ANÁLISE DOS DADOS DE PESSOAS VIVENDO COM HIV/AIDS E TUBERCULOSE NAS POPULAÇÕES DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO DO PARÁ COM 100 MIL HABITANTES OU MAIS, NOS ANOS DE 2021 E 2022

ANALYSIS OF DATA ON PEOPLE LIVING WITH HIV/AIDS AND TUBERCULOSIS IN THE POPULATIONS OF THE MUNICIPALITIES IN THE STATE OF PARÁ WITH 100 THOUSAND INHABITANTS OR MORE, IN THE YEARS 2021 AND 2022

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10146002


David Josué Moreira Duarte1
Daniel Augusto Santos Alves2
Júlio César Ribeiro Prestes3
Charliana Aragão Damasceno4


RESUMO

Introdução: O vírus da imunodeficiência humana (HIV), responsável por originar a aids, mantém-se como um complexo desafio de saúde pública global, ocasionando prejuízos negativos tanto para os indivíduos quanto para a sociedade. Indivíduos com elevada carga viral e baixa contagem de linfócitos, são comumente acometidos com coinfecções e infecções oportunistas. Metodologia: Trata-se de um estudo epidemiológico do tipo observacional e descritivo, com dados retrospectivos, que usou os bancos de dados secundários disponíveis na página do painel de indicadores epidemiológicos do Ministério da Saúde referentes aos casos de HIV/Aids e tuberculose do período de 2021 a 2022. Resultados: Os quinze municípios estudados, com mais de 100.000 mil habitantes do estado do Pará, tem apresentado um aumento do número de casos de HIV e na taxa de detecção de aids, bem como de gestante vivendo com HIV no período estudado, sendo que a maior frequência de detecção tardia de HIV, indicação de tratamento para infecção latente pela tuberculose, insuficiência na adesão a TARV ou abandono tem ocorrido em maior frequência entre homens e na faixa etária de 18 a 29 anos e 30 mais. Conclusão: A problemática do aumento do número de casos de aids nos municípios do estado do Pará, devem-se ao diagnóstico tardio e ao abandono do tratamento, o que expõem a fragilidade da vigilância epidemiológica e dos SAE-CTA no monitoramento dos casos, associado a falta de implementação de políticas públicas eficientes no enfrentamento do HIV/Aids.

Palavras-chave: HIV/Aids. Tuberculose. Pará.

1. INTRODUÇÃO

O vírus da imunodeficiência humana (HIV) é um retrovírus que destrói notadamente os linfócitos TCD4+, causando impacto significativo no sistema imunológico das pacientes infectados (FARIAS et al., 2022), o que desencadeará diminuição na contagem dos linfócitos T CD4+ e queda da imunidade mediada por células, sendo responsável por originar a aids (CASTELO et al., 2022), e causando também alta probabilidade do hospedeiro desenvolver infecções oportunistas (LEVINSON, 2011). Decorridas três décadas desde seu aparecimento, o HIV mantém-se como um complexo desafio de saúde pública global, ocasionando prejuízos negativos tanto para os indivíduos quanto para a sociedade (UNAIDS, 2021). Além de não haver uma cura medicamentosa, o HIV perdura como um problema de saúde pública em nível mundial, com estimativa atual de cerca de 38 milhões de pessoas vivendo com a infecção pelo HIV (TEIXEIRA et al., 2022).

No Brasil, a epidemia se desenvolveu nas mais distintas regiões, tomando características epidemiológicas singulares nas diversas populações (TRINDADE et al., 2021). Os dados do boletim epidemiológico de HIV/Aids de 2022 mostram que entre o intervalo de 2012 até 2021, foram registrados cerca de 366.540 mil casos de HIV no Brasil, sendo que neste período também foram notificados 78.890 casos de gestantes infectadas pelo HIV (BRASIL, 2022). Em relação a aids foram notificados no Sinan, declarados no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e registrados no Sistema de Controle de Exames Laboratoriais/Sistema de Controle Logístico de Medicamentos (Siscel/Siclom) cerca de 392.845 mil casos. No ranking segundo índice composto, que leva em consideração, taxa de detecção de aids, coeficiente de mortalidade, taxa de detecção em menores de 5 anos e média do primeiro CD4, o Pará e Belém ocupam, respectivamente, o 3º e o 1º lugar (BRASIL, 2022).

