APRENDIZAGEM E VIVÊNCIAS DISCENTES NA AMAZÔNIA: O PROTAGONISMO DOS ALUNOS NA EXPOSIÇÃO MUNICIPAL DA FEIRA DE CIÊNCIAS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202409291955


Lígia Naíme da Silva Xavier1
Carlos Alberto Saraiva Monteiro2
Eliane Bizantino Américo de Assis3


Resumo: Este artigo tem por objetivo trazer um relato de como a Feira de Ciências, espaço que pode ser formal ou não formal de ensino, contribui para o protagonismo do aluno do 3º ano. O ambiente de investigação se deu inicialmente na escola com o tema “Alimentação equilibrada e saudável” que, posteriormente, foi selecionado para participar da V Exposição de Ciências, Robótica, Educação Ambiental, Tecnologia e Inovação – EXPOCRAT. Realizado pela Secretaria Municipal de Educação, em Manaus/AM no ano de 2023. Em destaque, a participação de três alunas no 3º ano do Ensino Fundamental I que apresentaram as competências necessárias para exposição como o domínio da oralidade, dos procedimentos metódicos e o “espírito” científico. Todo o protagonismo dos alunos se tornou possível devido à Feira de Ciências, um evento científico que permite aos alunos adquirir vivências enriquecedoras para além da sala de aula, envolvendo a participação dos professores e a comunidade escolar.

Palavras-chaves: Feira de Ciências, protagonismo, aluno, letramento científico 

Introdução

Este artigo traz um estudo reflexivo sobre a Feira de Ciências, evento que promove o conhecimento científico nas escolas. Assume relevância em oportunizar protagonismo aos estudantes no que tange o ensino e aprendizagem e, por meio de uma ação pedagógica, desperta nos mesmos o interesse pela ciência.

A ideia de construir um artigo relatando o protagonismo dos alunos a partir de uma observação empírica dos professores durante todo o processo da realização do evento. A Feira de Ciências de 2023 aconteceu com o apoio da Secretaria de Educação Municipal de Manaus, primeiro nas escolas, e, posteriormente, os trabalhos selecionados seriam representados na V Exposição de Ciências, Robótica, Educação Ambiental, Tecnologia e Inovação – EXPOCREAT. 

Com a proposta de discutir as propriedades da pirâmide alimentar brasileira e utilizá-la como um guia para promover hábitos alimentares saudáveis entre os alunos e suas famílias. O trabalho seguiu um roteiro sistematizado sobre as partes da pirâmide, suas representações, grupos de alimentos, com intuito de incentivar os pais, alunos e toda a comunidade escolar a adquirir hábitos alimentares saudáveis.

Alimentação Saudável não é um assunto novo, mas que nunca perdeu a sua relevância, muitos problemas de má alimentação envolvem crianças e jovens consumindo produtos industrializados de baixo valor nutricional4.

A partir do tema Alimentação Saudável começou o processo de construção de um projeto de pesquisa, ensaio da turma e preparação do ambiente de apresentação. Os procedimentos utilizados foram a pesquisa bibliográfica, a qual foram feitos fichamentos e resumos de livros, artigos e pesquisas na Internet.

Na parte da exposição da Feira de Ciências que ocorreu na escola, o método de explanação oral e individual dos alunos sobre o tema, e a exposição de alimentos e seus benefícios foram o destaque da apresentação. Contudo, recursos com alimentos diversos, caixa de som, Painel de TNT, lembrancinhas de Eva em formato de frutas. Tornaram a apresentação mais dinâmica e didática. Logo, a postura do professor foi fundamental para estimular os alunos a pensar criticamente sobre os problemas sociais do seu dia a dia.

É necessário que o docente estimule os alunos a buscarem alternativas para os problemas cotidianos por meio da pesquisa. Deve fazer com que o educando aprenda a aprender e não seja também um reprodutor de conhecimento. Também é necessário que este docente se torne um professor-pesquisador engajado a melhorar a sua metodologia através da pesquisa (IMPROTA, 2021, p.23).

No referencial teórico, apresentamos a discussão da Feira de Ciências e a maneira que o evento contribui para o protagonismo dos estudantes, a importância do letramento científico e os desafios do professor de fazer ciência na escola.

