ABORDAGENS FISIOTERAPÊUTICAS NO TRATAMENTO DA PARALISIA FACIAL PERIFÉRICA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11459210


Mateus Coutinho de Lima1
Gleyce Helen dos Santos Carvalho1
Ellen Cristina da Silva Medeiros1
Siang Ferreira Chaves1
Paulo Henrique Vieira de Almeida1
Meriam de Nazaré Marques Ferreira2
       Fernando Santos Soeiro da  Vitória3


RESUMO

Introdução: A incidência da Paralisia Facial Periférica (PFP) varia de 11 a 40 casos por 100.000 pessoas e a fisioterapia apresenta destaque em seu tratamento. Objetivo: Descrever a vivência de acadêmicos de fisioterapia quanto a aplicação de abordagens fisioterapêuticas no tratamento da PFP durante um estágio extracurricular em um Centro Especializado em Reabilitação. Métodos: Estudo do tipo relato de experiência, com uso de métodos descritivos e observacionais. Foram atendidos quatro pacientes diagnosticados com PFP, no Centro Especializado em Reabilitação (CER II). As sessões aconteceram de 01/02/2024 a 29/02/2024, de 15h00min às 17h00min e foram divididas em avaliação fisioterapêutica, inicialmente, seguindo de atendimentos individualizados. Resultados e Discussões: Foram adotadas técnicas de estimulação tátil e sensitiva, liberação miofascial, FES, laserterapia, acupuntura, agulhamento a seco, método FNP e bandagem funcional. A autoimagem, individualidade, a manifestação pessoal e a interação social são impactadas. A intervenção fisioterapêutica desempenha um papel fundamental na restauração das funções do nervo facial, sendo crucial iniciar o tratamento o mais precoce possível. Observou-se melhora significativa e ausência do sinal de Bell no fim do tratamento. Considerações Finais: Diante dos atendimentos supracitados, observou-se que abordagens fisioterapêuticas associadas em aplicações conjuntas, ofereceram melhores resultados aos quadros de PFP, contribuindo para melhor qualidade de vida desses pacientes.

PALAVRAS-CHAVE: Paralisia Facial Periférica; Modalidades de Fisioterapia; Evolução Clínica.

SUMMARY

Introduction: The incidence of Peripheral Facial Paralysis (PFP) varies from 11 to 40 cases per 100,000 people and physiotherapy is highlighted in its treatment. Objective: To describe the experience of physiotherapy students regarding the application of physiotherapeutic approaches in the treatment of PFP during an extracurricular internship at a Specialized Rehabilitation Center. Methods: Experience report study, using descriptive and observational methods. Four patients diagnosed with PFP were treated at the Specialized Rehabilitation Center (CER II). The sessions took place from 02/01/2024 to 02/29/2024, from 3:00 pm to 5:00 pm and were divided into physiotherapeutic assessment, initially, followed by individualized care. Results and Discussions: Tactile and sensory stimulation techniques, myofascial release, FES, laser therapy, acupuncture, dry needling, FNP method and functional banding were adopted. Self-image, individuality, personal expression and social interaction are impacted. Physiotherapy intervention plays a fundamental role in restoring the functions of the facial nerve, and it is crucial to start treatment as early as possible. Significant improvement and absence of Bell’s sign were observed at the end of treatment. Final Considerations: Given the aforementioned care, it was observed that physiotherapeutic approaches combined in joint applications offered better results for PFP conditions, contributing to a better quality of life for these patients.

KEYWORDS: Peripheral Facial Paralysis; Physiotherapy modalities; Clinical Evolution.

INTRODUÇÃO

A Paralisia Facial Periférica (PFP) é uma patologia caracterizada pela diminuição ou ausência dos impulsos nervosos do nervo facial para realização dos movimentos da musculatura da face, podendo ser unilateral ou bilateral (Dias; Silva; Barretos, 2021). A origem da PFP é majoritariamente idiopática (paralisia de Bell), contudo, fatores como trauma, infecção, inflamação, tumores e cirurgia na região ou trajeto do nervo, podem ser a causa de lesão do sétimo nervo craniano (Cappeli et al., 2020).

