ANÁLISE DOS FATORES DETERMINANTES E PERSPECTIVAS DE CRESCIMENTO NA PRODUÇÃO E EXPORTAÇÃO DE CAFÉ NA REGIÃO DAS MATAS DE MINAS

ANALYSIS OF DETERMINING FACTORS AND GROWTH PROSPECTS IN COFFEE PRODUCTION AND EXPORT IN THE MATAS DE MINAS REGION

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202410312252


Álvaro Schiavo de Paula
Matheus da Silva Martins
Luís Américo Bertolaci Júnior
Geissy de Azevedo Mendes


Resumo

Este estudo visa analisar as perspectivas futuras para a produção e exportação de café na Região das Matas de Minas. A região, conhecida por sua produção significativa de café, é um componente vital no cenário nacional e internacional do setor cafeeiro. O objetivo principal é fornecer previsões detalhadas sobre o crescimento da produção de café, desempenho econômico e das exportações de café na região das Matas de Minas ao longo dos próximos anos. Com base na análise de dados históricos de produção, exportação e valores, este trabalho projeta tendências futuras que indicam um crescimento contínuo no seguimento. As previsões indicam crescimento consistente na produção de café da região, apontando para uma expansão contínua e estável. Essas previsões são cruciais para os produtores da região, pois oferecem informações detalhadas para se prepararem para o futuro. Recomenda-se que os produtores adotem estratégias que incluam investimentos em tecnologias avançadas e práticas de cultivo eficientes para manter e potencializar o crescimento. A compreensão dessas tendências permitirá que os produtores se ajustem às mudanças no mercado, maximizando o retorno econômico e garantindo a sustentabilidade da produção cafeeira na Região das Matas de Minas. O estudo destaca a importância de planejar e adaptar-se às mudanças projetadas no setor, fornecendo informações valiosas para que os produtores possam realizar investimentos estratégicos em maquinário e novas plantações, com base nas tendências de crescimento identificadas. Ao seguir essas tendências, os produtores poderão modernizar suas operações, aumentando a eficiência produtiva e a qualidade do café, o que permitirá uma maior competitividade no mercado global. Dessa forma, essas ações fortalecerão a posição da região das Matas de Minas como um importante polo de produção de café.

Palavras-chave: Café; Produção; Exportação; Matas de Minas; Socioeconômico.

1        INTRODUÇÃO

O café, uma das bebidas mais consumidas globalmente, desempenha um papel crucial na economia agrícola e no mercado internacional. A espécie Coffea arabica, conhecida por suas características sensoriais e sabor distinto, é amplamente cultivada e exportada, destacando-se como uma das mais valorizadas no mercado global. A qualidade do café está diretamente ligada à sua composição química, que resulta de uma interação complexa entre fatores genéticos, ambientais e de processamento. Este valor percebido no café influencia diretamente os preços no mercado, refletindo sua importância econômica.

O mercado global de café tem registrado um crescimento estável de aproximadamente 2% ao ano, enquanto o segmento de cafés especiais tem mostrado uma expansão ainda mais expressiva, com taxas variando entre 10% e 15% (ABCE, 2024; FIGUEIREDO et al., 2015). Este crescimento é impulsionado por uma demanda crescente por produtos diferenciados e de alta qualidade. No Brasil, um dos maiores produtores de café do mundo, a região das Matas de Minas se destaca por suas condições climáticas e geográficas favoráveis, que contribuem para a produção de cafés especiais com características únicas. O país tem investido fortemente em tecnologias avançadas, práticas agrícolas inovadoras e programas de pesquisa para melhorar a qualidade dos grãos e fortalecer sua posição no mercado global.

Apesar dos avanços significativos, ainda há uma lacuna a previsões futuras baseadas na produção e exportação do café, especialmente na Região das Matas de Minas. Embora existam estudos sobre fatores que influenciam a qualidade do café e certificações de origem, como a Denominação de Origem do café arábica da Região do Caparaó (BARBIN, 2014; MENDES et al., 2022; OBEIDAT et al., 2018), faltam análises focadas nas previsões de produção e exportação dessa região. Assim, este estudo visa preencher essa lacuna ao examinar a produção e exportação de café na região nos próximos anos.

