ACUPUNTURA NA OSTEOARTROSE DE JOELHO EM INDIVÍDUOS DE MEIA IDADE E IDOSOS: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

Acupuncture in knee osteoarthritis in middle-aged and elderly individuals: an Integrative review

Autores:
Samanda Kátia Volpatto,
Márcia Eduarda Mokwa
Lilian Marin Lunelli
Ricardo José Nicaretta
Fátima Ferreti


Resumo

Objetivo: analisar publicações científicas referentes ao efeito da acupuntura na dor e qualidade de vida em indivíduos de meia idade e idosos com osteoartrite de joelho. Método: trata-se de uma revisão integrativa da literatura com pesquisa em diferentes bancos de dados. Resultados e discussões: inicialmente foram recrutados 66 artigos, dos quais 62 foram excluídos por fuga de tema, associação de duas ou mais técnicas e sugestões de protocolos, restando assim, quatro estudos para análise. A idade dos participantes estava entre 40 e 75 anos submetidos a intervenções de, em média, 20 minutos, durante oito a doze semanas. A AO de joelho pode causar problemas na funcionalidade, e não possui cura específica. Sendo assim, o emprego da acupuntura auxilia no tratamento da sintomatologia, porém ainda carece por maiores evidências. Apesar da necessidade de estudos com um tamanho amostral maior, muitos autores destacam o êxito da acupuntura para essa disfunção, melhorando a dor e consequentemente a qualidade de vida que foi analisada apenas subjetivamente. Conclusão: a acupuntura reduz o quadro álgico e melhora a qualidade de vida neste público, mas há necessidade de maiores investigações.

Palavras-chaves: Terapia. Medicina Tradicional Chinesa. Meia Idade. Idosos.

Abstract:

Objective: to analyze scientific publications regarding the effect of acupuncture on pain and quality of life in middle-aged and elderly people with knee osteoarthritis. Method: it is an integrative literature review with research in different databases. Results and bulletins: 66 articles were recruited, of which 62 were excluded for escaping the topic, association of two or more techniques and protocol suggestions, thus leaving four studies for analysis. The age of the participants was between 40 and 75 years old, taking treatments of, on average, 20 minutes, for eight to twelve weeks. Knee AO can cause skill problems and has no specific cure. Thus, the use of acupuncture helps in the treatment of symptoms, but still lacks further evidence. Despite the need for studies with a larger sample size, many authors highlight the success of acupuncture for this dysfunction, improving pain and consequently the quality of life that was analyzed only subjectively. Conclusion: acupuncture reduces pain and improves quality in this audience, but there is a need for further investigation.

Keywords: Therapy. Traditional Chinese medicine. Middle-age. Seniors.

INTRODUÇÃO

O envelhecimento é um processo fisiológico no qual todos os seres vivos estão condicionados a enfrentar, sendo um fenômeno que demanda de avanços tecnológicos e científicos e está intimamente relacionado com o surgimento de alterações dos sistemas corporais.

Estimativas do IBGE (2019) apontam que no Brasil, existem mais de 28 milhões de idosos e no ano de 2060 a evolução desse público será relativamente maior que a de crianças e adolescentes até 14 anos. O número de pessoas com 60 anos ou mais aumentará de 43,19% em 2018 para 173,47% em 42 anos (2060), enquanto os indivíduos até 14 anos somarão aproximadamente 14,72% da população brasileira. As modificações que surgem com o processo de envelhecimento podem ser de cunho neurológico, cardiorrespiratório, musculoesquelético, entre outros ¹.

Dentre as alterações musculoesqueléticas associadas à senescência está a osteoartrite de joelho, que é considerada a maior causa de inaptidão física e incapacidade funcional do sistema locomotor. É caracterizada pela degeneração e inflamação das cartilagens articulares, geralmente ocasionadas por fatores biomecânicos, como o aumento da carga dinâmica da articulação e fraqueza muscular, que se agravam com a obesidade e idade avançada. A incidência desta condição em idosos é de 12,2%, tendo como principais queixas a rigidez matinal, dor durante a marcha e ao subir e descer escadas ².

