Débora da Silva Alves1, Luana Vasconcelos Campos¹, Klenda Pereira de Oliveira².
1 Acadêmica de Fisioterapia do Centro Universitário do Norte, Manaus – AM. E-mail: debora.silvaalves@hotmail.com.
¹ Acadêmica de Fisioterapia do Centro Universitário do Norte, Manaus – AM. E-mail: vasconcelosluana12@hotmail.com
² Fisioterapeuta Pós graduada em Traumato Ortopedia, Especialista em Neurofuncional e Professora do Centro Universitário do Norte, Manaus- AM. E-mail: fisioterapeutaklenda@live.com.
RESUMO
Introdução: O câncer é o resultado do acúmulo de diversas mutações celulares causadas pela exposição a carcinógenos. Até o mês de abril de 2020, no Brasil, foram diagnosticados 66.280 novos casos de câncer de mama cujo tratamento varia de acordo com o estágio da doença em cada paciente – um deles é a mastectomia radical, que causa diveros efeitos colaterais. Existem diversos tipos de mastectomia: simples, poupadora de pele, poupadora de mamilo, radical, radical modificada e mastectomia dupla. Objetivo: Identificar as alterações fisiológicas do pós-operatório de mastectomia radical unilateral. Metodologia: Foi realizada a pesquisa booleana com três descritores (Mastectomia Radical, Oncologia e Fenômenos Fisiológicos Musculoesqueléticos) em três bases de dados: Google Scholar, Scielo e LILACS durante o período de 2015 a 2019. Resultados: Nos 16 artigos incluídos na síntese, as principais alterações fisiológicas e biomecâncias encontradas foram dor, alterações miofasciais, diminuição da amplitude de movimento, linfedema e alterações posturais. As menos comuns foram alterações estomatognáticas, respiratórias, fadiga e complicações locais como seroma e deiscência. Conclusão: A mastectomia radical unilateral provoca diversas alterações fisiológicas e biomecânicas nas pacientes que se submetem a esse tratamento. A fisioterapia se mostrou eficiente na diminuição dessas complicações, mas não foi possível identificar uma técnica ou protocolo mais eficiente que outro.
Palavras-chave: Mastectomia Radical; Oncologia; Fenômenos Fisiológicos Musculoesqueléticos.
ABSTRACT
Introduction: Cancer is the result of the accumulation cellular mutations caused by exposure to carcinogens. By April 2020, in Brazil, 66.280 new cases of breast cancer had been diagnosed, the treatment of which varies according to the stage of the disease in each patient – one of them is radical mastectomy, which causes several side effects. There are several types of mastectomy: simple, skin- saving, nipple-saving, radical, modified radical and double mastectomy. Objective: To identify the
physiological changes in the postoperative period of unilateral radical mastectomy. Methodology: A Boolean research was carried out with three descriptors (Mastectomy, Radical; Medical Oncology and Musculoskeletal Physiological Phenomena) in three databases: Google Scholar, Scielo and LILACS during the period from 2015 to 2019. Results: In the 16 articles included in the synthesis, the main physiological changes and biomechanics found were pain, myofascial changes, decreased range of motion, lymphedema and postural changes. The least common were stomatognathic, respiratory changes, fatigue and local complications such as seroma and dehiscence. Conclusion: Unilateral radical mastectomy causes several physiological and biomechanical changes in patients who undergo this treatment. Physical therapy proved to be effective in reducing these complications, but it was not possible to identify one technique or protocol more efficient than another.
Keywords: Mastectomy, Radical; Medical Oncology; Musculoskeletal Physiological Phenomena.
INTRODUÇÃO
O câncer é uma doença responsável por 100 a 350 mortes a cada 100 mil pessoas por ano. Ele ocorre quando mecanismos de regulação de crescimento da célula estão alterados ou falhos, causando divisão celular excessiva. Ele é resultado do acúmulo de diversas mutações causadas pela exposição prolongada a carcinógenos, isso demanda tempo e é por isso que a maior parte dos cânceres existe na fase adulta (LODISH et al., 2014).
