APLASIA MEDULAR IDIOPÁTICA EM GATO – RELATO DE CASO

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10419742


Raquel Leite de Almeida 1
Rebeca Farias Paiva 2
Orientadora: Amanda Paula Ferreira3


RESUMO

A aplasia de medula óssea é uma doença de baixa incidência em felinos, no entanto, sua evolução clínica cursa de maneira grave, esta patologia caracteriza-se por uma pancitopenia das célula sanguíneas, devido substituição do tecido mielóide por tecido adiposo, os sinais clínicos normalmente são inespecíficos e relacionados à compensação, no geral, os mais comuns são mucosas hipocoradas, icterícia, letargia, astenia, anorexia, caquexia, hipertermia, dispneia, hemoglobinúria, e esplenomegalia. Normalmente os felinos só apresentam sinais clínicos quando a anemia vem a ser grave, pois os gatos têm particularidades nas células do sangue que os tornam suscetíveis a desenvolver anemias, eles possuem a vida útil mais curta dos glóbulos vermelhos e menor volemia em relação a outros animais, esta condição pode ser induzida por medicamentos, infecções e toxinas, podendo ser idiopática por exclusão. Neste trabalho relata- se o caso de um felino, macho, de 3 anos, raça pelo curto brasileiro, atendido na clínica veterinária no bairro planalto, em manaus, o animal apresentava, anorexia, mucosas hipocoradas, apatia e desidratação leve, através de exames clínicos, achados laboratoriais, diagnosticou-se aplasia medular idiopática, no tratamento foi utilizado transfusões sanguíneas, antibioticoterapia, corticosteróides e fatores de crescimento hematopoiético, após 23 dias o paciente veio óbito.

Palavras-chave: Medula Óssea, Pancitopenia, aplasia.

1  INTRODUÇÃO

A aplasia medular foi relatada primeiramente em um estudo em 1888 por Paul Ehrlich, um biólogo bacteriologista alemão, famoso por seus estudos de hematologia (FREITAS; SILVA, 2016). Sendo uma doença rara, mas que pode acometer felinos a Aplasia Medular, é uma doença que ocorre diretamente na medula óssea, caracterizada pela sua produção reduzida ou mesmo inativada, gerando baixas concentrações de células sanguíneas, a formação de células sanguíneas deriva-se de 1

células-tronco, que após um processo de divisão e diferenciação, dão origem às hemácias, leucócitos e

plaquetas, que são extremamente importantes para a homeostase. (BRUNETTO, 2021).

As consequências de aplasia medular são diferentes dependendo do tipo de célula afetada no caso dos glóbulos vermelhos, a aplasia medular causa anemia, no caso de glóbulos brancos, responsáveis pela defesa do organismo, o déficit de produção reduz a imunidade, deixando o animal suscetível a infecções, caso a deficiência seja nas plaquetas, o déficit causa problemas de coagulação (HAMERSCHLAK et al ., 2005).

Na vida fetal, esta produção ocorre no saco vitelínico e, após o nascimento, a única fonte de novas células sanguíneas é a medula óssea ( BRUNETTO, 2021).

Dentre as causas de aplasia medular, resultante da destruição das células tronco, incluem-se as de origem infecciosa, induzidas por drogas, associadas a toxinas e radiação, existem alguns casos nos quais a causa não são bem esclarecidas, no entanto, a aplasia é definida como idiopática por exclusão. A aplasia medular é uma doença de baixa incidência, porém sua evolução clínica é grave e seu prognóstico muitas vezes é negativo com maior letalidade (HAMERSCHLAK et al., 2005).

O presente trabalho tem como objetivo apresentar um relato de caso de um animal da espécie felina, raça brasileira de pêlo curto, macho, doméstico, 3 anos de idade, que foi diagnosticado com Aplasia Medular Idiopática.

