AS CORRENTES FILOSÓFICAS QUE NORTEIAM O PENSAMENTO CIENTÍFICO NAS PESQUISAS EM EDUCAÇÃO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202411061523


LOPES, Renata Caroline dos Santos
CRUZ, Luciana Coghi
RICALDES, Maria Judilândia de Santana
COSTA, Tereza Cristina de Oliveira
SANTANA, Maria Gislaine de
MARTINS, Marilza Hilário


Resumo

Este trabalho tem por objetivo descrever os tipos de abordagens acerca das correntes filosóficas e também as diversas pesquisas científicas. Para isso será abordado as escolas positivista; fenomenológica; estruturalista e pós estruturalista, decolonial e o materialismo histórico dialético e as principais características referentes  aos tipos de pesquisas científicas. Tal artigo foi realizado como pesquisa bibliográfica e exploratória, o que permitiu abordar dentro das literaturas encontradas os vários tipos de pesquisa científica e seu conjunto de procedimentos para nortear a escrita deste. Pode-se observar a existência de diferentes formas de pesquisas, das quais se sobressaem as classificadas segundo a abordagem: quantitativa e/ou qualitativas; à natureza: básica e aplicada; os objetivos: exploratória, descritiva, explicativa; e os procedimentos: experimental, bibliográfica, documental, de campo, ex-post-facto, de levantamento, com survey, estudo de caso, participante, pesquisa-ação, etnográfica e etnometodológica, evidenciando também as suas diferenças. Assim conclui-se é  que a pesquisa científica precisa levar em consideração todo conjunto de procedimentos sistemáticos, que são apoiados por raciocínio lógico que usar-se-á de métodos científicos para responder o problema da pesquisa  que será realizada. independentemente de qual pesquisa irá escolher, o pesquisador encontrará algumas limitações em cada técnica que for realizar, mas poderá fazer uso de mais de uma técnica, caso seja necessário para melhoramento do trabalho de pesquisa.

Palavras-chave: Correntes filosóficas. Metodologia Científica. tipos de pesquisa.

INTRODUÇÃO

O presente artigo vem ressaltar questões epistemológicas referente às diferentes correntes encontradas nas ciências sociais, onde podemos encontrar um vasto campo para desenvolvimento. As organizações, limitações e delimitações de paradigmas que interferem no modo como se organiza e edifica o sentido de realidade, com o objetivo de informar tal realidade com uma postura objetiva ou subjetiva por parte do pesquisador. Nesse sentido, o aperfeiçoamento do campo de estudo manifesta-se no crescente interesse referente aos paradigmas de investigação da pesquisa, especialmente a contribuição desta na construção de um saber estruturado e coerente. 

Deste modo, ressalta-se o crescente esforço para compreender questões epistemológicas relacionadas à pesquisa e a produção do conhecimento que tem levado pesquisadores a se empenhar sobre o tema. Na mesma direção, se questionarmos algumas pessoas sobre a definição do que é pesquisa, provavelmente obteremos variadas respostas, pois, mesmo fazendo parte do cotidiano, esse termo não é bem compreendido. Parte das pessoas questionadas irão afirmar que pesquisam ao realizar buscas pela internet, em diferentes mecanismos de buscas como: plataformas de pesquisas, blogs, sites, jornais e revistas eletrônicas.

Considerando as classificações existentes, e, identificando também, pontes entre as diferentes características presentes nas pesquisas, deixando-as penetrar nos paradigmas na direção de uma visão mais integradora. Não deve ser um esforço multiparadigmático, mesmo havendo problemas que exigem do pesquisador muito cuidado nas tomadas de posição em relação às concepções de ciência e conhecimento envolvidos (MORGAN, 2007). 

Portanto, o objetivo deste trabalho é de contribuir com a resolução de dúvidas referente aos critérios utilizados na realização da pesquisa, mostrando as características com abordagem quantitativas e qualitativas, entre outras que podem ser classificadas como positivistas, frente ao esforço em mensurar e transformar o ponto de vista do pesquisador. O caminho proposto para essa jornada perpassa por concepções epistemológicas consagradas, partindo das características mais representativas de cada grupo. 

Para tanto, apresentaremos as características principais dos tipos de abordagens de pesquisa, colocando em questão os critérios de classificação paradigmáticos baseados nas abordagens metodológicas abrindo uma nova possibilidade de enxergar características interpretativistas.

