REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ma10202412080828
Jhones Eduardo Pomaroli Moreira1
Professora Mayra Meneguelli Teixeira2
RESUMO
Este estudo tem como objetivo analisar a contaminação bacteriana no leite produzido em três diferentes sistemas de ordenha: manual, mecânica e por tanques comunitários. A pesquisa envolveu a coleta de amostras de leite nas propriedades rurais de Presidente Médici, com foco na contagem de bactérias mesófilas aeróbias e anaeróbias facultativas. A análise dos resultados mostrou que o sistema de ordenha manual apresentou os maiores níveis de contaminação, devido à maior manipulação e ao uso de equipamentos simples. Por outro lado, o sistema de ordenha mecânica apresentou um nível intermediário de contaminação, enquanto os tanques comunitários, que geralmente enfrentam dificuldades quanto à higienização e ao manejo, surpreendentemente apresentaram níveis de contaminação menores que os esperados. Esses resultados indicam que práticas adequadas de higiene e manejo são fundamentais para garantir a qualidade do leite, independentemente do sistema de ordenha adotado. O estudo enfatiza a importância de capacitar os produtores e investir em infraestrutura para melhorar a competitividade do leite brasileiro, tanto no mercado interno quanto no externo.
Palavras-chave: Higiene do leite; Práticas rurais; Contaminação bacteriana.
ABSTRACT
This study aims to analyze bacterial contamination in milk produced by three different milking systems: manual, mechanical, and community tanks. The research involved collecting milk samples from rural properties in Presidente Médici, focusing on the count of mesophilic aerobic and facultative anaerobic bacteria. The analysis of results showed that the manual milking system had the highest contamination levels due to greater manipulation and the use of simple equipment. On the other hand, the mechanical milking system exhibited an intermediate level of contamination, while community tanks, which generally face challenges regarding hygiene and management, surprisingly showed lower contamination levels than expected. These findings indicate that proper hygiene and management practices are essential to ensure milk quality, regardless of the milking system used. The study emphasizes the importance of training producers and investing in infrastructure to enhance the competitiveness of Brazilian milk in both the domestic and international markets.
Keywords: Milk hygiene; Rural practices; Bacterial contamination.
1. INTRODUÇÃO
A produção de leite desempenha um papel fundamental na economia brasileira, sendo uma das principais atividades agropecuárias do país. O Brasil ocupa uma posição de destaque na produção mundial de leite, com uma significativa participação no mercado interno. No entanto, apesar dessa expressiva produção, o leite brasileiro enfrenta desafios para conquistar maior competitividade no mercado externo, especialmente devido a questões relacionadas à qualidade e aos elevados custos de produção.
A qualidade do leite cru, principal insumo para a indústria de laticínios, está diretamente relacionada a diversos fatores, entre os quais se destacam as práticas de manejo, higiene e os métodos de ordenha adotados nas propriedades rurais.
O processo de ordenha, que consiste na extração do leite das vacas, é uma etapa crucial na cadeia produtiva leiteira, impactando diretamente a qualidade do produto final. Existem diferentes métodos de ordenha, entre os quais se destacam a ordenha manual, mecânica e os sistemas de tanques comunitários, cada um com suas peculiaridades e desafios relacionados à eficiência e à higiene. A contaminação bacteriana do leite cru é um problema recorrente e pode ocorrer devido a falhas nos processos de higiene, no manejo das vacas e no armazenamento do leite.
Diante desse cenário, a análise dos níveis de contaminação bacteriana nos diferentes sistemas de ordenha torna-se essencial para a compreensão dos fatores que influenciam a qualidade do leite produzido no Brasil. Este estudo tem como objetivo realizar uma análise comparativa dos níveis de contaminação bacteriana nas amostras de leite cru provenientes dos três sistemas de ordenha citados, a fim de identificar as práticas que impactam diretamente a qualidade microbiológica do leite. Ao abordar essas questões, a pesquisa busca fornecer informações relevantes para o aprimoramento das práticas de manejo e higienização, com o intuito de garantir a segurança alimentar e melhorar a competitividade do leite brasileiro, tanto no mercado interno quanto externo.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Produção de leite no Brasil
O agronegócio brasileiro tem se destacado por um crescimento constante, consolidando-se como um fornecedor essencial para o mercado interno e um dos principais exportadores de commodities agrícolas no cenário global. Contudo, no setor lácteo, apesar de o Brasil ser responsável por aproximadamente 7% da produção mundial de leite, uma parte significativa dessa produção é voltada exclusivamente ao consumo doméstico. Esse fato revela um paradoxo: embora o Brasil tenha uma produção em larga escala, o leite nacional encontra dificuldades para se tornar competitivo no mercado internacional, principalmente devido aos custos elevados de produção e questões relacionadas à qualidade do produto final, que limitam sua inserção no mercado externo (Cotta et al., 2020).