Por último, a análise de discussão dos resultados, traz um breve relato de experiência sobre a Feira de Ciências que ocorreu tanto na escola e na XI – FMCTEA em que constatamos o protagonismo dos alunos na aprendizagem e no fazer científico.

Portanto, a Feira de Ciências é um evento que cria oportunidades para os educandos em potencial, desenvolvendo nos alunos o senso crítico, a curiosidade, a pesquisa e aprendizagem sobre o tema.

1 REFERENCIAL TEÓRICO

1.1 A importância da feira de ciências e o protagonismo dos alunos

A Feira de Ciências é uma atividade acadêmica e científica relevante em todas as modalidades de ensino, pois contribui para o saber de todos os que estão envolvidos no processo. Promove aos alunos e professores o conhecimento, a experiência e motivação para projetar algo de inovador e/ou significativo. Para os não envolvidos diretamente, a Feira de Ciências ajuda em promover a cultura e mudança de hábitos. Sendo assim, pode-se inferir que a Feira de Ciências fornece uma plataforma para alunos e professores, onde eles podem aprender com as experiências uns dos outros e se motivarem a projetar e desenvolver algo significativo e inovador (PEREIRA et al, 2023, p.2).

Envolver alunos na Feira de Ciências é uma atividade complexa que exige disciplina, autonomia e motivação. A participação dos alunos é condição sine qua non processo de iniciação científica.  

O empenho dos alunos na escola envolve métodos sistemáticos de ensino-aprendizagem em um contexto de valorização da motivação para aprender. O aprender na prática tem como premissas o ensino centrado no aluno e a aprendizagem baseada no processo de descoberta e criação (FONTES et al, 2020, p.2).

Sendo assim, podemos definir que a Feira de Ciências é uma atividade técnica, científica, cultural e social construída pelo e para a humanidade. Uma atividade que “fornece uma plataforma para alunos e professores, onde eles podem aprender com as experiências uns dos outros e se motivarem a projetar e desenvolver” (PEREIRA et al, 2023, p. 26).

Vale ressaltar que o ensino escolar deve estar consonante com o percurso científico, pois as novidades na sociedade são constituídas por mudanças advindas da ciência. Nesta perspectiva, “a Feira de Ciências pode corroborar com a construção do conhecimento científico, mas também traz outros benefícios como: crescimento pessoal e ampliação das vivências e conhecimentos; ampliação da capacidade comunicativa; mudanças de hábitos e atitudes.” (IMPROTA, 2021, p.25).

A proposta de se trabalhar o método científico na educação básica foi levantada na década de 1960 por José Reis. Para ele, quando uma criança desmonta um determinado brinquedo, denota a curiosidade sendo elemento fundamental para o espírito científico. Mas foi nos anos 1980 e 1990, a Feira de Ciências viveu uma certa popularidade.

A década de 1980 foi especialmente produtiva no que tange à realização de atividades diversificadas relacionadas ao Ensino de Ciências, seja nas aulas teóricas de Ciências, nas aulas de Laboratório ou na realização das Feiras. Neste momento as Feiras de Ciências adquiriram um viés de atividade voltada ao aprendizado e ao ensino, (PEREIRA et al, 2023, p. 8).

Dada a relevância, o conhecimento científico deve ser algo não limitados a sala de aula e aos livros didáticos, para que de fato, ocorra a participação e o envolvimento dos alunos na construção de um conhecimento para a vida.

Desenvolver o espírito crítico passa por uma questão de formação, imediatamente incidindo na prática do professor. Esse tipo de formação traz no currículo a vivência acadêmica com a educação em ciências, envolvendo professores e alunos no desejo de conhecer, criar, refletir, compartilhar, produzir e avaliar resultados numa efetiva interação com o mundo que os cerca (FONTES et al, 2020, p.4).

Porém, isso é explicável pela lógica do sistema capitalista, em particular, o modelo educacional brasileiro das escolas sem infraestrutura e autonomia, compromete significativamente uma educação de qualidade que inviabiliza uma escola que atenda aos interesses e melhorias da própria sociedade.