As mamas, ou glândulas mamárias, são acessórios de reprodução bem desenvolvidos nas mulheres. Até o mês de abril de 2020, no Brasil, foram diagnosticados 66.280 novos casos de câncer de mama. Este não possui uma única causa: ”idade, fatores endócrinos/história reprodutiva, fatores comportamentais/ambientais e fatores genéticos/hereditários” (INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER, 2020).
O tratamento do câncer de mama varia de acordo com o estádio da doença em cada paciente e pode ser local ou sistêmico (INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER, 2020).Pacientes com câncer de mama têm respostas diferentes aos tratamentos, inclusive nas evoluções. De acordo com Lodish et al. (2014), quimioterapia e terapias hormonais reduzem o risco de metástase em aproximadamente 30%, no entanto, desses 30%, 70 a 80% viveria sem o tratamento. Isso provoca certa criticidade ao determinar se o paciente deve receber o tratamento quimioterápico ou um tratamento mais invasivo, como a mastectomia.
Existem diversos tipos de mastectomia: simples, poupadora de pele, poupadora de mamilo, radical, radical modificada e mastectomia dupla – qualquer mastectomia mencionada anteriormente feita de forma bilateral (AMERICAN CANCER SOCIETY, 2019).
A fisioterapia possui papel fundamental na reabilitação das pacientes mastectomizadas e isso acontece através de diferentes abordagens que visam diminuir os efeitos negativos funcionais da mastectomia: “desbloqueio articular, alongamento fisioterapêutico, cinesioterapia e drenagem linfática manual” (PEREIRA et al., 2015). Nesse contexto, o presente trabalho tem como objetivo evidenciar as alterações posturais decorrentes do pós-operatório de mastectomia radical unilateral.
Trata-se de uma revisão integrativa de literatura cujo propósito é realizar uma síntese do conhecimento de diversos materiais e a incorporação de resultados na prática (DE SOUZA; DA SILVA; DE CARVALHO, 2010). De acordo com Sousa et al. (2017), esse tipo de estudo deve delimitar um assunto e formular uma pergunta. Assim, questiona-se: quais as alterações fisiológicas e biomecânicas do pós- operatório de mastectomia radical unilateral? Existem intervenções terapêuticas mais indicadas?
REVISÃO DE LITERÁTURA
As mamas, ou glândulas mamárias, são acessórios de reprodução bem desenvolvidos nas mulheres; são localizadas no tecido subcutâneo anterior aos músculos peitorais e fixada por ligamentos suspensores (de Cooper). O seu volume é caracterizado pela quantidade de gordura (definido por condições hereditárias) e durante o ciclo menstrual ou gravidez as mamas sofrem modificações, como a ramificação dos ductos lactíferos (MOORE; DALLEY II, 2001). O tamanho das mamas interfere na capacidade funcional das mulheres. De acordo com o estudo de Araújo et al. (2007), quanto maior a mama, maior a dificuldade de realizar atividades diárias.
A mama é irrigada por ramos das artérias torácica interna, axilar e da parte torácica da aorta. Sua drenagem venosa é feita pela veia axilar e a linfática pelo plexo linfático subareolar, que drena para diversos linfonodos importantes na disseminação de metástases de células cancerosas (MOORE, DALLEY II, 2001).
Valério (2012) diz que diversos problemas podem envolver a mama: mastalgia, cistos, doença fibrocística das mamas, fibroadenoma mamário, secreções, infecções e abcessos e câncer de mama, que é o tumor mais recorrente em mulheres no Brasil.
De acordo com Moore e Dalley II (2001), é importante conhecer e compreender a anatomia e drenagem linfática das mamas para que se possa estabelecer um prognóstico aos pacientes com câncer.
