AFECÇÕES PODAIS EM BOVINOS DE LEITE – REVISÃO DE LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10478743


Marcelina Aparecida dos Santos


Resumo:

O presente trabalho consiste em uma revisão de literatura para a conclusão de curso de graduação em medicina veterinária, e traz informações a respeito das principais afecções podais que acometem bovinos de leite, com considerações acerca da anatomia e biomecânica do casco, etiologia das afecções podais, fatores predisponentes, impactos econômicos, importância e medidas preventivas para tais problemas, visando assim auxiliar no controle e diminuição dos mesmos

Palavras-chave: Claudicação, gado de leite, problemas de casco

Introdução

Segundo Zoccal (2017) o Brasil se encontra na 4ª posição no ranking mundial de produção leiteira. Dentre as cadeias produtivas do setor agropecuário do Brasil, o leite tem apresentado grande destaque. Isso se deve ao fato de que a produção leiteira acompanhou o desenvolvimento econômico do país, além de, na década de 90 ter ocorrido a estabilização da economia brasileira em decorrência da implantação do plano real, juntamente com a criação do Mercosul possibilitando uma maior abertura da economia brasileira para o mercado internacional (GOMES, 2001; GOMES, 2012).

A produção de leite está distribuída por todo país, e as diferenças entre os métodos de produção de região para região ainda são bem marcantes, sendo que os produtores que mais investem em tecnologias para facilitar a mão-de-obra, concentram-se nas bacias leiteiras dos estados de Goiás, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Já os pequenos produtores, que trabalham com processos menos tecnificados, se encontram distribuídos por todo o território nacional. Em âmbito nacional, a região Sudeste concentra a segunda maior produção leiteira, ficando atrás apenas da região Sul. (CARVALHO; OLIVEIRA, 2006). Em se tratando apenas da região Sudeste, o estado de São Paulo concentra a segunda maior produção leiteira, seguido pelo estado de Minas Gerais (GOMES, 2001). Segundo Rosoelen (2006) o estado de São Paulo ocupa a quinta posição no ranking nacional de produção leiteira, sendo também o maior mercado consumidor do Brasil, além de ter sido em 2005 o maior produtor de leite pasteurizado do pais. O segundo maior parque industrial de laticínios também se encontra no estado de São Paulo, sendo que a bacia leiteira de Araçatuba está listada entre as de maior importância em relação ao volume produzido juntamente com a de São José do Rio Preto, com 2003 e 4813 produtores respectivamente, superando as da região de Campinas (ROSOELEN, 2006).

Dentro da bovinocultura de leite as afecções podaIs consistem em um problema de grande importância e que pode ser visto como algo de incidência universal, já que pode atingir todo o rebanho bovinos tanto leiteiros quanto de corte, porém neste último com uma menor incidência (BLOWEY et al. 2008). 

Inicialmente o melhoramento genético buscava por características como uma maior produção leiteira, maior capacidade digestiva e respiratória, maior facilidade durante o parto, porém esqueceram-se de trabalhar no melhoramento de pernas e pés dos mesmos, sendo que essas são características de baixa herdabilidade, portanto, necessitam de muitos anos de seleção genética para que os resultados sejam satisfatórios. Devido aos fatores citados anteriormente, fez-se necessário serem realizadas adequações nas instalações e manejo, uma vez que visando atender a demanda do mercado, houve a intensificação dos sistemas de produção, fazendo com que assim ficassem um maior número de animas por área, resultando em um maior acumulo de dejetos, umidade, menor higiene (PLAUTZ, 2003).

As afecções podais ocupam a posição de terceiro maior problema enfrentado pela bovinocultura leiteira, perdendo apenas para a mastite e a infertilidade de fêmeas bovinas (FERREIRA et al., 2005; JANSON, 2012 apud RODOSTITIS et al. 2007; PLAUTZ, 2013 apud NICOLETTI et al., 2013; WATSON 2007;). Na grande maioria das vezes, esses problemas podais ocorrem por erros de manejo como problemas nutricionais, problemas ambientais como alta quantidade de fezes no curral, presença de lama, presença de cascalho no caminho até a ordenha, não fazer o casqueamento correto dos cascos, dentre outros problemas que rotineiramente passam desapercebidos pelos proprietários e colaboradores da propriedade, porém, causam danos à saúde do animal, e, consequentemente uma redução na produção leiteira (FERREIRA et al., 2005; JANSON, 2012; PLAUTZ, 2013; SILVA, 2009).

Um estudo realizado na Inglaterra observou uma incidência anual onde 30% dos animais observados apresentavam algum tipo de claudicação, e desses, foi possível observar que 90% das lesões estavam localizadas em casco e somente 10% nas partes mais altas dos membros (FERREIRA et al., 2005 apud PRENTICE e NEAL, 1972). Ferreira et al. (2005) em seu estudo descreve que as lesões que mais acometem bovinos são dermatite interdigital, atingindo cerca de 16,3% dos animais observados, seguida de abscessos da linha branca, com 15,6%, ulceras de sola, com 13,6%, abcessos de sola, com 10,4% e dupla sola, com 8,7%. A grande maioria das afecções podais em bovinos que causam claudicação acontecem com maior frequência nas unhas laterais dos membros pélvicos, já nos membros torácicos, essas lesões são encontradas com maior frequência em unhas mediais, isso ocorre devido a forma como é distribuída o peso desses animais sobre os membros. (BLOWEY, 2008, FERREIRA et al. 2005, JANSON, 2012; PLAUTZ, 2013; SILVA, 2009)

Ferreira et al. (2005), relata que devido ao fato de os problemas podais serem um dos entraves para um maior desenvolvimento da bovinocultura leiteira, tais enfermidades passaram a receber uma importância maior e de forma crescente nas últimas décadas. Devido a isso, e ao fato de que os problemas podais levam a perdas importantes na produção leiteira, uma vez que em casos mais graves de claudicação, há uma redução de até 20% da lactação dessas fêmeas, além de perdas outras perdas econômicas como problemas reprodutivos, e um custo no tratamento desses animais doentes, e considerando a sua alta incidência anual, as afecções podais têm sido mais estudadas em diversos países do mundo.

Desta forma, a importância do presente estudo justifica-se pelo necessidade de melhor conhecimento sobre a incidência de afecções podais em pequenas propriedades da região de Araçatuba e além da necessidade de identificar possíveis erros de manejo que possam justificar esta incidência, fazendo com que esta relação possa servir de orientação aos pequenos produtores possibilitando a adotarem praticas que possam auxiliar na redução das afecções podais, e consequentemente melhorar a produção leiteira.

Anatomia e biomecânica do casco

Os bovinos são mamíferos quadrúpedes biungulados, isto é, se apoiam e se movimentam sobre os quatro membros, contendo dois dígitos cada membro, sendo que a parte mais distal dos mesmos é revestida pelo casco (SILVA, 2009). Os membros anteriores são conhecidos por mão, e os membros posteriores por pé, os dígitos são conhecidos por dedos/unhas, sendo um lateral e um medial em cada membro, além disso, cada membro também apresenta outros dois dedos além dos principais, que são dedos rudimentares que se encontram dispostos atrás do boleto, e não entram em contato com o solo (SILVA, 2009).

O casco bovino é formado por um estojo córneo, que consiste em uma epiderme queratinizada semelhante à dos pelos e unhas (BLOWEY, 2008; PLAUTZ, 2013). Esta epiderme que constitui o casco consiste em um tecido avascular, sendo que para que a parte germinativa da mesma tenha nutrientes e oxigênio, é necessário que haja suprimento sanguíneo proveniente da derme (cório) (SILVA, 2009). 

