AS CONTRIBUIÇÕES DOS EXERCÍCIOS CEREBRAIS PARA A POTENCIALIZAÇÃO DA APRENDIZAGEM

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10891350


Juliane Mattos de Carvalho Bandeira da Costa1
Orientador: Prof. Regina Helena Filgueiras de Sampaio2


RESUMO

O presente trabalho destina-se a conhecer as contribuições dos exercícios cerebrais para a potencialização da aprendizagem. As questões que nortearam nossa pesquisa foram respondidas ao longo do nosso trabalho e através da entrevista estruturada com alunos do curso Supera Academia de Ginástica Cerebral no município de Três Rios, interior do estado do Rio de Janeiro com o fim de confirmar ou não as hipóteses apresentadas no início do trabalho. Os principais referenciais teóricos da pesquisa foram: Weinert (1987), Gardner (1995), Katz (2010), Cosenza e Guerra (2011) e Brites (2019). Ainda contou com dados da Prova ABC, da organização não governamental Todos pela Educação, Instituto Paulo Montenegro (IBOPE) e Pesquisas Educacionais (INEP). O cérebro é o responsável pelo processamento e armazenamento das informações e de como selecionamos nosso comportamento. Sendo assim, compreender o seu funcionamento e as estratégias que favorecem o seu desenvolvimento precisa ser objeto de interesse dos educadores e de todos os envolvidos no processo educacional. Entender a forma como o cérebro aprende e como as emoções influenciam na aprendizagem é imprescindível para uma aprendizagem eficiente.

Palavras-Chave: Aprendizagem. Neuróbicas. Emoções.

ABSTRACT

The present work aims to know the contributions of brain exercises for the enhancement of learning. The questions that guided our research were answered throughout our work and through the structured interview with students of the Super Gymnasium of Cerebral Gymnastics course in the municipality of Três Rios, interior of the state of Rio de Janeiro, with the purpose of confirming or not the presented hypotheses the beginning of work. The main theoretical references of the research were: Weinert (1987), Gardner (1995), Katz (2010), Cosenza and Guerra (2011) and Brites (2019). The Proof ABC (Brazilian Evaluation of the End of the Literacy Cycle) is an exam that verifies the quality of children’s literacy and was carried out through a partnership between the non-governmental organization Todos pela Educação, Paulo Montenegro Institute (IBOPE ), The Cesgranrio Foundation and the National Institute of Educational Studies and Research (INEP). The brain is responsible for processing and storing the information and how we select our behavior. Therefore, understanding its functioning and the strategies that favor its development must be the object of interest of educators and all those involved in the educational process. Understanding how the brain learns and how emotions influence learning is imperative for effective learning.

KEYWORDS: Learning. Neurobics. Emotions.

INTRODUÇÃO

Este projeto de pesquisa destina-se a conhecer as contribuições que os exercícios cerebrais trazem para a aprendizagem. Busca-se também relacionar as questões de transtornos de aprendizagem à gestão das emoções, das habilidades cognitivas, socioemocionais e da autoestima para um desenvolvimento global dos educandos, através de uma metodologia que buscaremos conhecer no decorrer deste trabalho.

O nosso cérebro tem a surpreendente capacidade de se reorganizar e formar novas conexões entre as células nervosas (os neurônios). Além dos fatores genéticos, o ambiente no qual a pessoa vive e as ações desta pessoa têm um papel na neuroplasticidade.

Por muito tempo, acreditava-se que conforme envelhecêssemos as conexões entre os neurônios se tornavam fixas, isto é, imutáveis. Pesquisas demonstram que, com novos aprendizados, o cérebro nunca para de mudar.A eficácia da aprendizagem depende da construção de estratégias cognitivas e metacognitivas, ou seja, dos caminhos que o cérebro do indivíduo percorre até o efetivo aprendizado. Estes elementos possibilitam ao sujeito planejar e monitorar o seu desempenho, isto é, que permitem a tomada de consciência dos processos que utiliza para aprender e orientam as decisões apropriadas sobre que estratégias utilizar em cada tarefa e, ainda, avaliar a sua eficácia, alterando-as quando não produzem os resultados desejados. Aprender a aprender — o que, por vezes, não tem sido contemplado pela escola.

De acordo com Weinert (1987), as metacognições podem ser consideradas cognições de segunda ordem: pensamentos sobre pensamentos, conhecimentos sobre conhecimentos, reflexões sobre ações. A metacognição pode ainda exercer influência sobre a motivação, pois o fato dos alunos poderem controlar e gerir os próprios processos cognitivos lhes dá a noção da responsabilidade pelo seu desempenho escolar e gera confiança nas suas próprias capacidades.

A metodologia sobre a qual iremos nos debruçar é da Academia de Ginástica Cerebral SUPERA. É um curso que possui método próprio com vistas à potencialização da aprendizagem e das habilidades socioemocionais. A primeira unidade de ensino foi inaugurada em janeiro de 2006 e tornou-se franquia no ano seguinte. Inicialmente o público alvo eram crianças em idade escolar. Com os resultados, adultos e idosos se interessaram pelas aulas e perceberam a evolução de suas habilidades na vida prática.

Nesse sentido: Quais os benefícios da prática de exercícios cerebrais para a aprendizagem? Essa questão se levanta frente ao número elevado de crianças e adolescentes que se encontram em situação de dificuldade de aprendizagem, organização, concentração, memorização e atenção. As questões que nortearão esta pesquisa são: Os exercícios cerebrais contribuem ou não para a aprendizagem? Quais as consequências da falta de exercícios cognitivos para o cérebro? De que maneira o estudo da metacognição pode contribuir para o sucesso da aprendizagem? Qual a contribuição do Método SUPERA para a potencialização das habilidades cognitivas e socioemocionais dos educandos?

O presente estudo destina-se a conhecer as contribuições dos exercícios cerebrais para a potencialização das habilidades cognitivas e socioemocionais nas crianças e adolescentes que apresentam dificuldades na aprendizagem. Para tanto, lançaremos mão de pesquisa bibliográfica, estudos relacionados ao tema disponíveis em sítios da internet, bem como a utilização de pesquisa de campo através de um questionário simples e estruturado dirigido aos alunos da Academia de Ginástica Cerebral Supera na cidade de Três Rios, no estado do Rio de Janeiro. Objetiva-se de maneira geral, portanto: analisar os impactos que a prática da “Ginástica Cerebral” tem causado nos alunos com dificuldades de aprendizagem.

Objetiva-se de forma específica: investigar a metodologia aplicada na prática dos exercícios cognitivos para auxiliar os alunos no processo de aprendizagem. Demonstrar a importância de ensinar dentro de sala de aula o gerenciamento das emoções para que o educando consiga lograr êxito não só na aprendizagem escolar, mas também no seu cotidiano, com vistas à uma formação completa.

