ANALYSIS OF THE PROFILE OF VETERINARIANS AND CAT GUARDIANS REGARDING CAT FRIENDLY PRACTICE.
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202409301107
Clara Guedes de Mendonça1
Natália Maniero Fontes1
Rayane Ferreira do Nascimento1
Marília Alves Machado2
Natália Lôres Lopes3*
RESUMO
Atualmente há um crescimento do número de gatos domiciliados ao decorrer dos últimos anos. Porém, tem-se observado a baixa busca dos responsáveis por atendimento médico veterinário, devido a situações de estresse presenciadas ao transportar o animal até a clínica, por exemplo. Visto que esses animais possuem particularidades comportamentais, pequenas mudanças podem causar alterações fisiológicas, comprometendo de forma negativa o bem-estar e a saúde em geral desses animais. Com isso, foram criadas técnicas e abordagens para minimizar o estresse nos gatos durante as consultas, chamadas práticas “Cat Friendly”, consistindo em oferecer segurança e confiança entre os médicos veterinários e responsáveis, assim como conforto aos animais. O objetivo deste trabalho, foi criar um questionário online respondido por médicos veterinários e responsáveis de gatos de todo o Brasil, a fim de traçar os dois perfis e correlacionar os resultados obtidos nos dois questionários. Foi percebido que a maioria dos médicos veterinários conhecem essa técnica de manejo, porém não possuem recursos em clínicas para atender os felinos. Já os responsáveis, a maioria conhece as técnicas e preferem atendimento exclusivo para felinos, porém não optam por levar até clínicas especializadas. Conclui-se que as práticas cat friendly são necessárias para uma melhor qualidade de atendimento, segurança do médico veterinário, bem-estar animal e relacionamento entre o médico veterinário e o responsável pelo paciente. Há a necessidade de realização de medidas de orientação para os responsáveis, tanto em relação ao manejo dos gatos quanto à importância da realização de medicina veterinária preventiva.
Palavras-chave: Estresse. Felino. Práticas. Bem estar. Segurança.
ABSTRACT
Nowadays, there has been an increase in the number of domesticated cats over the last few years. However, there has been a low demand by those responsible for veterinary medical care, due to stressful situations witnessed when transporting the animal to the clinic, for example. Since these animals have behavioral characteristics, small changes can cause physiological changes, negatively compromising the well-being and general health of these animals. As a result, techniques and approaches were created to minimize stress on cats during consultations, called “Cat Friendly” practices, consisting of offering security and trust between veterinarians and those responsible, as well as comfort for the animals. The aim of this study was to create an online questionnaire on the subject, which was answered by veterinarians and those responsible for cats from all over Brazil, in order to outline the two profiles and correlate the results obtained in the two questionnaires. It was noticed that most veterinarians know this management technique, but do not have resources in clinics to care for felines. As for those responsible, most are aware of the techniques and prefer exclusive care for felines, but do not choose to take them to specialized clinics, It is concluded that cat friendly practices are necessary for a better quality of care, veterinarian safety, animal well-being and a good relationship between veterinarians and cat owners. There is a need of information for owners regarding manegement of cats and also preventive veterinary medicine.
Keywords: Stress. Feline. Practices. Well-being. Security
1 INTRODUÇÃO
O crescimento de gatos atualmente tem ultrapassado o de cães, porém o atendimento da espécie em veterinários é inferior ao dos caninos. Atribui-se a esse fato, a dificuldade e o estresse gerado ao levar o felino ao atendimento clínico. Os gatos são naturalmente territorialistas e isso justifica o fato deles se sentirem vulneráveis e ameaçados quando são deslocados e retirados do seu ambiente doméstico (Sparkes, 2015). Esse sentimento pode gerar um comportamento de “fuga” e “luta”, podendo envolver mordidas e arranhões e pode-se observar alterações na expressão facial, como mudanças nos olhos e no rosto, sugerindo ansiedade ou medo (Rodan, 2015). Esses fatores estressantes se tornam um grande desafio para os médicos veterinários.
O animal pode apresentar alterações comportamentais em decorrência de estresse que podem interferir nos resultados dos exames físicos, ocasionando alterações em parâmetros clínicos e resultados de exames laboratoriais, resultando em diagnósticos errôneos e consequentemente tratamentos incorretos. Há também o risco de agressões aos médicos veterinários e responsáveis durante o manejo. (Rodan et al., 2011). Dessa forma é de suma importância que tanto os responsáveis como os médicos veterinários conheçam e dominem as práticas de manejo “cat friendly”, visando um melhor desempenho durante os atendimentos bem como o bem-estar animal.