Segundo descrito por Blowey (2008), o casco contem cinco estruturas distintas, sendo elas o perioplo, a parede, a sola, a linha branca e o calcanhar/ talão. A parede, a sola e o calcanhar são estruturas formadas por um tecido córneo tubular produzido pelo cório papilar e a queratinização das células se dá através de um mecanismo fisiológico que envolve uma alta taxa de produção de queratina na parte interna da célula, além de ser necessário também que ocorra a produção de substâncias que vão atuar como um cimento intracelular. Tudo isso ocorre como citado anteriormente por um processo de difusão, uma vez que a epiderme é um epitélio queratinizado avascular, necessitando assim então de suprimento sanguíneo para que haja oxigênio e nutrientes para a produção de um bom tecido córneo (BLOWEY, 2008; SILVA, 2009).

Para que tenhamos um bom estojo córneo, são necessários três fatores determinantes, sendo eles a quantidade de fibrilas de queratina constante na célula e a força de suas pontes de dissulfeto que se entrelaçam para que assim seja possível ocorrer a formação das massas de queratina, a quantidade e a qualidade das substancias que vão atuar como cimento intracelular mantendo as células queratinizadas unidas e por fim a arquitetura do tecido córneo propriamente dito, levando em consideração a proporção entre quantidade de tecido córneo tubular em relação ao não tubular, o que vai corresponder efetivamente a quantidade de túbulos córneos presentes no tecido (BLOWEY, 2008).

O cimento intracelular é formado por aminoácidos como metionina, histidina, lisina, arginina, além de água e macro e micro-elementos como cálcio, fósforo, cobre, zinco, enxofre, cobalto, molibidénio, bem como uma pequena quantidade de gordura (SILVA, 2009).

Segundo descrito por Blowey (2008), há aproximadamente 80 túbulos/mm² de parede, sendo que essa quantidade diminui para 20 túbulos/mm² na região central da sola e na linha branca não há presença de tecido córneo tubular. Desta forma, a parede córnea corresponde à região mais firme do casco, principalmente em se tratando do digito, quando está mais madura. 

O número de túbulos presentes no estojo córneo é definido logo ao nascimento do animal, desta forma, em caso de vacas idosas por exemplo, o espessamento/aumento de volume do casco se dá devido a expansão do cimento intracelular, e desta forma, a pata chata e ampla de uma vaca mais velha tende a ser mais macia e fraca do que a pata compactada e pequena de uma novilha (BLOWEY, 2008).

Em se tratando das estruturas em que o casco é dividido, Blowey (2008) explica que o perioplo consiste em uma faixa de tecido córneo macio e sem pelos, que fica na parte mais proximal do casco, separando a parede do casco da pele na sua banda coronária, se estendendo de uma unha a outra e se fundindo com os bulbos do calcanhar, proporcionando desta forma, um tecido ceroso e liso, que pode ser observado em cascos de boa qualidade. Tem como principal função impedir que haja desidratação do tecido córneo, e há deterioração do mesmo se dá devido ao avanço da idade do animal, ou então clima quente e seco ou com excesso de ventos, o que pode predispor a fissuras verticais na região. A parede é uma estrutura oriunda do cório papilar que se encontra localizado logo abaixo da banda coronária, e tem uma taxa de crescimento de aproximadamente 5mm ao mês. Desta forma, como a parede anterior tem o comprimento de aproximadamente 75mm medido da banda coronária anterior ao digito, estima-se que para que haja a formação de um novo tecido córneo para revestir o digito demore 15 meses. 

Em se tratando do tecido córneo da sola, o mesmo é produzido pelo cório papilar, devido a isso, o mesmo é constituído por tecido córneo tubular e matriz intertubular, e sua espessura pode variar entre 10 a 15 mm, e o desgaste do tecido córneo da sola começa a se desgastar cerca de dois a três meses após a sua formação (BLOWEY, 2008). A linha branca consiste na junção da parte que compreende a junção da sola com a parede, e a mesma se estende do calcanhar, ao longo da parede abaxial até o digito, e caudalmente ao longo da parede axial, seguindo um trajeto no sulco axial que vai terminar na fenda interdigital (BLOWEY, 2008). A mesma é composta por células foliculares córneas laminares e interdigitantes (BLOWEY, 2008). Os dois tipos de células são produzidas desde o cório adjacente ao digito, até onde o cório laminar da parede se junta ao cório papilar da sola, nesta região não há presença de tecido córneo tubular, desta forma, o tecido córneo da linha branca acaba por ser menos maduro e consideravelmente menos resistente que o da sola ou o da parede do casco (BLOWEY, 2008).

Por fim, o calcanhar, bulbo ou talão consiste em uma continuação da camada perioplica do casco onde os túbulos córneos se estendem obliquamente desde o calcanhar até a sola, e é formado por um tecido mais macio que pode se expandir e contrair durante a locomoção, onde juntamente com o coxin digital subjacente atua como amortecedor de choque e uma bomba vascular que impede que ocorra a estase venosa, devido a isso, novilhas que permanecem de pé por muito tempo podem vir a desenvolver anoxia no cório e desta forma, levar a produção inadequada de tecido córneo (BLOWEY, 2008).

A derme modificada ou cório consiste na região que proporciona suprimento nervoso e vascular ao tecido córneo e demais estruturas como tecido ósseo e estruturas associadas mais internamente (BLOWEY, 2008). A mesma é dividida em três partes, sendo elas a parte coronariana, parte parietal ou tubular e derme lamelar (SILVA, 2009) A parte coronariana ocupa um espaço restrito e consiste em um tecido formado por papilas vascularizadas que se orientam em direção ao chão, e seu tecido córneo mole é produzido por células germinativas; a parte parietal ou tubular encontra-se logo abaixo da derme coronariana e por fim, a derme lamelar é extremamente vascularizada e possui muitas fibras reticulares densas que fazem a ligação da parede dos vasos à falange distal (SILVA, 2009)

Pelo fato de o cório ser quem proporciona o suprimento nervoso e vascular às demais estruturas ali presentes, shunts arteriovenosos que cruzam a parte superior das patas dos bovinos permitem que o sague seja desviado dos capilares durante o momento de sustentação do peso, porém, caso os mesmos permaneçam abertos por muito tempo, como por exemplo resultado de uma coriose, pode ocorrer anoxia e consequentemente a formação de tecido córneo disceratótico (BLOWEY, 2008).

O cório consiste em um tecido estruturalmente modificado, devido a isso, o mesmo permite que sejam realizadas diferentes funções em varias regiões da pata, como as papilas da parede e da sola expelirem o tecido córneo tubular, produção de cimento nas extremidades distais do casco, produzidas através das interdigitações formadas pelo cório laminar com as lamelas da parede do casco, no coxim digital, o cório é impregnado por gordura e tecido fibroelástico, que atua como amortecedor de choques, além de bomba vascular, desta forma, um trauma causado no coxim resulta em uma substituição irreversível da gordura e do tecido elástico ali presente por tecido cicatricial, causando assim consequente perda de função, e a face mais interna do cório é onde propicia nutrientes e suporte vascular aos ossos podal e navicular, e onde os shunts arteriovenosos permitem que o sangue  seja desviado das patas durante os momentos de sustentação de peso (BLOWEY, 2008).

Segundo descrito por Silva (2009), o tecido subcutâneo é encontrado abundantemente no bulbo ou talão e ausente na maioria do córion, e consiste em uma densa camada de tecido fibroelástico. O bulbo tem a importante função de amortecer os impactos sofridos pela região e quando o mesmo é pressionado, a distribuição de peso se expande nos sentidos axial e abaxial, transferindo assim as forças para a parede do casco. Se por algum motivo ocorrerem alterações na estrutura do talão, ou em casos onde há reduzidas forças de tensão como por exemplo em casos de laminite crônica, podemos observar que há um comprometimento da absorção de impactos pelo bulbo.