O POSITIVISMO

O positivismo surgiu na França em meados do século XIX. Foi e é considerado um movimento ou uma corrente de pensamento filosófico, sociológico e político que dominou grande parte da cultura européia até a 1ª Guerra Mundial. O termo surgiu em razão ao período pacifico e entusiasta existente na época na Europa e à expansão colonial na África e Ásia, frente a ideia de progresso social e humano. Naquele momento, a principal assertiva era que o conhecimento científico era o único conhecimento verdadeiro e aceitável.

Como corrente filosófica, o positivismo inspirou diferentes produções e firmou-se em diferentes tradições culturais. No entanto, o positivismo apresenta parecenças que o identificam como movimento de pensamento. Tais semelhanças apresentam-se do seguinte modo:

  • O positivismo postula a supremacia da ciência: só é possível conhecer aquilo que as ciências naturais nos dão a conhecer – o único e verdadeiro método de conhecimento é o das ciências naturais;
  • Esse método (leis causais e domínio sobre os fatos) pode ser utilizado para o estudo da sociedade; 
  • Afirma a unidade do método científico e o primado desse método como instrumento cognoscitivo; 
  • Preconiza a ciência e o método científico como a única forma de resolver, no decorrer do tempo, os problemas humanos e sociais;
  • Destaca como única “divindade” o fato, o que levou certos estudiosos a ver o positivismo como parte da visão romântica; 
  • Toma algumas características da tradição iluminista, como por exemplo: considerar os fatos empíricos como unidade do “verdadeiro” conhecimento, a fé na racionalidade científica passa a ser a solução dos problemas da humanidade e a confiança acrítica, leviana e superficial na solidez e no crescimento da ciência.
  • Segundo o positivismo, as superstições, religiões e demais ensinos teológicos e metafísicos devem ser ignorados, pois não colaboram com o desenvolvimento da humanidade.

Dentro do pensamento positivista, o estudo da sociedade e dos fenômenos sociais, deve ser tão rigoroso quanto ao estudo feito pelas ciências naturais, o positivismo, não se importava em investigar as causas dos acontecimentos, tudo que era subjetivo ao objeto era descartado do processo. “Desta maneira, eliminava-se a busca inadequada do porquê. O que interessa ao espírito positivo é estabelecer como se produzem as relações entre os fatos”. (TRIVIÑOS 1987, p.38). Para o pensamento positivo, o importante era conhecer as relações entre os fenômenos, e não suas causas e consequências.

Assim, a ideia do positivismo era de identificar e compreender os problemas sociais através das ciências, restabelecer a ordem para garantir o progresso da sociedade:

A história transforma-se num desenrolar que é guiado por dois princípios básicos. O princípio de ordem – de uma transformação ordenada e ordeira, que não comporta transformações violentas, que não comporta saltos, que flui num contínuo. E o princípio do progresso –  a transformação que ocorre no desenrolar da história e uma transformação que leva a melhoramentos lineares e cumulativos. (ANDERY et al, 1996, p.379)

AUGUSTE COMTE: FILOSOFIA POSITIVA

O francês Auguste Comte (1798-1857) foi o principal idealizador do movimento positivista, destacando-se internacionalmente entre metade do século XIX e começo do XX. De acordo com seus princípios as primeiras ideias do que viria a ser o Positivismo surgiram como uma ramificação do Iluminismo. Partindo das crises sociais europeias que explodiram no fim da Idade Média, com o surgimento da chamada “sociedade industrial”, marcada pela Revolução Francesa.

Comte preocupava-se com crises políticas e sociais, pois acreditava no conhecimento dos fatos, no entanto, tal conhecimento só poderia ser adquirido ao subordinar a sociedade a um estudo rigoroso/pesquisa científica. Assim, tomou para si a tarefa de desenvolver a chamada “física social”. Para Comte, o objetivo da ciência é de pesquisar as leis que regem os fenômenos: “só o conhecimento das leis dos fenômenos, cujo resultado constante é o de fazer com que possamos prevê-los, evidentemente pode nos levar, na vida ativa, a modificá-los em nosso benefício” (Comte, 1988). Talvez, seja este  o ponto pragmático da filosofia positivista. Seguindo essa perspectiva, observa-se que a lei é imprescindível para levantar hipóteses, necessárias para agir sobre a natureza, dando ao homem o domínio sobre a natureza,  “ciência, logo previsão; previsão, logo ação” (Comte, 1988).

