REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7902894
Celio de Oliveira Gama¹
André Moraes dos Santos²
Resumo
A adoção de tecnologias da informação e comunicação (TIC) nas organizações de ensino tem sido amplamente evidenciado. Por causa do seu poder transformador, as novas TIC´s tem sido analisadas sob as lentes teóricas de adoção e difusão de inovações. Neste contexto, a literatura apresenta modelos consolidados e muito úteis para explicar a adoção de TIC´s tanto no nível do indivíduo como nas organizações e sistemas sociais. Porém, observa-se uma heterogenia nos resultados e formas de uso das TIC´s adotadas, principalmente no segmento da educação. Desta forma, existe uma lacuna que necessita de mais estudos, de forma a compreender como as TIC´s são incorporadas às práticas e rotinas organizacionais. Utilizando-se como base a teoria da difusão da inovação, este ensaio teórico busca agregar a teoria da infusão para a melhor compreensão da incorporação das TIC´s na educação. Argumenta-se que a visão dualista de adoção e não-adoção precisa ser complementada com uma visão que represente o nível com o qual a tecnologia foi incorporada às práticas e estratégias organizacionais, incluindo a criação de novos processos. Por fim, argumenta-se que o processo de adoção e infusão seja investigado de forma integrada, pois pressupõe-se uma relação entre motivadores iniciais e esforços de rotinização e infusão.
Palavras-chave: inovação; infusão; TIC; organização; educação
Abstract
The adoption of information and communication technologies (ICT) in educational organizations has been widely evidenced for several decades. Because of their transformative power, new ICTs can be considered innovations and are analyzed under the theoretical lens of adoption and diffusion of innovations. In this context, the literature presents a consolidated and very useful set of models to explain the adoption of ICTs both at the individual, organizational social levels. However, there is a heterogeneity in the results and forms of use of the ICTs adopted, mainly in the education segment. Thus, there is a gap that needs further studies to understand how ICTs are incorporated into organizational practices and routines. Using the theory of diffusion of innovation as a basis, this theoretical essay seeks to add the theory of infusion for a better understanding of the incorporation of ICTs in education. It is argued that the dualistic vision of adoption and non-adoption needs to be complemented with a vision that represents the level at which technology has been incorporated into organizational practices and strategies, including the creation of new processes. Finally, it is considered that the process of adoption and infusion should be investigated in an integrated manner, as a relationship between initial motivators and efforts at routinization and infusion is assumed.
Key-words: innovation; infusion; ICT; organization; education
1 Introdução
A adoção de tecnologias da informação e comunicação (TIC) nas organizações de ensino tem sido amplamente evidenciado há várias décadas. O surgimento de novas tecnologias habilita a busca de novas formas de automação e transformação do ensino (LEIDNER; JARVENPAA, 1995). As novas tecnologias digitais têm permitido a criação de ambientes virtuais e híbridos, onde a interatividade, mobilidade e adaptabilidade são explorados de forma a potencializar o processo de ensino-aprendizagem (DAINEKO, et al. 2020). O uso consciente e planejado da tecnologia da informação e comunicação (TIC) no universo educacional tem se consolidado também no ambiente externo a sala de aula, onde almejando-se uma educação fortalecida, busca-se interações formuladas antes do estudo teórico como forma de trazer os fenômenos da realidade vivenciada provocando o que se chama de sala de aula invertida. Batista e Assis (2019), complementam que este tipo de movimento dentro do ambiente educacional pode desenvolver maior envolvimento na descoberta do novo e na experimentação que é tão importante para educadores e educandos como proximidade e compreensão tecnológica. As instituições de ensino têm aumentado sua atenção e investimentos para as novas TICs aplicadas a educação.
O uso de TIC na educação já é discutido há mais de uma década, quando Tavares et al. (2013) já chama a atenção sobre as novas perspectivas que a comunicação e informação proporcionam para a organização escolar e, com a evolução da tecnologia com consequente o aumento de sua adoção com melhorias visíveis na qualidade da educação assim como em todo o processo organizacional. Os autores relatam que o uso de TIC trouxe mais agilidade aos processos à comunicação e à informação em diversas áreas do ambiente educacional. A tecnologia educativa através da TIC trouxe um avanço na aprendizagem passando a fluir de forma eficaz, interagindo através de todos os processos da organização.
