ANÁLISE COMPARATIVA DO TÔNUS FLEXOR EM RECÉM-NASCIDOS PRÉ-TERMOS SUBMETIDOS ÀS POSIÇÕES CANGURU: VENTRAL E LATERAL: REVISÃO SISTEMÁTICA

Autor:

PAULO HENRIQUE PESSOA JERONIMO

Graduado em Fisioterapia pela Instituição Centro Universitário Estácio do Ceará. Pós-Graduações em Neonatologia e Pediatria Intensiva pela Faculdade Inspirar e Neuropediatria pelo Instituto de São Paulo.


RESUMO

A prematuridade refere-se ao nascido com menos de 37 semanas de gestação. Anualmente nascem 20 milhões de prematuros no mundo, destes 40% morrem antes de completar um ano de vida. O Método Canguru (MC) foi idealizado para, através do contato precoce pele a pele entre mãe e recém-nascido pré-termo (RNTP), proporcionar equilíbrio fisiológico, biomecânico e aprimorar o desenvolvimento Neuropsicomotor. Neste contexto o objetivo desta pesquisa foi analisar a influência das posições canguru em decúbito ventral e decúbito lateral no desenvolvimento do tônus flexor em recém-nascidos pré-termos. Trata-se de uma revisão sistemática, onde foram analisados 10 trabalhos relacionados à temática. Conclui-se que ambas as posições canguru podem ser utilizadas na prática clínica em recém-nascidos prematuros clinicamente estáveis. No entanto, há necessidade em ampliar as repercussões do método, e recomenda-se a realização de novos estudos com um grupo experimental e tempo maiores.

Palavras-chave: Prematuridade. Recém-nascido. Método Canguru. Tônus.

ABSTRACT

Prematurity refers to those born less than 37 weeks of gestation. Every year 20 million premature infants are born worldwide, of which 40% die before completing one year of life. The Kangaroo Method (MC) was designed to, through early skin-to-skin contact between mother and preterm newborn (RNTP), provide physiological, biomechanical balance and improve neuropsychomotor development. In this context, the objective of this research was to analyze the influence of kangaroo positions on ventral decubitus and lateral decubitus on the development of flexor tone in preterm newborns. This is a systematic review, where 10 studies related to the theme were analyzed. It is concluded that both kangaroo positions can be used in clinical practice in clinically stable premature newborns. However, there is a need to expand the repercussions of the method, and it is recommended to conduct further studies with an experimental group and longer time. Ler foneticamente

Keywobds: Prematurity. Newborn. Kangaroo Care. Tone

1 INTRODUÇÃO

De acordo com a OMS (2020) a prematuridade é caracterizada quando a gestação é inferior ao período de 37 semanas de gestação, contando-se a partir do último período menstrual. Cerca de 20 milhões de bebês prematuros nascem anualmente no mundo, no qual 40% vêm a óbito após o primeiro ano de vida. Este fato ocorre em função da precariedade dos recursos de infraestrutura nos hospitais brasileiros, criando um problema de saúde pública (BARRADAS, 2016).

Quando a criança é prematura, quanto menor for o período de gestação, maior a probabilidade de geração de problemas de morbidade neonatal. Estes riscos são maximizados uma vez que o recém-nascido pré-termo (RNPT) possui pouca maturidade neurológica e posicionamento intrauterino. Assim, as extremidades dos RNPT são posicionadas em extensão e abdução, em função da hipotonia (BRITO, 2018).

O avanço da tecnologia na medicina neonatal possibilitou a implementação de diversos métodos e ferramentas que facilitaram a sobrevivência de RNPT com períodos de gestação cada vez menores. Todavia, este público necessita de maiores cuidados, uma vez que a prematuridade é responsável pela metade da mortalidade nos bebês recém-nascidos (CRUVINEL; MACEDO, 2017).

Diante deste cenário, foi criado o Método Canguru na cidade de Bogotá em 1979, na Colômbia. O Método Canguru proporciona um equilíbrio biomecânico e fisiológico do RNPT, reduzindo as sobrecargas inerentes ao desenvolvimento Neuropsicomotor, compreendendo três componentes: 1) posição canguru; 2) política de aleitamento materno; e 3) política de alta precoce. A posição canguru consiste em colocar o recém-nascido pré-termo em contato pele a pele, de forma precoce e crescente, mantido em posição vertical, por tempo em que haja bem-estar para a mãe ou para o bebê (BRASIL, 2009).

Embora seja bem difundido, o método Canguru deve ser realizado com bastante cuidado, sendo precedido de uma série de estudos relacionados ao custo-efetividade e as limitações da aplicação. Existem evidências científicas indicativas para os seus atributos básicos em uma intervenção humanizada, como: baixo custo, adaptabilidade e redução da taxa de abandono, muito frequente nos casos de prematuridade. No Brasil o método tem sido apoiado como uma ação dentro das políticas de atenção neonatal (TOMA; VENÂNCIO; ANDRETTO, 2011).

Constantemente estudos sobre o MMC abordam predominantemente os benefícios relacionados ao equilíbrio hemodinâmico, sendo raros aqueles voltados para as aquisições motoras e mudanças de tônus dos recém-nascidos pré-termos. Tendo como base estas informações, indagou-se o seguinte problema: Qual das posições Canguru, decúbito ventral ou lateral, tem maior influência no desenvolvimento do tônus flexor em recém-nascido pré-termo?

