ABUSO SEXUAL INFANTIL E AS CONSEQUÊNCIAS NO DESENVOLVIMENTO E COMPORTAMENTO DA CRIANÇA

CHILD SEXUAL ABUSE AND THE CONSEQUENCES OF CHILD DEVELOPMENT AND BEHAVIOUR

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10114466


Emilly Heloisa Borges1
Daniela da Conceição Delfino2


RESUMO

O presente artigo irá descrever brevemente sobre o aparato histórico do abuso sexual infantil, bem como sua definição, ao mesmo tempo que abordará as transformações históricas acerca do tema até chegar aos desdobramentos atuais. Além disso, esse trabalho tem como objetivo, analisar as contribuições da psicologia para as vítimas de abuso sexual infantil, analisar como a psicologia pode contribuir com o desenvolvimento psicológico da criança que foi abusada. Pretende também descrever as mudanças de comportamento da vítima e as possíveis implicações emocionais acerca do abuso sexual. O artigo irá discorrer sobre as diversas formas de abusador, bem como sobre qual a dinâmica psicológica utilizada para que a criança mantenha o abuso em segredo e não procure ajuda, discorrerá sobre o possível perfil do abusador o que acontece para que essas crianças sejam manipuladas para não procurarem ajuda. O presente tema tem intuito de pesquisar e de trazer formas de como a psicologia pode amenizar os danos causados e como essa criança poderá enfrentar o processo após ter sido vítima de abuso sexual. O trabalho ainda tem intuito de esclarecer como a psicologia pode trabalhar com essas crianças, e como trabalhar com as alterações que aconteceram com a vítima do abuso.

Palavras-chave: Abuso sexual; Consequências; Criança; Psicologia;

ABSTRACT

Abstract: This article will briefly describe the historical apparatus of child sexual abuse, as well as its definition, while addressing the historical transformations on the subject until it reaches the current unfolds. In addition, this work aims to analyze the contributions of psychology to victims of child sexual abuse, analyze how psychology can contribute to the psychological development of the child who has been abused. It also aims to describe the changes in the victim’s behaviour and the possible emotional implications of sexual abuse. The article will discuss the various forms of abuser, as well as the psychological dynamics used to keep the child a secret and not seek help, will discern about the possible profile of the abuser what happens so that these children are manipulated so that they do not seek help. The present theme aims to research and bring ways in which psychology can mitigate the harm caused and how this child may face the process after being the victim of sexual abuse. The work is still intended to clarify how psychology can work with these children, and how to work with the changes that happened with the victim of the abuse.

Keywords: Sexual abuse; consequences; Child; Psychology;

1. INTRODUÇÃO

Conforme Brino & Williams (2003), o abuso sexual pode ser definido como “qualquer interação, contato ou envolvimento da criança em atividades sexuais que ela não compreende, não consente, violando assim as regras sociais e legais da sociedade”. Ainda, este tipo de abuso pode ser considerado o que provoca os piores prejuízos para a vítima, entre os prejuízos, podemos destacar as dificuldades de adaptação interpessoal, sexual e afetiva.  

O abuso sexual infantil pode ser visto também como uma violência doméstica contra a criança, além das práticas sexuais contra essa vítima, também pode ocorrer a agressão física e o abuso emocional, deixando esse indivíduo ainda mais sensível e vulnerável (Brino, Williams, 2003). 

Assim como na Antiguidade, ainda hoje os casos de abuso sexual infantil, na maioria das vezes tem algum grau de parentesco entre a vítima e o agressor. Nesses casos a dificuldade aumenta para solucionar esta questão, já que a vítima se sente oprimida e as chances de procurar ajuda diminuem, o que se torna invisível para a sociedade (Brino, Williams, 2003). Até o século XVIII, a prática de abuso sexual infantil era aceita pela sociedade, sem restrito algum, apenas depois de muitos anos com a reforma humanísticas, religiosa e políticas, o ato de abuso sexual e maus tratos contra a criança, se tornou deplorável e não aceito mais na sociedade, se tornando totalmente proibido(Cogo et al., 2011). 

