ANÁLISE DO PERFIL EPIDEMIOLÓGICO E PSICOSSOCIAL DO CUIDADOR DE DOENTES PORTADORES DE DISFUNÇÕES E DOENÇAS NEURODEGENERATIVAS E A SOBRECARGA DO CUIDADO

ANALYSIS OF THE EPIDEMIOLOGICAL AND PSYCHOSOCIAL PROFILE OF THE CAREGIVER OF PATIENTS WITH NEURODEGENERATIVE DYSFUNCTIONS AND DISEASES AND THE OVERLOAD OF CARE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8265631


¹Paola Ribas Gonçalves dos Santos
²Flávia Eduarda Cachoeira
³Alesandra Perazzoli de Souza
4Talitta Padilha Machado
5Maria Heloísa Testoni


Resumo

Objetivo: Caracterizar o perfil epidemiológico dos cuidadores de doentes portadores de disfunções e doenças neurodegenerativas correlacionando com a sobrecarga do cuidado, no município de Videira, Santa Catarina. Método: Estudo transversal, descritivo e exploratório com abordagem quanti-qualitativa e amostragem não probabilística. Foi aplicado um questionário estruturado utilizando o Google Forms®, adaptado da escala de Zarit Burden Interview (ZBI). Resultados: Participaram do estudo 22 cuidadores, predominantemente mulheres casadas, na faixa etária entre 31 e 40 anos (45,5%), exercendo a atividade formal entre 1 e 5 anos (50%) e cuidadoras de portadores de doença de Alzheimer (68,2%). A classificação da escala ZBI mostrou escore de grau leve, representando baixa sobrecarga de cuidado. Discussão: A maioria dos participantes indicaram não serem impactados biopsicossocialmente ao exercer essa atividade, podendo estar relacionado com o tempo de exercício do papel de cuidador e por serem a maioria formais e remunerados. Conclusão: O perfil epidemiológico do cuidador está diretamente correlacionado com o perfil apresentado pelo doente, sendo que o cuidador formal, apresenta menores vulnerabilidades quando comparado aos informais.

Palavras-chave: Doenças neurodegenerativas. Cuidador. Perfil epidemiológico. Idoso. Impacto psicossocial.

Abstract

Objective: To characterize the epidemiological profile of caregivers of patients with neurodegenerative disorders and diseases correlating it with the burden of care in the city of Videira, Santa Catarina. Method: Cross-sectional, descriptive and exploratory study with a quanti-qualitative approach and non-probability sampling. A structured questionnaire was applied using Google Forms®, adapted from the Zarit Burden Interview (ZBI) scale. Results: 22 caregivers participated in the study, predominantly married women, aged between 31 and 40 years (45.5%), exercising the formal activity between 1 and 5 years (50%) and caregivers of patients with Alzheimer’s disease (68.2%). The classification of the ZBI scale showed a score of light grade, representing low burden of care. Discussion: Most participants indicated that they are not biopsychosocially impacted by exercising this activity, which may be related to the time of exercise of the caregiver role and because most of them are formal and remunerated. Conclusion: The caregiver’s epidemiological profile is directly correlated to the profile presented by the patient, and the formal caregiver presents lower vulnerabilities when compared to the informal ones.

Keywords: Neurodegenerative Diseases. Caregiver. Epidemiological Profile. Aged. Psychosocial Impact.

1. INTRODUÇÃO

O processo de envelhecimento é um fenômeno progressivo caracterizado por alterações, bem como declínio das funções anatomofisiológicas e mentais do ser humano. Nesse sentido, o envelhecimento pode ocorrer tanto de uma forma fisiológica (senescência), quanto patológica (senilidade), e em relação a isso é comum com o aumento da idade, o aparecimento das doenças neurodegenerativas (MANTOVANI, 2007).

Existem algumas alterações comuns que parecem preceder a degeneração neuronal, como as mudanças sinápticas. Essas patologias são generalizadas pelo acúmulo de proteínas específicas (BERECZKI et al., 2018). Contudo, há outros fatores que estão interligados e que corroboram tanto para a acelerar o processo de envelhecimento, quanto para a etiopatogenia da neurodegeneração (DUGGER & DICKSON, 2017).

