ANÁLISE PERFIL E CARACTERÍSTICAS DOS APOSENTADOS E PENSIONISTAS INADIMPLENTES NA CIDADE DE CARANGOLA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202502101055


Sara Gomes Araújo
Vinícius Rocha de Assis Silva
Orientador Prof. Denis dos Santos Santiago Pereira


RESUMO  

A população idosa desempenha um papel crucial no ambiente das instituições financeiras, especialmente em termos de planejamento financeiro e gestão de ativos. Com o envelhecimento da população em muitos países, as instituições financeiras enfrentam desafios e oportunidades específicas ao lidar com esse segmento da sociedade. Por um lado, os idosos muitas vezes têm necessidades financeiras complexas, incluindo planejamento da aposentadoria, gestão de investimentos e proteção contra fraudes financeiras. Este trabalho propõe um estudo com o objetivo investigar o comportamento financeiro de pessoas inadimplentes na terceira idade na cidade de Carangola, MG, buscando identificar suas principais características comportamentais e os motivos que levam à inadimplência. A pesquisa busca explorar o papel das instituições financeiras na economia, com ênfase na transformação do consumo e do crédito desde a Revolução Industrial, e como esses fatores influenciam a vida financeira das pessoas. O estudo se concentrará no aumento da população idosa em Carangola e nos desafios financeiros específicos que eles enfrentam, como a insuficiência da aposentadoria, o aumento das despesas médicas e a necessidade de apoio financeiro a familiares. A investigação visa compreender fatores como nível de educação, saúde e suporte social contribuem para a inadimplência dos idosos. Serão utilizados métodos qualitativos e quantitativos, incluindo questionários estruturados e entrevistas semiestruturadas, para identificar padrões de comportamento e oferecer insights para o desenvolvimento de estratégias e políticas de apoio financeiro. O estudo pretende fornecer uma visão abrangente dos motivos do endividamento na terceira idade e suas implicações no município da pesquisa. 

Palavras-chave: Inadimplência; Planejamento financeiro; Finanças pessoais; Crédito.  

ABSTRACT   

The elderly population plays a crucial role in the environment of financial institutions, especially in terms of financial planning and asset management. With populations aging in many countries, financial institutions face specific challenges and opportunities when dealing with this segment of society. For one, seniors often have complex financial needs, including retirement planning, investment management, and financial fraud protection. This work proposes a study with the objective of investigating the financial behavior of defaulting people in old age in the city of Carangola, MG, seeking to identify their main behavioral characteristics and the reasons that lead to default. The research seeks to explore the role of financial institutions in the economy, with an emphasis on the transformation of consumption and credit since the Industrial Revolution, and how these factors influence people’s financial lives. The study will focus on the increase in the elderly population in Carangola and the specific financial challenges they face, such as insufficient pensions, increasing medical expenses and the need for financial support for family members. The investigation aims to understand factors such as the level of education, health and social support that contribute to the default of elderly people. Qualitative and quantitative methods, including structured questionnaires and semi-structured interviews, will be used to identify patterns of behavior and provide insights for the development of financial support strategies and policies. The study aims to provide a comprehensive view of the reasons for debt in old age and its implications in the research municipality. 

Keywords: Delinquency; Financial Planning; Personal Finance; Credit. 

1 INTRODUÇÃO 

As instituições financeiras desempenham um papel fundamental na economia global, atuando como pilares que sustentam o sistema financeiro. Desde bancos comerciais até empresas de investimento, essas entidades facilitam a alocação eficiente de recursos, gerenciam riscos financeiros e promovem a circulação de capital. Além disso, exercem um papel crucial na intermediação entre poupadores e investidores, permitindo que indivíduos e empresas obtenham financiamento para projetos e iniciativas. No entanto, sua importância transcende o aspecto econômico, influenciando políticas monetárias, regulamentações financeiras e até mesmo o comportamento do mercado. Em última análise, as instituições financeiras moldam o panorama financeiro global, desempenhando um papel essencial no funcionamento e na estabilidade das economias modernas. 