O manejo “Cat Friendly” consiste no desenvolvimento e difusão de técnicas e práticas a serem utilizadas durante uma consulta clínica visando o bem-estar dos pacientes felinos, abordando desde o transporte dos mesmos até o local de atendimento, bem como durante a espera e consulta. Envolve o emprego de boas práticas de abordagem, contenção e, inclusive, a estrutura das salas de espera, consultórios e internação destinadas aos gatos (Rodan et al., 2011). A educação e a conscientização do responsável bem como o da equipe veterinária se fazem necessárias para minimizar o estresse e obter um bom desempenho durante as consultas e tratamentos.
O objetivo do presente estudo é traçar um perfil do atendimento médico veterinário e dos responsáveis de felinos domésticos em relação às práticas “Cat Friendly” correlacionando os resultados obtidos nos dois estudos.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
Foram aplicados dois questionários online, através da plataforma Google Forms® disponibilizados separadamente. Um foi direcionado aos médicos veterinários com questões sobre conhecimentos, concepções e práticas “Cat Friendly” e um segundo questionário foi disponibilizado aos responsáveis dos gatos sobre o entendimento comportamental abordando a frequência de ida ao médico veterinário e sua percepção frente ao manejo e atendimento na clínica veterinária, além das dificuldades que podem afetar o transporte de gatos em consultas. Os questionários foram divulgados através de folders dispostos em clínicas veterinárias da região de Nova Iguaçu, na Universidade Iguaçu e também através de redes sociais para responsáveis de gatos e médicos veterinários de todo o Brasil. Os participantes aceitaram um termo de consentimento autorizando a sua participação na pesquisa. Os dados foram tabulados utilizando o programa Microsoft Excel® e analisados através de estatística descritiva. O projeto foi submetido e aprovado pela comissão nacional de ética (CEP) e pesquisa sob número 5.795.670.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Participaram da pesquisa 170 Médicos Veterinários e 100 Responsáveis por gatos.
Avaliando o questionário dos médicos veterinários, para traçar um perfil dos entrevistados, 45,9% afirmaram não possuir ainda especialização, e quando questionados sobre qual seria a área de atuação profissional, com 12 opções de respostas, 170 médicos veterinários afirmaram que a maior área de atuação dentro dos que responderam era a de clínica de pequenos animais com 54,1%. (Figura 1)
Figura 1. Área de atuação dos médicos veterinários participantes da pesquisa referente ao conhecimento frente ao manejo cat friendly.
Diante dos resultados (tabela 1) obtidos na pesquisa sobre o conhecimento e a aplicação dos médicos veterinários das práticas de manejo cat friendly, 90% afirmaram conhecer as técnicas, 10% não conhecem e 75,1% dos médicos veterinários afirmaram ter feito algum curso ou assistido palestras sobre o assunto. Esses dados que demonstram o interesse e a busca por atualizações na área por parte dos médicos veterinários visto que o estresse gerado nos animais pela falta de aplicabilidade dessas técnicas podem influenciar no diagnóstico bem como nos resultados de tratamentos (Horwitz e Rodan, 2018).
Quanto à prática das técnicas, 91,7% afirmam que utilizam toalhas na hora da contenção, essa técnica, não tem muita restrição para o felino, que costuma se sentir seguro e confortável, sendo uma forma de contenção indicada (Rodan et al., 2011). Apesar do número de médicos veterinários que afirmam conhecer a técnica ser elevado, apenas 19,6% relataram que no local onde trabalham possui consultório ou recepção exclusiva para gatos, indo de encontro com o observado na literatura, onde 17% dos responsáveis por gato em estudo na alemanha reportaram haver área de espera dedicada aos felinos (Karn-Buehler e Kuhne, 2022) enquanto que no presente estudo, 58,9% afirmaram que não possuir. A internação exclusiva para felinos também é de suma importância para garantir o bem estar dos gatos (Rodan et al., 2011), porém apenas 36,9% afirmam que possuem internação exclusiva para gatos no seu local de trabalho contra 63,1% que não possuem internação exclusiva.
O treinamento insuficiente das técnicas de manejo e contenção seguindo as orientações cat friendly, pode desencadear estresse e com isso desenvolver alterações comportamentais no paciente em forma de medo ou agressão (Rodan et al.,2011; Horwitz e Rodan, 2018). Esse comportamento pode se tornar um risco para o profissional que está prestando o atendimento, tendo podendo ocasionar acidentes e adiciona-se a possibilidade de algumas enfermidades serem zoonoses, como por exemplo, a esporotricose que dentre as formas de transmissão estão as mordidas e arranhaduras de animais acometidos (Gremião et al., 2021). Apesar da maior parte dos profissionais afirmarem ter conhecimento das práticas de manejo, 76,9% já passaram por acidentes como mordedura ou arranhadura durante o atendimento.
