ANEMIA HEMOLÍTICA IMUNOMEDIADA SECUNDÁRIA A ERLIQUIOSE

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202410091636


Cintia de Oliveira Matos
Orientador: Prof. Silvio Luiz Pereira de Souza


1. RESUMO

A Erliquiose é uma doença infectocontagiosa presente na rotina clínica que pode ser transmitida ao ser humano, sendo considerada desse modo uma zoonose. Durante o desenvolvimento da doença ocorre a manifestação da anemia hemolítica imunomediada que se caracteriza pela diminuição de eritrócitos proveniente da ação do sistema fagocítico em associação com a presença de imunoglobulinas. A presente pesquisa se pauta na relação entre a anemia hemolítica imunomediada e a Erliquiose, tendo como objetivo a compreensão de ambas enfermidades, relacionando a forma como se desenvolvem no organismo, bem como sua etiologia, sintomas, alterações laboratoriais, tratamento e profilaxia. Para chegar a tal objetivo foi feito um levantamento de dados através de pesquisas bibliográficas, onde os resultados indicaram a importância do controle e prevenção da doença através de medidas vinculadas ao uso de carrapaticidas e acompanhamento periódico ao veterinário, visto que, a anemia hemolítica imunomediada ocorre de forma secundária a essa hemoparasitose.

Palavras-chave: Anemia hemolítica imunomediada, Patologia, Erliquiose, Cães, Alterações sanguíneas.

2. ABSTRACT

Ehrlichiosis is an infectious and contagious disease that can be transmitted to humans and is therefore considered a zoonosis. During the development of the disease, immune- mediated haemolytic anemia occurs, characterized by a decrease in red blood cells due to the action of the phagocytic system in association with the presence of immunoglobulins. This research is based on the relationship between immune-mediated hemolytic anemia and Ehrlichiosis, with the aim of understanding both diseases, relating how they develop in the body, as well as their etiology, symptoms, laboratory changes, treatment and prophylaxis. To achieve this goal, data was collected through bibliographic research, and the results indicated the importance of controlling and preventing the disease through measures linked to the use of ticks and periodic monitoring by the veterinarian, since immune-mediated hemolytic anemia occurs secondary to this hemoparasitosis.

Keywords: Immune-mediated hemolytic anemia, Pathology, Ehrlichiosis, Dogs, Blood disorders.

3. INTRODUÇÃO

A erliquiose monocítica canina é uma doença infecciosa de distribuição mundial, causada pela E. canis. A Erliquiose além de acometer os cães, pode ser transmitida ao ser humano e sendo desse modo considerada uma zoonose, fator de risco para saúde pública. O principal responsável pela transmissão é o vetor carrapato Rhipicephalus sanguineus (figura 1), ocorrendo a disseminação em todo o território brasileiro. Esse carrapato adquire a E. canis quando se alimenta de sangue em um cão portador da doença em sua fase aguda e se torna portador da E. canis. A transmissão ocorre quando o carrapato portador infectado realiza a sua alimentação sanguínea no cão saudável (STIVAL et al., 2021).

Figura 1: Larva, ninfa, adulto (macho e fêmea) do carrapato Rhipicephalus sanguineus

Fonte: http://www.tickencounter.org/tick_identification/brown_dog_tick

A E. canis pode lesionar o hospedeiro de forma multissistêmica, ou seja, vários órgãos simultaneamente. A patogenia se apresenta em 3 fases diferentes, sendo elas: fase aguda, subclínica ou assintomática e crônica, que ocorrem após um período de incubação de aproximadamente 8 a 20 dias (LOPES; BIONDO; SANTOS,  2007). Durante a evolução da infecção o cão pode apresentar anemia regenerativa pela perda de sangue, que ocorre de forma muito comum, principalmente na região nasal, e pode apresentar também a anemia não regenerativa proveniente da supressão da medula óssea na fase crônica (NELSON; COUTO, 2010). A trombocitopenia desenvolvida durante a fase aguda se torna mais intensa na fase crônica devido a supressão da medula óssea (NELSON; COUTO, 2010).

A anemia hemolítica imunomediada (AHIM), frequente na casuística clínica e muito presente em cães acometidos pela E. canis, tem como principal característica a diminuição de eritrócitos e, por conseguinte a redução na concentração de hemoglobina, que está associada à vida média dos eritrócitos. Essa diminuição no processo de anemia hemolítica ocorre pela forma excessiva, no qual os eritrócitos são retirados da corrente sanguínea, sendo denominada de hemólise extravascular. Esse processo ocorre pela ação do sistema fagocítico em associação com a presença de imunoglobulinas. Nos animais acometidos pela anemia hemolítica imunomediada, os anticorpos passam a contribuir para a destruição da membrana dos eritrócitos promovendo uma remoção precoce e patológica que pode ocorrer de forma direta ou fagocítica (GORENSTEIN, 2018).

