AS TICs COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA PARA ESTUDANTES COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12587853


Alessandra Cristina Carvalho de Oliveira
Marineusa Soares Goulart
Susan Krapp da Silva Possamai


RESUMO

Embora o Transtorno do Espectro Autista apresente um tripé de manifestações clínicas, cada indivíduo apresenta comportamentos distintos. Em sala de aula compreender esses comportamentos e necessidades é importante para que o professor adote metodologias que favoreçam as aprendizagens desses estudantes. Diante disso, o presente artigo tem por objetivo é analisar a utilização das TICs no atendimento aos estudantes com TEA no Colégio Estadual José Fonseca, localizado no município de Valença. A abordagem da pesquisa foi qualitativa. A pesquisa bibliográfica e a aplicação de questionários foram os instrumentos de coleta de dados. A pesquisa revelou que mesmo em face da precariedade dos aparatos tecnológicos disponíveis para o atendimento aos estudantes com autismo, os professores conseguiram aumentar o interesse deles nas aulas, por meio do uso imagens, mensagens e vídeos, utilizando os computadores da escolas e os aparelhos celulares dos alunos.

Palavras-chave: Educação; tecnologias; escola.

INTRODUÇÃO

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do desenvolvimento de origem orgânica, especificamente, causado por lesão no encéfalo, comprometendo o sistema límbico (região orbifrontal). A origem desse distúrbio é genética, no entanto seus detalhes ainda estão estudos. Basicamente, o TEA é caraterizado por um tripé de manifestações, a saber: alterações na interação social, alterações na linguagem e no comportamento. De acordo com Relvas (2015), a lesão encefálica característica do TEA pode ocasionar quadros neurológicos variados como: deficiência intelectual, transtorno de atenção com hiperatividade, crises epiléticas, défices motores, falta de coordenação, disgnosias e apraxias. Assim, no sentido de oportunizar uma melhor qualidade de vida para essas crianças é essencial o atendimento multidisciplinar.

É importante salientar que nos últimos anos o diagnóstico de TEA cresceu vertiginosamente, desafiando pais, professores e demais profissionais no processo de inclusão dessas crianças. Essa situação reforça a necessidade de que os estudos nessa área alinhem os diagnósticos psiquiátricos aos aspectos sociais e familiares, a fim de satisfazer as necessidades dos portadores de TEA, bem como de oferecer suporte às famílias. Por outro lado, é imprescindível que as famílias apresentem a escola o laudo médico com as particularidades do estudante, a fim de que a equipe pedagógica construa estratégias pedagógicas diferenciadas, capazes de atender as necessidades do mesmo.

Em face de tantos desafios no fazer pedagógico com estudantes autistas, a pandemia de Covid-19, instaurada em 2020, desafiou ainda mais os profissionais da educação. As aulas no sistema remoto e, posteriormente, no híbrido, evidenciaram o abismo social da educação no Brasil. Os estudantes com acesso a tecnologias digitais e a internet tiveram melhores condições de acompanharem as atividades nessas modalidades de ensino, ao passo que os demais ficaram relegados aos estudos por meio de apostilas e atividades enviadas pelo aplicativo WhatsApp. A falta de acompanhamento dos professores promoveu grande lacuna na construção dos conhecimentos por parte desses estudantes. Assim, ao se evidenciar os estudantes com TEA a situação é ainda mais caótica, porque, além da falta de acompanhamento da escola, muitos ficaram sem acompanhamento das terapias complementares, em face do fechamento das unidades de atendimento.

Diante disso, essa pesquisa traz à luz uma questão atual a ser abordada no dia a dia da escola, a saber: Como as Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) podem contribuir para melhor os processos de ensino e as aprendizagens dos estudantes com Transtorno do Espectro Autista?

É inegável a essencialidade da comunicação e do estímulo as diferentes linguagens para a aprendizagem significativa. Assim, a principal hipótese dessa pesquisa é que as TICs contribuíram com o aumento da participação/interesse dos estudantes com TEA que são atendidos no Colégio Estadual José Fonseca. Por tudo isso, o objetivo geral do artigo é analisar a utilização das TICs no atendimento aos estudantes com TEA no Colégio Estadual José Fonseca, localizado no município de Valença.

