APLICATIVOS M-HEALTH NA PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA E UMA DISCUSSÃO CRÍTICA SOBRE EFICÁCIA, INOVAÇÃO E ACESSIBILIDADE: REVISÃO INTEGRATIVA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202504242116


Gabriel Costa Gondim1
José Evaldo Gonçalves Lopes Junior2
Thiago Silva Ferreira3
Emanuel Victor Da Mota Araújo4
Eduardo de almeida e Neves5
Juliana Pinto Montenegro6
Gerusa Matias dos Santos7
Jonas de Sousa Santos8


RESUMO 

O avanço das tecnologias móveis tem transformado a maneira como as pessoas cuidam da saúde, especialmente no incentivo à prática de atividade física. Métodos: Este trabalho realizou uma revisão integrativa para compreender de que forma os aplicativos m-Health podem contribuir para a saúde dos usuários. A pesquisa seguiu as etapas metodológicas propostas por Galvão, Mendes e Silveira e utilizou a estratégia PCC (População, Conceito e Contexto) para a seleção dos estudos. Foram analisados artigos publicados entre 2020 e 2025, encontrados em bases como PubMed, Scielo e Biblioteca Virtual de Saúde (BVS). Após a triagem, três estudos foram incluídos na análise. Resultados: Os resultados indicam que o uso de aplicativos móveis favorece melhorias importantes na saúde, como o aumento da capacidade cardiorrespiratória (VO₂max) e a redução da pressão arterial, além de promover o engajamento em hábitos mais saudáveis, sobretudo quando a tecnologia é combinada com gamificação e biofeedback. Conclusão: Apesar dos avanços, a revisão aponta que o acesso a essas ferramentas ainda é limitado, concentrando-se em pessoas mais jovens e com melhores condições socioeconômicas. Dessa forma, reforça-se a necessidade de ampliar o alcance dessas tecnologias, buscando garantir que seu uso seja mais inclusivo e chegue a públicos que mais necessitam de apoio na promoção da saúde. 

Descritores: Aplicativos móveis; Falta de atividade física; Saúde mental; Telessaúde; Atenção Psicossocial. 

SUMMARY 

The advancement of mobile technologies has transformed the way people take care of their health, especially in encouraging the practice of physical activity. Methods: This study conducted an integrative review to understand how m-Health apps can contribute to users’ health. The research followed the methodological steps proposed by Galvão, Mendes and Silveira and used the PCC (Population, Concept and Context) strategy for the selection of studies. Articles published between 2020 and 2025, found in databases such as PubMed, Scielo, and Virtual Health Library (VHL), were analyzed. After screening, three studies were included in the analysis. Results: The results indicate that the use of mobile applications favors important improvements in health, such as increased cardiorespiratory capacity (VO₂max) and reduced blood pressure, in addition to promoting engagement in healthier habits, especially when technology is combined with gamification and biofeedback. Conclusion: Despite the advances, the review points out that access to these tools is still limited, focusing on younger people with better socioeconomic conditions. Thus, the need to expand the reach of these technologies is reinforced, seeking to ensure that their use is more inclusive and reaches audiences that most need support in health promotion. 

Keywords: Mobile applications; Lack of physical activity; Mental health; Telehealth; Psychosocial Care. 

INTRODUÇÃO 

Em primeiro lugar, o uso da internet e aplicativos móveis modificou profundamente a forma como vivemos, aprendemos e nos comunicamos no cotidiano atual. A tecnologia deixou de ser apenas um meio de entretenimento para se tornar algo mais essencial e necessário no dia a dia, trazendo benefícios para a educação, o trabalho e a vida social. Segundo Oliveira et al. (2022), entre os mecanismos pelos quais os APP’s poderiam contribuir para o aumento do nível de atividade física está a possibilidade de oferecer uma combinação de técnicas de mudança de comportamento em um único dispositivo.  

Dessa forma, podemos ver como a integração da internet somada a tecnologia de “apps móveis” favorece o aumento de atividade física, além de promover o aumento da saúde populacional, com a combinação de técnicas para mudar o comportamento citada anteriormente (Oliveira et al. 2022). 

