AS DIFICULDADES NA EDUCAÇÃO NO ENSINO PÚBLICO MUNICIPAL E ESTADUAL DO ESTADO DE SÃO PAULO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8363305


Ana Paula Feroldi1
Daniela Denardi2
Denise M. Cardoso3
Gabriel E. Scabora4
Marcela Correa de Oliveira Santos5
Rafael Narciso Dias6
Rafaela T. Scabora7


RESUMO

O presente artigo,  objetiva  apresentar a visão dos autores como docentes sobre educação,  dissertando com base no trabalho de outros autores,  sobre o processo de ensino observado, trazendo problemas e também buscando soluções que não sejam únicas e irremediáveis, mas que apresentem-se como novas hipóteses para a solução de alguns casos recorrentes na educação brasileira, principalmente na educação de escola pública, municipal e estadual.

PALAVRAS- CHAVE: Educação, Educação Pública, Estado de São Paulo

ABSTRACT

This article aims to present the authors’ view as students about education, speaking based on the opinions of other authors, about the observed teaching process, bringing problems, but also seeking solutions that are not unique and irremediable, but that present themselves as new hypotheses for solving some recurring cases in Brazilian education, but mainly in public, municipal and state school education.

KEYWORDS: Education, Public Education, State of São Paulo

INTRODUÇÃO

Todos os autores deste artigo atuam como docentes, em diferentes disciplinas, na rede municipal de Araras e também na rede estadual da mesma cidade, portanto o conteúdo desenvolvido neste trabalho será baseado na experiência vivida nas escolas dessa cidade, retratando uma realidade local mas que estende-se e repete-se em muitos casos em todo o estado e no Brasil. 

Os professores enfrentam diversos desafios, dentre eles a falta de estrutura adequada que é sem dúvidas um dos principais, que afetam diretamente a qualidade do trabalho dos docentes e por consequência a qualidade de ensino recebida pelos discentes. Pensando em estrutura nesse caso como um conjunto de fatores que envolvem a educação, desde corpo docente, equipe de funcionários, material didático, recursos pedagógicos e infraestrutura. 

1-A INFRAESTRUTURA DAS ESCOLAS ESTADUAIS NO ESTADO DE SÃO PAULO

O Brasil é um país de dimensões continentais onde podemos dizer que existem diversas realidades divergentes que convivem, mas não se reconhecem ou se sensibilizam com a realidade de outras classes sociais. 

Por isso podemos constatar que as redes de ensino refletem diretamente essa desigualdade de diferentes formas, a depender da particularidade de cada região, mas sempre com grandes diferenças de escolas particulares para escolas particulares, das particulares para as públicas do estado e do estado para as do município. 

As escolas particulares apresentam uma estrutura que varia muito de acordo com a mensalidade, a administração e o público, estrutura que apesar da variação é garantidora do mínimo aceitável para a boa recepção dos professores alunos, salvo algumas exceções que devem ser consideradas, mas não servem como um exemplo ideal para o artigo em questão. 

Já as escolas públicas estaduais do estado de São Paulo, possuem pouca variação de infraestrutura e estrutura educacional, sendo muito semelhantes entre elas, mesmo com a mudança de municípios. As escolas em sua maioria funcionam em prédios muito antigos já construídos para esse fim ou outras edificações adaptadas, mas sem grandes reformas ou adequações para funcionarem nos dias de hoje. As salas não possuem um tamanho padrão, podendo ser muito grandes ou pequenas, deixando claro a falta de adequação. 

Dentre os vários fatores que influenciam a aprendizagem do jovem está a infraestrutura (IE) das escolas. Tal tema tem sido tratado na literatura, muitas vezes, de forma indistinta. O termo IE tem sido utilizado, entre outras coisas, como sinônimo de condições materiais, condições físicas, recursos físicos, recursos pedagógicos, dependências, equipamentos, infraestrutura física, infraestrutura escolar. No entanto, para efeito deste estudo consideraremos a IE como um sistema de elementos estruturais, interrelacionados, que inclui o edifício escolar, as instalações, os equipamentos e os serviços necessários para garantir o funcionamento da escola e impulsionar a aprendizagem do aluno. GARCIA, Paulo Sérgio, 2014, PG. 139

Os pátios são variados, alguns com área verde, outros sem nenhuma, mas em geral,  todos possuem uma deficiência estrutural seja em falta de área coberta para proteção de sol e chuva, ou em excesso a ponto que os alunos não consigam receber sol em nenhum momento do dia.