Após a Revolução Industrial, a classe operária foi apresentada a uma nova era de consumo e inovação, impulsionada pela disponibilidade de novos bens financiados através de sistemas de crédito. Esse cenário proporcionou uma transformação significativa na abordagem aos empréstimos e ao acesso ao crédito. A ascensão do sistema credenciário possibilitou que uma parcela mais ampla da população adquirisse bens e serviços anteriormente fora de seu alcance, gerando mudanças profundas na dinâmica econômica e social da época. 

A população idosa desempenha um papel crucial no ambiente das instituições financeiras, especialmente em termos de planejamento financeiro e gestão de ativos. Com o envelhecimento da população em muitos países, as instituições financeiras enfrentam desafios e oportunidades específicas ao lidar com esse segmento da sociedade. Por um lado, os idosos muitas vezes têm necessidades financeiras complexas, incluindo planejamento da aposentadoria, gestão de investimentos e proteção contra fraudes financeiras. Por outro lado, eles também representam uma fonte significativa de poupança e investimento, com muitos acumulando riqueza ao longo de suas vidas. 

Em todo o mundo, tem sido observado um crescimento no número de pessoas idosas. No Brasil, o número de pessoas idosas (60 anos ou mais) cresceu nos últimos anos. Com base em informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) obtidas no censo de 2022, a população de pessoas idosas no Brasil era superior a 32 milhões de pessoas, o que, comparado ao censo de 2010, mostra que essa população cresceu em mais de 50% nesses últimos anos. Na cidade de Carangola, Minas Gerais, o IBGE demonstra, através dos resultados do censo do ano de 2010, que a população de idosos era em torno de 4.600 pessoas. Baseando-se nas estimativas de aumento dessa população, esse número pode ter sofrido um aumento significativo. 

No tocante à economia, grande parte do público idoso tem entre suas fontes de renda a aposentadoria ou pensão pagas pela previdência social. Na atualização das regras da previdência em 2023, as idades mínimas para aposentadoria foram fixadas em 58 anos e seis meses para mulheres e 63 anos para os homens. A aposentadoria é fundamental para garantir uma fonte de renda durante a terceira idade, suprindo as necessidades fundamentais do idoso. Além disso, os beneficiários dependem desses recursos financeiros para sustentar não só a si próprios, mas também a um grupo familiar. É importante também reconhecer que tais recursos, muitas vezes, são insuficientes para o custeio mínimo de um padrão de vida digno e para o acesso adequado à saúde. 

Estudos apontam que os idosos enfrentam desafios financeiros específicos, como a redução da renda após a aposentadoria, o aumento das despesas médicas e a necessidade de apoiar financeiramente familiares. Além disso, muitos idosos têm acesso limitado a informações e recursos financeiros, o que pode levar a decisões inadequadas ou imprudentes. A combinação desses fatores pode resultar em dificuldades para gerenciar as finanças pessoais e, consequentemente, em inadimplência. Por isso, grande parcela do grupo de aposentados e pensionistas recorre a empréstimos e, por vezes, se encontra em situação de endividamento ou até mesmo inadimplência. “O crédito é uma situação que envolve duas partes, uma credora e outra devedora”, diz Jacob (2003, p.7). Um é o proponente (contratante) e o outro é o credor (liberador de crédito), pois os bancos são considerados instituições financeiras e as pessoas físicas ou jurídicas são os devedores. 

O crédito tem uma importância significativa no sistema econômico devido à sua característica de ser revertido como investimento na própria economia. O mercado de crédito global está em constante mudança (CARVALHO et al., 2007). Ao longo da vida e no decorrer do cotidiano, as pessoas precisam fazer diversas escolhas e tomar decisões que, muitas das vezes, estão relacionadas ao dinheiro e à sua utilização. Trata-se de decisões financeiras que incluem desde as mais simples até as mais complexas, como a compra de um eletrodoméstico, a aquisição de um imóvel ou a contratação de empréstimos ou financiamentos e até a realização de um investimento (COSTA; MIRANDA, 2013; CORDEIRO; COSTA; SILVA, 2018). 

Nesta perspectiva, este estudo tem como objetivo investigar o comportamento financeiro de pessoas inadimplentes na terceira idade na cidade de Carangola, MG, buscando identificar suas principais características comportamentais e os motivos que levam à inadimplência. 