Em se tratando do ponto de vista anatômico, é necessário abordar todas as estruturas ósseas, articulações, ligamentos e tendões e onde os mesmos estão localizados (SILVA, 2009). A terceira falange ou falange distal, o osso sesamóide distal ou navicular, e a articulação interfalangiana distal são estruturas que se encontram localizadas dentro do estojo do casco, o tendão flexor digital profundo encontra-se fixado à tuberosidade flexora da falange distal, localizada no calcanhar e é separado do navicular pela bursa navicular, além disso, as vezes é possível visualizar pequenas faixas fibrosas da estrutura tendinosa na base de úlceras de sola profundas, onde estes são fragmentos do tendão flexor profundo, por fim, o aparato suspensor da falange distal é o que sustenta a borda caudal do osso, e está fixo firmemente ao cório, em sua face abaxial e unido axialmente aos ligamentos suspensores do membro (BLOWEY, 2008).

A frequência com que as claudicações ocorrem nos dígitos dos bovinos é diferente, sendo que há um maior envolvimento de patologias na unha lateral do membro posterior e na unha medial do membro anterior. (FERREIRA et al., 2005). 

O ato de caminhar de um animal ungulado tem início no momento em que os talões do mesmo tocam o chão, o coxim digital tem a função de amortecer e reduzir o impacto do peso sobre as patas do animal quando a mesma toca o chão, e isso se dá graças à sua natureza elástica, contudo, é a porção abaxial dos membros posteriores que atua absorvendo e reduzindo impactos em primeiro lugar (JASON, 2012). É ideal que a sola seja côncava e que nenhum peso seja exercido ali, desta forma, a maior parte do peso do animal será suportado pela parede do casco e as forças serão transmitidas através do tecido laminar para a 3ª falange de forma a seguir um trajeto ascendente para os outros ossos restantes no membro através de um sistema de articulações e tendões (JASON, 2012).

De forma resumida, o que acontece é que devido ao excesso e a não uniformidade do peso, é causada então uma sobrecarga nas unhas mais expostas dos membros, que por sua vez vão provocar uma lesão nas áreas mais sobrecarregadas, e como resposta vai ocorrer a formação de mais substancia córnea, fazendo assim com que se mantenha ou até mesmo aumente a sobrecarga existente nesses pontos, esse ciclo só é interrompido caso haja intervenção corretiva, entretanto e nestas condições, inúmeras são as patologias que podem se desenvolver ali (JASON, 2012).

Principais afecções podais e tratamentos

Segundo descrito por Serrão (2007), no IV manual de podologia bovina, as afecções podais podem estar divididas em primarias e secundarias, sendo que as primarias consistem em dermatite digital e interdigital, necrobacilose interdigital e laminite. Já as afecções secundarias são úlceras de sola, erosão de talão, hiperplasia interdigital, fissura vertical e fissura horizontal. Uma vez que as afecções podais costumam ser reconhecidas pela forma em que se apresentam, faz-se necessário também que saibamos reconhecer cada uma delas e suas possíveis causas, para que assim seja possível estabelecer o melhor tratamento que se enquadra àquele tipo de lesão e também para que seja possível assim eliminar a sua causa.

Dermatite digital

A dermatite digital consiste em uma das doenças mais comuns dentro dos rebanhos leiteiros, e teve a sua primeira descrição em literatura no ano de 1974, sua distribuição é mundial, e sua importância se dá não só pela sua distribuição, mas também pela sua rápida disseminação e dificuldade de tratamento, além do fato de ser um problema de alta prevalência dentro dos rebanhos (PLAUTZ, 2008).

Consiste em uma infecção bacteriana da pele que tende a acometer principalmente a epiderme, tem caráter inflamatório e as lesões costumam estar localizadas principalmente na região caudal do espaço interdigital, próxima a margem coronária, atingindo mais frequentemente a camada epidérmica, porém podendo atingir também com menor frequencia a camada da derme (BLOWEY, 2008; PLAUTZ, 2008).

Segundo descrito por Plautz (2008), a dermatite digital consiste em uma afecção de caráter multifatorial que costuma estar associada a sistemas de criação intensivos, mas também pode ocorrer em animais criados a campo. Em se tratando de seu agente infeccioso, as bactérias do gênero Treponema sp. do gênero Espiroquetas, tendem a ser as que mais costumam ser isoladas. Isso se da pelo fato de serem bactérias facilmente encontradas em vida livre no solo úmido e em água doce ou salgada, esgotos, dentre outros, as mesmas, quando é feita cultura, se apresentam em forma de bastonetes espiralados negativos a coloração de gram. São bactérias produtoras de uma toxina queratolítica, onde essa toxina é responsável por causar as lesões em regiões queratinizadas da pele. Além dela, a Dichelobacter, Borrelia burgdorferi e papilmavírus também podem estar associados ao desenvolvimento da doença.

Os sinais clínicos mais comuns são o aparecimento de lesões notadas com incrustação de material hiperceratótico acinzentado, indolor e seco na região interdigital, sendo estas as lesões iniciais, em se tratando de lesões mais graves, as mesmas podem ser superficialmente doloridas, podendo provocar claudicações que vão variar com a extensão da ferida, sendo que em casos de claudicação mais severas, os animais pisam com as pinças, há perda de peso, queda na produção de leite, além de poder afetar também a fertilidade dos mesmos,  e as feridas são notadas tipicamente por uma área de exsudação marrom acinzentada de cerca de 10 a 20mm de diâmetro, podendo ter pelos emaranhados circulando o espaço interdigital, quando é feita a limpeza, é possível notar uma área inflamada e muito dolorida a palpação, e com odor fétido característico (BLOWEY, 2008; PLAUTZ, 2008). As lesões podem ser encontradas em várias regiões e de várias formas, sendo possível nota-las mais comumente no calcanhar, porém, também há a possibilidade de encontra-las em espaço interdigital, na sola, ou na linha branca (BLOWEY, 2008). 

A dermatite digital costuma ser causada por falta de higiene, humidade, alta concentração de animais, introdução de novos animais no rebanho, onde os mesmos são portadores do agente, ou de forma iatrogênica, através da manipulação de material infectado e posteriormente, manipulação de animais livres, devido ao seu alto potencial de proliferação (PLAUTZ, 2008).  

As complicações da dermatite digital são muito semelhantes às da dermatite interdigital, podendo levar a erosão de talão, crescimento excessivo de unhas além de ulceras de sola (PLAUTZ, 2008).  

O tratamento da mesma se dá através inspeção dos cascos, e da limpeza das feridas com água e sabão, posteriormente, as mesmas devem ser secas, e é feita a utilização de antibiótico tópico como por exemplo oxitetraciclina e sulfato de cobre e em seguida o local deve ser protegido com gaze e bandagem adesiva impermeável, ou feita a impermeabilização da bandagem com silver tape, esparadrapo, dentre outros, pode ser feito também a utilização de antibioticoterapia sistêmica utilizando também de oxitetraciclina ou cefalosporina, porém na grande maioria das vezes apenas o tratamento tópico já se faz suficiente (PLAUTZ, 2008).  

Dermatite interdigital

Assim como a dermatite digital, a dermatite interdigital também consiste em uma inflamação de origem bacteriana, podendo acometer a região interdigital dos cascos dos bovinos, afetando tanto as regiões de face dorsal, quanto plantar/palmar, e bulbo dos talões (PLAUTZ, 2008).  Seu agente causador é o Dichelobacter nodosus, que consiste em uma bactéria anaeróbia, gram negativa, porém também pode ser causado pelo Fusobacterium necrophorum (PLAUTZ, 2008).  

Em geral, a dermatite interdigital não tende a ser considerada como causa de claudicação em bovinos, porém, é sabido que animais acometidos por ela ficam predispostos a serem acometidos posteriormente por outras lesões que tendem a levar a claudicação como por exemplo a dermatite digital e necrobacilose interdigital (BLOWEY, 2008).

