REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10728658
Michelle Kosiak Poitevin1
Resumo
O planeta é mais urbano que rural. As pessoas são essenciais para as cidades. A saúde é essencial para as pessoas. As cidades podem promover a saúde humana ao invés de doenças. O reconhecimento do papel do ambiente na saúde atribuiu ao lugar a capacidade de explicar os padrões de vida, saúde, doença e morte dos indivíduos. Este estudo teve como objetivo compreender as relações entre saúde pública e saúde urbana por meio de uma revisão sistemática da literatura. A revisão selecionou artigos abertos, publicados na base Web of Science como indexador científico que relacionavam o tema de saúde urbana e saúde pública no dia 3 de fevereiro de 2024. Foram encontrados 1.526 resultados que após aplicação de filtros específicos e os fatores de inclusão e exclusão restaram 388 artigos para a revisão. O tema central resultou em saúde urbana que conectou a outros seis clusters como: contexto epidemiológico, dados estatísticos, sistemas de saúde, políticas públicas, meio ambiente urbano e indicadores. A bibliometria e a revisão sistemática permitem acesso ao estado da arte dos artigos publicados em indexador científico. Nesta pesquisa a análise das palavras-chaves respondeu a pergunta proposta apresenta uma forte correlação entre saúde pública e saúde urbana nos artigos, com destaque para a atividade física e o ambiente construído. Esta relação é bastante presente, todavia, a literatura nos acrescenta mais elementos importantes entre estes dois temas como a saúde mental, por exemplo, que teve pouca referência nos artigos analisados. A melhora na qualidade de vida da população resulta num aumento da expectativa de vida. Portanto, as cidades são estratégicas para promover a saúde humana e oferecer oportunidades saudáveis na vida urbana. Além disso, buscar fortalecer a correlação entre saúde pública e saúde urbana para oferecer reais benefícios à saúde humana nas áreas urbanas de todo o planeta.
Palavras chaves: saúde urbana, saúde coletiva, revisão sistemática
Abstract
The planet is more urban than rural. People are essential to cities. Health is essential for people. Cities can promote human health rather than disease. The recognition of the role of the environment in health attributed to the place the ability to explain the patterns of life, health, illness and death of individuals. This study aimed to understand the relationship between public health and urban health through a systematic literature review. The review selected open articles, published in the Web of Science database as a scientific index that related the theme of urban health and public health on February 3, 2023. There were 1,526 results that after applying specific filters and inclusion and exclusion factors 388 articles remained for review. The central theme resulted in urban health that connected to six other clusters such as: epidemiological context, statistical data, health systems, public policies, urban environment and indicators. Bibliometrics and systematic review allow access to the state of the art of articles published in a scientific index. In this research, the analysis of keywords answered the proposed question, showing a strong correlation between public health and urban health in the articles, with emphasis on physical activity and the built environment. This relationship is quite present, however, the literature adds more important elements between these two themes, such as mental health, for example, which had little reference in the analyzed articles. The improvement in the quality of life of the population results in an increase in life expectancy. Therefore, cities are strategic for promoting human health and offering healthy opportunities in urban life. In addition, seek to strengthen the correlation between public health and urban health to offer real benefits to human health in urban areas across the planet.
Keywords: urban health, collective health, systematic review
1. INTRODUÇÃO
A taxa da população mundial é maior nas áreas urbanas onde vive 55% dos habitantes e a expectativa é de que esta proporção aumente para 68% até 2050 (ONU, 2023). Para CAIAFFA et al., (2013) as cidades concentram o aumento populacional pela busca de oportunidades para o crescimento econômico das famílias. Este cenário traz desafios e oportunidades para a saúde urbana. Desafios, para repensar as decisões urbanas sobre habitação, alimentação, água, energia, transporte, serviços sociais e cuidados com a saúde que afetam o crescimento e envelhecimento da população (Giles-Corti et al., 2016). Além disso, é uma oportunidade de orientar a urbanização e outras tendências de desenvolvimento urbano de uma forma que proteja e promova a saúde humana (ONU, 2023).