No final da década de 1970, devido à crise socioeconômica pela qual o país passava, com uma taxa de desemprego muito alta, o diploma de conclusão de curso superior não mais se constituía garantia de emprego. Em decorrência do aumento da demanda social pelo acesso à escolarização, e ao despreparo para lidar com tal demanda, as escolas passaram a enfrentar uma crise educacional e uma consequente perda de qualidade, mesmo com aumento do número de escolas havia excesso de alunos nas turmas. Em correlação com o aumento da demanda, ocorria o aumento de professores despreparados (PEREIRA et al, 2023, p.7 – 8).

Toda vocação para pesquisa só se consolida se houver espaço e oportunidade para que os alunos façam ciência dentro da escola. Para isso, é importante que o gestor, o professor e a comunidade escolar abracem a causa.

Assim, percebe-se na escola uma organização curricular fragmentada, desarticulada, disciplinar, refletindo a cisão histórica das atividades humanas imposta pelo modelo de sociedade moderna de especialização do conhecimento, supervalorizando um campo do conhecimento em detrimento do outro (FONTES et al, 2020, p.5).

A reflexão e a pesquisa devem se tornar uma prática cultural que se constrói e se remodela dentro da escola. Não se pode falar em vocação da ciência se não houver oportunidades aos estudantes de fazer parte desse contexto.

1.2 Feira de Ciências e o letramento científico: a busca do fazer diferente nas séries iniciais

Nas séries iniciais, fala-se muito que o papel do professor é ser um mediador, contudo, essa definição perde o sentido quando o educador não assume uma postura crítica e reflexiva de suas ações, tornando-se apenas um transmissor de educação bancária. O professor mediador é aquele que “traz a luz” sobre aquilo que é ensinado, permitindo autonomia ao aluno, propondo meios de reflexão da realidade, e por que não dos problemas sociais? No entanto, a realidade educacional das escolas públicas denota muitos problemas com alunos relacionados a falta de interesse nos estudos5, indisciplina, violência e acompanhamento familiar. Isso desestimula muitos professores e nos leva a questionar o valor da educação pública para a sociedade.

Apesar dos inúmeros desafios nas escolas, é na busca do fazer diferente que o professor enquanto intelectual, assume que “o conhecimento científico consiste numa articulação entre teoria e pesquisa empírica e é obtido a partir de uma ação coletiva no âmbito de uma rede de pesquisadores motivados por desafios intelectuais que são sócio-históricos” (DOS REIS; FROTA, 2012. p. 76).

Nos anos 1980, as pedagogias progressistas contribuíram para que o ensino de ciências fossem uma disciplina relevante na matriz curricular das escolas, período que as Feiras de Ciências se consolidaram como o objetivo de fomentar nos educandos o “espírito” científico. E a escola, o locus estratégico na reprodução dos conteúdos, na produção de conhecimentos e a difusão de novos saberes.

Fundamental para que o conhecimento científico não fique restrito apenas aos intelectuais. Partindo desta perspectiva, pode-se afirmar que o espaço escolar contribui para a socialização do conhecimento científico produzido ao longo da história, permite que o aluno relacione os saberes científicos com seu cotidiano e pode também por meio da pesquisa construir novos conhecimentos (IMPROTA, 2021, p.16).

Investimento, apoio e incentivo são indispensáveis no desenvolvimento das Feiras de Ciências. A escola pública tem problemas de infraestrutura e recursos, fazendo com que pais e até professores arquem com os custos para a realização dos eventos. Por conseguinte, 

a escola precisa dispor de recursos que possibilitem o desenvolvimento do projeto, não devendo faltar o incentivo por parte de toda comunidade escolar, pois a popularização da ciência se dá através de todo o trabalho produzido em conjunto. Temos reforçado que a ideia de “[…] popularizar a ciência em nada comunga com a sua simplificação e espontaneísmo” (FONTES et al, 2020, p7).

 Não acreditamos em uma crise educacional, mas um projeto de educação para as massas constituído pelas elites do país que deram certo. A educação brasileira é progressista, mas seus avanços no plano teórico e metodológico não alcançam em grande parte os sistemas de ensino.