2  METODOLOGIA

Trata-se de um relato de caso, realizado em um hospital veterinário, localizado no bairro planalto em manaus, sobre um paciente com diagnóstico de aplasia medular idiopática, para confecção deste trabalho foram feitas análises de estudos, pesquisa em artigos científicos, pelo método de revisão de literatura, a história clínica do paciente, releitura de exames complementares sendo estes: hemograma, bioquímico, mielograma, PCR para Fiv, Felv, Anaplasma, Mycoplasma; e ultrassom, resumo de internação, e relato de experiência.

3  RESULTADOS E DISCUSSÃO

Um felino, macho, raça pcb, 3 anos, pesando 5,280Kg, foi encaminhado para hospital veterinário no bairro planalto, manaus- Am, após ter apresentado quadro anêmico, Na anamnese e exame físico foi observado, anorexia, mucosas hipocoradas, apatia e desidratação leve, os exames de hemograma revelaram valores instáveis, mas no geral o animal apresentava baixa contagem de eritrócitos, hemoglobina, plaquetas e eosinófilos, aumento progressivo dos leucócitos por neutrofilia e monocitose, eritrócitos normocíticos e normocrômicos sendo este um sinal de anemia arregenerativa, solicitou – se exames complementares, bioquímico, contagem de reticulócitos, e mielograma o bioquímico revelou glicose alta e creatinina baixa, a contagem de reticulócitos revelou resposta regenerativa inadequada, o mielograma concluiu o diagnóstico de aplasia eritróide e hipoplasia mielóide.

Visualizou-se esplenomegalia no ultrassom, realizou-se PCR para, micoplasma, anaplasma, Fiv e Felv , que teve resultados negativos para todos.

O animal ficou internado onde iniciou-se o tratamento convencional com, suplementação, corticosteróides, fatores de crescimento hematopoiético e transfusões sanguíneas, após 23 dias de internação o animal veio a óbito.

O diagnóstico de aplasia medular idiopática, foi baseado nos achados laboratoriais dos hemogramas e contagem de reticulócitos, porém o mielograma foi o principal exame complementar que definiu o diagnóstico, conjuntamente à exclusão de possíveis causas primárias que podem alterar o funcionamento da medula óssea, as hemácias normocrômicas e normocíticas, juntamente com o hematócrito baixo foram indicativos para o diagnóstico de anemia não regenerativa (MENDES, 2016).

O PCR para as hemoparasitoses anaplasma e micoplasma e também para as retroviroses Fiv, Felv, foi realizado com o objetivo de identificar a causa primária da aplasia, obtendo-se resultados negativos para todos, mediante a estes resultados o animal foi diagnosticado com aplasia medular idiopática.

O leucograma, apresentou leucocitose por neutrofilia e monocitose que apresentaram aumento progressivo sem valores exacerbados, e eosinopenia sendo assim essas alterações consideradas indicadores de estresse (LAURINO, et al., 2009).

O bioquímico apresentou glicose alta e creatinina baixa, picos de glicemia alta é uma alteração considerada comum em casos de estresse por manipulação, pois o animal apresentava quadros de constante estresse (JUNG, 2019).

No exame de contagem de reticulócitos foi concluído resposta regenerativa inadequada, com valores diminuídos encontrados na medula óssea , sendo característica de aplasia medular, este achado também possibilita classificar a anemia em regenerativa ou não regenerativa conforme a quantidade de eritrócitos imaturos no sangue, pois cães e gatos respondem com reticulocitopenia em casos de anemia arregenerativa. (GUIMARÃES et al., 2020).

O mielograma teve o diagnóstico de aplasia eritróide, e hipoplasia mielóide, que são duas condições que afetam diretamente a medula óssea (RUGMAN, 1990).

A aplasia eritróide é caracterizada pela diminuição, ou não produção de células precursoras, causando uma anemia gravíssima, enquanto na hipoplasia mielóide, a medula óssea não produz células sanguíneas o bastante afetando a produção das hemácias, leucócitos e trombócitos (DIAZ; CERONI, 2008).

O animal não apresentou resposta medular significativa, de acordo com os últimos hemogramas, e veio a óbito 23 dias após a chegada ao hospital.