É importante destacar que a escolha por essa temática esteve ancorada na vida pessoal da primeira autora, posto que a mesma tem um filho com TEA e observou a melhoria no desenvolvimento da leitura e do raciocínio rápido após o uso do aparelho de celular como instrumento de apoio para a aprendizagem. E, além disso, o tema perpassa pela vida profissional dos outros autores, que são professores e puderam constatar uma maior interesse e diálogo nas aulas quando foi utilizado o aplicativo WhatsApp.

Diante do exposto, no aspecto operacional o estudo se justifica na necessidade de oferta de um atendimento de qualidade para essas crianças e suas famílias, conforme assegurado nos dispositivos legais vigentes no Brasil, a saber: a) Constituição Federal de 1988, que trata dos direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros; b) Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9.394/1996) que assegura educação regular aos estudantes com transtornos e necessidades especiais; bem como garante adaptações curriculares, metodológicas e organizacionais. E, ainda, determina atendimento por profissionais especializados.  E, a c) Lei 12.764/2012, que instituiu a política nacional de pessoas com TEA. E no que concerne ao aspecto teórico-metodológico a justificativa se assenta no aprofundamento do debate sobre as abordagens e ações estratégicas para o atendimento dessas pessoas. 

O tema abordado na pesquisa é de fundamental relevância no trabalho docente, posto que a escola tem atendido cada vez mais estudantes com necessidades específicas. Do ponto de vista acadêmico a pesquisa se justifica no aprofundamento do debate que amplia a literatura referente a essa temática. E, por fim, do ponto de vista pessoal, a realização desse estudo contribuirá com a atividade profissional dos autores.

No que concerne a abordagem metodológica a pesquisa é qualitativa. Segundo Neves (1996) “os métodos qualitativos se assemelham a procedimentos de interpretação dos fenômenos que empregamos no nosso dia a dia, que tem a mesma natureza dos dados que o pesquisador qualitativo emprega em sua pesquisa” (p. 30). Em confluência com essa abordagem foi adotado o estudo de caso, que consiste, segundo Yin (2005, p. 32) “uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real”.

 Em relação aos procedimentos de coleta de dado adotou-se o questionário. Esse instrumento de coleta foi constituído por um conjunto questões abertas, que foi enviada aos professores pelo email pessoal de cada um deles e foi respondido sem a presença dos pesquisadores. A escola possui um quantitativo de 28 professores e 14 deles responderam o questionário, contabilizando 50% do total. Markoni e Lakatos (2008) descrevem algumas vantagens e desvantagens da utilização de questionários como fonte de coleta de dados.

No que confere as vantagens as autoras elencam: respostas rápidas e precisas; maior liberdade nas respostas e segurança, em virtude do anonimato; menores riscos de distorção devido a influências do pesquisador; o tempo de resposta será no horário mais favorável para o pesquisado e; maior uniformidade na avaliação. Já as desvantagens são: pequeno percentual de pessoas que devolvem os questionários respondidos; não é possível ajudar ao informante quando ele não compreende alguma pergunta; como a leitura prévia de todas as questões uma resposta pode influenciar na outra. Uma questão importante a ser destacada é que segundo as autoras, somente 25% dos questionários são devolvidos. No caso da pesquisa em questão esse quantitativo foi de, aproximadamente, 30%, posto que a escola conta com um quadro de 48 professores, mas somente, 15 responderam ao questionário.

As perguntas que compuseram o questionário foram: “Quais as principais manifestações observadas no estudantes autista atendido por você?”; “Quantos anos ele/ela tem?”; “Quantas vezes por semana o atendimento é realizado?”; “Como é realizado o trabalho com os estudantes?”; “Você observou alguma diferença na evolução nos processos de aprendizagem/comportamento do estudante ao utilizar TIC? E quais foram?”; “O que você avalia como essencial no atendimento ao estudante com TEA? Por que?”; Quais foram as TICs utilizadas? E porque foram escolhidas?”

É importante destacar que o Colégio Estadual José Fonseca está localizado no município de Valença, Região Sul do estado do Rio de Janeiro. Possui Ensino Fundamental Anos Iniciais e Anos Finais e Ensino Médio nas modalidades Ensino Regular, Curso Técnico Integrado e Educação de Jovens e Adultos (INEP, 2020).