A incidência da paralisia facial periférica varia de 11 a 40 casos por 100.000 pessoas. Aproximadamente 60 a 70% dos casos são idiopáticos, ou seja, ocorrem de maneira espontânea, sem uma causa aparente identificada, podendo ser resultado de uma inflamação ou infecção do nervo facial (Souza; Hoegen, 2022). No processo inflamatório, o nervo afetado tem a interrupção dos comandos do cérebro para a região responsável pelos movimentos faciais. Já a infecção pode ser causada por vírus como o herpes zoster, responsável pela catapora, os citomegalovírus e o vírus Epstein-Barr, causador da mononucleose (Ossavates; Dourado, 2022).

As sequelas da PFP geram um impacto significativamente negativo na qualidade de vida dos pacientes. Entre essas sequelas, destacam-se as sincinesias, caracterizadas por movimentos involuntários ocorrendo simultaneamente com movimentos voluntários de outros grupos musculares, e as contraturas, que resultam do encurtamento da musculatura afetada. Ambas as condições comprometem a capacidade de comunicação do paciente, dificultando sua expressão emocional adequada e frequentemente levando a mal-entendidos por parte do interlocutor (Aristizabal et al., 2023). Dessa forma, o paciente passa a ter uma aparência “congelada” e os impactos da PFP transcendem o físico e adentram o domínio social e psicológico.

Destaca-se a fisioterapia como protagonista no tratamento da PFP, oferecendo uma contribuição inestimável aos pacientes. Seu objetivo primordial é promover a neuroplasticidade, restaurar os padrões faciais naturais e reestabelecer a harmonia dos grupos musculares da região afetada. Além disso, a fisioterapia desempenha um papel crucial ao possibilitar a recuperação da autoestima do paciente (Belém et al., 2022). Logo, é de suma importância realizar uma avaliação cinético-funcional precisa que permita compreender as alterações funcionais decorrentes da PFP. A partir disso, é possível estabelecer objetivos claros e direcionados para o tratamento completo da função facial (Tavares et al., 2018).

O fisioterapeuta desempenha um papel fundamental na reabilitação do paciente com PFP, atuando como mediador dentro de sua autonomia profissional. Ele avalia cada caso individualmente, identificando a metodologia mais adequada para o paciente (Souza; Hoegen, 2022). Isso é feito por meio de condutas específicas que visam à reabilitação motora, incluindo o treinamento miofascial e a estimulação da propagação excitatória nervosa, resultando na efetiva restauração das funções musculares (Silva et al., 2022).

Desse modo, compreende-se que no âmbito da graduação em Fisioterapia é essencial que os acadêmicos possam usufruir do estágio extracurricular e, assim, terem a possibilidade de ter maior contato com as abordagens práticas da profissão. Nesse sentido, observa-se nessa produção a importância dessa vivência prática frente à PFP, pois a mesma é considerada uma doença recorrente na população, apresentando incidência anual de 23 casos por 100.000 pessoas, preocupando consultórios médicos e fisioterapêuticos devido à sua implicação na vida de quem é acometido (Garces et al., 2021; Santos, Silva; 2021).

Entre as possibilidades de tratamento que o fisioterapeuta possui para a PFP, destaca-se a cinesioterapia, que possibilita uma reaprendizagem motora através da execução de exercícios de mímicas faciais (Cappelli et al., 2020). Esta modalidade pode ser associada a utilização de um espelho para garantir incentivo e feedback visual ao paciente, bem como a fotobiomodulação, a eletromiografia e outras técnicas que o terapeuta dispõe (Abreu, 2020).

A Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (FNP) também pode ser um recurso fisioterapêutico aliado ao tratamento da PFP, sendo uma técnica que gera o movimento funcional por meio da facilitação, inibição, fortalecimento e relaxamento de grupos musculares (Santos et al., 2020). A FNP é utilizada principalmente na recuperação funcional de condições de membros superiores e inferiores, porém a técnica também tem sido utilizada para Paralisia Facial (Silva et al., 2022).