Considerada como um conjunto de medidas executadas pelo Estado para garantir o bem-estar físico, mental e social da população, a Saúde Pública é coordenada internacionalmente pela Organização Mundial da Saúde que atua em parceria com os países para aprimorar a prevenção e o tratamento de doenças. No Brasil, está prevista na Constituição Federal como um dever do Estado (artigo 196) e como direito social (artigo 6º) garantidos de forma homogênea aos indivíduos.
Com uma população mundial mais urbana, as cidades oferecem oportunidades para melhorar a saúde, embora muitas enfrentem surtos explosivos de doenças infecciosas relacionadas à superlotação, doenças crônicas relacionadas a estilos de vida urbanos insalubres, e condições ambientais e lesões por acidentes de trânsito, violência e crime (CAIAFFA et al., 2013). A cidade, portanto, se constitui num espaço de doenças por meio da relação do indivíduo e o meio (GUIMARÃES, 2001; NOGUEIRA, 2008; FAJERSZTAJN et al., 2016; CHASLES, 2016; SALDIVA, 2018).
O objetivo deste artigo é responder a pergunta de quais são as relações entre saúde urbana e saúde pública, considerando os artigos publicados em base de dados internacionais por meio de uma revisão sistemática da literatura, para compreender a produção científica e analisar o estado da arte sobre o tema, definir potencialidades e limitações bem como lacunas e possibilidade de novas abordagens.
Ao longo dos séculos XVIII e XIX, diversos autores médicos estudaram as variações espaciais da saúde ao relacionar a ausência de saúde com condições ambientais específicas (NOGUEIRA, 2008). O reconhecimento da relação existente entre saúde e o lugar conduziu ações para a melhoria da habitação e das infraestruturas de saneamento e ao desenvolvimento de políticas sociais que promoveram a saúde da população (GUIMARÃES, 2001).
Rosen (1994) já defendia que os problemas de saúde vividos pelo homem se vinculam à organização comunitária e à estrutura social desenvolvida. Além disso, há evidências de que o lugar impacta na saúde humana (GUIMARÃES, 2001; SANTANA et al., 2006; NOGUEIRA, 2008; CHASLES 2016; SALDIVA 2018). O reconhecimento do papel do ambiente na saúde atribuiu ao lugar a capacidade de explicar os padrões de vida, saúde, doença e morte dos indivíduos (NOGUEIRA, 2008). A saúde urbana deveria ser pauta para todos que vivem em cidades (SALDIVA, 2018).
Embora as cidades possam trazer muitos desafios, também podem trazer oportunidades para uma saúde melhor, um meio ambiente limpo, comunidades resilientes e vibrantes, possibilitar a mobilidade, promover a interação social e proteger as populações vulneráveis (GUIMARÃES, 2001; SANTANA et al., 2006; NOGUEIRA, 2008; CHASLES 2016; SALDIVA 2018).
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Saúde Pública: conceitos
Em 1920, Winslow definiu Saúde Pública como “a ciência e a arte de prevenir a doença, prolongar a vida, promover a saúde física e a eficiência através dos esforços da comunidade organizada para o saneamento do meio ambiente, o controle das infecções comunitárias, a educação dos indivíduos nos princípios de higiene pessoal, a organização dos serviços médicos e de enfermagem para o diagnóstico precoce e o tratamento preventivo da doença e o desenvolvimento da máquina social que assegurará a cada indivíduo na comunidade um padrão de vida adequado para a manutenção da saúde”.
Para Terris (1992), no entanto, saúde pública é a arte e a ciência de prevenir a doença e a incapacidade, prolongar a vida e promover a saúde física e mental mediante esforços organizados da comunidade.
Segundo Rosen (1994) as soluções urbanas de controle de epidemias ao longo da história como a melhoria do ambiente físico, a provisão de águas, a assistência médica, entre outros, deu origem ao que se denomina como Saúde Pública.
O conceito definido pela Organização Pan-Americana de Saúde relaciona saúde pública à prevenção de doenças e a promoção da saúde de grupos populacionais definidos e elenca onze funções essenciais: 1) monitoramento, análise e avaliação da situação de saúde; 2) vigilância, investigação, controle de riscos e danos à saúde; 3) promoção da saúde; 4) participação social em saúde; 5) desenvolvimento de políticas e capacidade institucional de planejamento e gestão pública da saúde; 6) capacidade de regulação, fiscalização, controle e auditoria em saúde; 7) avaliação e promoção do acesso equitativo da população aos serviços de saúde necessários; 8) administração, desenvolvimento e formação de recursos humanos em saúde; 9) promoção e garantia da qualidade dos serviços de saúde; 10) pesquisa e incorporação tecnológica em saúde; 11) condução da mudança do modelo de atenção à saúde.