A relevância do estudo justifica-se devido a variedade significativa de comportamentos financeiros dos idosos inadimplentes, influenciados por fatores como nível de educação, experiência anterior com crédito, saúde física e mental e suporte social. Identificar esses comportamentos é essencial para compreender melhor as causas da inadimplência e para oferecer soluções personalizadas que possam ajudar a mitigar os riscos associados.  

2 REFERENCIAL TEÓRICO 

2.1 Educação financeira  

Uma das práticas mais importantes para se ter um controle é compreendida como a educação financeira. Estudos apontam que nunca é tarde para aprender como administrar suas finanças, manter suas dívidas sob controle e investir para alcançar o futuro que você planejou. 

A educação financeira promove um processo contínuo de aprendizagem, desenvolvendo a capacidade de tomar decisões e assumir a responsabilidade pelas próprias ações financeiras para uma vida mais saudável e equilibrada. É um processo interno e individual, só pode ser transmitido através da experiência vivida, é a demonstração da própria prática, é inútil dizer uma coisa e fazer outra. 

Existe uma ampla variedade de produtos financeiros disponíveis no mercado. Além dos avanços tecnológicos, a internet teve um papel significativo no crescimento e sofisticação dessas ofertas. Juntamente com os novos produtos, essas inovações aumentaram a disponibilidade e acessibilidade de informações facilitando a identificação de informações relevantes para os consumidores e simplificando a forma de avaliar tais produtos e informações. 

Tornando-se uma preocupação crescente em muitos países, a educação financeira tem sido alvo de pesquisas mais profundas. Embora existam críticas sobre sua abrangência e resultados, ainda há uma necessidade indiscutível de desenvolver ações planejadas, principalmente entre a população adulta.  

2.2 Crédito 

A palavra crédito tem origem no latim e significa crer, confiar, acreditar, palavras as quais resume a confiança. A origem do crédito surgiu em antigas sociedades que se manteiam em torno de atividades agrícolas, onde era necessário antecipar sementes e suplementos à agrícolas aos produtores, acreditando que os mesmos pagariam por esses insumos ao final da colheita. Com o surgimento do dinheiro, as atividades comerciais levaram ao surgimento das primeiras instituições financeiras, as quais começaram a realizar operações financeiras de crédito de diversas formas. (Lemes Junior, Rigo &, Cherobin, 2005). 

De acordo com Assaf Neto & Lima (2014), crédito é a confiança concedida a alguém pela entrega de um valor ou bem, com a confiança de um recebimento no futuro. Tal prática está relacionada à antecipação de recursos para satisfazer as necessidades imediatas, baseando-se que haverá um pagamento no futuro. 

 O saldo das operações de crédito do SFN totalizou R$5,9 trilhões em março (Bacen, 2024). O percentual de brasileiros que tomam crédito é significativo e chega a 70% da população adulta no país. Este número inclui diversas formas de crédito, como empréstimos bancários, cartões de crédito, financiamento de imóveis, veículos etc. (SPC Brasil). 

2.2.1 Importância das Instituições Financeiras  

As instituições financeiras são fundamentais para a economia global, facilitando a alocação de recursos, gerenciando riscos financeiros e promovendo a circulação de capital. Além de influenciar políticas monetárias e regulamentações financeiras, essas entidades moldam o panorama financeiro global, garantindo o funcionamento e a estabilidade das economias modernas (CARVALHO et al., 2007). 

2.2.2 Crédito Bancário 

O crédito bancário refere-se ao processo pelo qual os bancos fornecem empréstimos e outras formas de financiamento a pessoas, empresas e ao governo. A função do crédito fornecido por bancos é essencial para a economia, pois está relacionado à expansão de investimentos e do consumo (Mishkin, F. S. 2018). 