Para responder a tal questionamento, o objetivo do presente trabalho buscou analisar a importância das posições canguru em decúbito ventral e decúbito lateral no desenvolvimento do tônus flexor em recém-nascidos pré-termos. Assim, o trabalho em questão trata-se de uma revisão sistemática, onde foram analisados 10 trabalhos relacionados à temática.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 PREMATURIDADE

2.1.1 Conceito

Os RNPT eram considerados quando o valor do peso era menor do que 2500 gramas. Com o advento da tecnologia, aproximadamente 30% dos bebês prematuros não tinham características neonatais de prematuridade, mas sim de recém-nascidos a termo. No ano de 1961. A OMS alterou a definição de prematuridade, fazendo com que o bebê considerado prematuro ou pré-termo ocorresse no período inferior a 37 semanas de gestação, calculados a partir do primeiro dia da última menstruação (CRUVINEO; MACEDO, 2017).

De acordo com Reinaux (2015), o parto é considerado como prematuro quando o período de gestação é superior a 20 semanas e inferior a 37 semanas. Durante este período gestacional, o bebê apresenta maior probabilidade de vir a óbito devido a falta de maturidade de seus órgãos e sistemas.

A avaliação do bebê prematuro é feita por meio de exames médicos (dados clínicos e ultrassonográficos), bem como pela avaliação anatômica da criança, principalmente peso e estatura. A etiopatogenia ainda é complexa e envolve fatores maternos, fetais, placentários, iatrogênicos e idiopáticos (BRITO, 2018).

O nascimento prematuro promove um grande desafio para o bebê, levando em consideração que o ambiente extrauterino é bem agitado. Desta forma, a promoção de um ambiente tranquilo é de suma importância para o desenvolvimento normal do bebê. Os RNPT possuem mais susceptibilidade às infecções decorrentes da baixa imunidade, como atividade bactericida reduzida, diminuição do nível sérico de elementos do complemento e redução de imunoglobulinas plasmáticas (OLIVEIRA; BRITTO; PARREIRA, 2017).

Fatores como o baixo peso e nível de prematuridade são determinantes para a sobrevivência do RNPT. No que diz respeito ao baixo peso, vale ressaltar que pode ocorrer pela prematuridade ou pelo crescimento intrauterino deficiente (VENÂNCIO; ALMEIDA, 2017).

Estudos literários apontam que de todas as condições de risco que os recém-nascidos podem apresentar, a prematuridade é a que se apresenta com índices mais elevados, mesmo porque essa condição é, por si, risco para outros fatores como: distúrbio metabólico, hemorragias intracranianas, baixo peso, constituem um verdadeiro somatório de fatores de risco (OLIVEIRA; BRITTO; PARREIRA, 2017).

2.1.2 Classificação

E trivial que a prematuridade é uma condição definida aos bebês que nascem num período gestacional menor do que 37 semanas, considerando o item temporal (IG), e peso ao nascer. Os indivíduos considerados prematuros ou pré-termo não apresentam necessariamente características similares, as variações podem ocorrer em função da maturidade dos mesmos. Dependendo da idade gestacional, os RNPT podem apresentar três nuances: Pré-termo limítrofe: com Idade Gestacional (IG) de 36 semanas e seis dias; Pré-termo moderado: cuja IG está entre 31 a 36 semanas completas; Pré-termo extremo: com IG entre 24 a 30 semanas completas (BRITO, 2018).

Cruvinel e Macedo (2017) salientam que no tocante ao peso, o RNPT pode ser considerado: Recém-nascido de baixo peso, aquele com o peso igual ou inferior a 2.500g; recém-nascido de muito baixo peso, apresenta peso igual ou inferior a 1.500g; Recém-nascido de extremo baixo peso, aquele com o peso igual ou inferior a 1.000g.

Dois fatores básicos, isolados ou em associação, levam ao nascimento com peso abaixo do normal: a prematuridade e o retardo do crescimento intrauterino (desnutrição intrauterina). A determinação desses processos envolve um conjunto comum de fatores, entre os quais se destacam as condições socioeconômicas precárias, baixo peso da mãe no início da gestação, doenças associadas, tabagismo, estresse, antecedente reprodutivo desfavorável, falta ou deficiência do pré-natal, e gravidez múltipla (OLIVEIRA; BRITTO; PARREIRA, 2017).

A variação do peso do bebê após o nascimento é variável de acordo com a duração gestacional, onde as crianças com peso menor do que 2500 gramas não são necessariamente pequenas. A associação entre prematuridade e retardo de crescimento intrauterino, por sua vez, é evidenciada em vários estudos sem que se possa estabelecer uma relação de causalidade entre esses dois fatores (BRITO, 2018).

Reinaux (2015) define o RNPT conforme o nível de crescimento intrauterino com relação à idade gestacional. Assim, o RNPT pode ser: Recém-nascido Grande para a Idade Gestacional (GIG), peso acima do percentil 90; Recém-nascido Adequado para a Idade Gestacional (AIG), peso entre o percentil 10 e 90; Recém-nascido Pequeno para a Idade Gestacional (PIG), peso abaixo do percentil 10.

2.1.3 Incidência

Cerca de um terço dos bebês prematuros vêm a óbito antes de completar um ano de vida. Já em relação ao peso, 90% dos bebês possuem o peso menor do que 1000 gramas. No ano de 2004, o IBGE estimou que as causas perinatais foram responsáveis por 49,7% dos óbitos infantis no Brasil, tendo aumentado para 53,6% e 55,4% nos anos de 2000 e 2003, respectivamente, sendo mais altas no Norte/Nordeste (OLIVEIRA; BRITTO; PARREIRA, 2017).