Com as mudanças que aconteceram ao longo dos anos, verificou-se que, a o fato de que a violência sexual está inserida num contexto histórico-social com profundas raízes culturais, sendo a violência sexual apenas uma das muitas facetas do fenômeno violência (Romero, 2007)

Nos dias atuais ainda podemos ver que existe o domínio do mais forte sobre o mais fraco, esse também é um fator muito relevante causador desses abusos, tanto sexuais, como econômicos, sociais, entre outros, com isso tendo esse poder de domínio sobre as crianças e adolescentes, vem os maus tratos e abusos (Romero, 2007).

Segundo Pfeiffer, (2015) o abuso sexual infantil é considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), como sendo um dos maiores problemas de saúde pública, Considerando esse contexto, esse trabalho tem como objetivo entender como a psicologia pode contribuir nos casos de abuso sexual infantil. Ao longo dos anos foram feitos estudos em várias partes do mundo, mostrando que 7-36% das meninas e 3-29% dos meninos, sofreram algum tipo de abuso sexual, em algum momento da vida, mostrando uma porcentagem alta, diante do quão grave essa ação é.

O abuso sexual infantil, é considerado quando há um envolvimento de crianças ou adolescentes com alguém mais velho que essa criança, e assim também há um poder exercido sobre essa vítima, que é usada como um objeto de obtenção de prazer e usada para alcançar as necessidades ou desejos de quem a abusa. (Cogo, et al, 2011).

Segundo pesquisas feitas, o abusador na maioria das vezes é algum membro da família e que quase sempre essa violência é cometida por homens. Sabe-se que o abuso mais cometido que envolve a vítima é ocasionado pelo pai, padrasto, tio, vizinho. Para Silva (2002), entender essa violência intrafamiliar implica numa compreensão histórico-psicossocial do indivíduo e da família, assim vê-se a importância de estudar as relações familiares, voltando-se para o nível psicológico e buscando uma compreensão emocional da estrutura familiar.

Cada pessoa que sofre com o abuso sexual, terá um impacto diferente em sua vida, isso ocorre pois depende do âmbito social que esse indivíduo está inserido, sua personalidade individual, qual o tipo de abuso que foi cometido, quanto tempo durou e com que frequência, a idade da vítima, se conhece o agressor ou não. Há muitos fatores que influenciam no impacto do abuso sexual na vida dessa criança, por isso não se pode generalizar os casos de violência e abuso. Cada indivíduo lida de uma forma com o abuso que sofreu, é importante entender qual a melhor maneira e qual a melhor forma de intervenção para este indivíduo (Rezende, 2013).

1. DESENVOLVIMENTO

1.1. Compreender a importância da prevenção do abuso sexual infantil

Segundo (Cogo, et al, 2011), o incesto tem mais devastação do que as violências sexuais, pois no incesto essa vítima não irá fugir de algum desconhecido, não tem como fugir dessa pessoa, ou se esconder, assim essa criança não se sentirá segura em lugar algum, muito menos no seu lar. Além de ela ser obrigada a conviver com o incesto na sua rotina, devastando cada vez mais sua saúde física e mental.

Conforme a Constituição de 1998 prevê em seu artigo 208, inciso IV a garantia da educação infantil, onde essas crianças desde seus primeiros anos escolares, sendo a creche, já é preciso haver o primeiro contato com a prevenção de qualquer ato que desrespeite esse ser e sua dignidade (Leocádio, 2021)

Vê-se que a expressão “dignidade humana” é de difícil conceituação, mas trata-se de garantia que visa proporcionar ao ser humano uma vida em que possa usufruir com liberdade e integridade de todos os seus direitos e deveres. Mencionada em incontáveis documentos, inclusive de alcance internacional, como constituições, leis e tratados, a dignidade da pessoa humana é um dos poucos e grandes consensos éticos do mundo ocidental e, embora possua inúmeras variações, remete a situações de discussão acerca do controle sobre o próprio corpo, direitos igualitários, exercício de crenças, limites científicos e limites a penalidades a serem aplicadas em condenações criminais, além da definição do que é considerado vida, e suas implicações. (Leocádio, p. 4, 2021)