Os sinais clínicos tendem a ser discretos, podendo ocasionar hiperemia e irritação da pele do espaço interdigital, porém é possível observar em alguns casos o aprofundamento da inflamação, levando desta forma ao aumento das ulceras presentes na epiderme, invadindo assim outras regiões e provocando erosões e fissuras do estojo córneo, além de necrose do calcanhar, sendo que nesses casos, a dermatite interdigital pode se tornar ainda mais semelhante a dermatite digital,  e poder levar a uma hiperplasia interdigital (Tiloma/Gabarro) por conta de um espessamento da pele da região, e formar lesões papilomatosas (BLOWEY, 2008; PLAUTZ, 2008).  

Os fatores que predispõe ao aparecimento de dermatite interdigital são os mesmos da dermatite digital como umidade, sujeira e alta concentração de animais (PLAUTZ, 2008).  O tratamento deve ser o mesmo da dermatite digital, além disso, a utilização regular de pedilúvio com sulfato de cobre ou formalina, além de casqueamento regular e limpeza de locais comprometidos e controle da higiene do ambiente, auxiliam no tratamento e profilaxia do mesmo  (BLOWEY, 2008; PLAUTZ, 2008).  

Necrobacilose interdigital

A necrobacilose interdigital, é também conhecida como flegmão interdigital, podridão de casco ou pododermatite infecciosa, consiste em uma infecção bacteriana da pele da região interdigital, é uma doença de distribuição mundial, de caráter infeccioso agudo ou subagudo. (BLOWEY, 2008; PLAUTZ, 2008; SERRÃO, 2007).  

A lesão se inicia com um inchaço e alargamento da região interdigital, onde posteriormente ocorrerá uma fissura na pele da região e necrose do tecido adjacente, causando assim muita dor ao animal, além de claudicação e perdas na produção, tem maior importância em ovinos, sendo uma das principais causas de claudicação nos mesmos, porém também acomete bovinos (PLAUTZ, 2008). 

É causada principalmente pelo Fusobaterium necrophorum, que consiste em uma bactéria anaeróbica, gram negativa, que habita o rúmen e intestinos de bovinos e ovinos, e é produtora de uma exotoxina hemolítica que é responsável por causar celulite necrótica na pele interdigital dos mesmos, porém também pode ser causada por outras bactérias como Bacteroides melaninogenicus e Dichelobacter nodosus (BLOWEY, 2008; PLAUTZ, 2008).

Os fatores predisponentes para o aparecimento da necrobacilose são as más condições de higiene, fazendo com que aconteça o acumulo de sujidades na região interdigital dos membros dos bovinos, umidade excessiva, que vai levar a um amolecimento e enfraquecimento dos cascos, uma vez que os mesmos são higroscópicos, lesões que geram traumatismos perfurantes, por exemplo, que vai fazer com que seja facilitado o estabelecimento do agente causador no local, deficiência de zinco, conformação dos cascos, onde aqueles com unhas muito abertas vai favorecer ao aparecimento de lesões por traumatismo e consequentemente ao estabelecimento da bactéria e deficiência de zinco que vai fazer com que a integridade do casco seja afetada, predispondo assim ao estabelecimento da doença (BLOWEY, 2008; PLAUTZ, 2008).

O sinal clínico mais evidente nos animais é a claudicação intensa de início repentino e o odor fétido característico, as lesões ocorrem principalmente em membros posteriores, e é caracterizada por tumefação bilateral acima da banda coronária em ambas as unhas, cursando frequentemente com afastamento dos dígitos (BLOWEY, 2008; PLAUTZ, 2008). Nas primeiras 12 horas, é possível notar eritrema inicial na pele interdigital que pode progredir formando um edema, levando assim a separação das unhas, esse edema pode progredir até o aparecimento de uma fissura e consequentemente deslocamento da epiderme com exposição da derme necrosada nas próximas 48 horas, podendo haver eliminação de exsudato purulento, em caso de aprofundamentos, a articulação interfalangeana distal pode ser afetada, causando assim uma artrite supurativa, outro achado comum é a hipertermia nesses animais (BLOWEY, 2008; PLAUTZ, 2008).

O tratamento é realizado através de antibioticoterapia sistêmica, podendo ser utilizado oxitetraciclina, sulfonamidas, tilosina, tilmicosinam ceftiofur e cefquinona, e a duração do mesmo vai variar de acordo com o princípio ativo e a evolução das lesões, podendo variar entre três e cinco dias (BLOWEY, 2008; PLAUTZ, 2008). Em lesões mais amplas, é recomendado que seja realizada curetagem da região para limpeza e remoção de todo o tecido necrótico e posteriormente realizar bandagem com aplicação de adstringentes tópicos como sulfa em pó associado a sulfato de cobre, em partes iguais, e a bandagem do curativo não deve ser compressiva (PLAUTZ, 2008).

Laminite 

O termo laminite é utilizado popularmente para descrever uma série de anormalidades na formação do tecido córneo do casco (FERREIRA et. al, 2005). A laminite consiste em uma doença causada por alterações metabólicas que vão originar uma serie de deformações nas lâminas do casco que em muitas das vezes será caracterizada por um crescimento anormal do mesmo, além de alterar toda a circulação saguinea local (SERRÃO, 2007). A mesma é compreendida como uma inflamação asséptica nas lâminas do casco, que é desenvolvida por conta de um distúrbio de microcirculação e degeneração na junção da derme/epiderme (FERREIRA et. al, 2005). 

Segundo Ferreira et. al (2005), a laminite em bovinos foi descrita pela primeira vez na literatura em 1963, sendo descrita como uma inflamação asséptica e difusa de toda a camada da derme do digito do animal, foi descrita inicialmente em três formas, sendo elas aguda, subaguda e crônica, onde a duração média dos processos eram inferior a 10 dias em casos agudos, 10 dias a 6 semanas em casos subagudos, e mais de 6 semanas em casos crônicos. Posteriormente, foi descrito também uma quarta forma de laminite sendo esta considerada a forma mais comum de acometimento em sistemas de produção intensivo, sendo esta a forma subclínica, a mesma foi descrita pela primeira vez em 1979 por Peterse e posteriormente por outros autores. 

Em 1994, o Conselho internacional de desordens digitais dos ruminantes propôs que a nomenclatura padrão adotada para tal condição fosse mudada de laminite subclínica para pododermatite asséptica difusa, porém, ainda assim, o termo laminite ainda continua a ser utilizado para descrever os distúrbios metabólicos que ocorrem nos dígitos com sintomatologia subclínica e resultam em várias lesões (FERREIRA et. al, 2005; FILHO, FERRAZZA, 2008).

A etiologia da laminite é multifatorial e tem sua patogenia extremamente complexa, e de certa forma, ainda incerta, sendo uma das causas mais importantes de claudicação em bovinos (FERREIRA et. al, 2005).  A causa mais frequente da laminite se dá devido a níveis elevados de carboidratos na alimentação, consumo indevido de grãos, ou alimentação pobre em fibras, além de problemas causados por estresse, problemas com higiene, umidade, animais que permaneçam muito tempo de pé sob concreto, sem uma cama adequada, em abrigos com falta de conforto para os pés, e em muitas das vezes, as alterações associadas a laminites requerem intervenção cirúrgica e cuidados especializados (FILHO, FERRAZZA, 2008).

