REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11157199
Rafaela Dos Santos Pereira Gomes,
Edinei Santos Duarte,
Carlos Alberto da Silva e Souza,
Maria da Glória Wanderley Cardozo
Em frente a situações de epidemia, o monitoramento das curvas epidêmicas é de grande importância, sendo realizada pelos Centros de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS). O acompanhamento dos gráficos dos casos permite antever o cenário epidemiológico do evento e, com isso, programar políticas públicas e assistenciais próprias ao seu enfrentamento.
No caso da pandemia da COVID 19, esse monitoramento cumpre um papel importante no enfrentamento da doença. A partir das análises são geradas informações relevantes para direcionamento racional e estratégico das políticas públicas voltadas ao controle desta pandemia.
O número de susceptíveis na população e a própria estrutura social são capazes de afetar esta capacidade de difusão da doença e, consequentemente, a velocidade de progressão da curva. A medida preventiva prioritária em algumas epidemias é a redução de susceptíveis através da vacinação. Entretanto, especificamente sobre a Covid-19, não há até o momento imunobiológico suficiente para a redução de susceptíveis, restando apenas as intervenções na estrutura social como medida prioritária para a sua contenção.
No entanto, o impacto econômico causado pela pandemia, as medidas restritivas e paralisação de diversas atividades comerciais gera importantes consequências na qualidade de vida da população. A presente análise visa analisar o perfil epidemiológico da COVID-19 no município de Nova Iguaçu e confrontar com as ações executivas, desempenhadas pela prefeitura municipal, que ao longo da pandemia propuseram aberturas e fechamentos de diversas atividades comerciais.
Para tal análise foi utilizado os casos notificados da COVID-19 à Secretaria Municipal de Saúde de Nova Iguaçu, sendo os registros obtidos do Boletim epidemiológico do município. Os dados analisados referem-se aos casos notificados no período de 15 de março de 2020 a 24 de abril de 2021, totalizando 57 semanas. Nesse estudo, foram incluídos os casos que atenderam aos critérios diagnósticos para a COVID-19, de acordo com as diretrizes do Ministério da Saúde.
Para avaliação do impacto preliminar das medidas restritivas e da implementação das estratégias de controle comunitário foram considerados avaliação da tendência de crescimento, queda ou estabilização nos casos a partir do monitoramento da média móvel, adotada globalmente no monitoramento de casos da COVID-19, 14 dias após os decretos municipais: Para aumento de casos superior a 15%, considerou-se tendência de crescimento dos casos, para redução de casos superior a >15% considerou-se tendência de queda nos casos e para aumentos ou reduções de 15% ou menos, considerou-se tendência de estabilização do número de casos..
Diante disso, realizou-se uma avaliação da tendência de crescimento, queda ou estabilização da média móvel de óbitos, 14 dias após os decretos municipais.
RESULTADOS
Tabela 1: Análise da variação da média móvel do número de casos confirmados da COVID-19 a partir das datas de abertura e fechamento comercial
Data | Média móvel dos casos *inicial *após 14 dias | Variação percentual/casos ——- Tendência | Média móvel de óbitos *inicial *após 14 dias | Variação percentual/casos ——- Tendência |
21 de março de 2020: Fica proibido o funcionamento de atividades (por 15 dias) de lojas comerciais, Shoppings Centers, academias, clubes, bares /lanchonetes, salão de beleza e ônibus de turismo) | 2,0 (sem 12) 14,7(sem 14) | 635 Crescimento | 0 (sem 12) 0,6(sem 14) | 0,0 —— |
14 de abril 2020: Funcionamento comercial de pequenos estabelecimentos comercias | 39,6(sem 16) 51,1(sem 18) | 29,2 Crescimento | 3,4(sem 16) 9,0(sem 18) | 164,7 Crescimento |
27 de abril de 2020: Suspensão do funcionamento de Eventos, cinema, teatro, academias shoppings centers, galerias, (inclusive de praça de alimentação) | 51,1(sem18) 70,1(sem 20) | 37,2 Crescimento | 9,0(sem18) 9,1(sem 20) | 1,1 Estabilização |