É importante destacar que desde a introdução em 1987 do primeiro antirretroviral aprovado, inúmeros avanços foram alcançados possibilitando um maior aperfeiçoamento de questões farmacológicas complexas, melhorando, assim, a qualidade de vida do paciente infectado pelo vírus. Embora a terapia antirretroviral (TARV) tenha evoluído, a adesão ao tratamento ainda é um grande desafio na vida da pessoa vivendo com o HIV (CARVALHO et al., 2019). Indivíduos com elevada carga viral e baixa contagem de linfócitos, são comumente acometidos com coinfecções e doenças oportunistas (SANTANA et al., 2019). Inúmeras são as coinfecções encontradas em pessoas vivendo com HIV, sendo as principais dessas doenças a Tuberculose (TB), a Hepatite C, infecções sexualmente transmissíveis como a sífilis, Papilomavírus Humano (HPV) e a herpes genital (SANTANA et al., 2019). Dentre elas, a tuberculose, doença infectocontagiosa causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, possui grande importância, visto que é a principal causa de morte entre as pessoas vivendo com HIV/Aids (SILVA et al., 2022).

Tendo em vista a importância epidemiológica do HIV/Aids no Brasil, e baseado nos dados mostrados sobre a situação epidemiológica do Pará, levando em consideração o ranking de acordo com índice composto, compreende-se que há necessidade de um estudo mostrando a situação dos municípios do Pará. Nesse sentido, o presente estudo objetiva analisar os dados de pessoas vivendo com HIV/Aids e tuberculose nas populações dos municípios do estado do Pará com mais de 100.000 habitantes entre os anos de 2021 e 2022.

2. METODOLOGIA

2.1. Tipo de estudo e população estudada

Trata-se de um estudo epidemiológico do tipo observacional e descritivo, com dados retrospectivos, que usou os bancos de dados secundários disponíveis na página do painel de indicadores epidemiológicos do Ministério da Saúde referentes aos casos de HIV/Aids e tuberculose do período de 2021 a 2022. A população alvo deste estudo foi constituída pelos municípios paraenses com população com 100 mil habitantes ou mais, definidos pelo censo do IBGE 2022. Os municípios analisados estão elencados no Quadro 1, de acordo com o Centro Regional de Saúde (CRS) a que pertencem, na organização de gestão da Secretaria de Estado da Saúde do Pará – SESPA.

Quadro –Distribuição dos municípios com mais de 100.000 mil habitantes no estado do Pará, segundo o Centro Regional de Saúde a que pertencem.

Fonte: Autores, 2023.

1.2. Obtenção dos dados

No processo de obtenção dos dados de HIV/Aids foi acessada a página, https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/i/ist/painel-de-indicadores-epidemiologicos, sendo que na base da página está disponível os links: “Painel de indicadores de Aids e “Painel de indicadores clínicos do HIV”. Assim, ao acessar o primeiro e o segundo link foi disponibilizado, respectivamente as páginas:http://indicadores.aids.gov.br/ e http://indicadoresclinicos.aids.gov.br/, permitindo selecionar os itens “Abrangência dos dados” e a “Subcategoria”. Ao selecionar o primeiro item ficou disponível na barra de rolagem: “Dados Regionais e Nacionais”, “Dados Estaduais” e “Dados Municipais (por Estado)”. Ao ser selecionado “Dados Regionais e Nacionais”, foi permitido escolher as subcategorias “Brasil” e depois “Região Norte”, sendo os dados baixados no formato de planilha Excel através do botão “baixar dados”. O mesmo procedimento foi realizado ao selecionar “Dados Estaduais” e em seguida “Pará”. Por último, ao selecionar “Dados Municipais (por Estado)” e “Pará” foi possível escolher a “Subcategoria” por município, sendo que neste estudo foram baixados os dados dos 15 municípios supra relacionados.

Para obtenção dos dados sobre tuberculose foi acessado a página e https://www.gov.br/aids/pt-br/indicadores-epidemiologicos/paineis-de-indicadores-e-dados-basicos, sendo disponibilizado o link “Indicadores e dados básicos de tuberculose nos municípios brasileiros” e realizado o mesmo procedimento anteriormente descrito para os dados do HIV/Aids.

1.3. Organização dos dados

Os dados foram baixados do banco de informações do painel de indicadores epidemiológicos e organizados em planilha Excel (v. 2019) e os gráficos e tabelas produzidos com as ferramentas desta planilha.