CARACTARÍSTICAS DO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA)  E A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE

A origem da palavra autismo é proveniente do grego “autos”, que significa “de si mesmo”. A partir dos estudos de Kanner, em 1943, muitos pesquisadores se dedicaram a observação de comportamentos psicopatológicos em crianças, formulando questões referentes ao chamado transtorno autista. Por muitos anos o autismo foi classificado com um tipo de esquizofrenia infantil (VARGAS, 2011). Somente nas décadas de 1970 e 1980 que os estudos sobre autismo alavancaram em face a revisões de literaturas de casos clínicos. Na oportunidade foram identificados três grupos distintos dentro do espectro autístico: síndrome de Asperger, Autismo de funcionamento alto e Autismo baixo funcionamento, quando se considera o nível intelectual (TAMANAHA et al., 2008).

Atualmente, com os estudos mais avançados, sabe-se que as características do autismo podem variar de indivíduo para indivíduo, mas, de maneira geral, o comportamento pode ser caracterizado como: não estabelecimento de contato visual com outras pessoas; parece não escutar; a linguagem pode ser desenvolvidas, mas por causas não conhecidas pode cessar; parece não se importar com o que acontece com as pessoas e com seu entrono; agressões sem motivos; inacessibilidade frente a tentativas de comunicação; restrição a exploração do ambiente; desenvolvimento de gestos imotivados; cheira ou lambe os objetos e; apresenta insensibilidade a ferimentos. (RELVAS, 2015).

A autora supracitada chama a atenção para alguns aspectos referentes ao autismo: (1) é possível que crianças autistas, apresentem inteligência normal e fala adequada; (2) a maioria das crianças diagnosticadas com autismo não apresentam lesões cerebrais (diagnóstico por exames) e; (3) há casos em que a lesão neurológica pode não restringir a área de comportamento, no entanto, outras áreas cerebrais podem estar lesadas.

Dito isto, um desafio para os educadores é filtrar o excesso de informações do dia a dia e; oferecer atividades pedagógicas, que sejam capazes de “chamar atenção”. Especificamente, no caso da abordagem realizadas para portadores de autismo é fundamental que a equipe de acompanhamento do estudante seja multidisciplinar, pois, os profissionais juntos definirão as metas e as habilidades mais importantes, bem como investigarão o comportamento, a fim de melhorar a qualidade de vida do mesmo.

É sabido que cada pessoa com TEA tem comportamento próprio, mas de maneira geral, a equipe multidisciplinar conta com os seguintes profissionais: (1) neurologista; (2) psicólogo (analista do comportamento); (3) fonoaudiólogo; (4) psicopedagogo; (5) terapeuta ocupacional e; (6) fisioterapeuta. É sempre importante destacar que, embora, cada profissional tenha uma área de ação, o trabalho desenvolvido precisa caminhar na promoção do bem-estar do indivíduo. Nesse sentido, no campo da psicopedagogia, o educador poderá oferecer terapia ocupacional a partir de atividades, que desenvolvam a psicomotricidade, bem como definam um plano de estudos individualizados.

Em consonância com as atividades desenvolvidas com o psicopedagogo recomenda-se um treino de Atividades da Vida Diária (AVD), que são atividades relacionadas aos cuidados pessoais e a mobilidade. No entanto, é importante salientar que quando a realização dessas tarefas for dificultosa para a criança, é necessária uma intervenção mais focada do terapeuta ocupacional. As tarefas como escovar os dentes e tomar banho precisam ser estimuladas para criar essas habilidades na criança.

Como descrito, anteriormente, o autismo está relacionado ao comprometimento do sistema límbico. Este, por sua vez, se integra intimamente aos processos emocionais e cognitivos. Nesse sentido, é fundamental uma investigação minuciosa sobre o comportamento da criança, pois as “ áreas cerebrais envolvidas no controle motivacional, na cognição e na memória fazem conexões com diversos circuitos neurais”. (BARRETO e SILVA, 2009, p. 387).