A hemólise extravascular é o principal mecanismo patogênico incriminado no desenvolvimento da anemia hemolítica, que consiste na retirada exacerbada dos eritrócitos pelo sistema fagocítico mononuclear (FIGUEIRA, 2007).

Os cães acometidos pela erliquiose podem apresentar diversas formas de anemia, dentre elas a imunomediada que resulta na diminuição da sobrevida dos eritrócitos mediada pelas imunoglobulinas e/ou pela ação do sistema complemento. Por se tratar de uma patologia imunomediada, apresenta com causa a produção de anticorpos que podem atuar na degradação da membrana dos eritrócitos (FIGUEIRA, 2007).

Os achados laboratoriais presuntivos que podem ser observados com maior frequência nos casos de anemia hemolítica imunomediada são caracterizados pela resposta regenerativa, proteínas plasmáticas em suas concentrações normais, leucocitose1 neutrofílica com desvio a esquerda, proveniente ao estímulo medular, hiperbilirrubinemia2 e hemoglobinúria3 (LOPES; BIONDO; SANTOS, 2007).

4. OBJETIVOS

O objetivo desse projeto foi ressaltar a importância da anemia hemolítica imunomediada associada à patogenicidade da E. canis durante a evolução da erliquiose canina. Além de buscar informações na literatura para:

  • Compreender o processo de anemia hemolítica imunomediada durante as fases da erliquiose canina.
  • Entender a associação da anemia hemolítica imunomediada e a patogenicidade da
  • E. canis .
  • Avaliar a interação da anemia hemolítica imunomediada e a erliquiose canina através dos resultados dos exames laboratoriais.
  • Conhecer a etiologia, sintomatologia, diagnóstico e profilaxia da erliquiose canina.

5. JUSTIFICATIVA

5.1   Desfecho primário

Os resultados obtidos neste projeto podem contribuir para o conhecimento da anemia hemolítica imunomediada e sua participação durante o desenvolvimento da erliquiose canina, elucidando dúvidas a respeito dessa importante doença na rotina clínica.

5.2   Desfecho secundário

O projeto pode contribuir proporcionando mais uma fonte de informação para a sociedade, principalmente para o público da área médica veterinária, constituindo um material específico para a pesquisa. As informações organizadas neste projeto podem auxiliar no compreendimento da erliquiose e o papel da anemia hemolítica imunomediada durante a evolução desta doença. Além de ressaltar a importância da erliquiose na rotina clínica, que algumas vezes é negligenciada, principalmente no contexto zoonótico.

6. MÉTODOS

Para a execução do presente projeto foi realizada a busca ativa e pesquisa das informações científicas disponíveis na literatura utilizando principalmente as bases de dados Google acadêmico, Scielo, PubVet e Biblioteca virtual. A apuração e comparação das informações relevantes sobre o tema foi realizada nos estudos publicados nos últimos 5 a 10 anos.

7. RESULTADOS E DISCUSSÃO

7.1 Etiologia

A Erliquiose monocítica canina tem como vetor de maior relevância na transmissão do patógeno o carrapato marrom Rhipicephalus sanguineus. No carrapato a E. canis se prolifera nos hemócitos4 e em células da glândula salivar, propiciando dessa forma a transmissão transestadial, ou seja, a bactéria permanece no organismo do carrapato durante toda sua vida (MONTEIRO, 2007). A infecção do cão sadio ocorre após a picada do carrapato infectado e passando pelo período de incubação o agente passará pelo processo de multiplicação nos órgãos do sistema fagocitário (fígado, baço e linfonodos) (MONTEIRO, 2007). O ciclo da Ehrlichia é composto de três principais fases, sendo elas: a entrada dos corpos elementares nos monócitos, onde permanecem para continuar crescendo, durante o período de dois dias; a multiplicação do agente, período que dura cinco dias; e a formação de mórulas, que se constituem por um conjunto de corpos elementares envoltos por uma membrana     (MONTEIRO,    2007). A E. canis está presente em países que possuem clima temperado, tropical ou subtropical, o que está relacionado à prevalência do vetor (SILVA, 2015). A distribuição geográfica do patógeno é dada, a partir de fatores climáticos, distribuição do vetor e prevalência em que o Rhipicephalus sanguineus, bem como a severidade em que a doença irá se manifestar o que inclui a idade do animal, alimentação, manejo ambiental e doenças concomitantes (SILVA, 2015). Por outro lado, a anemia hemolítica imunomediada refere-se a uma síndrome clínica, na qual a anemia resulta na destruição acelerada das hemácias por mecanismos imunomediados, iniciando na fase aguda da Erliquiose, onde os mecanismos imunológicos e inflamatórios ocasionam o aumento no consumo plaquetário, devido aos altos valores séricos de anticorpos IgG anti plaquetário intensificando na fase crônica (SILVA, 2019).