Os RNPT constituem um grupo especial, que necessita de cuidados variados, onde sua incidência varia conforme as características da população e constituem, em média, 5,6% dos nascimentos no Brasil, segundo o Sistema Único de Saúde – SUS. As facilidades de acesso aos serviços de saúde neonatal garantem a redução dos agravos relacionados aos óbitos dos recém-nascidos pré-termo. Estas características demonstram a limitação do alcance deste tipo de atendimento em termos da cobertura plena da população (BRITO, 2018).

Atualmente existem alguns programas voltados à redução da mortalidade infantil após o período neonatal, destacando-se: o incentivo ao aleitamento materno, imunizações, intervenção precoce, além de aumento da cobertura dos serviços de saúde. No entanto, maior redução da mortalidade dependerá, em parte, de um impacto efetivo sobre as causas (CRUVINEL; MACEDO, 2017).

2.1.4 Etiologia

Uma série de causas podem provocar a interrupção precoce da gravidez, de modo a gerar parto prematuro. Umas dessas principais causas são relativas à saúde da mãe e/ou do bebê, que podem ser de origem genética, constitucional, demográfica, psicossocial, obstétrica, nutricional, morbidade da mãe durante a gestação, exposição a substâncias tóxicas, e assistência pré-natal (VENÂNCIO; ALMEIDA, 2017).

Em 50% dos casos a etiologia do parto prematuro é desconhecida, ocorrendo de forma espontânea em função do rompimento das membranas amnióticas. Existe a necessidade de se diferenciar o parto pré-termo induzido do parto pré-termo espontâneo, o primeiro, decorrente principalmente de problemas maternos ou fetais que exigem a interrupção antecipada da gestação, é mais comum em mulheres na faixa etária acima de 35 anos; e o segundo, predominante na faixa etária inferior a 20 anos, não possui sua etiologia bem definida, sendo a valorização dos chamados fatores de risco de parto pré-termo a principal causa apontada (REINAUX, 2015).

2.2 Alterações no desenvolvimento motor

O parto prematuro sempre vem acompanhado de diversos problemas clínicos, que podem variar em decorrência do grau de prematuridade do bebê. A ocorrência de tais problemas relaciona-se a características, como idade gestacional, peso no nascimento e dificuldades médicas, que ocorrem principalmente no período neonatal (CRUVINEL; MACEDO, 2017).

O bebê prematuro é submetido a um risco biológico elevado que compromete o seu desenvolvimento físico, aumentando a probabilidade de problemas em diversas áreas e momentos do curso do desenvolvimento, podendo provocar efeitos cumulativos no atraso do crescimento. Isso ocorre porque o RNPT não tem uma sequência cronológica definida como os outros bebês normais. Tais anormalidades podem afetar a postura, habilidades motoras finas, coordenação, equilíbrio e reflexos (VENÂNCIO; ALMEIDA, 2017).

O desenvolvimento da coordenação motora é um processo de aperfeiçoamento de movimentos que está atrelado a idade do RNPT. As aquisições destes movimentos ocorrem no período compreendido entre o nascimento e o final do primeiro ano de vida. Neste sentido, o período equivalente ao primeiro ano de vida do bebê fornece prognósticos importantes, pois é nesse período que a criança adquire as funções de mobilidade (REINAUX, 2015).

O período de desenvolvimento no primeiro ano de vida do bebê é também um processo de mudanças complexas e interligadas, das quais participam todos os aspectos de crescimento e maturação dos aparelhos e sistemas do organismo, que são dependentes da maturação do Sistema Nervoso, dos aspectos biológicos, do comportamento e do ambiente (PINTO, 2018).

No RNPT, a flexão das extremidades é a postura dominante. Essa flexão fisiológica é resultado da maturação do sistema nervoso central durante a vida fetal. Os pré-termos não apresentam a maturidade neurológica ou a vantagem de posicionamento prolongado no ambiente intrauterino para auxiliar no desenvolvimento dessa flexão (BARRADAS, 2016).

O recém-nascido prematuro exibe uma hipotonia global, que se relaciona ao seu nível de prematuridade. Suas extremidades apresentam-se tipicamente posicionadas em extensão e abdução, com o padrão flexor e a orientação na linha média diminuídos. A força de gravidade contra os fracos grupos musculares reforça ainda mais a postura em extensão (REINAUX, 2015).

Longos períodos em ventilação mecânica podem apresentar aumento da hiperextensão do pescoço, elevação escapular, retração dos ombros e das extremidades superiores, arqueamento do tronco e imobilidade da pelve (TOMA; VENÂNCIO; ANDRETTO, 2011).

Tão logo o RNPT se desenvolve, o tônus muscular flexor aumenta em direção caudo-cefálico, porém geralmente não alcança o grau completo do tônus muscular flexor. Desse modo, o mesmo não tem o contrapeso do tônus flexor para compensar a progressão normal do tônus muscular extensor, o que causa um desequilíbrio entre os grupos flexores e extensores. Esse desequilíbrio interfere no desenvolvimento do controle da cabeça, no equilíbrio sentado, na aquisição de habilidades e na coordenação bilateral (BARRADAS, 2016).

Um bom desenvolvimento motor repercute na vida futura da criança nos aspectos sociais, intelectuais e culturais. Apresentar alguma dificuldade motora faz com que a criança se refugie do meio que não domina, consequentemente, deixando de realizar, ou realizando com pouca frequência, determinadas atividades (PINTO, 2018).