Assim, essa disfunção destaca-se por múltiplos sintomas, principalmente a dor, que é uma sensação desagradável relacionada à danos reais ou potenciais aos tecidos e é influenciada pelas individualidades do ser humano, como a interpretação e limiar da dor, além da própria cultura.De acordo com a Medicina Tradicional Chinesa (MTC), a osteoartrose pode ser considerada como Síndrome Bi, uma disfunção que ocorre por meio da obstrução ou bloqueios na circulação da energia (Chi ou Qi) e do sangue (Xue). Está associada aos diversos tipos de artrites do modelo ocidental e sua etiologia deriva do ataque de fatores externos, como vento, frio, umidade que podem atuar de forma individual ou coletiva ³.

As condições crônicas advindas do processo de envelhecimento (que tem início após o nascimento) também são fatores desencadeantes de dor crônica: contínua ou recorrente, que pode durar meses e anos, independentemente do tempo de cura das lesões 4. A osteoartrite ainda pode desencadear sintomas secundários como a ansiedade e irritabilidade em consequência da dor gerada pelos movimentos, afetando negativamente a qualidade de vida, por isso é viável a associação da acupuntura para tratar ou amenizar estes sintomas de uma forma geral 5.

Segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia (2017), a osteoartrite, ou doença articular degenerativa, tem um índice maior em mulheres, com maior pico de prevalência entre os 40 e 50 anos no período da menopausa, mas sem excluir os homens. Pode ocorrer não somente no joelho, mas nas mãos e articulação coxofemoral. Aumenta com o passar dos anos e tem maiores casos a partir dos 60 anos, apresentando cerca de 30 a 50% de queixas de dor crônica, favorecendo um declínio na qualidade de vida 6.

Pode-se salientar que diversas alterações são capazes de interferir na qualidade de vida. Qualidade de Vida (QV) é um conceito amplo, o qual relaciona todos os aspectos de sobrevivência que rodeiam os seres humanos, como fatores físicos, psicológicos, relações sociais, crenças e independência. O termo refere-se à percepção individual sobre sua posição na vida, dentro das particularidades, podendo então ser analisada de forma subjetiva. A qualidade de vida e o bem-estar são influenciados pelos hábitos dessas pessoas e por condições crônicas, como a dor e sofrimento psicológico 7.

Ligadas a isso, estão as terapias integrativas, que podem auxiliar como um tratamento complementar, alternativo, não farmacológico e de baixo custo, designadas para o alívio dos sintomas de uma infinidade de doenças. Dentre elas, destaca-se a acupuntura que busca a interação entre corpo, mente e meio ambiente para proporcionar o equilíbrio da energia “Chi”. É uma prática milenar da Medicina Tradicional Chinesa, criada há mais de 5 mil anos, com o intuito de prevenir e recuperar a saúde. Os chineses acreditam que um sistema equilibrado não adoece. Atualmente, a acupuntura é utilizada para as doenças agudas e crônicas, por meio da inserção de agulhas nos pontos de meridianos específicos para cada caso 8

      Unindo as alterações do envelhecimento aos efeitos positivos das terapias complementares em diversas áreas e condições de saúde e doença, esse trabalho tem por objetivo analisar estudos científicos publicados referentes ao efeito da acupuntura na dor e qualidade de vida em indivíduos de meia idade e de idosos com osteoartrite de joelho.

METODOLOGIA

Este estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura, com o ensejo de analisar os estudos, que relacionem os efeitos do tratamento da acupuntura na dor em adultos de meia idade e idosos com osteoartrite de joelho, bem como a influência na qualidade de vida deste público. A metodologia baseou-se nas seguintes etapas: eleição do tema, problema de pesquisa, critérios de inclusão e exclusão, busca literária, análise e classificação dos estudos, exposição e discussão dos resultados.