Comte defende a natureza teórica dos conhecimentos científicos fazendo separação entre os conhecimentos técnicos e práticos. A relação entre a explicação das leis e o fato é essencial. Ainda, segundo Comte (1988), “… a verdadeira ciência (…) consiste essencialmente de leis e não mais de fatos, embora estes sejam indispensáveis para o seu estabelecimento e sua sanção”. Assim sendo, o positivismo e sua teoria nasceram na busca de conhecimentos confiáveis que fossem elaborados pela ciência, por meio da pesquisa. 

As principais características que fundamentam a base filosófica do positivismo são quatro de acordo com Gil (2008): Objetividade e neutralidade; Experimentação; Quantificação; Lei dos fatos.

No positivismo, acreditava-se que, assim como nas ciências naturais a existem leis, os seres humanos também são regidos por leis e tendem a agir de maneira previsível. O que facilitaria o processo das descobertas científicas: 

“Uma das afirmações básicas do positivismo está representada pela sua ideia da unidade metodológica para investigação dos dados naturais e sociais. Partia-se da ideia de que tantos os fenômenos da natureza, como os da sociedade estavam regidos por leis invariáveis”. (TRIVIÑOS 1987, p.38)

A FENOMENOLOGIA

A corrente filosófica da fenomenologia baseia-se  nos pressupostos apresentados em Husserl, o mundo poderia ser considerado como um “fenômeno”. Porém este fenômeno precisava ser revelado, através das vivências. Para este pensador, as ciências naturais não  eram capazes de explicar os acontecimentos relativos às ciências humanas que envolviam o mundo vivido. Assim a filosofia deveria ser considerada uma ciência rigorosa que partissem de evidências indubitáveis, para a explicação dos fenômenos do mundo vivido.

E por meio das reações com o mundo vivido, o pensamento epistemológico da fenomenologia considera que a intencionalidade da consciência remete-se a sua direção e a forma de interagir com o objeto. De acordo com a perspectiva de  Husserl, Triviños (1987) defende que  a consciência está sempre interligada a algo, não é possível que tenhamos a consciência separada do objeto. E para que possamos compreender melhor: a consciência é  o pensamento acerca de alguma coisa, e quando pensamos em algo, temos a intenção de pensar.

Assim compreendemos que “ para Husserl a intencionalidade da consciência está ligada a atitude fenomenológica e por sua vez está direcionada a algo”. (COSTA E BARROS NETA, 2018,  p.5213). Ou seja, podemos dizer que o não existe sujeito sem objeto e vice-versa, e que o conhecimento se dá por meio dessa relação.

Para Husserl as vivências são os primeiros dados absolutos, pois é através delas que os fenômenos podem ser desvelados.  É o voltar-se às coisas mesmas, para que através das relações com o real, possamos compreender os fenômenos e suas essências.

No que tange à bases metodológicas da corrente fenomenológica citaremos as principais:  

  • Suspensão (epochê)- na fenomenologia refere-se ao método de suspender as possíveis estruturas do pensar, que o pesquisador possa ter. Em Husserl, é o desprendimento do pensar que envolve as relações do cotidiano e suas limitações, para que se possa abrir-se ao fenômeno através da atitude fenomenológica.  
  • Redução fenomenológica – pode ser compreendida como o método que permite o esvaziamento da consciência procurando desvelar não apenas o pensamento individual, mas sim dos  indivíduos, sua essência. Através deste método “o fenômeno se apresenta puro livre dos elementos pessoais e culturais, chega-se a um nível dos fenômenos que se denomina das essências.( TRIVIÑOS, 1987, p.42).
  • Pura descrição –  De acordo com Costa e Barros (2018, P.5215) a corrente fenomenológica utiliza a metodologia que promove um movimento de descrever o fenômeno tal como ele é, sem explicações das causas e sem a interferência de preconceitos.