No âmbito da pedagogia geral, as discussões entre educação e sociedade são determinantes para o surgimento das tendências progressistas que no Brasil se organizaram em correntes importantes, como a Educação Libertadora e a Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos. Foram correntes que influenciaram o ensino de ciências em (PEREIRA et al, 2023, p. 8)

A Base Nacional Curricular Comum – BNCC trouxeram certas contribuições para a realização das Feiras de Ciências, No entanto, a dificuldade de sua aplicabilidade concreta em sala de aula pelo excesso de conteúdo mínimo e conteúdo de reposição. Na prática, é só mais um documento burocrático e instrucional que reflete nos cursos de formação do magistério.

Uma das falhas para o desenvolvimento da educação de forma científica está na formação apenas técnica dos professores, por isso, muitos não se veem como autores, mas como simples reprodutores de conhecimento. Contudo, não se devem culpar os docentes por isso e sim o sistema voltado para o instrucionismo e desvalorização profissional (DEMO apud IMPROTA, 2021, p.16).

A Feira de Ciências possibilita aos alunos das séries iniciais o letramento ou alfabetização científica, o que agrega valores e conhecimentos por meio de aquisição de atitudes e comportamentos, somados com conceitos e ideias que permite ao aluno compreender de maneira crítica, a realidade, os dilemas sociais e formas de elucidar os problemas do mundo. 

Todavia, o letramento científico propõe trazer um olhar crítico para os alunos frente a ciência e os dilemas da sociedade. 

Por meio de uma abordagem interdisciplinar do professor, o letramento científico se consolida quando o ensino e aprendizagem do aluno transcende da teoria para a prática. Isto é, o conhecimento modifica uma mudança não apenas no pensamento, mas também, nas ações e atitudes dos indivíduos.

A proposta da Feira de Ciências não é fazem a mesma coisa, mas ousar em tentar buscar fazer algo diferente dentro das possibilidades da escola e dos alunos. Atualmente, estão mais interdisciplinares, isto é, inter relacionadas com a tecnologia e sociedade. Nesse contexto, as Feiras de Ciências surgem como uma alternativa para estimular o exercício da crítica individual dos alunos e despertar suas habilidades e competências (PEREIRA et al, 2023, p. 21).

A Feira de Ciências também é inclusiva no momento que envolve a comunidade, e democrática quando envolve alunos nas decisões de sua realização.

1.3 A interdisciplinaridade das Feiras de Ciências: do conhecimento científico nas escolas ao ofício do pesquisador

A escola é uma instituição importantíssima para assegurar o conhecimento, o legado cultural e científico tido como relevante para a humanidade. Dentro da escola, os mesmos podem se apropriar do saber científico, na relação dialógica com o professor, relacionando o saber da escola com a sua vida.

A pesquisa científica é a sistematização do saber, objetivando determinado objeto e/ou sujeito da pesquisa. Tem por finalidade a elucidação do problema, numa relação social de pesquisadores. Há um método próprio de investigação e averiguação dos seus pares sobre a síntese dos estudos. Todavia, a objetivação daquilo que se investiga relaciona-se com a o interesse do pesquisador e com o problema que o incomoda.

A escola assegura a transmissão desse legado cultural, o professor-pesquisador transcreve o conhecimento científico numa linguagem de melhor compreensão, permitindo que esse conhecimento possa ser apropriado pelos alunos.

Os problemas ambientais trouxeram uma preocupação com os educadores e isso ressignificou de certa forma As Feiras de Ciências. Tornando-as mais interdisciplinares, surgiram muitas propostas voltadas à temática ambiental e sustentabilidade. As questões sociais, até então pouco presentes nas temáticas, passaram a assumir uma concepção não somente técnica, mas reflexiva.

A necessidade de se alfabetizar cientificamente, através da busca de um saber ambiental, se justifica diante da possibilidade ensejada ao sujeito desse tornar capaz de atuar com autonomia na tomada de decisões e além disso de criar novos direcionamentos em relação aos existentes (PEREIRA et al, 2023, p. 17).

Um dos empecilhos de se fazer pesquisa na escola está na maneira de como o sistema de ensino conduz o Ensino de Ciências na escola muitas vezes descontextualizada da vida dos educandos.

