AFETIVIDADE ENTRE PROFESSOR E ALUNO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102411291031


Adrieny Santos Vilela Nunes
Bruna Nunes Barros
Cintya Franco Dos Santos Vilete
Érica Fabiana Arando Gomes
Nilza Rosa Lopes Freitas Novais
Raysa Lorrane Pessoa Silva Rezende
Maria Marta De Sousa Silva Bueno
Jerusmar Julia De Oliveira
Alcilene Mara Contel Oliveira
Queila Maria Arbues Pereira Oliveira
Jakeline Gonçalves De Melo
Bianca Caroline Sousa Silveira
Danielle Fonseca Silva
Rayanne Alves Siqueira
Jucileide Da Silva Gama


RESUMO: O presente artigo tem por finalidade apresentar os resultados dos estudos sobre a importância da afetividade entre professor e aluno na educação infantil. O trabalho tem como apoio teórico o pensador Henri Wallon, por acreditar que a criança se desenvolve por meio do afeto e quando é estimulada pelo seu meio. Percebe-se que a afetividade é fundamental para o processo de aprendizagem da criança e essencial para criação de laços afetivos em sala de aula. A pesquisa bibliográfica será fundamentada nos teóricos Oliveira e Rego (2003),  Marchand (1985), Araújo (2003), dentre outros, que forneceram o embasamento para leitura e escrita do artigo. A pesquisa-campo realizada em uma escola municipal na cidade de Aragraças-GO e, com o auxílio da pesquisa documental, foi possível observar como a escola trata sobre o assunto afetividade. As pesquisas exploratória e descritiva auxiliaram na observação da relação afetiva entre a professora e seus alunos, para então analisar o percebido nesse processo. A partir da observação e entrevista com a professora, concretizou-se que a afetividade tem relevâcia no desenvolvimento da aprendizagem do aluno em sala de aula, além de contribuir na relação de respeito e companherismo entre os integrantes do grupo pesquisado.

PALAVRASCHAVE: Afetividade. Relação professor/aluno. Ensino-aprendizagem.

1 INTRODUÇÃO

A afetividade é um termo utilizado para definir um conjunto de sentimentos e emoções que o ser humano é capaz de sentir. A partir das leituras desenvolvidas no decorrer do curso, observa-se que alguns autores, a exemplo de Wallon, Piaget e Vygostky, enfatizavam que, por meio da afetividade, a criança desenvolve aprendizagens significativas que auxilia no seu processo cognitivo e motor.

No ambiente escolar, esses sentimentos são fundamentais para estabelecer relações harmoniosas entre as pessoas, principalmente em sala de aula, com o professor e aluno. O professor tem a possibilidae de desenvolver uma relação saudável, de afeto e companherismo com seus alunos desde o primeiro contato. É essencial que, por meio dos estímulos de aprendizagem, o professor da educação infantil incentive seus alunos a desenvolverem o seu conhecimento cognitivo e motor.

O interesse em pesquisar sobre o assunto surgiu no decorrer dos estudos no 2º semestre na disciplina “Introdução à Psicologia”, do curso de Pedagogia da Faculdade Cathedral, ao realizar uma abordagem das teorias sobre os estágios de comportamento e desenvolvimento da criança por meio do afeto. Ao utilizar diferentes métodos, em sala de aula, para ensinar as crianças na educação infantil, foi possível perceber, por meio dos estágios supervisionados e intervenção pedagógica, o envolvimento de todas as crianças na realização das atividades propostas. Ao demonstrar afeto e cuidado com elas, percebeu-se a importância da relação afetiva para obtenção de melhores resultados em sala de aula.

O presente artigo, sob o título “Afetividade entre professor e aluno na educação infantil”, trata sobre a importância da afetividade ao se efetivar o processo de aprendizado das crianças e, com isso, apresenta o seguinte questionamento: A relação afetiva entre professor e aluno interfere no desenvolvimento da criança, na turma do Pré I, na educação infantil? A resposta preliminar parte da hipótese que a afetividade contribui de forma significativa no processo de desenvolvimento cognitivo da criança e a estimula na busca de novas aprendizagens.

Delimitando o assunto da pesquisa, definiu-se como objetivo geral compreender a importância da afetividade no processo de desenvolvimento cognitivo do aluno. Como específicos, foram estabelecidos os seguintes critérios: Entender a importância da afetividade na educação infantil; observar a existência da afetividade em sala de aula entre professor e aluno; compreender como essa afetividade interfere no ensino-aprendizagens das crianças.