3.RESULTADOS

No estado do Pará no ano de 2021 e 2022, foram notificados 3.757 casos de HIV no Sinan, sendo notificados também 1.250 casos de gestantes infectadas pelo HIV. É importante destacar que no painel de indicadores epidemiológico do Ministério da Saúde os dados estão atualizados até junho de 2022.

Na figura 1 observa-se que nos anos de 2021 e 2022 entre as gestantes com HIV notificadas no Brasil, Região Norte e Estado do Pará, respectivamente, 81,7% (10.110/12.374), 74,8% (1.213/1.621) e 68,9% (510/740) deram a luz a bebês que foram notificados como crianças expostas ao vírus. Em relação aos municípios estudados nesta pesquisa, aqueles que apresentaram os maiores números de crianças expostas no período estudado foram: Belém (89,8%), Marabá (73,5%) e Santarém (87,2%). Em contrapartida, Paragominas 22,2% (2/9), Parauapebas 41,9% (18/43) e Ananindeua 54,7% (29/53) evidenciaram as menores proporções de crianças expostas. Itaituba foi o único município entre os demais, sem notificação de criança exposta ao HIV.

Figura 1 – Casos de gestantes com HIV e crianças expostas ao HIV, período de 2021 e 2022, nos municípios do Estado do Pará com mais de 100.000 mil habitantes.

Fonte: Adaptado de Painel de indicadores epidemiológicos (2022).

Na Figura 2 observa-se a distribuição das taxas de detecção de aids por 100.000 habitantes dos anos de 2021 e 2022, segundo as categorias: Brasil, Região Norte, Estado do Pará e os 15 municípios estudados nesta pesquisa. Assim, verifica-se que houve um aumento considerável na taxa de detecção de aids em 2022 em nível nacional, Região Norte, Pará e em 66,7% (10/15) dos municípios analisados, sendo que os municípios de Belém, Ananindeua, Castanhal, Parauapebas, Santarém e Marabá apresentaram as maiores taxas respectivamente. Em relação aos maiores incrementos na detecção de aids pode-se destacar cinco municípios que apresentaram um aumento percentual importante no ano de 2022 em relação ao ano anterior, respectivamente: Marabá (162,6%), Itaituba (143,8%), Santarém (97,2%), Ananindeua (44,3%) e Parauapebas (39,1%). Por outro lado, cinco cidades tiveram queda na taxa de detecção, sendo elas: Cametá (2,9 para 2,1), Marituba (38,9 para 28,7), Altamira (17,2 para 14,5), Abaetetuba (10,7 para 10) e Bragança (18,6 para 17,7).

Figura 2 – Taxa de detecção de aids notificados no SINAN, declarados no SIM e registrados no SISCEL/SICLOM, período de 2021 e 2022, nos municípios do Estado do Pará com mais de 100.000 mil habitantes.

Fonte: Adaptado de Painel de indicadores epidemiológicos (2022).

Em relação a tuberculose, verifica-se que o banco de dados do painel de indicadores epidemiológicos do Ministério da Saúde apenas constam dados até 2021 do número de casos e a taxa de detecção. Assim, verifica-se na Figura 3 que o estado do Pará apresentou maior taxa de detecção (42,6) em relação a taxa nacional (32), entretanto permaneceu abaixo da taxa regional que correspondeu a 45,3. A respeito dos 15 municípios que foram avaliados, Marituba (94,3), Belém (67), Ananindeua (63,1) e Bragança (56,6) foram os 4 municípios com maiores taxas de detecção. Por outro lado, Itaituba (28,6), Abaetetuba (30,2), Altamira (32,8) e Santarém (34,6) foram os que apresentaram as menores taxas de detecção.

Figura 3 – Taxa de detecção de TB em 2021, nos municípios do Estado do Pará com mais de 100.000 mil habitantes.

Fonte: Adaptado de Painel de indicadores epidemiológicos (2022).