O câncer é uma doença responsável por 100 a 350 mortes a cada 100 mil pessoas por ano. Ele ocorre quando mecanismos de regulação de crescimento da célula estão alterados ou falhos, causando divisão celular excessiva. Para que isso aconteça é preciso haver mutações genéticas em uma das três classes de genes – proto-oncogenes, genes supressores tumorais ou genes caretaker (LODISH et al., 2014):
Função normal dos genes | Exemplos de produtos gênicos | Efeito da mutação | Propriedade s genéticas do gene mutante | Origem das mutações | |
Proto- oncogenes | Promovem sobrevi- vência ou proliferação celular | Proteínas antiapoptóticas, componentes da sinalização e vias de transdução de sinal que resultam na proliferação, fatores de crescimento | Mutações de ganho de função permitem proliferação desregulada e sobrevivência das células | Mutações são dominantes genetica- mente | Surgem por mutações pontuais, translocação cromos- somal, amplificação |
Genes supres- sores de tumor | Inibem a sobrevivên cia ou proliferação celular | Proteínas promotoras de apoptose, inibido- res da progressão do ciclo celular, proteínas do controle dos pontos de verificação que avaliam danos ao DNA e cromossomais, componentes de vias de sinalização que | Mutações de perda de função permitem proliferação desregulada e sobrevivência das células | Mutações são reces- sivas geneti- camente | Surgem por deleção, mutações pontuais, metilação |
restringem a proliferação celular | |||||
Genes | Reparam | Enzimas de reparo ao | Mutações de | Mutações | Surgem por |
caretaker | ou | DNA | perda de | são | deleção, |
previnem | função | recessivas | mutações | ||
danos ao | permitem | genetica- | pontuais, | ||
DNA | acúmulo das | mente | metilação | ||
mutações |
O câncer é resultado do acúmulo de diversas mutações causadas pela exposição prolongada a carcinógenos, isso demanda tempo e é por isso que a maior parte dos cânceres existe na fase adulta. Essas mutações acontecem principalmente em células somáticas, o que significa que não são hereditárias, e adquirem vantagem sobre outras, como angiogênese e evasão para ouros tecidos (LODISH et al., 2014).
Lodish et al. (2014) afirma ainda que, microscopicamente, as células cancerosas podem ser distinguidas de células normais ou tumores benignos graças à relação núcleo-citoplasma. No entanto, não é apenas o crescimento acelerado que denuncia um câncer, todo o metabolismo é alterado: ao invés de usar a fosforilação oxidativa para obtenção de energia, utilizam a glicólise e produzem grande quantidade de lactato mesmo c om a presença de oxigênio no meio.
De acordo com o INCA, Instituto Nacional de Câncer, o tratamento do câncer pode ser feito através de cirurgia, quimioterapia, radioterapia ou transplante (nos casos de câncer de medula óssea) (INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER, 2020).
A cirurgia, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (2020) é um dos tripés de tratamento (junto com quimioterapia e radioterapia) e tem como objetivo a retirada total do tumor e avaliação da extensão do câncer.
A radioterapia, por sua vez, “é um tratamento no qual se utilizam radiações ionizantes (raio-x, por exemplo), que são um tipo de energia para destruir ou impedir que as células do tumor aumentem”, diminuindo a pressão do tumor sobre os tecidos, meorragias, dores e outros sintomas. Ela pode sex externa, emitida por um aparelho, ou braquiterápica, aplicadas diretamente sobre o tumor através de cateteres e aplicadores (INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER, 2020).
Já a quimioterapia é um tratamento farmacológico menos invasivo que pode ser feita por via oral, intravenosa, intramuscular, subcutânea, intratecal ou tópica (INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER, 2020); A quimioterapia possui diversos efeitos colaterais: no estudo de Gozzo et al. (2013), realizado com 79 mulheres diagnosticadas com câncer de mama e que estavam realizando quimioterapia, 93% apresentou náusea e 87% apresentou vômito.