Dentre os mecanismos que contribuem para o início e progresso das doenças neurodegenerativas, destaca-se o estresse oxidativo. Esse é caracterizado pelo desequilíbrio entre a produção de espécies reativas de oxigênio (ERO) e o sistema de defesa antioxidante, como exemplo a enzima catalase. Com esse desequilíbrio, há uma produção excessiva dessas substâncias reativas e, consequentemente, um acúmulo de ERO, o que contribui para a geração de danos celulares, neuroinflamação, lesões no DNA, acelerando assim o processo do dano cerebral (OLIVEIRA JUNIOR, PIMENTA & OLIVEIRA, 2020).

As neurodegenerações são uma causa recorrente de morbidade e comprometimento cognitivo em idosos. Dessa forma, as patologias neurodegenerativas, são caracterizadas pela perda progressiva de populações de neurônios, conformações anormais de proteínas, assim como, pela perda de neurotransmissores. Ademais, essas podem ser classificadas de acordo com as suas características clínicas primárias, distribuição anatômica da neurodegeneração, ou anormalidade molecular principal (DUGGER & DICKSON, 2017).

Em relação ao diagnóstico, nota-se que os marcadores histopatológicos mais comuns são taupatias, α-sinucleinopatias, amiloidoses. Essas proteínas, nas doenças neurodegenerativas, possuem sua distribuição celular alterada, ou suas conformações modificadas e por essa razão, acabam se acumulando, levando à patologia (DUGGER & DICKSON, 2017).

Vale ressaltar, que dentre as doenças neurodegenerativas, a doença de Alzheimer se destaca, sendo uma das principais patologias que acometem a população idosa, visto que cerca de 40% da população acometida encontra-se na faixa etária de 80 anos. Assim, sabe-se que a sua fisiopatologia é caracterizada por algumas alterações histopatológicas como: o depósito de proteínas beta-amiloide e as placas senis e emaranhados neurofibrilares. A patologia caracteriza-se pelas perdas neuronais e degeneração sináptica, principalmente na região do córtex cerebral, fato esse que corrobora para lesões neuronais e diminuição do tamanho cerebral. Em relação a manifestação clínica, os indivíduos com Alzheimer, apresentam declínio geral das funções cognitivas, portanto, há perda de memória episódica, bem como declínio das habilidades visuo-espaciais e alterações comportamentais que podem variar de acordo com o estágio da doença (FERREIRA et al., 2017).

Dessa forma, as doenças neurodegenerativas trazem consigo não apenas as manifestações clínicas e alterações cerebrais neuropatológicas, mas implicam em diversas modificações na saúde e qualidade de vida do idoso. Tal como as alterações psicológicas, visto que o indivíduo precisa enfrentar questões sobre a finitude de sua vida. Além do impacto do declínio físico, que levam o idoso a perda de autonomia e esses passam a depender de alguém ou algum objeto para realizar atividades básicas do seu cotidiano, circunstância essa que acarreta, muitas vezes, não necessita de um cuidador para esse doente, seja esse informal (fornece assistência não remunerada), ou formal, remunerada e contratada (RODRIGUES, WATANABE & DERNT, 2006).

Percebe-se ainda que a figura do cuidador, seja esse inerente a família ou não, também é fragilizada em virtude das responsabilidades que esses assumem ao cuidar das pessoas com doenças neurodegenerativas. Visto que, essa função é associada com à realização de outras tarefas pessoais e com uma intensa convivência com o doente, o que acarreta no desgaste físico e emocional do cuidador, bem como no seu adoecimento e potencialização no desenvolvimento de comorbidades nesses (CESÁRIO et al., 2017).

Por este motivo, é de grande importância, no processo saúde-doença, a atenção à saúde do doente e de seu cuidador, visto que ambos se encontram dentro de um novo contexto, repleto de situações inéditas que carregam consigo o medo, angústia e preocupações. Dessa maneira, uma vez que essas doenças se apresentam em ascensão entre a população, faz-se necessário compreender melhor esse novo contexto em sua totalidade e investigar o impacto que exerce na saúde do cuidador. Vale ainda ressaltar que o cuidado com a qualidade de vida do cuidador, promove benefícios tanto para esse público, quanto na qualidade do manejo e da atenção ao doente.

Para isso, o presente estudo tem como objetivo caracterizar o perfil epidemiológico e psicossocial do cuidador de doentes portadores de disfunções e doenças neurodegenerativas correlacionado com a sobrecarga do cuidado, residentes no município de Videira, Santa Catarina. Assim como, busca investigar as alterações percebidas nos cuidadores após exercerem essa função, identificar a patologia de maior incidência e analisar os impactos biopsicossocias na saúde e qualidade de vida do cuidador.

