ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O LUGAR DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202502281605


Edson Siqueira de Brito1 ,
José Amauri Siqueira da Silva,
Suzana Gusmão Lima.


RESUMO

Pesquisas realizadas e publicadas no final de 2020 indicaram que o Brasil ainda enfrentava um elevado índice de analfabetismo, totalizando cerca de 11 milhões de pessoas sem domínio da leitura e da escrita. Esse cenário evidencia a permanência do analfabetismo ao longo da história da educação brasileira, intensificado por desigualdades socioeconômicas e pela falta de investimentos na formação de professores para atuar na Educação de Jovens e Adultos (EJA).Objetivo: Esta pesquisa tem como objetivo analisar o papel da EJA na inserção e permanência dos alunos no mercado de trabalho, bem como discutir a formação inicial dos professores nas instituições de ensino superior, destacando seu papel como mediadores do processo pedagógico. Metodologia: Trata-se de uma pesquisa qualitativa e descritiva baseada em revisão bibliográfica, incluindo a análise de livros, teses, artigos acadêmicos, documentos oficiais, jornais e revistas disponíveis em meio digital. Resultados: Os resultados indicam que, embora o Estado reconheça a necessidade de um processo formativo mais eficaz e comprometido com os docentes da EJA, ainda enfrenta desafios na superação dessa questão. Além disso, a atual configuração da EJA enfatiza não apenas uma educação compensatória, mas também sua potencialidade na formação para a cidadania, promovendo melhores condições para a inserção e permanência dos indivíduos no mercado de trabalho.

Palavras-chave: Diretrizes Curriculares Nacionais. Diversidade. Processo de conhecimento.

RESUMEN

Las investigaciones realizadas y publicadas a finales de 2020 indicaron que Brasil aún enfrentaba una alta tasa de analfabetismo, con un total de aproximadamente 11 millones de personas sin dominio de la lectura y la escritura. Este escenario evidencia la persistencia del analfabetismo a lo largo de la historia de la educación brasileña, intensificada por las desigualdades socioeconómicas y la falta de inversión en la formación de docentes para la Educación de Jóvenes y Adultos (EJA).Objetivo: Esta investigación tiene como objetivo analizar el papel de la EJA en la inserción y permanencia de los estudiantes en el mercado laboral, así como discutir la formación inicial de los docentes en las instituciones de educación superior, destacando su papel como mediadores del proceso pedagógico.Metodología: Se trata de una investigación cualitativa y descriptiva basada en una revisión bibliográfica, que incluye el análisis de libros, tesis, artículos académicos, documentos oficiales, periódicos y revistas disponibles en medios digitales. Resultados: Los resultados indican que, aunque el Estado reconoce la necesidad de un proceso de formación más eficaz y comprometido con los docentes de la EJA, aún enfrenta desafíos para superar esta cuestión.

Además, la configuración actual de la EJA enfatiza no solo una educación compensatoria, sino también su potencial en la formación para la ciudadanía, promoviendo mejores condiciones para la inserción y permanencia de los individuos en el mercado laboral.

Palabras clave: Lineamientos Curriculares Nacionales. Diversidad. Proceso de conocimiento.       

1. INTRODUÇÃO

A Educação de Jovens e Adultos (EJA) tem ganhado destaque nos últimos anos, especialmente no que diz respeito à formação dos educadores e às diretrizes pedagógicas que orientam sua prática. A Constituição de 1988 reconheceu a educação escolar como um direito universal, garantindo acesso gratuito, inclusive àqueles que não completaram a educação básica na idade adequada. Contudo, apesar da reestruturação de currículos em algumas instituições de ensino superior, muitos professores da EJA ainda apresentam formação insuficiente para atuar eficazmente nessa modalidade, o que se configura como um dos maiores obstáculos à qualidade do ensino oferecido.