Para além disso, a Acupuntura, técnica da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), é um recurso que também pode ser utilizado para tratar a PFP. Esse método consiste na aplicação de agulhas em pontos específicos espalhados pelo corpo, no caso da Paralisia Facial, as agulhas são inseridas na face do paciente. Sendo assim, quando se encontra na fase aguda da paralisia facial, acupontos localizados superficialmente são apropriados. Durante a fase de recuperação, devem ser aplicados pontos de acupuntura locais e agulhamento mais profundos (Cheng et al., 2023).

Outro recurso utilizado é a laserterapia de baixa intensidade, com especial destaque ao aparelhos de Hélio-Neônio (He-Ne) e o Arsenieto de Gálio e Alumínio (GaAlAs) (Vanderlei et al., 2019). A aplicação do laser promove um efeito anti-inflamatório e auxilia na regeneração nervosa, devendo ser utilizado em todo o trajeto do nervo. O comprimento de luz infravermelho apresenta resultados satisfatórios no tratamento da PFP (Burelo et al., 2020; Vanderlei et al., 2019; Catillo; Quivira; Miranda, 2020).

Frente às abordagens supracitadas, observa-se que o presente estudo tem por objetivo descrever a vivência de acadêmicos de fisioterapia quanto a aplicação de abordagens fisioterapêuticas no tratamento da PFP, observando a evolução clínica dos pacientes atendidos durante um estágio extracurricular em um Centro Especializado em Reabilitação.

METODOLOGIA

Este estudo consiste em um relato de experiência, empregando métodos descritivos e observacionais, desse modo, os dados para tal estudo se deram a partir dos atendimentos realizados em pacientes diagnosticados com PFP, observando assim, a evolução do quadro clínico desses pacientes mediante as abordagens de tratamento fisioterapêutico que foram aplicadas. Tais atendimentos foram realizados no Centro Especializado em Reabilitação (CER II), estes se deram no período de 01/02/2024 a 29/02/2024.

A presente pesquisa é do tipo relato de experiência, por sua vez, esta abordagem trata-se de uma produção de conhecimento, sobre o qual destaca a vivência acadêmica ou profissional no contexto da tríade para a formação universitária (ensino, pesquisa e extensão), e que apresenta como ponto central a descrição da intervenção (Mussi et al., 2021). Além disso, abrangeu a problemática elucidada diante da aplicabilidade de métodos de cunho descritivos e observacionais.

Este relato descreve de modo objetivo especificidades vivenciadas pelos acadêmicos, no âmbito de um estágio curricular não obrigatório promovido pela Liga Acadêmica de Saúde Pública – LASP a qual integravam os acadêmicos, o estágio se deu em parceria com o Centro Especializado em Reabilitação do município de Tucuruí – PA. O mesmo ocorreu no mês de fevereiro de 2024, durante o período de 01/02/2024 a 29/02/2024.

O grupo de estágio foi composto por cinco alunos graduandos do curso de Fisioterapia da Universidade do Estado do Pará (UEPA), Campus XIII – Tucuruí, todos com vínculo a uma liga acadêmica, sendo três ligantes e dois diretores da LASP, que foi a instituição mediadora do estágio junto ao CER II, estando quatro deles cursando o 5º período e um o 9º do respectivo curso. Diante das atividades, os estagiários foram acompanhados pelo responsável técnico do estabelecimento de estágio e pela preceptora, uma Fisioterapeuta Integrativa do CER II.

O CER II é uma unidade direcionada ao atendimento gratuito especializado de pessoas com deficiência que necessitam de reabilitação física ou aditiva, além de proporcionar o cuidado no desenvolvimento do potencial físico e psicossocial. O diagnóstico, a avaliação, a orientação e a estimulação precoce dos usuários são direcionadas pela equipe multiprofissional, constituída por Fisioterapeutas, Fonoaudiólogos, Psicopedagogos, Assistentes Sociais e Educadores Físicos.