Na figura 4 nota-se a proporção de testagem para HIV entre os casos novos de TB (todas as formas). Constata-se que a proporção da região Norte e Pará está abaixo da proporção nacional. Além disso, 40% (6/15) dos municípios avaliados também se encontram abaixo da média nacional, sendo eles: Belém, Ananindeua, Marituba, Cametá, Paragominas e Castanhal. Destes municípios, Belém apresenta o menor percentual de testagem, com apenas 45,8% dos casos de TB testados para HIV, seguida de Ananindeua (46,7), Marituba (64,3) e Cametá (67,9). Por outro lado, os que tiveram as maiores proporções de testagem foram, Barcarena (94,6), Bragança (90,4), Parauapebas (89,9) e Santarém (88,7).

Figura 4 – Proporção de testagem para HIV entre os casos novos de TB, 2021, nos municípios do Estado do Pará com mais de 100.000 mil habitantes.

Fonte: Adaptado de Painel de indicadores epidemiológicos (2022).

Em relação aos dados de monitoramento clínico dos casos de HIV/Aids dos anos de 2021 e 2022, as informações dos municípios estudados nesta pesquisa estão apresentadas nas Tabelas 1 a 4, conforme o Centro Regional de Saúde a que pertencem. Assim, a Tabela 1 mostra o número de indivíduos com diagnóstico tardio de HIV e doença avançada (indivíduos com primeiro CD4 realizado com resultado abaixo de 200 céls/mm³), nos anos de 2021 e 2022. Assim, verifica-se que o 1º e o 11º CRS concentram a maioria destes casos, seguido pelo 9º e 3º CRS. Quanto a variável “Sexo”, observa-se que independente do CRS há mais homens do que mulheres com diagnóstico tardio e doença avançada. Assim, do total de indivíduos, 71,3% são homens (764/1.072) e 28,7% são mulheres (308/1.072). Em relação a variável “Faixa etária” observa-se a predominância de casos entre pessoas com idade entre 30 anos ou mais, englobando 71,5% (767/1.072) dos casos, seguido da faixa etária de 18 a 29 anos com 27,3% (293/1.072) dos casos.

Tabela – Diagnóstico Tardio e Doença Avançada: Número de indivíduos com primeiro CD4 realizado com resultado abaixo de 200 céls/mm³, por sexo e faixa etária, 2021 e 2022.

NOTAS: 1º CRS: Ananindeua, Belém e Marituba; 3º CRS: Castanhal; 4º CRS: Bragança; 5º CRS: Paragominas; 6º CRS: Barcarena e Abaetetuba; 8º CRS: Breves; 9º CRS: Itaituba e Santarém; 10º CRS: Altamira; 11º CRS: Marabá e Parauapebas; 13º CRS: Cametá. Fonte: Adaptado de Painel de indicadores epidemiológicos (2022).

A tabela 2 mostra que o 1º e o 11º CRS, seguidos pelo 9º e 3º CRS concentram a maioria dos casos com primeiro CD4 realizado com resultado abaixo de 350 céls/mm³ com indicação de tratamento de ILTB (Infecção Latente de Tuberculose). Na categoria “Sexo” verifica-se que do total de 1.846 indivíduos, 77,3% são homens (1.349), enquanto que 22,7% são mulheres (497). Sendo assim é constatado que no período de 2021 a 2022 em todas as regionais de saúde estudadas houve preponderância de homens entre os casos registrados. No que concerne à categoria “Faixa etária” observa-se a predominância de casos entre pessoas com idade entre 18 a 29 anos, abrangendo 36% (665/1.846) dos casos entre as regionais de Saúde, seguido de 30,1% (556/1.072) entre 30 anos ou mais.

Tabela 2 – Diagnóstico com indicação de tratamento de ILTB: Número de indivíduos com primeiro CD4 realizado com resultado abaixo de 350 céls/mm³, por sexo e faixa etária, 2021 e 2022.

NOTAS: 1º CRS: Ananindeua, Belém e Marituba; 3º CRS: Castanhal; 4º CRS: Bragança; 5º CRS: Paragominas; 6º CRS: Barcarena e Abaetetuba; 8º CRS: Breves; 9º CRS: Itaituba e Santarém; 10º CRS: Altamira; 11º CRS: Marabá e Parauapebas; 13º CRS: Cametá. Fonte: Adaptado de Painel de indicadores epidemiológicos (2022).