A pesquisa pretende oferecer previsões detalhadas sobre o crescimento futuro da produção local e nacional e exportação nacional de café, fornecendo informações valiosas para os produtores locais e partes interessadas do setor. Utilizando dados estatísticos e modelos preditivos, o estudo busca auxiliar os agentes econômicos na formulação de estratégias para um desenvolvimento sustentável e adaptado às expectativas futuras. Com essa abordagem, espera-se que a pesquisa contribua para um melhor entendimento das dinâmicas do mercado cafeeiro e destacar a importância crescente da Região das Matas de Minas no cenário nacional da produção de café.

2        REVISÃO DA LITERATURA

2.1  Panorama do mercado cafeeiro

O Brasil, como maior produtor e exportador mundial de café, tem um papel crucial no mercado global. Em 2022, o país produziu entre 55,74 e 60 milhões de sacas, com o café arábica sendo a principal variedade cultivada (CONAB, 2024). Sua posição no mercado é sustentada por seu clima ideal para o cultivo, além de práticas agrícolas avançadas e mão de obra especializada (CAFÉ E ECONOMIA, 2023). O país também é o segundo maior consumidor de café, com uma demanda interna significativa de aproximadamente 21,5 milhões de sacas em 2021 (CONSCIÊNCIA CAFÉ, 2023).

As exportações têm mostrado um crescimento notável, atingindo 42,9 milhões de sacas em 2022 (EBRA, 2024). O café brasileiro é exportado principalmente para os Estados Unidos, Europa e Ásia, evidenciando a importância do mercado internacional para o setor (EBRA, 2024). Apesar dos desafios, a tendência de crescimento na demanda por cafés especiais e práticas sustentáveis oferecem oportunidades significativas para o futuro do setor (CAFÉ E ECONOMIA, 2023; EBRA, 2024).

O Regulamento (UE) nº 2023/11152 tem como objetivo reduzir e combater o avanço do desmatamento global, conhecida como lei antidesmatamento (EUDR). A nova legislação proíbe a entrada no mercado da UE de commodities e produtos relevantes, como gado, madeira, óleo de palma, soja, cacau, café e seus derivados, caso sejam originários de áreas desmatadas após 31 de dezembro de 2020 (UNIÃO EUROPEIA, 2023).

Nesse contexto, adotar práticas sustentáveis pode ser uma saída estratégica para os produtores brasileiros de café. A implementação de métodos agrícolas que respeitem a preservação ambiental e o uso de certificações sustentáveis não apenas garantem conformidade com as novas normas, mas também podem abrir portas para mercados internacionais e agregar valor ao seu produto. A adaptação às exigências da EUDR pode fortalecer a posição do Brasil como líder possibilitando o acesso a mercados internacionais que priorizem a sustentabilidade, valorizando o produto devido às certificações ambientais e em práticas de cultivo responsáveis para contribuir com a sustentabilidade a longo prazo do setor cafeeiro (CNN BRASIL, 2024).

As exportações de café do Brasil são influenciadas por uma série de fatores, incluindo produtividade, custos de produção e taxa de câmbio. A produtividade cafeeira é um fator crítico para a competitividade do Brasil no mercado internacional, enquanto os custos de produção e as flutuações na taxa de câmbio podem impactar a margem de lucro dos produtores (FAJNZYLBER, 2014). Em 2023, o Brasil exportou produtos no valor de US$ 240,2 bilhões, com uma significativa participação de commodities agrícolas, incluindo o café (MDIC, 2024).

A concentração nas exportações de commodities limita a diversificação e a captura de maior valor agregado para os produtos brasileiros (GONÇALVES; CORTEZ, 2018). Embora a exportação de café continue sendo uma fonte importante de receita, o setor enfrenta desafios relacionados à volatilidade dos preços e à necessidade de diversificação das exportações para reduzir a dependência de um número restrito de produtos (FAO, 2023). Estratégias para melhorar a qualidade do café e aumentar a competitividade internacional são essenciais para enfrentar esses desafios e aproveitar as oportunidades oferecidas pelo crescimento da demanda global (IEA, 2023).

2.2  O café em Minas Gerais

Minas Gerais é um dos principais estados produtores de café no Brasil, com uma longa tradição na cafeicultura que remonta há séculos (SILVA et al., 2023). O estado tem visto uma evolução significativa de pequenas plantações para grandes propriedades altamente tecnologizadas, refletindo avanços em técnicas de cultivo e processamento (MARTINS; OLIVEIRA, 2022). A implementação de tecnologias como drones e sistemas avançados de irrigação tem permitido uma maior eficiência e qualidade na produção de café (MARTINS; OLIVEIRA, 2022). Essas inovações têm contribuído para manter Minas Gerais na vanguarda da produção cafeeira.