O público-alvo foram pacientes com diagnóstico de PFP, com encaminhamento para tratamento fisioterapêutico. As sessões de fisioterapia aconteceram no período de 15h00min às 17h00min, tendo duração média de 45 minutos. Com um total de 21 atendimentos divididos entres os pacientes atendidos. As abordagens fisioterapêuticas aplicadas para o tratamento dos pacientes com PFP foram: mímicas faciais, estimulação tátil e sensitiva, liberação miofascial, Estimulação Elétrica Funcional (FES), laserterapia, acupuntura, agulhamento a seco, método FNP, bandagem funcional.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

As atividades no estágio ocorreram tanto pela manhã onde ocorriam essencialmente a produção teórica aliada a discussão de casos e estudos individuais para os atendimentos, quanto pela tarde, em que as principais atividades desenvolvidas foram práticas, no horário de 14h00min às 18h00min. As sessões de fisioterapia com os pacientes aconteceram no período de 15h00min às 17h00min, tendo duração média de 45 minutos, já os horários que antecederam e sucederam aos atendimentos foram reservados para discussão de casos entre os estagiários e a preceptora.

No total foram acompanhados quatro pacientes com paralisia facial periférica, sendo adotadas as seguintes abordagens de tratamento desses pacientes: estimulação tátil e sensitiva, liberação miofascial, FES, laserterapia, acupuntura, agulhamento a seco, FNP e bandagem funcional. De modo a melhor descrever como se deram tais atendimentos com as abordagens fisioterapêuticas citadas anteriormente, segue-se os registros descritivos destes, em que cada paciente terá uma identificação por codificação numérica na ordem de: PACIENTE 01 (P1) a PACIENTE 04 (P4).

O PACIENTE 01 foi diagnosticado com PFP na hemiface esquerda e evidente presença do Sinal de Bell. O paciente já vinha sendo acompanhado anteriormente por outro profissional em um total de dezoito atendimentos anteriores, nos quais, usavam-se três abordagens de tratamento, sendo elas: estimulação tátil, exercícios de mímica facial e FES, que visavam restaurar a função facial comprometida e melhorar a qualidade de vida do paciente.

Quando os autores assumiram o caso do PACIENTE 01, dentre as estratégias terapêuticas adotadas para seu tratamento, destacam-se a aplicação de estimulação tátil e térmica, agulhamento a seco, uso das mímicas faciais, liberação miofascial, aplicação de bandagem funcional, emprego do método FNP (Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva) e da Estimulação Elétrica Funcional (FES).

No primeiro atendimento, realizou-se uma avaliação detalhada das mímicas faciais, revelando a presença do Sinal de Bell, pois foi observada a incapacidade do paciente em fechar a pálpebra do lado acometido (paralisia do músculo orbicular do olho), boca caída (paralisia dos músculos risório, elevador do ângulo da boca e zigomático) e músculo risório hipertônico na hemiface não afetada e, com isso, foi possível identificar a extensão do comprometimento na hemiface esquerda do paciente.

Do segundo ao oitavo atendimento, uma variedade de técnicas terapêuticas foram aplicadas ao PACIENTE 01 para tratar a paralisia facial. Do lado afetado, foram utilizados estímulo tátil, crioterapia, FES, método FNP, exercícios das mímicas faciais e aplicação de bandagem funcional, com o objetivo de estimular a hemiface paralisada. No lado não afetado, foram realizadas sessões de liberação miofascial para reduzir a hipertonicidade, especialmente do músculo risório.

No último encontro, além de todas essas intervenções, realizou-se uma reavaliação minuciosa por meio das mímicas faciais. Essa avaliação revelou uma melhora significativa e uma redução notável das características do Sinal de Bell por vista ao tratamento na musculatura correspondente, indicando progresso positivo no tratamento do paciente.

O PACIENTE 02 com diagnóstico de PFP e Sinal de Bell presente em seu primeiro atendimento, foi introduzido aos alunos pela profissional responsável, seguido de uma avaliação inicial completa. Anteriormente, o paciente já havia recebido acompanhamento de outro profissional, totalizando quatro sessões de tratamento. O paciente apresentava paralisia dos músculos orbicular do olho, zigomáticos, occipitofrontal, bucinador, risório, orbicular da boca, depressor do ângulo da boca e depressor do lábio inferior, além de hipertonicidade da hemiface contralateral. Durante essas sessões, foram empregadas oito abordagens terapêuticas distintas: estimulação tátil, exercícios de mímica facial, bandagem funcional, acupuntura, agulhamento a seco, liberação miofascial, FES e método FNP.