Pela idade dos prédios escolares, é notável a quantidade de remendos e reformas que se sobrepõem umas às outras, deixando toda estrutura com um ar de improviso, que na realidade é consequência da falta de investimento adequado. No contexto das escolas estaduais e municipais em que os autores atuam, é marcante também a transição do antigo para o moderno, que compartilham o mesmo ambiente, como por exemplo, nas salas de aula do estado a lousa de caneta se sobrepôs a antiga lousa de giz, deixando a antecessora aparente mas inutilizada. Isso considerando as escolas que tiveram suas lousas trocadas por modelos mais novos. 

A tecnologia é presente em sala de aula por meio de equipamentos multimídia como televisores, ou lousas digitais, que passaram por um processo de degradação pelo uso, e muitas vezes possuem um mau funcionamento, ou nem ao menos funcionam, mas ainda ocupam espaço na sala. 

Não basta, porém, levar tais mídias para a escola sem uma concomitante preparação dos recursos humanos, particularmente dos professores. Há de se preparar professores com tais competências em cursos de capacitação permanente, mas, especialmente, nos cursos de formação inicial de professores. É preciso criar uma dinâmica de aprimoramento permanente dos professores, não apenas em relação às mídias, mas sobretudo em relação às áreas específicas do conhecimento, como também no que se refere à avaliação da aprendizagem, possibilitando-lhes momentos para troca de experiências, de maneira que sejam difundidas, pelos próprios professores, as mais bem-sucedidas. Não se pode dar o que não se tem. Se os professores não dominam o manuseio e o funcionamento das tecnologias, como ensiná-los aos alunos? Além do mais, os jovens têm demonstrado maior facilidade com as tecnologias do que a maior parte de seus professores. DOMINGUES, José Juiz AT AL., 2000.  PG.74

O mobiliário é padronizado, no entanto o padrão é adequado para crianças e pré-adolescentes que geralmente são menores, por isso os adolescentes dos últimos anos do fundamental e de todos anos do médio possuem uma dificuldade em encontrar uma posição confortável para acomodarem-se e estudarem. Muitas escolas pela alta demanda de alunos são obrigadas a combinar jogos de carteira e cadeira diferentes, de diferentes épocas e modelos,  o que adiciona uma dificuldade no problema apresentado anteriormente e também na gestão de espaço dos alunos e na gestão de sala de aula do professor.

Figura 1: Conjunto padrão de carteiras e cadeiras utilizadas nas escolas estaduais e municipais.

Figura 2: Estrutura de escola deteriorada do Estado de São Paulo

 Grande parte das escolas não possui um sistema de ventilação adequado, com poucos ou nenhum ventilador funcionando, onde no verão, com a grande quantidade de alunos em sala de aula, torna o ambiente insalubre e muito distante da realidade para um aprendizado ideal. O problema é agravado também pela ausência de cortinas, que foram retiradas para evitar vandalismo mas foram substituídas pela pintura dos vidros das janelas, o que torna obrigatório que os alunos fechem as janelas para enxergarem o conteúdo, deixando o ambiente ainda mais abafado. 

Se considerar que o conforto térmico e o meio ambiente interferem no aproveitamento didático dos alunos em sala de aula, torna-se importante fazer avaliação do ambiente construído, com a necessidade de investigação para melhorar a qualidade ambiental final do espaço arquitetônico. BELTRAME, Mauria Bontorin AT AL,   2009, PG 5. 

Ainda na questão da temperatura e do sistema de ventilação, é importante ressaltar que no estado de São Paulo existe um projeto de climatização,  que resultará na implantação de aparelhos de ar condicionado nas salas de aula, no entanto a implantação depende da adequação da estrutura elétrica das escolas, que é antiga e não consegue receber esse projeto. 

No Brasil, as condições materiais e objetivas das escolas (prédio escolar, instalações elétricas e hidráulicas, equipamentos, tecnologia, materiais didáticos, manutenção e limpeza, etc.) parecem ser questões secundárias no processo educativo. A expansão do ensino médio ocorreu em condições conflitantes, tendo em vista os escassos recursos financeiros estaduais, as orientações discordantes dos setores ligados à educação no estado de São Paulo e a pressão das camadas populares que exigiam a expansão do ensino médio. CARNAVAL, Marilya Mariany. 2021, PG 4. 