A pesquisa inicial nos bancos de dados priorizou estudos dos últimos cinco anos, porém encontrou-se apenas revisões integrativas ou sugestões de protocolos, dessa forma aceitou-se trabalhos dos últimos dez anos. Os descritores utilizados para a busca na língua portuguesa foram: “acupuntura”, dor”, “qualidade de vida”, “joelho” e “osteoartrite”, e os na língua inglesa “acupuncture”, “pain”, “quality of life”, “knee”, “osteoarthritis”, nas seguintes plataformas: Google Acadêmico, BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), EBSCO (Business Source Complete), PEDro (Physiotherapy Evidence Database) e na PUBMED (motor de busca de livre acesso à base de dados MEDLINE – Sistema Online de busca e análise de literatura médica), através da busca avançada com filtros para a idade “acima de  65+”, para o período de 2010 a 2020. O acesso foi realizado no período de agosto a outubro de 2020.

Foram denominados como critérios de inclusão artigos completos contendo resumo e texto, publicados nos idiomas português, inglês e espanhol, além de disponibilidade eletrônica. A seleção primária ocorreu através da leitura dos títulos e resumos, para posteriormente leitura completa dos estudos, feita por pares inicialmente e checadas as informações se concordavam ou não, posteriormente por uma terceira pessoa e ainda, a análise investigativa. Também construiu-se uma planilha com dados referente as características metodológicas dos estudos que constam no quadro 1. Como critérios de exclusão adotou-se revisões sistemáticas, duplicidade de estudos, outras terapias associadas, estudos que não se enquadravam no tema central e sugestões de protocolos sem aplicação prática.

Quadro 1. Características Metodológicas dos Estudos

___AmostraIdadeTipo do estudoPontos utilizados
E-01192 pacientes com OA45-65 anosEnsaio multicêntrico, randomizado e controlado.
Tai-yang, sub-Bx39, sub-BL40 e sub-Bx55 Shao-yang, Yang-ming, Yin do pé: parte superior do BP9, sub-R7, patela intercoronária, sub-R8.
E-024245-75 anosEnsaio piloto randomizado, cego por participante e controlado por acupuntura simulada.E34, E35, E36, EX-LE2 (ponto extra do joelho – heding), EX-LE5, VB33, VB34, BP9, BP10, R8) e entre três e quatro pontos de acupuntura de 11 pontos distais (VB31, VB36, VB39, VB41, E40, E41, R3, BX60, BP6, R3, IG44)
E 0326 indivíduosMédia da idade 63,4 anosEstudo descritivo, de corte transversal e natureza quantitativa
E-04282 pessoasAcima de 50 anosEstudo longitudinal de história natural.Pontos locais:CS9, 10 E34, E35, E36 R7, 8, 9 KI10 Bx39, 40, 57 VB34, 35, 36, E40, R3, BP6, VB41, Bx60.Pontos segmentais: Bx21, 22, 23 VB30, 31. Ponto orelha joelho VG20 20, IG11, VG14, Bx11

Em uma busca inicial foram recrutados 66 artigos, porém após a leitura e análise de títulos, resumos e palavras-chave, houve a exclusão de 62. Onde, 12 artigos foram descartados por duplicidade em diferentes plataformas, 22 por fuga de tema, 19 por associarem os efeitos da acupuntura com outras técnicas, como a moxabustão ou eletroacupuntura e nove por serem apenas sugestões de protocolos com embasamento teórico, mas sem aplicação prática, conforme ilustrado na Figura 1.

Figura 1. Percurso da busca nas bases de dados

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Assim, quatro artigos foram inclusos para a revisão literária, encontrados nas diferentes bases de dados, sendo um na EBSCO, um na PEDro, um na PubMed e um no Google Acadêmico empregado aleatoriamente devido ao número reduzido de estudos nas outras plataformas.