Podemos entender que dois aspectos estão relacionados ao desinteresse pelo ofício do pesquisador: a cultura escolar e a qualidade de vida do brasileiro.

Muitas vezes, a cultura da escola está voltada à execução de tarefas. No entanto, não se faz ciência sem reflexão. E por isso, o ofício do pesquisador6 é algo desconhecido e distante da realidade dos alunos que, muitas vezes, tem uma ideia vaga concebida por meio de filmes e desenhos e notícias.

Mesmo com alguns esforços da iniciativa pública e privada, a profissão de pesquisador ainda é desconhecida do público geral. Por não ser uma profissão financeiramente atrativa, os jovens de baixa renda estão preocupados em obter um emprego. Logo, o objetivo destes está na “lutar pela sobrevivência” e não no deslumbre da carreira de pesquisador.

2 Procedimentos Metodológicos

Este trabalho teve início com a escolha do tema “Alimentação Saudável” tendo como objetivo compreender o impacto da alimentação na saúde dos alunos no decorrer na vida. Todavia, foi feito um levantamento bibliográfico de artigos e monografias sobre o assunto. Lakatos e Marconi (2003.p. 183) pontua que “a pesquisa bibliográfica não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre certo assunto, mas propicia o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras”.

Após o fichamento e seleção desse material, as próximas etapas foram criar um roteiro para apresentação do trabalho até o dia do evento.

Através de um planejamento sistemático, após a parte teórica foi construído uma pirâmide de madeira, para expor alimentos. Assim, a apresentação teria um feito prático no intuito de alertar o público sobre os problemas da má alimentação.

Devido a prazos apertados7 para apresentação da Feira de Ciências, a maior dificuldade estava na síntese e divisão das falas para os alunos. Os assuntos a serem lidos foram reescritos diversas vezes até chegar a uma versão definitiva, e redistribuída para cada aluno responsável pela apresentação, ou seja, ajustando o método diante dos percalços para apresentação do trabalho.

não existe um método melhor que o outro para encontrar as respostas aos problemas investigados, deve-se levar em consideração o contexto histórico em que as descobertas acontecem. Assim, as etapas do método científico servem apenas de modelo orientador durante o desenvolvimento de um estudo (IMPROTA,2021, p.16).

A pesquisa ocorre inicialmente no ambiente escolar, local em que os professores estão habituados a trabalhar, o que tornou adequado para tomadas de decisões e ajustes tanto para apresentação na escola, quanto na apresentação final com outros trabalhos escolares.

o mais adequado para a realização da pesquisa, uma série de cuidados devem ser tomados. É preciso, primeiramente, assegurar que o fenômeno ocorra numa forma suficientemente pura ou notável para que se torne exequível a pesquisa. Isso exige, naturalmente, um apreciável conhecimento do ambiente. (GIL, 2017, p. 110).

Portanto, todos os procedimentos foram adotados tem como base a elucidação do problema e a maneira mais eficaz de alcançar esses objetivos. Para isso, tornou-se indispensável o emprego de métodos científicos como registro, análise e discussão das ações tomadas para as interpretações dos resultados. 

3 Análise de dados

3.1 A realização da Feira de Ciências na escola

Neste tópico, apresentaremos uma breve descrição da escola onde iniciou a primeira exposição da feira de ciências e os aspectos gerais do evento.

A escola considerada pequena apresenta em média 600 alunos matriculados. É uma escola da rede municipal da cidade de Manaus – AM e está voltada apenas para a o Ensino Fundamental I. Apesar das limitações de recursos físicos, a escola considerada pequena possui uma estrutura física mínima para o funcionamento: salas climatizadas, refeitório, banheiros dos alunos, banheiros dos professores, secretaria, sala do gestor, sala da pedagoga e sala dos professores. 

A realização da Feira de Ciências nas escolas foi promovida pela Secretaria Municipal de Educação – SEMED, o que mobilizou alunos, pedagogos, gestores e professores e a família. Os  professores tiveram oportunidade de trabalhar novos instrumentos didáticos e, por conta disso, a motivação foi fundamental para despertar ainda mais o interesses dos alunos. 