Ademais, os aplicativos móveis, tornaram-se mecanismos indispensáveis no nosso cotidiano, influenciando a forma como nos comunicamos, estudamos, trabalhamos e nos entretemos. A tecnologia trouxe a tecnologia móvel trouxe inúmeras facilidades, tornando a informação mais acessível e otimizando diversas tarefas. “Adotando novas tecnologias, sensores vestíveis para rastrear sinais biológicos e redes de sensores sem fio, como a rede de área ampla de baixa potência (LPWA), mostram-se promissoras na promoção do exercício físico. Sua acessibilidade, sustentabilidade e integração com a Internet das Coisas (IoT) os tornam acessíveis, especialmente quando integrados em smartphones. Além disso, eles facilitam o biofeedback não invasivo de variáveis fisiológicas, como a frequência cardíaca.” (Loro et al. 2023).  

Portanto, a adição da tecnologia em diversas áreas facilita o acesso a métodos de exercício físico e a fiscalização das atividades físicas e seus praticantes, consequentemente, diminui a quantidade de pessoas com costumes sedentários e riscos graves na sua saúde, como doença cardiovascular, obesidade e hipertensão, por exemplo. 

Segundo Oliveira et al. (2022), o uso de “apps” que incentivam hábitos bons e saudáveis que verificam o nível de atividade física diária (NAF) vem aumentando nos últimos anos. A tecnologia tem sido uma grande aliada na personalização de tratamentos e combate ao mal-estar, como podemos ver com a evolução da tecnologia a sua adesão à apps de atividade física, por exemplo, influenciam na criação e adaptação de hábitos e rotinas saudáveis para a sociedade.  

Além disso, a inteligência artificial permite que médicos possam analisar grandes quantidades de dados e identificar padrões que auxiliem no diagnóstico de diversas enfermidades. Sendo assim, o avanço tecnológico possibilitou o maior gerenciamento de problemas de saúde, além da possibilidade de acesso mais rápido e tratamento mais preciso e específico (Oliveira et al. 2022). 

Outrossim, “A inatividade física (IF) definida como o não cumprimento das recomendações de atividade física (AF) mínimas para manter a saúde da população, é o quarto fator de risco associado à mortalidade precoce em adultos, se o atributo 7% dos casos de diabetes mellitus tipo 2 e o 6% das doenças cardiovasculares são um fator importante de risco de multimorbilidade.” (Richar et al. 2023).  

A atividade física é essencial para uma vida saudável. Ela impacta o bem-estar mental, melhora a qualidade de vida e auxilia na prevenção de doenças. Segundo Loro et al. (2023), “a prática de exercícios físicos é fundamental para evitar o início e controlar doenças crônicas não transmissíveis, como doença cardíaca isquêmica, derrame, doença pulmonar obstrutiva crônica, diabetes tipo 2 e certos tipos de câncer.”. Ou seja, vale ressaltar como a prática de atividade física e uma rotina ativa é importante para a saúde física e mental, além da prevenção de problemas de saúde e manutenção corporal.  

No entanto, muitas pessoas ainda veem a prática de exercícios como uma obrigação ou algo difícil de encaixar na rotina. Acredito que a chave para superar essa dificuldade seja encontrar uma atividade prazerosa para o indivíduo e torná-la, também, divertida e recompensadora, como dito em Loro et al. (2023), “o potencial das intervenções gamificadas é promissor na promoção da atividade física em diversos grupos demográficos. Essas intervenções alavancam técnicas de jogos para infundir atividades com ludicidade, desafios, recompensas relevantes e maior motivação dos participantes, promovendo hábitos duradouros.”. 

MÉTODOS 

Trata-se de uma revisão integrativa, seguindo as etapas de desenvolvimento propostas por Galvão, Mendes e Silveira (2008) que incluem: formulação da pesquisa, definição dos critérios de inclusão e exclusão, busca e seleção dos estudos, avaliação crítica, análise e apresentação dos resultados. O estudo foi desenvolvido no período de março de 2025, por meio da rede Wi-Fi da Universidade Federal do Ceará – UFC. 