Como instrumentos ou meios de trabalho, a Saúde Pública mobiliza a epidemiologia tradicional, o planejamento normativo e a administração de inspiração taylorista, em abordagens caudatárias da clínica e, portanto, da concepção biologista da saúde. De fato, como descreve Souza (2014) são as ações isoladas da Vigilância Epidemiológica e da Vigilância Sanitária ou o desenvolvimento de programas especiais, desarticulados das demais ações, como a Saúde Materno-Infantil ou o Programa Nacional de Imunização que configuram os meios de trabalho característicos da Saúde Pública.
2.2 Saúde Urbana: conceitos.
Saúde urbana é considerada um braço da saúde pública que estuda os fatores de riscos das cidades e seus efeitos sobre as relações sociais urbanas (OPAS, 2009). Para Vlahov (2015) a saúde urbana é definida como as condições de vida influenciam e moldam o comportamento e a saúde humana.
Para Pineo et al., (2016) a saúde urbana é um complexo com muitas partes interconectadas e os indicadores de saúde urbana procuram subsidiar os tomadores de decisão para o desenvolvimento de políticas públicas e monitoramento dos impactos. Os indicadores de saúde urbana fornecem evidências sobre os impactos do ambiente urbano físico na saúde e podem ser usadas na política do ambiente construído e na tomada de decisões (PINEO, 2016).
Caiaffa et al., (2008), propuseram um modelo conceitual de saúde urbana cuja característica é uma rede interligada de determinantes, e tem como cerne fundamental a proposta de que o social e o físico definem o contexto urbano e são modulados por fatores (proximais e distais) e atores em níveis múltiplos. Neste conceito, a saúde urbana enfoca a cidade como exposição e incorpora as propriedades do lugar e o papel do ambiente físico e social em moldar a saúde das populações residentes nos lugares, de forma benéfica ou danosa.
Para o conceito de saúde urbana, Caiaffa et al., (2008), defende três pontos que podem ser sistematizados:
a. que a urbanização, antes esperada para produzir somente efeitos benéficos, conhecida como as “vantagens urbanas”, pode acarretar danos sociais, econômicos e ambientais de grande impacto, difíceis de mensurar completamente;
b. que os atributos físicos e sociais (contexto) da cidade e seus bairros e/ou vizinhanças podem afetar a saúde dos indivíduos;
c. que a ocorrência dos eventos relacionados à saúde, numa visão mais abrangente, está associada a atributos dos indivíduos aninhados no “lugar urbano”, assim como o somatório das propriedades do agregado destes indivíduos (composição), somado aos seus atributos puramente individuais.
As cidades são como um ecossistema que aumenta o grau de complexidade à medida que elas aumentam de tamanho e importância, assim como ocorre nos seres vivos (SALDIVA, 2012). A saúde urbana está relacionada aos conceitos de qualidade de vida e do ambiente, e para Rooseland (1992) o ecossistema urbano serve como indicador de saúde ambiental especialmente nas áreas urbanas.
2.3 Relação entre Saúde Urbana e Saúde Pública
Segundo Caiaffa et al., (2008) viver no ambiente urbano é a mudança demográfica mais relevante ocorrida nas últimas décadas. Para os autores, a cidade contemporânea representa metabolismos complexos, com redes de conexões que se estendem globalmente com implicações na saúde coletiva, portanto, o “lugar urbano” é a nova visão do processo saúde-doença. Para os autores, não há soluções simples para os problemas multidimensionais da saúde no contexto urbano. Estratégias epidemiológicas podem ser utilizadas com o objetivo de identificar fatores associados às características do ambiente (lugar) na modulação da saúde dos indivíduos residentes deste lugar. Todavia, apesar dos desafios, o estudo da saúde das populações no ambiente urbano resulta em uma nova perspectiva de abordagem da própria saúde pública e requer transdisciplinaridade, onde pesquisadores combinem conhecimentos das suas diversas áreas para desenvolver teorias, conceitos e métodos apropriados e direcionados para a saúde urbana.