Na elaboração do artigo algumas pesquisas foram utilizadas, a exemplo, a pesquisa qualitativa, com ênfase na bibliográfica, documental e de campo. A pesquisa exploratória ocorreu por meio da exploração sobre o assunto Afetividade na aprendizagem da criança; já a pesquisa descritiva se fez a partir da pesquisa de campo, conforme os fatos observados e estudados em relação a afetividade entre professor e aluno em sala de aula.

Para auxiliar na ampliação do conhecimento sobre a temática em questão, alguns autores forneceram apoio teórico a partir de leituras relacionadas à afetividade no processo de aprendizagem. A exemplo, podemos citar Sastre e Moreno (2003), que trata a respeito dos métodos antigos, onde o professor precisa ser inovador, buscando novos estímulos ao desenvolver o processo ensino-aprendizagem com seus alunos. Oliveira e Rego (2003) discutem sobre as emoções que são concebidas, organizadas e nomeadas de forma absolutamente diversa, em diferentes grupos culturais. Marchand (1985) destaca a importância que o professor tem ao criar laços afetivos com seus alunos. Araújo (2003) parte do princípio de que a escola integra o papel do afeto no seu cotidiano. Tinoco (1999) afirma que a criança precisa ver e sentir a aprendizagem como neutra e não conflitiva para se adaptar. Wallon (1992) destaca que a afetividade depende, para evoluir, de consquistas realizadas no plano da inteligência e vice-versa. Fazenda (2001) coloca a afetividade na ação de educar como pigmento que regula a intensidade e a profundidade das ações dos sujeitos no processo educativo. Davis e Oliveira (1994) tratam sobre os estágios de desenvolvimento de Piaget. O RCNEI (1998) orienta professores na condução de sua prática pedagógica de ensino e, a BNCC (2018), destaca os campos de experiências que podem ser desenvolvidos numa sala de aula.

Na pesquisa documental realizou-se uma análise do Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola sobre a relação de afeto com os alunos e pais. A pesquisa de campo foi desenvolvida com uma turma do Pré I, na educação infantil, em uma escola municipal de Aragarças-GO. No momento foi observado como a teoria se aplica na prática, analisando a relação afetiva da professora regente com seus alunos e como essa relação contribui no processo de aprendizagem da criança; para entender mais esse processo, foi realizada uma entrevista com a professora sobre o assunto.

Para melhor compreensão do tema em pesquisa, o artigo subdivide-se em seções, apresentando, inicialmente, o conceito de afetividade na perspectiva de Henri Wallon e sua importância na relação entre professor e aluno no processo de desenvolvimento cognitivo, para então analisar como isso ocorre em sala de aula.

Diante do que foi apresentado, fica evidente a importância da afetividade na relação professor e aluno para o desenvolvimento da aprendizagem da criança.

2 AFETIVIDADE ENTRE PROFESSOR E ALUNO NA EDUCAÇÃO INFANTIL NA PERSPECTIVA DE WALLON

A relação afetiva entre professor e aluno na educação infantil é relevante no processo de aprendizado do aluno e é por meio de um conjunto de sentimentos, a exemplo da afetividade, que impulsiona na criança a capacidade de se desenvolver cognitivamente. Ao considerar seu contato com o ambiente escolar, a criança demonstra emoções, sentimentos, medos, angústias, alegrias e tristezas transformadas, pois está saindo do seu ambiente de conforto, rodeado pelos familiares, para passar a conviver com pessoas diferentes e, muitas vezes, se sentindo insegura.

As emoções também fazem parte do conjunto de sentimentos que, por meio do afeto, é possível sentir. É mais que o amor, carinho, cuidado e a preocupação com o outro. A partir das leituras em Oliveira e Rego, percebe-se que as emoções são, portanto, organizadas, concebidas e nomeadas de forma absolutamente diversa em diferentes grupos culturais. Nesse plano da sociogênese a linguagem ocupa papel de destaque como instrumento para constituição do campo da afetividade. Dispor de palavras para dar nome as emoções nos permite identificá-las, compreendê-las, controlá-las, compartilhá-las com os outros. (OLIVEIRA E REGO, 2003, p. 28)

A escola possibilita aos seus alunos um mundo novo de descobertas, rodeados de conhecimentos, informações e valores diversos, que complementará a aprendizagem do aluno. Para promover esses conhecimentos, cabe ao professor utilizar metodologias inovadoras, que garantam um ensino de qualidade. Seguir o modelo tradicional de ensino não é característica do professor inovador e de acordo com Sastre e Moreno:

Não podemos recorrer a métodos antigos, mas desenvolver uma metodologia imaginativa que não limite o novo a mesma coisa de sempre. É necessário partir da ideia de que toda aprendizagem é um processo dinâmico e, como tal, requer uma construção, e essa, por sua vez, requer algum tempo. (SASTRE E MORENO, 2003, p. 143)

Percebe-se, assim, que o professor da educação infantil não deve ser autoritário, sendo aquele que ameaça, grita,  aponta os erros dos alunos, impedindo que desenvolvam seus conhecimentos críticos. Isso os tornam tímidos e acanhados, ao considerar os alunos como apenas receptores das informações, sendo arrogante e fazendo com que as crianças sintam medo dele, não permitindo que laços afetivos sejam criados em suas relações. Um educador afetivo, ao compreender a diferença entre punir e corrigir hábitos errados dos alunos, estabelece diálogos na sala de aula e permite que se expressem, atende as necessidades de seus alunos ao respeitar a personalidade e o tempo de aprender de cada um, sempre buscando diversas metodologias que contribuirão no processo de ensino-aprendizagem, necessários para o crescimento pessoal de cada um.

A criança de 4 a 6 anos, ao sair da creche e frequentar a escola, necessita de tempo para se adpatar ao novo ritmo e com as novas aprendizagens. Nessa fase, a criança, ao ser estimulada a desenvolver sua autonomia, tem a afetividade mais presente do que a inteligência no processo de adptação e aprendizagem.

É nesse contexto que a afetividade, para alguns autores, é o fator primordial na aprendizagem da criança. Henri Wallon foi filósofo, médico, psicólogo e político francês que dedicou seus estudos ao comportamento da criança, acreditando que, por meio dela, seria possível compreender os processos de aprendizagem dos indivíduos. A partir das leituras, percebeu-se que a inteligência e afetividade se misturam, o indivíduo aprende algo não muito importante para depois aprender o que é essencial para seu crescimento cognitivo. De acordo com Wallon, ao se referir a afetividade e inteligência, afirma:

A construção da pessoa será constituída por uma sucessão pendular de momentos dominantemente afetivos ou dominantemente cognitivos, não paralelos, mais integrados. Cada novo momento terá incorporado as aquisições feitas no nível anterior, ou seja, na outra dimensão. Isto significa que a afetividade depende, para evoluir, de consquistas realizadas no plano da inteligência, e vice-versa. (WALLON, 1992, p. 90)

A partir do exposto, percebe-se que a criança passa por fases de desenvolvimento e, em cada fase, seu ato motor e cognitivo se formam. No período em que a criança está saindo do ambiente familiar e chega à escola, busca sua autonomia e sua personalidade que também está sendo formada, aprende a fazer negação quando não está satisfeita com algo. O professor fornece estímulos que contribuem o processo de desenvolvimento motor e cognitivo da criança, a incentiva no desenvolvimento da sua autonomia para realizar atividades simples na escola, como ir ao banheiro, tomar água sozinha, fazer suas atividades em sala, sempre com o direcionamento do professor e apoio para construção dessa independência.

As leituras e os estudos desenvolvidos no decorrer do curso, dentre eles o Referêncial Curricular Nacional para Educação Infantil (RCNEI), permitiu ampliar o conhecimento na medida em que o documento orienta os professores de como trabalhar com as crianças da educação infantil. Sendo assim, o RCNEI afirma:

Nessa faixa etária constata-se uma ampliação do repertório de gestos instrumentais, os quais contam com progressiva precisão. Atos que exigem coordenação de vários segmentos motores e o ajuste a objetos específicos, como recortar, colar, encaixar pequenas peças, etc., sofiscaticam-se. Ao lado disso, permanece a tendência lúdica da motricidade, sendo muito comum que as crianças, durante a realização de uma atividade, desviem a direção de seu gesto. (RCNEI, 1998, p.24)

Promovendo jogos, brincadeiras e outras atividades que envolvam a interação e o afeto, é possível oferecer condições para realização de atividades que exigem o desenvolvimento da parte cognitiva e motora das crianças, para obterem aprendizagens significativas e descobertas de novos saberes.