A pergunta de partida foi: “Os aplicativos móveis de atividade física realmente trazem melhorias para a saúde dos seus usuários?”. Foi utilizada a estratégia PCC (Population, Concept, Context), sendo: P: usuários/pacientes; C: redução dos transtornos, bem-estar, intervenção eficaz dos profissionais; C: recursos utilizados com pessoas usuárias dos aplicativos, como mostra o quadro 1. A construção da estratégia foi baseada na pergunta de pesquisa, e os descritores que geraram as ideias implícitas na pergunta a ser respondida (The Joanna, 2015). 

Foram selecionados artigos científicos nos seguintes sites eletrônicos: Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Scientific Electronic Library Online (SCIELO), National Library of Medicine – NIH (PubMed/MEDLINE), Literatura LatinoAmericana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Biblioteca Cochrane (COCHRANE). Os termos-chave foram estabelecidos através dos Descritores em Saúde (Decs) para o idioma em português e Medical Subject Headings (MeSH) para o idioma em inglês e espanhol. A cadeia de termos foi composta pela união das palavras com o operador booleano AND: “mobile applications” AND “mental health” AND “mhealth” AND “ehealth” AND “exercise”. 

Após a inserção dos termos, a leitura ocorreu por pares e foram selecionados os artigos com os seguintes critérios: pelo menos dois dos descritores no título, com período de publicação de 2020 a 2025, nos idiomas inglês, português e espanhol. 

Para expor os artigos após a seleção, os autores desenvolveram quadros com as modalidades temáticas, trazendo as seguintes informações: autor principal, título do artigo, local da pesquisa e amostra do estudo, idioma da publicação, objetivo principal e conclusão. 

Foi utilizado um fluxograma para descrever o processo de apresentação da condução da pesquisa, de forma clara e visual, seguindo as etapas de identificação, seleção, elegibilidade e inclusão de estudos, conforme figura 1 (Page et al, 2021).

Quadro 1 – Estratégia de busca para seleção dos estudos. Fortaleza, Ceará, Brasil, 2025.

Pergunta Os aplicativos móveis de atividade física realmente trazem melhorias para a saúde dos seus usuários? 
Tipo 
Palavras Chaves Usuários/pacientes Redução dos transtornos, bemestar, intervenção eficaz dos profissionais Recursos utilizados com pessoas usuárias dos aplicativos 
Descritores Decs Aplicativos móveis Falta de Atividade Física Saúde mental Telessaúde Mental Atenção Psic ossocial 
Descritores MESH Mobile Applications Exercise mental health Mental Health Teletherapy Care, Psychosocial 

Fonte: Autores, 2025.

Figura 1: Fluxograma de seleção dos artigos

Fonte: Autor, 2025. 

RESULTADOS 

A presente revisão integrativa permitiu reunir e analisar três estudos que abordam o uso de aplicativos móveis (m-Health) na promoção da atividade física. Os artigos incluídos oferecem perspectivas complementares desde a eficácia clínica das intervenções até o perfil dos usuários e o potencial de engajamento proporcionado por novas tecnologias. 

A síntese desses estudos aponta para um cenário no qual os aplicativos m-Health demonstram eficácia e inovação, mas esbarram em barreiras estruturais, como desigualdade de acesso, falta de personalização e desafios de engajamento em populações diversas. Os estudos abordam m-health e atividade física, porém sob diferentes enfoques, como mostram os quadros e as tabelas a seguir.

Quadro 2: Abordagens dos estudos segundo seus enfoques.

Aspecto Cárcamo-Regla et al. (2023) Loro et al. (2023) Vieira et al. (2022) 
População Mulheres com síndrome metabólica Adultos saudáveis Adultos brasileiros diversos 
Foco Efetividade do exercício com app vs. presencial Desenvolvimento/teste de app gamificado com biofeedback Perfil de usuários de apps 
Resultado-chave m-health melhora VO₂max e indicadores cardiometabólicos Espera-se semelhante convencional co engajamento eficácia ao m mais Apps são mais usados por jovens com bom nível socioeconômico e saúde 
Implicação prática Apps são eficazes para prevenção/intervenção Potencial para aumentar adesão com gamificação É preciso ampliar o alcance dos apps para grupos em maior risco 

Fonte: Autores, 2025.