2. MÉTODO

Trata-se de um estudo transversal, descritivo e exploratório com abordagem quanti-qualitativa com amostragem não probabilística, que tem como caracterizar o perfil epidemiológico e psicossocial do cuidador de doentes portadores de disfunções e doenças neurodegenerativas correlacionado com a sobrecarga do cuidado, residentes no município de Videira, Santa Catarina.

Optou-se pela pesquisa descritiva para estabelecer uma relação entre as variáveis e características dos fenômenos em estudo, bem como exploratória, em que proporciona uma maior familiaridade e aprimoramento do tema em questão (GIL, 2002).

Tendo isso em vista, a coleta de dados ocorreu entre setembro e outubro de 2021 e se deu por meio de um questionário estruturado, utilizando a ferramenta Google Forms®, destinado aos cuidadores que consta de dados sociodemográficos tais como, local de residência, idade, escolaridade, perfil das patologias dos doentes e dados psicossociais como o tipo de cuidador, tipo de vínculo, impacto biopsicossocial desenvolvida pela atividade exercida. Ademais, o questionário estruturado teve como base para a realização das perguntas a escala de Zarit Burden Interview (ZBI). Escala essa que reflete, por meio do questionário, indicadores para avaliar a sobrecarga dos cuidadores de idosos. A ZBI varia de 0-88 pontos com 22 itens ao total, expressando uma maior sobrecarga do cuidador quando esse obtiver uma maior pontuação. Dessa forma é considerada sobrecarga Leve até 14 pontos, Moderada de 15 a 21 pontos e Grave acima de 22 pontos (BIANCHI et al., 2016).

Para o recrutamento dos participantes, o formulário eletrônico foi encaminhado intencionalmente via e-mail e WhatsApp® para informantes chave e a partir da primeira participação, do informante chave, foram contatados e convidados a participar da pesquisa por e-mail e contato por WhatsApp® outros indicados para participar da pesquisa sucessivamente. Esta técnica é reconhecida como SnowBall.

Como critérios de inclusão foram considerados os cuidadores informais os familiares (filhos, mães, esposas, entre outros) que possuíam algum tipo de vínculo com o idoso, caracterizando-se por ser voluntários que se dispõem, sem formação profissional específica, a exercer esta função. E os cuidadores formais, considerados os cuidadores que provêm os cuidados de saúde aos idosos, em função de sua profissão, e usam suas habilidades, a competência e a introspecção originadas em treinamentos específicos para cuidar do outro. Como critérios de exclusão, foram considerados os cuidadores formais e informais que não aceitarem o Termo de Consentimento para participar do estudo.

A análise dos dados foi realizada utilizando a estatística descritiva e exploratória, a partir do agrupamento e tabulação dos dados em tabelas e gráficos utilizando o editor de tabelas Microsoft Excel® versão 2016.

A coleta de dados ocorreu após a aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa envolvendo Seres Humanos (CEPSH), sob CAAE no 58153522.2.0000.8146, conforme Resolução 466/2012 do Conselho Nacional Saúde (CNS) as orientações do Conselho Nacional de Saúde e da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa para procedimentos em pesquisas com etapas em ambiente virtual de acordo com o ofício circular nº 2/2021/CONEP/SECNS/MS que regulamentam as diretrizes e as normas da pesquisa envolvendo seres humanos em seus vários aspectos (BRASIL, 2012; BRASIL, 2021).

Em concordância com a Resolução CNS 466/12, todos os participantes foram esclarecidos quanto aos objetivos e procedimentos do estudo, bem como foi solicitado aceite do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) em duas vias.

3. RESULTADOS

A amostra total foi composta de 22 participantes, todos cuidadores de pessoas com disfunções e doenças neurodegenerativas e residentes no Município de Videira (SC), que se caracterizaram por ser mulheres, na faixa etária entre 31 e 40 anos de idade, casadas, com escolaridade entre 8 e 11 anos de estudo, exercendo a atividade por um período entre 1 e 5 anos, formalmente, ou seja, sem nenhum grau de parentesco com o doente.

As respostas obtidas foram agrupadas e tabuladas em percentuais conforme a resposta dos participantes e posteriormente analisadas. Dessa maneira, a Figura 1, mostra a faixa etária dos participantes deste estudo.

Figura 1 – Perfil da Faixa etária dos cuidadores

A análise da Figura 1, evidenciou que a maioria dos participantes (45,5%) estão na faixa etária entre 31 e 40 anos, seguidos da faixa etária entre 51 anos ou mais, representando 27,3%.