Ao conhecer a infraestrutura das escolas estaduais do estado sente-se como consequência o abandono quase geral, onde muitas vezes percebe-se a falta do mínimo necessário. Mínimo que deveria e deve ser garantido e inclusive estão nas metas do Plano Nacional de Educação, metas que possuem validade até 2024. 

Nas escolas municipais, mais especificamente nas escolas de Araras, onde os autores atuam como docentes, a infraestrutura é um pouco mais adequada, mas ainda sim compartilha diversos problemas com as do estado, dentre eles falta de espaço, reformas subsequentes que deixam expostos remendos dos mais diversos tipos e também da falta de manutenção dos aparelhos tecnológicos, tornando a sala de aula e o ambiente escolar um depósito de aparelhos que não funcionam ou funcionam mal, junto a aparelhos novos. 

 2- O IMPACTO DA ESTRUTURA PEDAGÓGICA DAS ESCOLAS E DA REDE DE ENSINO NO APRENDIZADO

Quando falamos de estrutura educacional, entende-se que falamos sobre um conjunto de fatores que são oferecidos ou deveriam ser, aos profissionais da educação e aos alunos, para buscar e atingir um aprendizado satisfatório. A infraestrutura abordada no capítulo anterior é um desses fatores, no entanto o material didático, a grade curricular, são de grande importância e devem ser bem desenvolvidos para o pleno aprendizado. 

A grade curricular da prefeitura de Araras ainda se mantém no modelo tradicional, com 8 matérias: Português, Matemática, História, Ciências, Geografia, Arte, Educação Física e Inglês. E conta com um currículo municipal adaptado para a realidade dos alunos da rede, baseado nos parâmetros da BNCC e no currículo paulista. 

No entanto, a educação da cidade de Araras, apresenta grandes problemas com os livros didáticos, utilizando livros oferecidos pelo estado como Currículo em

Ação e Aprender Sempre, mas também e principalmente o material do SESI, aderido a pouco mais de 1 ano na nova gestão da secretaria da educação e do prefeito eleito. 

O material  SESI citado anteriormente substitui os livros do PNLD  (Plano nacional do livro didático,)  que eram comprados com verba enviada pelo governo federal,  mas agora, com os livros do SESI a prefeitura utiliza verba  própria.

Os livros do SESI possuem diversos problemas de adequação à realidade dos alunos e professores, e nem ao menos trabalham o mesmo conteúdo ou as mesmas habilidades propostas pelo próprio currículo municipal, fazendo que os docentes deem saltos no conteúdo, sem respeitar cronologia dos fatos, ou a sequência didática necessária para avançar.

A adesão de materiais de escolas particulares, vai na contramão da construção de um ensino público de qualidade, que deveria ter seus próprios materiais adequados com a realidade de seu currículo, de seus alunos e professores, visando estabelecer a independência do ensino público do privado. 

Mesmo com os problemas com materiais didáticos enfrentados no município, as escolas municipais de Araras ainda oferecem uma qualidade de ensino muito superior às escolas do estado, por diversos motivos. 

Os principais motivos são, a presença de um corpo de funcionários  menos defasado que o do estado, com a falta de poucos professores e  outros profissionais, que garantem o mínimo necessário, para manutenção do ensino e do espaço escolar. O município também possui equipe para realizar serviços de manutenção nas escolas, que apesar de não ser ideal mantém a estrutura funcional. 

2.1- O NOVO ENSINO MÉDIO E O PROJETO DE ESCOLA INTEGRAL (PEI)

      O ensino médio passou por grandes alterações, a nível nacional, se tornando o “novo ensino médio”, nome dado ao projeto, onde existem diversos componentes curriculares, com uma nova organização do currículo e da carga horária. A ideia da mudança do ensino médio tradicional é positiva e realmente contempla a necessidade de adequação do ensino para as necessidades da nova geração, mas o planejamento e aplicação está longe do ideal, se tornando muitas vezes mais problemática do que o modelo tradicional. 

 Por ainda ser um modelo novo em aplicação, o Novo Ensino Médio no estado de São Paulo possui vários problemas de adequação à realidade, trazendo muitas mudanças, mas poucas positivas para o aprendizado dos alunos. 