2.3 Método Canguru

O chamado Método \”Canguru\” foi criado na Colômbia em 1979 com o propósito de reduzir o número de óbitos que ocorriam no país. O método consistia em colocar o RNPT colado pele a pele contra o peito da mãe, fazendo com que a troca térmica promovesse maior estabilidade da temperatura do bebê. Notou-se que os RNPT que eram submetidos ao Método Canguru tinham uma menor taxa de infecção, necessitando de menor cuidado médico (VENÂNCIO; ALMEIDA, 2017).

O Método Canguru é subdividido em três partes: 1) posição canguru; 2) política de aleitamento materno; e 3) política de alta precoce na posição canguru. a posição canguru consiste em colocar o recém-nascido pré-termo, ou de baixo peso, sobre o peito da mãe em contato pele a pele, de forma precoce e crescente. O mesmo é mantido ao redor do tórax da mãe em posição vertical, permanecendo na posição o tempo em que haja bem-estar para a mãe e bebê (CRUVINEL; MACEDO, 2017).

Embora haja relatos de eficiência do Método Canguru para os RNPT, cientificamente este procedimento não garante maior sobrevida dos bebês. O que pode ser evidenciado é que o ato de aproximar a criança ainda mais da mãe promove um vínculo mais consistente. A partir de então o método ganhou enorme repercussão, com adeptos e opositores para sua realização, o que é comum na implantação de todo método (CRUVINEL; MACEDO, 2017).

Os hospitais pioneiros no Brasil que utilizam o Método Canguru são os hospitais Guilherme Álvaro em Santos e em seguida o Instituto Materno e Infantil de Pernambuco, na cidade do Recife. Após isso, uma gama de hospitais brasileiros também passou a utilizar o método (MOREIRA, 2014).

A grande quantidade de recém-nascidos prematuros e com baixo peso gera altos custos hospitalares, sem contar nas sequelas para a criança. Este fato fez com que tal assunto fosse tratado sob alta repercussão na classe médica. Além destes agravantes, o nascimento prematuro promove um rompimento do vínculo familiar, uma vez que os mesmos permanecem por longo período na incubadora (BRITO, 2018).

Neste sentido, o Ministério da Saúde resolveu criar um padrão para atendimento aos casos de nascimento de RNPT, buscando reduzir os problemas financeiros para o hospital e garantir o bem-estar da criança. Assim, a Área Técnica da Saúde da Criança, com a colaboração de diferentes especialidades responsáveis pela atenção à mulher e ao recém-nascido prematuro criaram uma série procedimentos e cuidados maternos (VENÂNCIO; ALMEIDA, 2017).

A metodologia do Programa Canguru\” é composta por atividades simples que se mostraram eficientes no atendimento neonatal. Assim, o calor é gerado e transmitido pelo corpo da mãe em contato com o bebê, por longos períodos; o leite materno que, além de alimentar o bebê, possui propriedades imunológicas, protegendo-os contra infecções; o amor, que o estimula garantindo-lhe equilíbrio emocional, indispensável para o desenvolvimento (BRITO, 2018).

Os gastos inerentes ao tratamento do RNPT através do Método Canguru são relativamente baixos, uma vez que é um método bastante simples, próprio para países com escassez de recursos. Trata-se de modelo eficaz, com boa relação custo-benefício, com incremento da sobrevida, da qualidade de vida e diminui a taxa de abandono nesses casos (BARRADAS, 2016).

No Método Canguru o recém-nascido prematuro é posicionado na posição vertical, contra o peito do adulto, em dois posicionamentos: o decúbito ventral (DV) e o decúbito lateral (DL), sendo o primeiro mais amplamente utilizado e difundido (BARRADAS, 2016).

O propósito é criar maior vínculo, segurança e incentivo ao aleitamento materno, de modo a contribuir para o desenvolvimento do bebê. Problemas como falta de incubadoras, desnutrição ou abandono, podem influenciar na elevação do índice de mortalidade da criança. Porém, em nenhum momento a metodologia preconizada apresentou-se como um substitutivo de tecnologia (PINTO, 2018).

O Programa Canguru, ao garantir o contato entre mãe e bebê, permite humanizar o atendimento, reduzir os índices de mortalidade frequentes nos casos de prematuridade e diminuir os custos hospitalares referentes a este tipo de parto. O Método Canguru brasileiro tem cinco elementos básicos: (1) alta precoce baseada nas condições clínicas dos recém-nascido baixo peso (RNBP), (2) amamentação exclusiva, (3) posição canguru para prover calor e estímulos, (4) educação e informação das mães, pais e família nos cuidados adequados e (5) acompanhamento ambulatorial (MOREIRA, 2014).

A Norma de Orientação para a Implantação do Método Canguru foi dividida em três etapas: A primeira etapa é relativa à situação do RN; a segunda é relativa à situação do RN com as condições de ficar em alojamento conjunto contínuo com a mãe onde permanecem em posição canguru pelo maior tempo possível; e a terceira é a fase domiciliar. Onde o RNPT é acompanhado no ambulatório pela equipe responsável pelo método canguru a cada dois ou três dias inicialmente e depois semanalmente até que atinja 2.500g ou mais, ocasião em que é encaminhado para a rede pública de saúde (COLAMEO; REA, 2016).

O Método Canguru é um momento vivido pela família na trajetória empreendida a partir da gestação e do parto prematuro. Apresenta-se como estratégia que possibilita à mãe e família estar próximas para também cuidar do filho prematuro (TOMA; VENÂNCIO; ANDRETTO, 2011).