Além disso, a EJA enfrenta desafios significativos quanto à inserção e permanência de seus alunos no mercado de trabalho, o que exige uma abordagem educacional robusta, voltada para as demandas sociais e econômicas desse público. Nesse cenário, a pesquisa teve como objetivo investigar a qualidade dos cursos de formação inicial de professores para a EJA, buscando avaliar de que maneira a formação pedagógica pode contribuir para a inclusão desses alunos no mercado de trabalho. A relevância social da pesquisa é inegável, uma vez que a EJA desempenha papel fundamental na promoção da justiça social, oferecendo aos alunos a chance de acessar a educação e desenvolver suas potencialidades humanas, além de contribuir para a construção de sua identidade como sujeitos históricos e sociais.

O estudo visou, ainda, discutir a história e a legislação da EJA, analisar os desafios enfrentados por seus alunos e entender as causas que motivam a demanda por essa modalidade de ensino. Também se destacou a importância de uma formação docente que considere as especificidades da EJA e as implicações dessas particularidades no processo de ensino-aprendizagem. A metodologia utilizada foi uma revisão bibliográfica qualitativa e descritiva, com análise de artigos publicados entre 2017 e 2022, além da consulta a documentos acadêmicos e literatura especializada.

2. IDENTIFICAÇÃO DAS VARIÁVEIS

As variáveis foram definidas como dependentes e independentes com base nas hipóteses levantadas:

  • Variáveis dependentes:oEnsino da Língua Portuguesa oAmbiente Escolar
  • Variáveis independentes:oAlunos e Escola oProfissionais da Educação
2.1. Definição Conceitual das Variáveis
  • Ensino da Língua Portuguesa:Piaget (1995) destaca que o meio social é fundamental para a assimilação cognitiva, sendo necessário que o aluno se sinta motivado e interessado na aprendizagem para alcançar a fixação do conteúdo. Caso contrário, o aluno apenas memoriza para uma prova e logo esquece.
  • Ambiente Escolar: Maturana (1993) defende que educar é criar um espaço de convivência desejável para todos, onde se constrói conhecimento e reflexão sobre as ações realizadas, com foco no desenvolvimento coletivo e na criação de ambientes de aprendizagem.
  • Profissionais da Educação: De acordo com a LDBEN, são considerados docentes os profissionais que exercem efetivamente à docência em qualquer nível da educação escolar, especialmente no ensino presencial em sala de aula.

Esse recorte da pesquisa busca contribuir para a compreensão das especificidades da EJA, com foco na formação de professores e no impacto que a metodologia e o ambiente escolar têm sobre a aprendizagem dos alunos dessa modalidade.

2.2. Definição Operacional Das Variáveis –

Tabela 01: Variáveis – Fonte: Próprio autor/2021.

3. METODOLOGIA

Este estudo foi qualitativo, descritivo e de campo, analisando os desafios do ensino-aprendizagem no 2º Segmento da EJA em Maraã/AM. A pesquisa seguiu os princípios de Yin (2001), garantindo coerência entre o tipo de estudo e seus objetivos.

Os dados foram coletados por questionários e entrevistas semiestruturadas com 07 professores da Escola Estadual Berta Sorlat, permitindo compreender suas percepções sobre metodologias e práticas pedagógicas. Para assegurar rigor científico, utilizou-se a triangulação de dados, combinando diferentes fontes e métodos.

O estudo investigou as condições de ensino e os desafios enfrentados na EJA, contribuindo para reflexões sobre inclusão educacional e permanência dos alunos, além de auxiliar no aprimoramento das práticas pedagógicas.

4. ABORDAGEM DE PESQUISA

A pesquisa adotou uma abordagem qualitativa, com o objetivo de aprofundar as questões de pesquisa por meio da interpretação, sem medições numéricas (SAMPIERI, COLLADO, LUCIO, 2013). O estudo foca na análise da “Educação de Jovens e Adultos: Desafios no Processo Ensino-Aprendizagem do 2º Segmento no Município de Maraã-AM/Brasil, em 2021”, utilizando metodologia qualitativa e pesquisa não experimental e descritiva. Foram seguidos dois passos principais: a pesquisa bibliográfica, que fundamentou teoricamente o estudo, e a pesquisa de campo, essencial para a coleta de dados e compreensão de aspectos novos da realidade investigada. O trabalho de campo, conforme Estelbina (2014), é fundamental para a investigação, representando um diálogo constante entre teoria e prática.