O professor afetivo tem uma relação prazerosa e harmoniosa com seus alunos, se preocupa com o desenvolvimento cognitivo e pessoal de cada um, está sempre auxiliando e incentivando todos seus alunos a aprenderem, a partir do seu apoio pedagógico e na concretização de inovações para melhoria de suas aulas. Para Marchand (1985, p.37), o professor “[…] anima a relação, que lhe imprime caracteres particulares, que suscita as reações do aluno pela simples presença e pela atitude que adota desde o início.”

É nessa perspectiva que o educador, ao ser afetivo, cria um ambiente de aconchego, fazendo com que seus alunos se sintam em segurança e desenvolvam a afetividade e respeito entre si, estimulando-os em todas as fases de seu crescimento escolar. Nessa linha de pensamento, Fazenda contribui ao afirmar que:

Na ação de educar a afetividade é o pigmento que regula a intensidade e a profundidade das ações dos sujeitos no processo educativo. Ela dá o brilho à relação pedagógica, desencadeando o convívio da razão com a emoção num movimento com vida, do interior para o exterior do ser e vice-versa. Viver a afetividade na educação é propiciar um locus de magia e encantamento em meio à objetividade e a racionalidade da ciência para que os sujeitos deste processo sintam-se instigados a participar em conjunto no desvelar do desconhecido. (FAZENDA, 2001, p.89)

O ambiente escolar, enquanto lugar de aprendizagens e crescimento intelectual, proporciona aos alunos condições para que aprendam a se socializar uns com os outros,  que, por sua vez, criam laços afetivos. Isso só é possível quando todos os membros da escola, desde os professores aos responsáveis pela limpeza do ambiente, demonstram ser afetivos e receptíveis ao receber as crianças e respeitam a diferença de seus colegas de trabalho.

As situações diárias representam exemplos às crianças, para que assim possam conviver em um ambiente prazeroso e afetivo. A escola também é um lugar onde se formam cidadãos com seus valores e opiniões e, de acordo com Araújo (2003, p.163), “a escola que surge preocupada com uma educação integral, considera e integra em seu cotidiano o papel dos afetos, dos sentimentos, das emoções e dos valores […].”

Na educação infantil é possível despertar o interesse do aluno em aprender. É nesse período que a criança possui maior habilidade motora e cognitiva, sua imaginação é criativa, busca compreender tudo a sua volta a partir da sua curiosidade, tem uma concentração mais fixa na realização de algo. E, para ter êxito nesse processo, o professor, ao usar metodologias adequadas para faixa etária da turma, incluindo os jogos, brincadeiras em forma de diferentes aprendizados em sala, faz com que a criança desenvolva seu pensamento crítico. Uma sala de aula bem colorida e lúdica faz com que o aluno se sinta à vontade e aprenda de forma voluntária, sem pressão e obrigação. Nessa perspectiva, a contribuição de Tinoco (1999, p.33) é necessária ao afirmar que “a criança deve sentir a aprendizagem como neutra, não conflitiva, como uma forma de adaptar-se as exigências internas e externas”.

O educador, ao dedicar tempo buscando métodos e adequando suas ações pedagógicas conforme as necessidades de cada criança, faz com que o interesse na aprendizagem seja despertado, em especial aquele que trabalha na educação infantil, ao fornecer uma base de ensino significativo à aprendizagem da criança. O professor ao ser afetivo, acolhedor, com atitudes para desenvolver estratégias para promover aulas agradáveis e prazerosas, por meio de brincadeiras, estimula a coordenação motora da criança. Proporciona momentos de leituras para que os alunos criem o hábito de ler, oferece oportunidades para se expressarem, sempre os incetivando para que, assim, o processo de ensino-aprendizagem seja significativo e de qualidade.

3 AFETIVIDADE NO CONTEXTO ESCOLAR

O afeto no ambiente escolar, entre professor e seu aluno, auxilia no desenvolvimento da aprendizagem. Na educação infantil, é fundamental que o professor demonstre ser afetivo com seus alunos, utilizando métodos que desperte o interesse por meio de atividades que auxiliam o desenvolvimento cognitivo e o motor da criança. De acordo com Wallon e Piaget, a criança desde o seu nascimento passa por muitas transformações comportamentais, que ao longo do seu crescimento é construído seus conhecimentos.

Dentre algumas teorias comportamentais, a de Piaget abrange a teoria cognitivista, ao abordar a aprendizagem do indivíduo por meio da interação com o seu meio. A partir dos estudos realizados no decorrer do curso de Pedagogia, verificou-se que a criança passa por diferentes estágios (sensório-motor; pré-operatório; operatório concreto e, operatório formal) para se desenvolver e, neste artigo, o estágio pré-opertório será caracterizado por fazer parte dessa pesquisa.