A participação em feiras internacionais e a formação de cooperativas têm ajudado a superar os obstáculos e a melhorar a competitividade dos produtores locais (ALMEIDA; COSTA, 2023). O impacto econômico da produção de café é significativo, contribuindo para o PIB agrícola do estado e impulsionando o desenvolvimento da infraestrutura regional (RIBEIRO et al., 2023). Essas características fazem de Minas Gerais uma peça chave no setor cafeeiro do país.

2.3  Fatores que influenciam o agronegócio do café das Matas de Minas

O agronegócio do café nas Matas de Minas é impactado por diversos fatores climáticos e econômicos (SILVA et al., 2018). A variabilidade climática, incluindo as mudanças nas condições de temperatura e precipitação, afeta diretamente a produção e a qualidade do café (SILVA et al., 2018). Além disso, a degradação do solo e outros desafios ambientais também representam riscos para a sustentabilidade da produção (RIBEIRO et al., 2019). Para enfrentar esses desafios, a adoção de tecnologias inovadoras e práticas de manejo sustentável é crucial (FONSECA et al., 2020).

Estratégias como o uso de tecnologias avançadas, como sensores de clima e técnicas de irrigação eficientes, ajudam a superar as dificuldades impostas pelos fatores climáticos (wet al., 2020). A formação de cooperativas e a participação em iniciativas de certificação sustentável também têm sido importantes para melhorar a competitividade e a resiliência do agronegócio cafeeiro na região (SANT’ANNA et al., 2021). A gestão estratégica e a diversificação das práticas agrícolas são essenciais para garantir a sustentabilidade e o sucesso do setor cafeeiro nas Matas de Minas.

3        METODOLOGIA

A metodologia adotada neste estudo foi desenvolvida para suprir a lacuna de pesquisas que especificam as áreas potenciais de crescimento do setor cafeeiro na região das Matas de Minas. Inicialmente, foi realizada uma pesquisa exploratória, cujo objetivo é proporcionar maior familiaridade com o problema e torná-lo mais explícito, permitindo a formulação de hipóteses sobre as questões em foco. Conforme exposto por Gil (2019), esse tipo de pesquisa é caracterizado pela sua flexibilidade, o que é fundamental para observar e compreender os múltiplos aspectos relacionados ao fenômeno estudado.

A flexibilidade metodológica é essencial para captar as diversas dimensões do setor cafeeiro nas Matas de Minas, permitindo uma análise abrangente das variáveis envolvidas. Além disso, a pesquisa adotou um enfoque descritivo, visando detalhar as características do setor cafeeiro na região. A descrição detalhada dos dados coletados oferece um panorama do cenário atual, além de identificar tendências que possam servir de base para futuras investigações e ações estratégicas.

Para obter uma compreensão profunda do problema proposto, foi realizado um levantamento de dados detalhado nos sites da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB, 2024) e do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (CECAFE, 2024). Essas fontes são amplamente reconhecidas como confiáveis e abrangentes em relação ao setor cafeeiro no Brasil. Foram coletados dados sobre produção, exportação e valor dos cafés produzidos nas Matas de Minas ao longo dos últimos dez anos. A análise desses dados, conduzida de forma criteriosa, permitiu a identificação de padrões e tendências ao longo do tempo, possibilitando previsões informadas sobre o futuro do setor e uma avaliação da evolução do mercado cafeeiro na região.

Essa pesquisa também se enquadra na categoria quantitativa, uma vez que envolve a coleta e análise de dados numéricos. Para tanto, foram examinadas variáveis como o volume de produção, a quantidade de exportações e os valores financeiros associados ao setor cafeeiro durante o período de dez anos. A análise quantitativa desempenhou um papel crucial na identificação de tendências, variações e padrões, facilitando a compreensão da evolução e do potencial de crescimento da produção de café nas Matas de Minas. A utilização de métodos estatísticos, além de garantir maior precisão e objetividade na interpretação dos dados, contribuiu para a robustez das conclusões e recomendações do estudo.