A pedofilia acontece quando o agressor sente atração por crianças e adolescentes, atração física e sexual, onde existe atividades de sofrimento. Mesmo sendo algo que assola a sociedade desde a Antiguidade, ainda não se tem um alto nível de prevenção para as crianças, sendo que acontece diariamente a prática de pedofilia, e que acaba fazendo mais vítimas todos os dias. (Gomes Santos, 2018)

Ainda segundo Gomes e Santos, p. 7, (2018)

No Brasil a pedofilia é considerada como crime hediondo, como penalidades severas, tal crime enquadra-se como estupro de vulnerável. Outra mudança que ocorreu com o passar do tempo é a comprovação do crime, pois agora mesmo que não tenha marcas ou sinais físicos do abuso, é utilizada como prova a narrativa da vítima.

É preciso deixar claro que nem todo pedófilo é um abusador, pois nem todos que sofrem desse transtorno, praticam o ato de abusar de crianças e adolescentes, alguns conseguem controlar seus impulsos e desejos, não cometendo então esse crime. (Gomes, Santos, 2018).

Inicialmente uma das coisas para prevenir que o abuso sexual aconteça ou que continue acontecendo com a vítima, é ensiná-la quais os primeiros sinais de que o abusador é alguém próximo, para que essa criança ou adolescente possa perceber com antecedência, evitando então que algo aconteça. Ou quando o abuso estiver já se iniciado, a criança saberá que precisa contar a algum adulto de confiança, e que não precisa esconder isso de alguém, que ela não é culpada do que está acontecendo (Sant’ana, Cordeiro, 2021)

É possível com a literatura fazer um trabalho de prevenção ao abuso sexual e também orientar os meios que a criança pode pedir ajuda. Desde muito pequenos, antes mesmo de ser alfabetizados, todos escutam sobre histórias, contos de fadas e fábulas, histórias reais e fictícias, além disso as crianças costumam ter muito medo de lugares escuros, ou que não conhecem, e também não sabem como resolver conflitos (Ferreira, Pereira 2020).

Nessa parte de contar história é importante prender a atenção da criança ouvinte, onde ela precisa entender o que está acontecendo na história. Segundo os autores, para conseguir prender a atenção da criança, é necessário que na história aconteça, coisas semelhantes as que acontecem na vida da criança, ate mesmo certos problemas, assim ela vai se ver na história, e no momento da resolução de problemas, essa criança vai ver que há formas de resolver os conflitos e como o problema era igual a seu, e possivelmente ela se viu naquele personagem, então vai se ver resolvendo esses empecilhos (Ferreira, Pereira, 2020).

Sob o ponto de Vista de Leocádio (2021), a sugestão de incluir a educação sexual desde a primeira infância abordar esse tema como as crianças, faz com que as mesmas conheçam os limites do seu corpo, quem pode ou não encostar-lhes, porque tem situações que o toque não é adequado e pode ser um sinal de alerta, podendo ser com outras crianças, ou adultos. Assim, a medida que a criança conhece os limites, sabe o que é errado e o que não podem fazer com seu corpo, fica mais fácil de identificar quando algo que esta lhe acontecendo, é algo inadmissível que aconteça.

1.2. Contribuições da psicologia em casos de abuso sexual infantil

A psicologia tem um papel importante em muitas áreas, abarcando ate mesmo a área do direito, e se faz essencial em todos os casos onde envolve abuso sexual. De acordo com os estudos feitos com vítimas de abuso, a confiança e o rapport estabelecido entre o terapeuta e o paciente/cliente é muito importante, sendo feito na primeira sessão o acolhimento dessa vítima. O atendimento psicológico é de suma importância, sabendo que os profissionais da psicologia abarcam um conhecimento sobre o tema, situações de traumas e o desenvolvimento humano (Dell’Aglio, Pelisoli, 2013).