O presente estudo conta com as contribuições de Howard Gardner para compreensão dos fenômenos da aprendizagem e das inteligências múltiplas. Com o objetivo de investigar a natureza e a realização do “Potencial Humano”, esse importante estudioso americano, no final dos anos 70, junto com uma equipe de pesquisadores da Universidade de Harvard, percebeu a necessidade de aprofundar os estudos sobre os talentos internos das crianças, principalmente daqueles aprendizes que, em suas séries escolares, vinham sendo rotulados de “alunos que não aprendem”. Para Gardner:

 Uma inteligência implica na capacidade de resolver problemas ou elaborar produtos que são importantes num determinado ambiente ou comunidade cultural. A capacidade de resolver problemas permite à pessoa abordar uma situação em que um objetivo deve ser atingido e localizar a rota adequada para esse objetivo. A criação de um produto cultural é crucial nessa função, na medida em que captura e transmite o conhecimento ou expressa as opiniões ou os sentimentos da pessoa. Os problemas a serem resolvidos variam desde teorias científicas até composições musicais para campanhas políticas de sucesso. (1995, p.21)

A matemática é uma das matérias que os alunos mais apresentam dificuldades nas séries iniciais de escolaridade, o que acaba sendo refletido anos mais tarde. Isto foi comprovado na Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização, realizada no primeiro semestre do ano de 2011, com cerca de seis mil alunos.

A Prova ABC (Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização) é um exame que verifica a qualidade da alfabetização das crianças e foi realizado através de uma parceria entre a organização não governamental Todos pela Educação, Instituto Paulo Montenegro (IBOPE), Fundação Cesgranrio e Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP).

De acordo com os resultados da pesquisa, 57,2% das crianças, entre 6 e 8 anos, que concluíram o 3º ano do ensino fundamental não atingiu o limite mínimo esperado em relação à matemática. Significa dizer que de cada 100 alunos, 57 não concluem com sucesso contas simples das operações básicas.

Se somar e subtrair são dificuldades comuns a essa parcela expressiva de estudantes, isso pode ter sua causa relacionada a alguma dificuldade ao longo do processo da aprendizagem e pode acarretar problemas futuros a esses alunos.  

A pesquisa também revelou que a leitura e a escrita não estão atingindo níveis satisfatórios. Apenas 56,1% dos alunos encontram informações explícitas em textos e quanto à escrita, 46,6% não foram capazes de desenvolver uma temática proposta em uma redação.

Além disso, a matemática é determinante nas questões ligadas a raciocínio lógico, agilidade, interpretação e administração das estratégias. Não é só importante para a carreira, mas para a vida. O melhor entendimento das disciplinas contribui com o desenvolvimento das habilidades e das múltiplas inteligências dos alunos.

A inteligência lógico-matemática consiste na capacidade de usar os números de forma efetiva e para raciocinar bem. Isso inclui sensibilidade a padrões e relacionamentos lógicos, afirmações e proposições, funções e outras abstrações relacionadas. Dessa forma, dentre os processos utilizados por esta inteligência estão: categorização, classificação, inferência, generalização, cálculo e testagem de hipóteses (ARMSTRONG, 2001, p.14). Brennand e Vasconcelos a definem como sendo um tipo de inteligência que se revela na capacidade mental do humano de guardar, na sua memória, informações de representações de quantidade e de aplicar essas informações no cotidiano, resolvendo problemas (2005, p.30). E segundo Gardner, essas soluções são rapidamente formuladas pela mente e apresentam coerência antes mesmo de serem representadas materialmente. (1995, p.25)

A pesquisa será delimitada à Academia de Ginástica Cerebral SUPERA na cidade de Três Rios, interior do Estado do Rio de Janeiro. Será exploratória e explicativa e trará uma abordagem qualitativa. Serão realizadas as pesquisas de campo, bibliográfica e de levantamento de dados estatísticos. Através de uma entrevista estruturada, será feita uma investigação com o fim de responder aos questionamentos apresentados e a confirmação ou não das hipóteses que se levantarão com os resultados obtidos.

1  O FUNCIONAMENTO DO CÉREBRO DURANTE O APRENDIZADO

Nosso cérebro possui uma capacidade de processamento de informações tal, que a Neurociência segue na busca pela sua dimensão. O córtex cerebral, sede do aprendizado no cérebro, consiste em um número imenso de áreas distintas, cada qual especializada em receber, interpretar e armazenar as informações mandadas pelos sentidos. O que experimentamos através dos sentidos não fica concentrado em uma única parte do cérebro. As áreas do córtex cerebral são ligadas por centenas de circuitos neurais diferentes, capazes de armazenar memórias em combinações quase ilimitadas. 

Para Lawrence C. Katz e Manning Rubin:

O cérebro é uma profusão de moléculas específicas – as neurotrofinas – que são produzidas e segregadas pelas células nervosas para agirem como uma espécie de nutriente cerebral. São essas moléculas que promovem a saúde das células nervosas e das sinapses. (…) quanto mais ativas são as células do cérebro, mais produzem moléculas que estimulam o seu crescimento e melhor reagem. (p.13).

O cérebro é o responsável pelo processamento e armazenamento das informações e de como selecionamos nosso comportamento. Sendo assim, compreender o seu funcionamento e as estratégias que favorecem o seu desenvolvimento precisa ser objeto de interesse dos educadores e de todos os envolvidos no processo educacional.

Se os comportamentos dependem do cérebro, a aquisição de novos comportamentos, importante objetivo da educação, também resulta de processos que ocorrem no cérebro do aprendiz. As estratégias pedagógicas promovidas pelo processo ensino-aprendizagem, aliadas às experiências de vida às quais o indivíduo é exposto, desencadeiam processos como a neuroplasticidade, modificando a estrutura cerebral de quem aprende. Tais modificações possibilitam o aparecimento dos novos comportamentos, adquiridos pelo processo de aprendizagem. (COSENZA, 2011 P.141, 142)

As neurociências estudam os neurônios e suas moléculas constituintes, os órgãos do sistema nervoso e suas funções específicas. O resultado das atividades dos neurônios são as funções cognitivas e o comportamento. Embora os processos cognitivos ainda não sejam integralmente compreendidos, devido às limitações éticas e técnicas impostas pelo estudo do comportamento humano, muito já se tem alcançado. Para Ramon M. Cosenza e Leonor B. Guerra:

Embora muitas vezes se observe certa euforia em relação às contribuições das neurociências para a educação, é importante esclarecer que elas não propõem uma nova pedagogia nem prometem soluções definitivas para as dificuldades de aprendizagem. Podem, contudo, colaborar para fundamentar práticas pedagógicas que já se realizam cm sucesso e sugerir ideias para intervenções, demonstrando que as estratégias pedagógicas que respeitam a forma como o cérebro funciona tendem a ser as mais eficientes. (p.143)

1.1  A Aprendizagem e suas variáveis

Os seres humanos não nascem ensinados por alguma razão, nascem pelo contrário, imaturos e com imperícias múltiplas, por isso, precisam de vinculação emocional e afetiva e proteção social ao longo da sua infância prolongada. (Wallon, 1969, 1970; Vygostsky, 1979a, 1979b, 1986).