A tabela 3 apresenta os dados de adesão insuficiente à TARV, sendo observado que nos anos de 2021 e 2022 os municípios estudados que compõem o 1º CRS foram os que mais registraram falta de adesão, seguidos pelo 11º CRS, 9º CRS e 3º CRS. Na categoria “Sexo” verifica-se que do total de 4.574 indivíduos, 62,7% são homens (2.868) enquanto 37,3% são mulheres (1.706). Foi constatado que no período de 2021 a 2022 em todas as regionais de saúde apreciadas, houve elevada frequência de homens entre os casos registrados. No que tange a categoria “Faixa etária” observa-se a dominância de casos entre pessoas com idade igual ou superior a 30 anos, abrangendo 77,4% (3.541/4.574) dos casos entre as regionais de Saúde, seguido de 21,9% (1.004/4.574) entre 18 a 29 anos.

Tabela 3 – ADESÃO INSUFICIENTE À TARV: Número de indivíduos em 2021 e 2022.

NOTAS: 1º CRS: Ananindeua, Belém e Marituba; 3º CRS: Castanhal; 4º CRS: Bragança; 5º CRS: Paragominas; 6º CRS: Barcarena e Abaetetuba; 8º CRS: Breves; 9º CRS: Itaituba e Santarém; 10º CRS: Altamira; 11º CRS: Marabá e Parauapebas; 13º CRS: Cametá. Fontes: Adaptado de Painel de indicadores epidemiológicos (2022).

A tabela 4 mostra que quanto a perda de seguimento dos pacientes nos anos de 2021 e 2022, o 1º CRS registrou um total de 3.129 indivíduos que abandonaram o tratamento; seguido pelo 11º CRS, 9º CRS e 3 CRS. Na categoria “Sexo” constata-se que do total de 4.560 indivíduos, 63,5% são homens (2.896) enquanto 36,5% são mulheres (1.664). Sendo assim é verificado que no período de 2021 a 2022 em todas as regionais de saúde avaliadas houve prevalência de homens entre os casos registrados. Em relação a categoria “Faixa etária” observa-se a preeminência de casos entre pessoas com idade igual ou superior a 30 anos com 72,2% (3.291/4.560) dos casos entre as regionais de Saúde, seguido de 26,1% (1.189/4.560) entre 18 a 29 anos.

Tabela 4 – PERDA DE SEGUIMENTO: Número de indivíduos ao final de cada ano, 2021 e 2022.

NOTAS: 1º CRS: Ananindeua, Belém e marituba; 3º CRS: Castanhal; 4º CRS: Bragança; 5º CRS: Paragominas; 6º CRS: Barcarena e Abaetetuba; 8º CRS: Breves; 9º CRS: Itaituba e Santarém; 10º CRS: Altamira; 11º CRS: Marabá e Parauapebas; 13º CRS: Cametá. Fontes: Adaptado de Painel de indicadores epidemiológicos (2022).

4. DISCUSSÃO

Nos anos de 2021 e 2022, o número de casos detectados de HIV no Pará foi maior que nos demais estados que compõem a região norte. Belém foi a sexta capital no Brasil no ranking de detecção de gestantes com HIV por 1.000 nascidos vivos notificados no Sinan, segundo o boletim epidemiológico de 2022 (BRASIL, 2022). Quando analisado a proporção de crianças expostas ao HIV entre as gestantes com HIV notificadas nos anos de 2021 e 2022, observa-se que Belém, Marabá e Santarém apresentaram os maiores percentuais de notificação, revelando que estes municípios conseguiram uma melhor adesão ao monitoramento pré-natal e parto adequado da maioria das gestantes vivendo com HIV. Por outro lado, os municípios de Paragominas 22,2% (2/9), Parauapebas 41,9% (18/43) e Ananindeua 54,7% (29/53) apresentaram uma proporção abaixo de 50% de crianças expostas, sendo que Paragominas registrou a pior proporção. O estudo mostra um dado alarmante no município de Itaituba, que apresentou ausência de notificação de crianças expostas, esse dado expressa uma deficiência na vigilância dos casos, essa subnotificação encobre um cenário que pode ser ainda mais preocupante, revelando uma ausência de profilaxia da transmissão vertical na gestante.