10 de maio de 2020: –Impedido o tráfego de trânsito e fechamento dos estabelecimentos comerciais de atividade essencial sediado no “Calçadão de Nova Iguaçu) * | 57,3(sem 19) 60,6(sem 21) | 5,7 Queda | 6,4(sem 19) 6,9(sem 21) | 7,8 Estabilização |
03 de junho de 2020: Entrada e saída do calçadão controlada (lotação =1 pessoa para cada 4 m2). Liberação de algumas atividades econômicas (escritórios de contabilidade, advocacia, papelaria, telefonia, entre outros) | 47,9(sem 23) 46,7(sem 25) | -2,4 Queda | 5,1(sem 23) 2,9(sem 25) | -43,1 Queda |
30 de junho de 2020: Funcionamento dos shoppings centers (12 horas às 20 horas, com limite de 50%) e Suspenção da praça de alimentação de 1 a 5 de julho. | 26,3(sem 27) 17,3(sem 29) | -34,2 Queda | 2,3(sem 27) 1,3(sem 29) | -43,4 Queda |
19 de julho de 2020: Fica autorizado o funcionamento de bares, restaurantes, lanchonetes e congêneres em até 50% da capacidade máxima, observando rigorosamente as regras sanitárias e não farmacológica e funcionamento dos shoppings centers, centros comerciais, galerias e congêneres até as 22 horas | 29,3(sem30) 30,9(sem 32) | 5,4 Estabilização | 2,0(sem30) 3,3(sem 32) | 64,3 Crescimento |
15 de marco de 2021: Fica estabelecido o horário de 6 h as 19 horas para funcionamento do comércio em geral, da indústria e estabelecimentos de serviços de forma a evitar a sobreposição do horário de término do expediente com os demais municípios. | 23,6(sem 7) 31,4(sem 9) | 33,3 Crescimento | 2,1(sem 7) 1,4(sem 9) | -33,3 Queda |
24 de marco de 2021: Ficam suspensas, entre outras atividades, os estabelecimentos comerciais e de serviços em geral (validade no período de 27/03/2021 a 04/04/2021) | 68,4(sem 13) 61,3(sem 15) | -10,4 Queda | 5,7(sem 13) 3,9(sem 15) | -32,5 Queda |
02 de abril de 2021: Fica mantido o horário das 6h às 19 horas para funcionamento do comércio em geral (lojas de rua) (Validade no período de 03/04/2021 a 08/04/2021) | 61,0(sem 14) 52,4(sem 16) | -14,1 Queda | 5,7(sem 14) 5,0(sem 16) | -12,5 Queda |
No período de 15 de março de 2020 a 24 de abril de 2021, foram realizados um total de 31,567 exames, desses 16.702 foram positivos (53,9%) e 13.014 negativos (41,2%). Nesse período, Nova Iguaçu registou um total de 14.018 casos confirmados e 1205 óbitos pela COVID-19. A incidência de casos confirmados da COVID-19 para o período foi de 1921 casos/100 mil habitantes, a letalidade foi de 8,0 % e a taxa de mortalidade de 153,93 óbitos/100 mil habitantes.
Ao fazer a análise dos decretos municipais que se referem à abertura e fechamento comercial, incluindo os shoppings, observou-se que na semana 12 de 2020 no auge da pandemia havia uma tendência de crescimento da média móvel dos casos confirmados (+635) e após 14 dias dos três primeiros decretos municipais de restrição de abertura comercial (de 21 /03, 14/04 e 27/04 de 2020) houve uma queda da aceleração do crescimento, caindo para : + 29,2 .No início de maio, partir do decreto de impedimento do trânsito e fechamento dos estabelecimentos do ” calçadão” notou-se tendência de queda duas semanas após( 5,7), reduzida ainda mais após ,ao se manter o controle da entrada de saída de pessoas no local (-2,4).Essa queda ficou mais evidente duas semanas depois da limitação de horário de funcionamento dos shoppings e suspenção da praça da alimentação, em final de junho(-34,2).No início de julho com o retorno das atividades dos shoppings e aberturas dos bares ,restaurante e lanchonetes ,manteve-se uma estabilização nas médias dos casos. Uma tendência de crescimento (33,3) foi observada no final de março, duas semanas após o início de funcionamento do comercio em geral. Em seguida a suspensão das atividades dos estabelecimentos comerciais por uma semana, resultou novamente em uma tendencia de queda, permanecendo em redução, quando se restringiu o seu funcionamento das 6h às 19.
