Disciplina de Mestrado – Engenharia de Produção – UFMG
Disciplina: Ergonomia Cognitiva
Prof.: Francisco de Paula Antunes Lima, Dr.
Aluno: Vinícius Marinho de Brito
Belo Horizonte
2007
Alzheimer e Ergonomia: As cores como fator ambiental para melhora da qualidade de vida de idosos com esta demência
Vinícius Marinho de Brito
RESUMO: A intenção deste trabalho é dissertar sobre a doença de Alzheimer, tema de grande relevância, sob o enfoque da ergonomia em seu componente que é o ambiente físico. As cores podem influenciar positivamente na qualidade de vida dos idosos acometidos por esta demência, ressalta-se também a importância que as cores têm na melhora cognitiva do indivíduo.
Palavras Chave: Alzheimer; ergonomia; cores; idosos.
ABSTRACT: The intention of this work is to write about Alzheimer’s disease, subject of great relevance, under the focus of the ergonomics in its component that is the physical environment. The colors can influence positively in the quality of life of the aged ones invested by this dementia, also stand out the importance that the colors have in the cognitive improvement of the individual.
Key words: Alzheimer; ergonomics; colors; elderly.
Sumário
Lista de Figuras…………………………………………………………………………………………. 3
1- Introdução…………………………………………………………………………………………….. 4
2- Desenvolvimento……………………………………………………………………………………. 5
3- A importância da Cores…………………………………………………………………………. 8
4- Conclusão………………………………………………………………………………………………. 11
5- Referências Bibliográficas………………………………………………………………………. 12
Lista de Figuras
Figura1: Cérebro acometido pela doença de Alzheimer, à esquerda, e cérebro normal……………………………………………………………………………………………………………. 6
Figura 2: O quarto da janela azul…………………………………………………………………… 11
1. Introdução
O termo “enaction”, segundo VARELA (2003), refere-se à atuação, ou seja, exercer a atividade. A ação é orientada por fatores externos, associado a isso os processos sensoriais e motores, a percepção e a ação são inseparáveis na cognição vivida.
Para SERRANO (1993), a ergonomia é uma ciência multidisciplinar que envolve estudos relativos a outras ciências, como fisiologia, psicologia, antropologia, sociologia, antropometria, biomecânica.
Essa abordagem entre as diversas disciplinas nos leva a reforçar o entendimento de que a ergonomia é o campo de conhecimento que, baseado em fundamentações científicas, busca a adequação dos equipamentos e ambientes às características fisiológicas, antropométricas e comportamentais, idade, sexo, capacidades e habilidades dos seres humanos.
Ao mencionar ergonomia, podemos pensar em um de seus componentes que é o ambiente físico. VERDUSSEN (1978) afirma que um ambiente é, na verdade, o produto da contribuição de todos os fatores atuantes, e agrupa, sem hierarquização de importância os fatores ambiente físico: temperatura, iluminação, ruídos, vibrações, odores e cores. A ergonomia nos últimos anos expandiu sua aplicabilidade além dos fatores ambientais já tradicionalmente estudados. MENEZES E MELLO (1993), abordam questões mais subjetivas como o uso da cor nos diversos ambientes, tornando-os mais estimulantes e agradáveis.
Retomando a questão da enação, ou ação, a percepção consiste em ação perceptivamente orientada; as estruturas cognitivas emergem dos padrões sensório-motores recorrentes que possibilitam à ação ser perceptivamente orientada.
Sendo assim, as cores podem oferecer subsídios para a orientação do indivíduo idoso com a demência de Alzheimer, doença descrita pela primeira vez em 1907 pelo psiquiatra alemão Alois Alzheimer e que acomete 50% dos indivíduos acima de 80 anos.
Acreditando na relevância do estudo sobre a doença de Alzheimer, o objetivo deste trabalho é dissertar sobre esta demência sob o enfoque da ergonomia em seu componente que é o ambiente físico tendo como fator, as cores, que podem influenciar positivamente do ponto de vista cognitivo a qualidade de vida dos idosos acometidos por esta demência. Para tal foi realizada uma pesquisa nas mais diferentes áreas para confeccionar este trabalho com a utilização de artigos, teses de mestrado e consulta a livros de ergonomia.