Assim, além do treinamento das AVD junto a terapia ocupacional, é necessário orientar a família para a inclusão da criança no desenvolvimento dessas atividades e nas brincadeiras.  Há uma incrível abrangência de comportamentos requisitados durante as brincadeiras entre as crianças pequenas, uma vez que estas são capazes de reunir atividades físicas e mentais que corroboram para o seu pleno desenvolvimento. Ou seja, é fundamental que a família seja parceira nas atividades propostas, realizando as tarefas propostas pela equipe multidisciplinar no ambiente familiar.

A intervenção terapêutica ocupacional objetivará (para esta proposta de atividade) a ampliação da capacidade de independência da criança TEA, oportunizando a apropriação de habilidades necessárias ao bem-estar emocional, bem como promovendo sua aproximação com relações sociais.

Para tanto se propõe a utilização de recursos psicomotores, adaptação/modificação do ambiente, a fim de que o desempenho funcional seja mais eficiente. Além disso, sugere-se métodos de estimulação, objetivando o desenvolvimento de outras habilidades, tais como coordenação motora e interesse de realizar tarefas sem comandos de outra pessoa, que são essenciais para a realização das atividades diárias.

De maneira geral, a psicomotricidade faz parte de todas as atividades relacionadas a motricidade das crianças, contribuindo para seu conhecimento e domínio do corpo, bem está relacionada ao desenvolvimento global e uniforme, por isso, a essencialidade de estimular as crianças e, principalmente, aquelas portadoras de TEA em fase às suas particularidades. É importante destacar que o “desenvolvimento psicomotor mal constituído poderá apresentar problemas na escrita, na leitura, na direção gráfica, na distinção de letras, na ordenação de sílabas, no pensamento abstrato e lógico, na análise gramatical, entre outras. ” (ROSSI, 2012, p. 2).

As atividades psicomotoras são aquelas que alinham o movimento muscular e o sistema nervoso. Elas são importantes, porque a partir do controle motor a criança cria a base para aprendizagens mais complexas. Outros benefícios podem ser conquistados com o desenvolvimento da psicomotricidade, tais como: interação social, desenvolvimento da linguagem, equilíbrio, postura, locomoção e consciência de tempo e espaço.

No sentido de contribuir com o desenvolvimento das crianças com TEA, Cordeiro e Silva (2018) propõem uma abordagem relacional da psicomotricidade.  Segundo, os autores essa abordagem se difere de outras terapias psicomotoras, porque ela considera o corpo da criança como sendo prioritário em relação aos seus aspectos cognitivos. O elemento central da psicomotricidade relacional é que ela “visa privilegiar a qualidade da relação afetiva, a disponibilidade tônica, onde o corpo e a motricidade são abordadas como unidade e totalidade do ser, almejando o bem-estar integral do indivíduo”. (CORDEIRO e SILVA, 2018, p. 5).

Desse jeito as crianças aprendem a se relacionarem consigo para depois se relacionar com outras crianças/pessoas. É importante que as intervenções sejam feitas de forma lúdica e interativa, a fim de que a criança aprenda a se relacionar, a identificar suas emoções, seus limites e capacidade de se expressar.

As diferentes abordagens terapêuticas são necessárias, posto que as etiologias do autismo são múltiplas, dentre as possibilidades, consideram-se as causas orgânicas e as de caráter psíquico. No âmbito da genética, Oliveira e Sertié (2017) apontam para os seguintes padrões: herança monogênica comum; herança oligogênica e herança poligênica. Além disso, as investigações de Portolese (2017) apontam causas ambientais, tais como: exposições tóxicas, insultos perinatais e infecções pré-natais.

Além disso, Coleções publicadas pelo Fiocruz, em 2018, apontam para o autismo como sendo um dos efeitos neurotóxicos provocados pelos agrotóxicos. Nesse interim, cabe destacar que os Brasil é um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo, conforme aponta Moraes (2019). 

O TEA possui diferentes aspectos comportamentais, entretanto, para o fechamento do diagnóstico é preciso acompanhar a criança e analisar suas particularidades (OLIVEIRA e SERTIÉ, 2017). E nesse sentido, a participação da família é muito importante na definição das melhores abordagens, posto que é ela que convive cotidianamente com a criança.

A TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO (TICs) E OS ESTUDANTES COM TEA DO C. E. JOSÉ FONSECA

          Os processos de ensino e as aprendizagens foram extremamente impactados pela pelo avanço tecnológico e pela popularização da internet e dos aparelhos celulares. Atualmente, dominar os conteúdos da aprendizagem não é mais suficiente. É preciso que os professores criem estratégias e metodologias para que esses conteúdos sejam acessados pelos estudantes. Entretanto, uma questão muito importante a ser abordada na sala de aula é que acesso à internet não necessariamente é sinônimo de acesso a informações/conhecimento. Quando idealizamos uma educação de emancipatória e de qualidade buscamos atender aos objetivos do desenvolvimento e formação de uma sociedade mais equânime. E, nesse sentido, o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação –TIC precisa ganhar cada vez mais espaço.

          Todavia, voltamos a atentar para o fato de que o conhecimento é construído por meio da análise crítica da realidade, das reflexões e da compreensão das dicotomias que perpassam o dia a dia da vida em sociedade. É importante manter esse horizonte, pois a utilização das TICs tem sido cada vez mais popular e mais precoce, mas é preciso que sejam usadas, respeitando as fases do desenvolvimento e as particularidades de cada estudante. Ou seja, embora seja popular, é preciso atenção e sensibilidade dos professores, principalmente, quando a referência são estudantes com TEA.

          O novo paradigma de organização social e econômico está articulado a informação, “como instrumento de geração de conhecimento, exerce um papel vital na produção de riqueza e no auxílio para o bem-estar e qualidade de vida das pessoas. ” (GOMES, 2018, p. 5). Sendo assim, o pré-requisito para a Sociedade da Informação prosperar é terem acesso às TICs e os que não tiverem acesso, serão excluídos. Aliás, essa situação ficou evidenciada no período das aulas remotas, onde muitos estudantes sem acesso às TICs não assistiram as aulas online.

          Dito isto, os profissionais da educação foram duplamente desafiados. Primeiro, como construir os processos de ensino-aprendizagem com os estudantes sem acesso às TIC e, segundo, como atender o estudante com TEA que, além disso, ainda requer uma atenção específica?  De fato, é preciso reconhecer que durante as aulas remotas o atendimento aos estudantes com TEA ficou prejudicado em face da falta de acesso às TIC.

          Entretanto, os professores utilizaram os recursos disponibilizados pela escola e os aparelhos celulares dos estudantes objetivando melhorar os processos de ensino e as aprendizagens. No que concerne especificamente ao ensino de estudantes autistas, Pires (2014) destaca

Que o computador constitui a base de várias soluções sendo, por si só, já uma vantagem óbvia, como por exemplo na utilização da internet, de hipertexto de hipermédia que beneficiam, em maior ou menor dimensão, a exploração interativa em qualquer tipo de NEE. As aplicações de produtividade, comuns com as suas várias opções, podem ser um auxílio em variadas situações, assim como diferentes tipos de software pedagógico. (PIRES, 2014, p. 49-50)

          O autor ainda apresenta algumas soluções tecnológicas específicas para autistas, como por exemplo, o sistema de comunicação aumentativa e adaptativa, que é um sistema e comunicação para pessoas com necessidades especiais, como os autistas, utilizado nas escolas em Portugal.  Com o avanço tecnológico outras ferramentas/estratégias digitais são desenvolvidas, mas não são popularizadas nas salas de aulas, principalmente, na rede pública de ensino, agravando ainda mais o abismo social no Brasil.

          Uma questão trazida pelo estudo de Pires (2014) em relação ao uso de TIC com autistas se refere ao grau de motivação dos estudantes, pois é preciso que haja interatividade com a ferramenta tecnológica escolhida bem como boa comunicação e fácil utilização para que a tecnologia tenha o efeito esperado. Nesse sentido, é interessante utilizar tecnologias que sejam de conhecimento dos estudantes como computador e celular e, quando houver a introdução de novas, o ideal é que elas sejam de fácil manejo.