Segundo Ross Levine em “Finance and Growth: Theory and Evidence” (2005), a disponibilidade de crédito bancário é crucial para que indivíduos e empresas invistam em novos projetos e oportunidades, impulsionando o crescimento econômico e a inovação. Levine também destaca que diante a contribuição do crédito na economia, o mesmo pode contribuir na redução da desigualdade de renda e da pobreza, argumentando que o em sistemas financeiros mais desenvolvidos proporcionam disponibilidade de crédito a população mais pobre de modo a facilitar a mobilidade econômica. Deste modo, a disponibilidade de crédito é um fator essencial na inclusão financeira, permitindo que mais indivíduos e empresas participem de forma efetiva da economia. 

Os principais produtos de crédito bancário no Brasil incluem crédito rotativos, comuns em cartões de crédito, cheque especial e similares, incluem também, financiamentos, os quais permitem a aquisição de bens como casas, veículos, máquinas, terrenos, também incluem os empréstimos pessoais, os quais são concedidos sem nenhum bem em garantia e podem ser usados com fins diversos, como por exemplo saúde, educação, compras, pagamento de dívidas. 

2.3 Consumismo 

O consumismo é caracterizado como um estilo de vida orientado por uma crescente propensão ao consumo de bens ou serviços, frequentemente supérfluos, devido ao seu significado simbólico, como prazer, sucesso e felicidade, muitas vezes atribuídos pelos meios de comunicação social. O termo é frequentemente associado à crítica do sociólogo e economista Thorstein Veblen à cultura de massa e à indústria cultural (Veblen, 2007; Adorno e Horkheimer, 1985).  

Zygmunt Bauman, em sua obra “Vida para Consumo: A Transformação das Pessoas em Mercadorias”, explora a maneira como a sociedade contemporânea transforma os indivíduos em consumidores compulsivos. Bauman argumenta que o consumismo é impulsionado por uma busca contínua por identidade e aceitação social, alimentada por uma cultura que valoriza a novidade e a obsolescência programada (Bauman, 2008). 

Stuart Ewen, em “Captains of Consciousness: Advertising and the Social Roots of the Consumer Culture”, explora a influência da publicidade e do marketing na formação da cultura de consumo. Ewen argumenta que as práticas de publicidade moldam os desejos dos consumidores e promovem uma ideologia que associa a posse de bens à felicidade e ao sucesso pessoal (Ewen, 1976). 

2.3.1 Comportamentos Consumistas dos Idosos  

Os comportamentos consumistas dos idosos também desempenham um papel significativo em sua situação financeira. O consumo excessivo e impulsivo pode resultar em dívidas substanciais, especialmente quando combinado com uma renda fixa limitada. De acordo com Agarwal et al. (2009), o declínio cognitivo associado ao envelhecimento pode afetar a capacidade de tomar decisões financeiras sensatas, levando a um maior risco de gastos excessivos e endividamento. 

Jacob (2003) ressalta que a relação entre credores e devedores é complexa e que os idosos, muitas vezes, são alvo de ofertas de crédito que não são necessariamente adequadas às suas necessidades financeiras. O marketing direcionado e as práticas de vendas agressivas podem levar os idosos a contrair empréstimos com condições desfavoráveis, resultando em uma espiral de inadimplência. 

Além disso, a pressão social e o desejo de manter um certo padrão de vida podem levar os idosos a consumir mais do que podem pagar. Cordeiro, Costa e Silva (2018) observam que muitos idosos sentem a necessidade de continuar comprando bens e serviços para manter sua qualidade de vida e status social, mesmo quando isso significa recorrer a crédito e aumentar suas dívidas. 

2.3.2 Problemas Financeiros Específicos dos Idosos  

Os idosos enfrentam uma série de desafios financeiros únicos que podem impactar significativamente sua estabilidade econômica. A redução da renda após a aposentadoria é um dos problemas mais comuns, conforme apontado por Clark, Fiel e McDermed (1996). A transição para uma renda fixa pode limitar a capacidade dos idosos de cobrir despesas inesperadas e manter o padrão de vida anterior. 

Além da redução da renda, o aumento das despesas médicas é uma preocupação constante. Com o envelhecimento, as necessidades de saúde tendem a aumentar, resultando em maiores gastos com medicamentos, tratamentos e cuidados médicos. Segundo Kim, Kwon e Anderson (2005), os custos de saúde representam uma parcela significativa do orçamento dos idosos, e a falta de cobertura adequada pode agravar a situação financeira. 