Como estratégias para a redução da transmissão vertical do HIV, o Ministério da Saúde recomenda sobretudo o uso de medicamentos combinados inerentes a TARV tanto na grávida quanto no recém nascido, atendimento pré-natal e testagem de articorpo anti-HIV (VASCONCELOS, 2020). Para Vasconcelos et al. (2021) o monitoramento do cuidado as crianças expostas ao HIV nos serviços de vigilância em saúde é primordial para que a criança se mantenha assistida e segura. O Ministério da Saúde preconiza que toda criança exposta ao vírus deve ser acompanhada por 18 meses desde o nascimento pelo serviço de referência, como forma de monitorar a sororreversão (BRASIL, 2018). Segundo Ferreira et al. (2020) existe uma grande falha no processo de educação em saúde das gestantes vivendo com o HIV, podendo elencar uma ausente familiaridade com termos técnicos, tais como “Terapia antirretroviral” (TARV), “Transmissão vertical” e a necessidade de exames como a contagem de linfócitos e carga viral. O esclarecimento a gestante quanto ao risco a sua saúde e da criança é imperativo para uma boa adesão durante o acompanhamento pré-natal, e consequentemente um desfecho de não infecção da criança com o vírus HIV.

As taxas de detecção de aids por 100 mil habitantes, quando considerados os dados do Sinan, SIM, Siclom/Siscel, entre os municípios estudados que compõem os centros regionais de saúde do estado do Pará, se mantiveram elevadas no ano de 2022 em relação ao ano de 2021, principalmente nos municípios de Belém, Ananindeua, Santarém, Marabá, Parauapebas, Castanhal, Barcarena, Itaituba, Breves e Paragominas em relação aos demais cidades analisadas. Destes municípios, Marabá apresentou o aumento mais expressivo nas taxas de detecção, com 162,6% indicando que se constitui um importante problema de saúde pública e que ações de vigilância epidemiológica devem ser reforçadas para o monitoramento e busca ativa dos casos. Segundo o Boletim Epidemiológico de HIV/Aids de 2022, a taxa de detecção de aids segundo Unidade Federativa (UF), o estado do Pará possui taxa acima da média nacional, além disso está entre os cinco estados que apresentaram as maiores taxas de detecção no ano 2021 (BRASIL, 2022). Ainda de acordo com o Boletim Epidemiológico de HIV/Aids de 2022, dos 10 municípios citados que apresentaram aumento nas taxas de detecção de aids, 8 estão presentes no Ranking dos 100 municípios com mais de 100.000 habitantes no período de 2017 a 2021, a capital Belém encontra-se em primeiro lugar com taxa de detecção de aids de 48,6 (BRASIL, 2022).

Em relação a detecção de TB de todas as formas, Marituba desponta com a maior taxa de detecção no ano de 2021 com (94,3), seguida por Belém (67), Ananindeua (63,1) e Bragança (56,6). De acordo com Silva et al. (2020), o HIV/Aids possui um impacto expressivo em relação ao perfil epidemiológico e controle da endemia tuberculosa, posto que é a principal causa de morte entre as pessoas que convivem com a doença. Sabendo disso, o Ministério da Saúde apresenta algumas intervenções para controle da coinfecção TB-HIV, dentre elas destaca-se a testagem oportuna para HIV para todos os portadores de TB, por meio do teste rápido (BRASIL, 2013). No entanto, o município de Belém apesar de detectar mais TB apresenta o menor percentual de testagem neste grupo para o HIV, seguido por Ananindeua, Marituba e Cametá. De acordo com o Boletim epidemiológico de HIV/Aids 2022, quando comparamos a taxa bruta de mortalidade por aids em Belém no ano de 2021 com a média nacional (5,3) constata-se que a capital é cerca de 3 vezes maior, compreendendo a taxa de 16,4. Essa taxa coloca Belém como a segunda capital com maior coeficiente de mortalidade (por 100.000 hab.) por aids no Pais (BRASIL, 2022). Levando em consideração o ultimo registro sobre o coeficiente de mortalidade nacional por TB (2,38), a capital Belém registrou conforme mostra o Boletim estadual de tuberculose de 2023 um coeficiente de mortalidade de 7,2, acima do coeficiente nacional, na mesma proporção averiguada quando se analisou o coeficiente de mortalidade por aids (PARÁ, 2023). Mediante a essa analise, e sabendo da correlação entre essas infecções, pode-se inferir que a razão pela qual Belém apresentou um coeficiente de mortalidade por aids superior a nacional deve-se ao fato de que foi o município que menos testou para HIV entre os novos casos de TB, dificultando o diagnostico precoce e consequentemente agravamento do quadro clinico, podendo então levar o paciente a óbito, fato esse que pode ser comprovado pela superioridade do coeficiente por TB na capital quando comparado com o Brasil, podendo ser causalidade de maior mortalidade entre PVHA.