Na análise de dados, foi empregada a regressão linear em séries temporais, que é uma técnica estatística usada para modelar a relação entre uma variável dependente y e uma ou mais variáveis independentes x. Esta análise busca ajustar uma linha reta (no caso de uma única variável) que melhor represente os dados observados, dada pela equação:

onde y é a variável dependente, que será prevista pelo trabalho, ou seja, a tendência de produção nos próximos anos; x é a variável independente, responsável por influenciar y, neste caso, o tempo;  β0 é o intercepto, ou seja, o valor de y quando x = 0 e β1 é o coeficiente angular, que indica a mudança em y para cada unidade adicional em x. Para encontrar os valores correspondentes de β0 e β1 foram utilizadas as equações:

onde Yi é um valor qualquer da variável registrada na série temporal, ti é o período associado a Yi, e n é o número de períodos da série.  Para realizar a regressão linear foram seguidos os seguintes passos:

1.      Coleta de dados: Obter um conjunto de dados com as variáveis independentes e dependentes;

2.      Ajuste da curva: Realizar os cálculos para encontrar os valores de β0 e β1, pois a regressão linear minimiza a soma dos quadrados dos erros (diferença entre os valores previstos e os valores reais) para encontrar a melhor reta que ajuste os dados.

3.      Interpretação dos resultados: Avaliar os coeficientes β0  e β1 para entender a relação entre as variáveis. A qualidade do ajuste é frequentemente medida pelo valor R², que indica o quão bem os dados são explicados pela regressão.

4        RESULTADOS E DISCUSSÕES

Neste trabalho, em um primeiro momento de delineamento da pesquisa, foi almejado fazer previsões para produção, valores e exportações, tanto para a região das Matas quanto nacionalmente. Entretanto, não foram encontrados dados referentes às duas últimas variáveis, especificamente, para a região das Matas de Minas. Por esta razão, o trabalho definiu novo delineamento de pesquisa, passando a discutir a produção nacional versus Matas de Minas.

Os resultados obtidos após a coleta dos dados estão dispostos na Tabela 1. Ela demonstra que houve quedas expressivas de produção em anos como 2019 e 2021, tanto na região das Matas de Minas quanto no Brasil como um todo, que ainda se mantém em alta no ano de 2019, mas apresenta um declínio brusco em 2021. Essas variações na produção de café na região mineira e no cenário nacional foram influenciadas por uma série de fatores climáticos, tecnológicos e econômicos. O clima exerce um impacto direto, com secas e geadas sendo responsáveis por intercorrências significativas na produção de cafés. Segundo Silva, Souza e Carvalho (2020), as condições climáticas adversas, como a redução da precipitação e a ocorrência de geadas, são fatores críticos que afetam o ciclo produtivo do café, resultando em quedas severas de produção. Em contrapartida, anos de clima favorável, como em 2020, quando o Brasil de maneira geral, registrou uma produção recorde, permitiram a recuperação das lavouras e a maximização da colheita.

Além disso, a adoção de novas tecnologias, como cultivares resistentes a pragas e doenças, bem como a mecanização, tem contribuído para a estabilidade da produção em grande parte do território nacional. Na região das Matas de Minas, que possui características topográficas mais desafiadoras, o impacto dessas tecnologias é mais limitado, o que pode explicar as oscilações mais acentuadas em comparação com a produção nacional (CARVALHO; MATIELLO, 2019). A demanda global por café e as flutuações nos preços internacionais também influenciam a produção, incentivando os agricultores a aumentarem a produção em anos de preços mais elevados, como observado em 2020 (ICO, 2021).

Dadas as observações e resultados iniciais apresentados, os dados coletados foram utilizados na predição da produção de café nacionalmente e na região das Matas de Minas. Foi empregado a análise de séries temporais, que se refere a um conjunto de observações de uma variável (produção de café), ordenados no tempo. Este tipo de análise busca compreender o mecanismo gerador da série e predizer o seu comportamento futuro. Dessa forma, torna-se possível estudar o comportamento da variável em análise no decorrer do tempo e obter razões para esses comportamentos. Ademais, é possível fazer planos a longo, médio e curto prazo e tomar decisões apropriadas, baseada nas predições.

Neste estudo, foi empregado um modelo clássico de séries temporais, para obtenção das tendências, realizado por um modelo de regressão, descrito na metodologia. Após realizar os cálculos, com auxílio de uma planilha de cálculos, foram obtidas as equações que descrevem a tendência (y) da produção de café das Matas de Minas (Equação 4) e Nacional (Equação 5) nos próximos anos (t) dadas por:

De mão dessas equações, foram construídas as projeções de produção para os próximos 10 anos (2024 – 2034). Os resultados estão dispostos nas Figuras 1 e 2, que indicam as predições para as Matas de Minas e Nacional, respectivamente.

Figura 1: Série Temporal da produção de café das Matas de Minas.

Figura 2: Série Temporal da produção de café Nacional – Brasil.