Nas últimas décadas, a produção de leite no Brasil cresceu significativamente devido aos avanços tecnológicos e à modernização das práticas agropecuárias. No entanto, esse progresso ocorreu em meio a desafios econômicos, incluindo intervenções governamentais, controle de preços e abertura para importações, que impactaram a rentabilidade dos produtores. Políticas de desregulamentação também exigiram adaptações no setor para manter sua competitividade e sustentabilidade frente ao mercado externo e interno (Vilela et al., 2017).
A dinâmica da produção de leite no Brasil também reflete a diversidade das regiões produtoras e das abordagens adotadas. Historicamente, a Região Sudeste foi a maior responsável pela produção nacional, chegando a representar mais da metade do total em 1974. No entanto, essa participação caiu progressivamente ao longo dos anos, e em 2011 a região passou a contribuir com cerca de um terço da produção. Por outro lado, regiões como o Sul, o Centro-Oeste e o Norte, experimentaram aumentos expressivos na produção. A Região Sul, em particular, se destacou na década de 2000, chegando a representar 32% da produção nacional de leite em 2011, enquanto a Região Nordeste manteve sua participação constante em torno de 13% (Maia et al., 2013).
Além disso, a produção de leite no Brasil é caracterizada por uma grande heterogeneidade nos sistemas produtivos. Enquanto algumas propriedades se destacam pela utilização de tecnologias avançadas, rebanhos geneticamente melhorados e programas de suplementação alimentar que garantem elevados padrões de qualidade, a agricultura familiar tem dado espaço a sistemas de produção menos estruturados. Esses sistemas frequentemente operam com rebanhos de qualidade genética inferior e práticas menos desenvolvidas, o que reflete na qualidade do leite produzido. Em muitos casos, essa produção é destinada ao mercado informal, o que dificulta o cumprimento das normas de qualidade e gera desafios relacionados à competitividade do produto no mercado formal (Borges et al., 2014).
Ainda que a produção e o consumo de leite tenham crescido de maneira praticamente equivalente nos últimos anos, é fundamental destacar que o leite produzido no Brasil também desempenha um papel essencial como matéria-prima para a fabricação de derivados lácteos. Isso reafirma a importância da produção nacional não apenas para o consumo direto, mas também para a indústria de laticínios, que utiliza esse leite como base para diversos produtos, como queijos, manteiga e iogurtes (Moraes e Filho, 2017).
A produção de leite no Brasil enfrenta desafios e oportunidades devido à diversidade dos sistemas produtivos. A transição para tecnologias avançadas, com foco na eficiência, qualidade e sustentabilidade, é essencial para fortalecer o setor. A compreensão da fisiologia da lactação, aliada a fatores como nutrição, genética e manejo adequado, é fundamental para melhorar a produção e aumentar a competitividade no mercado interno e global. (Soares et al., 2011).
2.2 Fisiologia da lactação
A lactação em bovinos é um processo complexo que ocorre no úbere, composto por quatro glândulas mamárias independentes, ligadas a tetos que drenam o leite. A produção ocorre nos alvéolos mamários, onde células epiteliais sintetizam e armazenam o leite. Esses alvéolos são sustentados por tecidos que fornecem nutrição e imunidade à glândula. O leite é transportado dos alvéolos pelos ductos mamários até a cisterna do teto, onde permanece armazenado até a ordenha (Dias, Beloti e Oliveira, 2020).
A ejeção do leite ocorre por um reflexo neuro-hormonal desencadeado por estímulos sensoriais, como sucção ou ordem, que ativam a liberação da ocitocina, promovendo a contração das células mioepiteliais na glândula mamária. Estresse e dor podem inibir esse reflexo, reduzindo a eficiência da ordem. Portanto, é essencial garantir um ambiente tranquilo para maximizar a produção e minimizar o leite residual (Ecco e Berber, 2014).