Nota-se que a produção científica com a abordagem baseada na corrente da fenomenologia busca conhecimentos por meio da consciência o desvelar de algo. E para alcançarmos este conhecimento, é necessário que reconhecemos os fenômenos e o modo como ele se apresenta, ou seja  suas essências, suas subjetividades e objetividades 

O ESTRUTURALISMO E PÓS ESTRUTURALISMO

Ao refletirmos sobre o estruturalismo vemos que o princípio inicial desta corrente é que a cultura está colocada no homem, por meio de elementos é uma estrutura interligada em diferentes aspectos. Trata-se de “uma abordagem científica que pretende descobrir a estrutura do fenômeno, penetrar em sua essência para determinar as suas ligações determinantes.” (TRIVIÑOS, 1987,p.81). Ou seja,  podemos considerar que é por meio das relações de um certo significado das ações humanas entre os seres que formam uma grande estrutura.

Para os estruturalistas era por meio do entendimento de signos linguísticos que seria possível a compreensão da sociedade. Defendiam a independência da significação em relação ao significado. Por outro lado, os pós-estruturalistas compreendiam esta relação entre significante e significado como elementos interligados.

Já a abordagem pós-estruturalistas  pode ser compreendida como uma crítica de quebra aos paradigmas das ciências humanas e sociais, o homem é visto como plural fruto de “diversas  construções filosóficas do sujeito: o sujeito cartesiano-Kantiano, o sujeito hegeliano e fenomenológico, o sujeito do existencialismo, o sujeito coletivo marxista (PETERS, 2000, p.31).

Em outras palavras, segundo Maldonado(2020) os seres humanos na perspectiva pós-estruturalistas são plurais em  suas subjetividades, e é por meio das relações entre os saberes e poderes que os seres se tornam sujeitos. Ou seja, através dos saberes os sujeitos podem ser livres, e na falta dele é que surgem as relações de opressão. 

O DECOLONIAL

O pensamento de decolonidade  propõe que ocorra uma mudança nas formas de pesquisa de produções científicas contra hegemônicas. 

“ Na perspectiva do projeto decolonial, as fronteiras não são somente este espaço onde as diferenças são reinventadas, são também loci enunciativos de onde são formulados conhecimentos a partir de perspectivas, cosmovisões ou experiências dos sujeitos subalternos. O que está implícito nessa afirmação é uma conexão entre o lugar e o pensamento. ” (  COSTA; GROSFOGUEL, 2016, p.19)

Nesta perspectiva para projeto decolonial, é importante ressaltar no discurso epistemológico a não hierarquização do saber, do lugar e do pensamento, considerando as diferenças como chance de ampliar as vertentes “ ciências” e também do conhecimento científico, com o fim do epistemicídio. As intervenções decoloniais, buscam reformular e debater sobre as relações de colonialidades enfrentadas pelos povos não europeus. São práticas emancipatórias decoloniais dos saberes, poderes e seres que visam desconstruir ideologias, restaurar as identidades dos sujeitos subalternos , desfazer as contradições opressor-oprimido.

Dentro da perspectiva de Dulci e Malheiros (20021), trata-se de seres sentipensantes que vivem e pensam de maneiras diversas e múltiplas. Seres que devem ser reconhecidos e não silenciados, pois trazem em suas trajetórias e vivências conhecimentos; valores sentimentos; identidades e costumes próprios de suas singularidades. Ou seja, múltiplas experiências que não devem partir de um repertório exclusivamente eurocentrado, deve-se “pensar que práticas metodológicas pautadas por uma prática decolonizadora devem ter como cerne  o reconhecimento da dimensão do “ ser sentipensante”, o que propicia, nas palavras de Fals Bord, uma geração “ativa pensante”. (DULCI, MALHEIROS, 2021 p. 180)

Neste sentido, o processo de pesquisa decolonial requer dos seres uma  atitude investigativa  na busca pelo conhecimento vista como  um processo coletivo, não hierarquizado entre as relações de pesquisador e pesquisado. Esta abordagem propõe que o objeto de investigação possa ser visto também como sujeito, com possibilidade de fazer intervenções no próprio processo investigativo.

“ Em nossa compreensão, a pesquisa participativa reúne condições propícias para manter-se como uma prática que contribui para o fortalecimento da perspectiva da descolonialidade do poder, do saber e do ser, para a construção de processos emancipatórios.” ( STRECK E ADAMS 2012, p. 253, apud EGGERT 2021, p.5 )

Assim para situar uma pesquisa em seu contexto cultural, partindo do descolamento dos sujeitos que estão em posição subalterna e assumam o lugar de fronteira, desta forma desconstruindo a linha abissal que denota o verdadeiro falso e passa a produzir ciência com consciência social e prática se voltando aos elementos presentes em seu meios e considerando o outro como sujeito participante.