O tratamento da laminite consiste em utilização de anti-inflamatórios não esteroidais, além de colocar o animal sobre piso confortável, em casos subclinicos/crônicos, é necessário que seja realizada a correção cirúrgica, onde é necessário que seja realizada a remoção da unha envolvida, sendo mais comum encontrar lesões em unhas laterais de membros pélvicos, se a laminite estiver associada a casos de acidose rumenal, é ideal que seja corrigida também esta situação (FERREIRA et. al, 2005). O protocolo descrito mais utilizado em se tratando de tratamento para laminite consiste na realização de limpeza e identificação das lesões, preparo e colocação de tamanco na unha preservado do animal, feito através do uso de resina acrílica autopolimerizante, fazer anestesia venosa após gaorrte da veia digital do membro acometido (anestesia de bier), e realizar a aplicação de 5 a 10 ml de lidocaína a 2% sem vasoconstrictor, realizar a limpeza e remoção de tecidos necróticos presentes no local com auxílio de uma rineta, fazer a desinfecção do local com solução de iodo 2% ou PVPI, fazer bandagem com antibiótico tópico como oxitetraciclina para proteção da feida, fazer impermeabilização da bandagem, realizar a troca do curativo a cada 72 horas até nova formação do tecido córneo da região removida, e permanecer com o tamanco no digito não envolvido até o crescimento do tecido córneo do outro digito (FERREIRA et. al, 2005).Além do que já foi citado anteriormente, é necessário que seja realizado o balanceamento adequado da dieta, de forma que o animal consuma no mínimo 40 a 45% de fibras com 30 a 35% de FDN, uso de pedilúvio com formalina a 3% ou sulfato de cobre a 5% ao menos 3 vezes na semana e realização do casqueamento corretivo desses animais1 a 2 vezes por ano, caso esses sejam animais estabulados, para que haja a correção e identificação prematura de problemas no casco (FERREIRA et. al, 2005).

Úlceras de sola

As ulceras de sola consistem em uma inflamação do córion localizada e caracterizada em muitas das vezes por uma ferida localizada na região da sola do casco desses animais (SERRÃO, 2007). As ulceras de sola são lesões físicas provocadas por traumatismos no córion já fragilizado desses animais (BLOWEY, 2008).

As causas mais frequentes para o aparecimento de úlceras de sola são os pisos duros ou pedregosos, laminite subclínica, falta de cuidados com o casco como casqueamento preventivo e animais com problemas de aprumo (SERRÃO, 2007). Os sintomas mais frequentes da doença consistem em uma pequena hemorragia na parte interna da região de união de sola com talão, com a evolução da doença, o animal pode apresentar claudicação, e o tender a “descansar” o e que está acometido, deixando o mesmo em abdução, sendo possível visualizar uma ferida na sola, quanto maior for a evolução da doença, maior vai ser o grau de claudicação, sendo possível até que o animal passe a ficar em decúbito (SERRÃO, 2007).

Como tratamento, preconiza-se que seja realizado  a remoção de todo e qualquer tecido córneo ao redor da ulcera visando assim eliminar todo o tecido necrosado da região e diminuir o risco de infecção, além de ajudar a permitir a formação de novo tecido córneo, realizar uma concavidade ao lado da ulcera de sola com intuito de minimizar a sustentação do peso na região da úlcera, realizar a remoção de todo o tecido de granulação proeminente localizado na região, e realizar o desbaste da unha afetada o máximo possível, visando assim fazer com que o peso do animal seja sustentado pela unha saudável, e em casos mais avançados, fazer um aplique de material rígido na unha sadia como se fosse um tamanco, assim como no tratamento da laminite, fazer limpeza da ferida e utilização de antibiótico tópico, e não é recomendado que sejam realizadas bandagens (BLOWEY, 2008). 

Erosão de talão

A erosão de talão é também conhecida como podridão do talão ou heel horn erosion ou erosion of the hoff, e consiste em uma perda de tecido epidérmico da região do talão de forma irregular que vai ocasionar sulcos e fissuras com presença de exsudato de odor fétido e de coloração escura (PLAUTZ, 2008). Uma das características mais comuns de serem observadas é um sulco ou depressão em forma de V na região do talão erosão de talão, hiperplasia interdigital, fissura vertical e fissura horizontal (SERRÃO, 2007). A mesma é considerada por vários autores como um estágio avançado da dermatite interdigital, e a sua causa está associada às bactérias que estão envolvidas na dermatite interdigital como o Dichelobacter nodosus, além de outras bactérias que são considerada como secundarias como o Fusobacterium necrophorum (PLAUTZ, 2008).

A doença afeta principalmenteas unhas laterais de membros posteriores, e tem como fatores predisponentes para o acometimento o enfraquecimento do casco, más condições de higiene do local, umidade, alta concentração de animais, má formação dos cascos, além de agentes infecciosos que causam lesões crônicas na pele digital e interdigital e lamininite (PLAUTZ, 2008). 

Os sintomas mais comuns são o aparecimento de sulcos profundos e a destruição dos talões, que vão fazer com que o animal tenha dificuldade em se apoiar, fazendo assim com que o mesmo passe a claudicar (SERRÃO, 2007). O diagnóstico vai ser feito através de anamnese e observação das lesões que são características, o tratamento vai se basear na remoção dos tecidos lesados através de casqueamento, onde for retirado tecido, é necessário que sejam colocados adstringentes como sulfa em pó associado a sulfato de cobra na proporção de 1:1, em casos de lesões muito profundas, é recomendado que sejam retirados todas as partes envolvidas da ser administrado antibiótico tópico e sistêmico como oxitetraciclina, e ser realizada a colocação de bandagens, quando for retirado uma parte muito extensa, é ideal que sejam colocados tamancos de madeira  na unha sadia de forma a retirar o apoio da unha lesionada, visando assim diminuir o tempo de recuperação deste animal, mesmo assim, a recuperação tende a ser lenta, e vai variar de acordo com a gravidade da lesão, em alguns casos, há a possibilidade do animal ficar em decúbito devido a dor, e relutar em apoiar o membro, nesses casos é ideal que seja administrado um anti-inflamatório não esteroidal como o flunixin, retirar os animais dos estábulos para a pastagem e locais secos também favorece na recuperação (PLAUTZ, 2008).

Hiperplasia digital 

Também é conhecida como calo, tiloma, gabarro, em inglês como interdigital skin hiperplasia, corns, warts e em alemão como zwischenklauenswulst e consiste no crescimento exagerado da pele e tecido subcutâneo interdigital, formando naquela região um nódulo volumoso de consistência firme, e que pode se estender por todo o espaço interdigital e afeta principalmente os membros posteriores, porém também pode ocorrer em membros anteriores, além de poder ser encontrado em mais de um membro e é comum em animais adultos e pesados (BLOWEY, 2008; PLAUTZ, 2008).

Uma das principais causas para a ocorrência da hiperplasia interdigital consiste na irritação crônica no local devido a dermatite interdigital ou necrobacilose interdigital, e em bovinos de raças para corte costuma ter origem hereditária (SERRÃO, 2007).

Os fatores predisponentes para o aparecimento da lesão estão envolvidos com presença de sujidades e umidade que podem levar a uma irritação crônica da região interdigital, crescimento excessivo da parede axial do digito, excesso de gordura no tecido subcutâneo no interdigito e conformação do casco (PLAUTZ, 2008). A presença de sujidades acumuladas na região lesionada pode predispor o animal a ser acometido também por por miíases que podem chegar a destruir a face axial do estojo córneo causando assim a exposição e granulação da derme ungueal (PLAUTZ, 2008). A incidência maior de ocorrência da doença está também relacionada a animais que caminham sob piso áspero e animais com dígitos abertos (BLOWEY, 2008).

O sinal clínico mais comum e evidente é a claudicação, porém, nem sempre o animal apresenta o mesmo, além disso, dependendo do tamanho da lesão pode ser possível visualiza-la e a mesma pode ou não estar associada à compressão de dígitos, o diagnóstico é visual com a observação da lesão característica no espaço interdigital do casco do animal (PLAUTZ, 2008).

É muitas vezes considerada apenas um problema estético, desta forma, nem sempre é necessário que seja realizado tratamento, porém, caso as lesões causem dor e incomodo ao animal, a excisão cirúrgica é recomendada, entretanto, na maioria das vezes casos de hiperplasia interdigital pequenos podem ser controlados, desde que seja realizado o uso de pedilúvios com frequência (PLAUTZ, 2008).