Quadro 3: Descrição dos usuários dos artigos selecionados para revisão. Fortaleza, Ceará, Brasil

Artigo POPULAÇÃO/USUÁRIOS 
#1 149 participantes utilizaram um aplicativo gamificado e um biossensor para monitoramento dos exercícios 
#2 7 participantes mulheres que utilizaram o aplicativo móvel “Apptivate” para acompanhar um programa de exercícios físicos durante 10 semanas. 
#3 354 participantes com idade média de 43 anos e índice de massa corporal médio de 27 kg/m². 

Fonte: Autores, 2025.

Tabela 1: Síntese dos achados segundo autoria, ano de publicação, título, objetivo e periódico. Fortaleza, Ceará, Brasil, 2025.

ArtigoAutor/AnoRevista/ 
Publicação
ObjetivosResultados
#1Loro et al. 
(2023)
TrialsDesenvolver tecnologias inovadoras para prescrever, incentivar e avaliar exercícios físicos em adultos saudáveis.Avaliou a eficácia de um aplicativo gamificado com biofeedback para aumentar a adesão ao exercício.
#2Cárcamo-
Regla et al. 
(2023)
Revista
Médica de
Chile
Avaliar o efeito de um programa de exercícios físicos assistido por uma aplicação móvel em mulheres com síndrome metabólica.O programa melhorou a aptidão cardiorrespiratória e parâmetros antropométricos.
#3Vieira et al. 
(2023)
Frontiers in
Public Health
Caracterizar o perfil de usuários de aplicativos de smartphone para monitorar a atividade física em adultos brasileiros.Os usuários são mais jovens, com melhor status socioeconômico e maior qualidade de vida.

Fonte: Autores, 2025. 

Tabela 2: Descrição do desenho do estudo, aplicação, resultados e considerações. Fortaleza, Ceará, Brasil, 2025.

Artigo Autor/Ano Desenho do Estudo  Resultados Considerações Finais 
  #1   Loro et al. 2023 Estudo exploratório seguido de ensaio clínico randomizado, com três fases: desenvolvimento Avaliou a eficácia de tecnologias inovadoras para prescrever e monitorar exercícios As tecnologias inovadoras podem melhorar a adesão ao exercício físico e 
de biossensor, integração com gamificação e avaliação em ambiente controlado e não controlado. físicos, com foco em adesão e biomarcadores de saúde. monitorar biomarcadores de saúde, mas há limitações na comunicação entre diferentes faixas etárias. 
 #2   Cárcamo-Regla et al., 2023 Estudo controlado não randomizado com duas intervenções: exercício físico via mHealth e presencial. O grupo mHealth apresentou melhora no VO2max e redução no perímetro de cintura e pressão arterial diastólica. A intervenção mHealth foi eficaz em melhorar a aptidão cardiorrespiratória e reduzir fatores de risco cardiovascular em mulheres com alterações metabólicas. 
#3 Vieira et al., 2023 Estudo pre experimental com 37 adultos no Biobío, Chile, utilizando questionários para avaliar motivação e barreiras no exercício físico via mHealth. O exercício via mHealth apresentou maior motivação externa e menor motivação integrada em comparação com o exercício presencial. As intervenções mHealth podem promover motivação externa e superar barreiras percebidas, mas a motivação integrada é menor em comparação com o exercício presencial. 

Fonte: Autores, 2025. 

DISCUSSÃO 

A presença cada vez mais marcante das tecnologias móveis no cotidiano da saúde tem remodelado não apenas o modo como nos relacionamos com o autocuidado, mas também as estratégias empregadas para promover hábitos saudáveis. Entre essas estratégias, destacam-se as soluções digitais voltadas ao estímulo da atividade física e à prevenção de doenças crônicas não transmissíveis, um desafio de saúde pública que exige abordagens inovadoras, acessíveis e eficazes. No centro dessa transformação, os aplicativos móveis de saúde, conhecidos como m-Health, vêm se consolidando como ferramentas versáteis, capazes de atuar tanto na intervenção direta quanto no acompanhamento de usuários, além de fornecer dados importantes para a compreensão de seus perfis e comportamentos. 