Ainda para o Professor Doutor Vitor da Fonseca:

A evolução da espécie humana e o desenvolvimento da criança individual espelham um processo de mudança nas relações corpo-motricidade-cérebro-mente que ocorre da imaturidade à maturidade, da imperícia à perícia, ou seja, do gatinhar ao andar, da lalação à articulação, do ato ao pensamento e do gesto à palavra, da leitura à escrita (FONSECA, 2009, 2016).

A aprendizagem envolve muitos aspectos e variáveis importantes a serem consideradas, tais como questões sociais, biológicas, cognitivas, entre outras. O primeiro viés a se levar em conta no que tange a dificuldade de aprendizagem é a importância da multidisciplinaridade integrada. Ou seja, quando nos referimos à dificuldade de aprendizagem, estamos falando sobre um ser que possui uma maneira diferente de aprender. Em geral, tais dificuldades são solucionadas dentro do ambiente escolar, pois se tratam de questões psicopedagógicas. O segundo viés e do distúrbio de aprendizagem. Segundo o Dr. Vitor da Fonseca o Distúrbio de Aprendizagem está ligado a “um grupo de dificuldades pontuais e específicas, caracterizadas pela presença de uma disfunção neurológica”. Neste caso, estamos lidando com uma questão de neurônios, de conexão.

A aprendizagem humana como modificabilidade corpórea e comportamental, portanto, pode ser explicada em três fases: inicial, intermédia e final. Na fase inicial as relações corpo-motricidade-cérebro-mente no sujeito estão ainda fragmentadas por inexperiência e imaturidade. Na fase intermédia as relações do sistema complexo corpo-motricidade-cérebro-mente, vão sendo gradualmente integradas no sujeito devido à experiência corpórea intensa e deliberada. Alguns neurocientistas sugerem 10.ooo horas pelo menos, asseguram os seus estudos de imagiologia cerebral entre seres humanos iniciados comparados com seres humanos peritos em várias atividades motoras ou simbólicas. Nesta fase crucial da aprendizagem, tais conexões por via do treino prolongado vão adquirindo mais auto consciencialização, mais solidez e segurança emocional, e obviamente, mais progressos na automaticidade. Nesta altura dos processos de aprendizagem, o corpo e a sua motricidade demonstram já parâmetros de fluência, precisão e de velocidade muito apreciáveis, os circuitos neuronais estão já reciclados mas continuam a fortalecer-se. (FONSECA, 2108. Cap.4)

Eis o segredo da aprendizagem humana, seja a subir e a descer a uma árvore para fugir de predadores, seja a lançar um arco e uma flecha, a desenhar e a pintar, a fabricar e a construir instrumentos e abrigos, a nadar, a andar de bicicleta, a ler e a escrever, a resolver um problema matemático ou científico. O nosso cérebro, assume assim, após experiência continuada e prática deliberada de aprendizagem, tais processos de modificabilidade comportamental com automaticidade, fluência, perícia e excelência, ou seja, sem controle atencional consciente (HALE & FIORELLO, 2004).

O cérebro de quem apresenta algum distúrbio de aprendizagem funciona de forma diferente, pois, mesmo sem apresentar alterações físicas, sociais ou emocionais, os portadores do distúrbio de aprendizagem demonstram dificuldade em adquirir o conhecimento da teoria de matérias específicas.

Isso não significa que sejam incapazes de aprender, uma vez que este quadro é reversível, necessitando para isso de métodos diferenciados de ensino adequados à singularidade de cada caso.

1.2  O cérebro se alimenta de novidade

O cérebro humano está preparado para reagir ao que é inesperado e a procurar o inusitado, como novas informações absolutamente inéditas vindas do mundo exterior. São os estímulos externos que aumentam a atividade cortical, à medida que existe a reação a tais estímulos. Ocorre então o fortalecimento das conexões sinápticas, que ligam áreas diferentes em novos padrões e acelera a produção das neurotrofinas, (dopamina, adrenalina, noradrenalina, endorfina, etc.) estas promovem a saúde das células nervosas e das sinapses.

Contudo, só aumentar a atividade do cérebro como ouvir mais música ou assistir mais televisão ou até mesmo ouvir mais barulhos não são suficientes para a produção de neurotrofinas. Assim como acontece com as atividades rotineiras, essas estimulações passivas dos sentidos não funcionam como exercícios cerebrais.

Nesse sentido foram desenvolvidos exercícios cerebrais que consistem em tirar o cérebro da rotina, chamados de Neuróbicas. Através de atividades simples do dia a dia como escovar os dentes, vestir-se, segurar um talher ou escrever, porém de maneira diferente do habitual. Com isso, o cérebro é desafiado, aumentando a produção das neurotrofinas e consequentemente a atividade cortical.

De acordo com o entendimento de Lawrence C. Katz e Manning Rubin:

Assim como os exercícios físicos ajudam a manter sua forma, a Neuróbica pode ajudá-lo a melhorar sua capacidade mental. (…) tem como objetivo ajudá-lo a manter um nível permanente de capacidade, força e flexibilidade mental à medida que vai ficando mais velho.

O programa de exercícios oferece ao cérebro experiências fora da rotina ou inesperadas, usando várias combinações de seus sentidos – visão, olfato, tato, paladar e audição – além do “sentido” emocional. Estimula padrões de atividade neural que criam mais conexões entre diferentes áreas do cérebro e fazem com que as células nervosas produzam nutrientes naturais para o cérebro, as neurotrofinas, que podem aumentar de maneira considerável o tamanho e complexidade das dentrites das células nervosas. As neurotrofinas também tornam as células ao redor mais fortes e resistentes aos efeitos do envelhecimento. (p.11)

Diferentemente dos exercícios cerebrais tais como: caça-palavras, cruzadinhas, quebra-cabeças e os de memorização, as Neuróbicas usam os cinco sentidos de maneiras diferentes, fazendo associações, por exemplo: juntar um rosto (visão) a um aroma (olfato) e a um alimento (paladar) associando-os para criar os blocos de memória, formando a base para o aprendizado.