Portanto, o estudo da saúde das populações no ambiente urbano, resulta em uma nova perspectiva de abordagem da própria saúde pública transdisciplinar, em que pesquisadores associam conhecimentos das suas várias áreas para desenvolver teorias, conceitos e modelos apropriados e direcionados a saúde urbana (CAIAFFA et al., 2008).
A Saúde Pública, entretanto, toma como objeto de trabalho os problemas de saúde, definidos em termos de mortes, doenças, agravos e riscos em suas ocorrências no nível da coletividade. Nesse sentido, o conceito de saúde que lhe é próprio é o da ausência de doenças.
Para a Saúde Pública, o Estado é o ator político por excelência, capaz por si só de assegurar a prevenção das doenças, enquanto para a Saúde Urbana, além do Estado, há outros atores e poderes na sociedade civil que devem atuar para promover melhores espaços urbanos que promovam a saúde humana (Souza, 2014).
3. METODOLOGIA DE PESQUISA:
O processo metodológico está fundamentado num estudo de natureza exploratória em fontes secundárias utilizando a análise bibliométrica e a revisão sistemática sobre os temas por meio da utilização da Web of Science (WoS) como indexador científico para buscar as publicações que relacionam os temas de saúde urbana e saúde pública.
A revisão sistemática é um método organizado e sistematizado utilizado na avaliação de um conjunto de dados provenientes de diferentes estudos previamente publicados na literatura, visando reunir todas as evidências que correspondam aos critérios de elegibilidade previamente estabelecidos, a fim de nortear um tema específico de pesquisa (HIGGINS, et al., 2020).
Como etapas da pesquisa foi inicialmente definida a questão norteadora deste artigo. Em seguida, foi realizada uma revisão sistemática da literatura para identificação das correntes teóricas sobre o tema. O terceiro passo do protocolo de pesquisa foi aplicar as palavras chaves na string de busca acrescido de operador booleano “public health” AND
“urban health” no dia 3 de fevereiro de 2024 em todas as bases de dados, obtendo 7.364 resultados. O quarto passo foi selecionar a Web of Science como indexador científico por possuir os artigos melhor qualificados e o maior detalhamento por áreas, reduzindo para 1.526 resultados. No quinto passo, foram aplicados os filtros. O primeiro filtro foi o tipo de acesso aberto para consulta e elaboração da grade de leitura e formulário de extração. O segundo filtro definido foi o tipo de documento sendo artigo, por serem mais relevantes na comunidade científica em comparação a livros. Em seguida, foi aplicado o terceiro filtro nas categorias da WoS sendo excluídas as categorias relacionadas a serviços médicos internos e a questões de comportamento como abuso de substâncias por não terem relação com a questão urbana totalizando 529 artigos. Os 529 artigos foram exportados da base de dados e elaborada a grade de leitura com formulário de extração para definição dos dados que foram extraídos em formato de planilha de Excel. Relacionando a leitura dos textos à questão desta revisão sistemática foram aplicados os critérios de inclusão e exclusão resultando num número final de 388 textos finais selecionados.
Tabela 1: Protocolo de Pesquisa
Fonte: Autora, (2024)
4. RESULTADOS AUFERIDOS
Dos artigos analisados, foram encontradas 1953 palavras-chaves sendo destas, 148 as que apresentavam no mínimo 5 ocorrências nos artigos selecionados conforme gráfico do VosViewer sendo urban health a maior ocorrência (166), seguida de health (48), physica-activity (39), mortality (39) e public health (39).
As palavras chaves foram agrupadas em sete clusters. Para facilitar a interpretação dos resultados, os clusters foram denominados por temáticas considerando as principais palavras chaves de cada um. Pode-se inferir que a saúde urbana cluster 1 (vermelho)é o que tem mais força, e conecta todos os demais. Apresenta com principais temas atividades físicas, saúde, ambiente construído e áreas verdes. Próximo ao cluster saúde urbana estão os clusters 6 (azul claro) que traz elementos do contexto epidemiológico, 2 (verde) temas relacionados a dados estatísticos de saúde, 5 (lilás) de sistemas de saúde e 3 (azul escuro) de políticas públicas. O cluster 4 (amarelo) que traz elementos do meio ambiente urbano se conecta ao tema central de saúde urbana e aos temas políticas públicas e dados estatísticos. O cluster 7 (laranja) é o menor e traz temas relacionados a indicadores.