No estágio pré-operatório, a criança de 2 aos 7 anos tem apropriação da linguagem, os jogos e brincadeiras contribuem para melhor compreenssão do mundo a sua volta e desenvolve sua aprendizagem através de incentivos, que recebem por meio dos adultos que a cercam na família e na escola. A criança, ao iniciar a fase escolar, precisa ser estimulada a explorar os meios para obter os conhecimentos necessários para seu desenvolvimento cognitivo, tendo o professor como responsável nesse processo de aprendizagem. Assim,

a etapa pré-operatória é marcada, em especial, pelo aparecimento da linguagem oral, por volta dos dois anos. Ela permitirá á criança dispor além da inteligência prática construída na fase anterior da possibilidade de ter esquemas de ação interiorizaos, chamados de esquemas representativos ou simbólicos, ou seja, esquemas que envolvem uma idéia preexistente a respeito de algo. (DAVIS E OLIVEIRA, 1994, p. 41)

O professor, atento a esses estágios, pode estimular e contribuir nesse processo de aprendizagem dos alunos, por meio de atividades que envolva o desenvolvimento cognitivo e motor. O RCNEI é utilizado como apoio pedagógico do professor, pois o auxilia na elaboração e execução de atividades de acordo com a faixa etária dos alunos. Há a possibilidade de organizar aulas proveitosas e estimulantes, que exercita o conhecimento do aluno por meio de atividades com recortes, colagens, encaixes de peças, massinhas, bolinhas com papel crepom, dinâmicas com danças e músicas, tudo que estimula o desenvolvimento do equilíbrio e da coordenação motora, assim como atividades que envolvem a interação.

A BNCC (Bases Nacional Comum Curricular), com aprovação da terceira versão em dezembro de 2017, é um documento que  garante às crianças o direito à uma educação de qualidade em todas as etapas do processo de ensino, direitos de aprendizagem e desenvolvimento e, os campos de experiências para a educação infantil, devem ser inclusas no planejamento do professor para atender as necessidades dos seus alunos.

O referido documento orienta que, no plano de ensino, o professor da educação infantil deve abordar os campos de experiências, que ao ser inseridos nas aulas, de forma lúdica e diferenciada, proporciona às crianças conhecimentos essenciais para seu processo de aprenizagem, entre eles, podemos citar “O eu, o outro e o nós”, “Corpo, gestos e movimentos”, “Traços, sons, cores e formas”, “Oralidade e escrita”, e “Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações”.  (BNCC, 2018, p.36-38)

Observa-se, assim, que o trabalho pedagógico pode se realizado a partir de atividades que ensinem as crianças a importânica da interação, a troca de experiências, o respeito em relação as diferenças entre as pessoas e as culturas. Ensinar atividades e brincadeiras dentro e fora do ambiente escolar para estimular o desenvolvimento da psicomotricidade a partir de movimentos, gestos, músicas, histórias, imaginação, que compreenda tamanhos, espessuras, formas e texturas. As crianças ampliam seus conhecimentos quando o professor cria espaços de diálogos, para que se sintam à vontade em expressarem suas emoções, experiências, descobertas, aprendizagens. Segundo a BNCC:

A interação durante o brincar caracteriza o cotidiano da infância, trazendo consigo muitas aprendizagens e potenciais para o desenvolvimento integral das crianças. Ao observar as interações e a brincadeira entre as crianças e delas com os aultos, é possível identificar, por exemplo, a expressão dos afetos, a mediação das frustações, a resolução de conflitos e a regulação as emoções. (BNCC, 2018, p.33)

Para compreender como a teoria deve estar vinculada a prática, foi efetivada a pesquisa-campo em uma escola da cidade de Aragarças-GO, momento em que observou-se como as atividades propostas são desenvolvidas em sala de aula, por meio da relação afetiva com os alunos. A referida escola concebe o PPP[1] como:

Um instrumento importante para a valorização do trabalho pedagógico e das metas da instituição de ensino, com vistas a atingir os objetivos propostos. É um processo permanente de reflexão e discussão dos problemas detectados, na busca de alternativas viáveis para a efetivação da ação pedagógica. (PPP, 2018)