Nos Estados Unidos, na década de 1950, foi adotado como estratégia de diminuição de diagnóstico em estágio avançado de câncer de mama o autoexame. Ele é colocado como importante, embora não diminua a morbimortalidade da doença e a mamografia seja o único meio de rastreamento com eficácia comprovada. (INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER, 2020).
Em 2020, no Brasil, foram diagnosticados 66.280 novos casos de câncer de mama. Este não possui uma única causa: ”idade, fatores endócrinos/história reprodutiva, fatores comportamentais/ambientais e fatores genéticos/hereditários”. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (2020), ele é mais propenso em mulheres com mais de 50 anos, que fazem uso de bebida alcoólica, tabagistas ou com mutações nos genes BRCA1 e BRCA2, responsáveis pela síndrome de câncer de mama e de ovário hereditários (70% dos casos genéticos) e genes TP53 e PTEN, responsáveis, responsáveis pelas síndromes de Li-Fraumeni e Cowden respectivamente.
O diagnóstico de câncer de mama deve ser feito com exame clínico, de imagem e análise histopatológica, estes realizados através de biópsia percutânea, biópsia cirúrgica, biópsia por agulha ou punção aspirativa por agulha fina (INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER, 2020).
O tratamento do câncer de mama varia de acordo com o estádio (as características) da doença em cada paciente: se está no início ou se há metástases. O tratamento pode ser local (com cirurgia e/ou radioterapia e reconstrução mamária) ou sistêmico (quimioterapia, hormonioterapia e terapia biológica). Nos estádios I e II a conduta é cirurgia conservadora (retirada apenas do tumor ou mastectomia com reparação); No estádio III o tratamento é sistêmico (geralmente quimioterapia) mais a cirurgia e radioterapia; Já no estádio IV a recomendação de tratamento é o sistêmico (INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER, 2020).
Pacientes com câncer de mama têm respostas diferentes aos tratamentos, inclusive nas evoluções. De acordo com Lodish et al. (2014), quimioterapia e
terapias hormonais reduzem o risco de metástase em aproximadamente 30%, no entanto, desses 30%, 70 a 80% viveria sem o tratamento. Isso provoca certa criticidade ao determinar se o paciente deve receber o tratamento quimioterápico ou um tratamento mais invasivo, com retirada do tumor ou mastectomia.
A mastectomia (tratamento de 40% das pacientes diagnosticadas com câncer de mama) é um tratamento cirúrgico invasivo extremamente traumatizante que possui implicações biopsicossocioespirituais para a mulher. (TALHAFERRO; LEMOS; DE OLIVEIRA, 2007). De acordo com a American Cancer Society (2019), ela ocorre quando a mulher não pode ser tratada de forma conservadora ou quando há risco de ressurgir o câncer (neste último caso, algumas mulheres optam por retiraras duas mamas).
Existem diversos tipos de mastectomia: simples, poupadora de pele, poupadora de mamilo, radical, radical modificada e mastectomia dupla – qualquer mastectomia mencionada anteriormente feita de forma bilateral (AMERICAN CANCER SOCIETY, 2019):
Mastectomia | Tecido removido |
Simples | Mama, mamilo, aréola, pele e às vezes linfonodos axilares |
Poupadora de pele | Tecido mamário, mamilo e aréola |
Poupadora de mamilo | Tecido mamário |
Radical | Mama, linfonodos axilares e músculo peitoral |
Radical modificada | Mama, mamilo, aréola, pele e linfonodos axilares |
Mastectomia dupla | A depender do estádio |
De acordo com a American Cancer Society (2019), a mastectomia tem os seguintes efeitos colaterais: dor, inchaço na parte superior do braço, hematoma, seroma, limitação nos movimentos do membro superior, dormência na mama ou no braço, dor neuropática na parede torácica, axila e/ou braço e linfedema, se os linfonodos axilares forem removidos.