Deste modo, frente a lei a psicologia é uma das disciplinas que irá favorecer para a compreensão deste fenômeno e pode contribuir com indicativos de que comportamentos ou sintomas sejam condizentes com consequências emocionais e psicológicas apresentadas por vítimas, conforme aponta a literatura científica. Também vai contribuir com a proteção das vítimas e os envolvidos, busca de informações com mais detalhes, vai trabalhar fazendo escutas, testes e encaminhamentos para as vítimas. (Dell’Aglio, Pelisoli, 2013)

O atendimento psicológico de crianças vítimas de abuso sexual é de extrema importância, e vai de acordo com as necessidades de cada criança. Não é possível generalizar os efeitos do abuso sexual para todas as crianças, pois a gravidade e a quantidade das consequências dependem da singularidade da experiência de cada vítima. O acolhimento da criança e de sua dor é o primeiro passo para um bom resultado do tratamento físico e emocional que serão necessários. A escuta de sua história, livre de preconceitos, sem interrupções ou solicitações de detalhamentos desnecessários para a condução do caso, vai demonstrar respeito a quem foi desrespeitado no que tem de mais precioso, que é seu corpo, sua imagem e seu amor-próprio (Pfeiffer; Salvagni, 2005) apud (Cogo, et al, 2011, p. 7).

Neste contexto é importante fornece um ambiente acolhedor para esta vítima, onde ela possa se sentir o mais confortável possível, e segura. O profissional da psicologia é habilitado para identificar prejuízos causados na vítima e quão grave são, assim sabendo qual melhor intermédio a se trabalhar com a vítima.(Cogo, et al, 2011).

É importante no atendimento a vítima, jamais a culpabilizar por algo, é necessário fazer uma escuta ativa, ouvindo tudo o que ela e a família falar, sem julgamentos, apenas acolhimento, por isso, recomenda-se que a criança fale livremente sem interrupções, e que as perguntas sejam de forma clara e adequadas para as crianças. Sendo assim, é importante trabalhar histórias lúdicas com a criança, brincadeiras, jogos, desenhos, pois essas técnicas não vão ser invasivas para a criança e é possível fazer uma maior investigação quando necessário, ou apenas o entendimento do caso para saber a melhor forma de se trabalhar com a vítima. (Ferreira, Nantes, 2017)

A psicologia contribui de muitas formas em casos de abuso sexual infantil, em alguns casos a vítima precisa passar por um longo processo de ressignificação de seus sentimentos, ao ponto de entender o que de fato aconteceu, e o quanto isso lhe desestabilizou. A psicologia ira trabalhar, além da escuta e acolhimento, o processo de elaborar o lugar dessa pessoa no mundo, o processo psicoafetivo, o sentimento de culpa que a mesma carrega, a percepção que a mesma tem de si e dos outros, do mesmo modo que trabalha as marcas traumáticas que ficaram nessa vítima. (Silva, Silva, Balero, 2021)

Além do trabalho com a vítima, a psicologia é efetiva também nos casos judiciários, onde é preciso apontar indicativos de ocorrências ou não do abuso sexual, para que o juiz possa ter uma decisão correta do caso. Assim o papel do psicólogo será de contribuir para a comprovação do abuso sexual, proteger as vítimas e os envolvidos, bem como fazer encaminhamentos para que a criança tenha acesso a todos os serviços de proteção que lhe são de direito. O profissional psicólogo primeiramente ira trabalhar na investigação desses casos, podendo usar recursos como a avaliação psicológica, e testes (Dell’Aglio, Pelisoli, 2013)

Segundo os autores, a avaliação pericial (forense) dirige-se ao esclarecimento de uma questão legal e tem por finalidade auxiliar o agente jurídico na tomada decisão; já na avaliação clínica, a relação é de cuidado e apoio à vítima. É preciso lembrar que uma avaliação psicológica somente poderá se constituir em perícia quando solicitada por agentes que têm a prerrogativa legal de determiná-la: o delegado e o promotor na fase investigativa, e o juiz, na fase processual (Rovinski & Pelisoli, 2019, p. 12).

Conforme Rovinski & Pelisoli, (2019), as crianças e adolescentes são amparados pela Lei número 13.431/17, onde declara que o psicólogo fará o acolhimento dessa vítima, a criança e o adolescente terão uma proteção, escuta especializada, depoimento especial, garantindo assim que seus direitos não sejam violados novamente. É preciso ter capacitação ética e cuidado no momento de conduzir a entrevista com a vítima, para que não ocorra erros, na obtenção de informações, se acontecer de forma inadequada, há a necessidade de refazer os procedimentos, aumentando assim o risco de violência institucional e também a revitimização.