A adoção de novas TIC´s é vista como um processo de inovação e por isso, tem sido estudada sob ótica da inovação. Porém, a literatura tem apontado que a melhora do desempenho na educação não ocorre apenas com a simples adoção de novas TIC´s e aponta a necessidade de investigar como ocorrem os processos de incorporação e aplicação destas novas tecnologias e possíveis resultados verdadeiramente inovadores. Entende-se que para obter sucesso com as novas TIC´s no ensino, é necessário obter um nível de integração das TIC com todo o processo educacional (CHAUHAN, 2017). Para melhor compreender os resultados da aplicação das novas TICs na educação é necessário analisar a diversidade de sua infusão. A infusão é o processo de incorporação de forma acentuada e profunda no âmbito da organização (ZMUD; APPLE, 1992). Para Engstrom e Strimling (2020) qualquer tecnologia que provoque um impacto social, consequentemente leva a uma disseminação na sociedade, porém com diferentes níveis de incorporação. Sabe-se que nos sistemas educacionais a tecnologia tem se propagado de forma acentuada, dessa forma, o comportamento dos atores tem se tornado alvo de vários estudos. Neste sentido, se considera relevante investigar como ocorre a infusão no ambiente da organização educacional moderno.
A literatura sobre a adoção de TIC`s é bastante ampla e possui modelos bastante consolidados para explicar a intenção de adoção, tanto no nível do indivíduo quanto da organização. Amplas evidências empíricas são encontradas abordando fatores comportamentais do indivíduo, a partir de vários modelos como o Teoria da Ação Racionalizada – TAR (AJZEN, 1985), Modelo de Aceitação de Tecnologia – TAM (DAVIS, 1989), Teoria Unificada de Aceitação e Uso de Tecnologia – UTAUT (VENKATESH et al. 2003) e muitos outros modelos que explicam as intenções de comportamento individual. Sob o ponto de vista organizacional, a Teoria da Difusão da Inovação (DOI) proposta por Rogers (2003) também tem sido aplicada para investigar a adoção e difusão de TIC´s entre organizações e sistemas sociais (SETIA; BAYUS; RAJAGOPALAN, 2020). Porém, ainda são necessários mais estudos que investiguem a infusão como fonte de integração tecnológica a partir dos fatores da adoção até a continuidade de utilização da tecnologia com seus efeitos sobre a organização (ROTH, 2016; SHARMA et al., 2022). Neste estudo, aborda-se fatores que indicam para a integração de tecnologia no processo organizacional a partir da capacidade de adaptação, de gestão, recurso e uso continuado da tecnologia não apenas pelo órgão de tecnologia da informação, mas por todos na organização como forma de caracterização do processo de infusão de inovação propriamente dito.
A partir da difusão de uma nova TIC, diferentes padrões de uso podem emergir e servirem de base para vantagens competitivas ou inovações. De acordo com Dosi et al. (2017), o padrão logístico de difusão da inovação é uma das regularidades empíricas mais robustas da literatura sobre adoção de novas tecnologias. Por outro lado, sabe-se relativamente pouco sobre a infusão. Embora a literatura sobre os impactos das TIC´s aponte evidências das vantagens proporcionadas, ela se torna limitada aos resultados, visto que a infusão exige que se analise o processo, que envolve muito mais as empresas do que os indivíduos. Sendo aplicada no contexto da educação, a pesquisa sobre a infusão pode ajudar a compreender a relação de entre a adoção e efetiva incorporação e as diferenciações entre as organizações educacionais que adotaram as TICs em seus processos.
No campo das TIC´s voltadas para a educação, é importante investigar além da simples adoção ou difusão pelas organizações de ensino. É necessário compreender como ocorre a efetiva infusão das TIC´s para melhor entender e avaliar seus impactos nos sistemas educacionais. Segundo Garcia (2019), os investimentos em Tecnologia passaram a ser algo muito importante para algumas organizações, e muitas adotaram diversas tecnologias de informação e comunicação sem uma análise prévia, o que gerou preocupações em se provar que tais tecnologias poderiam trazer vantagens a partir de sua adoção e imediata compreensão da infusão.