A partir da análise do PPP, constatou-se como a escola se refere a afetividade entre os segmentos que integram a comunidade escolar e percebeu-se que o documento trata sobre a relação escola, família e aluno, onde “o relacionamento é bom entre ambos, pois grande parte dos responsáveis são compromissados com a aprendizagem do seus filhos”. O documento reitera ainda que

A proposta da escola parte do princípio de que o objetivo final da Educação Infantil é a formação de pessoas e, da mesma forma que outras modalidades de ensino, essa formação é construída por meio da mediação de educadores que tenham a concepção de que o educando é um sujeito ativo de seu processo de aprender, capaz de refletir e posicionarem sobre questões do cotidiano, problemas, desejos, emoções numa perspectiva dinâmica e crítica independentemente da idade. (PPP 2018)

A escola oferece a Educação Infantil e os Anos Iniciais do Ensino Fundamental no período matutino e vespertino e atende um total de 216 alunos matriculados. Sua estrutura física contém seis salas de aula, com as turmas do Pré I, Pré II e do 1º  ao 3ºAno, sala para os professores, direção e coordenação; secretaria; um espaço para almoxarifado; uma sala (que comporta as prateleiras e livros da antiga biblioteca) que é utilizada como videoteca; banheiro para os funcionários; dois banheiros para os alunos (um masculino e outro feminino); corredores cobertos na frente das salas e um pequeno espaço onde os alunos realizam a recreação e uma pequena área coberta.

O objetivo geral da escola é o de “garantir ao educando situações de construção do conhecimento promovendo o seu crescimento pessoal, social de forma consciente, solidária, responsável, participativa e crítica, visando a sua integração e atuação no meio sociocultural”. (PPP, 2018). Apresenta a seguinte filosofia, ao considerar seu ambiente como:

um lugar de convívio e legitimação de diversos saberes e fazeres, considerando a socialização do conhecimento formal historicamente construído. Assim, a escola é um espaço de ampliação da experiência humana, onde deve ser oferecida aos alunos uma educação de qualidade, com altos níveis de aprendizagem. Sua função é promover crescimento e desenvolvimento humano, criando possibilidades para que os sujeitos socializem experiências, realizem aprendizagens e construam sua identidade numa perspectiva de pleno exercício da cidadania. (PPP, 2018)

A pesquisa-campo foi realizada no período matutino, com a turma do Pré I. A professora, licenciada em Pedagogia e Geografia, atua há 16 anos na área da educacão com especialização em Psicopedagogia.

A sala de aula observada é constítuida por 18 crianças organizadas em fileiras. Diariamente a professora recebe seus alunos na porta da sala com sorrisos e abraços, é atenciosa com as crianças e com os pais. Para começar a aula pergunta como foi o dia, cantam músicas infantis e fazem orações de agradecimento e, para dar início as suas atividades, faz a leitura deleite para estimular a imaginação da criança. Após a história, pergunta sobre o assunto e deixa que as crianças falem o que entenderam, para haver a troca de experiências entre os colegas.

Ao desenvolver atividades impressas, procura explicar e ajudar as crianças a realizar a atividade, vai até o quadro para que sigam as orientações e, com aquelas que possuem mais dificuldades, a professora se desloca até a mesa do aluno, se precisar pega na mão da criança e o ajuda a fazer. Para aqueles alunos que não conseguem escrever as letras do alfabeto e o seu próprio nome, a professora utiliza o método do pontilhado para que a criança cubra para formação da letra ou palavra, porporcionando a aprendizagem da escrita e o desenvolvimento motor.

A partir do plano quinzenal apresentado pela professora, observou-se que os contéudos atendem as dificuldades dos alunos por meio de atividades essenciais no processo de aprendizagem; entre elas, atividades com colagem e modelagem, leituras e escritas de numerais, vogais e consoantes, brincadeiras infantis, atividades de pinturas, compreenssão de quantidades e número.

No decorrer do seu trabalho pedagógico percebeu-se que a professora, ao desenvolver as atividades pedagógicas, promove interação entre os alunos, tanto dentro como fora da sala de aula, por meio do uso de músicas, rodas de conversas, atividades em grupos, brincadeiras de massinha, dia do brinquedo, dia do parquinho e o mais importante, interage com as crianças nas brincadeiras e danças. Além de atividades de imaginação por meio das leituras deleite, leva as crianças até a biblioteca para que escolham livros e façam observações para depois haver a troca de experiências em sala de aula.