A necessidade de apoiar financeiramente familiares também contribui para a pressão econômica sobre os idosos. Muitas vezes, eles são responsáveis por ajudar filhos adultos desempregados, netos ou cônjuges, o que pode comprometer ainda mais suas finanças. Hurd, Smith e Zissimopoulos (2011) destacam que a responsabilidade financeira intergeracional pode exacerbar a vulnerabilidade econômica dos idosos. 

Esses desafios financeiros podem levar os idosos a recorrer a empréstimos para sustentar seus gastos. No entanto, a contratação de crédito pode se tornar um ciclo vicioso de endividamento e inadimplência. Lusardi e Mitchell (2014) argumentam que a falta de conhecimento financeiro e a vulnerabilidade ao marketing agressivo de crédito contribuem para que os idosos tomem decisões financeiras imprudentes, aumentando o risco de inadimplência. 

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 

A presente pesquisa emprega uma abordagem combinando métodos qualitativos e quantitativos, com o objetivo de investigar e descrever o percentual de idosos endividados, bem como as razões e a natureza de suas dívidas. Nesta pesquisa será realizado um levantamento quantitativo através de um estudo de campo utilizando questionários estruturados. A amostra será selecionada de forma aleatória entre idosos residentes na cidade de Carangola, garantindo representatividade estatística.

Os dados coletados serão analisados por meio de técnicas estatísticas, como análise de frequência e correlação, visando quantificar o percentual de idosos endividados e identificar padrões com base em variáveis como idade, dados demográficos, nível educacional etc. Para complementar a abordagem quantitativa, serão realizadas entrevistas semiestruturadas com uma amostra selecionada de idosos endividados, utilizando técnicas de amostragem não probabilística, como amostragem por conveniência. Essas entrevistas exploraram detalhadamente as percepções, experiências e motivações por trás do endividamento na terceira idade. As respostas serão analisadas por meio de análise de conteúdo, buscando identificar temas recorrentes sobre as causas do endividamento.  

A aplicação de questionários configura-se como uma metodologia amplamente utilizada em pesquisas científicas, possibilitando a obtenção de dados qualitativos e quantitativos. De acordo com Gil (2008), o questionário constitui um instrumento padronizado que permite coletar informações de um grupo de respondentes, sendo fundamental tanto para a descrição de fenômenos quanto para a testagem de hipóteses. Conforme a estrutura adotada, os questionários podem fornecer dados quantitativos, obtidos por meio de perguntas fechadas e respostas estruturadas, ou qualitativos, coletados por meio de perguntas abertas que possibilitam a manifestação subjetiva dos participantes (Marconi & Lakatos, 2017; Minayo, 2013).  

A elaboração de um questionário eficaz exige clareza, objetividade e coerência na formulação das perguntas, a fim de garantir a compreensão adequada pelos respondentes e a consequente fidedignidade das respostas. Nesse sentido, Richardson (1999) destaca que um questionário bem estruturado deve conter itens voltados à identificação do participante, perguntas abertas para explorar percepções e opiniões, questões fechadas que possibilitem a quantificação das respostas e escalas de mensuração, como a de Likert, que viabilizam a análise de atitudes e percepções. Ademais, recomenda-se a realização de um pré-teste antes da aplicação definitiva do instrumento, a fim de verificar a clareza das perguntas e a coerência das respostas, contribuindo para a validade e confiabilidade dos dados coletados (Babbie, 2014).   

A aplicação dos questionários pode ocorrer por diferentes meios, tais como presencialmente, de forma remota por meio de plataformas digitais ou via contato telefônico. A escolha do método de aplicação deve considerar a acessibilidade dos participantes e a taxa de resposta esperada, de modo a otimizar a coleta de dados. Após a obtenção das respostas, os dados quantitativos devem ser organizados e analisados por meio de ferramentas estatísticas, como SPSS, Excel ou R, permitindo a identificação de padrões, correlações e tendências. Em contrapartida, os dados qualitativos são interpretados com base em metodologias de análise de conteúdo ou análise temática, conforme a abordagem proposta por Bardin (2011), possibilitando a extração de significados e compreensões mais aprofundadas sobre o fenômeno estudado.   