Para responder às questões de pesquisa, foram usados dois instrumentos de coleta de dados: a entrevista estruturada e o questionário semiestruturado, aplicados a professores e alunos da escola. A análise dos dados seguiu os princípios de Patton (1980), buscando resultados claros e significativos, e foi realizada com rigor e atenção. A pesquisa envolveu um número reduzido de participantes, mas com uma análise profunda dos aspectos psicossociais que influenciam a prática educacional (Estelbina, 2014). O objetivo foi gerar impacto positivo na compreensão dos desafios enfrentados pela Educação de Jovens e Adultos, especialmente no 2º Segmento, promovendo reflexão sobre a prática pedagógica e sugerindo melhorias no processo de ensinoaprendizagem.

A amostra foi composta por 30 participantes (25 alunos do 2º Segmento da EJA e 5 professores de Língua Portuguesa) da Escola Estadual Berta Sorlat em Maraã AM. A amostra foi selecionada de forma intencional, sem aplicação de técnicas estatísticas, focando na profundidade das informações. A escolha dessa amostra foi adequada para coletar dados relevantes e representativos, visando contribuir tanto para o conhecimento acadêmico quanto para a prática pedagógica, com foco no aprimoramento da educação de jovens e adultos.

4.1. TÉCNICAS E INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS 

Para a coleta de dados e para responder às questões de pesquisa, foram utilizados diversos instrumentos e técnicas. A pesquisa envolveu a aplicação de entrevistas, pesquisa bibliográfica, pesquisa de campo e questionários. A entrevista, com um roteiro semiestruturado, foi fundamental para permitir ajustes e esclarecimentos ao longo do processo, conforme destacado por Ludke e André (1986), facilitando a obtenção de informações precisas. O questionário foi aplicado a todos os alunos da EJA da Escola Estadual Berta Sorlat, no turno noturno, sendo selecionados 10 alunos para análise. Além disso, questionários com perguntas abertas e fechadas foram aplicados a 5 professores da mesma instituição, proporcionando uma visão ampla sobre os desafios educacionais enfrentados.

A pesquisa também contou com uma análise bibliográfica, embasada em livros de autores renomados, dissertações, artigos científicos contemporâneos, e outros materiais acadêmicos. A pesquisa de campo foi crucial, registrando observações e anotações feitas durante as interações com os participantes. O questionário semiestruturado foi o principal instrumento de coleta de dados, essencial para o desenvolvimento do estudo. Esse conjunto de técnicas permitiu uma análise qualitativa detalhada dos dados, visando um entendimento profundo dos desafios no processo de ensino-aprendizagem da Educação de Jovens e Adultos.

5. MARCO ANALÍTICO

Este capítulo apresenta as análises dos resultados obtidos a partir da pesquisa realizada em campo. A coleta e codificação dos dados foram seguidas pela tabulação e interpretação analítico-descritiva, conforme os instrumentos aplicados. De acordo com Ludke e André (1986), os dados foram analisados de forma cautelosa e coerente, buscando contribuir com novos conhecimentos sobre o tema.

A análise foi baseada nos instrumentos utilizados, começando com uma pesquisa bibliográfica, que envolveu a análise de livros, artigos e outros materiais sobre a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Esse embasamento teórico permitiu aprofundar a reflexão sobre os desafios enfrentados por docentes e discentes no 2º Segmento da EJA.

Os dados dos questionários foram organizados, com as respostas das perguntas abertas dispostas em tabelas e quadros, permitindo uma análise detalhada das variáveis da pesquisa. A pesquisa buscou investigar os desafios vivenciados pelos educadores e estudantes da EJA no processo ensino-aprendizagem, e os questionários aplicados possibilitaram a verificação das hipóteses iniciais e a relevância dos objetivos propostos.