2. Desenvolvimento
As informações oficiais dão notícias de profunda transformação na dinâmica da população mundial. Concretamente, países mais avançados já contam com um centenário por 10000 habitantes. Em alguns destes onde a expectativa de vida chegou a limites muito altos, já se fala de “anciãos jovens”; até aos 75 anos e também de duas outras categorias posteriores. O tempo de vida humano pode ser lentamente aumentado, talvez um mês por século.
As implicações desta nova ordem para as práticas de saúde no futuro, dizem respeito ao enfoque das doenças crônicas, em lugar das agudas; da morbidade, em lugar da mortalidade; da qualidade de vida de preferência ao prolongamento da vida e ao adiamento, quando a cura não é possível.
Entre as doenças crônicas que acometem os indivíduos da terceira idade temos a insuficiência cerebral crônica – a demência. Embora não configure risco de vida iminente pode determinar institucionalização e a perda da capacidade funcional e da autonomia, resultando em isolamento social e comprometendo seriamente a qualidade de vida dos idosos.
Uma das principais manifestações da demência é a senil do tipo Alzheimer, mais comum no sexo feminino e segundo BODACHNE (2000), sua evolução dura de 5 a 8 anos, com 95% de óbitos ocorrendo após cinco anos da manifestação da doença. A doença de alzheimer surge geralmente entre os setenta e oitenta anos, porém observam-se casos precoces, ou seja, após os quarenta anos e, mais significativamente, após sessenta e cinco anos.
Conforme GWYTHER (1987), a doença de Alzheimer afeta mais as mulheres do que os homens, ocorrendo em qualquer país, com qualquer indivíduo que viva o suficiente para ter sobrevivido a outras doenças da idade avançada. De maneira mais amplamente conhecida, esta doença é uma enfermidade progressiva, degenerativa, que ataca o cérebro e resulta em perda da memória, com incapacidade de pensamento e comportamento. Os sintomas incluem perda gradual de memória, declínio da habilidade para realizar tarefas complexas, desorientação no tempo e no espaço, dificuldade de aprendizagem, perda da linguagem e, conseqüentemente, de comunicação.
O tratamento dos sintomas é o que promove a melhoria da qualidade de vida dos pacientes e de seus familiares, além de reduzir a velocidade de avanço da doença. Dentre os principais sintomas podemos citar:
– Perda da iniciativa e a incapacidade de conseguir iniciar as atividades;
– Dificuldade para tomar decisões;
– Aumento da perda de memória e confusão, tendo atenção rápida e distorcida.
Na literatura específica, considerando os diversos métodos, o tratamento possível e associado pode ser de três formas: Tratamento farmacológico, orientação familiar e ambiente físico como recurso terapêutico.
A qualidade de vida na velhice tem relação direta com a existência de condições ambientais que permitem aos idosos desempenhar comportamentos biológicos e psicológicos adaptativos. Guardam relação direta com o bem estar percebido.
Quando os idosos gozam de independência e autonomia, eles próprios podem providenciar arranjos para que seu ambiente torne-se mais seguro, variado e interessante. Caso os idosos já não disponham de possibilidades de manejo do próprio ambiente físico, é necessário que os membros da família ou das instituições por eles freqüentadas cuidem desses aspectos. Essas ações são compatíveis com ambientes amigáveis, que incluem instrumentos equipamentos e adaptações construtivas.
Sendo assim, o ambiente físico participa de forma crucial na manutenção das atividades físicas e cognitivas do indivíduo acometido pela doença. A integração ao ambiente é importante na medida em que o indivíduo analisa o mesmo, tendo como base o sentimento. Deve ser realizada com base em valores como crenças e associações com experiências anteriores. Os indivíduos acometidos pela doença de Alzheimer fazem parte de um grupo que necessita de um ambiente organizado de forma diferente, para compensar seus déficits cognitivos e para reforçar as suas capacidades e habilidades remanescentes (Pascale, 2002).
Os indivíduos com doença de alzheimer ficam lúcidos por um longo tempo e, mesmo sem a capacidade para novos aprendizados ou sem reconhecer os familiares eles são capazes de realizar tarefas que fazem parte do seu dia a dia. Portanto, todas as características devem ser consideradas no design de ambientes especiais para idosos dementes, tendo, como princípios básicos à preservação da dignidade e da melhoria na qualidade de vida. “O aprendizado do indivíduo no ambiente vivenciado se dá a partir de estímulos e informações advindas de seus esquemas cognitivos” (STOKOLS, apud FISCHER, 1989, p.82).