O estudo de Loro et al. (2023) apresentou um protocolo robusto, composto por três fases, que envolvem desde o desenvolvimento de um biossensor até a integração com um aplicativo gamificado. A proposta foi testada tanto em ambientes controlados quanto não controlados. Os resultados indicam que essa tecnologia pode melhorar significativamente a adesão aos exercícios físicos e permitir o monitoramento preciso de biomarcadores de saúde. No entanto, os autores apontam limitações na comunicação e engajamento entre diferentes faixas etárias, sinalizando a importância da personalização nas abordagens tecnológicas. 

Já o estudo de Cárcamo-Regla et al. (2023) trouxe dados empíricos sobre os benefícios de um programa de exercícios físicos assistido por aplicativo móvel, voltado para mulheres com síndrome metabólica. A intervenção m-Health demonstrou ser eficaz na melhoria do VO₂max e na redução da circunferência da cintura e da pressão arterial diastólica. Os achados sugerem que as tecnologias móveis podem ser tão eficazes quanto os programas presenciais tradicionais, especialmente em populações com dificuldade de acesso a serviços de saúde contínuos. 

Os estudos aqui discutidos dialogam diretamente com esse panorama. Embora partam de perspectivas distintas com metodologias, públicos e objetivos próprios suas conclusões acabam se entrelaçando, desenhando um quadro rico em insights sobre as possibilidades, limites e contradições das tecnologias mHealth. 

No trabalho de Cárcamo-Regla et al. (2023), por exemplo, o foco recai sobre mulheres diagnosticadas com síndrome metabólica, um grupo frequentemente negligenciado por abordagens tecnológicas convencionais. Os resultados encontrados são expressivos: melhorias na aptidão cardiorrespiratória (VO₂max), redução na circunferência da cintura e diminuição da pressão arterial diastólica.  

O dado que chama atenção, no entanto, é que esses benefícios foram obtidos com o suporte de um aplicativo móvel, sendo comparáveis aos de uma intervenção presencial estruturada. Em outras palavras, o uso da tecnologia não apenas funcionou ele se mostrou, em alguns aspectos, equivalente ao modelo tradicional de atendimento. Para contextos em que o acesso presencial é limitado, seja por questões geográficas, logísticas ou econômicas, essa descoberta tem implicações profundas (Cárcamo-Regla et al. 2023). 

Na esteira dessa constatação, o protocolo proposto por Loro et al. (2023) leva a discussão a outro patamar. Ao desenvolverem uma solução que alia gamificação e biofeedback, os autores colocam em cena um modelo mais sofisticado, pensado não apenas para orientar a prática de exercícios, mas para gerar engajamento real e duradouro. A proposta é transformar o ato de se exercitar em uma experiência motivadora, recompensadora e, de certo modo, divertida algo que converse com as linguagens do cotidiano digital. 

Trata-se de um ensaio clínico com desenho metodológico sólido, que, mesmo ainda em execução, já antecipa uma reflexão valiosa: a eficácia da tecnologia não depende apenas de sua funcionalidade técnica, mas da forma como ela se insere no cotidiano das pessoas, dialogando com seus gostos, rotinas e motivações pessoais (Loro et al. 2023). 

No entanto, há uma dimensão que não pode ser ignorada. O estudo de Vieira et al. (2022) joga luz sobre uma desigualdade silenciosa: quem está, de fato, acessando essas ferramentas? Ao traçar o perfil dos usuários de aplicativos de monitoramento de atividade física no Brasil, os autores revelam que o público predominante é formado por pessoas jovens, com boa escolaridade, nível socioeconômico mais elevado e já inseridas em uma cultura de cuidado com o corpo.  

Ainda para Vieira et al. (2022), o público que menos precisaria de um estímulo adicional é o que mais tem acesso a ele. Os grupos que realmente enfrentam maiores barreiras para manter hábitos saudáveis seja por limitações financeiras, falta de informação ou dificuldades de mobilidade continuam à margem dessa revolução digital. 

Essa constatação revela um paradoxo inquietante: enquanto as tecnologias m-Health demonstram enorme potencial para apoiar o cuidado em saúde, sua adoção prática ainda está restrita a segmentos privilegiados da população. Para que esse cenário mude, é urgente pensar em estratégias que promovam não apenas a inovação, mas a inclusão. Isso implica desenvolver aplicativos com linguagem simples, interfaces acessíveis, funcionalidades adaptadas a diferentes perfis e realidades socioculturais, além de políticas públicas que favoreçam sua ampla disseminação. 