Figura 2 – Formação dos cuidadores

Quanto a formação dos cuidadores, 16 desses (72,2 %) possuem um curso de formação na área seja o próprio curso de cuidador ou na área de enfermagem. Sendo que, 21 participantes (95,5%) responderam que se consideram com conhecimentos e experiências para exercer a função de forma responsável e eficaz, conforme demonstrado na Figura 2.

Figura 3 – Tempo de trabalho como cuidador

Em relação ao tempo em que exercem a atividade de cuidador, evidenciou-se que 50% dos participantes realizam essa atividade por um tempo entre 1 e 5 anos, conforme representado na Figura 3. Destes, 81,8 % afirmaram que se sentem capazes de continuar atuando como cuidadores por mais tempo do que o citado.

Foi questionado também se esses cuidadores recebiam algum tipo de ajuda ou auxílio para executar o cuidado com o doente, mostrando que 68,6% destes cuidadores referiram receber algum tipo de auxílio de outros membros da família do doente para os cuidados. Além disso, para 13 dos 22 participantes (59,1%) já se tratava da terceira vez ou mais em que estavam exercendo a função de cuidadores, demonstrando que já possuem conhecimento e experiência ao exercer esse tipo de cuidado.

Figura 4 – Patologias dos doentes com disfunções e doenças neurodegenerativas

A Figura 4 representa as disfunções ou doenças neurodegenerativas que os doentes cuidados pelos cuidadores apresentam. A maioria dos cuidadores, 68,2% cuidam de portadores de doença de Alzheimer, seguidas de doença de Parkinson, esclerose múltipla, ELA, distrofia muscular e AME.

Ainda, no que se refere a faixa etária destes doentes, a amostra revelou que 77,3% têm idade superior a 71 anos. Destes, 63,3% apresentam independência funcional e cerca de 72,2% não possuíam um grau de parentesco com os seus cuidadores.

Além disso, 52,2% dos cuidadores não residem no mesmo local do doente e 13 participantes (59,1 %) referiram que considera que a função de cuidador não afeta diretamente a sua saúde, bem como 72,2% relataram que essa atividade não afeta significativamente o seu estado mental.

Apesar de vários sentimentos, muitas vezes contraditórios que permeiam a relação entre e cuidador e o paciente cuidado, e que podem influenciar na sua produtividade, motivação e bem-estar no trabalho, neste estudo, cerca de 54,5% dos cuidadores não sentem vontade de sair da função que exercem e não se sentem esgotados emocionalmente. Entretanto, a grande maioria dos participantes, 77,3% afirmaram que em algum momento já tiveram que abdicar tanto de escolhas da vida pessoal, assim como de atividades para melhoria a sua qualidade de vida devido as exigências atribuídas ao exercer a função de cuidador.

Foi possível ainda, a partir da caracterização dos cuidadores, bem como dos doentes com disfunções e doenças neurodegenerativas, aplicar a Escala da Zarit e avaliar a sobrecarga destes cuidadores, que se enquadraram no grau leve, ou seja, uma baixa sobrecarga (BIANCHI et al., 2016). Salienta-se aqui, que a sobrecarga do cuidador é definida como uma perturbação que resulta do lidar com a dependência física e a incapacidade mental do doente do qual necessita da atenção e dos cuidados por ele prestados (FERREIRA et al., 2017).

4. DISCUSSÕES

O estudo buscou caracterizar e analisar o perfil epidemiológico e psicossocial do cuidador de doentes portadores de disfunções e doenças neurodegenerativas correlacionado com a sobrecarga do cuidado, residentes no município de Videira, Santa Catarina e obteve uma amostragem total de 22 participantes.

Nesse cenário, os dados coletados revelaram que a maioria dos cuidadores são mulheres, casadas e com nível de escolaridade entre 8 e 11 anos de estudo, na faixa etária entre 31 e 40 anos. Essa caracterização dos participantes pode ser justificada ao considerar que o cuidado humano além de ser uma característica do próprio ser humano, está historicamente, socialmente e culturalmente atribuído como uma função das mulheres, sendo exercido ainda, majoritariamente, por elas (SILVA et al., 2009; CRUZ et al., 2020).

Ainda, na sociedade brasileira, tradicionalmente caracterizada por sua cultura patriarcal e ao próprio machismo, a mulher desempenha o papel de cuidadora familiar representada na figura da mãe e da dona de casa, podendo estar relacionado ao perfil das cuidadoras informais (CRUZ et al., 2020).