Neste ensaio teórico, busca-se avançar e contribuir para o campo das novas TIC´s na educação ao propor a distinção da adoção em relação ao nível de infusão obtida. A infusão representa o processo de integração e a continuidade de uso das tecnologias e, sua mera adoção não garante seu emprego real e muito menos o uso continuado desta tecnologia. Dessa forma, quando as tecnologias de informação e comunicação são aplicadas na educação, torna-se necessário avaliar seu nível de uso e incorporação para compreender os possíveis resultados e impactos.
Para discorrer sobre a temática, contextualizaremos o cenário de inovação associado à educação. Em seguida, o papel das TIC´s na educação e os fatores relevantes de adoção são apresentados face a teoria da adoção e difusão de inovações. Ao estabelecer as bases da difusão e adoção, avançamos para discutir a necessidade de estudos mais detalhados sobre o nível de adoção e infusão. Neste ponto, propomos um desenho teórico do processo de adoção-infusão. Ao final, são tecidas considerações e sugestões de estudos futuros e investigações empíricas.
2 Adoção de TIC´s e inovação no contexto da organização educacional
Nesta última década, as organizações educacionais têm experimentado inovações interessantes advindas dos avanços proporcionados pelas novas TICs. O uso de plataformas de softwares e internet possibilitaram a criação de diversos novos negócios e formas de promover o ensino. O surgimento de startups com novas soluções de educação também tem estimulado o investimento em tecnologia pelos gestores educacionais que buscaram uma nova forma de engajar o aluno através da inovação nos processos pedagógicos (ISHIKA; BANERJEE; MURTHY, 2021). As mudanças organizacionais podem ocorrer de forma gradual, não porque seja vontade dos gestores, mas pela dinâmica da inovação tecnológica que nem sempre abarca todos os contextos no mundo dos negócios. A mudança na organização educacional significa uma mudança social que impacta na modernização de qualquer contexto (NOGARO e BATTESTIN, 2016).
A estrutura organizacional pautada da Tecnologia da informação e comunicação, trouxe certa autonomia no âmbito do processamento dos dados gerando uma institucionalização de todo o processo de trabalho, o que abriu espaço para a internalização e manutenção de uso da tecnologia adotada. Neste sentido, notoriamente a gestão de TIC também tomou forte destaque no contexto organizacional nas esferas do planejamento e controle de todos os processos, gerando uma maior integração nas relações gerenciais (PEREIRA e PROKOPIUK, 2022).
Tradicionalmente, a tecnologia tem um papel crucial na modernização da educação. Na opinião de Batista e Assis (2019), os métodos de ensino e trabalho se tornaram mais interessantes por conta da inclusão de modernos softwares no cenário de imediatismo promovido pela nova geração de estudantes e profissionais da educação que se tornam propulsores na mudança das práticas educacionais. De acordo com Engstrom e Strimling (2020), após 30 anos da implantação da internet, que teve seu uso mais intenso nos Estados Unidos com conexões espalhadas nos ambientes comerciais. Assim, foram surgindo muitos ambientes com tecnologia mais sofisticada atraindo alunos e profissionais com plataformas que possibilitam mais flexibilidade e engajamento na relação ensino-aprendizagem.
A capacidade que o professor tem na atualidade de inovar em suas atividades didático-pedagógicas com a aplicação das TICs não se limita apenas no uso do computador, mas a todas as ferramentas disponíveis que possibilitem o ensino propulsor de conhecimentos de sua disciplina e do mundo. Na aplicação de metodologias de ensino para ampliação do conteúdo, o educador precisa se atualizar de forma que os recursos diversificados possam proporcionar para ele e para os alunos um ambiente de discussão e disseminação do conhecimento (MUNIZ e ROCHA, 2023).
Apesar da difusão de novas TIC`s na educação, na visão de Batista e Assis (2019), a inovação que estas tecnologias trazem pode ser mais bem aproveitada naqueles ambientes em que a comunidade partilha suas ideias de forma colaborativa e aberta, o que provoca uma recombinação de ideias que vão se aprimorando ao longo do tempo. Logo, para lidar com os desafios da adoção de tecnologia no campo da educação é necessário estudar as melhores formas de incorporação e uso que envolvem a tecnologia adotada (GARAIKA, 2020). Consequentemente, as organizações educacionais precisam ser dinâmicas na adoção e implementação destas inovações para obterem valor e manterem-se competitivas.