Carla Tieppo, neurocientista, professora da Faculdade de Medicina da Santa Casa e da Faculdade de Psicologia da PUC SP, explica que o cérebro é composto por circuitos formados por neurônios, que ficam mais “fortes” à medida que são usados. Uma pessoa que está aprendendo a andar de bicicleta, por exemplo, exercita cada dia mais esses circuitos até conseguir realizar a tarefa sem nenhuma dificuldade. “É como se eles estivessem sendo lubrificados e funcionassem cada vez melhor”. Assim como os músculos, o contrário também é verdadeiro: quanto menos se usa, menos os neurônios se desenvolvem. 

1.3 As emoções e a aprendizagem

As emoções podem ser consideradas como “complexos psicofisiológicos que se caracterizam por súbitas rupturas no equilíbrio afetivo de curta duração, com repercussões consecutivas sobre a integridade da consciência e sobre a atividade funcional de vários órgãos. ” (BALLONE, 2002)         

Técnicas avançadas de produção de imagens cerebrais indicam o que os pesquisadores em neurociência vêm descobrindo, que os circuitos do cérebro para as emoções são tão tangíveis quanto os dos sentidos. Por essa razão alguns a consideram como o “sexto sentido”.

(…) está evidente, por inúmeros estudos, que a capacidade da pessoa de lembrar alguma coisa depende em grande parte do contexto emocional. (…) o hipocampo tem mais probabilidade de arquivar uma informação na memória de longo prazo se essa informação possui um significado emocional de maior peso. (KATZ, 2010 p.26)

Ainda segundo BRITES, 2019:

Assim como ocorre com a cognição, a emoção também não é algo único, ou seja, é algo classificado em três grupos distintos, a saber: Emoções primárias (relacionadas à sobrevivência e ao instinto – e subdivididas em emoção de choque, emoção colérica e emoção afetuosa); – Emoções secundárias (relacionados às emoções mais complexas em detrimento das relações primárias); – Emoções mistas (relacionadas aos estados afetivos que caracterizam o conflito emocional). (BRITES, 2019)

As interações com outras pessoas são um gatilho importante para as reações emocionais. Além disso, como as situações sociais são em geral imprevisíveis, existe maior chance de o cérebro sair da rotina. O desempenho mental tende a cair quando alguém é privado de tais interações.

Um dos aspectos mais relevantes da prática da Neuróbica está em encontrar oportunidades para interagir com outras pessoas que não estejam no rol de convívio habitual.

O ritmo da vida moderna reduziu a frequência e a intensidade das interações sociais cotidianas, assim como o conforto da modernidade nos privou dos benefícios de muitas estimulações sensoriais. Um exemplo claro e atual disso são as redes sociais, que nos conectam ao mundo em uma velocidade espantosa. Em contrapartida, tem afastado pessoas que estão sob o mesmo teto.

2  A GINÁSTICA CEREBRAL

Por muito tempo, acreditava-se que conforme envelhecêssemos as conexões entre os neurônios se tornavam fixas, isto é, imutáveis. Pesquisas demonstram que, com novos aprendizados, o cérebro nunca para de mudar. Isso ocorre devido à neuroplasticidade cerebral, que é a capacidade que o nosso cérebro tem de se modificar quando um novo aprendizado se consolida. O nosso cérebro tem a surpreendente capacidade de se reorganizar e formar novas conexões entre as células nervosas (os neurônios).

A ginástica para o cérebro proporciona benefícios em curto prazo, relacionados a ganhos de desempenho e superação de dificuldades como déficit de atenção e sequelas de acidente vascular cerebral. Os benefícios a longo prazo, relacionados à saúde e à qualidade de vida, previnem o declínio mental e o desenvolvimento de doenças degenerativas do cérebro.

Todas as vezes em que tiramos o nosso cérebro da chamada “zona de conforto”, principalmente atendendo a estes três requisitos – novidade, variedade e grau de dificuldade crescente –, estimulamos o desenvolvimento de novas redes neurais e a produção de neurotrofinas, que aumentam a quantidade e qualidade das sinapses, ampliando a capacidade de processamento e a reserva cognitiva do cérebro.

2.1  O Método Supera

O SUPERA Ginástica para o Cérebro nasceu do desejo do brasileiro Antônio Carlos Guarini Perpétuo de ajudar o filho mais novo com diagnóstico de TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade) a melhorar a capacidade de concentração e aprendizagem. Durante dois anos, através de pesquisas buscou ferramentas pedagógicas e educadores para criar um método que permitisse às pessoas aproveitarem o máximo de sua inteligência.

Com base nas teorias do conhecimento e os avanços da neurociência, que comprovam a capacidade que o cérebro tem de se modificar, a equipe de estudiosos criou um curso para desenvolver atenção, foco, memória e raciocínio lógico. O método combinou o uso do ábaco (instrumento de cálculo milenar) com apostilas exclusivas, dezenas de jogos de tabuleiro e dinâmicas de grupo.

Em janeiro de 2006, o SUPERA inaugurou sua primeira escola e tornou-se franquia no ano seguinte. Inicialmente o atendimento era para crianças e adolescentes em idade escolar. Com os resultados, adultos e idosos se interessaram pelas aulas e perceberam a evolução de suas habilidades na vida prática.

No curso não são trabalhados conteúdos escolares: Português. Matemática, Ciências, Geografia e Inglês por exemplo. Mas os exercícios propostos pelo Método auxiliam no estudo e otimizam a aprendizagem dessas disciplinas. Atualmente a escola conta com mais de trezentas unidades em todo o território nacional e está em fase de expansão para o exterior.

