REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10080715
Aglaeudis Ferreira Rodrigues Campos1
Antonia Carmen Bento Leite1
Rafaela Mussio Bernardino1
Viviane Maia Pontes Dantas1
Jayanne Sousa dos Santos1
Isabelle Samara dos Santos1
Jacyara de Souza Fernandes1
Rebeca Loise Leite Rocha1
Pedro Eduardo Firmino Cavalcanti2
José Ferreira da Silva Neto3
RESUMO
Embora as neoplasias primárias nos olhos dos cães sejam raras, as neoplasias palpebrais, especialmente os adenomas meibomianos, são notáveis devido ao risco de afetar a visão. Essas glândulas de Meibômio, também conhecidas como glândulas tarsais, podem sofrer neoplasias benignas, como adenomas. O tratamento envolve principalmente cirurgia, mas alternativas como crio cirurgia, eletroquimioterapia e radioterapia são consideradas. Um caso de adenoma meibomiano em um cão da raça Dachshund foi descrito, destacando a caracterização microscópica do tumor e o tratamento cirúrgico recomendado para preservar a função ocular.
Palavras-Chaves: Canino; Histopatologia; Tumores.
INTRODUÇÃO
A clínica oftálmica vem ganhando destaque dentre as especialidades de medicina veterinária, em decorrência do aumento de doenças oculares em animais (SILVA, 2010; FERREIRA, 2019). Neoplasias primárias oculares em caninos não são casos rotineiros, quando comparados a outros órgãos, porém as neoplasias palpebrais merecem destaque nessa área, porque apresentam grande risco de lesionar a córnea, podendo chegar à perda da visão (MILLER; DUBIELZIG, 2013; LABELLE; LABELLE, 2013; HESSE et al., 2015).
Dentre os tumores perioculares, os palpebrais são os mais comuns em cães. Essas neoplasias, que geralmente se apresentam de forma unilateral, podem ter origem epitelial, mesenquimal ou mesmo de células redondas e são em sua maioria benignos, apresentando um crescimento lento ao longo de meses ou até anos (WANG et al., 2019).
As glândulas de Meibômios, também chamadas de glândula tarsal, são glândulas sebáceas localizadas na placa tarsal da pálpebra. Essas glândulas podem apresentar neoplasias como o adenoma meibomiano, uma neoplasia benigna e que é encontrada predominantes em cães mais velhos, geralmente a partir dos 8 ou 9 anos (GRAHN; PEIFFER, 2013; WANG, 2019). As massas podem se estender por toda pálpebra ou ser pedunculadas (TURNER, 2010).
Se tratando da microscopia, ao realizar o exame histopatológico podem ser observadas células glandulares completamente diferentes (GRAHN; PEIFFER, 2013). Outras estruturas lobulares de tamanhos variados, cercadas de células basais indiferenciadas (YUKSEL; GULBAHAR; ASLAN, 2005). Ao se fazer o diagnóstico diferencial, algumas neoplasias compõem essa lista blefarite crônica, trauma e piogranulomas palpebrais (FAGANELLO, 2013).
O tratamento principal das neoplasias oculares, são procedimentos cirúrgicos, porém existem alguns métodos que podem servir como alternativa, exemplo disso a criocirurgia, eletroquimioterapia e a radioterapia. A melhor decisão depende de fatores, como a localização da neoplasia, extensão e profundidade (MONTIANI-FERREIRA et al., 2017).
A intervenção cirúrgica é sempre recomendada buscando evitar que ainda mais irritação ocular ocorra, o que pode levar a um comprometimento funcional ou cosmético da região. O prognóstico após a remoção cirúrgica do tumor é em sua maioria bom e não apresenta complicações (WANG et al., 2019). Sendo assim, o objetivo deste trabalho é descrever um caso de adenoma meibomiano em um cão.
MATERIAL E MÉTODOS
Um cão, macho, da raça Dachshund, 5 anos, foi atendido na Clínica veterinária, com histórico de possuir algo semelhante a uma verruga, em região próxima a pálpebra que vem crescendo há cerca de 60 dias.
Durante o exame clínico foi observado de forma macroscópica um nódulo maleável de aproximadamente (2x2x1cm) onde foi diagnosticado clinicamente por um papiloma, pólipos. Um fragmento de nódulo em região próximo a pálpebra conservado em formol a 10%, foi enviado ao Laboratório de Patologia Veterinária para a realização de um exame histopatológico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na microscopia foi observado um nódulo formado por lóbulos com remanescentes de meibômios normais de acordo com a Figura 1 a seguir:
Figura 1 – Corte histopatológico de um adenoma meibomiano , H&E.
Fonte: Elaborado pelos autores, 2023.
Esses lóbulos são constituídos por citoplasma abundante e vacuolizados. Revestindo esses grupos de sebócitos notam-se células de reserva com acentuada metaplasia. Além do mais, circundando o nódulo há abundante infiltrado inflamatório constituído por neutrófilos, linfócitos, plasmócitos e macrófagos. Ainda pode-se visualizar na Figura 1 um ducto central (apontado em seta), onde é revestido por células neoplásicas. E também é visível (na cabeça da seta) remanescente de Meibômios normais. Por fim, foi diagnosticado pelo patologista um adenoma meibomiano.
Esse estudo tem uma semelhança com um relato de caso feito pelos autores Resende, et al. (2023) em um cão que apresentava uma massa neoplásica na borda da pálpebra superior direita, os resultados deste estudo evidenciam que após uma intervenção cirúrgica de ressecção, uma neoplasia foi submetida à análise em um laboratório de patologia veterinária, onde foi identificada como um epitelioma pigmentado de glândula de Meibômio. Após a excisão da neoplasia, o animal passou pelo acompanhamento sistemático durante um período de dois meses, durante o qual não houve evidência de recorrência da lesão.