O ambiente físico é um dos componentes de análise da ergonomia (homem/trabalho/ambiente).
A ergonomia como área de conhecimento destina-se também a definir as características ideais do meio ou fatores, conforme o tipo de atividade ou inter-relação exercida no ambiente.
VERDUSSEN (1978) afirma que um ambiente é, na verdade o produto da contribuição de todos os fatores atuantes, e agrupa, sem hierarquização de importância os fatores do ambiente físico: temperatura, iluminação, ruídos, vibrações, odores e cores.
2.1. A importância das Cores
Cor é uma resposta subjetiva a um estímulo luminoso, que penetra nos olhos. O olho é um aparelho integrador de estímulos. Ele nunca percebe um estímulo isolado, mas um conjunto de estímulos simultâneos e complexos, que interagem entre si, formando uma imagem. Esta pode ter características diferentes daqueles estímulos quando considerados isoladamente. Por exemplo, um movimento é percebido pela sucessão de várias imagens.
As cores transmitem mensagens e tendem a predispor determinados estados de humor, desencadeando emoções, modificando comportamentos e, por vezes, alterando o funcionamento do organismo.
Podemos dividir a cor em quatro planos: químico, físico, sentidos e o psíquico; estando cada um destes aspectos associados a leis e fenômenos específicos.
Observamos a importância do uso da cor em ambientes, em especial nas instituições de cuidados especializados para idosos, sendo que ela pode melhorar a ambientação para indivíduos residentes, famílias, visitantes e cuidadores das instituições. Considerando todas as fundamentações existentes, BRAWLEY (1997) afirma que a cor é um elemento importante em qualquer design ambiental, mas fica claro que, para os indivíduos idosos, o contraste das cores no ambiente físico tem mais importância que a cor sozinha. Contudo uma grande discrição é necessária no uso de cores, uma limitação a três ou no máximo cinco atrativos visuais é o mais importante. Esta limitação de cores decorre do fato que experiências realizadas sugerem que muitas cores usadas em conjunto provocam desconcentração e, nesse caso, os indivíduos idosos com impedimentos cognitivos ficam em desvantagem, pois têm dificuldade de processar muitos estímulos em um mesmo momento. Por outro lado, o uso de uma única cor torna o ambiente monótono e sem contraste visual.
O sistema cognitivo humano processa a informação que provém fundamentalmente do meio, seja físico ou social, que é a realidade que envolve o indivíduo. Tanto o meio físico quanto o meio social possuem propriedades e regularidades intrínsecas e incluem acontecimentos altamente significativos, que constituem unidades cognitivas básicas.
O sistema nervoso central (SNC) – sistema cognitivo – tem como função processar as contingências do meio e programar padrões adaptativos de conduta: é um sistema representacional, adaptativo e eficiente que compreende alguns elementos, funções e alguns recursos. Dentre as funções temos: a interpretação das representações; a capacidade de ter representações simultâneas e transformá-las em previsão de acontecimentos; as realizações, de acordo com as representações.
Os indivíduos com demência apresentam alguns sintomas cognitivos que devem ser bem analisados, tais como: extrema queda de memória; inabilidade para se comunicar; desorientação quanto ao tempo e espaço.
Dessa maneira, observamos que as cores podem incitar o indivíduo para a ação, assim como podem também inibi-la, isto variará de acordo com o tipo de cor utilizada, a iluminação utilizada para contrastar com aquela cor. BIRREN (1978) afirma que cores brilhantes em tons de vermelho, laranja e amarelo, são tonalidades mais visíveis, e o seu uso pode aumentar a visibilidade e encorajar a pessoa para a mobilidade e ação.
As cores consideradas “quentes” são mais estimulantes que as cores “frias”. As frias, tais como azul e verde, apesar de serem ideais para reduzir tensão e estresse e gerar tranqüilidade e calma no ambiente, não são visualizadas pelos idosos.
Com relação à queda de memória, percebemos que as cores chamam a atenção, acrescentam uma nova dimensão, agrupam as informações; diminuem o tempo de reação e reduzem os erros.
Podemos ilustrar com alguns exemplos, a aplicabilidade das cores auxiliando na melhora cognitiva dos indivíduos com doença de Alzheimer.