Por mais que houve a restrição de idade na forma de busca, não teve uma dissociação entre adultos e idosos, pois na maioria dos estudos a técnica foi empregada em indivíduos de ambos os sexos, com idade entre 40 e 75 anos. Dessa forma, dentre os quatro artigos selecionados, três são de origem internacional, com apresentação na Língua Inglesa e apenas um de cunho nacional escrito na Língua Portuguesa, conforme descritos no quadro 2.

Quadro 2. Sumarização dos estudos.

___ANOAUTORTÍTULOREVISTAIDIOMA
E 012013LIU et alObservação sobre a liberação da dor por terapia de agulha longa na osteoartrite do joelho relacionada com a teoria dos tendões dos meridianos
Evidence-Based Complementary and Alternative MedicineInglês
E 022018LIN et al.
Eficácia e viabilidade da acupuntura para osteoartrite do Reimpressões e permissõesClinical RehabilitationInglês
E 032019RODRIGUES; DUARTE; FEITOSA.
Impacto da osteoartrose de joelho na capacidade funcional e qualidade de vida de pacientes atendidos em um município de Pernambuco, Brasil.
Arch H ealth Invest
Português
E 042012HINMAN, et al.Acupuntura para dor crônica no joelho: um ensaio clínico randomizadoJAMAInglês

RESULTADOS

LIU e colaboradores (2013), efetuaram um estudo multicêntrico, randomizado e controlado para avaliar a eficácia da terapia com agulha longa a fim de promover o alívio da dor em pacientes com osteoartrite do joelho. O Grupo Controle (GC) recebeu cápsulas de liberação de Ibuprofeno, um comprimido duas vezes por dia durante três semanas. Enquanto o Grupo de Intervenção com a terapia de acupuntura por agulha longa recebeu uma vez a cada sete dias em três sessões com punção articular e calmante. As agulhas foram inseridas ao longo das vias dos tendões de meridianos e foram selecionados para as intervenções com base em métodos diagnósticos tradicionais para o distúrbio. Os pontos foram aplicados nos locais ao longo do tendão meridiano do pé Tai-Yang: sub-BL39, sub-BL40 e sub-BL55; meridiano do pé Shao-Yang: intertibiofíbulas, fíbula e subtíbia, fêmur lateral, no côndilo; no meridiano do pé Yang-ming: patela externa inferior, côndilo externo da tíbia, patela interna inferior, côndilo do maléolo interno da tíbia e patela inferior e, por fim, nos locais ao longo dos três meridianos tendões Yin do pé: SP9, sub-LR7 e sub-LR8.A técnica de agulha longa mostrou-se superior em relação ao GC durante os três meses controlados após a aplicação. Os autores trazem que foi capaz de desmanchar os nós causadores de tensão que dificultam a passagem do Qi ao longo dos meridianos 9.

Para tanto, em outra análise referente ao manejo não farmacológico na osteoartrose por Stember e Kerscham-shindl (2013), associa a acupuntura como um meio positivo para a diminuição da dor e melhora da função em pacientes que sofrem de AO de joelho10.

Hinman et al (2014) traz que para o seu ensaio clínico com desenho de Zelen, a amostra foi composta por 282 pacientes com 50 anos de idade e dor crônica de joelho, distribuídos entre o grupo controle, o grupo que recebeu somente acupuntura e o grupo da acupuntura a laser por 12 semanas. Concluiu que nem a acupuntura com agulha conferiram benefício sobre a simulação para dor ou função. Apesar de que houve melhoria modesta na dor pelos indivíduos da acupuntura com agulha longa e laser em comparação ao grupo controle nas doze semanas, os efeitos não foram suficientes, enfatizando que os resultados obtidos não apoiam a técnica da acupuntura nestes indivíduos11.