A reforma do ensino médio voltou à tona em setembro de 2016 por meio de uma Medida Provisória que tomou de sobressalto alunos e educadores. Diante da instabilidade do momento político, da amplitude da reforma e da ausência de uma discussão democrática, a MP não poderia gerar outra coisa senão a revolta de diversos segmentos sociais ligados à educação. Como não bastasse, tramitava, quase que ao mesmo tempo, outra proposta do governo federal que contribuiu para a efervescência do momento: a PEC nº 241/ 2016 ou PEC nº 55/2016, como passou a ser denominada no tramite no Senado Federal, sendo aprovada, instituiu-se a Emenda Constitucional nº 95/2016. DA SILVA, Karen Cristina Jensen Ruppel AT AL, 2018, PG 4. 

A mudança na organização curricular, deu espaço para novas disciplinas como Projeto de Vida, Tecnologia e Inovação, Eletivas e os Itinerários Formativos. Ambas disciplinas citadas anteriormente foram e ainda são amplamente criticadas por professores, alunos e responsáveis, principalmente por apresentarem uma proposta que não contempla a realidade dos alunos, não seguem uma sequência didática em relação às disciplinas do ensino fundamental, e trazem propostas com conteúdos e atividades repetitivas e de pouca colaboração ao aprendizado. 

Os componentes de Projeto de Vida, Tecnologia e Inovação e Eletivas são trabalhados em todas as séries do Ensino fundamental ll do Estado, mas não da prefeitura, criando um problema de diferença de formação entre os alunos que frequentam a rede estadual e municipal, e que se encontrarão no Ensino Médio em diferentes níveis de aprendizado, diferença criada pelo próprio Estado.

 O componente de Projeto de Vida apresenta aos discentes a ideia, de criar um projeto de estudo e profissional baseado em suas vontades, habilidades e recursos oferecidos pelo meio e pela escola, nesse componente os alunos têm um primeiro contato com a ideia que é difundida no Novo Ensino Médio, que é a ideia do aluno se preparar para o seu futuro e escolhendo as matérias que vai estudar para construir o seu conhecimento de acordo com a sua necessidade. 

Os Itinerários Formativos são parte do currículo dos segundos e terceiros anos do médio, sendo matérias semestrais, de diferentes áreas de conhecimento, onde os alunos teriam a opção de escolher o que estudar para serem preparados para o vestibular e para as carreiras que escolheram em seu Projeto de Vida. 

A proposta que parece ideal, para uma formação de qualidade encontra diversos problemas na aplicação, pois os alunos deveriam escolher o Itinerário que melhor se adequasse a sua necessidade, mas na escolha são confrontados com uma quantidade limitada de disciplinas, que a escola seleciona de acordo com a área em que seu corpo docente atua, ou seja, na proposta os itinerários se adequarem a necessidade do aluno, mas na realidade é o aluno que se adéqua ao que é oferecido pela escola. 

A escolha individual na rede estadual paulista foi efetivamente exercida por meio do preenchimento de um questionário online, de ‘manifestação de interesse’, distribuído entre junho e julho de 2021 a 423.874 estudantes do primeiro ano do ensino médio. Ao todo, 376.019 estudantes responderam à pesquisa (88,7% do público-alvo, em 3.635 escolas). O cardápio de itinerários à escolha (tabela 1) era composto por: a) dez itinerários de aprofundamento nas quatro áreas do conhecimento – Linguagens e suas Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias, Ciências Humanas e Sociais Aplicadas – individualmente ou combinadas duas a duas nos chamados ‘itinerários integrados’; b) quatro dos itinerários anteriores combinados com cursos de qualificação profissional de curta duração (Novotec Expresso); e c) 21 cursos profissionalizantes de 900 horas (Novotec Integrado). Os/As estudantes eram obrigados/as a escolher, dentre os dez itinerários de aprofundamento do primeiro grupo, pelo menos seis, colocando-os em ordem de prioridade.
A escolha pelos 25 itinerários profissionalizantes restantes era opcional. CÁSSIO, Fernando, 2022 Pg 10. 

 Ainda, há muitos casos de alunos dos segundos, e terceiros anos que possuem diversos itinerários da mesma área de conhecimento, alguns só de exatas, outros só de biológicas ou linguagens, o que resulta em uma formação pobre, e muito distante do proposto inicialmente. 

Os/As estudantes não podem escolher suas trajetórias escolares a partir dos cardápios de itinerários pré-definidos pelas redes de ensino em, pelo menos, metade dos municípios do país, devendo contar com a sorte de os itinerários oferecidos coincidirem com as suas escolhas pessoais. Assim, as soluções propostas pelo Consed para garantir alguma escolha para estudantes do período noturno e das cidades pequenas incluem o trabalho escolar com projetos de pesquisa […]CÁSSIO, Fernando, 2022 Pg 08. 