A SEMED selecionou três jurados externos para avaliar os melhores trabalhos. Apenas um trabalho por escola seria selecionado para a representação das escolas municipais. Dos critérios dos avaliadores, três eram relevantes: o tema, a desenvoltura dos estudantes e o domínio no assunto.

O envolvimento dos estudantes se deu em todo o processo do tema, da pesquisa, da construção do projeto e apresentação. A pesquisa prévia do assunto por parte dos professores foi discutida, selecionada e distribuída para os alunos. Os mesmos, contribuíram de forma significativa em todas essas etapas. No decorrer do processo, foi feito um roteiro interdisciplinar envolvendo os componentes curriculares: português, matemática, ciências e artes com o tema Pirâmide Alimentar. Em seguida, os alunos fizeram pesquisas, atividades em sala de aula e assistiram vídeos relacionados ao tema com intuito de assimilar e compreender mais sobre o assunto.

No decorrer das habilidades, a apresentação obedeceu aos ritos da feira de ciência com o tema “Pirâmide Alimentar”.  A exposição foi dentro da sala e dividida em dois grupos: O grupo da apresentação contava com 11 alunos que estavam dispostos a mesa que explicavam os alimentos que compõem a pirâmide. Os demais estudantes que compunha a sala de aula finalizando com a apresentação da música “Alimentação Saudável”. O interessante do encerramento é que a apresentação envolvia a participação do público, logo, acreditamos que a feira de ciências é feita para todos com a participação de todos, no intuito de democratizar o saber científico.

De modo geral, conhecer a Ciência é assunto quase velado àqueles que não pertencem à comunidade científica. Não se trata de pretender a vulgarização da Ciência, mas do fato de que a compreensão de seus mecanismos de ação deva ser do conhecimento de todos os componentes da sociedade (PEEIRA et al, 2023, p.15).

Todos os alunos foram protagonistas na participação da turma como um todo. Todos estavam seguros sobre suas falas com boa dicção, postura e domínio do assunto. Vale ressaltar que a participação da comunidade foi bastante satisfatória diante do feedback que recebemos. Tanto a comunidade escolar quanto os visitantes elogiaram a Feira de Ciências pela organização e temas.

As ações humanas podem ser transformadas por meio do pensamento, o que denota a importância da educação no papel cidadania. Relatos dos pais mostraram que ao se conscientizarem de certos hábitos alimentares começaram a ter mais moderação com certos tipos de alimentos não saudáveis. 

Portanto, a Feira de Ciências acaba se tornando um espaço de participe social e de inclusão a todos.

A participação em feira de ciências aperfeiçoa o crescimento pessoal, ao passo que estimula o desenvolvimento da criticidade, produz maior envolvimento e induz ao exercício da criatividade do discente. No entanto, é constante o tema do projeto de pesquisa partir do professor. Na expectativa de elaborar o projeto, o docente tem buscado educandos interessados em pesquisar, daí lançarem projetos de pesquisa com o intuito de atrair alunos (FONTES et al, 2020, p.16).

O período para ensaio até o dia da apresentação foi curto, em torno de duas semanas. Ocorreu em sala de aula no período de 20 de julho de 2023 no horário diurno em grupo, e individualmente para os alunos como dever de casa. A participação da família ajudando os filhos foi fundamental nesse processo de aprendizagem e conhecimento. Sendo assim, acreditamos que a Feira de Ciências contribui para a união de todos com um foco em um único objetivo.

3.2 Um breve relato de experiência: o fazer científico dos alunos na Exposição de Ciências Municipal de Manaus

Após aprovação do tema “Pirâmide Alimentar” realizado pela turma do 3º ano, a mesma foi selecionada para representar a escola na XI Feira Municipal de Ciências, Tecnologia e Educação Ambiental – FMCTEA8.

 Exposição de Ciências, Robótica, Educação Ambiental, Tecnologia e Inovação -EXPOCRAT, realizado pela SEMED que reuniu profissionais, alunos e público diverso da cidade de Manaus. 

Essa experiência foi marcante para todos os envolvidos e oportunizou aos educandos interagirem com diversas pessoas.

 A realização do evento ocorreu em 20 de outubro de 2023, com diversos trabalhos e jurados externos para avaliação dos temas. 