Na AHIM primária ou verdadeira como é conhecida, ocorre a interação dos anticorpos com os antígenos eritrocitários. Na secundária, uma doença primária se origina como fator preceptor, sendo o caso da E. canis. Além disso, alguns fármacos, venenos e possivelmente algumas vacinas também estão associadas aos quadros de anemia hemolítica imunomediada secundária (SILVA,  2017). A fase crônica se manifesta quando o sistema imune se torna ineficaz contra o microrganismo, durante essa fase é possível que uma pancitopenia5 seja manifestada, todavia, os mecanismos não estão totalmente reconhecidos. A principal característica que define essa fase é a hipoplasia medular que desencadeia anemia aplástica, monocitose, linfocitose e leucopenia    (GALANT, 2010). Essa fase pode se apresentar de forma mielossupressiva. Quando o paciente se encontra nesse quadro crônico mielossupressivo, a clínica se torna mais complexa, e a anemia se torna mais evidente, acompanhada de trombocitopenia, leucopenia, supressão medular, emaciação, hemorragias frequentes, edema periférico (principalmente nos membros periféricos), hipotermia, estomatite ulcerativa, poliúria, polidipsia, glomerulonefrite, icterícia e piodermite. Essas manifestações ocorrem pela reação imunológica contra o microrganismo (SILVA, 2019). As hemorragias com petéquias nas membranas, pele e mucosa, são decorrentes da diminuição da meia vida das plaquetas, resultando na sua destruição em razão da estimulação do sistema imunológico, da cascata de coagulação e resposta inflamatória (SILVA, 2019).

De acordo com Silva (2019), há estudos apontando que a Erliquiose em seu estágio inicial causa destruição de plaquetas por mecanismos imunomediados e no final da doença provoca aplasia de medula óssea e consequentemente diminuição das plaquetas.

5 Redução do número de eritrócitos, leucócitos e plaquetas abaixo do valor de referência, sendo caracterizada pela combinação de anemia, leucopenia e trombocitopenia (Jericó; Andrade Neto; Kogika, 2015).

7.2 Sinais clínicos

Os sinais clínicos da Erliquiose podem se alterar de acordo com o estágio da doença, conforme ilustrado no quadro 1, assim como os sinais presente na anemia hemolítica imunomediada, que de maneira geral se apresentam com apatia, anorexia, letargia, vômito, diarreia, em alguns casos ocorre dispneia, taquipneia, palidez de mucosas e icterícia, durante evolução da doença é possível observar alterações cardíacas, desde taquicardia com evolução para sopro, petéquias, equimose, melena e epistaxe. Os achados clínicos não são patognomônicos, apesar de ser possível diferenciar de outras patologias em conjunto com achados laboratoriais, sendo possível observar alterações significativas na análise sanguínea (JERICÓ; ANDRADE NETO; KOGIKA, 2015).

Quadro 1: Principais sintomas presentes na Erliquiose

Fonte: Silva, 2015

A anemia hemolítica imunomediada em cães frequentemente é categorizada como idiopática, ou seja, originalizada de maneira desconhecida. Entretanto, é possível determinar sua causa, através do diagnóstico da causa de base que pode ser associado à predisposições genéticas de algumas raças como, Cocker Spaniel, Poodle e Old English Sheepdog e também sendo secundária a hemoparasitoses (ANDRADE et al., 2010).

7.3 Diagnóstico

Para que haja um diagnóstico correto e preciso da doença, é necessário que haja um bom histórico clínico, uma anamnese detalhada e um exame físico completo. O animal irá apresentar os sinais clínicos específicos ou será assintomático, sendo considerado importante sinais da presença de carrapatos (SILVA, 2015).