2.2  Referencial Teórico

O Método Supera tem por base a Teoria de Inteligências Múltiplas de Howard Gardner, que descreve a grande diversidade existente de talentos e estilos de aprendizagem e, consequentemente, a maneira flexível de como o processo de ensinar deve ser conduzido para alcançar efetivamente todos os alunos;

Em Jean Piaget, que defende que o conhecimento é uma construção que se dá na interação entre um sujeito ativo e os objetos do conhecimento. Os jogos consistem numa simples assimilação funcional, num exercício das ações individuais já aprendidas, gerando ainda um sentimento de prazer pela ação lúdica em si e pelo domínio sobre as ações. Portanto, os jogos têm dupla função: consolidar os esquemas já formados e dar prazer ou equilíbrio emocional à criança. (Piaget apud Faria, 1995);

Em Lev Vygotsky, que prioriza a função mediadora da cultura e da linguagem na formação do Ser Humano. As obras de Vygotsky incluem alguns conceitos que se tornaram incontornáveis na área do desenvolvimento da aprendizagem. Um dos conceitos mais importantes é o de Zona de Desenvolvimento Proximal, que se relaciona a diferença entre o que a criança consegue realizar sozinha e aquilo que, embora não consiga realizar sozinha, é capaz de aprender e fazer com a ajuda de uma pessoa mais experiente (adulto, criança mais velha ou com maior facilidade de aprendizado, etc. Segundo ele, o lúdico influencia enormemente o desenvolvimento da criança. É através do jogo que a criança aprende a agir, que sua curiosidade é estimulada, que adquire iniciativa e autoconfiança; os jogos proporcionam o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração (Vygotsky, 1989);

Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI: EDUCAÇÃO UM TESOURO A DESCOBRIR. Esse documento apresenta os 4 pilares da educação para o século XXI. Para poder dar resposta ao conjunto das suas missões, a educação deve organizar-se em torno de quatro aprendizagens fundamentais que, ao longo de toda a vida, serão de algum modo, para cada indivíduo, os pilares do conhecimento: aprender a conhecer, isto é, adquirir os instrumentos da compreensão; aprender a fazer para poder agir sobre o meio envolvente; aprender a viver juntos a fim de participar e cooperar com os outros em todas as atividades humanas; finalmente, aprender a ser, via essencial que integra as três precedentes.

Philippe Perrenoud, que, partindo do princípio de que os seres humanos se desenvolvem pelas relações que estabelecem com seu meio, vê as competências não como um caminho, mas como um efeito adaptativo do homem às suas condições de existência. Desse modo, cada pessoa, de maneira diferente, desenvolveria competências voltadas para a resolução de problemas relativos à superação de uma situação, como, por exemplo, saber guiar-se no caminho de volta para casa a partir de um ponto de referência, o que mobiliza competências de reconhecimento ou mapeamento espacial; saber lidar com as dificuldades infantis, o que aciona competências pedagógicas; saber construir ferramentas, o que estimula competências matemáticas e lógicas, entre outras.

Reuven Feuerstein, que foi pioneiro no bem-sucedido Programa de Enriquecimento Instrumental e no conceito de Experiência de Aprendizagem Mediada (EAM). Feuerstein reforça a importância de ensinar a pensar (ao invés de ensinar apenas conteúdos) com a ajuda de um ambiente aberto e mediador. Os conceitos de que a inteligência é plástica e modificável, e que a inteligência pode ser pensada são centrais na Teoria da Modificabilidade Cognitiva Estrutural. Segundo ele, a inteligência pode ser desenvolvida em um ambiente de aprendizagem mediada criado a partir da teoria da Experiência da Aprendizagem Mediada.

O Documento da ONU Life Skills Education in Schools, que define life skills (habilidades para a vida) como habilidades que desenvolvem comportamentos adaptativos e positivos que capacitam os indivíduos a lidarem com as demandas e desafios da vida cotidiana. O conjunto dessas habilidades promotoras de saúde e bem-estar são: a tomada de decisão, a resolução e problemas, o pensamento criativo, o pensamento crítico, a comunicação eficaz, as habilidades de relacionamento interpessoal, a autoconsciência, a empatia, o lidar com emoções e o lidar com o estresse.

2.3  As Ferramentas do Método Supera

O Método Supera lança mão de determinadas ferramentas para fortalecer as conexões neurais. Uma vez fortalecidas, essas conexões beneficiarão os alunos em suas atividades em casa, no trabalho e na escola em termos de qualidade de vida e melhora no desempenho. Essas conexões estão relacionadas a várias habilidades como: a atenção e a concentração, o raciocínio lógico-matemático, a memória e habilidade viso espacial, além de estimularem o relacionamento intrapessoal e interpessoal, tão valorizados pelo mercado nos dias de hoje.

2.3.1  O Ábaco

O Ábaco é um instrumento utilizado na China há, pelo menos, 2.500 anos, onde é chamado de SUAN-PAN. Há mais ou menos 600 anos foi adaptado pelos japoneses que lhe deram o nome de SOROBAN. No Japão, ele integra o currículo desde a terceira série do Ensino Fundamental, existindo um programa para aumentar sua prática na melhor idade, já que, com as calculadoras, o uso do ábaco diminuiu muito, corroborando para o aumento das doenças degenerativas do cérebro.

O Ábaco é uma importante ferramenta de estimulação cognitiva que auxilia no desenvolvimento da habilidade de concentração durante as atividades com qualidade. Aprendendo a isolar estímulos distratores. Para poder realizar os cálculos no ábaco é preciso focar na tarefa. Como todos que fazem o cálculo querem acertar, o empenho em concentrar-se é grande. O acerto ativa o sistema de recompensa no cérebro.

Essa prática em todas as aulas vai fortalecendo as células nervosas e as conexões neurais, trazendo consequentemente ganhos nas atividades do dia a dia. Por meio de variações na técnica do ábaco, os alunos estimulam a memória, o raciocínio lógico e a agilidade de raciocínio.

2.3.2  As apostilas Abrindo Horizontes

Abrindo Horizontes são apostilas que oferecem variedade de atividades que estimulam habilidades como: a atenção e a concentração, a interpretação de leitura, o raciocínio lógico-matemático, o pensamento lateral, a criatividade, a capacidade de análise e síntese e o pensamento estratégico para a tomada de decisões.

A dificuldade crescente e na medida certa oferecida pelas atividades ativa o sistema de recompensa no cérebro, gerando sensação de bem-estar e prazer contribuindo positivamente para autoconfiança e autoestima dos alunos. O educador busca compreender quais foram as estratégias usadas pelos educandos para a realização das atividades de passatempos e raciocínio lógico presentes na apostila.

Têm por objetivo ajudar os alunos a melhorarem suas habilidades cognitivas, respeitando os caminhos que cada um escolhe para resolver os desafios propostos. Por meio do questionamento de como se chegou à determinada resposta, o educador — enquanto mediador — ajuda os alunos a tomarem consciência de como aprendem e das estratégias que usam o tempo todo na resolução das atividades.

2.3.3  Os Jogos Pedagógicos

Os jogos também são ferramentas estimulantes. São trabalhados sempre com o cuidado de mostrar para o aluno qual o benefício alcançado em termos de habilidades cognitivas, sociais e emocionais para a vida. Quando jogamos, desenvolvemos habilidades como: o raciocínio lógico-matemático, o pensamento lateral, a criatividade, estratégias para a tomada de decisões, capacidade de análise e síntese, competitividade e trabalho em equipe em um ambiente sadio. Essas habilidades também fortalecidas são usadas nas atividades cotidianas dos alunos.