          No que se refere as particularidades dos estudantes autistas atendidos na escola, estão dentro da faixa etária que varia de 10 a 15 anos de idade. E, de acordo com os professores as principais características apresentadas por eles são: estereotipias acentuadas; sensibilidade ao toque e aos gritos dos colegas; inquietação; inibição; falta de atenção e um aluno com episódios de agressividade e outro com “mania de perseguição”.  É necessário destacar que o TEA apresenta comorbidades médicas e neuropsiquiátricas, que justificam os comportamentos descritos pelos professores. Dentre as comorbidades neuropsiquiátricas destacam-se: Deficiência Intelectual (DI); Epilepsia e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

          Segundo, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais

A deficiência intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual) caracteriza-se por déficits em capacidades mentais genéricas, como raciocínio, solução de problemas, planejamento, pensamento abstrato, juízo, aprendizagem acadêmica e aprendizagem pela experiência. Os déficits resultam em prejuízos no funcionamento adaptativo, de modo que o indivíduo não consegue atingir padrões de independência pessoal e responsabilidade social em um ou mais aspectos da vida diária, incluindo comunicação, participação social, funcionamento acadêmico ou profissional e independência pessoal em casa ou na comunidade (APA, 2014, p. 31).

          Já a Epilepsia é uma comorbidade comum ao quadro clínico de TEA. É caracterizada por alteração temporária e reversível do funcionamento cerebral e que se expressa por crises epiléticas repetidas, podendo se manifestar de diferentes formas. Há casos em que as crises são imperceptíveis, dificultando o diagnóstico (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).

          Em relação ao TDAH o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais explica que

O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento definido por níveis prejudiciais de desatenção, desorganização e/ou hiperatividade-impulsividade. Desatenção e desorganização envolvem incapacidade de permanecer em uma tarefa, aparência de não ouvir e perda de materiais em níveis inconsistentes com a idade ou o nível de desenvolvimento. Hiperatividade-impulsividade implicam atividade excessiva, inquietação, incapacidade de permanecer sentado, intromissão em atividades de outros e incapacidade de aguardar – sintomas que são excessivos para a idade ou o nível de desenvolvimento. Na infância, o TDAH frequentemente se sobrepõe a transtornos em geral considerados “de externalização”, tais como o transtorno de oposição desafiante e o transtorno da conduta. O TDAH costuma persistir na vida adulta, resultando em prejuízos no funcionamento social, acadêmico e profissional. (APA, 2014)

          Quando perguntados sobre os atendimentos aos alunos com TEA, os professores apontaram para uma frequência que varia de 1 a 5 vezes, correspondendo aos dias da semana que os estudantes estão assistindo aula. Na rotina da sala de aula, eles relataram que os alunos contam com apoio de monitora para a auxilio no desenvolvimento das atividades diferenciadas. Uma professora relatou que explicava as atividades para a turma de dedicava atenção para o estudante com TEA.

          No que se refere a diferença nos processos de ensino-aprendizagem na utilização por meio da utilização das TICs em sala de aula, os educadores responderam que os alunos tiveram “mais clareza ao responderem os jogos educativos”; “mais interesse em participar nas aulas”; “maior interesse pela escrita” e “maior interesse nos jogos matemáticos”. Um dos professores relatou que a exibir vídeos e imagens nas aulas, o interesse dos alunos aumentaram. Os professores usaram os computadores e os aparelhos celulares dos estudantes para desenvolverem as atividades.

O uso do computador por alunos com Necessidades Educacionais Específicas – NEE pode ajudá-los a desenvolver habilidades importantes para que, de maneira independente, possam explorar e exercitar suas próprias ações; essas habilidades têm provocado um impacto muito grande na vida desses alunos, enriquecendo sua capacidade intelectual, sua autoestima e colocando-os em contato com sua capacidade de aprender e de se desenvolver cognitiva e emocionalmente. (Souza, 2015, p. 353)

          É importante destacar que a utilização das TICs deve ser estimulada para sala de aula, objetivando incluir os estudantes com TEA, entretanto, outros elementos pedagógicos são essenciais para isso. E, para tanto. Questionamos aos professores o que seria essencial no atendimento aos estudantes autistas e dentre as principais respostas, destacam-se: “Conhecimento do Transtorno do Espectro Autista”; “Entender do que esse aluno gosta, pois, a partir daí consigo fazer um trabalho diferenciado”; “A convivência com a criança”; “A interação e a socialização”; “O conhecimento da realidade do estudante e a parceria com a família”. Sobre isso Oliveira e Thereza (2018) consideram:

Em atenção às características do TEA, essas pessoas necessitam de estímulo constante, que carecem de fazer parte do seu interesse para que tenha um significado. Daí a indispensabilidade de uma abordagem diferente, com esse tratamento divergente desejamos que os alunos com tais deficiências tenham a oportunidade de realizar tarefas que anteriormente não eram acessíveis a eles, pois ao trabalhar-se com uma interface e conteúdo de multimídia adaptados especificamente para pessoas com déficit sensoriais, elas terão as mesmas oportunidades dos outros demais alunos, e aos poucos irão desenvolvendo/aprimorando suas habilidades de coordenação motora fina, percepção, memoria, identificar pessoas, objetos e figuras, e consequentemente promovendo sua inclusão, desta forma, suprindo a ausência de materiais para orientar pais e professores. (OLIVEIRA e THEREZA, 2018, p. 573).

Dentre os papéis da família nos processos de ensino-aprendizagem destaca-se o estabelecimento de relações saudáveis entre seus membros, a fim de fomentar relacionamentos interpessoais assentados no respeito e na empatia. A partir disso, a escola, também como agente socializante e formador, encontrará suporte para consolidar uma educação, verdadeiramente, significativa.

          Quando a questão se refere ao processo formativo de estudantes com TEA o apoio/ participação dos familiares na vida escolar se faz ainda mais necessária. A escola e, principalmente, a sala de aula são espaços plurais, demandando dos profissionais, sensibilidade e conhecimento para considerar as particularidades específicas de cada estudante na construção do conhecimento.

          De maneira geral, a melhor abordagem a ser utilizada com estudantes autista é que consiga mesclar a utilização de TICs com outros métodos, a fim de que o aluno tenha oportunidade de conhecer ferramentas pedagógicas que melhor se adequem as suas necessidades. E, nesse sentido, cabe ao professor, sensibilidade para perceber as melhores estratégias a serem adotadas nesse percurso. Por outro lado, não podemos esquecer que o atendimento especializado é um direito assegurado na legislação vigente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

          Embora as TICs estejam cada vez mais popularizadas a realidade nas escolas públicas ainda requer atenção, pois os professores têm acesso a rede de internet precária e a computadores ultrapassados, no caso específico do suporte para o trabalho com estudantes autistas não basta apenas esses aparatos. É preciso formações continuadas para que os professores conhecem tecnologias que possam atender os estudantes.

          Existem software que auxiliam no trabalho com autistas, mas é pouco divulgado nas escolas. Os professores desenvolvem o trabalho com esses estudantes contanto com a orientação da equipe pedagógica, mas ainda assim falta suporte tecnológico para que o trabalho seja mais efetivo. Mas, de maneira geral, mesmo em face dos poucos recursos tecnológicos disponíveis, os professores conseguiram aumentar o interesse nas aulas por parte dos estudantes com TEA ao usarem as TICs como ferramenta pedagógica.

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1  Mestranda em educação, pós graduada em Meio ambiente, pós graduada em Uso da Cannabis,  graduada em Ciências Biológicas pelo Centro Universitário da Grande Dourados (1998). ORCID: https://orcid.org/ 0000-0003-0760-1741
CURRÍCULO LATTES:   http://lattes.cnpq.br/0922145514083200
CARGO OU DEPARTAMENTO DE ATUAÇÃO: Professora de Biologia do Estado do Rio de Janeiro
INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR A QUE O AUTOR SEJA VINCULADO:  Universidade Europeia do Atlântico (UNEATLANTICO)
Mestre da educação UNIDADE: Campus da instituição, colocar se fizer pertinente.
E-MAIL: alessandraoliver07@gmail.com
TELEFONE: 24-992473798

2 Mestranda em Educação, Especialização, Pedagogia em Anos Iniciais.
ORCID:https://orcid.org/0000-0002-5961-0087
CURRÍCULO LATTES: Informar currículo Lattes se houver
CARGO OU DEPARTAMENTO DE ATUAÇÃO: Professora na rede Municipal de Biguaçu/SC
INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR A QUE O AUTOR SEJA VINCULADO: Universidad Internacional Iberoamericana – UNINI Puerto Rico (UNINI) MESTRE EM EDUCAÇÃO. UNIDADE: Polo de Florianópolis/SC – Brasil ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA: Rua Domingos Romão, 870 – São José/SC
E-MAIL: marineusasg@gmail.com

3 mestranda em educação