A Secretaria foi responsável por toda a organização da Feira de Ciências, realizado no ginásio Vasco Vasques e foi disponibilizado um stand9 de evento para apresentação. O espaço era amplo, a sala de eventos e um palco com apresentações, brindes e informes. Foram três alunas escolhidas para exposição do trabalho e 3 professores para auxiliá-los. O horário de apresentação era das 14:00 às 16:00. Também foi disponibilizado para os alunos um lanche e o intervalo de cada apresentação dependia do fluxo de pessoas.

Chegamos no horário previsto e ornamentamos o stand em 15 minutos. Os outros 15 minutos, a professora regente fez um ensaio de apresentação, pontuando os pontos que precisam ser melhorados. Após os ensaios, a professora os tranquilizou dizendo o quanto elas estavam preparadas, o que denota a parceria entre ambos. 

Na apresentação, o domínio do conteúdo e a desenvoltura dos alunos foram destaque para aqueles que prestigiaram a feira. O protagonismo dos alunos tanto na aquisição do saber, como no método de transmitir determinado conhecimento pode ser observado. As alunas estavam comprometidas e entusiasmadas. Com disciplina e respeito, podemos inferir que a aprendizagem com os estudantes se consolidou.

Assim, integrar a ciência ao cotidiano da escola é transformar o conhecimento em algo criativo, estimulando a aplicação prática de reflexões teóricas por meio de intervenções efetivas na sala de aula. A realização de feiras de ciências na escola proporciona a produção de novos conhecimentos, sob condições de permanente aprendizagem, promovendo a interação entre professor e aluno (FONTES et al, 2020, p.2).

Apesar das alunas estarem pela primeira vez no ginásio Vasco Vasques na condição de representar a escola, a apresentação das alunas ocorreu de maneira espontânea e natural. Acreditamos que a Feira de Ciências oportunizou aos estudantes, a experiência e aprendizagem necessária para que o trabalho tivesse êxito. Sendo assim, acreditamos que a Feira de Ciências

aparece como um fator chave para o processo de ensino e deve ser incentivada na educação básica por intermédio de atividades que oportunizem autonomia dos alunos e o exercício de uma prática docente que não seja embasada na repetição de conteúdos e reprodução do conhecimento (PEREIRA et al, 2023, p.3).

Após o término da exposição, todas as equipes foram reunidas para a divulgação dos resultados escolares, e a escola alcançou a 6º colocação nas modalidades séries iniciais. Após o encerramento da V EXPOCRAT, todos os envolvidos no processo sentiram-se satisfeitos, e, memórias e histórias foram tecidas na vida de todos os envolvidos.

Conclusão

Estamos caminhando em uma sociedade que se transforma e se modifica constantemente de forma fugaz, devido ao avanço das tecnologias, sejam elas de informação e/ou comunicação. Portanto, este estudo também se encontra inacabado, refletindo um momento histórico de determinada sociedade. Mas a compreensão do relato do protagonismo dos alunos na feira de ciências nos ajuda a entender a importância da autonomia dos mesmos, da formação crítica e a feira de ciências como um espaço para formar cidadãos comprometidos com a sociedade, seja no campo político, econômico ou social. Logo, podemos compreender que

tratar de uma formação científica para os jovens atentando para esses três aspectos implica, muitas vezes, na introdução de práticas que articulem conteúdos técnicos e científicos a outros conhecimentos comunicacionais e procedimentais dando novos significados à ciência. Articular conhecimentos de natureza diversificada em situações de formação inicial, principalmente aproximando os princípios e teorias aos objetos em que intervém a experimentação, tem sido o desafio do ensino de ciências em todos os níveis (NASCIMENTO, 2021, p.41). 

Apesar das muitas dificuldades que os professores enfrentaram para a realização de um projeto para a Feira de Ciências com pouco tempo de planejamento, engajamento de alguns alunos, apoio financeiro e falta de incentivo. Diante das adversidades, a realização da Feira de Ciências foi bastante produtiva, sendo uma alternativa para além de uma educação formal, contribuindo no exercício da cidadania, do conhecimento e no despertar das habilidades e competências dos estudantes. Essas experiências tornaram-se formas de incentivo para que os mesmos despertem ainda mais o interesse pela ciência.