Os dados obtidos foram agrupados em categorias para facilitar a análise qualitativa e representados em quadros e tabelas, proporcionando uma visão clara sobre os desafios enfrentados pelos educadores e a importância da EJA no contexto atual.

Quadro 02. Divisão categorial da análise qualitativa

Fonte: Próprio autor/2021.

Quanto à metodologia utilizada pelos docentes, é essencial que o educador planeje atividades conectadas ao cotidiano dos alunos, valorizando seus conhecimentos e experiências. Isso possibilita a aprendizagem da linguagem oral e escrita de forma significativa, dinâmica e criativa.

5.1 Perfil dos participantes da pesquisa – Alunos

O Gráfico 01 representa a variação de idades dos 25 alunos participantes da pesquisa, cuja faixa etária varia entre 22 e 25 anos. Do total, 40% têm 25 anos, enquanto os demais se distribuem igualmente, com 20% em cada idade.

Fonte: Pesquisa de campo realizada com os alunos da EE. Berta Sorlat, Maraã-AM, 2021.

Já o Gráfico 02 indica a predominância feminina na turma, com 70% de mulheres e 30% de homens. Muitas mulheres buscam a EJA como forma de emancipação e igualdade de direitos, conciliando os estudos com a maternidade e o trabalho. Algumas deixam os filhos com parentes ou até os levam para a escola. Por outro lado, os homens frequentam menos a EJA, geralmente devido às responsabilidades financeiras da família, que dificultam a conciliação entre trabalho e estudo.

Fonte: Pesquisa de campo realizada com os alunos da EE. Berta Sorlat, Maraã-AM, 2021.

Conforme o Gráfico 03, todos os alunos participantes da pesquisa estudam no Segundo Segmento da EJA – 1ª Etapa, evidenciando o interesse em concluir essa fase e dar continuidade à trajetória escolar.

Na E.E. Berta Sorlat, em Maraã, a Proposta Curricular da EJA prioriza a construção da cidadania, oferecendo ensino de qualidade com professores capacitados, comprometidos com a busca contínua por conhecimento e atentos às dinâmicas sociais que influenciam o ambiente escolar.

Além disso, os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental ressaltam a formação para o exercício da cidadania como eixo central da proposta curricular da Educação de Jovens e Adultos.

Fonte: Pesquisa de campo realizada com os alunos da EE. Berta Sorlat, Maraã-AM, 2021.

Os dados da pesquisa mostram que a maioria dos estudantes da EJA – 2º Segmento se identifica como parda, conforme indicado no Gráfico 04. Esse resultado evidencia a persistente desigualdade racial no Brasil.

Fonte: Pesquisa de campo realizada com os alunos da EE. Berta Sorlat, Maraã-AM, 2021.

A pesquisa revela que a maioria dos alunos da EJA – 2º Segmento possui baixa renda, recebendo até um salário-mínimo. Apenas 30% têm renda familiar de até dois salários-mínimos. Conforme Costa et al. (2006), os estudantes da EJA, independentemente da idade ou gênero, pertencem a uma classe social com baixo poder aquisitivo, destinando sua renda principalmente a gastos essenciais, como moradia, alimentação e contas básicas.

Fonte: Pesquisa de campo realizada com os alunos da EE. Berta Sorlat, Maraã-AM, 2021.

Os resultados indicam que 50% dos alunos entrevistados se identificam como católicos, enquanto 30% se consideram evangélicos. Importante ressaltar que os 20% restantes não especificaram sua religião.

Fonte: Pesquisa de campo realizada com os alunos da EE. Berta Sorlat, Maraã-AM, 2021.

5.2. Perfil dos Participantes – professores

A análise das respostas do questionário revelou que o tempo de docência dos professores da escola selecionada variou de forma semelhante entre os participantes. Isso indica a presença de diferentes realidades e concepções sobre a educação, com os professores demonstrando, ao longo de sua carreira, maior domínio do trabalho e um melhor equilíbrio entre as demandas profissionais e o bem-estar pessoal, especialmente em relação aos alunos.