O MATERIALISMO HISTÓRICO DIALÉTICO

Analisando a perspectiva da abordagem acerca da corrente do Materialismo Histórico Dialético (MHD) por meio do pensamento de Marx, a dialética aparece como um meio de superar a dicotomia, da separação entre o objeto e o sujeito. Entretanto, o surgimento da dialética surgiu historicamente do pensamento humano desde a época antiga na Grécia, quando o diálogo era visto como um dom, uma arte. Nos pensamentos socráticos este conceito era usado para desenvolver sua filosofia. Já nos diálogos de Platão a dialética era constantemente utilizada.

Dentro da perspectiva Marxista, o materialismo é uma concepção filosófica que aponta a matéria como base principal de qualquer coisa, ser ou fenômeno. Os materialistas acreditam que a única realidade aceitável é a matéria em movimento e toda sua complexidade universal. Nesta concepção ocorre a hegemonia da matéria em relação às ideias e ao espírito.

[…] O que, para Marx, determina a consciência e o ser social, que adquire, assim, primazia sobre a sua consciência. São essas suposições que afastam Marx de Hegel e que permitem afirmar que seu ponto de partida é materialista. Marx parte do suposto que o conhecimento é determinado pela matéria pelo mundo que existe independentemente do homem[…] ( ANDERY,1996, p. 403).

Podemos considerar que o materialismo dialético pensado por Marx é como um instrumento lógico, que tem como objetivo principal a compreensão das coisas que estão em movimento. Partindo da premissa de que no mundo ocorrem fenômenos da natureza, da sociedade e do pensamento que são contraditórias, complexos e estão em constante movimento, sendo assim necessário compreendê-los para interpretá-los.

Entretanto, para compreender e interpretar os fenômenos  e as relações sociais, o materialismo dialético não só tem como base princípios a matéria, a dialética e a prática social, mas também aspira ser uma teoria orientadora da revolução do proletariado. ( TRIVIÑOS, 1987, 51). Este pensamento com base filosófica no Marxismo busca encontrar explicações coerentes e racionais para compreender os fenômenos da natureza, do pensamento e da sociedade, bem como, suas relações entre sujeitos e objetos.

No que se refere ao materialismo Histórico, Marx considera que trata-se de  uma ciência filosófica que busca compreender a sociedade humana e suas relações através das práxis, considerando o espaço, tempo, valores e tudo que nós seres humanos vamos agregando ao longo do tempo. O materialismo Histórico vê o conhecimento como algo mutável, ou seja,  que sofre transformações com o passar do tempo, em função das contradições que surgem a partir dos antagonismos das classes no processo de produção e reprodução da sociedade. Neste sentido:

[…] é a ciência filosófica do marxismo que estuda as leis sociológicas que caracterizam a vida da sociedade, de sua evolução histórica e da prática social dos homens, no desenvolvimento da humanidade. O materialismo histórico define outra série de conceitos fundamentais para compreender suas cabais dimensões como: sociedade-econômica, estrutura social, organização política da sociedade, vida espiritual, a cultural, a concepção do homem, a personalidade, o progresso social e etc. ( TRIVIÑOS, 1987, p.52)

Em seus pressupostos  Karl Marx,  relaciona o desenvolvimento da humanidade a práticas sociais que levem o indivíduo  ao concreto pensando, que segundo ele é a destino intelectual de conhecimento onde todos deveriam alcançar, pois para compreender o fenômeno de maneira histórica e dialética presente na realidade, se faz necessário superar a categoria simples ( empírico), passando pela abstração (teoria) até chegarmos na categoria síntese de múltiplas determinações ( concreto pensado). Para  Marx somente assim atingiríamos a amplitude do conhecimento e seríamos capazes de compreender em amplitude o fenômeno pesquisado.