Com relação ao impacto sobre os óbitos, houve uma variação na média móvel de óbitos, porém em menor escala. Verificou-se uma tendência de estabilização nas médias a partir de maio de 2020, com as restrições impostas aos comércios no “calçadão”, mantendo posteriormente, em queda por algumas semanas. Em meados do ano de 2020, em julho notou-se uma tendência de crescimento (64,3), duas semanas após funcionamento de bares, restaurantes, lanchonetes e congêneres (Tabela 1)
DISCUSSÃO
No estudo foram analisados os dados epidemiológicos da COVID-19 no Município de Nova Iguaçu e discutido o impacto das medidas adotadas pela prefeitura municipal. Durante o período analisado, foi possível notar aumentos e quedas expressivos da média móvel de casos. As aberturas do comércio e shoppings precederam períodos de aumento das médias móveis de casos confirmados para a COVID-19, com tendência de crescimento (acima de 15%). Enquanto a restrição das atividades comerciais, principalmente no “calçadão”, precedeu um período de diminuição da média móvel dos casos confirmados, com padrão queda devido à tendência inferior a 15%.
O calçadão de Nova Iguaçu é um importante centro não só para o município, mas como também um eixo central da Região, e a estimativa era que em períodos normais circulavam mais de 150 mil pessoas por dia, devido a sua relevância definiu-se que essa região necessitaria de medidas exclusivas na luta contra a Covid-19 (http://www.novaiguacu.rj.gov.br/). Diante disso, cabe destacar a expressiva influência do grau de abertura comercial nessa região, no incremento da frequência dos casos.
Com relação à média móvel dos óbitos confirmados, estes se comportaram de forma semelhante, acompanhando os períodos de aumento ou queda percentuais das médias dos casos, na maioria dos períodos.
Contraditoriamente, no mês de abril 2021 até o início de maio, ambos os dados (média móvel de casos e de óbitos) mostraram tendencia de queda, mesmo durante o funcionamento das atividades comerciais e shoppings, mantendo-se rigorosamente as regras sanitárias e não farmacológica. No entanto, segundo os estudos, as medidas de distanciamento social ainda se mostram efetivas e de extrema importância no controle da pandemia, na redução de casos e óbitos e na prevenção do colapso dos sistemas de saúde locais.
Importante citar que o indicador de média móvel (de casos ou óbitos) é composto por dados passados, que preveem a direção dos números analisados e ajudam a identificar tendências. A média móvel pode mostrar tanto uma tendência como também sinalizar uma possível reversão dessa tendência.
No entanto é essencial combinar outras informações e indicadores para criar hipóteses e comparar ao longo do tempo, se as ações que foram tomadas com base no cenário passado, podem ou não mudar a situação atual.
REFERÊNCIA
1-Rafael RMS, Neto M, Carvalho MMB, David HMSL, Acioli S, Faria MGA. Epidemiologia, políticas públicas e pandemia de Covid-19: o que esperar no Brasil? Rev enferm UERJ. 2020;28(1):e 49570.
3- Estratégia atualizada COVID 19-Attribution-NonCommercial Share Alike 3.0 IGO (CC BY-NC-SA 3.0 IGO; https://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/3.0/igo)
4- Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Vigilância Epidemiológica, Departamento de Vigilância Epidemiológica. Guia de Vigilância em Saúde. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2009
5- Boletim epidemiológico do Município de Nova Iguaçu – em http://www.novaiguacu.rj.gov.br/semus/ boletim- epidemiologico/