Fonte: Pesquisa de campo realizada com os docentes da E.E Berta Sorlat, Maraã; AM, 2021.

O Gráfico 8 mostra que 60% dos educadores possuem especialização na área da Educação, refletindo o empenho em aprimorar seus conhecimentos para oferecer uma aprendizagem significativa, especialmente no Ensino de Jovens e Adultos (EJA). O planejamento da aprendizagem é essencial para o desenvolvimento integral dos alunos, como cidadãos.

A formação continuada dos professores é fundamental, pois contribui para seu aperfeiçoamento pessoal e social, melhorando a qualidade da educação. Formosinho (1991) destaca que esse aprimoramento tem impacto direto no sistema escolar, enquanto Vygotsky (2007) afirma que o aprendizado bem estruturado é essencial para o desenvolvimento mental e cultural dos indivíduos. Assim, a formação contínua é chave para a evolução dos educadores e a melhoria da educação.

Fonte: Pesquisa de campo realizada com os docentes da E.E Berta Sorlat, Maraã; AM, 2021.

5.3 Percepção dos docentes sobre as dificuldades enfrentadas com a EJA

A análise das respostas dos professores da EJA da E.E. Berta Sorlat, em Maraã/AM, revelou desafios significativos na prática pedagógica, como a defasagem dos alunos, a falta de tempo para ensinar, baixa motivação dos estudantes, escassez de materiais adequados e problemas estruturais nas salas de aula. Esses fatores impactam diretamente a qualidade da educação.

Apesar das dificuldades, os docentes destacaram a importância de uma prática pedagógica reflexiva, que valorize o conhecimento prévio dos alunos e use estratégias para aumentar a motivação, essencial para o aprendizado eficaz. Mesmo diante da falta de recursos, buscaram adaptar conteúdos e otimizar o tempo com monitorias e acompanhamento individualizado. No entanto, a falta de apoio institucional e materiais adequados continua sendo um obstáculo.

O estudo enfatiza a necessidade urgente de políticas públicas que invistam na infraestrutura e no material pedagógico da EJA, além da formação contínua dos professores para lidar com os desafios dessa modalidade. Práticas pedagógicas inclusivas são fundamentais para criar um ambiente de ensino mais motivador e que permita aos alunos da EJA atingir seu pleno potencial.

5.4. Visão dos alunos sobre os motivos que os levaram a estudar na EJA

Nesta pesquisa, foi crucial entender os motivos que levaram os alunos a escolherem a EJA e a E.E. Berta Sorlat. O gráfico revela que 40% dos alunos retornaram à escola devido à necessidade imposta pelo mercado de trabalho. Em seguida, 30% apontaram a “facilidade” da modalidade de concluir os estudos em menos tempo que no ensino regular. Esse dado reflete a realidade de muitos alunos, que exercem profissões pouco valorizadas, e demonstra a consciência de que a educação é fundamental não só para a formação cidadã, mas também como preparação para melhores oportunidades no mercado de trabalho.

Fonte: Pesquisa de campo realizada com os alunos da E.E.Berta Sorlat, Maraã/AM, 2021.

Quando questionados sobre as dificuldades de aprendizagem, 60% dos alunos relataram enfrentar dificuldades significativas. Apenas 20% indicaram ter menores dificuldades, com um número muito reduzido afirmando não ter dificuldades. Esses dados reforçam a percepção de que a EJA é vista como uma modalidade difícil, gerando medo e angústia na maioria dos alunos. Para desmistificar essa visão, é essencial que a escola baseie suas práticas na realidade dos alunos, enfatizando atividades práticas e conteúdo que estimulem o pensamento crítico e criativo, promovendo a compreensão ampla do “mundo” em seus aspectos sociais, culturais e políticos.

      Fonte: Pesquisa de campo realizada com os alunos da E.E.Berta Sorlat, Maraã/AM, 2021.