3 METODOLOGIA

3.1 TIPO DE PESQUISA

O presente trabalho remete a uma revisão sistemática, tendo como objetivo fazer uma análise comparativa do tônus flexor em recém-nascidos prematuros submetidos às posiçõescanguru: decúbito ventral (DV) e decúbito lateral (DL). De acordo com Marconi (2017), a revisão sistemática trata-se de um estudo secundário, que busca analisar na literatura todas as evidências atreladas a temática em questão.

3.2 SELEÇÃO DOS ESTUDOS

A pesquisa eletrônica foi realizada entre julho a outubro de 2020, utilizando as seguintes bases de dados: Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE/PUBMED), Physiotherapy Evidence Database (PEDro), Biblioteca Regional de Medicina (BIREME) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS).

Os estudos relevantes foram obtidos pelo cruzamento dos descritores em português e inglês, usando operadores Booleanos “e” e “ou”. Descritores PubMed, no entanto, foram utilizados para MeSH (Medical Subject Headings) e DECS (Ciências da Saúde) para as outras bases de dados. A avaliação da qualidade metodológica dos estudos foi realizada pela Escala PEDro.

3.3 SELEÇÃO DOS ESTUDOS

A identificação e seleção dos estudos na busca eletrônica foram realizadas através de revisão dos títulos e resumos de forma independente de todos os estudos primários. Após essa etapa, os textos que o revisor considerou como uma referência elegível foram obtidos e avaliados se preenchiam os critérios de inclusão pré-estabelecidos.

3.4 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO

Foram incluídos trabalhos que incluíam ensaios clínicos para o parto de recém-nascidos que utilizaram o método canguru ventral e lateral. Neste sentido, consideraram-se fatores como: idade gestacional corrigida (IGC) entre 32 e 37 semanas no ato da admissão na Enfermaria Canguru, associada aos critérios de inclusão do MMC, de acordo com o Manual Técnico do referido método (BRASIL, 2002). Os critérios de elegibilidade das mães compreenderam: motivação, disciplina no tratamento e ausência de problemas mentais e/ou lesões dermatológicas.

3.5 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO

Foram excluídos trabalhos nos quais os recém-nascidos apresentavam algum tipo de síndromes, patologias neurológicas ou outra comorbidade como: miopatias, malformações, hemorragia periventricular intracraniana, hipóxia moderada ou grave, Apgar menor do que 7 no 5º minuto e aquelas mães que não cumpriram os critérios de elegibilidade.

3.6 EXTRAÇÃO DE DADOS E QUALIDADE DOS ESTUDOS

Para avaliação da qualidade metodológica dos ECRs, foi utilizada a escala PEDro. Ela analisa se o estudo contém informações estatísticas suficientes para que os resultados possam ser interpretáveis. Composta de 11 itens com pontuações de 0-10, sendo que o primeiro item (critérios de elegibilidade) está relacionado com a validade externa e não foi usado para calcular a pontuação. Os ECRs foram avaliados por dois revisores de forma independente, e qualquer discordância entre os resultados foi resolvida em uma reunião de consenso. Caso ainda ocorressem divergências, um terceiro revisor era solicitado para resolução.

4 RESULTADOS

A seguir foi realizada a apresentação dos artigos relacionados a temática, onde foram dispostos o nome dos respectivos autores, títulos das obras, objetivos, métodos e conclusões. O objetivo nesta etapa foi analisar as posições dentro do Canguru através de uma revisão de literatura.