Cabe ressaltar que toda pesquisa envolvendo seres humanos deve estar em conformidade com princípios éticos, garantindo o sigilo das informações e a obtenção do consentimento livre e esclarecido dos participantes. Para tanto, recomenda-se a observância das diretrizes estabelecidas pela Resolução nº 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde. Dessa forma, a utilização do questionário como instrumento metodológico configura-se como uma estratégia relevante para a obtenção de dados fidedignos e sistematizados, viabilizando análises aprofundadas acerca de distintos fenômenos sociais, comportamentais e organizacionais.

Após a coleta e análise dos dados, os resultados serão apresentados de maneira clara e objetiva. A análise comparativa entre os métodos permitirá uma interpretação abrangente dos resultados, contribuindo para a compreensão dos motivos do endividamento na terceira idade e suas implicações sociais, econômicas e individuais. 

O método de aplicação do questionário será presencial e com abordagem direta ao entrevistado. Durante a abordagem para pesquisa, todos os participantes serão informados sobre os objetivos da pesquisa e seus direitos, garantindo o consentimento informado e a confidencialidade dos dados coletados. A pesquisa será conduzida de acordo com os princípios éticos estabelecidos para a pesquisa científica.  

O questionário tem como objetivo identificar, de maneira abrangente, o perfil e o comportamento financeiro da terceira idade em situação de  inadimplência, investigando desde aspectos demográficos básicos, como faixa etária, estado civil e nível de escolaridade, até variáveis econômicas mais específicas, como a principal fonte de renda, a suficiência desta para cobrir despesas mensais e o percentual destinado ao pagamento de dívidas. Por meio das questões apresentadas, busca-se também compreender os padrões de consumo e uso de crédito desses indivíduos, avaliando a frequência com que recorrem a empréstimos, o tipo de crédito utilizado e o impacto dos gastos cotidianos e das despesas médicas em sua saúde financeira. Ademais, o instrumento explora o nível de conhecimento e a participação em iniciativas de educação financeira, bem como o suporte familiar e social, elementos que podem influenciar a capacidade de gestão orçamentária dos respondentes. Dessa forma, o questionário visa fornecer uma visão integrada dos fatores que contribuem para a inadimplência, permitindo a identificação de potenciais áreas para intervenções e aprimoramento das práticas de planejamento financeiro entre essa população. 

 Esta metodologia integrada visa fornecer uma visão abrangente e fundamentada sobre o fenômeno do endividamento na terceira idade, contribuindo para a construção de conhecimento científico e aprimoramento das estratégias de intervenção e apoio aos idosos em situação de vulnerabilidade financeira.  

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 

4.1 Perfil dos Participantes  

 A pesquisa sobre inadimplência entre aposentados revelou que a maioria dos participantes tem entre 60 e 65 anos, sendo essa a faixa etária mais representativa, com 64 respondentes. No entanto, também há um número significativo de pessoas entre 55 e 60 anos (52 respostas) e 65 a 70 anos (48 respostas). Os demais participantes estão distribuídos em faixas etárias menores.  

4.2 Fonte e Faixa de Renda  

Em relação à fonte de renda, a grande maioria (185 respondentes) recebe benefícios previdenciários como principal sustento. Outras fontes incluem trabalhos informais ou eventuais (37 respostas) e investimentos (45 respostas). A renda mensal dos aposentados entrevistados varia, sendo que a maior parte (85 respostas) declarou receber valores na faixa intermediária. Um número menor de entrevistados (63 respostas) informou receber uma renda um pouco menor, enquanto 35 aposentados afirmaram ter rendimentos mais baixos.  

4.3 Capacidade de Cobrir Despesas  

 Quando questionados se sua renda cobre as despesas mensais, 124 aposentados relataram que não conseguem arcar totalmente com os custos, enquanto 86 disseram que suas finanças são suficientes. Esse dado demonstra que um grande número de aposentados enfrenta dificuldades financeiras no dia a dia, o que pode estar diretamente ligado ao alto índice de endividamento.  