Os educadores contextualizam o jogo e as habilidades por ele propostas por meio de histórias do cotidiano, de modo que, além de se colocarem nessas situações, os alunos conseguem ver a importância da prática do jogo para o fortalecimento cerebral, colhendo um melhor desempenho nas atividades do dia a dia, em casa, no trabalho, na escola e nos relacionamentos pessoais e profissionais.

A prática e aprendizagem dos jogos também envolvem processos metacognitivos, uma vez que transforma em conhecimento as informações adquiridas pelos alunos. Aumentam as habilidades cognitivas, para que estas auxiliem na reflexão sobre diferentes situações e tornem possível analisar, examinar, criticar e sistematizar informações. Nesse sentido, o aluno toma consciência de seus próprios processos mentais e tem a possibilidade de controlá-los gradativamente.

Os jogos estimulam o aluno, o motivam, despertam a curiosidade, proporcionando uma forma de aprender que é prazerosa, de maneira lúdica, bem diferente dos resultados de uma aprendizagem sob “pressão”.

A disciplina também pode ser desenvolvida através dos jogos, pois é necessário ter uma ordem para efetuar a atividade, e, quando há um interesse pelo que está sendo apresentado, a criança contribui para essa ordem. “Desde muito cedo o jogo na vida da criança é de fundamental importância, pois quando ela brinca, explora e manuseia tudo aquilo que está à sua volta, através de esforços físicos e mentais…” (ANTUNES, 2001)

Cabe ressaltar aqui que os jogos oferecem grandes benefícios cognitivos e comportamentais para a vida não só das crianças e jovens, mas também de adultos e pessoas da terceira idade, uma vez que o cérebro se modifica toda vez que um novo aprendizado acontece, e para isso não há restrições de idade. De acordo com seus objetivos, o educador deve:

  • Propor regras ao invés de impô-las, permitindo que o aluno elabore e tome decisões.
  • Promover a troca de ideias para chegar a um acordo sobre as regras.
  • Permitir julgar qual regra deve ser aplicada a cada situação.
  • Motivar o desenvolvimento da iniciativa, da agilidade e da confiança.
  • Contribuir para o desenvolvimento da autonomia.

O educador deve proporcionar situações que envolvam o aluno emocionalmente na busca da solução de problemas. Jamais deve dizer “-Faça assim”, referindo-se a fornecer a solução, pois essa atitude interrompe o processo de construção do conhecimento e passa a ser um processo de reprodução do conhecimento.

As habilidades cognitivas que o jogo proporciona são: memorização (visual, auditiva, cinestésica); orientação temporal e espacial (em duas e três dimensões); coordenação motora viso manual (ampla e fina); percepção auditiva, percepção visual (tamanho, cor, detalhes, forma, posição, lateralidade, complementação), raciocínio lógico-matemático, expressão linguística (oral e escrita), planejamento e organização. As atividades lúdicas operam com todos os tipos de inteligência (Gardner, 1985); inteligência lógico-matemática: interesse em problemas que envolvam sequências e ordenação; inteligência linguística: facilidade do uso da linguagem oral e escrita; inteligência espacial: interesse em quebras cabeças (formas de figuras planas e sólidos); inteligência intrapessoal e interpessoal: habilidade de relacionar-se no grupo; inteligência musical: domínio de sons, alturas e tonalidades; inteligência corporal cinestésica: capacidade de apreensão de grandes e pequenos movimentos

2.3.4 As Dinâmicas de Grupo

As dinâmicas no Supera têm o objetivo de estimular o relacionamento intra e interpessoal, a oralidade dos alunos, a capacidade de liderança, mudanças de atitude, a motivação e atitudes positivas. Podemos considerar que Dinâmica de Grupo é uma técnica que significa colocar um grupo de pessoas em movimento através de jogos, brincadeiras, exercícios, quando são vivenciadas situações simuladas, proporcionando sensações da vida real, nas quais os participantes poderão agir com autenticidade, buscando aperfeiçoamento de sua conduta, em situação de autoavaliação.

2.3.5 As Neuróbicas

Mudar alguma coisa na forma como fazemos as nossas atividades do dia a dia, aquelas para as quais ligamos o piloto automático, é fazer neuróbica. Quando escovamos os dentes com a nossa mão não dominante; quando tomamos banho à noite com a luz apagada ou de olhos fechados, exigimos mais do tato do que da visão, isso é tirar o cérebro da zona de conforto. Durante as aulas no Supera, os alunos também fazem neuróbicas. Por exemplo, os alunos fazem os cálculos no ábaco e, ao anotarem o resultado na apostila, usam a mão não dominante ou manipulam o ábaco de olhos vendados. Dessa maneira, o cérebro é confrontado com uma nova tarefa absorvente, desafiadora e potencialmente frustrante. (KATZ, 2010)

3  APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS

Esta pesquisa teve por finalidade responder aos questionamentos apresentados anteriormente, os quais nortearam o presente estudo. Foi realizada na Academia de Ginástica Cerebral SUPERA na cidade de Três Rios, que atende crianças a partir dos cinco anos de idade até idosos. O curso é privado e fica situado no centro da cidade de Três Rios. Atende ao público das classes A, B, C e D, pois alguns possuem bolsas de estudos. Para tanto, lançamos mão da entrevista estruturada, contendo cinco perguntas abertas para que os entrevistados tivessem a liberdade de expressar suas opiniões.

Esta pesquisadora teve acesso à aula do Supera ministrada por um educador homologado pelo Método com duração de duas horas. A turma analisada é de alunos com idades compreendidas entre 12 e 17 anos e nessa aula havia 8 alunos presentes. A capacidade máxima é de 12 alunos por turma. O professor-mediador se apresentou de maneira alegre e descontraída.

A abertura da aula foi com a discussão sobre o tema da semana: Comunicação verbal e não verbal. Todos os meses propostos temas pertinentes ao cotidiano dos alunos e cada semana são trabalhados subtemas. Logo após a abordagem e discussão, os alunos iniciam os cálculos do ábaco, cada qual no seu ritmo e nível.

O mediador lança desafios enquanto eles estão concentrados nos cálculos, propõe que eles realizem as tarefas de maneira diferente do habitual, sempre com o objetivo de tirar o cérebro da “zona de conforto”. Após o tempo estipulado para o ábaco, eles realizam os desafios da apostila Abrindo Horizontes por aproximadamente 20 minutos. Depois do intervalo, os alunos participaram de uma dinâmica de grupo e para encerrar a aula o mediador propôs um jogo coletivo.