Quando perguntados sobre os motivos que os levaram a não frequentar a escola na idade regular ou a interromper os estudos, os alunos apontaram uma variedade de fatores. Alguns mencionaram questões de acesso, como a distância da escola ou a falta de transporte (Aluno A e Aluno E), enquanto outros citam motivos pessoais, como gravidez (Aluno B), responsabilidades familiares (Aluno C e Aluno F), ou a necessidade de trabalhar para sustentar a família (Aluno D, Aluno H). Esses relatos refletem fatores externos e internos que influenciam diretamente a trajetória educacional de cada um.

Além disso, quando questionados sobre a sensação de exclusão, muitos relataram experiências de discriminação e julgamento, principalmente devido à condição socioeconômica. Alunos como o Aluno A destacaram o peso do preconceito na sociedade, onde a falta de recursos financeiros se traduz em uma exclusão antecipada. Outros, como o Aluno F e o Aluno G, citaram a dificuldade de encontrar emprego sem a conclusão do ensino médio, o que os leva a se sentirem marginalizados.

A diversidade de idade e experiências na EJA é notável, mas muitos alunos compartilham a mesma esperança de concluir os estudos. Embora enfrentem desafios como a repetição de séries, eles veem essa possibilidade como uma maneira de acelerar a conclusão e alcançar seus objetivos educacionais. A falta de tempo, causada pela necessidade de trabalhar, é um dos principais obstáculos à continuidade dos estudos, com muitos alunos apontando o cansaço como um fator que compromete sua concentração.

Por outro lado, a retomada dos estudos é vista por muitos como uma chave para melhorar suas condições de vida. A vontade de obter um emprego melhor, aliada ao desejo de se desenvolver pessoalmente, motiva grande parte dos alunos a persistirem na EJA. O aprendizado da leitura e escrita é um desejo comum, e muitos alunos mais velhos destacam que essa é a principal razão para retomarem seus estudos, buscando uma transformação tanto na vida pessoal quanto profissional.

A pesquisa realizada na Escola Estadual Berta Sorlat, localizada no município de Maraã-AM, teve como objetivo analisar o perfil dos alunos matriculados na modalidade da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e compreender as principais dificuldades enfrentadas pelos docentes que atuam nesse contexto. O estudo buscou identificar aspectos socioeconômicos, demográficos e educacionais dos estudantes, bem como os desafios que impactam o ensino e a aprendizagem.

Os resultados revelaram que a maioria dos alunos da EJA está na faixa etária de 22 a 25 anos, sendo 70% do sexo feminino. Observou-se que muitas dessas mulheres conciliam os estudos com as responsabilidades familiares, incluindo o cuidado com filhos e afazeres domésticos. Já os alunos do sexo masculino enfrentam desafios relacionados ao trabalho, visto que muitos precisam conciliar jornadas exaustivas de emprego com os estudos. Quanto à composição racial, verificou-se que a maior parte dos estudantes se autodeclara parda, evidenciando a predominância dessa identidade racial na comunidade escolar analisada.

Em relação à situação socioeconômica, constatou-se que a maioria dos alunos pertence a famílias de baixa renda, com grande parte dos entrevistados declarando uma renda mensal de até um salário-mínimo. Esse fator tem impacto direto na permanência escolar, uma vez que dificuldades financeiras frequentemente resultam em abandono ou evasão. Além disso, a pesquisa revelou que 50% dos alunos se identificam como católicos e 30% como evangélicos, demonstrando a influência religiosa na comunidade escolar.

Os professores que participaram da pesquisa relataram diversas dificuldades enfrentadas no ensino da EJA. Entre os principais desafios, destacaram-se a defasagem educacional dos alunos, que ingressam na modalidade com lacunas significativas em sua formação básica, dificultando o acompanhamento das disciplinas. Além disso, os docentes mencionaram o tempo reduzido para ministrar conteúdos, o que compromete uma aprendizagem mais aprofundada e significativa. Outro fator preocupante identificado foi a falta de interesse e motivação dos estudantes, muitas vezes resultante do cansaço após longas jornadas de trabalho e das dificuldades em conciliar os estudos com outras responsabilidades.