Segundo descrito por Blowey (2008), casos mais leves de hiperplasia interdigital podem ser tratados mediante remoção do excesso de tecido córneo da parede axial e da superfície axial da sola. Muitas das lesões são auto limitantes caso parem de ser traumatizadas. Casos mais graves de requerem amputação cirúrgica, embora mesmo assim ainda possam ocorrer recidivas, o uso regular de pedilúvio diminui o acometimento por tais lesões.

Plautz (2008) descreve que caso seja necessário excisão cirúrgica, a mesma pode ser feita com o animal em estação, no tronco de contenção, sendo esta a técnica mais segura tanto para o animal quanto para o profissional, porém pode ser também realizado com o animal em decúbito lateral com o membro acometido para cima, neste caso é necessário que seja realizada sedação para auxiliar no procedimento, evitando assim que o animal se debata. Para o procedimento é recomendado que sejam realizadas duas incisões laterais a lesão, em forma elíptica para que seja possível remover todo o volume ali localizado, incluindo a gordura que fica localizada ao fundo do calo, tomando cuidado para que não lesionar o ligamento cruzado interdigital. Em casos de áreas extensas, pode haver problemas com a hemostasia, desta forma, recomenda-se que seja realizada a cauterização com ferro quente, porém, isto faz com que a cicatrização se torne mais lenta. Posteriormente, a incisão deve ser suturada, ser feita uma compressão com bandagem visando auxiliar na hemostasia e proteção depois de ser colocado na região sulfato de cobre associado a sulfa em pó na proporção de 1:1. Há recomendações de alguns autores quanto a união das unhas do membro afetado com auxilio de um arame colocado na ponta das pinças e para isso utiliza-se do auxilio de uma broca fina para que possam ser feitos os furos por onde vão passar o arame. O curativo deve ser trocado após 72 horas e posteriormente troca-se o curativo semanalmente, até a cicatrização completa do local.

Fissura vertical

As fissuras verticais consistem em uma fenda vertical na parede frontal dos cascos onde em alguns casos o córion fica descoberto (SERRÃO, 2007). Essas fissuras são resultantes de uma lesão na pequena área do perioplo ou banda coronária subjacente, desta forma a formação do tecido córneo é interrompida neste ponto, mesmo com o fato de que o tecido córneo adjacente continue crescendo ocasionando assim uma fenda que pode se estender pela parte inferior da parede do casco desde o ponto onde houve a interrupção da produção de tecido córneo

As causas para o aparecimento das doenças podem estar associadas a fatores ambientas que provocam desidratação do casco e traumatismos são as principais causas para o aparecimento, a sintomatologia consiste na observação de claudicação desses animais que vai variar de acordo com o grau de acometimento pelas fissuras, o diagnóstico é feito a partir da visualização das lesões (SERRÃO, 2007).

Como tratamento deve ser realizada uma abertura completa na extensão da fissura, com auxílio de uma faca de casco curva, mesmo que seja apenas um pequeno abscesso o animal poderá apresentar claudicação, e em casos de fissuras muito extensas, é recomendado que seja colocado um revestimento/ferradura na unha saudável (SERRÃO, 2007).

Fissura horizontal

As fissuras horizontais consistem em um sulco transversal localizado paralelamente ao bordo coronal do casco, é uma afecção rara que costuma ser causada por estresse, ou animais que estejam gravemente enfermos, onde neste último caso pode ocorrer a interrupção total da formação de tecido córneo, e quando há o retorno da formação do tecido córneo, pode ocorrer uma fissura horizontal envolvendo a parede do casco (BLOWEY, 2008; SERRÃO, 2007).

Pode ser que inicialmente as fissuras horizontais não causem problemas, porém, a medida que a lesão vai se estendendo distalmente em direção ao digito, o animal acaba por perder o suporte e a fixação do calcanhar (BLOWEY, 2008). A lesão consiste e uma protuberância de tecido córneo, e essa protuberância é capaz de girar sobre o próprio córion subjacente causando assim muita dor e claudicação ao animal (BLOWEY, 2008).

É possível que seja estimado o tempo para a correção da anormalidade ali causada através da medição da distância entre a banda coronária e a fissura, dividindo esse valor pela velocidade de crescimento do tecido córneo no mês, que consiste em 5mm, como tratamento, é estipulado que seja realizado excisão cirúrgica da protuberância de tecido córneo, se após a excisão ocorrer uma exposição extensa do cório de uma unha, é necessário que faça a colocação de ferradura na outra unha, caso esteja saudável. Nem toda fissura horizontal causa claudicação, em alguns casos, há apenas o crescimento da fissura até o digito e após isso, ocorre o desprendimento natural do casco, o desbaste da unha só deverá ser feito em casos em que o animal apresentar claudicação (BLOWEY, 2008).

Etiologia

Em se tratando da etiologia das afecções podais, a mesma é complexa e multifatorial, sendo que em muitos dos casos nem sempre é possível estabelecer um diagnóstico definitivo (JASON, 2008).  

Fatores predisponentes

Os fatores que predispõe ao aparecimento de afecções podais podem ser subdivididos em fatores genéticos, ambientais, nutricionais e individuais (PLAUTZ, 2008). 

Em se tratando de fatores genéticos, uma característica que pode ser herdada é a conformação das unhas, onde as mesmas devem ser iguais, e todos os animais que tem diferenças acentuadas de tamanho entre elas devem ser descartados, uma vez que algumas claudicações estão relacionadas aos problemas com as unhas (SILVA, 2009). 

Devemos levar em consideração a questão de que as claudicações acometem principalmente animais de alta produção, onde observamos que houve uma seleção genética para que esses animais produzissem mais, porém não foi melhorado no mesmo ritmo a qualidade de pernas e cascos (PLAUTZ, 2008). 

Animais com problemas de conformação, defeitos em formação de unhas, bulbo e demais estruturas do casco, além do tamanho corporal do mesmo, podem fazer com que aconteça uma maior ou menor sobrecarga em algum digito ou membro, causando assim consequentemente problemas provenientes de lesões mecânicas. (PLAUTZ, 2008)

Outro fator que devemos levar em consideração é a questão racial, onde as raças taurinas são mais sensíveis ao acometimento de lesões podais do que as raças zebuínas (PLAUTZ, 2008).

De forma geral, podemos associar os problemas com claudicação em bovinos com outros agentes causadores como por exemplo a manejos inadequados, sejam esses ambientais, envolvendo questões de higiene como acumulo de matéria orgânica nas instalações, questões sanitárias como falta de pedilúvio, além da questão de que animais que encontram-se confinados tem uma maior chance de desenvolverem problemas podais (PLAUTZ, 2008).

Segundo Silva (2009) a claudicação está também relacionada a outros agentes causadores como mudanças bruscas de alimentação, a superpopulação de animais, idade, manejo incorreto dos animais como a falta correção dos cascos, utilização incorreta do pedilúvio ou não utilização, clima, umidade, e época do ano, além de fatores sanitários, onde os mesmos incluem a questão de ausência de quarentena de animais comprados recentemente e falta de preocupação com a procedência desses animais.

As lesões podais podem também ser resultantes de diversos fatores como traumatismos causados por penetração de corpos estranhos; alterações fisiológicas e hormonais que ocorrem próximas ao parto e nível de produção desses animais (FERREIRA et al., 2005; JASON, 2008).

Quanto as  problemas ambientais, podemos relacionar as más condições de higiene, acumulo de matéria orgânica, umidade, tipo de piso onde se encontram os animais e fatores como  clima, como os motivos determinantes para o aparecimento de problemas podais, uma vez que devido ao casco dos animais serem higroscópicos, os mesmos absorvem muita umidade, e isso associado ao tipo de piso determina a porcentagem de desgaste que os mesmos sofrem, sendo que quanto mais úmido e abrasivo é o local, maior é esse desgaste, podendo apresentar um desgaste até 80% maior do que animais que não se encontram nessas condições, além de ser um fator determinante para o aparecimento de doenças, uma vez que as barreiras físicas do casco encontram-se comprometidas, o que favorece o aparecimento e desenvolvimento de agentes infecciosos envolvidos nas patologias (FERREIRA et al, 2005; PLAUTZ, 2008).