A mastectomia radical só é realizada quando há necessidade de retirada de tumores grandes que invadem o músculo peitoral (AMERICAN CANCER SOCIETY, 2019). Em mulheres mastectomizadas radicalmente, existem diversas alterações fisiológicas que impactam no cotidiano das mesmas: essas vão desde redução da
amplitude de movimento do ombro, principalmente nos movimentos de flexão e abdução (GOUVEA et al., 2008; BARAÚNA et al., 2004) à síndrome da mama fantasma (FARIA; FREITAS JÚNIOR, 2016).
Para as mulheres que passaram por mastectomia radical há a opção de reconstrução mamária, podendo ser feita após ou durante a mastectomia. De acordo com o estudo de Martins et al. (2017), o momento da reconstrução mamária não interfere na dor, funcionalidade e qualidade de vida dessas pacientes. Sabe-se que a mastectomia tem como tratamento padrão a retirada dos linfonodos axilares e isso causa diversas complicações no membro homolateral ao procedimento realizado: linfedema, dor, parestesia, diminuição da força muscular e redução da amplitude de movimento (BATISTON; SANTIAGO, 2005).
Gouvea et al. (2008) afirma que pacientes mastectomizadas radicalmente devem ter acompanhamento fisioterapêutico desde o primeiro dia do pós-operatório. A fisioterapia possui papel fundamental na reabilitação das pacientes mastectomizadas e isso acontece através de diferentes abordagens: “desbloqueio articular, alongamento fisioterapêutico, cinesioterapia e drenagem linfática manual” (PEREIRA et al., 2015).
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa de literatura. O propósito desse tipo de estudo é realizar uma síntese do conhecimento de diversos materiais e a incorporação de resultados na prática (DE SOUZA; DA SILVA; DE CARVALHO, 2010). O período de realização do estudo foi aproximadamente de 03 meses. Ocorreu entre os meses de agosto a outubro de 2020.
De Souza, Da Silva e De Carvalho (2010) afirmam que, em uma revisão integrativa de literatura, existe a necessidade de uma abordagem ampla acerca de diversas metodologias, incluindo estudos experimentais e não experimentais. De acordo com Sousa et al. (2017), esse tipo de estudo deve delimitar um assunto e
formular uma pergunta. Nesse contexto, questiona-se: quais as alterações fisiológicas e biomecânicas do pós-operatório de mastectomia radical unilateral? E quais as intervenções terapêuticas mais indicadas?
Para a coleta de dados, foram utilizadas três bases de dados para a busca eletrônica: Google Scholar, Scielo e LILACS. Foi feita a busca de artigos que abordam as alterações fisiológicas e biomecânicas decorrentes do pós-operatório de mastectomia radical unilateral durante o período de 2015 a 2019.
Foi realizada a pesquisa booleana com três descritores registrados no DeCS, Descritores em Ciências da Saúde – Mastectomia Radical, Oncologia e Fenômenos Fisiológicos Musculoesqueléticos – e incluídos outros estudos considerados importantes sobre o tema, embora não fossem encontrados na busca sistematizada dos artigos pelas bases de dados descritas.
Foram incluídos os estudos de livre acesso, disponíveis na íntegra e em língua portuguesa, inglesa ou espanhola e excluídos todos os artigos de revisão, guidelines, artigos que não eram da área da saúde e os que não respondiam à questão norteadora.
Após a coleta de dados, foi identificar as alterações fisiológicas do pós- operatório de mastectomia radical unilateral. Foi realizada uma análise crítica dos materiais encontrados e tabelados os autores, os títulos, ano, objetivos e resultados dos artigos relevantes ao estudo.
Para que os aspectos éticos fossem mantidos, as citações e referenciações textuais usadas seguiram as normas da ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas e todas as referências e nomes dos autores dos artigos encontrados foram preservados.