Do segundo atendimento até o quinto, uma variedade de técnicas terapêuticas foram aplicadas ao PACIENTE 02, incluindo acupuntura, agulhamento a seco e liberação miofascial para tratamento da hipertonicidade do lado contralateral, com foco nos músculos risório e zigomático maior. Para aplicação de estímulo sob a musculatura afetada, foi empregada estimulação tátil e sensitiva, aplicação de bandagem funcional, emprego do método FNP, FES e exercícios de mímica facial. No quinto encontro, após uma reavaliação minuciosa, observou-se uma melhora significativa na motricidade da hemiface afetada, com uma redução total dos sintomas do Sinal de Bell, indicando uma resposta positiva ao tratamento.

O PACIENTE 03 apresentava quadro de PFP, embora não apresentasse Sinal de Bell. Durante sua primeira consulta, uma avaliação minuciosa foi conduzida, revelando uma redução significativa dos movimentos dos músculos da hemiface direita, principalmente os músculos frontal, zigomático e risório. Essa observação detalhada proporcionou uma compreensão mais precisa da extensão do comprometimento facial do paciente, fornecendo uma base sólida para o desenvolvimento de um plano de tratamento personalizado e eficaz.

Do segundo ao quarto atendimento deste paciente, uma gama de abordagens terapêuticas foi aplicada para promover sua recuperação. Foram realizadas sessões de estimulação tátil e sensitiva, bandagem funcional, exercícios de mímica facial e método FNP visando estimular os principais músculos afetados da hemiface direita, que eram os músculos frontal, zigomático, risório, incluindo outros músculos da face como o orbicular do olho, depressor do ângulo da boca, orbicular da boca etc. Para reduzir a hipertonicidade dos músculos da hemiface não afetada, como o risório, frontal e zigomático, foram aplicadas técnicas de liberação miofascial e agulhamento a seco.

No quarto atendimento, uma reavaliação foi conduzida para avaliar o progresso do tratamento. Foi constatado, que o paciente apresentava uma melhora evidente na motricidade dos músculos afetados pela Paralisia Facial Periférica no paciente, em especial dos músculos frontal, zigomático e risório, onde foi observado movimento voluntário bem coordenado. Esse avanço demonstra não apenas a eficácia das intervenções terapêuticas realizadas, mas também representa um passo significativo em direção à sua recuperação funcional e qualidade de vida melhorada.

Por fim, o PACIENTE 04 possuía histórico de Traumatismo Crânio Encefálico (TCE), o que culminou no desenvolvimento de Paralisia Facial Periférica, acompanhada da presença do Sinal de Bell. Durante sua primeira consulta, uma meticulosa avaliação foi realizada, revelando uma redução completa da motricidade em toda a hemiface direita, ou seja, todos os músculos faciais dessa hemiface perderam suas funções em diferentes graus, sendo eles os músculos frontal, orbicular do olho, bucinador, levantador do lábio superior, depressor do lábio inferior, zigomático, risório, entre outros. Essa observação inicial destacou a extensão significativa do comprometimento facial do paciente, fornecendo uma base crucial para o planejamento de seu tratamento personalizado e abordagens terapêuticas específicas.

Do segundo ao quarto atendimento, foram implementadas diversas abordagens terapêuticas visando à melhora do quadro do PACIENTE 04. Entre elas, incluíram-se sessões de laserterapia para tratamento da inflamação do nervo facial, FES, estimulação tátil e sensitiva, bandagem funcional, exercícios de mímica facial e método FNP para estimulação da musculatura afetada. Na hemiface não afetada foi utilizada a liberação miofascial, a fim de conter a hipertonicidade dos músculos. No último atendimento acompanhado e conduzido pelos autores, uma reavaliação cuidadosa foi realizada. Nesse processo, foi possível observar uma leve, porém notável, melhora no quadro geral da Paralisia Facial Periférica do paciente

Diante dos atendimentos supracitados, observou-se que a combinação de abordagens fisioterapêuticas ofereceu resultados promissores no tratamento dos quadros de PFP dos pacientes em questão. Nesse sentido, apresentam-se na tabela a seguir, os dados gerais desses atendimentos ofertados, visando trazer um panorama geral da evolução dos quadros apresentados por via das abordagens que se fizeram aplicadas, junto a esta, seguem-se os registros das atividades de estágio.