Ao pensarmos em lesões podais, devemos levar em consideração o sistema de criação em que o animal se encontra, para que seja possível compreender a fisiopatogenia do aparecimento e desenvolvimento das lesões, já que em cada sistema de criação podemos observar que as características das lesões tendem a ser diferentes, segundo Plautz (2008),  animais que encontram-se confinados ou em criações semi-extensivas, que são sistemas de criação onde os animais permanecem a maior parte do tempo de pé por conta do piso duro, os mesmos costumam ser acometidos por lesões como pododermatite circunscrita, doença da linha branca e erosão de talão, já os animais que passam maior tempo a pasto, tendem a desenvolver lesões de origem infecciosa como dermatite e flegmão interdigital, principalmente em membros posteriores, uma vez que estes ficam em contato quase que constante com a umidade de suas excretas assim como do barro.

Em se tratando de propriedades onde os animais passam a maior parte do tempo soltos em pastagem, devemos levar em consideração o tipo de declive que encontramos ali, uma vez que em propriedades mais planas, as pastagens tendem a ser mais úmidas, o que contribui para que haja um desgaste mais uniforme dos cascos, fazendo com que a sola fique mais fina e plana, e desta forma predispondo o aparecimento de lesões causadas por objetos perfuro cortantes, contusões, além da alta incidência do aparecimento de pododermatite séptica, já em terrenos onde há um declive mais acentuado, podemos observar que nesses locais há uma menor umidade, desta forma os animais encontram-se predispostos ao aparecimento de lesões como hiperplasia interdigital (PLAUTZ, 2008).

É sabido que animais que são criados em confinamento tem uma tendência maior a estarem expostos a umidade, além disso, os pisos tendem a ser duros e ásperos, uma vez que costumam ser feitos de concreto, assim, associando a umidade que tende a diminuir a dureza dos cascos, com o tipo de piso, podemos observar que há um maior desgaste, além de um maior favorecimento a penetração de agentes (PLAUTZ, 2008).

Outra coisa que podemos observar além do desgaste excessivo causado pela abrasão do piso de concreto, principalmente quando úmido, uma vez que o mesmo passa a ser cerca de 83% mais abrasivo que o seco, é que animais criados em pisos duros muitas vezes tendem a ter um crescimento excessivo das unhas, gerando assim um desequilíbrio na distribuição do peso entre os dígitos, favorecendo assim o aparecimento de doenças como úlcera de sola (PLAUTZ, 2008).

Quanto aos distúrbios nutricionais e metabólicos, Silva (2009) cita que existe um grande consenso de que a alimentação é um fator fundamental para o aparecimento de lesões podais. É de suma importância que seja realizado o balanceamento adequado da dieta desses animais, visando atender assim todos os requisitos exigidos pelos mesmos, além de associar isso ao manejo de forma a reduzir ou até mesmo evitar competições entre eles (FERREIRA et al, 2005). 

A afecção mais comum associada a distúrbios nutricionais é a laminite, que é causada pela acidose ruminal, que consiste em um distúrbio da fermentação ruminal causada pela alta ingestão de concentrados e baixa ingestão de fibra (RADSTITS, 2007). 

Além disso, podemos observar também lesões traumáticas, que em sua grande maioria estão associadas a má qualidade do casco, que por sua vez pode ser originado devido a um mau balanceamento da dieta destes animais, fornecendo assim nutrientes insuficientes, o que por sua vez influi na queratinização dos cascos (SILVA, 2009).

Segundo Silva (2009), um dos fatores para o aparecimento de problemas podais consiste na alimentação dos animais, que em se tratando de bovinos de leite, tende a ser em sua maioria baseada na ingestão de grandes quantidades de concentrado e pequenas quantidades de forragem, desta forma os amidos e açucares presentes nos concentrados , bem como proteínas de alta degradabilidade, e baixas quantidades de fibras, fazem com que as fezes desses animais sejam mais liquidas e abundantes, causando assim uma alta quantidade de matéria orgânica, além do aumento da umidade do local, predispondo ao crescimento de microrganismos e ao amolecimento dos cascos e desta forma deixando-os mais susceptíveis a serem atacados por agentes patógenos.  

Por fim, devemos levar em consideração também o aparecimento de lesões podais decorrente a fatores individuais, uma vez que são muitos os fatores que influenciam no aparecimento das mesmas (PLAUTZ, 2008). Dentre os fatores mais importantes, podemos destacar a idade do animal, uma vez que quanto mais velho é o animal, menor é a capacidade amortecedora das patas dos mesmos, desta forma, maior é a chance do mesmo desenvolver problema de casco (FERREIRA et al., 2005). Segundo descrito, vacas com 10 anos de idade são quatro vezes mais predispostas a desenvolverem problemas lesões podais do que vacas com 3 anos (PLAUTZ, 2008 apud NICOLETTI, 2003). 

Segundo Ferreita et al ( 2005) o aparecimento de lesões podais também pode estar relacionado a lactação, sendo que devemos levar em consideração o estágio de lactação em que o animal se encontra, e o seu nível de produção, uma vez que o aparecimento de lesões podais acontece mais no início da lactação por volta de até 70 dias em média, devido ao pico, quanto ao nível de produção, podemos relaciona-lo ao fato de que quanto maior é a produção, mais energética deve ser a alimentação, resultando assim em maiores riscos de alterações metabólicas, que por sua vez aumenta as chances do aparecimento de lesões podais, sendo assim, é de suma importância que seja realizado o balanceamento correto da dieta destes animais, atendendo assim todos os requisitos exigidos pelos mesmos, e associando isso ao manejo, de forma a evitar competições dentre eles. Além disso, podemos relacionar também que o aparecimento de lesões podais já na primeira lactação faz com que as chances de que hajam recidivas nas próximas sejam aumentadas em até 3x.

Importância

A claudicação consiste em um dos problemas de maior importância em se tratando de rebanhos leiteiros, devido ao fato de ser um problema de incidência universal, além disso, existem poucos outros problemas que possam causar tanta dor e desconforto como as afecções podais, desta forma, é necessário que seja despendido tempo e esforço por meio dos funcionários para que seja feita a prevenção da aparição de tais afecções, assim como também de problemas reprodutivos e mastite, onde os três juntos representam os maiores desafios enfrentados na bovinocultura de leite (BLOWEY, 2008; FERREIRA et. al, 2005). 

É possível estabelecer uma relação entre o aumento do número de afecções podais com a intensificação da produção leiteira que vem ocorrendo dia após dia, uma vez que para que haja essa intensificação, investem em melhoramento genético, buscando cada vez mais animais melhores e que produzam mais leite, porém, esqueceram-se de atentar-se ao melhoramento de pernas e pés, que por sua vez, consiste em uma característica de baixa herdabilidade, desta forma são necessários anos para que seja possível conseguir resultados satisfatórios (FERREIRA et. al, 2005; JASON, 2012).

Segundo Ferreira et al (2005), uma vez que houve a intensificação da produção leiteira, foram necessárias modificações nas instalações, de forma a adequar as mesmas às necessidades exigidas pelos rebanhos devido a sua intensificação, visando assim torna-los mais produtivos, e devido a isso, houve então uma maior concentração de animais em uma menor área, resultando assim em uma menor higiene, maior volume de umidade e grandes dificuldades de manejo. Paralelamente a isso, iniciou-se um processo de impermeabilização dos pisos das instalações onde ficavam os animais, objetivando assim tentar solucionar o problema diminuindo a umidade e gerando uma maior facilidade de limpeza, criando-se assim os sistemas de confinamento como o free-stall, loose-housing, dentre outros, porém, em contrapartida, nestes tipos de instalações, os animais passam a maior parte  do tempo de pé sobre piso rígido, além da falta de camas adequadas para que as estimulem ao descanso, e desta forma causa ao animal situação de desconforto.