“A descoberta desse antagonismo, pois, não é alheia a constituição interna do capitalismo. As relações antagônicas não podem resolver-se a não ser que o próprio capitalismo seja também pensado. É necessário que o capitalismo se transforme em concreto pensado, pleno de suas determinações, para resolver -se. ” (IANNI, 1980, p.9)

Segundo Marx, mencionado por Zart 2020, “o concreto pensado é a 3ª dimensão, é onde  Marx enfatiza que precisamos atingir, pois trata-se da instância em sua totalidade rica de determinações e de relações numerosas,  determinação de múltiplas determinações. Quando Marx vai dizer o que é o concreto? e a o Libâneo vai dizer o concreto pensado é a determinação de múltiplas determinações. Então esse é o campo mais amplo da construção da teoria, e a passagem do campo empírico, as categorias simples até alcançar as categorias concretas, campo teórico e mais amplo e profundo da teoria segundo Marx, elas de novo volta para a realidade histórica, não é um movimento linear, mas Marx vai chamar atenção e vai dizer o seguinte: esse movimento ele é contínuo, ele é essa interação entre o empírico, teórico e a abstração da abstração e a construção do concreto pensado que é a dimensão mais ampla.” (ZART, 2020).

Desde modo, observa-se que a corrente do MHD considera que a realidade é a base para a compreensão dos fenômenos que ocorrem em nosso meio. Para tanto, é necessário atentar ao real e ao concreto para que seja possível compreender a realidade a partir de objetos que tenham como base a própria realidade, suas relações sociais e suas diversidades.

“ Do ponto de vista de Marx, o método proposto leva a produção de um conhecimento que não é especulativo porque parte do que se refere ao real, ao mundo tal como ele é, e não é um conhecimento contemplativo exatamente porque, ao referir-se ao real, pressupõe, exige, implica a possibilidade de transformação do real.” ( ANDERY, 1996, p.414)

Ou seja, o materialismo histórico e dialético é um método que auxilia o processo de compreensão e análise histórica, das lutas e das evoluções econômicas, sociais e políticas, envolvidas em uma dialética que sofre constantes movimentos no contexto das relações sociais ao longo da história. Dentro da perspectiva Marxista trata-se de poder refletir acerca das lutas das classes a partir da realidade concreta, problematizar,  fazer análises desta realidade e interpretá-la, como o objetivo de que a partir da sua compreensão os homens possam ser capazes de transformar essa realidade. 

Assim compreende-se que esta corrente filosófica contribui para que ocorra a auto transformação onde ocorre a descoberta da “ necessidade de um homem ativo na construção de si mesmo, da natureza ou da sua história, de um homem envolvido num processo contínuo e infinito de construção de si mesmo.” ( ANDERY, 1996, p. 408). Nesta abordagem o pesquisador deve ter como intuito o entendimento de que o desvelamento do real ao fim do processo investigativo deve pautar-se ou propiciar meios para uma transformação social da realidade, e não apenas limitar-se em criticar a realidade.

CONHECENDO ALGUNS TIPOS DE PESQUISA 

Se questionarmos diversas pessoas sobre a definição do termo pesquisa, possivelmente iremos obter várias respostas diferentes. Apesar de fazer parte de nosso cotidiano, esse termo muitas vezes não é bem compreendido. Uma parcela da população irá afirmar que realiza pesquisa regularmente, ao executar buscas em diferentes plataformas, como blogs, sites, jornais e revistas eletrônicas, assim como para realizar a busca de um determinado produto ou serviço.

No entanto, a pesquisa científica, que é a abordada neste artigo, leva em conta um conjunto de procedimentos. Desta forma, a pesquisa científica é fundamental para a construção, aquisição e manutenção do conhecimento e, é por meio dela que podemos compreender o mundo e solucionar problemas, possibilitando a transformação e modificação das práticas de pesquisa. 

Sendo assim, para se classificar uma pesquisa deve-se observar a abordagem, pois as pesquisas científicas podem ser qualitativas ou quantitativas, ou mesmo, agregar ambas classificações. A escolha dependerá da área, do objeto e dos objetivos da pesquisa. Na tabela abaixo, será elencado os tipos de pesquisa, no entanto, o artigo abordará apenas algumas.

Tabela 1: Tipos de pesquisa segundo:

À AbordagemÀ NaturezaOs ProcedimentosOs Objetivos
QuantitativaBásicaExperimentalExploratória
QualitativasAplicadaBibliográficaDescritiva
DocumentalExplicativa
 De Campo
 Ex-Post-Facto
De Levantamento
Com Survey
Estudo De Caso 
Participante
Pesquisa Ação
Etnográfica 
Etnometodológica 

FONTE: CESÁRIO 2020

PESQUISA QUALITATIVA

A pesquisa qualitativa leva em consideração a existência de uma relação direta entre o sujeito e o mundo. 