Participaram da entrevista sete alunos, sendo duas meninas e cinco meninos, de duas turmas diferentes com idades entre 8 e 14 anos. Vamos apenas identificá-los pelas iniciais de seus nomes e suas idades a fim de preservar suas identidades.

Abaixo seguem descritas as cinco questões da entrevista com os alunos do Supera e suas respectivas análises:

1) VOCÊ ENFRENTA OU JÁ ENFRENTOU DIFCULDADES AO ESTUDAR? SE A RESPOSTA FOR SIM, QUAIS SÃO ELAS?

As respostas foram unânimes, todos os entrevistados relataram dificuldades durante o aprendizado de alguma matéria na escola. A matemática foi a matéria escolar mais citada. O aluno M. de 13 anos, que está no Supera há 2 anos e meio, relatou que antes de ser aluno do curso sua maior dificuldade era de compreender a matemática ensinada na escola. Foi através do ábaco (ferramenta principal do Método) que ele conseguiu compreender a matéria e adquiriu velocidade de cálculo e de raciocínio lógico-matemático.

Nesse sentido, Cosenza e Guerra afirmam:

As relações entre a matemática e o cérebro só começaram a ser desvendadas recentemente. Hoje temos uma compreensão razoável de como o cérebro lida com os números e a matemática básica, que são as habilidades mais necessárias no nosso dia a dia, para lidar com problemas prosaicos como saber as horas, manipular o dinheiro ou mesmo cozinhar. As habilidades matemáticas mais complexas ainda não foram suficientemente estudadas, e podem envolver outros sistemas cerebrais. Nosso conhecimento atual nos permite afirmar que a memória operacional e a atenção têm de ser envolvidas na resolução dos problemas matemáticos e, portanto, os circuitos com ela relacionadas serão certamente mobilizados. (COSENZA E GUERRA, 2011, p.115)

Além da matemática, os entrevistados relataram dificuldades como: falta de atenção, concentração, organização, disciplina e foco.

2) QUAIS EXERCÍCIOS VOCÊ TEM FEITO QUE TE AJUDAM NAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM?

Todos citaram a prática de cálculos com o ábaco como sendo o principal exercício e que tem ajudado no aprendizado escolar. O aluno H. de 12 anos está no 7º ano de escolaridade e há 3 meses no Supera. Além do ábaco, citou o “Jogo da Cachola” como um dos exercícios que tem ajudado na fixação dos conteúdos na escola. Esse jogo é uma espécie de jogo da memória, mas o jogador precisa fazer associações entre cores e figuras. Existem outros tipos de jogos em que são trabalhadas formas diferentes de memorização através de associações utilizando os cinco sentidos.  Segundo Katz, informações sensoriais simultâneas criam uma “rede de segurança” neural que retém os eventos para acesso futuro. (KATZ, 2010).

3) QUAIS SÃO OS DESAFIOS DO SUPERA QUE MAIS DESPERTAM O SEU INTERESSE? POR QUÊ?

O aluno L. de 8 anos está no Supera há 3 meses e não gosta de faltar às aulas do Supera. Em pouco tempo já percebeu mudanças positivas em seu aprendizado na escola. O desafio que mais desperta o interesse dele é o da Torre Inteligente. Nesse desafio os alunos trabalham diversas habilidades cognitivas, tais como: raciocínio lógico-estratégico, o pensamento lateral, a coordenação motora fina, o viso-espacial, viso-motor, corporal-cinestésica e o gerenciamento das emoções, pois precisam manter-se calmos para não deixar a torre cair. Este foi um dos desafios mais citados pelos entrevistados, porque além de tudo ainda é muito divertido.

Já o aluno H.de 12 anos mencionou o jogo Lançando histórias como o seu desafio preferido, pois estimula a sua criatividade, além de ser divertido. A ludicidade encanta, envolve e proporciona momentos ricos de aprendizado.

Os jogos e as brincadeiras têm por característica a liberdade de escolha da criança, sendo voluntário e não imposto (HUIZINGA, 1996; BROUGÈRE, 2010). Os autores dissertam que:

Chegamos, assim, à primeira das características fundamentais do jogo: o fato de ser livre, de ser ele próprio liberdade. Uma segunda característica, intimamente ligada à primeira, é que o jogo não é vida “corrente” nem vida “real”. Pelo contrário, trata-se de uma evasão da vida “real” para uma esfera temporária de atividade com orientação própria. Toda criança sabe perfeitamente quando está “só fazendo de conta” ou quando está “só brincando”. (HUIZINGA, 1996, p. 11, grifos nosso). A brincadeira é, antes de tudo, uma confrontação com a cultura. Na brincadeira, a criança se relaciona com conteúdos culturais que ela reproduz e transforma, dos quais ela se apropria e lhes dá uma significação. A brincadeira é entrada na cultura, numa cultura particular, tal como ela existe num dado momento, mas com todo seu peso histórico. […] A apropriação do mundo exterior passa por transformações, por modificações, por adaptações, para se transformar numa brincadeira: é liberdade de iniciativa e de desdobramento daquele que brinca, sem a qual não existe a verdadeira brincadeira. (BROUGÈRE, 2010, p. 82).

O aluno D. de 9 anos faz parte do Supera desde os 5 anos e meio de idade. Dentre os entrevistados, D. é o mais experiente no Método, apesar da tenra idade. Ele considerou as dinâmicas de grupo como o desafio que mais o ajuda a olhar para o outro e não só para si mesmo, uma vez que é filho único. Ajuda também a aprender a ganhar e perder nos jogos coletivos e a não desistir quando fracassar. Embora para ele seja um grande desafio, está disposto a tentar sempre para se superar a cada dia.

4) VOCÊ ACREDITA QUE EXERCITAR O CÉREBRO AJUDA NA SUA APRENDIZAGEM ESCOLAR? POR QUÊ?

A resposta de todos foi sim. Cada um contou um pouco sobre as suas experiências de aprendizagem antes e depois do Supera. O aluno M. de 13 anos considerou importante o exercício cerebral na resolução de problemas, pois, para ele, o cérebro já está aquecido e fica mais fácil encontrar maneiras diferentes para resolver questões.

A aluna M.E. de 14 anos disse que o Supera ajudou a deixá-la mais esperta, mais atenta às explicações e, consequentemente, mais confiante em si mesma para continuar aprendendo mais e melhor.

5) DE QUE MANEIRA O SUPERA TE AJUDA A GERENCIAR AS EMOÇÕES? COMO ISSO TE AJUDA A APRENDER MAIS E MELHOR?