No período da observação, a professora levou as crianças para biblioteca da escola, separou livros infantis para que cada criança escolhesse o seu, fizesse suas leituras a partir das imagens e criassem suas histórias. Esse momento proporcionou uma interação entre as crianças, que sentavam-se ao lado umas das outras, compartilhavam risos e histórias criativas após a leitura que cada um fazia, após, os livros eram trocados entre sim. A professora fazia perguntas e interagia com as histórias contadas pelas crianças. Ao finalizar esse momento para voltar a sala de aula, a professora escolheu um livro com uma história do telefone sem fio, onde a medida que uma pessoa contava um segredo para alguém, espalhava-se até que chegou aos ouvidos de um cachorro, onde ali o segredo ficou guardado.

A professora ensinou, por meio dessa história, que quando um colega ou alguém da nossa família nos conta algo que não pode ser contado para alguém, temos que respeitar e guardar o segredo da outra pessoa. Com isso, as crianças deram suas opiniões sobre o assunto e logo retornaram para sala. Ao entrar na sala de aula, promoveu um espaço de diálogo para que as crianças falassem sobre os livros, compatilhando dessa forma seus momentos de aprendizagens.

Atividades realizadas em outros espaços da escola proporcionam momentos prazerosos e, por mais simples que sejam, se tornam  aprendizagens significativas para a criança. Essas atividades têm resultados positivos quando a professora é afetiva e fornece uma base sólida para que o processo de aprendizagem do aluno seja satisfatório. E a relação da professora e dos alunos, observados na pesquisa-campo, é afetiva, tendo controle da sala e das atividades, proporcionando um espaço harmonioso com muita atenção e respeito.

Quanto da efetivação da entrevista com a professora e ao ser questionada sobre o significado de afetividade, a mesma responde que “é um laço que liga professor e aluno. É um conjunto onde está relacionado a autoestima e os valores. É dar atenção a algo que afeta ou não a criança”. O posicionamento da professora reitera as leituras desenvolvidas por reafirmar que a afetividade é um laço que deve ser estabelecido na educação infantil, para proporcionar uma relação afetiva e estimular os alunos a fortalecer sua autoestima e a autonomia para construir sua independência.

Questionada sobre como a afetividade interfere no desenvolvimento da criança, a professora afirma que “a afetividade contribui no desenvolvimento cognitivo e moral da criança, preparando-o para o convívio em sociedade”. É importante nessa fase formar cidadãos críticos e com personalidade, para que saibam conviver com outras pessoas, respeitando as formas de pensar e agir do próximo.

Na fase pré-escolar é normal encontrar crianças que nunca tiveram contato com a escola e seu processo de aprendizagem pode ser mais lento, ou não, em relação aos que já tiveram e cabe ao professor respeitar o tempo de aprender de cada criança, não compará-los com as demais crianças e proporcionar atividades que possam suprir as suas dificuldades e limitações. Ao perguntar a professora se o processo de aprendizagem daqueles que nunca frequentaram a escola é mais lento, a mesma responde que “cada criança tem o seu tempo no que diz respeito ao aprendizado. Porém as crianças que estão em contato com a escola pela primeira vez conseguem desenvolver-se de maneira semelhante aos que já tiveram contato com a escola e muitos até superam os que já frequentavam o ambiente escolar”.

Assim, como os materiais pedagógicos são essenciais nesse processo, o uso de uma metodologia adequada para faixa etária dessas crianças possibilita ao professor estimular o desenvolvimento do aluno, tanto naquele que possui maior ou menor dificuldade. E ao perguntar sobre quais recursos são utilizados para estimular a prendizagem dos alunos, a mesma responde que no decorrer das aulas faz uso de “jogos lúdicos, atividades coletivas e individuais, músicas, leitura, recortes, colagem, atividades de leitura, escrita, concentração, atividades que envolvem sequências de letras, cores e números, atividades de equilibrio e que contemplem a psicomotricidade.”

Para que tenha êxito na execução das atividades em sala, a professora precisa ter ajuda dos pais, em casa. A escola e a família precisam trabalhar em conjunto para fornecer o apoio necessário as crianças nas suas diferentes etapas de ensino. Ao perguntar a professora se os pais são presentes na vida escolar dos alunos, pensativa, responde que “no contexto escolar que vivemos hoje, uma grande maioria dos pais alegam não ter tempo devido ao trabalho. Muitas vezes tem atividades que vão e voltam sem fazer, não participam de reuniões, muitos só procuram a escola quando acontece algo que o deixa insatisfeito, raramente essa insatisfação se dá pelo aprendizado do seu filho, pois muitas vezes não sabem nem a que nível o seu filho está.”