Dentro dos exames complementares que são solicitados na rotina para identificar a Erliquiose, temos: esfregaço de sangue para identificar se há presença de mórulas de monócitos; método da reação em cadeia da polimerase (PCR) que detecta o DNA específico do microrganismo em leucócitos; imunofluorescência indireta que mostra a presença do IgG da E. canis (porém, é possível apresentação de reação cruzada com outras rickettsias6); teste 4 DX que tem como objetivo usar o teste sorológico para diagnosticar Dirofilariose, Lyme, Erliquiose e Anaplasmose; teste de Elisa, que consiste no teste sorológico que identifica o IgG da E. canis e o teste de titulação de Ehrlichia, sendo usado para determinar a quantidade de anticorpos presentes no sangue contra a E. canis (SILVA, 2015; SILVA; PORTO; GIRARD, 2017).

É importante considerar um diagnóstico diferencial, já que, a Erliquiose particularmente severa tem a capacidade de mimetizar outras afecções. Na fase aguda a diferenciação pode ser feita entre linfadenopatias (por exemplo, a febre maculosa), outras doenças imunomediadas excepcionalmente a trombocitopenia e lúpus eritematoso sistêmico, nesses casos o teste de sorologia torna-se o melhor método, nos casos em que se encontra na fase crônica da doença é possível diferenciar de intoxicações por estrogênio, pancitopenia imunomediada e doenças associadas à disfunção específica de um órgão (FRUET, 2005).

Há algumas alterações que podem ser identificadas macroscopicamente e microscopicamente, essas alterações são importantes para diagnóstico presuntivo da Erliquiose, assim como sua associação com a anemia hemolítica imunomediada, conforme ilustrado no quadro 2 (SILVA, 2015).

Quadro 2: Características macroscópicas e microscópicas da Erliquiose

Fonte: Silva, 2015.

Por outro lado, o diagnóstico da anemia hemolítica imunomediada se baseia em exames laboratoriais em conjunto com o histórico clínico, visto que, se apresenta secundária a outras doenças concomitantes como a Erliquiose (JERICÓ; ANDRADE NETO; KOGIKA, 2015).

Os achados laboratoriais consistem principalmente em presença de anemia regenerativa, evidência de hemólise caracterizada por hemoglobinemia ou hemoglobinúria, evidência de anticorpos direcionados contra eritrócitos, com autoaglutinação conforme figura 1, esferocitose conforme figura 2, teste de Coombs positivo conforme figura 3, que avalia de forma direta as células vermelhas do sangue verificando se tem a presença de anticorpos ligados a hemácia e se esse anticorpos estão associados ao sistema imune desse animal ou se são provenientes de transfusão sanguínea (MARTINATO, 2020).

Em casos mais raros, pode ocorrer a presença de monócitos com hemossiderina ou com hemácias fagocitadas, todavia, esses achados não são o suficiente para diferenciar a anemia hemolítica imunomediada de causa primária ou secundária, sendo possível apenas associar esses resultados a clínica do paciente (CASTILHO et al., 2016)

Figura 1: Sangue canino com anemia hemolítica imunomediada com intenso processo de aglutinação (indicado nas setas)

Fonte: Castilho et al., 2016

Figura 2: Esfregaço sanguíneo de um cão com anemia hemolítica imunomediada.

Fonte: Castilho et al., 2016

Figura 3: Imagem ilustrativa do teste de Coombs.

Fonte: Castilho et al., 2016

Os exames bioquímicos não demonstram alterações que possam ser usadas para diagnosticar a anemia hemolítica imunomediada, entretanto são importantes para avaliação de danos teciduais, visto que, tais alterações ocorrem devido hemólise, desidratação e hipóxia tecidual ou por ação da deposição de imunocomplexos (CASTILHO et al., 2016).

Os imunocomplexos são a combinação entre antígeno e anticorpo, através dele ocorre a ativação da via clássica do sistema complemento que geram peptídeos quimiotáticos7 fazendo a atração de neutrófilos. Esses neutrófilos se acumulam liberando oxidantes e enzimas, resultando em inflamação aguda e destruição tecidual, as lesões que são causadas por esse processo são classificadas como reações de hipersensibilidade do tipo III ou mediada por imunocomplexos (TIZARD, 2014).

Outro fator importante está relacionado à hipóxia e nefrotoxicidade provocada pela hemoglobinemia que influencia diretamente no aumento das enzimas hepáticas e em azotemia (CASTILHO et al., 2016).

A realização de mielograma para avaliação do funcionamento medular, pode tornar o diagnóstico mais preciso, avaliando se a anemia é regenerativa ou não regenerativa. O processo de eritropoiese sendo insuficiente por destruição de hemácias em decorrência de processos imunomediados dentro da medula, impede a liberação de eritrócitos para a circulação (CASTILHO et al., 2016).