Nessa perspectiva o objetivo principal da pesquisa é compreender a explicação de um determinado fenômeno. Esse tipo de pesquisa é descritiva e parte de análises indutivas. Para um bom resultado, a coleta de dados é menos rígida e menos objetiva.  O pesquisador é quem realiza a coleta de dados e a interpretação dos resultados obtidos das respostas subjetivas das pessoas entrevistadas.

 PESQUISA QUANTITATIVA

A pesquisa quantitativa considera elementos quantificáveis. Isto é, o objetivo da pesquisa é analisar fenômenos a partir de quantificações, normalmente através de ferramentas estatísticas.

O pesquisador, nesse caso, é apenas um observador, que não pode analisar os dados de forma subjetiva. A função dele é a de apresentar os resultados dos dados coletados, partindo de uma estrutura primária, ou seja, interpretar opiniões e ou números e transformá-los em informações, classificações e análises.

A pesquisa também poderá ser classificada quanto à sua natureza. Podendo ser básica ou aplicada.  Em que a primeira (básica) tem por objetivo gerar novos conhecimentos sem nenhuma prática prevista, apenas verificação teórica partindo de revisão bibliográfica. Já a segunda (aplicada), por sua vez tem por objetivo gerar conhecimento partindo de práticas aplicadas para solucionar problemas específicos.

Também é possível classificar a pesquisa quanto aos objetivos. 

Pesquisa exploratória

Tem por objetivo proporcionar maior conhecimento do problema, fazendo levantamento bibliográfico, entrevistas (caso haja necessidade), estudo de caso.

Pesquisa descritiva

A pesquisa descritiva objetiva caracterizar certo fenômeno por meio da descrição. Assim, deve-se utilizar técnicas de coletas de dados como questionários e técnicas de observação. Realização de levantamento de dados e informações.

Pesquisa explicativa

Esta pesquisa tem por objetivo identificar os fatores que determinam fenômenos e explicá-los. Segundo Gil (2007, p. 43), uma pesquisa explicativa pode ser a continuação de uma pesquisa descritiva, posto que a identificação de fatores que determinam um fenômeno exige que esteja suficientemente descrito e detalhado. Assume assim, forma de pesquisa experimental, quanto aos procedimentos.

Pesquisa experimental

A pesquisa experimental é um tipo de pesquisa de campo, também chamada de experimento. Conforme Gil (2008), tem por objetivo selecionar hipóteses, variáveis capazes de influenciar o objeto em relação à causa e efeito. Estuda a influência que as partes exercem sobre o todo.

Antônio Carlos Gil (2008, p.51), ressalta que esta “é a que mais se aproxima do conhecimento científico”, pois tem como características: clareza na descrição do experimento e estabelecimento de relações (causa e efeito) das relações funcionais.

Os positivistas acreditavam ser possível utilizar o mesmo método experimental das ciências naturais para pesquisas relacionadas às ciências humanas, não levando em consideração a subjetividade presente no objeto de pesquisa. 

Segundo Laville (1999):

A ciência positiva é, portanto, quantificativa. Isso permite, se se chega às mesmas medidas reproduzindo-se a experiência nas mesmas condições, concluir a validade dos resultados e generalizá-los.( LAVILLE, DIONNE 1999, p. 28)

Desse modo, só é considerado conhecimento científico, aquilo que for possível de experimentação, representado em dado: 

[…] positivismo lógico que formulou o célebre princípio da verificação (demonstração da verdade). Segundo este princípio, será verdadeiro aquilo que é empiricamente verificável, isto é, toda afirmação sobre o mundo deve ser confrontada com dados. (TRIVIÑOS 1987, p.37)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ainda que não finais, observa-se neste estudo  as principais características das abordagens e correntes filosóficas amplamente dialogadas ao longo do primeiro semestre do Programa PPGedu/Unemat Mestrado em Educação na disciplina de Pesquisa em Educação ministrada pelo Professor Laudemir Zart. Ao pensarmos na educação enquanto área do conhecimento que articula diversas questões, tais como religiosas, sociais, culturais, políticas e históricas, se faz necessário conhecer as diversas abordagens para compreender de que forma elas podem aproximar ou distanciar de nossos objetos de pesquisa.