Para a qualidade de vida, Rodrigues; Duarte; Feitosa (2019) realizaram um estudo de caráter descritivo com corte transversal e natureza quantitativa. Foram aplicados o questionário sociodemográfico, a Escala Visual Analógica (EVA) para mensurar a dor, o Western Ontario Mc Master Um Iversities Osteoarthritis Index para avaliar a capacidade funcional e o Short-Form 36 (SF 36) para analisar a qualidade de vida. A amostra foi composta por 26 indivíduos com diagnóstico de AO de joelho e média de idade que resultou em 63,4 anos. As atividades que mais evidenciaram limitação física foram calçar meia e subir escadas e do contrário, as que menos foram afetadas foi caminhar e fazer compras. Os autores destacaram que os aspectos da qualidade de vida são influenciados de forma conjunta pela AO e joelho e de acordo com os estudos já citados nessa revisão sugere que outras pesquisas com amostras maiores sejam realizadas, de modo a correlacionar outras variáveis da OA de joelho12.

Os tipos de estudos revisados foram: um ensaio clínico randomizado com desenho de Zelen; um estudo multicêntrico, randomizado e controlado, um ensaio piloto randomizado controlado e um estudo descritivo, de corte transversal e natureza quantitativa.

Em relação aos parâmetros das intervenções, notou-se poucas diferenças. A duração das sessões foi de, em média, 20 minutos para o tempo da retenção das agulhas. O tempo de tratamento entre todos os estudos, teve uma média de oito a 12 semanas e três atendimentos por semana.

Não foi possível calcular a média de idade associando os quatro estudos, já que a maioria utilizou participantes entre 40 e 75 anos. Assim, os indivíduos analisados estavam entre essa faixa etárias, sem maiores distinções.

Os estudos são apresentados no quadro 3 conforme os resultados referentes aos efeitos perante a dor e qualidade de vida e os desfechos principais.

Quadro 3. Efeitos encontrados da Acupuntura na Osteoartrite.

___DorQualidade de vidaDesfechos
E 01Houve melhora significativa da dor—-A eficácia do GE é superior a eficácia do GC
E 02Não houve melhora significativa—-Três sessões de acupuntura por semana durante oito semanas é viável para pacientes com OA de joelho.
E 03A AO de joelho, gera, especialmente em mulheres acima de 60 anos, quadro intenso de dor, vindo a ser um fator limitante nas Atividades de Vida Diária.

Os aspectos da QV mais afetados foram a capacidade funcional e o estado geral de saúdeAs atividades com maior limitação física foram calçar meias e subir escadas e as menos afetadas foram caminhar e fazer compras. Destaca que a OA de joelho está ligada com problemas na QV.
E 04Nem o laser nem a acupuntura com agulha conferiram benefícios a longo prazo
A preferência do paciente para a acupuntura influencia o resultado do tratamento. Em comparação com o controle, a acupuntura com agulha e laser resultou em melhorias modestas na dor em 12 semanas, mas não em 1 ano.

DISCUSSÃO

A acupuntura, técnica milenar da Medicina Tradicional Chinesa é baseada na capacidade de autocura do organismo humano, sendo muito utilizada de forma prática na medicina moderna. A Osteoartrose de Joelho pode causar a deficiência funcional, sem cura específica e as terapias convencionais requerem um longo período para surtir efeitos positivos, assim o emprego da acupuntura para auxiliar no tratamento dessa afecção musculoesquelética, que apesar de existir há muitos anos, carece por maiores evidências. (CHAGAS; RIBEIRO; FERREIRA, 2018)13.

Ainda de acordo com Chagas; Ribeiro; Ferreira (2018), apesar da necessidade de estudos mais aprofundados, muitos autores destacam o êxito desta técnica, pois além de ser eficaz no alívio sintomático como a dor, protagoniza o tratamento e auxilia na cura de muitas doenças de origem musculoesquelética, neurológica, respiratória e digestiva assim como doenças mentais, e possui poucos efeitos adversos quando comparados à medicina convencional. Os pontos utilizados para a acupuntura sistêmica variam conforme os sintomas e intimidade do profissional, porém alguns protocolos sugerem o IG4, IG11, E34, E35, BP10, F8 e pontos Ashi (pontos de dor) quando o foco principal é a melhora do quadro álgico14.