7.4 Tratamento

Para que ocorra um tratamento adequado da anemia hemolítica imunomediada, é necessário que haja diagnóstico da causa primária, sendo nesse aspecto a Erliquiose. Enquanto não há o diagnóstico primário é importante que ocorra a estabilização do quadro do paciente. O objetivo é a manutenção do volume globular e a inibição da hemólise, alguns animais precisam permanecer hospitalizados mediante ao grau severo da anemia, sendo monitorados durante o processo (LOURENÇO et al., 2020).

Os principais procedimentos usados para tratar a anemia hemolítica imunomediada são: transfusões com sangue total ou concentrado de eritrócitos, oxigenoterapia, suplementação com ferro e ácido fólico, uso de fármacos esteróides (glicocorticóides e anabolizantes). Outros imunossupressores podem ser incluídos ao tratamento e eritropoetina recombinante, levando em consideração o estado geral, sintomas e evolução clínica do paciente (JERICÓ; ANDRADE NETO; KOGIKA, 2015). Na literatura são descritos alguns fármacos que podem ser usados na profilaxia da E. Canis, como: oxitetraciclina, cloranfenicol, imidocarb, tetraciclina e doxiciclina. A doxiciclina é a droga de eleição devido sua rápida absorção no organismo, e possui ampla distribuição pelos tecidos pela sua característica lipossolúvel, além de não se acumular nos rins de pacientes restritos, e ser eliminada através das fezes na forma ativa (ARMANDO, 2022).

O tratamento pode durar de 3 a 4 semanas em casos agudos e até 8 semanas em casos crônicos e caso seja necessário, realizar a hidratação através de fluidoterapia e processos hemorrágicos com a transfusão sanguínea (SILVA, 2015).

7.5 Prognóstico e profilaxia

As taxas de mortalidade podem variar de acordo com o quadro que o animal apresenta e o nível de evolução da doença. A resposta completa ao tratamento pode levar meses e até mesmo a vida inteira, porém, animais com hematócrito no intervalo dos valores de referência estão em quadros mais favoráveis (CASTILHO et al., 2016).

A prevenção da Erliquiose tem grande importância no desenvolvimento da anemia hemolítica imunomediada, as medidas se aplicam para animais de apartamento ou canis e locais em que há grande concentração de outros animais (ARMANDO, 2022).

Regiões de clima tropical e temperado têm um maior número de casos, devido a reprodução desses carrapatos serem mais favorecidas. O uso de carrapaticidas ambientais de longa duração e tópicos interrompem o ciclo de vida da E. Canis, além da higiene realizada no local onde vive o animal, o uso de tais medicamentos é crucial para a prevenção da doença, dado que, não temos vacinas contra tal enfermidade (DIAS, 2022). Animais doadores de sangue devem ser testados, sendo necessário e obrigatório o descarte da doença através de sorologias, para que seja evitada a transmissão da hemoparasitose através do sangue (DIAS, 2022).

8. CONCLUSÃO

Em síntese, o presente trabalho evidenciou a importância da profilaxia acerca da Erliquiose, visto que, a anemia hemolítica imunomediada pode se manifestar de forma secundária a ela. Sabe-se que, não há vacinas existentes para sua prevenção, todavia, o uso de carrapaticidas em forma de coleiras, pipetas, comprimidos e produtos acaricidas ambientais podem ser usados como métodos preventivos da doença. Uma vez acometido, o animal pode apresentar quadros severos acarretando em perdas sanguíneas que podem ser diagnosticadas de forma tardia. É importante ressaltar que animais resgatados e que fazem doação sanguínea devem ser testados a partir do método de sorologia, evitando desse modo a contaminação disseminada.


1 Valores de leucócito acima do valor de referência (Lopes; Biondo; Santos, 2007)
2 Aumento da bilirrubina (Lopes; Biondo; Santos, 2007)
3 Presença de hemoglobina na urina (Lopes; Biondo; Santos, 2007)
4 Células nucleadas, presentes em diversas regiões do corpo que participa no processo de defesa do organismo (Monteiro, 2007)
5 Redução do número de eritrócitos, leucócitos e plaquetas abaixo do valor de referência, sendo caracterizada pela combinação de anemia, leucopenia e trombocitopenia (Jericó; Andrade Neto; Kogika, 2015).
6 Bactérias com parasitismo intracelular obrigatório. (Monteiro, 2007)
7 São substâncias químicas que fazem atração ou repelem células. Está associado especialmente a fatores liberados como o resultado de uma lesão tecidual, infiltrado microbiano, atividade imunológica que atraem leucócitos, macrófagos ou outras células ao local de agressão (Tizard, 2014).

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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