Vale relembrar que as glândulas de Meibômio, (conhecidas também como glândulas tarsais) estão localizadas nas margens pálpebras e tem a responsabilidade de produzir a porção lipídica do filme lacrimal (XIAO, et al., 2020). Gelatt, et al. (2021) enfatizam que essa é uma estrutura ocular acessória mais comumente afetada por neoplasias.
Um estudo realizado por Labelle e Labelle (2013) destacaram que as neoplasias das glândulas meibomianas se manifestam clinicamente como massas de coloração variável, incluindo tons de bronze, rosa, cinza ou preto, que se projetam a partir das aberturas das glândulas tarsais. Ocasionalmente, pode romper-se através da conjuntiva palpebral. Essas massas apresentam uma superfície retangular ou textura irregular e frequentemente exibem sangramento quando podem ser sujeitas a traumas.
Conforme os autores supracitados a persistência da neoplasia dentro da glândula pode resultar na obstrução das aberturas glandulares. Esse evento pode culminar na ruptura da estrutura glandular, ocasionando a liberação das secreções lipídicas glandulares no tecido adjacente. Como resultado, pode ocorrer uma resposta inflamatória pronunciada, levando a uma aparência tumoral que parece ser maior do que na realidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após uma análise minuciosa do material coletado, conclui-se que o exame histopatológico foi imprescindível para o diagnóstico definitivo. Diante dos achados microscópicos, o prognóstico é favorável, porém as recidivas são frequentes, provavelmente devido à dificuldade na extirpação cirúrgica total do tumor.
REFERÊNCIAS
DUBIELZIG, R. R. Tumors of the eye. In: MEUTEN, D. J. Tumors of domestic animals. 4. ed. Iowa: Iowa State, 2002. Capítulo 15, p. 739-754
FAGANELLO, C. S. Neoplasias palpebrais em pequenos animais: revisão de literatura. 2013. 42 f. Trabalho de conclusão de curso (Especialização) – Centro de Estudos Superiores de Maceió, Fundação Educacional Jaime de Altavila, Porto Alegre, 2013
FERREIRA, A. P. Uso do plasma rico em plaquetas autólogo e alogênico aquecido no tratamento de ceratite ulcerativa em cães. 2019. 1 volume. Dissertação (Mestrado) – Curso de Medicina Veterinária, Pós-graduação em Biotecnologia Animal, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Botucatu, 2019.
GELATT, K. N. et al. E-Book de Cirurgia Oftalmológica Veterinária. Elsevier Ciências da Saúde, 2021.
GRAHN, B. H.; PEIFFER, R. L. Veterinary Ophthalmic Pathology. In: GELATT, K; GILGER, B. C.; KERN, T. J. Veterinary Ophthalmology. 5. ed. Ames: Wiley-Blackwell, 2013. v. 1, cap. 8, p. 435 – 523.
HESSE, K. L. et al. Neoplasmas oculares e de anexos em cães e gatos no Rio Grande do Sul: 265 casos (2009-2014). Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 35, p. 49–54, 2015.
LABELLE, A.L.; LABELLE, P. Canine ocular neoplasia: a review. Vet Ophthalmol, v. 16, p.3-14, 2013.
MILLER, P. E.; DUBIELZIG, R. R. Ocular tumors. In: WITHROW, S. J.; VAIL, D. M.; PAGE, R. L. (Eds.). Small Animal Clinical Oncology, 5ª ed. Elsevier-Saunders: St. Louis, 2013. p. 597–607.
MONTIANI-FERREIRA, F. et al. Neoplasias Oculares. In: DALECK, C. R.; NARDI, A. B. de. Oncologia em Cães e Gatos. 2. ed. Rio de Janeiro: Roca, 2017. Cap. 27, p. 364-384.
SILVA, T. M. F. Catarata em cães: Revisão de literatura. Pubvet, v. 4, n. 1, p. 717-722, 02 jan. 2010.
RESENDE, A. A. et al. Epitelioma de glândula de meibômio em pálpebra de cão – relato de caso. Peer Review, v. 5, n. 13, p. 134–141, 2023.
TURNER, S. M. P. Oftalmología de Pequeños Animales. Barcelona: Elsevier, 2010. cap. 1, p. 15–60.
XIAO, J. M. et al. Functional and Morphological Evaluation of Meibomian Glands in the Assessment of Meibomian Gland Dysfunction Subtype and Severity. American Journal of Ophthalmology, v. 209, p. 160-167, 2020.
WANG, S. L. et al. The investigation of histopathology and locations of excised eyelid masses in dogs. Veterinary Record Open, v. 6, n. 1, dez. 2019.
YUKSEL, H.; GULBAHAR, M. Y.; ASLAN, L. Congenital synchronous adenomas of meibomian and moll glands of the eyelid in a calf. Veterinary Medicine. Czech, vol. 50, p. 379-383, 2005.
1 Discente do UNIESP – Centro Universitário, Departamento de Medicina Veterinária,
Cabedelo-PB, Brasil. E-mail: 2021211430039@iesp.edu.br, 2022111430073@iesp.edu.br, rafaelamussio06@icloud.com, 20222111430033@iesp.edi.br, 2021211430013@iesp.edu.br, 2021111430050@iesp.edu.br, 2023111800008@iesp.edu.br e 2021111430057@iesp.edu.br.
2 Discente do Unipê – Centro Universitário, Departamento de Medicina Veterinária, João Pessoa – PB Brasil. E-mail: pecavalcanti@hotmail.com
3 Docente do UNIESP – Centro Universitário, Departamento de Medicina Veterinária,
Cabedelo-PB, Brasil. E-mail: netoferreira513@gmail.com