Impactos econômicos 

Segundo descrito por Filho e Ferraza, 2008, o Brasil consiste em um dos países que possui o maior rebanho de bovinos do mundo, e devido a isso tem grande importância econômica para o país, uma vez que participa ativamente da balança comercial. Ferreira et al., 2005, descreve que na bovinocultura de leite, as claudicações consistem em um dos problemas mais prevalentes e dispendiosos, juntamente com a mastite e problemas reprodutivos, e nas últimas décadas, os problemas envolvendo pés dos bovinos vem adquirindo cada vez mais importância, uma vez que devido ao acometimento pelos mesmos, resultam muitas vezes em grandes perdas econômicas, devido ao fato de desencadearem gastos com tratamento, além de levarem a perdas econômicas relacionadas a diminuição da lactação, em alguns caso, ser aconselhável o descarte do animal, além de problemas reprodutivos como diminuição da taxa de concepção, aumento do tempo de serviço. Devido a isso, e a alta incidência de acometimento de rebanhos leiteiros pelo mundo, busca-se entender cada dia mais o motivo de tais patologias, uma vez que geram perdas, desta forma, podemos então destacar a importância que tem sido dada ao estudo das mesmas em diversos países do mundo.

Em se tratando de perdas econômicas, é relatado na literatura que as perdas causadas por afecções podais podem ser maiores até mesmo do que as causadas por mastites ou problemas reprodutivos (GREENOUGH et al., 1981), sendo que um estudo realizado na Inglaterra estimou uma perda anual de cerca de 90 milhões de libras (ESSELEMONT, 1990). Conforme citado anteriormente, podemos listar que as perdas de produtividade causadas por conta das afecções podais podem estar representadas por animais com problemas desde diminuição da produção leiteira e peso corporal, até mesmo uma menor taxa de concepção e aumento do tempo de serviço, uma vez que rebanhos acometidos por altas incidências de problemas podais, apresentam também uma incidência maior de problemas com cistos ovarianos, além dos problemas relacionados a alterações do ciclo estral, quando comparados àqueles que não tem problemas (FERREIRA et al., 2005).

No Brasil, a ocorrência de afecções podais é de alta prevalência, e suas perdas econômicas acontecem principalmente pelo fato de que devido aos problemas que acometem os pés dos bovinos, boa parte dos mesmos são descartados prematuramente, e além disso, em muitas das vezes as perdas acabam sendo imperceptíveis, uma vez que vão ocorrendo de forma gradativa, chegando a comprometer em alguns casos até 20% da produção leiteira da propriedade (SILVEIRA, 2009).

Medidas Preventivas

Segundo Filho e Ferrazza (2008), uma importante ferramenta na prevenção e controle de problemas podais consiste na realização do escore de locomoção, onde através desta ferramenta é possível monitorar o grau da prevalência, incidência e severidade das claudicações. Este escore vai ser baseado na observação das vacas em estação e se locomovendo, dando ênfase na observação principalmente da região posterior dos animais, e essa observação deve ser feita em uma superfície plana e que permita que os animais caminhem normalmente. O escore deve ser realizado a cada dois meses em todo o rebanho, visando assim definir metas e ações para diminuir os casos de claudicação e possibilitar a identificação de animais que necessitam ser casqueados, além disso é ideal que os resultados sejam anotados e acompanhados para que possa ser realizada futuramente uma comparação entre os escores e avaliar a eficiência das medidas tomadas.

Outra medida importante é a utilização do pedilúvio, que vai ter como finalidade controlar os processos infecciosos podais, além de auxiliar no aumento da resistência dos tecidos córneos (PLAUTZ, 2008). É recomendado a utilização do mesmo pelo menos 3 a 4 vezes na semana, e a sua localização deve ser preferencialmente na saída dos animais da sala de ordenha, porém, antes dos animais passarem pelo pedilúvio é ideal que os mesmos passem por um lava pés visando assim diminuir a quantidade de matéria orgânica presente nos cascos, o pedilúvio deve ser protegido do sol e da chuva, uma vez que é ideal que as concentrações de suas soluções se mantenham integras para que assim sejam eficientes. Ele deve ter aproximadamente 80 cm de largura por 3 metros de comprimento e 20 cm de profundidade, sendo que é necessário que haja no mínimo 10 cm de lâmina de solução de formalina a 3-5%, sulfato de cobre a 5% ou sulfato de zinco a 10% (PLAUTZ, 2008).

É ideal também que seja realizado o aparo funcional dos cascos, visando assim eliminar dor e trazer conforto ao animal, além de corrigir problemas caso possível (PLAUTZ, 2008). É sabido que o crescimento médio mensal dos cascos dos bovinos seja em média de 5 mm, e isso vai variar de acordo com o tipo de piso e o sistema de criação em que esses animais são submetidos, uma vez que em alguns tipos de piso predispõe a um crescimento excessivo, sendo necessário assim ser realizados aparos corretivos para correção dos apoios e sua morfologia (PLAUTZ, 2008).

Um fator determinante para o aparecimento ou não de afecções podais é o local onde os mesmos estarão alojados, e isso vai depender do tipo de sistema de produção adotado pelo produtor (PLAUTZ, 2008). Em sistemas de confinamento, os animais permanecem juntos, e na maioria das vezes há uma certa aglomeração de animais, desta forma, podem ocorrer disputas pela dominância entre animais, então é necessário que tenha camas suficientes para todos os animais, é necessário também que as mesmas sejam confortáveis e que tenham tamanho adequado, é ideal que as mesmas tenham a medida de pelo menos 2.80 metros de comprimento por 1.20 metros de largura, para a confecção da cama pode ser utilizado areia, maravalha, ou colchões de material emborrachado, o local deve estar sempre limpo e seco, tentando evitar o acumulo de matéria orgânica e umidade, o material de composição da cama deve ser trocado periodicamente, visando assim evitar a contaminação bacteriana (PLAUTZ, 2008).

Devemos nos atentar também a observação diária de todos os animais e caso seja observado alguma alteração nesses animais é ideal que os mesmos sejam separados dos demais que não tem alterações, uma vez que as mesmas podem ter causas infecciosas, é ideal também evitar que esses animais caminhem em terrenos de pisos duros ou muito pedregosos, uma vez que isso pode causar lesões, jogar cal virgem periodicamente nos locais de maior concentração dos bovinos é outra medida preventiva eficiente (Filho, Ferrazza, 2008).

Considerações Finais 

As perdas de produtividade causadas pelas afecções podais podem ser representadas desde por animais que devido ao fato de terem problemas podais culminam com a diminuição da produção leiteira e peso corporal, até mesmo a uma menor taxa de concepção, aumento no tempo de serviço e descartes muitas vezes prematuros dos animais acometidos por tais afecções no rebanho, além disso, em muitos dos casos, esses problemas acabam passando desapercebidos, gerando perdas que em um primeiro momento são imperceptíveis, porém de forma gradativa, chegam a comprometer a produção da propriedade. A presença de fatores ambientais como umidade, lama, acumulo de dejetos, cascalho, além de outras más condições de manejo, levando em consideração as instalações do curral, e a baixa herdabilidade de características de conformação de pernas e pés, culminam para o aparecimento tais lesões. Desta forma, o presente trabalho busca identificar os pontos críticos no manejo nas propriedades que levam ao aparecimento dessas lesões, visando assim reduzir a incidência de acometimento pelas mesmas, e desta forma auxiliar no aumento da produtividade, uma vez que quanto maior é o acometimento pelas mesmas, menor é o desempenho desses animais em se tratando de produtividade, sendo assim, é necessário que haja uma vigilância constante de tais pontos, para que seja possível otimizar a produção.

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