Com isso muitos professores não lecionam nas disciplinas em que são graduados, e sim sempre em disciplinas correlatas à graduação, correndo o risco de ensinar o conteúdo proposto de forma generalista e sem nenhum aprofundamento. No material didático desses itinerários contém uma descrição de quais professores de quais disciplinas estão aptos para dar cada matéria, segue exemplo abaixo:

Figura 3: Descrição do componente curricular no material didático

Como podemos observar no exemplo acima, o itinerário em questão pode ser ministrado por professores de Língua Inglesa prioritariamente, mas também por professores de Língua Portuguesa e Arte, componentes que se relacionam por serem de linguagens, mas que possuirão uma abordagem completamente diferente do conteúdo e das habilidades propostas por conta da clara diferença de formação.

As escolas estaduais de São Paulo também passaram por uma grande implantação do Ensino Integral (PEI), onde restaram poucas unidades com o funcionamento do Ensino Regular. Os articulistas não trarão críticas ao modelo de Ensino Integral pela falta de conhecimento, no entanto é possível e notório falar sobre o impacto da implantação do Ensino Integral no Ensino Regular. Na cidade de Araras, onde os articulistas atuam, há 16 escolas estaduais e apenas cinco escolas permaneceram no Ensino Regular, e apenas duas dessas oferecem Ensino Médio. 

Indolentes, as reformas recusam-se a reconhecer as realidades múltiplas e profundas adversidades do sistema nacional de educação. Malévola, a reforma do EM oferece uma flexibilização que unifica, uma igualdade que hierarquiza. Malévola, em sua metonímia, toma tudo pela parte, por isso, há apenas uma lógica que governa tanto o comportamento do todo como o de cada uma das suas partes. Há, pois, nessa lógica, uma suposta homogeneidade entre o todo e as partes e estas não têm existência fora da relação com a totalidade. Jogam-se as diferenças para o abismo, encurtando as possibilidades democráticas nas escolas. SÜSSEKIND, Maria Luiza.  2019, PG 12. 

Essa implantação massiva resultou na sobrecarga das escolas regulares em todos aspectos. Alunos de Ensino Médio que possuem a necessidade de trabalhar, ou o interesse de fazer um curso técnico ou outros cursos profissionalizantes não conseguem estudar em escolas de Ensino Integral, por isso são obrigados a se deslocarem por grandes distâncias para serem atendidos pelas únicas que oferecem horário regular.

 Poucas escolas para muita demanda de Ensino Regular, resultou no aumento expressivo de alunos e a sobrecarga de toda estrutura das escolas, que não estavam preparadas para receber esses alunos. Portanto a sobrecarga de funcionários como Serventes, Agentes de Organização, Gestores e Professores é uma realidade nas escolas regulares, pois na maioria dos cargos não houve aumento de contratações para atender o aumento de alunos matriculados. 

Em meio a reformas do currículo, e a implantação das PEIS, aconteceram várias coisas que sobrecarregaram as escolas, os  profissionais da educação e alunos, deixando todos perdidos e sem perspectiva de melhora, e  o ensino   e aprendizado em segundo plano. 

Portanto alunos do Ensino Médio estão se formando em meio a testes de organizações curriculares, e do modelo de Escola Integral, que se mostram ineficientes inclusive em relação aos modelos anteriores, que já não ofereciam uma formação de qualidade. 

Tais projetos não consultam ou consideram devidamente as necessidades e a experiência de alunos e professores, estabelecendo projetos e modelos que visam a propaganda de governos e não é um projeto de educação que realmente supra as necessidades de ambos. 

Tudo isso, para admitirmos que as linhas abissais que desenham as políticas curriculares atuais agem coisificando os conhecimentos, ferindo a autonomia e desumanizando o trabalho docente e, ainda, descaracterizando o estudante na sua condição de diferente, de outro legítimo. SÜSSEKIND, Maria Luiza.  2019, PG 14. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Todas as questões apresentadas pelos autores não são de simples solução, e necessitam de um planejamento complexo que vise a real necessidade dos alunos e profissionais da educação. O investimento necessário para melhorias em todos os aspectos existe e é distribuído, mas muitas vezes mal distribuído ou mal gerido pelos governos, que por sua vez desenvolvem projetos de acordo com o interesse próprio e para a autopromoção ou a promoção de seu partido, fazendo de seu mandato um eterno comício. 