A análise de séries temporais, aplicada tanto aos dados de produção nacional quanto aos da Região das Matas de Minas, mostrou diferenças notáveis no desempenho entre as duas escalas. Enquanto a produção nacional tem se mantido relativamente estável com tendência de crescimento gradual, a produção na Região das Matas de Minas apresentou maiores oscilações, especialmente em anos como 2019 e 2021, onde fatores climáticos adversos, como secas e geadas, tiveram um impacto severo. Esse comportamento reforça a importância da implementação de estratégias que possam mitigar os efeitos de eventos climáticos extremos, como o uso de tecnologias preditivas e a introdução de cultivares resistentes.

No entanto, a análise também revelou o potencial promissor da região. Projeções indicam um aumento contínuo na produção ao longo dos próximos dez anos, o que oferece uma perspectiva otimista para os produtores locais. Esse cenário positivo pode ser ainda mais potencializado pela adoção de práticas sustentáveis, que não só contribuem para a preservação ambiental, mas também agregam valor ao café produzido, particularmente em mercados internacionais que valorizam cafés certificados.

Outro ponto importante observado nos resultados é a crescente adoção de práticas agrícolas inovadoras e o fortalecimento das cooperativas locais, que têm desempenhado um papel fundamental na capacitação dos produtores e no acesso a mercados mais exigentes. A implementação de tecnologias de irrigação inteligente e sistemas agroflorestais, além do manejo integrado de pragas, têm se mostrado essenciais para superar as limitações impostas pela geografia acidentada da região.

Essas inovações tecnológicas, aliadas a uma maior conscientização sobre a sustentabilidade, posicionam a Região das Matas de Minas de maneira competitiva, não apenas no mercado nacional, mas também no internacional. As tendências identificadas sugerem que os produtores que investirem em tecnologia e boas práticas agrícolas estarão melhores preparados para enfrentar as adversidades e aproveitar as oportunidades de crescimento projetadas.

As variações na produção, conforme observadas, estão diretamente ligadas a fatores climáticos e à adoção de novas tecnologias. A região das Matas de Minas, com características topográficas mais desafiadoras, apresentou oscilações maiores em comparação ao cenário nacional. A análise aponta que a adoção de tecnologias, como cultivares resistentes e mecanização, pode ser mais limitada na região, impactando a estabilidade da produção.

Apesar dos desafios, a implementação de práticas agrícolas sustentáveis vem ganhando força entre os produtores da região. Isso pode não apenas garantir a conformidade com novas regulamentações internacionais, mas também agregar valor ao café, permitindo que os produtores expandam seu alcance no mercado internacional de cafés especiais.

A região das Matas de Minas, apesar de seu reconhecimento pela qualidade do café produzido, enfrenta desafios que limitam a consistência na produção e afetam sua competitividade. Os principais fatores que influenciam negativamente a produção local estão relacionados às condições climáticas adversas, como períodos de seca prolongada e geadas, além da topografia montanhosa, que dificulta a mecanização e a adoção de tecnologias mais avançadas. Para superar essas limitações, é fundamental que os produtores adotem estratégias inovadoras e sustentáveis, que possam garantir maior resiliência da produção e aumento da eficiência agrícola. A seguir, algumas estratégias recomendadas, baseada nas lacunas encontradas:

1.               Investimento em Cultivares Resilientes ao Clima: O desenvolvimento e a utilização de cultivares de café mais resistentes às variações climáticas são cruciais para a mitigação dos impactos de eventos extremos, como secas e geadas. Pesquisas focadas em melhoramento genético podem identificar variedades que suportam condições climáticas adversas sem comprometer a qualidade sensorial do café, um dos principais diferenciais da produção nas Matas de Minas. Além disso, essas cultivares podem ter maior resistência a pragas e doenças, reduzindo a dependência de insumos químicos e diminuindo os custos de produção.

2.               Adoção de Sistemas Agroflorestais: A integração da cafeicultura com sistemas agroflorestais oferece uma alternativa sustentável para lidar com as condições climáticas adversas, ao mesmo tempo em que preserva o solo e a biodiversidade local. A combinação do cultivo de café com árvores nativas pode criar microclimas mais estáveis, protegendo os cafeeiros de extremos térmicos e aumentando a retenção de umidade no solo. Além disso, os sistemas agroflorestais contribuem para o sequestro de carbono e melhoram a saúde geral do ecossistema agrícola, o que pode agregar valor ambiental ao produto final.