O cenário inovador começa a exigir uma postura diferenciada das escolas. Para Balula & Melão (2019), as escolas não podem ignorar esta realidade o novo suporte ofertado pelas tecnologias da informação e da comunicação, pois este novo desafio promove novas vantagens no processo educativo. Vinculados a essa realidade, os alunos se mostram muito mais conectados e vinculados de forma irreversível com os meios tecnológicos, provocando conflitos de realidades no ambiente escolar, dando início a novos modelos pedagógicos no intuito de buscar maior engajamento do aluno e maior autonomia do docente na relação ensino e aprendizagem.
3 O processo de adoção e difusão de TIC´s como elementos de inovação
Entende-se que as novas TIC são percebidas como inovações, pois resultam do constante avanço tecnológico e introduzem novas possibilidades de ensino-aprendizagem. Neste sentido, a proposta teórica para compreender a infusão de TICs foi ancorada na adoção e difusão de inovação a partir de seu autor seminal Everett Rogers (2003) e, abarcando como ponto de sustentação epistemológica o embasamento com a teoria da difusão de inovação. A partir desta base teórica, expandiu-se a discussão para incluir a infusão, ou seja, os aspectos mais intrínsecos da incorporação e uso nas rotinas, processos e estratégias das organizações.
Toda et al. (2015), ressaltam que a inovação em educação é um tema que tem sido estudado por pesquisadores de várias áreas de conhecimento incluindo a administração. Para os autores, as instituições públicas ou privadas estão cada vez mais adotando as inovações, não pela racionalidade técnica de seus dirigentes, mas pela diversidade de variáveis oriundas do contexto em que a organização educacional está inserida. Dessa forma, o sistema educacional passa a permitir uma aproximação com maior com a era digital que tem se tornado um elemento central à inovação tecnológica como forma de valorização do capital humano, e consequentemente do desenvolvimento econômico e social do país. Na visão de Garaika (2020), que realizou uma pesquisa na educação superior, a difusão de inovação na educação é importante porque se tem a compreensão de que muitas instituições que adotam uma tecnologia inovadora e realizam a difusão mais cedo têm mais chance de inovar de forma eficaz nos seus processos. Daí a grande relevância em se discutir a infusão na educação.
A adoção de inovações tem recebido uma grande atenção tanto da academia quando das empresas. As inovações podem gerar melhorias de desempenho e crescimento para organizações. Um número crescente de pesquisas tem sido desenvolvido para compreender os fatores que influenciam a adoção de inovações tanto por indivíduos, organizações e sociedade. Na visão de Panwar, Kapur e Singh (2020) as forças propulsoras para a adoção de tecnologias se constituem nos fatores que consideram como externos onde se destaca a comunicação de massa e internos onde se destaca o boca a boca. Aumentar a aceitação de inovações ou prever a sua rejeição pode ser de grande utilidade para empresas, para a formulação de políticas públicas e estabelecimento de relações amplas no ambiente de qualquer organização.
A inserção de inovação a nível de organização pode se dar pelo desenvolvimento no produto e/ou processo com mudanças na implantação de uma novidade, uma melhoria, uma prática ou um método de marketing (DUMINELLI et al., 2019). Ao adotarem uma mesma inovação, diferentes organizações podem apresentar níveis distintos de uso e integração de processos de negócios. Este processo que ocorre após a adoção, é conhecido como infusão, e caracteriza a extensão e profundidade com a qual a inovação é colocada em prática na organização. Conforme Scott e McGuire (2017), a teoria da difusão da inovação (DOI) oferece uma lente provocativa para analisar o progresso e a trajetória dessa mudança pedagógica.