1.3. Analise das mudanças de comportamentos que o abuso sexual pode causar na criança, e as possíveis consequências.

Há alguns aspectos que podem ser observados em crianças que estão sofrendo com abuso sexuais, essa criança terá mudanças extremas nos hábitos alimentares e afetivo, no seu comportamento há a presença de agressividade ou de autodestruição, pesadelos podem ocorrer, medo, isolamento social, se isolar de outras crianças, déficit de linguagem, perda de interesse em atividades como estudar ou brincar com outras crianças, baixa autoestima, fuga de casa, mutilação, entre muitos outros aspectos que podem ser notados. (Cogo, et al, 2011)

Além das manifestações psicológicas citadas acima, também ha os traumas físicos, abortos, gravidez indesejada na adolescência, sentimento de culpa e TEPT, são citadas nos estudos feitos acerca do abuso sexual infantil e na adolescência. (Borges & Dell’Aglio, 2008). Os traumas psicológicos podem ser os piores possíveis, muitas vezes não superados na fase adulta e podem não ser lembrado pela vítima, onde ela não sabe que foi abusada ou não tem consciência disso. Essa vítima carregará o trauma por muitos anos, e quando não procura ajuda de algum profissional, o trauma será uma consequência para a vida toda (Silva, 2019)

As consequências do abuso sexual podem ser de curto e longo prazo. Em relação às manifestações psicológicas, em curto prazo, podem ser: medo do agressor, medo de pessoas do sexo do agressor, isolamento social, sintomas psicóticos, quadros fóbicos, ansiosos, depressão, distúrbio do sono, distúrbio da aprendizagem, sentimentos de rejeição e confusão. Os danos em longo prazo incluem: as manifestações de incidências de transtornos psiquiátricos como dissociações afetivas, ideação suicida e os níveis mais intensos de medo, ansiedade, raiva, culpa, hostilidade, cognição e imagens distorcidas do mundo e dificuldade de perceber a realidade. (Barrozo, Silva, Rodrigues, 2018, p. 5)

Ha estudos que mostram uma porcentagem dos efeitos que o abuso causa na vida das vítimas, sendo que há um risco aumentado em 20% para o desenvolvimento de TEPT (Transtorno de Estresse Pós Traumático), 21% para depressão e suicídio, 14% para comportamento sexual promíscuo, 8% para a manutenção do ciclo de violência e 10% para déficits no rendimento escolar. (Paolucci et al., 2001).

Devido a prática do abuso sexual infantil, pode vir a ocorrer várias consequências com a criança, havendo impacto negativo tanto no desenvolvimento físico, quanto emocional e social. Essas alterações se diferem de pessoa para pessoa, algumas apresentam mínimas alterações, enquanto outras podem desenvolver vários tipos de transtornos e traumas psicológicos (Borges et al, 2010).

O impacto e as consequências na vida dessa criança são inúmeros, já que nos abusos sexuais intrafamiliares a criança não é afastada do agressor, pois é entendido que pode haver muitas consequências, como a desestruturação familiar ao afastar essa criança da sua família, assim o abuso sexual acaba por ser ignorado, e a família segue “normalmente” o funcionamento (Rezende, 2013)

Um dos transtornos psicológicos que mais ocorre decorrente do abuso sexual infantil, é o Transtorno de Estresse pós Traumático- TEPT. O TEPT é um transtorno caracterizado pela ansiedade que ocorre devido a um evento traumático, envolvendo então medo, e está ligado a sintomas onde a pessoa revive aquele evento, evita lugares que podem lhe dar gatilhos (Borges et al, 2010).