Corroborando a isso, Purepong et al (2012), realizou um estudo intitulado “Validade externa para ensaios clínicos randomizados em acupuntura para OA de joelho”, onde investigou 16 ensaios clínicos randomizados. Efetuou uma síntese dos pontos mais empregados para o tratamento da AO de joelho, demonstrando o uso comumente de: E34, E35, E36, BP6, BP9, BP10, VB34 e Xiyane Ah Shi pontos.Refletiu ainda que muitos eram citados na teoria, mas sem utilização na prática clínica, sendo eles: E6, BP 4, VB41, Bx 20, Bx58, Bx 62, R3 e TA5. Apesar de poucos efeitos adversos e resultados benéficos, concluiu a inadequação dos estudos, apontando como principal fragilidade o número insuficiente nas amostras, sugerindo a adequação mais vigorosa para os próximos ensaios clínicos e para a prática acupunturista15.

Já Lin et al (2018) realizou um estudo piloto controlado randomizado no qual utilizou três sessões de acupuntura na semana com duração de 20 minutos, durante oito semanas em pacientes com OA de joelho 16. Utilizaram técnicas e aplicações em comum aos citados por Puerpong et al (2012), diferenciando apenas nos pontos em que até então eram descritos como teóricos. Dessa forma estabeleceram como pontos locais o E34, E35, E36, EX-LE5 (neixiyan – ponto extra do joelho), VB34, BP9, BP10 e R8, e para pontos distais VB 21, VB36, VB39, VB41, E40, E41, R3, Bx60, BP6, R3 e IG4, com a aplicação baseada na teoria dos Meridianos da Medicina tradicional Chinesa para tratar a AO 17.

O autor aponta também que houve redução em 36%, concluído por meio das somas de subescalas de dor e função no grupo de intervenção, mas essa redução não foi estatisticamente relevante, pois os indivíduos que tiveram aplicação da acupuntura tradicional chinesa não obtiveram significativamente menos dor e melhor função do que os pacientes do grupo da acupuntura simulada, devido ao pequeno tamanho da amostra. Aponta-se que este foi um resultado imprevisto em seu estudo (LIN et al, 2018)18.

Muitos aspectos podem interferir na qualidade de vida de indivíduos com osteoartrite de joelho, principalmente as comorbidades já preestabelecidas como a obesidade, Diabetes Mellitus, fraqueza muscular e doenças cardiovasculares (VISSER et al, 2017) 19.

Para tanto Kawano (2017) em seu estudo de cunho transversal, descritivo e analítico, realizou uma comparação da QV de idosos com diagnóstico médico de OA aos indivíduos com sexo e idades semelhantes ao grupo sintomático, que não apresentavam sinais clínicos de AO e sintomatologia osteoarticular no joelho. Obteve através da aplicação do questionário SF-36, Medical Outcomes Study 36 – Item Short-Form Health Survey, que, todos os domínios apresentaram diferenças significativas com menores valores para o grupo de osteoartrite, bem com baixos escores de QV neste grupo em relação ao grupo assintomático em todos os itens avaliados. Destacou-se ainda que o grupo com OA apresentou estatisticamente maior IMC, o que permitiu concluir ainda que a QV foi influenciada diretamente pelo IMC e características como sexo e a idade20.

O emprego desta prática é reconhecido pelo National Institute of Healt como tratamento complementar para, entre outros, fibromialgia, lombalgia, cefaleia, dor pós-operatória, epicondilite, Acidente Vascular Encefálico (AVE) e osteoartrite e tem como objetivo estimular o bem-estar físico e psíquico, independente da faixa etária. Como qualquer desordem física, orgânica, cognitiva ou funcional afeta negativamente a qualidade de vida e a acupuntura age tanto prevenindo quanto tratando essas disfunções, afirma-se que é capaz de promover uma melhora da qualidade de vida desse público (SANTOS; SANTANA; LORDELO, 2020) 21. Em contrapartida, os estudos analisados não detalharam os efeitos da acupuntura na qualidade de vida devido à inutilização de instrumentos de pesquisa ou amostras irrelevantes.