Já o grau de escolaridade é uma informação relevante, pois a partir dela é possível planejar ações educativas e formativas optando por abordagens mais acessíveis que permitem melhores resultados na execução do cuidado (ARAÚJO, OLIVEIRA & PEREIRA, 2012).

Emerge a distinção majoritária em cuidadoras formais que possuem curso de formação na área da saúde seja o próprio curso de cuidador ou outras áreas com a enfermagem e que, por esse motivo, consideram que possuem conhecimento para exercer a função de cuidador. Além disso, a maioria não apresenta grau de parentesco com o doente. Os cursos e capacitações profissionais são fundamentais para o manejo correto e eficaz do doente, o que é comprovado na pesquisa, quando os participantes afirmaram ter auto segurança e preparo para a realização da atividade (DINIZ et al., 2018).

O fato de a maioria dos cuidadores serem formais é uma característica que destoa da grande parte estudos realizados anteriormente. Alguns estudos apontam que cerca de 90% dos cuidadores são caracterizados como informais, principalmente com alto grau de parentesco, os quais normalmente não apresentam conhecimentos técnicos sobre os cuidados e manejos do doente com disfunções e neurodegenerações, assim como não recebem remuneração pela atividade desempenhada (LEITE et al., 2017). Em outro estudo, a maioria dos cuidadores eram informais, sendo em grande parte o próprio cônjuge ou filho, e que apenas 3,2% recebiam remuneração pelo trabalho exercido (ARAUJO et al., 2013).

Nesse estudo foi possível identificar que a maioria dos cuidadores indicaram não serem impactados biopsicossocialmente ao exercer essa atividade laboral. Esse fato pode estar relacionado com o tempo que esses estão exercendo o papel de cuidador com boas condições no ambiente de trabalho. Haja vista que, apresentaram um curto período de trabalho como cuidador, sendo que a maioria se encontra entre 1-5 anos de atividade.

Dessa forma, diversas pesquisar tem retratado que o trabalho com horas ininterruptas, rotina exaustiva, sem descanso, ambiente de trabalho precário e assalariado promovem uma maior situação de esgotamento emocional e físico. Dessa forma, a constante exposição com o doente e o tempo exercendo o ato de cuidar influência de forma negativa à sobrecarga de trabalho do cuidador (COSTA, 2017; NUNES et al., 2018).

É comum observar casos de sobrecarga de trabalho nos cuidadores, uma vez que as tarefas por eles realizadas tendem a ser assumidas por uma única pessoa, chamada de cuidador principal. Por isso, o vínculo entre o doente, família e equipe de saúde é centralizado nesse indivíduo. Logo, assumem e se responsabilizam pelas ações de cuidado que incluem atividades de higiene e conforto, alimentação, acompanhamento domiciliar e nos serviços de saúde, administração de medicamento, apoio na prática de atividades físicas, entre outras, que passam a existir em função do grau de dependência e das necessidades de saúde do doente (LEITE et al., 2017).

Relacionando o grau de parentesco, os achados deste estudo revelaram que pode haver uma correlação entre o fato de a maioria não possuírem um grau de parentesco com os seus doentes, caracterizando-os como formais e o impacto da sobrecarga do cuidado, que segundo a escala de ZARIT esses se enquadram como grau leve (QUELUZ et al., 2019).

Estudo mostram que a existência de uma relação positiva entre a qualidade de vida, condições físicas e psicossociais dos cuidadores ao exercer o cuidado como atividade laboral. Essa relação pode ser explicada pelo fato de os cuidadores formais permanecerem com um convívio social habitual, possuírem remuneração e terem conhecimento adequado para manejar o doente, evitando assim lesões físicas ou outros tipos de danos relacionados ao cuidado, conforme os achados deste estudo revelaram (SILVA, QUEIROZ & PODMELLE, 2021).

A maioria dos estudos encontrados na literatura trazem informações contrárias as desse estudo, mostrando que grande parte dos cuidadores tem uma relação de parentesco próximo com o doente. Sendo estes, considerados informais, denotando que a família é a principal provedora da assistência e do cuidado (LEITE et al., 2017).

Nessa perspectiva, muitos cuidadores informais manifestam sentimentos de fraqueza, depressão, desgaste físico e emocional, exaustão e despreparo, principalmente quando são do âmbito familiar do doente. Uma vez que esses, em sua grande maioria, necessitam abdicar de suas atividades habituais, trabalho e lazer para proporcionar um cuidado integral a seus familiares (MARTINS, 2019).