GWYTHER (1997) afirma que as cores podem fornecer subsídios para orientação do indivíduo com doença de Alzheimer no seu ambiente físico, e que os ambientes mais adequados para os indivíduos limitados em sua cognição são os que oferecem diferenças visuais quanto às cores. A definição dos espaços da sala de refeições ou das áreas de atividades dinâmicas através das cores fornece diferenciação visual e chama a atenção para cada referido ambiente. CALKINS (1988) sugere que, para alguns indivíduos idosos residentes, o seu quarto pode ser reconhecido mais facilmente pela cor do que pela função, e que os corredores pintados em cores distintas podem trazer mais memória para esse indivíduo. A mesma autora ainda recomenda que os cuidadores da instituição devem usar a cor como significado de orientação, como, por exemplo, referindo-se ao “corredor azul”, ou ainda a cor da porta do quarto do indivíduo residente.
3. Conclusão
O envelhecimento populacional já é uma realidade mundial, por exemplo, o Brasil em 2025, segundo estatísticas da OMS será o 6º país no mundo em termos de quantidade de idosos ultrapassando países como a França no continente europeu.
Esse envelhecimento crescente da população deve-se ao avanço tecnológico na área da saúde, a melhora da economia mundial e das melhorias em termos de saneamento básico para a população. Dessa maneira como o indivíduo vive mais, fica sujeito também a diversas doenças típicas da terceira idade, entre estas podemos citar as demências dentre as quais a doença de Alzheimer, que atinge 10% da população acima de 65 anos e 50% da população acima de 85 anos de idade.
Considerando que o aumento maior desta doença está na faixa dos indivíduos acima de oitenta e cinco anos, as instituições responsáveis pela internação e cuidado destes idosos devem atentar para a questão do ambiente físico. Diversas pesquisas têm mostrado que as condições físicas que cercam o paciente envelhecido influenciam positivamente na melhora da qualidade de vida destes acometidos por demências.
A ergonomia em seu fator que é o ambiente físico mostra que as cores quando utilizadas como recurso terapêutico, apresentam-se dando relevante contribuição na melhora dos pacientes acometidos pela doença de Alzheimer, estimulando estes indivíduos para a ação através de cores mais vibrantes, como o vermelho, trabalhando a cognição e a memória através da visualização das cores, por exemplo, na porta do seu quarto, podendo assim diferenciar a cor da porta do quarto do vizinho. Observamos assim que a ergonomia pode contribuir com grande importância junto a esta doença que tanto agravo traz a sociedade.
Referências Bibliográficas
VARELA, FRANCISCO J. A mente incorporada: Ciências Cognitivas e Experiência Humana. Porto Alegre: Artmed. 2003.
SERRANO, RICARDO DA COSTA. Ergonomia. São Paulo: 1993
VERDUSSEN, ROBERTO. Ergonomia: A racionalização humanizada do trabalho. Rio de Janeiro: 1978.
MENEZES, JOÃO BEZERRA DE; MELLO, ANA PAULA SCABELLO. A cor da indústria – A que pode se prestar o tratamento cromático ambiental. Anais do 2º Congresso Latino Americano e 6º Seminário Brasileiro de Ergonomia, Florianópolis: 1993.
BODACHNE, L. As principais síndromes geriátricas in. Bakker Filo J. P; É permitido colher flores? Reflexões sobre o envelhecer. Curitiba: Champagnat, 2000.
GWYTHER, LISA P. Care of Alzheimer’s patients: a manual for nursing home staff. s/l.: 1987.
FISCHER, G.N. Psychologie des espaces de travail. Paris: Armond Colin, 1989.
BRAWLEY, ELIZABETH C. Designer for Alzheimer’s disease: strategies for creating better care environments. New York, USA: John Wiley & Sons, inc. 1997.
BIRREN, F. Color and human response. New York: Van Nostrand Reinhoid, 1978.
GRANDJEAN, E. Manual de Ergonomia: Adaptando o trabalho ao homem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
IIDA, I. Ergonomia: Projeto e Produção. São Paulo: Edgar Blucher, 2005.
PASCALE, MARIA. A. Alzheimer e Ergonomia: A contribuição dos fatores ambientais como recurso terapêutico nos cuidados de idosos portadores da demência do tipo Alzheimer. Tese de Mestrado, UFSC. 2002.