Os alunos não foram apenas protagonistas da sua aprendizagem, como também mostrou que a ciência faz parte do cotidiano dos mesmos, contribuindo na mudança de hábitos e comportamento. 

Portanto, além da disciplina, motivação e objetivo, dar oportunidade aos alunos é fundamental para que eles possam explorar todas as suas potencialidades e, a Feira de Ciências, é um evento científico que propicia essas ocasiões, contribuindo para a educação e formação do homem integral.


4Levantamento realizado em 2017 55% dos brasileiros entre 12 e 18 anos consumiram produtos como macarrão instantâneo, salgadinho de pacote ou biscoito salgado. Ver: https://www.previva.com.br/novosite/maalimentacaoentreadolescentespreocupaprofissionaisdasaude/
5É importante ressaltar que a secretaria de educação tem sua parcela de culpa, reforçando alguns desses problemas com o sistema de seriação continuada que não permite a retenção do aluno, comprometendo diretamente o ensino.
6Referimos ao ofício de pesquisador científico dentro das universidades e institutos de modo geral
7É importante esclarecer que a Feira Municipal de Ciências, Tecnologia e Educação Ambiental – FMCTEA passam por um planejamento prévio, por meio de um edital aberto disponível no início do ano letivo. Porém, a escola pública possui demandas e não pode interromper os dias de aula. Os prazos apertados estão relacionados aos arranjos que a escola faz para produzir o ambiente da feira na escola, bem como o ensaio das turmas.
9Espaço reservado aos expositores para exposição, feiras entre outros

Referências

DOS REIS, A. S.; FROTA, M. G. Ciência e processo de construção do conhecimento científico IN:  Educação científica e cidadania: abordagens teóricas e metodológicas para a formação de pesquisadores juvenis. Belo Horizonte: UFMG/PROEX, p. 76-78, 2012.

FONTES, Alvanisa Lopes de LIma; SANTOS, Simone Cabral Marinho; SOUZA, José Raul de. Protagonismo estudantil em feira de ciências na escola. Educação e Formação. Fortaleza, v. 5, n. 3, e2151, set./dez. 2020.  DOI: https://doi.org/10.25053/redufor.v5i15set/dez.215. Disponível em: https://revistas.uece.br/index.php/redufor/index Acesso em: 12 de jan. 2023.

IMPROTA, Marília de Brito. A feira de ciências como um espaço de aprendizagem e de popularização do conhecimento científico em um colégio estadual do município de Aporá-Ba. Monografia (especialização em Educação Científica e Popularização das Ciências). Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano. Catu, p.88. 2021.

LAKATOS, E. M; MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia científica.8. ed. São Paulo: Atlas, 2019. 

NASCIMENTO, Silvania Souza do. Protagonismo juvenil e inovação no desenvolvimento de projetos educativos IN: MOURA, Maria Aparecida (Org). Educação científica abordagens teóricas e metodológicas para a formação de pesquisadores juvenis. Belo Horizonte: UFMG, PROEX, p.41, 2012.

PEREIRA, Fecinei Fatim; SILVA, Ana Carla Peres da; SILVA, Hélio Peres da; SILVA JUNIOR, Hélio Peres da. Estudo Reflexivo sobre o uso das feiras de ciências como ferramenta pedagógica para a alfabetização científica na educação básica. Revista FT. Ciências Humanas. Edição 127 out.2023 p.1 – 26. DOI: 10.5281/zenodo.8411143


1Graduada em pedagogia pela Faculdade Boas Novas de Ciências Teológicas, Sociais e Biotecnológicas – FBN, especialista em Psicopedagogia Institucional e Clínica pela mesma instituição, professora da rede municipal de ensino de Manaus. E-mail: ligia.sec08@gmail.com
2Graduado em pedagogia pela Universidade do Estado do Amazonas – UEA, mestre em sociologia pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM, professor da rede municipal de Manaus. E-mail: casmsolrac@outlook.com
3Graduada em pedagogia pela Universidade Nilton Lins – UNINILTON LINS, especialista em gestão escolar pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM, gestora da rede municipal de ensino. E-mail: ely041075@gmail.com