TABELA 01: DADOS GERAIS DOS ATENDIMENTOS. (P1-P4:Pacientes)

PACIENTESP1P2P3P4
DADOSDA AVALIAÇÃO INICIALQuadro de PFP e presença do sinal de Bell, com comprometime nto da hemiface esquerda, com paralisia dos músculos risório, elevador do ângulo da boca e zigomático.Quadro de PFP e presença de sinal de Bell, com paralisia dos músculos orbicular do olho, zigomáticos, occipitofrontal, bucinador, risório, orbicular da boca, depressor do ângulo da boca    e depressor do lábio inferior, hipertonicidade da        hemiface contralateral.Quadro de PFP e sem sinal de Bell presente; foi constatada a redução dos movimentos da hemiface direita dos músculos frontal, zigomático     e risório.Histórico   de TCE, com quadro PFP e sinal de Bell presente. Redução completa da motricidade em toda a hemiface direita.
NÚMERODE ATENDIMENTOS08 atendimentos.05 atendimentos.04 atendimentos.04 atendimentos.
ABORDAGENS DE TRATAMENTO07 – FES, agulhamento  a seco, estimulação tátil e térmica, exercícios de mímica            facial, liberação miofascial, bandagem funcional, método FNP.08 – FES, estimulação tátil,            exercícios de     mímica facial, bandagem funcional, acupuntura, agulhamento  a seco,   liberação miofascial      e método FNP06 – Agulhamento   a seco, estimulação tátil e sensitiva, exercícios de mímica    facial, liberação miofascial, bandagem funcional        e método FNP.07 – FES, laserterapia, estimulação tátil e            sensitiva, liberação miofascial, exercícios de mímica facial, bandagem funcional        e método FNP.
DADOSDA AVALIAÇÃO FINALMelhora significativa em seu      quadro e redução            do sinal  de  Bell por  via    do tratamento   na musculatura correspondente.Paciente apresentou melhora significativa em seu quadro geral e ausência   do sinal de Bell.Observou-se que      a            paciente evolui com melhora     na motricidade dos respectivos músculos acometidos pela PFPObservou-se uma leve melhora em seu quadro geral da PFP, no que diz respeito à musculatura afetada.

Fonte: Elaborada pelos autores, 2024.

Imagem 01: Autores utilizando técnicas associadas nos atendimentos fisioterapêuticos

Fonte: Acervo autoral, 2024.

Imagem 02: Entrega de produto quadro-espelho com mímicas faciais e exemplos de aplicação prática dessa tecnologia

Fonte: Acervo autoral, 2024.

Os estudos de Souza et al. (2015) certificam que podem ser utilizadas diversas abordagens de técnicas, conceitos e métodos defendidos pela literatura como tratamento fisioterapêutico da PFP, a exemplo da massagem excitatória, crioestimulação (método Rood), eletroterapia, FNP, mímica facial e biofeedback. Todavia, observa-se que inúmeros estudos abordam as condutas aplicadas de maneira isolada, ou seja, de forma específica, em que normalmente são relacionadas com seu objeto de estudo para apresentação de seus efeitos no tratamento da PFP (Tavares et al., 2018).

A abordagem fisioterapêutica, mesmo sendo ampla, precisa ser realizada de modo detalhado e minucioso em seu planejamento, conforme as especificidades de cada indivíduo, pois apresenta vantagens e benefícios diante de protocolos de tratamento fisioterapêutico em pacientes pela PFP. O fisioterapeuta tem destaque no processo de recuperação do paciente com PFP, uma vez que, portar-se em sua autonomia profissional como mediador, frente a avaliação cinético-funcional de cada caso e de maneira individualizada, além de refletir e aplicar o método de mais eficácia, mediante condutas peculiares que visam à reabilitação motora, para restabelecer as funções neuromusculares de forma efetiva (Silva et al., 2022).

