao oferecer informações abrangentes sobre a prevalência, diagnóstico e manejo endodôntico do RE, o estudo fornece orientações valiosas para clínicos que encontram essas variações anatômicas durante o tratamento endodôntico, auxiliando na tomada de decisões e na execução de procedimentos precisos.
Ademais, é importante ressaltar o conhecimento detalhado da anatomia e das técnicas endodônticas pelo clínico, enfatizando a necessidade de uma avaliação pré-operatória minuciosa da morfologia do canal radicular. É destacado também o papel crucial dos primeiros molares inferiores na função mastigatória, destacando a necessidade de cuidados especiais ao tratá-los durante o tratamento endodôntico. A discussão apresentada oferece uma visão abrangente da incidência da raiz adicional em diferentes tipos de dentes em diversas populações ao redor do mundo [8]. O autor [8] relata incidências de raiz adicional em diferentes tipos de dentes em variadas populações. Por exemplo, a raiz acessória foi relatada em aproximadamente 0,8% dos primeiros molares superiores permanentes na população Grécia-Turquia, cerca de 8% nos segundos pré-molares mandibulares permanentes na população indiana. Além do mais, o autor destaca dados específicos sobre a prevalência de primeiros molares inferiores com três raízes (PMFMs) em diferentes regiões.
Além disso, vale ressaltar que um tratamento endodôntico de sucesso consiste na completa limpeza e modelagem dos sistemas de canais radiculares, assim como obturação tridimensional e selamento coronário adequado [10].
A partir dessa perspectiva, oferece uma visão abrangente das questões relacionadas à prevalência, morfologia e diversidades anatômicas do Radix Entomolaris (RE), bem como destaca a importância do diagnóstico preciso, abordagem clínica adequada e sua relevância no contexto do tratamento endodôntico. Ao ressaltar a necessidade de uma abordagem cuidadosa e detalhada para enfrentar desafios complexos desta variações anatômicas, ele sublinha a importância da educação continuada para os profissionais da odontologia e o uso de tecnologias avançadas de imagem, como a Tomografia Computadorizada de Feixe Cônico (TCFC), para melhorar a precisão do diagnóstico e o planejamento do tratamento. Em suma, essas são estratégias eficazes para preencher lacunas no entendimento do profissional e o tratamento das variações anatômicas durante o tratamento endodôntico, promovendo melhores resultados clínicos e satisfação do paciente.
3.4 CONCLUSÃO
O tratamento endodôntico apresenta como principal característica a remoção de bactérias presentes no canal radicular e prevenção de possíveis reinfecções. Consiste na realização da completa limpeza dos condutos radiculares que se encontram contaminados, assim como a obturação e o selamento coronário. O conhecimento do profissional da odontologia sobre a anatomia e curvatura dos sistemas de canais radiculares, identificando as variações anatômicas existentes, como a presença de raízes extras, tal como o Radix Entomolaris. Considerando isso, o Radix Entomolaris, apresenta-se como uma raiz severamente curvada, com localização predominantemente distolingual e um canal radicular fino de difícil acesso, devendo ser considerado durante o alargamento e obturação dos canais para a seleção dos instrumentos endodônticos necessários, impedindo possíveis fraturas dos instrumentos que podem ocorrer nestes tipos de canais. Contudo, para a realização de uma adequada terapia endodôntica é essencial o correto diagnóstico, com o auxílio de radiografias e tomografias computadorizada de feixe cônico (TCFC) para que o profissional esteja proficiente das possíveis variações, para realização da correta conduta e consequentemente para o sucesso endodôntico.
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