Fluxograma 1: artigos encontrados nas bases de dados eleitos para a revisão integrativa de literatura. Fonte: Autor (2020).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Este estudo teve como referência 16 artigos encontrados nas bases de dados descritas na metodologia. Após uma análise crítica de todos os artigos encontrados e escolhidos para compor a síntese, foi possível identificar diversas alterações fisiológicas em mulheres pós mastectomizadas unilateralmente.
A dor foi a alteração mais referida nos estudos (SCHLEMMER; VENDRUSCULO;FERREIRA,2019; ZANON, 2017; FERREIRA, 2016; ROLDAN, 2016; PEREZ, 2015; DE OLIVEIRA, 2018; ALVES et al., 2017; RANGEL; FERNANDES; CAROLINO, 2015; LINHARES, 2019; BRAZ, 2016). Fernandes e Carolino (2015) e Moreira e Pivetta (2016) afirmam em seus estudos que as dores mais frequentes são no pescoço e ombro homolateral ao feito a cirurgia. Outra coisa referida por Perez (2015) foram os pontos de gatilho no ombro e pescoço, que se manifestados de forma exacerbada podem configurar uma síndrome miofascial, podendo ser um dos motivos de dor em pacientes mastectomizadas. Alterações miofasciais, como retrações e aderências cicatriciais causadas pela cirurgia, podem provocar diversas repercussões funcionais negativas como sobrecarga biomecânica e diminuição da funcionalidade do membro superior (BRAZ, 2016).
Outro motivo da diminuição dessa funcionalidade é a diminuição da ADM, amplitude de movimento, corroborada por diversos autores (SCHLEMMER; VENDRUSCULO; FERREIRA, 2019; ROLDAN, 2016; FURLAN-SANTOS, 2016; ALVES et al., 2017; LINHARES, 2019; MOREIRA; PIVETTA, 2016; NOGUEIRA, 2018). Moreira e Pivetta (2016) diz que a limitação no ADM pode ser causa de diversos fatores: extensão da abordagem cirúrgica, realização de radioterapia no pós-operatório, infecções ou até mesmo secção de nervo torácico durante a cirurgia.
Furlan-Santos (2016) mencionou em seu estudo que há a diminuição da flexão e abdução do membro superior principalmente nos primeiros 60 dias de pós- operatório. Para Alves (2017), qualquer limitação de ADM superior a 30º é incompatível com as atividades diárias e seu estudo aponta que a grande maioria das mulheres mastectomizadas apresentava essa limitação homolateral à cirurgia, prejudicando a execução dos seguintes movimentos: flexão, rotação externa e abdução. Linhares (2019) relatou diminuição da ADM em flexão, abdução, adução e extensão do membro superior homolateral à cirurgia.
A mastectomia radical apresenta outro grande problema: a junção da dor e da limitação da ADM provoca diversas alterações posturais compensatórias que não são tão frequentes naquelas que realizaram uma cirurgia mais conservadora (RANGEL; FERNANDES; CAROLINO, 2015). Essa alteração postural pode ocorrer por uma desordem causada pela retirada da mama e do músculo peitoral maior. Anteriorização do troco, alterações no alinhamento da coluna e compensações cifóticas e lordóticas são alguns achados (LOPES, 2016; FERREIRA; 2016). Os músculos que exercem atividade na cintura escapular ficam mais ativos na tentativa de controlar elevação, prostração e rotação de ombro (FERREIRA, 2016); a contratura na região cervical e na cintura escapular homolateralmente à cirurgia provocam abdução escapular e elevação do ombro (ALVES et al., 2017). Esposto (2017), além de encontrar assimetrias nos ângulos esternoclavicular e inferior da escápula, também identificou alterações no quadrante inferior: no ângulo das espinhas ilíacas ântero e póstero-superiores, do joelho e flexo do joelho e no ângulo tibiotársico, todos homolaterais à cirurgia.