Vale também ressaltar a relevância do uso de indicadores objetivos como VO₂max e medidas metabólicas para validar a efetividade dessas intervenções. Enquanto o estudo de Cárcamo-Regla et al (2023), fornece dados concretos de melhora clínica, Loro et al (2023), estruturam um protocolo robusto que promete oferecer evidências similares, baseadas em biomarcadores e biofeedback em tempo real. Por sua vez, Vieira et al (2022) não apenas contextualizam o perfil do usuário típico, mas também apontam lacunas importantes na aplicabilidade prática dessas ferramentas junto a quem mais precisa delas. 

Por fim, Vieira et al. (2022) investigaram o perfil dos usuários de aplicativos de atividade física no Brasil. A amostra foi composta majoritariamente por adultos jovens, com bom nível educacional e melhores condições socioeconômicas. O estudo revelou que, apesar do potencial dos aplicativos, sua utilização ainda está concentrada em públicos com menor necessidade clínica, deixando de atingir grupos que poderiam se beneficiar mais diretamente dessas tecnologias. 

Dessa forma, a leitura integrada dos três estudos oferece um panorama amplo e crítico do atual estágio da saúde digital. Mais do que destacar o que já foi conquistado, ela provoca uma reflexão essencial: o futuro das tecnologias de promoção da saúde não se resume à criação de soluções cada vez mais sofisticadas, mas à capacidade de fazer com que elas cheguem, de maneira equitativa, a todos que possam se beneficiar delas. 

CONCLUSÃO 

Os aplicativos móveis voltados à promoção da atividade física representam uma ferramenta potente no enfrentamento da inatividade física, especialmente em tempos onde o ritmo acelerado da vida frequentemente inviabiliza práticas presenciais. 

As evidências reunidas nesta revisão mostram que essas tecnologias são capazes de contribuir de forma significativa para a melhora de indicadores clínicos, como VO₂max e pressão arterial, além de atuarem no estímulo à adesão e à criação de hábitos saudáveis. Em paralelo, recursos como gamificação, biofeedback e personalização tornam a experiência mais atrativa e dinâmica, o que aumenta a chance de que os usuários permaneçam ativos ao longo do tempo. 

Porém, uma questão importante emerge: quem está de fato utilizando essas ferramentas? A resposta traz um desconforto necessário — as soluções tecnológicas, muitas vezes, ainda não alcançam aqueles que mais precisam. Pessoas em situação de vulnerabilidade, com menor escolaridade ou renda, ou que vivem em áreas periféricas, continuam à margem dessa revolução digital da saúde. 

Portanto, mais do que investir no aprimoramento técnico dos aplicativos, é preciso pensar em estratégias de democratização e acesso. Isso passa por políticas públicas, educação digital, desenvolvimento de aplicativos com linguagem acessível e adaptação cultural. Só assim a tecnologia deixará de ser um privilégio e passará a ser, de fato, uma ponte para um cuidado em saúde mais equitativo, contínuo e eficaz. 

REFERÊNCIAS 

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1Graduando em Educação física, Universidade Federal do Ceará (UFC). https://orcid.org/0009-0001-6378-5189  
2Doutorando em Saúde Coletiva, Universidade Estadual do Ceará (UECE). https://orcid.org/0000-0003-1644-8187  
3Mestrando em Saúde Coletiva, Universidade Estadual do Ceará (UECE). https://orcid.org/0000-0002-1967-3163  
4Pós-graduação em Gerontologia e geriatria, Centro universitário ateneu, https://orcid.org//0009-0006-6966-1327  
5Doutor em Renorbio, Universidade Estadual do Ceará (UECE). https://orcid.org/0000-0003-3663-2299  
6Mestre em Ciências Médicas, Universidade Federal do Ceará (UFC). https://orcid.org/0009-0000-6818-4203  
7Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará (UFC). https://orcid.org/0000-0002-6261-8565  
8Graduando em Fisioterapia, Centro Universitário Ateneu. https://orcid.org/0009-0005-5376-4869