Quanto ao perfil do doente houve predomínio de idosos com a doença de Alzheimer, patologia essa que acomete a função cognitiva de forma progressiva. Esse dado corrobora com o que é evidenciado no perfil sociodemográfico brasileiro que demonstra uma grande incidência dessa patologia principalmente em indivíduos maiores de 60 anos. Cabe destacar, que a tendência da pesquisa é ter um aumento dos dados obtidos ao longo dos anos, uma vez que as doenças neurodegenerativas estão correlacionadas a senilidade e a projeção é que até 2050 a quantidade de idosos duplique no mundo (ARAÚJO, OLIVEIRA & PEREIRA, 2012; DADALTO & CAVALCANTE, 2021).

Dessa forma, a maioria dos participantes da pesquisa apresentam um comportamento contrário ao que é demonstrado na literatura. Uma vez que, outros estudos mostram que o bem-estar dos cuidadores é comprometido, em virtude das responsabilidades, do sentimento de impotência perante a situação, tristeza, medo da morte do doente e sobrecarga dos cuidados (COSTA et al., 2021).

Ademais, pelo fato de grande parte dos doentes não apresentarem um alto grau de dependência conforme evidenciado pelos cuidadores e pela na aplicação da escala de sobrecarga de Zarit, acredita-se que essa circunstância corrobora para que os dados do estudo não terem relatado um impacto maior na vida de ser cuidador de pessoa com disfunções e neurodegeneração (COSTA et al., 2021).

5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse estudo permitiu realizar a caracterização e analisar o perfil epidemiológico e psicossocial do cuidador de doentes portadores de disfunções e doenças neurodegenerativas correlacionado com a sobrecarga do cuidado, residentes no município de Videira, Santa Catarina. Foi possível desvelar que o perfil epidemiológico do cuidador está diretamente correlacionado com o perfil apresentado pelo doente. Uma vez que a maioria dos doentes não apresentam um alto grau de dependência e seus cuidadores apresentaram-se com baixa sobrecarga de cuidado.

Ainda nesse viés, foi possível compreender que o papel de cuidador formal, não apresenta tantas vulnerabilidades, quando comparado aos cuidadores informais, visto que uma maior qualificação promove mais segurança, autonomia no cuidado ao doente, há menos envolvimento afetivo e emocional, e baixas taxas de horário laboral prolongado.

Nessa perspectiva, os dados coletados na pesquisa confrontam as evidências científicas, tanto em aspectos do perfil do cuidador, quanto dos impactos dessa função na sua qualidade de vida. Haja vista que, na sociedade, a maioria dos cuidadores são informais, detém de pouca experiência para cuidar do doente, assim como apresentam sobrecarga alta.

O estudo apresentou algumas limitações com a emergência da pandemia da COVID 19 que restringiu a aplicação da pesquisa, a qual apresentou uma representatividade amostral pequena, permitindo considerar os resultados encontrados apenas para a população em questão.

Dessa forma, ressalta-se a necessidade de que novos estudos devam ser realizados dentro desta temática com esse mesmo desenho metodológico, salientando a recomendação sobre a importância de alargar a amostra de participantes para obter análises mais robustas e consistentes. Uma vez que os achados retratam uma realidade particular, que pode divergir de outros cenários e sujeitos, fato que impede a generalização dos resultados.

Ainda, é necessário o desenvolvimento e aprimoramento de políticas públicas de educação em saúde para esse público em específico, possibilitando a elaboração de estratégias destinadas a intervir sobre a formação e desenvolvimento profissional destes trabalhadores, tanto os formais como os informais

Por fim, a educação dos cuidadores, principalmente para os caracterizados como informais deve ser constantemente incentivada frente às demandas destes e dos doentes no quotidiano do cuidado intradomicíliar.

REFERÊNCIAS

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¹Discente do Curso Superior de Medicina da Universidade Alto Vale do Rio do Peixe Campus Caçador e-mail: paolaribas0302@gmail.com

²Discente do Curso Superior de Medicina da Universidade Alto Vale do Rio do Peixe Campus Caçador e-mail: flaviadud@hotmail.com

³Docente do Curso Superior de Medicina da Universidade Alto Vale do Rio do Peixe Campus Caçador e-mail: alesouzaperazzoli@hotmail.com

4Docente do Curso Superior de Medicina da Universidade Alto Vale do Rio do Peixe Campus Caçador e-mail: talitta@uniarp.edu.br

5Discente do Curso Superior de Medicina da Universidade Alto Vale do Rio do Peixe Campus Caçador e-mail: mariahelotestoni@gmail.com