Perez (2015) diz que quando há a retirada do peitoral maior, na mastectomia radical, os movimentos de flexão horizontal, adução e rotação interna do braço ficam prejudicados. Quando há a retirada também do peitoral menor, que é mais profundo, o movimento de rotação inferior da escápula fica impossibilitado. A hipertrofia do trapézio, causada por compensação, é capaz de alterar desde o equilíbrio ao ciclo de marcha, interferidos também pelo deslocamento do centro de gravidade após a retirada unilateral da mama (LOPES, 2016; PEREZ, 2015). No entanto, no estudo de Moura et al. (2019), mulheres com câncer de mama não apresentaram desequilíbrio. Uma complicação muito frequente, também, na mastectomia radical é a presença de linfedema (SCHLEMMER; VENDRUSCULO; FERREIRA, 2019; ROLDAN, 2016; FURLAN-SANTOS, 2016; RANGEL; FERNANDES;CAROLINO, 2015; LINHARES, 2019; BRAZ, 2016). Rangel, Fernandes e Carolino (2015) realizaram um estudo que diz que – junto à dor, dificuldade em elevar o membro superior e cervicalgia – o linfedema é mais frequente em mulheres mais velhas e nas que realizaram mastectomia radical. Furlan-Santos (2016) afirma que a drenagem linfática manual é um bom tratamento para essa complicação, pois ”melhora a circulação linfática, especialmente a circulação subcutânea e promove a remoção do fluido intersticial”.
Outros achados durante a pesquisa foram: capsulite adesiva do ombro (LINHARES, 2019), fadiga (DE OLIVEIRA, 2018; NOGUEIRA, 2018), alterações no sistema estomatognático: diminuição da eficiência da mastigação, menor força na mordida molar máxima (ESPOSTO, 2017), diminuição da força respiratória (MOREIRA; PIVETTA, 2016), deiscência e seroma (FURLAN-SANTOS, 2016).
Diversos autores apontam a fisioterapia como essencial à reabilitação de mulheres mastectomizadas (SCHLEMMER; VENDRUSCULO; FERREIRA, 2019; LOPES, 2016; RANGEL; FERNANDES; CAROLINO, 2015; NOGUEIRA, 2018).
Furlan-Santos (2016) diz que nos primeiros seis meses de pós-operatório a atividade física favorece a prevenção de doenças no ombro. Para o linfedema, pode-se utilizar a drenagem linfática manual (FURLAN-SANTOS, 2016; LINHARES, 2019) associado ao enfaixamento compressivo com atadura (LINHARES, 2019); o RPG diminui as alterações biomecânicas (ALVES et al; 2017); para os quadros álgicos a cinesioterapia pode ser uma aliada, assim como o TENS, neuro estimulação elétrica transcutânea, (LINHARES, 2019) e a liberação miofascial (BRAZ, 2016); a PNF, facilitação neuromuscular proprioceptiva, também se mostrou eficiente; e a aquaterapia foi eficiente na melhora da ADM (SCHLEMMER; VENDRUSCULO; FERREIRA, 2019).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A mastectomia radical unilateral provoca diversas alterações fisiológicas e biomecânicas nas pacientes que se submetem a esse tratamento, sendo dor, alterações miofasciais, diminuição da amplitude de movimento, linfedema e alterações posturais as mais comuns. É possível ainda encontrar alterações estomatognáticas, respiratórias, fadiga e complicações locais como seroma e deiscência.
Embora a fisioterapia tenha se mostrado eficiente na resolutividade ou amenização dessas complicações, não foi possível identificar, nessa revisão integrativa de literatura, uma técnica ou protocolo mais eficiente que outro, podendo ser mescladas diversas técnicas que promovam a melhoria das complicações apresentadas em cada indivíduo.
O fisioterapeuta deve ser capaz de indicar o melhor tratamento à sua paciente fazendo uso da prática baseada em evidência, mas sem esquecer-se do princípio da individualidade biológica, que diz que cada indivíduo reage de formas diferentes a um estímulo.
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