No que se refere aos recursos pedagógicos, os professores apontaram a carência de materiais didáticos específicos para a EJA, tornando o processo de ensino mais desafiador. O baixo investimento público na modalidade também foi citado como um fator que compromete a qualidade do ensino ofertado. Além disso, desafios estruturais, como salas de aula inadequadas, iluminação precária e falta de merenda escolar, foram mencionados como problemas recorrentes que impactam negativamente a permanência dos alunos.

Apesar dos desafios, os docentes ressaltaram a importância da formação continuada para aprimorar as práticas pedagógicas e atender melhor às necessidades dos alunos da EJA. Destacaram, ainda, a necessidade de políticas públicas mais efetivas que garantam melhores condições de ensino e aprendizagem, contribuindo para uma educação mais inclusiva e transformadora.

Dessa forma, a pesquisa evidencia a necessidade de ações concretas para enfrentar os desafios da EJA e garantir que os alunos tenham acesso a uma educação de qualidade, possibilitando-lhes melhores oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa revelou que a Educação de Jovens e Adultos (EJA) ainda ocupa um espaço secundário, tanto nas propostas curriculares de formação inicial quanto na produção científica acadêmica. Apesar de vários estudos realizados nos últimos dez anos, poucas discussões aprofundadas surgiram sobre as razões dessa realidade. A EJA é muitas vezes oferecida em condições precárias, com professores sem formação sólida, o que compromete a qualidade do ensino. Além disso, a prática pedagógica precisa ser mais sensível e atenta à diversidade dos alunos, promovendo a autonomia e favorecendo o entendimento do próprio processo de aprendizagem. Isso é essencial para que os alunos, que muitas vezes desempenham papéis educadores em suas famílias e comunidades, possam se engajar mais efetivamente no aprendizado e no ensino.

A formação docente na EJA deve ser tratada de maneira ética e política, considerando a leitura e a escrita como instrumentos essenciais para a compreensão da realidade e preparação para o trabalho. A seleção curricular, portanto, não deve ser apenas técnica, mas também uma reflexão sobre as necessidades sociais e culturais dos alunos, que muitas vezes são excluídos do acesso à educação letrada e aos bens culturais e sociais. É necessário um maior aprofundamento teórico e metodológico nos cursos de licenciatura para preparar os educadores para as especificidades dessa modalidade de ensino.

Para que a EJA seja eficaz, a escola precisa se equipar com as condições necessárias para o desenvolvimento dessa modalidade. Os professores devem estar preparados para lidar com a diversidade cultural dos alunos e promover um ambiente de aprendizagem inclusivo, considerando suas trajetórias de vida e suas realidades socioeconômicas. O aluno, embora marcado pela exclusão social e educacional, é sujeito ativo do presente e do futuro, e a educação deve ser vista como uma chave para sua transformação e inserção no mundo contemporâneo.

Seria importante destacar a necessidade de uma abordagem mais integrada entre a escola e a comunidade, promovendo ações que envolvam não apenas os alunos, mas também suas famílias e redes de apoio. A formação contínua dos professores, aliada ao uso de metodologias ativas e práticas pedagógicas inclusivas, pode melhorar a eficácia do ensino na EJA. Além disso, é essencial que as políticas públicas sejam mais efetivas na garantia de recursos e infraestrutura adequados para essa modalidade, garantindo que os alunos da EJA tenham as mesmas oportunidades de aprendizado e desenvolvimento que os alunos da educação regular.

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1Doutorando em Ciências da Educação pela Universidade Del Sol-PY, licenciado em História pela UFJF- Universidade Federal de Juiz de Fora, MG; Pós-Graduado em Didática do Ensino Superior, pela Faculdade da Serra – ES; Pós-Graduado em Gestão Escolar, pela UFAM – Universidade Federal do Amazonas; Mestrado em Ciências da Educação, UNADES – Paraguai