Considerando a amplitude das correntes filosóficas e dos tipos de pesquisas, podemos observar a importância de todas as metodologias de pesquisas, bem como o fato de poder fazer uso de mais de um tipo de pesquisa para o melhoramento do trabalho científico, entretanto devemos observar atentamente o nosso objeto de estudo.

É importante ressaltar que quanto maior for o embasamento teórico-metodológico, maior relevância e confiabilidade terá a pesquisa. Considerando que quando decidimos pesquisar, temos o intuito de construir um novo conhecimento.

Assim, observa-se a necessidade do pesquisador ter um conhecimento prévio acerca da teoria para contribuir na elaboração da sua pesquisa, lembrando que a cada passo desde ao planejamento, coleta de dados, interpretação que exigem abordagens práticas se faz importante que tenha-se o domínio acerca da abordagem para conectar os dados obtidos por meio da realidade empírica com as contribuições teóricas. Quando o pesquisador não consegue estabelecer conexões entre os dados e as bases teóricas, o estudo não atende ao rigor científico necessário para legitimar a pesquisa. Deste modo para que tenhamos sucesso em nossa pesquisa, é primordial o conhecimento dos pilares teóricos, a escolha do tipo de abordagem, tipos de pesquisa, métodos de coleta de dados e interpretação. 

Toda pesquisa deve ter uma metodologia específica, um tipo de pesquisa que mais se adeque. Portanto, os objetivos, métodos e procedimentos devem estar em conformidade com o resultado que se pretende alcançar. 

Contudo este estudo visou contribuir para o conhecimento acerca das correntes filosóficas, bem como os tipos de pesquisas científicas e acima de tudo mostrar a relevância de conhecer esses componentes para oferecer subsídios para a realização do processo investigativo da minha pesquisa e de futuros pesquisadores

REFERÊNCIAS

ANDERY, Maria Amália Pie Abib; SÉRIO, Tereza Maria de Azevedo Pires. Há uma ordem imutável na natureza e o conhecimento a reflete: Auguste Comte(1798-1857). In: ANDERY, Maria Amália Pie Abib et al. Para compreender a ciência: uma perspectiva histórica. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo; São Paulo, EDUC, capítulo 21. 1996.

CESÁRIO, Jonas Magno dos Santos. Et al. Metodologia científica: Principais tipos de pesquisas e suas características. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 11, Vol. 05, pp. 23-33. Novembro de 2020. ISSN: 2448-0959. Disponível em https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/tipos-de-pesquisas. Acesso: 04/08/2021 

COMTE, A. Curso de Filosofia Positiva São Paulo: Nova Cultural, 1988.

COSTA, José Ferreira da; BARROS NETA, Maria da Anunciação Pinheiro. A Fenomenologia como método e Filosofia na Educação in ANAIS SemiEdu 2018 – 30 anos do PPGE: diálogos entre política públicas, formação de professores e educação básica. Universidade do Estado de Mato Grosso. 2018.

GIL, Antônio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6. ed. São Paulo. Editora Atlas, 2008.

GIL, A. C. Metodologia do Ensino Superior. 4ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 2008.

IANNI, Octavio. Karl Marx: Sociologia. 2.ed. São Paulo: Ática, 1980.

LAVILLE, Christian e DIONNE, Jean. A construção do saber: manual de metodologia de pesquisa em ciências humanas. Belo horizonte: editora UFMG, 1999.

MALDONADO, M.M.C. . Produção do Conhecimento: método materialismo histórico dialético. Bases teórico-metodológicas de pesquisas em Educação – PPGedu/Unemat. Youtube, 10 de junho de 2020. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=yfwO9vERX40. Acesso em: 30/04/2021.

TRIVIÑOS, Augusto N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação – O positivismo, A fenomenologia, O Marxismo. São Paulo: Atlas, 1987.

ZART, Laudemir L. Produção do Conhecimento: método materialismo histórico dialético. Bases teórico-metodológicas de pesquisas em Educação – PPGedu/Unemat. Youtube, 10 de junho de 2020. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=yfwO9vERX40. Acesso em: 30/04/2021.