 Como dito no parágrafo anterior, não existe solução simples para problemas estruturais, no entanto acredita-se que a população tem esse poder de mudança, através da tomada de conhecimento dos processos que geram esses problemas na educação, e na sociedade como um todo, entendimento que gera a clareza necessária para saber o que se cobra e de quem cobrar. 

Muito se fala da educação brasileira, e da educação de escola pública, onde a maioria possui uma opinião que não contempla os reais problemas da educação. Para uma solução real é necessário pensar de maneira global, e não se ater a discordâncias locais do povo contra o povo, e sim das pessoas contra quem os governam. Faz-se necessário  a existência de um plano consistente de melhora, um projeto de nação, que demore anos para atingir objetivo, mas que não seja como os que já são praticados, vários projetos que não relacionam-se, remendos que criam uma falsa sensação de progresso, quando na verdade só estão camuflando o real problema.

Entende-se que a sociedade deve se apropriar dos discursos, e entender o que é debatido na academia e na política de forma real e material, podendo trazer suas colaborações dentro do coletivo,  e por consequência, gerar melhorias não só para educação, mas para sociedade como um todo. 

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: Conjunto padrão de carteiras e cadeiras utilizadas nas escolas estaduais e municipais. Disponível em: www.portalaraxa.com.br/escolas-estaduaisiniciarao-ano-letivo-com-mobiliarios-e-equipamentos-novos/   ACESSADO EM: 20/08/2023 

FIGURA 2: Estrutura de escola deteriorada do Estado de São Paulo. Disponível em: https://www.tce.sp.gov.br/6524-fiscalizacao-tcesp-encontra-problemas-estruturamais-terco-escolas ACESSADO EM: 17/08/2023 

FIGURA 3: Descrição do componente curricular no material didático.   MAPPA-CORPO, SAÚDE E LINGUAGENS: PDF: ARQUIVO PESSOAL  ACESSADO EM 10/08/2023

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DOMINGUES, José Juiz; TOSCHI, Nirza Seabra; OLIVEIRA, João Ferreira de. A reforma do Ensino Médio: A nova formulação curricular e a realidade da escola pública. Educação & Sociedade, v. 21, p. 63-79, 2000. 

GARCIA, Paulo Sérgio. Um estudo de caso analisando a infraestrutura das escolas de ensino fundamental. Cadernos de Pesquisa: Pensamento Educacional, v. 9, n. 23, p. 137-159, 2014. 

CARNAVAL, Marilya Mariany. A desigualdade da infraestrutura escolar das escolas estaduais no município de São Paulo. Jornal de Políticas Educacionais, v. 15, 2021. 

CÁSSIO, Fernando; GOULART, Débora Cristina. Itinerários formativos e ‘liberdade de escolha’: Novo Ensino Médio em São Paulo. Retratos da Escola, v. 16, n. 35, p. 509-534, 2022. 

SÜSSEKIND, Maria Luiza. A BNCC e o “novo” Ensino Médio: reformas arrogantes, indolentes e malévolas. Retratos da escola, v. 13, n. 25, p. 91-107, 2019. 

DA SILVA, Karen Cristina Jensen Ruppel; BOUTIN, Aldimara Catarina. Novo ensino médio e educação integral: contextos, conceitos e polêmicas sobre a reforma. Educação, v. 43, n. 3, p. 521-534, 2018. 

BELTRAME, Mauria Bontorin; MOURA, Graziella Ribeiro Soares. Edificações escolares: infra-estrutura necessária ao processo de ensino e aprendizagem escolar. Travessias, v. 3, n. 2, 2009.


1Formação em Bacharel e Licenciatura em Biologia- Ano de formação 2007- UNIARARAS- Fundação Hermínio Ometto 2Formação em Licenciatura em Geografia – Ano de formação 2013 – UEL – Universidade Estadual de Londrina
2Formação em Licenciatura plena em Educação Física- Ano de formação 2010- UNIARARAS- Fundação Hermínio Ometto
3Formação em Licenciatura plena em Artes Visuais- Ano de formação 2017- FAAL- Faculdade de Admnistração e Artes de Limeira
4Formação em Licenciatura plena em Pedagogia- Ano de formação 2010- UNIARARAS- Fundação Hermínio Ometto
5Formação em Licenciatura plena em Matemática- Ano de formação 2009- UNAR- Centro Universitário de Araras “ Dr Edmundo Ulson”
6Formação em Licenciatura plena em Pedagogia- Ano de formação 2010- UNIARARAS- Fundação Hermínio Ometto