Para tanto, a acupuntura sendo um meio muito promissor no tratamento de afecções musculoesqueléticas, vem sendo utilizada frequentemente para o tratamento de doenças agudas e crônicas. Diante disso, Carvalho et al (2015), em seu estudo clínico randomizado com abordagem quali-quantitativa analisou a eficácia da estimulação dos pontos de acupuntura na dor lombar, sendo que a lombalgia pode promover uma grande causa de morbidade e incapacidade. Foi realizado intervenções com três grupos, um recebeu acupuntura sistêmica (T1), outro auriculoterapia (T2) e o terceiro (Grupo controle “C”recebeu hidroterapia. Pode-se observar que em relação a intensidade de dor que o grupo T1 e T2 a prevalência de dor moderada era de 67% a 56% antes das sessões e após o tratamento a prevalência a ser 78% a 67% de dor grau leve. E o grupo controle “C” a prevalência da dor intensa em 78% dos participantes no início da pesquisa e após passou a 78% de dor moderada. A acupuntura sistêmica apresentou resultados mais eficazes que a auricular, mas ambas foram benéficas ao tratamento de dor lombar, reconhecendo a importância do emprego desta técnica na prática 22.

Colaborando a isso, Rosa; Dias e Roncada (2016) através de uma revisão integrativa destacaram que os métodos aplicados através da acupuntura apresentaram um resultado significativo em relação á analgesia, com a estimulação de pontos característicos do nosso corpo que são primordiais para obter-se o alívio da dor. Comprovando assim que esse meio de tratamento é conveniente e pode ser usada com outras intervenções, visando o bem-estar do paciente 23.

CONCLUSÃO

Analisando os estudos incluídos nesta revisão, percebeu-se que o principal efeito que a acupuntura proporciona é a redução da dor nos indivíduos de meia idade e idosos, porém a maioria dos estudos à associa com outra técnica como moxabustão, laser e/ou eletroacupuntura, dificultando sua análise individualizada. A melhora da qualidade de vida também foi citada, já que a acupuntura elimina ou reduz sintomas como dor e irritabilidade causados pela osteoartrite e posterior incapacidade funcional, consequentemente aproximando o sujeito de uma rotina mais funcional. Apesar disso somente um estudo aplicou instrumentos para avaliar a QV, o restante sugere melhora observada de forma subjetiva, sem uma análise minuciosa.

Os efeitos adversos da acupuntura citados foram rubor e edema que desapareceram em questão de poucos dias e acometem mais os idosos do que os indivíduos de meia idade.

Outrossim, apesar da acupuntura ser uma técnica de origem milenar e a osteoartrite de joelho uma disfunção comum nas faixas etárias de meia idade e, principalmente idosos, teve-se limitações como: o número restrito de estudos associando-a com acupuntura, dor e a qualidade de vida, além de amostras também reduzidas. Nesse sentido, são classificados como irrelevantes quanto às estatísticas.

Em contrapartida, enfatiza-se que a acupuntura mesmo não demonstrando dados expressivos nos estudos analisados, auxilia no alívio da dor e da QV em indivíduos com osteoartrite, segundo sugestão dos autores. Ressalta-se que é muito bem empregada para o tratamento das afecções musculoesqueléticas, mas há necessidade de investigações maiores para comprovar sua eficácia de forma estatisticamente significativa.

REFERÊNCIAS

¹ IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Idosos indicam caminhos para uma melhor idade. Rio de Janeiro, 2019. Disponível em:https://censo2021.ibge.gov.br/2012-agencia-de-noticias/noticias/24036-idosos-indicam-caminhos-para-uma-melhoridade. html#:~:text=O%20Brasil%20tem%20mais%20de,divulgada%20m%202018%20pelo%20IBGE Acesso em: 21 de novembro 2020.