AUTORTÍTULOOBJETIVOMÉTODOCONCLUSÃO
BARRADAS (2016)A relação entre posicionamento do prematuro no Método Mãe-Canguru e desenvolvimento neuropsicomotor precoceAnalisar as posturas adotadas pelos prematuros em decúbito ventral (DV) e lateral (DL) no Método Mãe-Canguru, relacionando-as com o desenvolvimento neuromotor precoce da criançaFoi realizado um estudo com uma amostra de 80 bebês prematuros que permaneceram na unidade Mãe Canguru, onde 40 bebês foram posicionados em DV e 40 bebês em DL.Foi observado que a posição DL trouxe maiores benefícios no que diz respeito ao desenvolvimento neuromotor
BRITO, Maria (2018)Modelos de Assistência Neonatal: comparação entre o método mãe canguru e o método tradicionalInvestigar as divergências entre o desenvolvimento do bebê submetido aos métodos Canguru e tradicionalA equipe de assistência neonatal realizou a coleta de dados quantitativos e qualitativos dos bebês nascidos pelos métodos tradicional e Canguru, comparando o desenvolvimento em ambos os métodosNo que diz respeito ao desenvolvimento neurossocial e neuromotor não pôde-se constatar diferença entre os dois grupos de bebês analisados. Todavia, pelo padrão das respostas suspeitou-se que numa amostra maior seria possível o surgimento de diferenças relativas ao desenvolvimento que favoreciam o método Canguru.
CRUVINEL, Fernando; MACEDO, Elizeu (2017)Interação mãe-bebê pré-termo e mudança no estado de humor: comparação do Método Mãe-Canguru com visita na Unidade de Terapia Intensiva NeonatalAvaliar as alterações de humor nas mães de bebês RNPT submetidos aos métodos tradicional e CanguruAplicou-se uma escala analógica de humor em 60 mães, onde 30 foram submetidas ao método Canguru e 30 submetidas ao método tradicionalO método Canguru demonstrou ser mais eficaz no estado de humor das mães, contribuindo para redução dos efeitos negativos do período neonatal
COLAMEO, Ana; REA, Marina (2016)O Método Mãe Canguru em hospitais públicos do Estado de São Paulo, Brasil: uma análise do processo de implantaçãoAnalisar o processo de implantação do método Canguru num hospital de atendimento neonatal no Estado de São PauloRealizou-se um estudo transversal com aplicação de questionário em 44 hospitais de São Paulo, onde foi possível inferir a efetividade da implantação do métodoConcluiu-se que apesar de simples, o método Canguru exige inúmeros fatores para que sua implantação seja eficaz. Em São Paulo o processo de humanização está seguindo em direção constante. Para que isso se prolongue é necessária a capacitação dos profissionais de atendimento neonatal, visando o empoderamento nas decisões compartilhadas
MOREIRA, Ana (2014)Intervenção precoce em Recém-nascidos pré-termo: O posicionamento, a correção postural e neuromuscularVerificar o desenvolvimento muscular e o controle postural dos bebês submetidos ao método canguru durante a assistência neonatalFoi realizado um estudo experimental longitudinal numa amostra de 125 bebês, onde foram analisados aspectos neurológicos com o protocolo, \”Infant Neurologic Evaluation the Amiel-Tison”Concluiu-se que a intervenção precoce na assistência neonatal quanto a utilização do método Canguru pode prevenir futuras lesões neurológicas através da modificação de comportamentos motores entre os 6 primeiros meses do bebê pré-termo
OLIVEIRA, Trícia; BRITTO, Raquel; PARREIRA, Verônica (2017)Efeito do posicionamento prono e supino na função respiratória de recém nascidos pré termoAnalisar na literatura os efeitos das posições prona e supina e sua relação com a função respiratória em recém-nascidos pré-termoFoi realizado uma revisão bibliográfica através das bases de dados Medline e ScieloConcluiu-se que a posição em prono atrelada ao método Canguru seja mais benéfica quando comparada à em supino, no que tange ao sincronismo toracoabdominal; porém o mesmo não pode ser sugerido quando se analisam as pressões respiratórias máximas e os volumes pulmonares.
PINTO, Elizabeth (2018)O Desenvolvimento do comportamento do bebê prematuro no primeiro ano de vidaAnalisar o desenvolvimento dos RNPT submetidos ao método Canguru até o primeiro ano de vidaPor meio da ficha de anamnese, dentre as crianças nascidas prematuramente, analisou-se uma amostra formada por 21 bebês de ambos os sexos, nascidos pré-termo entre 33 e 36 semanas de gestação e sem sequelas neurológicasConcluiu-se que os RNPT submetidos ao método Canguru obtiveram resultados equivalentes (em ambos os sexos) na normalização como na estabilização dos comportamentos axial, espontâneo, estimulado, não-comunicativo e comunicativo.
REINAUX, Cristina (2015)Evolução Motora de Recém-nascidos Pré-termo submetidos ao Método Mãe CanguruAvaliar os efeitos do método Canguru quanto os aspectos atrelados à amamentação e desenvolvimento do RNPTFoi realizada uma revisão integrativa relacionada ao tema propostoObservou-se que o método Canguru é bastante eficaz e apresenta baixos custos na assistência ao RNPT, trazendo benefícios quanto à amamentação e melhoria dos parâmetros clínicos fisiológicos no desenvolvimento e comportamento desses bebês.
TOMA, Tereza; VENÂNCIO, Sonia; ANDRETTO, Daniela (2011)Percepção das mães sobre o cuidado do bebê de baixo peso antes e após implantação do Método Mãe-Canguru em hospital público da cidade de São Paulo, BrasilAumentar a compreensão sobre os diferentes modos que as famílias de baixa renda lidam com o nascimento de um bebê pré-termo, com vistas a aprimorar a implantação do Método Mãe-CanguruEste estudo é parte de um projeto matriz, cujo objetivo foi avaliar o impacto da implantação do Método Canguru sobre a evolução clínica e o desenvolvimento neuropsicoafetivo de recém-nascidos pré-termo e de baixo peso em um hospital público.Os resultados deste estudo indicam que as mães que aderiram ao Método Canguru são aquelas cujos arranjos familiares foram mais fáceis de organizar. Por isso, as mães-cangurus são mais jovens e sem filhos. O exercício do método Canguru proporciona benefícios na amamentação pelo contato direto com o bebê, além do maior apoio da equipe de saúde
VENÂNCIO, Sonia; ALMEIDA, Honorina (2017)Método mãe canguru: aplicação no Brasil, evidências científicas e impactos sobre o aleitamento maternoDescrever o método Canguru, bem como os benefícios para os RNPT de baixo pesoConsulta na literatura sobre publicações relacionadas ao método Canguru, considerando ganho de peso, risco de infecção hospitalar e etcExistem evidências do impacto positivo do Método Mãe Canguru sobre a prática da amamentação. Mesmo que o método possa contribuir para redução de óbitos, ainda não existem evidências suficientes para recomendação do mesmo, sendo necessário estudos mais consistentes

5 DISCUSSÃO

Os resultados referentes aos dados neonatais dos participantes deste estudo basearam-se nos critérios de seleção. As características dos grupos foram: o nascimento pré-termo, o baixo peso, Apgar no 5°, além da submissão de todos os participantes à posição canguru.

Barradas (2016) no que diz respeito ao peso do bebê RNPT, há uma relação direta com o período gestacional, então quanto menor for sua idade, menor será seu peso e maior será a probabilidade de morte e desvios motores do mesmo. Dessa forma, idade gestacional e o peso ao nascer se mostraram variáveis determinantes no desenvolvimento motor.