O uso de feromônios sintéticos demonstra ser uma ferramenta útil para reduzir o estresse de felinos durante a consulta clínica (Pereira et al., 2016), no presente estudo foi observado que 96,4% já ouviram falar de feromônios sintéticos. Adicionalmente, 75,1% afirmam não realizar a contenção segurando pelo cangote, e esses números afirmam as respostas da primeira pergunta de que a maioria conhecem as técnicas, já que essa prática denominada “scruffing”, amplamente utilizada anteriormente pode causar dor e desconforto ao felino, sendo contraindicada. Atualmente existem técnicas mais suaves e menos estressantes e que têm sido utilizadas por veterinários (Rodan et al.,2011). Entretanto, 24,9% afirmaram ainda utilizar essa técnica de contenção, número menor do que o observado em estudo realizado por Karn-Buehler e Kuhne (2022), no qual 47,7% de responsáveis por gatos afirmam que seu pet já foi contido por essa técnica.
No questionário destinado aos responsáveis por felinos (tabela 2), 63% afirmam que já ouviram falar das técnicas catfriendly, contra 37% que nunca ouviram. Em relação à frequência que levam os gatos para atendimento veterinário, 57% afirmaram que levam seus animais apenas quando necessário, seguido por 33% que levam periodicamente e apenas 10% afirmaram nunca. Similarmente ao observado, em outro estudo no qual 44,9% evitam ir ao veterinário o máximo possível (Karn-Buehler e Kuhne, 2022). Esses dados podem refletir a falta de informação em relação a necessidade de cuidados preventivos que os felinos precisam, como vacinação, vermifugação e realização de exames preventivos, entretanto a maior parte dos participantes afirmaram que seus animais possuem medidas como vacinação em dia e que seus gatos são castrados (figura 2), Dessa forma, se mostra necessário práticas para difundir e orientar os responsáveis. É relatado na literatura que por conta de situações de desconforto e dificuldade de transporte dos felinos até uma clínica ou consultório faz com que os responsáveis evitem deslocar os seus gatos em busca de atendimento (Volk et al.,2011). Em um estudo realizado na Alemanha foi percebido estresse em 88,7% dos gatos (Karn-Buehler e Kuhne, 2022), entretanto, segundo o questionário do presente estudo, 63% afirmam que nunca passaram por situações de estresse com seu gato em salas de espera ou no consultório e apenas 16% afirmam que já passaram em ambos os lugares, refletindo uma realidade que diverge do exposto.
Quanto a busca por atendimento exclusivo para a espécie, 81,8% relataram preferir um atendimento exclusivo para felinos, demonstrando a importância da especialização e atualização na profissão. O atendimento exclusivo para felinos auxilia a redução de exposição à situações estressantes como contato com outras espécies, além do ambiente estar preparado para as necessidades desse paciente. Esses dados vão de encontro com os 55% que afirmaram que o gato fica estressado quando tem contato com outros animais na clínica veterinária. Correlacionando a alta frequência de estresse nessas situações com os dados obtidos no questionário para os médicos veterinários onde a grande maioria afirmou que no local onde trabalham, não possui consultórios, recepções ou internação exclusiva para felinos, esse fato poderia ser uma causa para a redução a ida de seus gatos ao veterinário, pois uma clínica catfriendly proporciona uma experiência positiva aos pacientes e com isso mantém uma relação de confiança entre o médico veterinário e o tutor, estimulando a ida do animal mais vezes aos consultórios.
Segundo a literatura, a difusão das práticas cat friendly se iniciam no domicílio do paciente com o envolvimento ativo do seu responsável. Dentro da rotina na casa, é indicado que a caixa de transporte fique disponível no ambiente com livre acesso para o gato, dessa forma torna-se mais fácil o transporte do mesmo em um momento de necessidade (Rodan et al., 2011). No presente estudo, a maioria dos responsáveis (53%) relataram deixar a caixa de transporte guardada, e apenas 39% responderam que deixam a caixa de livre acesso para o gato, demonstrando a necessidade de maior orientação por parte dos clínicos quanto a essa ação. Entretanto, a maioria também respondeu não ter dificuldade em relação ao transporte, enquanto 23% responderam ter eventualmente e apenas 7% afirmaram ter sempre essa dificuldade. Em geral, pessoas que relatam ter dificuldade durante o transporte de seus gatos ou se sentem incomodados com o tipo de contenção em clínicas ou até mesmo para evitar situações de estresse em consultórios, (16% dos responsáveis relataram já terem passado por algum estresse em clínica ou consultório) podem ter preferência para o atendimento a domicílio preferido no presente estudo por 41,4% dos entrevistados), visto que o animal já está acostumado com o ambiente em que vive. Os gatos são territorialistas, tendo em seu ambiente um local de segurança. Dessa forma, deixar esse local pode se tornar uma atividade de elevado estresse. Adicionalmente, em lares com mais de um gato pode se tornar difícil a reintrodução do mesmo após ter saído da sua residência, podendo gerar brigas e até mesmo agressões entre os animais. (Rodan, et al., 2011).