Na área da educação, muitas inovações precisam estar bem definidas para que não sejam confundidas com a inserção de novas estruturas curriculares ou meras práticas escolares. Segundo Roth (2016) a área da educação é recheada de temas correlatos. Um exemplo clássico são os termos educação tecnológica e tecnologia educacional. Na educação tecnológica os alunos estudam tendo em vista uma formação técnica, enquanto que na tecnologia educacional trata da utilização eficaz de recursos tecnológicos no processo de ensino-aprendizagem. Neste sentido, a discussão aponta para uma aproximação mais acentuada na relação da inovação com a educação, além de aprimorar os estudos com forma de valorizar o ambiente educacional promovendo sua inserção na era digital.
Os inovadores no ramo da educação devem fazer uso frequente da comunicação de suas ideias com os professores com o fim de garantir mais integração (STASEWITSCH, DOKUKA e KAUFFELD, 2021). Esta troca de informações, tem como consequência a formação de redes que pode trazer benefícios imediatos pela rapidez da sua difusão e, de igual modo promover a transferência de conhecimento e redução de conflitos. Dessa forma, muitas ações poderão levar à criação de um clima organizacional propício ao desenvolvimento individual pela acentuada colaboração dos funcionários no sentido de promoção da inovação educacional.
Muitas intervenções nos níveis educacionais têm sido implementadas no sentido de estimular e engajar mais crianças e jovens na educação moderna. A introdução da informática no cotidiano escolar, fato que levou várias escolas a aderir de forma ampla a tecnologias inovadoras, buscando as mais variadas vertentes inovativas na soma de modelos pedagógicos com métodos que chamem a atenção do aluno para o aprendizado, sendo possível afirmar que universidades e escolas possam adotar o nome de domínio inteligente (MBOMBO e CAVUS, 2021). Este domínio está diretamente relacionado com a tecnologia de inovação que aplica dispositivos inteligentes dentro de sua organização com o fim de atingir seus objetivos estratégicos.
Agora o professor não apenas utiliza a lousa e o giz, mas interage de forma significativa na sala de aula buscando atender as exigências dos alunos que mudaram a postura e se cercaram de novas tecnologias com redes sociais e temas mais abrangentes que passaram a exigir do professor um preparo especial para a nova realidade. Existem vários termos que tentam explicar ou conceituar esse novo papel do professor – o de facilitador –, exigido pelas mudanças tecnológicas na sociedade contemporânea (BATISTA e ASSIS, 2019).
4 Para além da adoção: a infusão das TICs como elementos de inovação
O potencial transformador das novas TICs não pode ser totalmente compreendido apenas com uma visão dualista de adoção ou não adoção. Embora existam diversos modelos e teorias de adoção e difusão de inovações, Roth (2016) ressalta que estes modelos não explicam a infusão como fonte de integração tecnológica a partir dos fatores da adoção até a continuidade de utilização da tecnologia com seus efeitos sobre a organização. A realização da capacidade transformadora das TIC`S, no campo da educação, requer um movimento de mudança e envolvimento muito grande de todos os envolvidos para que o a incorporação da tecnologia seja eficaz em suas proposições (FOULGER, WETZEL and BUSS, 2019). Recentemente, Foulger, Wetzel e Buss (2019) demonstraram que os resultados decorrentes da adoção de uma nova TIC na educação estava diretamente relacionado com a capacidade de integração de tecnologia às práticas, explicando a diferenciação de resultados entre cursos com baixa e alta infusão.
Para Yan et al. (2021) o processo inicial de adoção não garante que a organização seja bem sucedida e terá uma ação duradoura de aplicação e utilização desta tecnologia. Apesar dos autores trabalharem a intenção de continuação de uso de tecnologia a nível individual, requer que se mencione tal abordagem, em virtude da organização possuir forte influência dos processos individuais no que tange ao uso contínuo de tecnologia. Os autores mencionam ainda, que há uma distinção entre aceitação de tecnologia e continuidade de uso, pois para eles, os fatores da aceitação são diferentes dos fatores da intenção de continuidade de uso da tecnologia que indica uma melhoria a partir do sistema social vigente na organização em que os indivíduos passam a acreditar que o uso de determinada tecnologia (DAVIS et al. 1992) pode trazer melhorias no processo de trabalho (HUTAMI et al. 2021). Dessa forma, há que se investigar as condições em que ocorre a infusão no âmbito da organização educacional por se tratar de um processo de incorporação tecnológica em um contexto complexo de integração e mudança.