Num estudo realizado por Brito (2018) com 67 recém-nascidos com idade gestacional inferior a 37 semanas divididos em dois grupos e encontraram no grupo média de apgar no quinto minuto de 8,3 e de 8,5, o que está de acordo com as médias encontradas. Neste estudo, o tempo de permanência dos recém-nascidos nas unidades Canguru apresentou-se relativamente baixo, o que está de acordo com os estudos de Venâncio e Almeida (2017), que em estudo comparativo de recém-nascidos em UTIN e submetidos ao MMC observaram que o tempo de internação no MMC foi inferior (17,7 dias) ao tempo de internação dos na UTIN (20,8 dias).

Em relação ao gênero dos recém-nascidos, Pinto (2018) constatou que 79% foram do gênero feminino e 21% foram do gênero masculino. Neste sentido, pôde-se notar que o índice de nascimento de bebês do sexo feminino foi superior aos nascidos do gênero masculino, todavia esta informação não foi relevante para pesquisa. Outra informação que vale salientar é que não há na literatura evidências da interferência do gênero na prematuridade associada às alterações do tônus.

No tocante à avaliação e evolução do tônus dos RNPT’s, em todos os trabalhos analisados verificou-se a evolução longitudinal do tônus ao longo do período de tratamento, onde utilizou-se o Teste estatístico Mann Whitney para amostras não paramétricas. Para Reinaux (2015), os desequilíbrios entre o tônus muscular passivo e ativo têm sido relacionados com uma exposição precoce ao ambiente extrauterino. Esta realidade diminui a mobilidade fisiológica, que se assume como vital para o desenvolvimento do controle postural normal, e podendo traduzir-se em alterações ao nível do comportamento motor.

O grande propósito da intervenção de forma precoce é modular o tônus e permitir que, pela Neuroplasticidade (conexões sinápticas modificadas pela demanda funcional), o RNPT possa experimentar a realização de movimentos e posturas normais desde seu nascimento, contribuindo para sua habilitação motora (OLIVEIRA; BRITTO; PARREIRA, 2017).

Pinto (2018) realizou um estudo das aquisições motoras de recém-nascidos pré-termo aos 4 meses, observando que houve um retardo no desenvolvimento neuropsicomotor, justificando a necessidade de uma intervenção sensório motora precoce para minimizar os déficits funcionais.

De acordo com Moreira (2014) o subsistema motor compreende o tônus muscular, a postura e os movimentos voluntários e involuntários. Estes representam comportamentos que refletem a estabilidade desse subsistema, incluindo postura harmoniosa (com equilíbrio entre flexão e extensão e ausência de hipo ou hipertonia) e movimentos sincrônicos e harmoniosos dos membros.

Quando colocados em decúbito lateral, no canguru, a postura assumida pelos recém-nascidos permitiu uma colocação dos membros superiores e inferiores em flexão e adução melhorando a postura e facilitando a orientação mão-boca, bem como uma postura de maior enrolamento do tronco. Além disso, propicia menor número de comportamentos de estresse (BARRADAS, 2016).

A postura lateral possibilita movimentos contra a gravidade e o desenvolvimento do tônus com maior flexão e simetria. Porém a posição lateral não possibilita estímulo de controle da cabeça devido à posição adquirida pelo recém-nascido. Já na posição prona o recém-nascido recebe estímulo para o uso precoce dos extensores de pescoço, e um maior controle da cabeça, o que confirma os resultados encontrados neste estudo (BRITO, 2018).

A utilização das posições canguru ventral e lateral desde os primeiros meses e em conjunto com outras posturas, previne assimetrias posturais, e favorece o desenvolvimento motor, especialmente o controle de cabeça (COLAMEO; REA, 2016).

A avaliação do desenvolvimento do tônus flexor em recém-nascidos pré-termos é considerada de alta complexidade quando se refere ao organismo que está em pleno crescimento, e passando por uma variedade de mudanças dentre as quais estão o tônus flexor, postura e atividades funcionais. Tais variações recebem ação direta da maturação do Sistema Nervoso (REINAUX, 2015).

Para Toma, Venâncio e Andretto (2011) o recém-nascido pré-termo (RNPT) exibe uma hipotonia global, a qual está relacionada com o grau de prematuridade, apresentando as extremidades posicionadas em extensão e abdução com padrão flexor e orientação à linha media diminuídos. Isso se deve ao reduzido tempo no ambiente uterino que contribui para a falta de flexão fisiológica.

A intervenção precoce proporciona ao neonato desenvolvimento e aquisições semelhantes à de um bebê nascido a termo. O posicionamento correto pode promover um desenvolvimento motor normal e minimizar hipóteses de padrões e posturas anormais (MOREIRA, 2014).

Para Reinaux (2015) o posicionamento canguru além de oferecer experiência tátil, térmico-sinestésica e sensorial ao RNPT, oferece também uma situação favorável à postura flexora fisiológica, já que os RNPT submetidos à posição canguru apresentam melhora das alterações tônicas transitórias e estabilização fisiológica quando comparados com os submetidos à incubadoras.

A evolução do tônus muscular ativo e passivo do pré-termo decorre com o aumento da idade gestacional até a idade de termo, que corresponde a 40 semanas. A hipotonia presente nos RNPT leva a alterações tônico-posturais, e estes podem ser beneficiados através do manuseio especializado e individualizado, que normaliza tônus, inibe respostas anormais e facilitar movimento normal (MOREIRA, 2014).