A maioria dos entrevistados citou a melhora em sua autoestima. A aluna M.E. de 14 anos, devido a um A.V.C. (Acidente Vascular Cerebral) ficou com algumas sequelas que a impediram, por um tempo de frequentar a escola. Devido a isso, precisou repetir o 8º ano. Segundo a entrevistada, sua autoestima antes de ser aluna do Supera estava muito baixa, não acreditava ser capaz de aprender nada mais depois da enfermidade. Em pouco tempo, a aluna já se sente melhor, respondendo bem aos tratamentos e está recuperando sua autoestima. “Minha vida mudou pra melhor desde que cheguei aqui, me ajudou a vencer a depressão”, relatou a aluna de 14 anos, emocionada.

O aluno M. de 13 anos disse que aprendeu a manter a calma, pois aprendeu no Supera que cada um tem o seu tempo na aprendizagem. Na escola, quando precisa apresentar algum trabalho já não fica tão nervoso e se sente mais seguro e confiante em si mesmo.

A aluna M.L. de 11 anos nos relatou que as aulas do Supera têm ajudado a gerenciar o nervosismo e a ansiedade. Ela atribuiu aos jogos coletivos e as dinâmicas de grupo como sendo os principais exercícios que a auxiliam nessas questões.

É cada vez mais urgente trabalhar as emoções dentro e fora da sala de aula. Para Katz, o ritmo e a estrutura da vida moderna reduziram o número e a intensidade das interações sociais, assim como o conforto da modernidade nos privou de experiências e estimulações sensoriais. (KATZ, 2010). “Foi com esse intuito que o Método Supera incluiu em sua grade curricular o estudo das emoções e as interações sociais”, nos disse o professor-mediador do Método há três anos na Unidade de Três Rios. Ele também nos relatou que vem recebendo mensagens positivas de professores da rede regular de ensino, que têm notado sensível mudança no comportamento, melhora nas notas e no conceito geral daqueles que são alunos do Supera. “Isso para mim não tem preço! Saber que fizemos parte da transformação de alguém é maravilhoso! Nos dá ainda mais ânimo para continuar e demonstra que estamos no caminho certo. ” – Contou-nos o educador com a voz embargada.

Os dados coletados em campo permitiram compreender o Método Supera e as contribuições que os exercícios cerebrais proporcionam à aprendizagem. Trouxeram ainda ao bojo da nossa pesquisa a confirmação das questões levantadas no início do presente estudo. De fato, os exercícios cerebrais contribuem positivamente para uma aprendizagem eficiente e não só para a aprendizagem escolar, mas para a vida de uma maneira geral, pois ajudam na compreensão de si mesmo e do outro.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através do presente estudo foi possível conhecer as contribuições dos exercícios cerebrais para a potencialização da aprendizagem em uma instituição de ensino voltada para este fim, conhecida também como Supera Academia de Ginástica Cerebral. Conhecemos a estrutura do curso, o método desenvolvido com a finalidade de proporcionar às pessoas uma maneira diferente de enxergar o mundo, de colocar-se à prova e superar-se a cada dia através dos desafios propostos.

O Supera possui atualmente cerca de 300 unidades em todo o território nacional e está em processo de expansão para o exterior. Optou-se por realizar a pesquisa de campo na unidade Três Rios, interior do Estado do Rio de Janeiro. Direcionamos as perguntas a duas das 15 turmas do curso com idades compreendidas entre 8 e 14 anos de idade para compreendermos as dificuldades que levaram esses alunos a buscarem o auxílio do Método Supera.

As entrevistas tanto com os alunos, quanto com o educador-mediador do Método Supera foram primordiais para que as questões norteadoras fossem respondidas e abriram novos questionamentos acerca da importância de trabalhar as emoções dos alunos em sala de aula. O aprendizado está intimamente ligado à emoção. O tempo de cada indivíduo durante o aprendizado também precisa ser respeitado, sob pena de termos alunos ansiosos, frustrados e desanimados por não apresentarem um desempenho igual ao dos demais. Se somos diferentes, como a maneira e o tempo de aprendizado poderia ser igual?

Fica, pois, a reflexão para uma prática pedagógica mais flexível e abrangente, em que pesem as emoções dos alunos, suas relações intrapessoais e interpessoais. A potencialização da aprendizagem depende de todos os atores envolvidos no processo: alunos, pais, escola, professores, comunidade e, sobretudo, que os educadores conheçam as muitas formas diferentes de ensinar. Seja pelo lúdico, pelo afeto, pela abordagem criativa dos jogos ou dos exercícios cerebrais.

REFERÊNCIAS

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BRITES, L. https://neurosaber.com.br/cat/artigos/ Acesso em 18 de abril de 2019.

BROUGÈRE, G. Brinquedo e cultura. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2010.

COSENZA, R. M. Neurociência e educação: como o cérebro aprende / Ramon M. Cosenza, Leonor B. Guerra. – Porto Alegre: Artmed, 2011.

FONSECA, Vitor. Psicomotricidade. 2ª. ed.São Paulo:Martins Fontes,1988.

GARDNER, H. Estruturas da MenteA teoria das inteligências múltiplas. 1ª ed., Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.

______. Inteligências Múltiplas: a teoria na prática. Trad. Maria Adriana Veríssimo Veronese. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

HALE, J.B., FIORELLO, C.A., & Brown, L.  COGNITIVE HYPOTHESIS TESTING AND RESPONSE TO INTERVENTION FOR CHILDREN WITH READING PROBLEMS. Educational and Child Psychology, 22, 39– 61, 2004.

HUIZINGA, J. Homo Ludens. 4. ed. São Paulo: Perspectiva, 1996, 236p.

IBOPE: http://www.ibope.com.br. Acesso em: 02/2019.

INEP: http://www.inep.gov.br. Acesso em 02/2019.

KATZ, L. Mantenha o seu cérebro vivo / Lawrence C. Katz, Manning Rubin (tradução de Alfredo Barcellos Pinheiro de Lemos). Rio de Janeiro: Sextante, 2010.

TIEPPO, C. http://neurocienciaeaprendizagem.blogspot.com/2016/07/carla-tieppo-voce-e-seu-cerebro.html       Acesso em: 15 de março de 2019.

TODOS PELA EDUCAÇÃO: https://www.todospelaeducacao.org.br/pag/o-todos/#bloco_67 Acesso em 02/2019.

VYGOTSKY, L.S. A Formação Social da Mente. 6ª ed. São Paulo, SP. Martins Fontes Editora LTDA, 1998.

WALLON, Henri. Do ato ao pensamento: ensaio de psicologia comparada. Lisboa: Moraes Editores, 1979.


1 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Estácio de Sá para o Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Neuroeducação

2 Prof.ª Orientadora – Universidade Estácio de Sá para o Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Neuroeducação