Os sistemas educacionais apresentam diferenças das mais variadas formas quando a adoção da tecnologia acontece, ficando evidente o consenso de que o enfoque na mudança e inovação na educação está vinculado às tendências tecnológicas que afetam muito mais os profissionais da área. A mudança ocorrida nas escolas afeta tanto professores quanto a própria organização como um todo, surgindo um terceiro elemento que é a articulação com a comunidade e a universidade. Neste sentido, as inovações introduzidas indicam que o professor tem uma parcela crucial pela disposição para inovar, mesmo que esta inovação possa gerar níveis diferenciados de compreensão e relação com a organização escolar (OLIVEIRA & COURELA, 2013).
Neste ensaio teórico, argumenta-se que a adoção é apenas o estágio inicial de incorporação de uma nova TIC à organização, sendo necessário compreender os estágios que sucedem a introdução e culminam em diferentes níveis de infusão, ou seja, de integração das novas TICs, nas rotinas, por meio de diversos fatores organizacionais e individuais, conforme ilustrado na Figura 1.
Figura 1 – Construto teórico de infusão de inovação na organização
Fonte: Autoria própria (2023)
De forma bem sucinta a definição de infusão é atribuída como “o ato de adicionar uma coisa a outra para torná-la mais forte ou melhor” (ENGSTROM & STRIMLING, 2020). Assim, toda ação voltada para a educação moldará cada docente ou educador com uma aprendizagem prática junto às inovações tecnológicas no sentido de buscar uma integração tecnológica cujas habilidades se concretizem a partir de fatores que possam de fato promover uma infusão que impulsione a organização a atingir seus objetivos.
A infusão se constitui como um processo mais voltado para dentro da organização. Na visão de Santos (2007), a infusão está relacionada a fatores que podem estar vinculados diretamente com a adoção, se comportando de forma a anteceder o processo de infusão. Assim, no âmbito da educação, a conquista de habilidades tecnológicas voltadas para o sistema de informação pode gerar um comportamento mais integrado à tecnologia, apontando que todos os processos na escola se tornam mais infundidos e eficazes.
No processo de adoção alguns atributos impactaram de forma significativa em todo o processo. No pós-adoção, estes mesmos atributos podem explicar o quanto influenciar de inovação pode ser influenciado, e, na teoria da difusão de inovações são classificadas por Rogers (2003) como: vantagem relativa, compatibilidade, complexidade, experimentabilidade e observabilidade. Estas características se comportam como fatores que antecedem a difusão de inovação em grande escala. Portanto, servem como indicadores no estudo da infusão, pois tais fatores impactam a adoção e por conseguinte, o processo de infusão de tecnologia que nada mais é do que um processo bem internalizado na organização, sendo determinante na continuidade de uso da tecnologia adotada.
Na classificação dos fatores que contribuem para explicar a infusão, estão os cinco atributos do modelo de Rogers que são abordados como fatores preditores na infusão de inovação. (1) Vantagem relativa que é o grau em que uma inovação é percebida como sendo melhor do que a ideia que ela substitui. O grau de vantagem relativa muitas vezes é expressa como lucratividade econômica, como uma transmissão social (Rogers, 2003); (2) Compatibilidade é o grau em que uma inovação é percebida como consistente com os valores existentes, experiências passadas e necessidades de potencial adotantes. Uma ideia mais compatível é menos incerta para o adotante potencial (Rogers, 2003); (3) Complexidade é o grau em que uma inovação é percebida como relativamente difícil de entender e usar. Algumas inovações são claras em seu significado para adotantes potenciais, enquanto outros não (Rogers, 2003); Experimentação é o grau em que uma inovação pode ser experimentada com uma base limitada. O teste pessoal de uma inovação é uma maneira de um indivíduo para dar sentido a uma inovação e descobrir como ela funciona (Rogers, 2003) e (5) Observabilidade é o grau em que os resultados de uma inovação são visíveis para outros. Algumas ideias são facilmente observadas e comunicadas a outras pessoas, enquanto outras inovações são difíceis de observar ou descrever para os outros.