Oliveira (2017) menciona em sua pesquisa que apesar de várias unidades implementarem a testagem rápida para HIV atendendo diversos públicos, dentre eles os casos diagnosticados de TB, ainda há uma necessidade da ampliação da oferta dessa metodologia.

O Boletim epidemiológico de coinfecção TB-HIV 2022 afirma que no Brasil, entre os anos de 2001 a 2020, cerca de 133.830 novos casos de coinfecção TB-HIV no Sinan-TB foram identificados (BRASIL, 2022). Conforme relata Ferreira et al. (2021), o HIV além de contribuir para um crescimento gradativo do número de casos de TB, contribui também para o aumento da mortalidade, sendo um dos principais responsáveis. Uma das principais dificuldades encontradas para o manejo adequado da TB em PVHA é o diagnostico precoce (RIVERA, 2021). Bastos et al. (2018) reitera que o fator de maior impacto na mortalidade é a coinfecção TB-HIV, por essa razão, o manejo de ambas as infecções de forma articulada e integral é crucial para minimizar sua ocorrência, vale ressaltar que a responsabilidade do manejo é compartilhada entre os programas de controle, devendo-se adotar estratégias para o controle da coinfecção (BASTOS, 2018).

No que concerne a taxa de detecção da Tuberculose, no Brasil e no mundo os serviços de TB sofreram impactos significativos durante a pandemia de covid-19, o que comprometeu a continuidade das ações voltadas a pesquisa de novos casos na comunidade, bem como o rastreamento de contatos, sendo assim, contribui para uma descaracterização dos dados encobrindo o verdadeiro panorama da doença (PARÁ, 2022).

A cerca dos dados de monitoramento clínico dos casos de HIV/Aids de 2021 a 2022, quando analisado: 1) o diagnostico tardio de HIV e doença avançada (primeiro CD4 realizado com resultado abaixo de 200 céls/mm³); 2) Diagnóstico com indicação de tratamento de ILTB (primeiro CD4 realizado com resultado abaixo de 350 céls/mm³); 3) adesão insuficiente a TARV e 4) Perda de seguimento, observou-se que os municípios alvo do presente estudo que compõem 1º e o 11º CRS, seguidos pelo 9º e 3º CRS concentram a maioria dos casos. Conforme evidenciado no Protocolo de vigilância sobre a infecção latente pelo Mycobacterium tuberculosis no Brasil, a procura e a terapia da ILTB são recomendadas a todas as PVHIV, uma vez que possuem uma resposta imune menos eficiente, além disso, o tratamento deve ser urgente em contatos de TB ativa ou com contagem de CD4 < 350 cel/mm3 (BRASIL, 2022). Para Menezes et al. (2018) a adesão a terapia antirretroviral é uma das maiores dificuldades para a PVHA, uma vez que é o fator determinante para evitar problemas futuros, além de notavelmente aprimorar a qualidade de vida dos acometidos. Em seu trabalho, Santos et al. (2020) relata que muitos obstáculos são encontrados no cotidiano dessas pessoas, incluindo fatores econômicos, esquecimento, estigma, falta de apoio familiar e dificuldade de transporte até o Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA).

Para melhorar seus indicadores de saúde, os municípios analisados que compõem 1º CRS, 11º CRS, seguidos pelo 9º CRS e 3º CRS devem fortalecer de forma urgente a integração entre vigilância epidemiológica, Atenção Primária a Saúde e CTA/SAE (Serviço de Assistência Especializada em HIV/Aids e Centro de Testagem e Aconselhamento em ISTs), com o objetivo de melhorar o rastreamento dos casos, início de tratamento oportuno, monitoramento e busca ativa dos casos com insuficiência de adesão ou perda de seguimento. Nas ações de vigilância dos casos de HIV/Aids é importante o uso adequado do banco de dados:a) Sistema de Monitoramento Clinico das Pessoas Vivendo com HIV/Aids (SIMC); b) Siscel (Sistema de Controle de Exames Laboratoriais); c) Siclom (Sistema de Controle Logístico de Medicamentos), sendo ferramentas que a vigilância epidemiológica municipal e o CTA-SAE podem usar para melhorar a adesão ao tratamento das pessoas vivendo com HIV/Aids (Brasil 2018).