O TEPT pode ser manifestado de três formas, sendo quando essa vítima passa pela reexperimentação dos atos, quando há lembranças e os sonhos traumáticos, angústia ao relembrar os fatos e pensamentos, locais e situações podem desencadear angústia, tristeza, medo, pois essa vítima revive esses momentos, acabada também querendo fugir de seus próprios sentimentos, lugares, perde o interesse por algumas atividades que fazia antes. O TEPT também pode ocasionar problemas na memória da vítima, alterações na percepção de futuro dificuldade de concentração transtorno do sono, sentimento de sempre estar sozinho, o indivíduo pode sentir muita raiva e irritabilidade, esses são alguns possíveis sintomas do Transtorno de Estresse Pós Traumático (Florentino, 2015).

É possível que essa vítima que passou pelo abuso sexual possa desenvolver vários transtornos, devido ao trauma sofrido, podendo ser o transtorno de estresse pós traumático, depressão, ansiedade, TOC, transtornos alimentares, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), abuso de substâncias entre outros que podem vir a desenvolver. (Borges, Dell”Aglio, 2008).

Há alguns fatores que podem influenciar nas consequências do abuso sexual infantil, que pode ser a duração deste evento, se perdurou por meses ou anos, o tipo de abuso e como foi praticado, a idade que a vítima tinha no início, as ameaças sofridas e outros eventos que podem ter sido somados a esses estressores. Estudos comprovam que a presença do segredo mostra-se um agravante para o desenvolvimento psicológico das vítimas, sendo mais causador da depressão e ansiedade. (Borges, Dell”Aglio, 2008).

Em decorrência do abuso sexual, pode vir a aparecer muitas consequências, além de traumas físicos, e mentais, podem ocorrer consequências comportamentais, a dificuldade de manter relações afetivas, sexuais e amorosas com outras pessoas e dificuldade de ter contato físico. Também pode haver o envolvimento com drogas, alcoolismo, prostituição, dificuldade de se inserir na sociedade, as vítimas podem se sentir inferiores a outras pessoas. (Silva, 2019)

Um dos fatores que pode acabar agravando ainda mais os transtornos psicológicos das crianças vítimas do abuso sexual infantil, é o sentimento de culpa que essa criança carrega, além da vergonha, manter o segredo e não conseguir contar para ninguém. (Silva, 2019)

2. METODOLOGIA

O desenvolvimento do trabalho de conclusão de curso, se deu por meio da utilização da pesquisa bibliográfica integrativa sendo essa uma modalidade de pesquisa que tem como objetivo descrever com o máximo de informações possíveis um tema ou uma questão, de forma que possa fornecer mais conhecimento sobre o tema pesquisado. Nos quadros abaixo, estão representadas as formas como foi feito a pesquisa, separado por Termos de busca, ou seja, como foi feita a busca pelos materiais, critérios de inclusão dos materiais, o que precisavam ter para ser incluídos na pesquisa, e critérios de exclusão, onde foi excluído artigos que não abarcavam adequadamente o tema.

Quadro 1 – Termos de busca

IdiomaTermos de BuscaSinônimos



Língua Portuguesa
Abuso sexual infantil e as consequências no comportamento da criançaEfeitos, aspectos psicológicos
Efeitos no comportamento da criança após o abuso sexualConsequências, mudanças
Alterações que o abuso sexual causa nas vítimas

Fonte: Elaboração da autora Emilly, 2023.

Quadro 2 – Critérios de inclusão dos artigos

CritérioDescrição do Critério de Inclusão
FormatoForam incluídos artigos e dissertações/teses.
Área do ConhecimentoForam incluídos artigos e dissertações/teses sobre abuso sexual infantil e as possíveis consequências.

Tema
Foram incluídos artigos e dissertações/teses que abarcam a temática específica: Abuso sexual infantil e as consequências no desenvolvimento e comportamento da criança.

Período
Foram incluídos artigos e dissertações/teses publicados nos últimos 16 anos (2007-2023), onde apresentassem relevância com o tema abuso sexual infantil.
QualidadeForam incluídos artigos e dissertações/teses publicados em revistas, anais, seminários e outros.

Fontes
Foram incluídos artigos e dissertações/teses disponíveis nas seguintes bases de dados eletrônicas indexadas: Portal de Periódicos da Capes, Scielo, conteúdo jurídico, Pepsic e Google Scholar.