Durante o estágio, foram enfrentados alguns desafios significativos, incluindo a pouca experiência dos estagiários frente a atuação para com a patologia, a descrença de alguns pacientes na possibilidade de melhora das sequelas da PFP, a inassiduidade de alguns pacientes e a falta de estímulo visual durante a avaliação e o tratamento. Para superar essas barreiras e proporcionar uma abordagem mais eficaz, os estagiários, por meio de orientação da preceptora e do responsável técnico local, foram se aprofundando no tema e aprimorando seus conhecimentos de forma a se fazerem aplicados de maneira satisfatória nas abordagens de tratamento.

Também foi desenvolvida uma ferramenta/tecnologia (Imagem 02), um quadro com um espelho e ilustrações de mímicas faciais. A fisiologia desse método refere-se à capacidade do cérebro de sofrer determinada reorganização cortical (Fei et al., 2022; Silva et al., 2024). Essa tecnologia não apenas permitiu que os pacientes visualizem suas dificuldades e acompanhem sua evolução ao longo do tratamento, mas também serviu como uma ferramenta valiosa durante a execução das mímicas faciais. Ao proporcionar um feedback visual imediato, o espelho com mímicas faciais ajuda os pacientes a aprimorar sua técnica e aperfeiçoar o controle dos músculos faciais afetados pela PFP.

Essa tecnologia simples revelou-se de grande importância na avaliação e no tratamento da PFP, fornecendo aos pacientes uma forma tangível de compreender e enfrentar suas dificuldades, ao mesmo tempo em que os motiva a persistir no processo de reabilitação. Além disso, a tecnologia desenvolvida foi entregue ao CER, para que seja utilizada pelos próximos profissionais que forem avaliar e tratar pacientes com paralisia facial, o que demonstra o compromisso dos profissionais de saúde em encontrar soluções criativas e personalizadas para atender às necessidades específicas dos pacientes e melhorar sua qualidade de vida.

A autoimagem, individualidade, a manifestação pessoal e a interação social são impactadas. A intervenção fisioterapêutica desempenha um papel fundamental na restauração das funções do nervo facial, sendo crucial iniciar o tratamento o mais cedo possível. Na maioria das situações, os resultados são favoráveis, com uma recuperação facial simétrica, melhorando a força, mobilidade e aspecto estético. Em todas as situações, foi evidenciada a importância do fisioterapeuta na reabilitação dos pacientes, uma vez que a falta de tratamento e acompanhamento fisioterapêutico comprometem a recuperação dos indivíduos (Lago et al., 2019).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do cenário geral das experiências vivenciadas e aprendizagens adquiridas, fez-se notório que a PFP é uma patologia de grande incidência, e junto a esse fator, os profissionais fisioterapeutas precisam lançar mão do uso associado de diferentes abordagens fisioterapêuticas, pois, como visto na experiência descrita, tal associação traz melhores resultados quando estas são aplicadas simultaneamente, adequando-as ao plano de tratamento conforme a necessidade de cada paciente.Para além disso, tal conduta visa ganhar a confiança do paciente para melhor adesão ao tratamento, bem como, ter avanços significativos na recuperação do quadro clínico desses pacientes em menor tempo.

Sendo assim, é válido frisar a respeito da satisfação de cada paciente ao final do tratamento diante de sua melhora significativa, uma vez que esse resultado tenha possibilitado maior qualidade de vida aos mesmos. Sobretudo, é necessário que outras pesquisas na área sejam desenvolvidas acerca da temática, dando enfoque para as diversas técnicas, combinadas ou não, que podem ser usadas para o tratamento da PFP.

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1 Graduando (a) em Fisioterapia da Universidade do Estado do Pará – UEPA- mateuscolima@gmail.com

2Graduando (a) em Fisioterapia da Universidade do Estado do Pará – UEPA – carvalhogleyce01@gmail.com

3Graduando (a) em Fisioterapia da Universidade do Estado do Pará – UEPA- ellencsmedeiros20@gmail.com

4 Graduando (a) em Fisioterapia da Universidade do Estado do Pará – UEPA – siangferreira1@gmail.com

5 Graduando (a) em Fisioterapia da Universidade do Estado do Pará – UEPA – vieirah347@gmail.com

6 Especialista em Acupuntura e Fisioterapia Traumato-Ortopédica. – meriamarques2@gmail.com

      7 Pós-Graduado em Fisioterapia Neurofuncional fernandosoeiro7@hotmail.com