4.4 Endividamento e Comprometimento da Renda   

Ao analisar a relação entre renda e endividamento, a pesquisa revelou que 68 aposentados destinam uma parcela significativa de seus ganhos para o pagamento de dívidas. Outros 55 relataram que esse comprometimento é moderado, e 54 disseram que utilizam uma parte menor de sua renda para esse fim. Esses números indicam que o endividamento é uma realidade para boa parte dos entrevistados.  

 Além disso, 138 aposentados possuem empréstimos ativos, enquanto 76 disseram não ter nenhuma dívida desse tipo. O alto número de endividados pode estar relacionado à necessidade de complementar a renda ou cobrir despesas imprevistas.  

4.5 Gastos Comprometidos e Ajuda Financeira   

Outro ponto relevante da pesquisa é que 159 aposentados relataram que a maior parte de seus gastos já está comprometida com despesas fixas e dívidas. Além disso, 107 afirmaram ajudar financeiramente familiares, o que pode aumentar a vulnerabilidade financeira desse grupo.  

4.6 Motivos do Endividamento  

Os principais motivos para a contratação de empréstimos foram a necessidade de cobrir despesas básicas (67 respostas) e emergências médicas ou imprevistos (57 respostas). Outros relataram que usaram o crédito para ajudar familiares (54 respostas) ou para pagar outras dívidas (49 respostas). Isso mostra que, muitas vezes, os empréstimos são utilizados como um recurso emergencial para manter a estabilidade financeira.  

4.7 Escolaridade e Impacto no Endividamento  

A escolaridade dos entrevistados também foi analisada, com a maioria possuindo ensino fundamental ou médio (89 e 75 respostas, respectivamente). Apenas 44 possuíam ensino superior e um número reduzido (18 entrevistados) afirmou ter pós-graduação. Esse fator pode influenciar diretamente na educação financeira e no entendimento sobre o uso do crédito.  

4.8 Discussão dos Resultados  

Os dados apresentados no relatório confirmam as tendências observadas ao longo do estudo, destacando os principais fatores que contribuem para a inadimplência entre aposentados na cidade de Carangola. A análise revelou que a maioria dos participantes tem entre 60 e 65 anos e depende majoritariamente da aposentadoria como principal fonte de renda. Essa dependência limita sua capacidade de lidar com despesas imprevistas e compromete sua estabilidade financeira. 

Um dos aspectos mais preocupantes identificados na pesquisa é a dificuldade enfrentada por muitos aposentados para cobrir suas despesas mensais. Dos entrevistados, 124 relataram que sua renda não é suficiente para arcar com os custos básicos, enquanto apenas 86 afirmaram conseguir cobrir seus gastos sem dificuldades. Esse dado sugere que uma parcela considerável dessa população enfrenta desafios financeiros constantes, o que pode levar ao endividamento como única alternativa para manter o padrão de vida. 

A pesquisa também revelou que uma grande parte dos aposentados precisa recorrer a empréstimos bancários para complementar a renda ou lidar com imprevistos. O número de aposentados com empréstimos ativos é expressivo, atingindo 138 entrevistados. Esse comportamento reforça a ideia de que o crédito tem sido utilizado não apenas para aquisições pontuais, mas como um mecanismo recorrente para equilibrar o orçamento doméstico. 

            Outro ponto relevante é o impacto dos gastos fixos e das responsabilidades financeiras com terceiros no orçamento dos aposentados. Um total de 159 entrevistados afirmou que a maior parte de sua renda já está comprometida com despesas essenciais e pagamento de dívidas. Além disso, 107 relataram que ajudam financeiramente familiares, o que pode aumentar sua vulnerabilidade e reduzir ainda mais a margem disponível para despesas pessoais e emergências. 

            Os motivos que levam ao endividamento também foram analisados. A necessidade de cobrir despesas básicas foi citada por 67 aposentados, enquanto 57 mencionaram emergências médicas ou imprevistos como fatores determinantes. Além disso, 54 entrevistados afirmaram ter recorrido a empréstimos para auxiliar familiares, e 49 utilizaram o crédito para quitar outras dívidas. Esses dados reforçam que, muitas vezes, o endividamento não é resultado de consumo supérfluo, mas sim de necessidades urgentes e da falta de alternativas financeiras viáveis. 