Na pós-adoção ou aceitação da adoção, o processo de integração é formado por fatores importantes como adaptação, recursos, gestão e uso contínuado da tecnologia para que ocorra de fato a infusão no âmbito da organização. Zaluski et al. (2022), menciona a adaptação como um forte aliado para que a organização possa se adaptar às mudanças que tem ocorrido nos ambientes interno e externo, pois a adaptação descreve um estado final ideal para que a organização se mantenha sobrevivente às variáveis ambientais, pois assim, a organização passa a ter maiores condições de conquistar novas tecnologias e mercados, como também processar continuamente as novas informações sobre tecnologias inovadoras em virtude da evidente utilidade de uso que impulsiona a aceitação desta tecnologia (HUTAMI et al., 2021). Os autores consideram ainda, a capacidade adaptativa da organização como uma consequência da evolução constante da organização e sua capacidade de integração dos processos.
5 Considerações Finais
A inovação já tem indícios consistentes de discussão na educação brasileira a partir da Tecnologia da Informação e Comunicação – TIC. As TICs têm sido muito usadas como recurso inovador no processo educacional com possibilidades de mais engajamento e interação no âmbito do ensino, e muitas instituições têm aproveitado essas tecnologias para reorganizar suas práticas. Dessa forma, muitas ações já experimentadas provocaram mudanças nas organizações educacionais.
O contexto da chamada educação 4.0 da era digital trouxe nova forma de pensar e agir na sala de aula para ajudar a superar desafios, e o Professor começa a interagir de forma criativa porque agora ele é também o mentor, o facilitador que precisa se conectar através da Tecnologia da informação e comunicação, e dominar linguagens com conteúdo de gamificação, robótica, indor position system – IPS, aplicativos de matemática, aplicativos de marketing e muitas outras ferramentas aplicadas na “Innovations room” (sala de inovações) especialmente posicionada no ambiente escolar.
Neste estudo, o objetivo foi direcionado para a discussão na perspectiva organizacional sobre os níveis de infusão e suas diferenças após a adoção de tecnologia inovadora na organização educacional, propondo um olhar mais atento para as diferenças nos níveis de infusão nas escolas que adotaram a TIC, e assim, aprofundar os conhecimentos sobre a atuação de forma eficaz, integrada ou não no processo de pós-adoção. Daí, espera-se contribuir de forma teórica com conhecimentos sobre infusão de inovação na educação e de forma prática com gestores de organizações educacionais que terão a seu dispor uma leitura científica do que ocorre no ambiente envolto a inovações tecnológicas que geram impacto nas relações do trabalho promovendo maior integração nos processos.
No atual contexto de grande concorrência, as organizações educacionais têm seus desafios ampliados pela intensa mudança no pensamento da juventude no que tange às inovações tecnológicas. Segundo o Centro de liderança profissional – CLP (2022), a educação é o pilar com maior peso nas avaliações dos Estados, cuja pontuação varia desde o salário dos professores, índice de oportunidade da educação e as taxas de frequência dos ensinos infantil, fundamental e médio, que podem proporcionar melhores índices no Programa internacional de avaliação de alunos – PISA, Exame nacional do ensino médio – ENEM e Índice de desenvolvimento da educação básica – IDEB.
Conclui-se assim, que é mais vantajoso para as escolas que partilham um cenário de incertezas e procuram se manter no mercado replicando modelos de mudança e franca inovação em seu processo de ensino atuando no sentido de incrementar o que o mercado concorrente disponibiliza. Tudo isso, ajuda explicar por que uma mesma inovação pode gerar resultados diferentes dependendo do contexto onde é aplicada. Por fim, evidencia-se uma lacuna importante que é o avanço da extensão desses fatores que podem explicar os diferentes níveis de infusão na inovação na educação. Estudos futuros serão necessários para elucidar quais mecanismos promovem a efetiva infusão, bem como explorar os possíveis elementos causadores e influenciadores deste processo.
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¹celiogama1960@gmail.com Doutorando em Administração – UNIVALI
¹http://orcid.org/0000-0002-2908-6448
²amsantos@univali.br Docente do PPGA/UNIVALI
²http://orcid.org/0000-0002-8605-5234
¹,²Programa de Pós-Graduação em Administração – PPGA
Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI
Rua uruguai, nº 458, Bairro Centro, Itajaí/SC – Brasil