A professora, no decorrer do seu dia a dia, desenvolve inúmeras funções que vão além da preocupaçaõ com a aprendizagem. Precisa estar atenta a alguns sinais que as vezes a criança pode estar sofrendo em casa e que isso acaba prejudicando o seu rendimento escolar. Em relação a isso, foi questionado a professora se é função do professor se preocupar também com a vida pessoal do seu aluno. Sobre isso, a professora afirmou que “o professor precisa conhecer e se ater aos fatos que acontecem na vida pessoal dos alunos. Pois muitos levam a queda do nível de aprendizagem, necessitando assim que a escola acione a família e se precisar a equipe multifuncional para auxiliar a criança e o professor”.

No decorrer da pesquisa de campo, constatou-se que a professora procura fornecer apoio necessário para seus alunos que são carentes de afeto pois ficou visivel sua preocupação com o desenvolvimento de cada um e procura meios que faclitam a aprendizagem, sempre mantendo uma relação prazerosa e harmoniosa ao proporcionar momentos com rodas de conversas para deixar que os alunos se expressem sobre diversos assuntos do cotidiano. Ao ser questionada sobre essa atitude percebida, a professora falou que “diálogo fortalece o vínculo afetivo e promove a interação em sala de aula. E essa interação com os alunos é feita por meio de atividades em grupos e extra classe”.

A partir da pesquisa campo foi possível verificar como a afetividade contribui para o desenvolvimento do processo de aprendizado da criança, ao estabelecer laços afetivos construídos em sala de aula entre professor e o aluno. Evidenciou-se que, nesse processo, o professor afetivo é aquele que se preocupa com o desenvolvimento por completo do seu aluno e, para isso, faz uso de recursos apropriados nessa prática peagógica.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os estudos demonstraram que afeto é além do amor, carinho, beijos e abraços. Envolve um conjunto de emoções fundamentais para construção de uma relação de respeito, atenção e cuidado com o próximo. Essa relação afetiva, ao ser construída pelo professor com os alunos, proporcionará aprendizagens significativas.

A pesquisa-campo contribuiu na validação da hipótese, uma vez que se torna importante a afetividade na relação professor e aluno, pois é essencial para o processo de aprendizagem. O aluno percebe quando o profesor se importa com seu desenvolvimento e, por meios de suas práticas pedagógicas ao proporcionar aulas prazerosas, contribuirá para esse processo. Consequentemente, a criança se esforça em aprender e tem admiração pelo professor.

A experiência da pesquisa campo foi essencial para perceber que, em sala de aula, há a presença da afetividade, permitindo assim a construção de uma relação amigável e companheira entre professora e aluno, estabelecendo, ao mesmo tempo, um elo de confiaça e proteção.

Como resultados do processo investigativo, destaca-se que a professora demonstrou atenção na aprendizagem da criança, ao trazer para sala de aula diferentes recursos para suprir as dificuldades, oferecendo atividades que estimulam o desenvolvimento de  todas as funções cognitivas e motoras do aluno. Ao mesmo tempo, proporcionou situações de aprendizagem significativas e essenciais para o crescimento do aluno, além de demonstrar preocupação com a vida escolar e pessoal do seu aluno. Com muita paciência, auxiliou as crianças na resolução de diferentes atividades, ama o que faz, preocupa-se com o bem estar e desenvolvimento cognitivo do aluno.

A partir das leituras relacionadas à afetividade no processo de ensino-aprendizagem e a vivência na prática por meio da observação em sala de aula, foi comprovado a importância da afetividade no processo de desenvolvimento cognitivo e o quanto é necessário a construção de afeto por parte do professor para com seu aluno. Além de proporcionar uma relação de amor, carinho, respeito, amizade, companherismo dentre outras emoções, a afetividade também proporciona aprendizagens, que auxiliam no processo de crescimento intelectual do aluno e os estimulam para buscar novos conhecimentos.

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAÚJO, Ulisses F. A dimensão afetiva da psique humana e a educação em valores. In ARANTES, Valéria Amorim (Org) Afetividade na escola: Alternativas Teóricas e Práticas. São Paulo: Summus, 2003, p.153-169.

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[1] Dados extraídos do Projeto Político Pedagógico da Escola Campo, documento que norteia não apenas a prática pedagógica, mas todo o planejamento escolar da instituição.