Fonte: Elaboração da autora Emilly, 2023.

Quadro 3 – Critérios de exclusão dos artigos

CritérioDescrição do Critério de Exclusão
FormatoForam excluídos todos os estudos que não eram artigos e dissertações/teses.
Área do ConhecimentoForam excluídos todos os artigos e dissertações/teses que não trazem estudos sobre o abuso sexual infantil.

Tema
Foram excluídos todos os artigos e dissertações/teses que não abarcam a temática específica: Abuso sexual infantil e as consequências no desenvolvimento e comportamento da criança.
PeríodoForam excluídos todos os artigos e dissertações/teses com data anterior à 2007.
QualidadeForam excluídos todos os artigos e dissertações/teses que não tinham publicações em revistas, anais, seminários, periódicos e outros.

Fontes
Foram excluídos todos os artigos e dissertações/teses com textos incompletos e/ou não se encontravam disponíveis nas seguintes bases de dados eletrônicas indexadas: Portal de Periódicos da Capes, Pepsic, Scielo, conteúdo jurídico e Google Scholar.

Fonte: Elaboração da autora Emilly, 2023.

A escolha das bases de dados eletrônicas se deu pelo fato do fácil acesso a materiais, onde há uma maior variedade e possibilidade de materiais com a temática escolhida, levando em consideração os critérios de inclusão e exclusão dos materiais. Iniciou-se excluindo materiais onde o título não abarcava a temática, após isso separado por resumos e palavras chaves, subsequente realizado a leitura dos materiais e selecionado para constar no estudo.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o presente trabalho, foi possível analisar de acordo com os autores citados durante o texto, quais as possíveis consequências que o abuso sexual pode causar na vítima, o histórico do abuso sexual infantil, as transformações que ocorreram, acerca do abuso sexual com o passar do tempo e também as contribuições da psicologia com as vítimas do abuso sexual infantil, como a psicologia pode contribuir nesses casos. Essas consequências, é refletido de forma psicológica, onde a vítima possivelmente será afetada em alguma ou várias áreas da vida e do desenvolvimento, pois as consequências advindas do abuso sexual infantil são multifatoriais.

Conforme o ECA, o abuso sexual infantil pode ser considerado uma das piores formas de violação de direitos das crianças e adolescentes, pois este indivíduo não tem como se defender, na maioria das vezes não sabe nem o que está acontecendo, não sabe a quem recorrer e nem o porquê de procurar ajuda, e um dos fatores que corrobora para isso é o fato de que muitas vezes o abuso sexual é intrafamiliar, que se caracteriza por ser cometido por alguém do seu convívio, de dentro de casa, lugar esse que deveria ser de proteção e cuidado.

Com o desenvolvimento do presente trabalho foi possível perceber que o abuso sexual infantil traz consigo inúmeras alterações emocionais para a vítima, onde essa criança pode ter um desenvolvimento psicológico prejudicado, além do sofrimento que carregará. As mudanças de comportamento podem ser observadas desde o momento em que o abuso sexual é iniciado com a vítima, onde há comportamentos como não querer que ninguém a toque, ou então a criança mesmo ficar se tocando através de hiper estimulação sensorial nos genitais, a criança também pode apresentar agressividade e comportamento reprimido. Algumas consequências citadas ao longo do texto foram os transtornos psíquicos, como a ansiedade, depressão, Transtorno de Estresse pós traumático, que podem ser ocasionados devido ao abuso sexual infantil.

Considerando que a Psicologia é uma área que estuda o ser humano em sua totalidade e também o seu sofrimento psíquico, observa-se que as contribuições acerca desse tema são inúmeras, pois é possível intervir com ações de prevenção e em casos onde a criança já foi vitimada, pode e deve contribuir com essa vítima do abuso sexual, podendo auxiliar e contribuir para um desenvolvimento considerado adequado. Além de amparar a criança.

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1 Aluno de Psicologia (UNIVEL) (2023)

2 Psicóloga. Especialista em Psicologia Clínica analítico-Comportamental, Especialista em Direito da Criança, Adolescente e Idoso, Especialista em Psicologia Jurídica.