3.               Tecnologias de Irrigação Inteligente: Embora a mecanização total seja limitada pela topografia da região, o uso de tecnologias de irrigação inteligente pode aumentar significativamente a eficiência da produção. Sistemas de irrigação por gotejamento, combinados com sensores de umidade do solo, podem garantir que a água seja utilizada de maneira mais eficiente, minimizando o desperdício e permitindo que os produtores respondam de forma precisa às necessidades das plantas, especialmente em períodos de seca.

4.               Diversificação da Produção: Uma estratégia eficaz para lidar com a volatilidade dos preços do café é a diversificação da produção. Muitos produtores de café nas Matas de Minas podem se beneficiar da inclusão de culturas complementares que também sejam adequadas para a topografia local. Frutas nativas ou outras commodities agrícolas de valor agregado podem ser cultivadas paralelamente ao café, diversificando as fontes de renda e reduzindo a vulnerabilidade a choques de preço no mercado global do café.

5.               Capacitação Técnica e Acesso a Financiamento: O sucesso na implementação dessas práticas depende da capacitação técnica dos produtores e do acesso a financiamento para investimentos em infraestrutura. Programas de assistência técnica que ensinem o uso eficiente de tecnologias e melhores práticas agrícolas são essenciais para garantir a adoção em larga escala dessas estratégias. Além disso, parcerias com cooperativas e associações locais podem facilitar o acesso a linhas de crédito específicas para agricultura sustentável, permitindo que os pequenos produtores invistam em melhorias sem comprometer sua viabilidade financeira.

6.               Certificações de Sustentabilidade e Valor Agregado: O mercado internacional de cafés especiais valoriza cada vez mais produtos que seguem padrões rigorosos de sustentabilidade. A obtenção de certificações como Rainforest Alliance, Fair Trade e outras certificações de origem pode permitir que os produtores da região das Matas de Minas acessem mercados premium e obtenham preços mais altos por seus produtos. Essas certificações não apenas comprovam o compromisso com a sustentabilidade ambiental e social, mas também ajudam a diferenciar o café da região no mercado global, agregando valor ao produto final.

7.               Cooperativas para Fortalecimento da Competitividade: As cooperativas desempenham um papel fundamental no fortalecimento da competitividade dos produtores locais. Elas facilitam o acesso a recursos tecnológicos, permitem economias de escala e fortalecem o poder de negociação no mercado internacional. Além disso, as cooperativas podem atuar como intermediárias na obtenção de certificações de sustentabilidade e na participação em feiras internacionais, promovendo o café da região e aumentando sua visibilidade global.

As projeções indicam que, com a aplicação de novas práticas e inovações tecnológicas, a produção na região pode continuar a crescer de maneira sustentável. Isso proporcionará aos produtores a oportunidade de se modernizarem, aumentando a eficiência e a qualidade do café produzido.

5        CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados da pesquisa apontam para um cenário otimista na produção e exportação de café na Região das Matas de Minas, reforçando o potencial de crescimento do setor. A análise de séries temporais, que revelou uma tendência de aumento na produção ao longo dos próximos dez anos, sugere que os produtores locais podem se beneficiar significativamente desse crescimento, desde que adotem práticas inovadoras e sustentáveis.

A região, já conhecida por sua produção de café de alta qualidade, tem a oportunidade de consolidar sua posição no mercado de cafés especiais. A adoção de tecnologias de irrigação inteligente, manejo sustentável e a diversificação de cultivos são algumas das estratégias que podem impulsionar ainda mais a produtividade e a resiliência dos produtores frente às mudanças climáticas e à volatilidade dos preços.

Além disso, o fortalecimento das cooperativas locais tem se mostrado uma solução eficaz para superar os desafios econômicos e de infraestrutura, permitindo que pequenos e médios produtores acessem mercados premium e obtenham certificações de sustentabilidade. A combinação de inovação tecnológica, capacitação técnica e o uso de práticas ambientalmente responsáveis posiciona a região em uma trajetória de crescimento sustentável e competitivo.

Com base nas projeções e nas estratégias discutidas, é possível afirmar que a Região das Matas de Minas tem potencial não só para acompanhar o crescimento do setor cafeeiro nacional, mas também para se destacar como um polo de produção de cafés especiais no cenário internacional. O alinhamento entre práticas inovadoras e o atendimento às demandas de sustentabilidade global será determinante para que a região se consolide como uma referência em qualidade e inovação na produção de café.

REFERÊNCIAS

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