Figura 1: palavras chaves divididas por clusters citadas mais de cinco vezes entre os 388 artigos selecionados
Fonte: Autora, (2024)
As ligações mais fortes entre as palavras chaves vinculam saúde urbana com a atividade física, obesidade, ambiente, ambiente construído, saúde, saúde pública e mortalidade.
Com relação ao ano de publicação, temos como palavras chaves mais recentes, a partir do ano de 2020: igualdade na saúde, saúde mental, design, planejamento urbano, mudanças climáticas e cidades saudáveis como destaques. Entre os anos 2017 a 2019 estão relacionadas as palavras de saúde urbana com saúde pública, obesidade, promoção da saúde, riscos, atividades físicas e ambiente construído.
Figura 2: palavras chaves divididas por ano de publicação entre os 388 artigos selecionados
Fonte: Autora, (2024)
Da análise sobre os países que publicaram os 388 artigos analisados, tem-se 80 diferentes, tendo destaque para os Estados Unidos com 163 artigos, seguido da Inglaterra com 65. Em terceiro lugar, empatados estão Brasil e a China, em quarto lugar está o Canadá e em quinto a Espanha.
Figura 3: Países com mais de 5 artigos publicados
Fonte: Autora, (2024)
Dos resultados analisados sobre os países mais citados, estão Estados Unidos e Inglaterra com primeiro e segundo lugares respectivamente, em terceiro a Suécia, quarto o Kenya e quinto a Espanha.
Dos resultados obtidos, dos 1909 autores que publicaram os 388 artigos, 16 autores em mais de 5 documentos analisados: Arpana Verma (10), Brian Castrucci (8), Waleska Caiaffa (8), Jana Hirsch (7) e Ana Roux (7), Manuel Franco (6), Shelley Hearne (6), Jonathpn Leider (6), Amelia de Lima Friche (6), Flora Matheson (6), Pedro Gullon (5), Julia Diez (5), Usama Bilal (5), Annie Harrison (5) e Catherine Kyobutungi (5). Todavia, estão entre os cinco mais citados estão Catherine Kyobutungi (167), epidemiologista de Uganda, seguida por Jana Hirsch (103) docente na Escola de Saúde Pública da Drexel University, Waleska Caiaffa (78) médica e professora titular de epidemiologia e saúde pública da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, Brian Castrucci (74) e Manuel Franco (68).
5. Discussão
A bibliometria e a revisão sistemática permitem acesso ao estado da arte dos artigos publicados em indexador científico. Nesta pesquisa a análise das palavras-chaves respondeu a pergunta proposta apresentando uma forte correlação entre saúde pública e saúde urbana dos artigos, com destaque para a atividade física e o ambiente construído. Esta relação é bastante presente, todavia, a literatura nos acrescenta mais elementos importantes entre estes dois temas como a saúde mental, por exemplo, que teve pouca referência nos artigos analisados. Por outro lado, fatores como obesidade e mortalidade relacionados à saúde pública estão entre os temas que mais apareceram. Observou-se uma necessidade de ampliação de publicações trazendo uma visão integrada entre os aspectos biológicos, econômicos e sociais; políticas públicas e do ambiente urbano relacionados aos fatores de segurança, educação e cultura.
Outra limitação observada foi a reduzida quantidade de publicações de indicadores mensuráveis dos determinantes sociais de saúde, definidos pela Organização Mundial de Saúde como fatores sociais, econômicos, culturais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e risco para a população.
Esta revisão indica que os clusters formados não foram distribuídos de forma homogênea, considerando a complexidade conceitual que os temas envolvem. O tema saúde urbana ganhou força nas publicações a partir de 2017.
A melhora na qualidade de vida da população resulta num aumento da expectativa de vida. Portanto, as cidades são estratégicas para promover a saúde humana e oferecer oportunidades saudáveis na vida urbana. Além disso, buscar fortalecer a correlação entre saúde pública e saúde urbana para que possam oferecer reais benefícios à saúde humana nas áreas urbanas de todo o planeta.
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