A eficiência na extração do leite, seja pela sucção do bezerro ou pelos métodos de ordenha, está intrinsecamente ligada a esses processos fisiológicos da glândula mamária. Portanto, compreender as técnicas de ordenha, tanto manual quanto mecânica, é essencial para otimizar a produção leiteira, preservar a saúde dos animais e garantir a qualidade do leite. Cada método de ordenha possui suas particularidades e impactos na produtividade, na saúde do rebanho e, por consequência, na qualidade do leite, o que torna o manejo adequado de grande importância na cadeia produtiva leiteira (Almeida e Bacha, 2021).
2.3 Tipos de ordenha
Segundo o autor Ribeiro (2021) a ordem das vacas, responsável pela remoção do leite, é a principal fonte de retorno financeiro na atividade leiteira. Para garantir eficiência e qualidade, o processo deve ser realizado regularmente em um ambiente limpo, seco e tranquilo. A higienização adequada dos tetos antes da ordem e a manutenção do local livre de umidade e distanciamento de outros animais são essenciais para preservar a saúde dos rebanhos e a qualidade do. O método de ordem pode variar de acordo com as condições de propriedade, sendo realizado manualmente, mecanicamente ou em tanques comunitários, cada um apresentando diferentes níveis de eficiência e desafios relacionados à qualidade e à contaminação do leite.
A ordenha manual, ainda comum no Brasil, é utilizada em pequenos rebanhos, especialmente em áreas sem eletricidade. Apesar de seu baixo custo, exige esforço físico e apresenta maior risco de contaminação devido à intervenção humana. Realizada com utensílios simples, como baldes e coadores, demanda cuidados para evitar danos à glândula mamária. Embora seja menos eficiente e mais demorada que a ordenha mecânica, a prática requer rigorosa higiene para garantir a qualidade do leite (Domingos, 2023).
Na ordenha mecânica, equipamentos replicam a mamada do bezerro, acelerando o processo e minimizando a manipulação dos tetos, o que contribui para a higiene e qualidade do leite. A escolha do equipamento deve considerar as características do rebanho e da produção, com orientação técnica. Entre os modelos disponíveis, destacam-se o balde ao pé e os sistemas canalizados, sendo o balde ao pé mais comum na Amazônia, devido à predominância de pequenas produções familiares (Dias, Beloti e Oliveira, 2020).
Os tanques comunitários são utilizados por pequenos produtores que compartilham custos e estrutura de resfriamento para atender às exigências de qualidade do leite no Brasil, especialmente na Zona da Mata Mineira. Apesar dos benefícios, o sucesso desse modelo depende de higienização, manejo adequado e controle de qualidade. Problemas como falhas na limpeza, uso de água contaminada e falta de capacitação podem comprometer a qualidade do leite. Um estudo em Lima Duarte-MG revelou contaminação por coliformes na água usada na higienização e nos tanques, ressaltando a necessidade de treinamento e melhores práticas de limpeza (Pereira e Magalhães, 2012).
Essa conexão entre os diferentes sistemas de ordenha evidencia a importância de práticas higiênicas e de manejo adequado em todas as etapas da produção leiteira, enfatizando que a qualidade do leite começa ainda no campo. A capacitação técnica dos produtores é essencial para implementar rotinas que reduzam a contaminação microbiológica, tanto no processo de extração quanto no armazenamento. Além disso, o investimento em infraestrutura adequada, como tanques de refrigeração e equipamentos de ordenha modernos, associado à adoção de protocolos padronizados de higienização, pode contribuir significativamente para a melhoria da competitividade do leite brasileiro no mercado interno e potencialmente no mercado externo (Ribeiro, 2021).
3. METODOLOGIA
Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa quantitativa, descritiva e exploratória, com o objetivo de analisar os níveis de contaminação bacteriana do leite cru proveniente de três sistemas de ordenha: manual, mecânica e tanque comunitário. A pesquisa foi realizada no município de Presidente Médici, Rondônia, em propriedades rurais que utilizam diferentes métodos de ordenha.
A pesquisa quantitativa foi adotada devido à natureza dos dados coletados, focando na medição e comparação dos níveis de contaminação bacteriana nas amostras de leite. A abordagem descritiva permitiu caracterizar os sistemas de ordenha e as práticas de manejo e higiene, enquanto a natureza exploratória possibilitou a investigação das condições operacionais e de higiene em cada sistema. Para isso, foram coletadas amostras de leite de propriedades que adotam os três sistemas de ordenha, e essas amostras foram analisadas quanto à contagem de bactérias mesófilas aeróbias e anaeróbias facultativas.