O perfil dos gatos dos responsáveis entrevistados está disposto na figura 2.
CONCLUSÃO
O presente estudo demonstrou a importância do manejo “cat friendly “ durante o atendimento de felinos em clínicas veterinárias. Sendo necessário para melhor qualidade de atendimento, segurança do médico veterinário, bem estar animal e relacionamento entre o médico veterinário e o responsável pelo paciente. A difusão do conhecimento, a necessidade de treinamento e adequações estruturais em clínicas se mostra de grande valia tanto para os médicos veterinários, quanto para a adesão de responsáveis à idas para consultas em clínicas veterinárias. Foi observado que há a necessidade de realização de medidas de orientação para os responsáveis, tanto em relação ao manejo dos gatos quanto importância da realização de medicina veterinária preventiva.
Sendo assim, ainda existe a necessidade de melhorias nas práticas e cuidados por parte de médicos veterinários no atendimento de felinos, aplicando de maneira expansiva as técnicas “Cat Friendly” com o intuito de reduzir o estresse e situações desfavoráveis nas consultas.
CONFLITO DE INTERESSE
Os autores declaram não existir conflito de interesse.
COMITÊ DE ÉTICA
Os participantes aceitaram um termo de consentimento autorizando a sua participação na pesquisa. O projeto foi submetido e aprovado pela comissão nacional de ética (CEP) e pesquisa sob número 5.795.670.
REFERÊNCIAS
Gremião, .I.D.F., Martins S.R.E; Montenegro H.; Carneiro A.J.B.; Xavier, M.O, DE Farias, M.R.; MontI F, Mansho, W.; DE Macedo, A.P.R.H.; PEREIRA, S.A.; Lopes-bezerra, L.M. Guideline for the management of feline sporotrichosis caused by Sporothrix brasiliensis and literature revision. Brazilian Journal of Microbiology, 52(1):107-124,2021
Horwitz, D.F.; Rodan, I. Behavioral awareness in the feline consultation: Understanding physical and emotional health. Journal of Feline Medicine and Surgery, 20 (5): 423-436, 2018.
Karn-buehler, J.; Kuhne, F. Perception of stress in cats by German cat owners and influencing factors regarding veterinary care. Journal of Feline Medicine and Surgery, 24 (8):700–708, 2022.
Pereira, J.S.; Fragoso, S.; Beck, A.; Lavigne, S.; Varejão, A. S.; DA GRAÇA Pereira, G. Improving the feline veterinary consultation: the usefulness of Feliway spray in reducing cats’ stress. Journal of feline medicine and surgery,18 (2): 959-964, 2016.
Rodan, I. Compreensão e Manuseio Amistoso dos Gatos. In: Little, S.E. O Gato Medicina Interna, 1a ed. Rio de Janeiro: Roca, 2015.p. 33.
Rodan, I. Sundahl.; E.; Carney, H.; Gagnon, A.C.; Heath, S.; Landsberg, G.; Seksel, K.; Yin, S. AAFP and ISFM Feline-Friendly Handling Guidelines. Journal of Feline Medicine and Surgery,13: 364-375, 2011.
Seksel, K. Comportamento dos Gatos. In: LITTLE, S. E. O Gato Medicina Interna, 1a ed. Rio de Janeiro: Roca, p. 33, 2015.
Sparkes, A. Developing cat-friendly clinics. In practice, 35:212-2015, 2013.
Volk, J.O.; Felsted K.E.; Thomas, J.G.; Siren, C.W. Executive summary of the Bayer veterinary care usage study.Journal of the American Veterinary Medical Association, 238 (0):1275-82, 2011.
1Discente curso de graduação em Medicina Veterinária Universidade Iguaçu (UNIG), Nova Iguaçu-RJ, Brasil.
2Médica Veterinária Autônoma, Rio de Janeiro, Brasil.
3Docente curso de Medicina Veterinária UNIG, Nova Iguaçu, Brasil
*Autora para correspondência : E-mail: natloresvet@gmail.com