² 5 ALEXANDRE, T.S; CORDEIRO, R.C; RAMOS, L.R. Fatores associados à qualidade de vida em idosos com osteoartrite de joelho. Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.15, n.4, p.326-32, 2018.

³ MACHADO, N. F. VANTAGENS DA UTILIZAÇÃO DA ACUPUNTURA NO TRATAMENTO DA OSTEOARTRITE DE JOELHO. 2011. 22 f. Monografia (Especialização) – Curso de Pós-Graduação Avançada em Acupuntura, Escola Brasileira de Medicina Chinesa, São Paulo, 2011.

4 7 VALERO, M.C.; FARIA, M.Q.G.; LUCCA, P.S.R. Avaliação e tratamento de dor crônica no paciente idoso. Revista Thêma et Scientia. v.5, n. 2, jul/dez 2015

CARVALHO, P.C. et al. Acupuntura no tratamento da dor lombar. J Health Sci Inst. v.33, n. 4, p. 333-338, 2015.

6 SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA. Osteoartrite (artrose). São Paulo, 2017. Disponível em: https://www.reumatologia.org.br/doencasreumaticas/osteoartrite-artrose/ Acesso em: 08 abril. 2019.

8 22CARVALHO, P.C. et al. Acupuntura no tratamento da dor lombar. J Health Sci Inst. v.33, n. 4, p. 333-338, 2015.

9 LIU, Y.S; et al. Observation on Pain Release by Long-Round Needle Therapy in Knee Osteoarthritis Related with Meridian-Sinews Theory. Evidence-based Complementary and Alternative Medicine. v. 2013, n.9, p.781289, 2013.

10 STEMBERGER, R.; KERSCHAN-SCHINDL, K.. Osteoarthritis: physical medicine and rehabilitation—nonpharmacological management. Wien Med Wochenschr.v.163, n.9-10, p. 228–235, 2013.

11 HINMAN, R.S.; et al. Acupuncture for chronic knee pain: a randomized clinical trial. JAMA. v.312, n.13, p.1313-22, 2014.

12 RODRIGUES, R.E; DUARTE, P.H.M; FEITOSA, C.A.L Impacto da osteoartrose de joelho na capacidade funcional e qualidade de vida de pacientes atendidos em um município de Pernambuco, Brasil. JAMA. v.312, n.13, p. 1313-1322, 2019.

13,14 CHAGAS, D.B.C; RIBEIRO, E. B; FERREIRA, R.B. Acupuncture as a treatment for joint pain: knee (literature review). Journal of Specialist Scientific Journal. v.4, n.4, p.1-15, 2018.

15,17 PUREPONG, N; et al. External validity in randomised controlled trials of acupuncture for osteoarthritis knee pain.Acupunct Med. v.30, n.3, p. 187-194, 2012.

16,18 LIN, L.L; et al. Effectiveness and feasibility of acupuncture for knee osteoarthritis: a pilot randomized controlled trial. Clin Rehabil. v.32, n.12, p. 1666-1675, 2018.

19 VISSER, WA; et al. Do Knee Osteoarthritis and Fat-Free mass Interact in Their Impact on Health-Related Quality of Life in Men? Results From a Population-Based Cohort. Arthritis Care & Research. v.67, n.7, p.981–988, 2015.

20 KAWANO, M.M. Qualidade de vida em portadores de osteoartrite de joelho e indivíduos assintomáticos. 2017. 75 f. Tese (Doutorado em Medicina e Saúde Humana) – Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Salvador, Bahia, 2017.

21 SANTOS, E.F; SANTANA, C.A; LORDELOC, R. A acupuntura enquanto auxiliar na promoção da qualidade de vida na terceira idade. E-revista. v.11, n.1, p. 1-15, 2020.

23 ROSA, R; DIAS,CP; RONCADA, C. Efeitos da acupuntura na redução da dor lombar: uma revisão sistemática. Revista Pesquisa em Fisioterapia. v. 6, n.2, p.167-178, 2016.