Apesar de ser tratável, a aplasia medular possui opções limitadas de tratamento, que nem sempre são eficazes, Uma das opções de tratamento é o transplante de medula óssea, porém ainda há poucos avanços na medicina veterinária, achar um animal compatível não é uma tarefa fácil e mesmo assim, não se pode ter a certeza de que o organismo que recebeu o novo órgão não irá rejeitá-lo, Sendo de caráter idiopático é ainda mais difícil o tratamento, pela falta de especificidade terapêutica, por não saber-se a origem que levou ao desenvolvimento da aplasia medular. (SCHALM ‘S, 2020).

4  CONCLUSÃO

A aplasia medular é uma doença relativamente rara com uma letalidade alta, há poucos relatos de casos dessa doença em felinos, o prognóstico da aplasia medular depende da causa e da forma que se apresenta, muitas vezes não é favorável ao tratamento, o avanço em relação aos tratamentos também são poucos principalmente em transplantes medulares, a terapia transfusional de suporte é essencial assim como a terapia convencional, é necessário a realização de novos estudos para esclarecer os mecanismos que levam ao estabelecimento de uma aplasia bem como tratamentos específicos que venham promover um aumento na expectativa de vida destes animais.

5  REFERÊNCIAS

BRUNETTO, D. M. Anemia Aplástica – Saiba Mais sobre a Aplasia Medular | Dr. Marcel Brunetto Hematologista. Disponível em: <https://drmarcelbrunetto.com.br/aplasia-medular/>, 2021.

DIAZ GONZÁLEZ, F.; CERONI DA SILVA, S. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE VETERINÁRIA PATOLOGIA CLÍNICA VETERINÁRIA: TEXTO

INTRODUTÓRIO TEXTO DE APOIO AO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ANÁLISES CLINICAS VETERINÁRIAS. [s.l: s.n.]. Disponível em:

<https://www.ufrgs.br/lacvet/site/wp-content/uploads/2013/05/patol_clin.pdf>.

FREITAS, D.M.; SILVA, H.M. Aplasia medular correlacionada a Administração de Cloranfenicol. Revista, 20.16

GUIMARÃES, J. S. et al. Contagem de reticulócitos e resposta medular em anemias normocíticas normocrômicas. Disponível em:

<http://www.metodista.br/congressos-cientificos/index.php/Congresso2020/SDE2020/paper/view/107 57>. Acesso em: 18 out. 2023.

HAMERSCHLAK, N.; MALUF, E.; PASQUINI, R.; NETO-ELUF, J.; MOREIRA, F.R.; CAVALCANTI, 2005.

JUNG,   J.   UNIVERSIDADE   FEDERAL   DO   RIO   GRANDE   DO   SUL   FACULDADE  DE

VETERINÁRIA ALTERAÇÕES CÍNICO-LABORATORIAIS DURANTE A INTERNAÇÃO DE

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<https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/249473/001150305.pdf?sequence=1&isAllowed= y>. Acesso em: 11 set. 2023.

LAURINO, F. (2009). Alterações hematológicas em cães e gatos sob estresse. Trabalho de conclusão de curso, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Estadual Paulista, 21p.

MENDES, T. C. HEMATOLOGIA VETERINÁRIA Produção de Material Didático MALENA NORO SILVA orientadora: MARIA VIVINA B. MONTEIRO. www.academia.edu, 2016.

RUGMAN, F. P., & Cosstick, R. (1990). Aplastic anaemia associated with organochlorine pesticide: case reports and review of evidence. Journal of clinical pathology, 43(2), 98-101. SCHALM’S Veterinary Hematology. S.L.: Wiley-Black

1 Raquel Leite de Almeida acadêmico(a) de medicina veterinária da FAMETRO.Email:raquelleite1159@gmail.com ²Rebeca Farias Paiva acadêmico(a) de medicina veterinária da FAMETRO. Email:Rebecafarias1004@gmail.com. ³Amanda Paula Ferreira Danin Professor(a) doutor da Fametro. Email:apatoclin@gmail.com.