A coleta das amostras seguiu critérios de aleatoriedade, com amostras representativas de cada tipo de sistema de ordenha. As análises microbiológicas foram realizadas em laboratório, utilizando métodos padrão de contagem bacteriana, o que possibilitou uma comparação precisa dos níveis de contaminação entre os diferentes métodos. A metodologia permitiu observar as condições de higiene, o manejo das vacas e o impacto desses fatores nos resultados da contagem bacteriana do leite. Dessa forma, foi possível traçar um perfil detalhado dos três sistemas de ordenha, comparando suas eficiências em relação à preservação da qualidade microbiológica do leite.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Diante desse contexto, foi realizada uma análise comparativa dos níveis de contaminação bacteriana em três sistemas distintos de ordenha: mecânica, manual e comunitária. As amostras foram coletadas na cidade de Presidente Médici e analisadas quanto à contagem de bactérias mesófilas aeróbias e anaeróbias facultativas. A análise dos resultados de contaminação bacteriana nas amostras de leite coletadas revela informações interessantes sobre os níveis de contaminação nos diferentes métodos de produção (Tabela 1).
Os tanques de expansão de uso coletivo recebem leite de diferentes origens, incluindo de propriedades que não possuem sistemas adequados de refrigeração pós-ordenha. O leite, transportado em latões sem refrigeração, chega ao tanque comunitário em condições que favorecem a proliferação de microrganismos (Martins et al, 2008). De forma geral, é esperado que esse sistema apresente níveis de contaminação mais elevados, uma vez que pequenos produtores rurais, ao compartilharem a infraestrutura de ordenha e armazenamento, enfrentam dificuldades para manter padrões rígidos de higiene e controle no manejo do leite. A falta de rigor nos processos de resfriamento, falhas na limpeza dos tanques e o uso de água contaminada para higienização agravam ainda mais o risco de contaminação. Assim, a tendência de maior contaminação tem sido frequentemente associada ao tanque comunitário, especialmente em regiões onde os procedimentos não são adequadamente monitorados.
No entanto, os resultados obtidos nesta pesquisa mostram uma realidade diferente. O tanque comunitário apresentou um valor de contaminação bacteriana consideravelmente menor (6,8×105 UFC/ml) em comparação com os outros dois sistemas, o que é atípico, dado que, normalmente, seria esperado que fosse mais contaminado. Esse dado sugere que o tanque comunitário onde a amostra foi retirada pode estar operando com práticas de manejo e higienização mais eficientes do que o usual. Isso pode indicar que os produtores locais estão adotando melhores protocolos de limpeza, têm uma maior conscientização sobre a importância da qualidade do leite e estão utilizando adequadamente os sistemas de resfriamento, o que contribui para a redução da contaminação.
Em um estudo feito por Brito et al. (2003) corrobora com os dados apresentados, eis que em seu estudo constatou um registro na média de 1,0 x 10⁵ UFC/mL no tanque comunitário com melhor qualidade microbiológica entre os 22 avaliados. Esses resultados indicam que o uso de tanques comunitários pode garantir leite com qualidade microbiológica satisfatória, atendendo aos limites da legislação vigente, desde que sejam seguidas as normas de boas práticas de produção.
Em contraste, o sistema de ordenha manual, que é realizado com baixo custo e sem o suporte de tecnologia avançada, apresentou o maior nível de contaminação (1,2×109 UFC/ml). Esse resultado é esperado, pois a ordenha manual, devido à interação direta dos operadores com os animais, tende a ser mais suscetível a falhas de higiene. Além disso, a maior manipulação das vacas e o uso de utensílios simples, como baldes e coadores, frequentemente resultam em maiores riscos de contaminação, uma vez que a limpeza e sanitização desses equipamentos pode ser inadequada. A falta de sistemas de resfriamento eficientes no momento da ordenha também pode ter contribuído para a maior proliferação bacteriana nas amostras (Vallin, 2009).
Por fim, a ordenha mecânica, que utiliza tecnologia mais avançada, apresentou um nível de contaminação intermediário (6,9×108 UFC/ml). Este método é normalmente considerado mais eficiente em termos de higiene, já que os equipamentos são projetados para reduzir o contato manual e, em teoria, o risco de contaminação. Contudo, a eficiência da ordenha mecânica depende de uma manutenção constante dos equipamentos e da adoção de práticas rigorosas de limpeza, o que pode não ter sido o caso em todas as amostras analisadas. Como mostra o autor Netto (2009) em sua pesquisa, na qual observaram-se altas contaminações bacterianas nas amostras coletadas de ordenhas mecânicas as quais, segundo o autor, provavelmente são decorrentes de falhas na higienização do equipamento.