É importante destacar que independente do CRS houve um predomínio dos casos de aids entre homens e na faixa etária de 18 a 29 anos e também de 30 anos ou mais.Conforme relata Malta et al. (2022) a diferença no percentual de casos entre os sexos presumivelmente se dá por questões concernentes a fatores biológicos, estilo de vida e ao fato de historicamente os homens procurarem o sistema de saúde de forma tardia. Segundo Martinho et al.(2021) grande parte dos pacientes com aids não buscam os serviços de saúde temendo a exposição pública do seu diagnostico à pessoas conhecidas. Assim, o medo de sofrerem discriminação causa um afastamento e consequente falta de acompanhamento, o que reflete na ausência de um tratamento adequado. Os achados do presente estudo quanto a maior frequência do sexo masculino são reforçados por Mori et al. (2022), o qual reforça a importância de condutas próprias e voltadas ao público masculino, em virtude de ser a maior parte dos casos tanto em relação aos indivíduos acometidos pela TB, quanto as PVHIV, e desse modo, da coinfecção TB-HIV.

No intuito de alcançar homens e adultos jovens, é imprescindível que os municípios usem estratégia de realizar parceria com a Secretaria de Educação e Coordenação municipal da saúde do homem e da mulher, promovendo o Programa Saúde na Escola, reforçando assim a abordagem de esclarecimento sobre o tema de IST-Aids e doenças oportunistas, pois a maior frequências dos casos como verificado foi entre homens e adultos jovens.

5. CONCLUSÃO

Detendo como respaldo o eminente estudo, em concordância com todas as variáveis elegidas, pôde-se observar que entre os estados que compõe a região norte, o Pará destaca-se com maior número de casos de HIV detectados. A proporção de crianças expostas ao HIV entre as gestantes com HIV indica que há necessidade de melhorar o monitoramento e acompanhamento das gestantes, principalmente em Paragominas, Parauapebas e Ananindeua. A taxa de detecção de aids entre os municípios estudados apresenta uma tendência de crescimento, sendo que o município de Marabá teve aumento mais expressivo, advertindo as autoridades que sejam tomadas medidas urgentes para reversão do atual cenário no município. O município de Marituba foi o que apresentou a maior taxa de detecção de TB, Belém apesar de ter sido o segundo município que mais detectou TB, notoriamente apresentou deficiência na testagem de HIV neste grupo, visto que foi o que apresentou menor percentual. O estudo apresentou algumas limitações como: 1) a disponibilidade dos dados de TB apenas até 2021 no painel de indicadores epidemiológicos do ministério da saúde, impedindo a análise para o período estudado; 2) a impossibilidade de usar testes estatístico para comparar os municípios ou os CRS, em virtude das variáveis terem valores abaixo de 5, que diminui a acurácia do teste; 3) Os dados do Sinan mostrados no painel de indicadores estarem disponíveis apenas até junho de 2022, não permitindo a comparação entre os anos de 2021 e 2022. Este trabalho abre uma discussão sobre as atividades desenvolvidas pelas vigilâncias epidemiológicas e CTA-SAE dos municípios estudados, pois os dados mostram uma piora na adesão ao tratamento e até abandono, impactando no aumento dos casos de aids e coinfecção com a TB, principalmente entre homens com idade entre 30 anos ou mais. Assim, outros estudos podem aprofundar a investigação sobre os casos de HIV/Aids notificados no Sinan, declarados no SIM, e registrados no Siclom e Siscel e ajudar a limpeza de banco de dados e realmente traçar um perfil para realizar um plano de ação para controle dos casos e diminuição do abandono do tratamento.

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1 Discente do Curso Superior de Farmácia da Faculdade Cosmopolita Campus Belém/PA e-mail: Davidjosuemoreira14@gmail.com

2 Discente do Curso Superior de Farmácia da Faculdade Cosmopolita Campus Belém/PA e-mail: daniel_alves2000@hotmail.com

3 Discente do Curso Superior de Farmácia da Faculdade Cosmopolita Campus Belém/PA e-mail: Julio.iurd2016@gmail.com

4 Docente do Curso Superior de Farmácia da Faculdade Cosmopolita Campus Belém/PA. Doutora em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários (UFPA). e-mail: charliana.aragao@faculdadecosmopolita.edu.br