            Outro fator que pode influenciar a inadimplência entre os aposentados é o nível de escolaridade. A pesquisa revelou que a maioria dos entrevistados tem apenas ensino fundamental ou médio, totalizando 164 respondentes. Apenas 44 possuem ensino superior e um número ainda menor (18) relatou ter pós-graduação. Esse fator pode estar diretamente relacionado à menor familiaridade com conceitos de planejamento financeiro e gestão de crédito, tornando essa população mais suscetível a tomar decisões financeiras desfavoráveis. 

            Diante desse cenário, fica evidente a forte relação entre nível de renda, dificuldades financeiras e a dependência do crédito entre os aposentados. A alta taxa de endividamento, aliada à limitação de renda e ao baixo nível de escolaridade, aponta para a necessidade de políticas públicas voltadas à educação financeira desse grupo. Programas que orientem sobre gestão de orçamento, uso consciente do crédito e planejamento financeiro de longo prazo podem contribuir para reduzir a inadimplência e melhorar a qualidade de vida na terceira idade. 

5. CONCLUSÃO  

Com base nos achados da pesquisa, fica evidente que a inadimplência entre aposentados não pode ser atribuída apenas à má gestão financeira individual, mas sim a uma combinação de fatores econômicos, sociais e estruturais. A baixa renda, o aumento das despesas médicas, a falta de planejamento financeiro e a necessidade de ajudar familiares criam um cenário propício para o endividamento na terceira idade. 

            Dessa forma, este estudo reforça a importância de estratégias que promovam maior segurança financeira para os aposentados, incluindo políticas públicas voltadas à valorização da aposentadoria, programas de renegociação de dívidas e iniciativas de educação financeira que auxiliem essa população a lidar melhor com suas finanças. Ao investir em soluções eficazes, é possível reduzir a inadimplência e garantir um envelhecimento mais tranquilo e digno para os idosos. 

Este estudo apresenta contribuições teóricas, práticas e sociais. Do ponto de vista teórico, a pesquisa reforça a importância da educação financeira e do planejamento econômico na terceira idade, dialogando com estudos sobre inadimplência e comportamento financeiro. No âmbito prático, os resultados podem ser utilizados por gestores públicos e instituições financeiras para desenvolver estratégias mais eficazes de crédito responsável e apoio financeiro para aposentados. 

            Já no contexto social, a pesquisa destaca a necessidade de uma maior atenção às condições financeiras dos idosos, alertando para os riscos do endividamento excessivo e suas consequências. A conscientização sobre essa realidade pode incentivar a formulação de políticas públicas mais eficazes, que garantam maior segurança financeira para os aposentados e pensionistas.  

Como qualquer estudo, esta pesquisa apresenta algumas limitações que devem ser consideradas. Primeiramente, os dados foram baseados em informações fornecidas pelos próprios participantes, o que pode ter levado a subnotificações. Alguns entrevistados podem ter omitido sua real situação financeira por vergonha ou receio de expor dificuldades econômicas. 

  Além disso, a amostra poderia ter sido maior, permitindo uma análise mais detalhada de diferentes perfis de aposentados. Outra limitação foi a falta de dados oficiais sobre a renda dos participantes, o que poderia ter enriquecido a pesquisa ao permitir a comparação entre as respostas obtidas e registros financeiros concretos. 

Diante das conclusões obtidas, é recomendável que pesquisas futuras explorem com mais profundidade os impactos psicológicos e sociais da inadimplência entre aposentados.   Além disso, seria interessante analisar a eficácia de programas de educação financeira voltados para idosos, avaliando se esses programas realmente ajudam a reduzir o endividamento e a melhorar a gestão financeira dessa população. 

  Outra sugestão para estudos futuros é investigar a relação entre o acesso ao crédito e as políticas públicas voltadas para aposentados, verificando se há regulamentações que dificultam ou facilitam o endividamento desse grupo. Comparações entre diferentes cidades e estados também poderiam fornecer insights sobre fatores regionais que influenciam o endividamento na terceira idade. 

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