Conforme destacado por Guerreiro et al. (2005), o leite é naturalmente um alimento altamente nutritivo, composto por proteínas, carboidratos, gorduras, vitaminas e minerais, sendo sua qualidade um tema amplamente debatido no setor de produção leiteira no Brasil. Após ser secretado no úbere, ele pode ser contaminado por microrganismos provenientes de três principais fontes: do interior da glândula mamária, da superfície externa do úbere e dos tetos, além das superfícies dos equipamentos e utensílios usados na ordenha e no armazenamento no tanque. Assim, fatores como a saúde da glândula mamária, práticas de higiene durante a ordenha, as condições do ambiente onde as vacas são mantidas e a limpeza adequada dos equipamentos de ordenha exercem influência direta sobre os níveis de contaminação microbiana no leite cru.
O leite pode sofrer contaminação ao entrar em contato com as superfícies de equipamentos e utensílios utilizados durante a ordenha, bem como no tanque de refrigeração. Quando os processos de limpeza e sanitização desses materiais são inadequados, resíduos de leite podem permanecer em recipientes, borrachas, conexões e outras partes dos equipamentos, criando um ambiente propício para a proliferação de microrganismos. Esse acúmulo de resíduos contribui para um aumento significativo na contagem bacteriana total do leite, comprometendo sua qualidade e segurança (Guerreiro et al., 2005).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As análises realizadas ao longo deste estudo evidenciam a importância das práticas de manejo e higienização nos diferentes sistemas de ordenha para a qualidade microbiológica do leite. A comparação entre os métodos de ordenha manual, mecânica e os tanques comunitários revelou resultados que, de certa forma, desafiaram algumas expectativas, destacando a possibilidade de alcançar níveis de qualidade superiores, mesmo em sistemas tradicionalmente considerados menos eficientes.
O sistema de ordenha manual, embora amplamente utilizado, especialmente em pequenos rebanhos, apresentou os maiores índices de contaminação bacteriana. Isso pode ser atribuído à maior manipulação direta dos animais e ao uso de equipamentos de ordenha simples, o que aumenta os riscos de contaminação se os processos de higienização não forem rigorosamente seguidos. Por outro lado, o sistema de ordenha mecânica, que se caracteriza pela utilização de tecnologia mais avançada, apresentou um nível de contaminação intermediário. Isso sugere que, embora o método seja mais eficiente, a manutenção adequada dos equipamentos e o controle rigoroso de higiene são fundamentais para garantir sua eficácia.
O caso dos tanques comunitários, em que a expectativa era de uma maior contaminação devido ao compartilhamento de infraestrutura e aos desafios de manutenção, surpreendeu ao apresentar níveis de contaminação menores do que o esperado. Isso demonstra que, quando bem implementados e com práticas adequadas de limpeza, esses sistemas podem ser tão eficientes quanto os métodos mais modernos de ordenha.
Esses resultados reforçam a importância de manter práticas adequadas de higiene e manejo em qualquer sistema de ordenha. O caso do tanque comunitário, com menor contaminação bacteriana do que o esperado, destaca a possibilidade de que, mesmo em sistemas mais simples, é possível alcançar altos níveis de qualidade do leite se houver um controle adequado dos processos de produção e armazenamento. Portanto, esse dado pode indicar que, ao adotar as práticas corretas, o sistema de tanque comunitário pode ser tão eficiente quanto ou até mais eficiente do que os outros métodos de ordenha, no que diz respeito à preservação da qualidade microbiológica do leite.
O estudo também destaca que, independentemente do sistema de ordenha, o controle rigoroso dos processos de higiene e o compromisso com a qualidade podem contribuir significativamente para a competitividade do leite brasileiro, tanto no mercado interno quanto no externo. A capacitação dos produtores, a adoção de protocolos padronizados de higiene e o investimento em infraestrutura de qualidade são fundamentais para garantir a produção de leite de alta qualidade, com baixos índices de contaminação bacteriana.
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1Jhones Eduardo Pomaroli Moreira, Acadêmico do 10º período do curso de Bacharelado em Medicina Veterinária Centro Universitário Maurício de Nassau. E-mail: jhonespomaroli78@gmail.com
2Mayra Meneguelli Teixeira, mestre e orientadora no curso de Bacharelado em Medicina Veterinária Centro Universitário Maurício de Nassau . E-mail: mayrameneguelli@gmail.com. CRMV: 1468