Depois do parto, o sistema neuro-motor do bebê é desenvolvido até os dois anos de idade. Neste sentido, se o recém-nascido for submetido aos cuidados adequados, recebendo estímulos apropriados para sua idade, poderá obter posturas adequadas favoráveis à estabilidade motora e fisiológica (CRUVINEL; MACEDO, 2017).

A postura assumida em decúbito lateral, quando os bebês se encontravam no canguru, permitiu uma colocação dos membros superiores e inferiores em flexão e adução, bem como uma postura de enrolamento do tronco. Para os RNPT os quais apresentam flexão fisiológica deficitária, a posição de lado, recria mais facilmente a postura adotada no ambiente interno do útero (BARRADAS, 2016).

Barradas(2016) realizou um estudo comparativo com 80 RNPT’s submetidos às posturas em decúbito ventral e lateral no Método Canguru, relacionando-as com o desenvolvimento neuromotor precoce, e obteve evolução do tônus flexor fisiológico na posição canguru em decúbito lateral, o que não corroborou com os resultados encontrados neste estudo.

Os resultados apresentados demonstraram que ambas as posições canguru possivelmente influenciam no desenvolvimento da movimentação espontânea e do tônus muscular ativo e passivo, conduzindo a aplicação do Método Canguru como alternativa para um desenvolvimento motor mais próximo do normal, já que, através das respostas obtidas, pode-se observar melhoria do padrão tônus do tônus flexor.

O que está de acordo com os estudos realizados por Oliveira, Britto e Parreira (2017), que observaram melhora das respostas no desenvolvimento neuropsicomotor, de maneira geral, comprovados por menor grau de estresse, melhor resposta flexora, melhor tônus muscular, após intervenção com Método Canguru. O presente estudo apresentou o Método Canguru como uma alternativa acessível e de fácil aplicabilidade, com relevância para a prática fisioterapêutica.

6 CONCLUSÃO

Após a análise dos trabalhos, observou-se que as posições Canguru em decúbito ventral e decúbito lateral mostraram-se eficientes no desenvolvimento do tônus flexor fisiológico de recém nascidos pré-termo com idade gestacional entre 32 e 37 semanas. Apesar da evolução do tônus em cada grupo ter sido estatisticamente significante, quando comparada entre os grupos, observou-se apenas uma tendência para desenvolvimento tônico maior na posição canguru em decúbito lateral.

Dessa forma, ambas podem ser utilizadas na prática clínica em recém-nascidos pré-termos clinicamente estáveis. Porém, infere-se que a posição canguru em decúbito ventral seria mais indicada para os recém-nascidos com maior deficiência de equilíbrio clínico. Já a posição canguru em decúbito lateral para aqueles com maior deficiência de flexão fisiológica.

Neste contexto recomenda-se a realização de novos estudos com grupo amostral e intervalo de tempo maiores para ampliar as repercussões do Método.

REFERÊNCIAS

BARRADAS, A. A Relação entre posicionamento do prematuro no Método Mãe-Canguru e desenvolvimento neuropsicomotor precoce. Jornal de Pediatria, Rio de Janeiro, v. 82, n. 6, p. 475-80, 2016.

BRITO, M. H. A. Modelos de Assistência Neonatal: comparação entre o método mãe canguru e o método tradicional. 228 f. Tese (Doutorado em Medicina)- Pediatria, Faculdade de Medicina de São Paul, São Paulo, 2018.

COLAMEO, A. J.; REA M. F. O Método Mãe Canguru em hospitais públicos do Estado de São Paulo, Brasil: uma análise do processo de implantação. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 22, n. 3, p. 597-607, março, 2016.

CRUVINEL, F. G. MACEDO E. C. Interação mãe-bebê pré-termo e mudança no estado de humor: comparação do Método Mãe-Canguru com visita na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal. Rev. Bras. Saúde Matern. Infant., Recife, 7 (4): 449-455, out./dez., 2017.

MOREIRA, A. Intervenção precoce em Recém-nascidos pré-termo: O posicionamento, a correção postural e neuromuscular. Dissertação (Mestrado em Psicologia do Desenvolvimento e Educação da Criança). Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, Porto, 2014.

OLIVEIRA, T.C.; BRITTO, R.R.; PARREIRA, V.F. Efeito do posicionamento prono e supino na função Respiratória de recém-nascidos pré-termo – uma Revisão bibliográfica. REME, Belo Horizonte, v. 11, n. 1, p. 73-76, jan/mar, 2017.

PINTO, E.B. O Desenvolvimento do comportamento do bebê prematuro no primeiro ano de vida. Psicologia: Reflexão e Crítica, São Paulo, v. 22, n. 1, p. 76-85, 2018.

REINAUX, C. Evolução Motora de Recém-nascidos Pré-termo submetidos ao Método Mãe Canguru. 147f. Dissertação de Mestrado (Mestrado em Fisioterapia) Faculdade de Ciências da Saúde. Piracicaba, 2015.

TOMA, T.; VENÂNCIO, S.; ANDRETTO D. Percepção das mães sobre o cuidado do bebê de baixo peso antes e após implantação do Método Mãe-Canguru em hospital público da cidade de São Paulo, Brasil. Rev. Bras. Saúde Matern.Infant., 7 (3): 297-307, jul. / set., 2011.

VENÂNCIO, S. I.; ALMEIDA, H. Método mãe canguru: aplicação no Brasil, evidências científicas e impactos sobre o aleitamento materno. J Pediatr, Rio de Janeiro, v. 80, n. 5, p. 173-80, 2017.