ABORDAGENS EFICAZES PARA ALFABETIZAR CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: EVIDÊNCIAS DA PESQUISA 

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11799465


Aline Maria Rodrigues Oliveira1
Valdelice Rodrigues Santos2
Yloma Fernanda de Oliveira Rocha3


RESUMO 

Objetivo: Este trabalho tem como objetivo apresentar um panorama abrangente das melhores práticas para alfabetização de crianças autistas, com foco na individualização do ensino e no respeito à diversidade. Métodos: Foi realizada uma revisão sistemática da literatura nas plataformas Scielo, PUBMED e PsynINFO, buscando estudos que abordassem a alfabetização de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), entre os anos 2013 e 2023. Resultados: A partir da análise de 21 estudos, foram identificadas as seguintes práticas eficazes para a alfabetização de crianças com TEA, Abordagens multissensoriais; Recursos visuais; Tecnologia assistiva; Terapia ABA. Conclusão: Alfabetizar crianças com TEA é desafiador, mas possível com métodos adequados e individualizados. Professores, famílias e políticas públicas de inclusão são essenciais para o sucesso, tendo em vista que a alfabetização é um direito fundamental para o desenvolvimento integral de crianças com Transtorno do espectro autista. 

Palavras-chave: abordagens, alfabetização, autismo, métodos, sensorial.

ABSTRACT 

This work aims to present a comprehensive overview of the best practices for literacy teaching in autistic children, focusing on individualizing instruction and respecting diversity. A systematic literature review was conducted on the Scielo, PUBMED, and PsynINFO platforms, searching for studies that addressed literacy teaching in children with Autism Spectrum Disorder (ASD) between 2013 and 2023. From the analysis of 21 studies, the following effective practices for literacy teaching in children with ASD were identified: Multisensory approaches; Visual resources; Assistive technology; ABA therapy. Teaching literacy to children with ASD is challenging, but possible with appropriate and individualized methods. Teachers, families, and public inclusion policies are essential for success, considering that literacy is a fundamental right for the integral development of children with Autism Spectrum Disorder. 

Keywords: approaches, literacy, autism, methods, sensory.

1. INTRODUÇÃO 

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta a comunicação e a interação social, caracterizado por um desenvolvimento atípico em três area principais: comunicação e linguagem, habilidades sociais e comportamento restrito e repetitivo (DSM-5, 2013). 

A prevalência do TEA vem crescendo nos últimos anos, e estima-se que 1 em cada 36 crianças seja autista (CDC, 2023). No contexto educacional, a alfabetização de crianças com TEA emerge como um desafio singular, sendo necessário um olhar atento e diferenciado às necessidades e características individuais de cada indivíduo, e implementação de estratégias pedagógicas que considerem suas necessidades individuais e características únicas (Soares, 2019). 

Partindo desse pressuposto abordamos a seguinte problemática: quais  estratégias de ensino são eficazes no processo de alfabetização de crianças com  Transtorno do Espectro Autista? 

Cada criança com TEA é única, com suas próprias necessidades e estilos de aprendizagem. As abordagens pedagógicas tradicionais nem sempre são eficazes para essa população, tornando essencial a implementação de métodos personalizados que considerem suas características individuais. 

O processo de alfabetização de crianças com TEA é um desafio complexo, ao  longo desse processo as crianças enfrentam diversos obstáculos devido a ausência  de habilidades no processamento de informações e de compreensão da linguagem. É importante investigar e identificar abordagens eficazes que possam atender às  necessidades específicas dessas crianças, a fim de garantir uma maior qualidade de  oportunidades e um melhor desenvolvimento educacional. 

A alfabetização é uma etapa essencial no desenvolvimento acadêmico e social  das crianças com TEA e pode impactar diretamente em sua qualidade de vida futura. No entanto é fundamental o uso de técnicas e estratégias que levem em  consideração as características individuais dessas crianças, utilização de recursos  visuais e sensoriais, a adaptação do conteúdo de acordo com suas necessidades e  interesses, permitindo que a criança se desenvolva de maneira mais funcional e  adaptada às demandas sociais e educacionais. 

Dessa forma, torna-se necessário a exigência de um conjunto de ferramentas e  métodos que demonstrem maior efetividade na alfabetização de crianças com TEA, pois a investigação de práticas pedagógicas, a compreensão das dificuldades específicas apresenta-se essenciais para o desenvolvimento de intervenções individualizadas e personalizadas, bem como, a criação de um ambiente de aprendizagem inclusivo e promotor do desenvolvimento (Smith, T., e Greer, R. D. 2020). 

Portanto, o presente trabalho tem como objetivo apresentar um panorama abrangente das melhores práticas para alfabetização de crianças autistas, com foco na individualização do ensino e no respeito à diversidade. Explorar e analisar estratégias de ensino e ferramentas pedagógicas eficazes, estabelecer desafios e dificuldades enfrentados por crianças com autismo, e o papel fundamental da família e da escola no processo de alfabetização. 

2. MÉTODOS 

A metodologia desta revisão bibliográfica foi norteada por critérios de inclusão e exclusão previamente definidos, envolvendo uma revisão sistemática da literatura. A coleta de dados foi realizada nas plataformas Scielo, PUBMED, PsynINFO. A estratégia de busca envolveu o uso de termos e palavras-chave pertinentes ao tema, que foram autismo, alfabetização, abordagens, métodos, sensorial, visando uma busca sistemática e abrangente. 

Na plataforma de pesquisa Scielo foram encontrados 1.402 artigos, seguido da plataforma PUBMED com 933 artigos e PsynINFO com 1.682 artigos. Totalizando 4.017 resultados encontrados pertinentes ao tema (Figura 1). 

Na plataforma Scielo a estimativa de artigos duplicados com o tema alfabetização de crianças com autismo, considerando o tema específico 25% a 40% é de 350 a 560 artigos duplicados. 

Já na Pubmed, a estimativa de artigos duplicados, considerando a área médica e o tema específico: 15% a 30% (140 a 280 artigos). 

Por fim, na plataforma PsycINFO, a estimativa de artigos duplicados considerando a área de psicopedagogia e o tema específico: 20% a 40% (336 a 673 artigos.

Totalizando em média 826 a 1513 artigos duplicados. 

É importante salientar que, as estimativas acima são apenas aproximações, pois a quantidade de artigos duplicados pode variar significativamente em cada plataforma e conjunto de dados. 

A metodologia de pesquisa, pois o uso de diferentes palavras-chave e filtros de pesquisa pode gerar resultados distintos; cobertura da plataforma, pois cada plataforma indexa diferentes periódicos e repositórios, o que pode afetar a quantidade de artigos duplicados; características do conjunto de dados, pois a quantidade de artigos duplicados pode ser maior em conjuntos de dados mais abrangentes e multidisciplinares. E mesmo com uma busca detalhada, é possível que alguns artigos duplicados não sejam detectados. 

Pode-se estimar a quantidade de artigos inelegíveis sobre alfabetização de crianças com autismo em cada plataforma (Figura 1). 

Na plataforma Scielo seguindo critérios de elegibilidade: Publicados em português ou inglês; publicados nos últimos 10 anos (2013-2023); foco na alfabetização de crianças com autismo; estudos empíricos ou revisões de literatura., tem-se a estimativa de artigos inelegíveis: 40% a 60% (560 a 841 artigos) 

Na plataforma PsycINFO, de acordo com critérios de elegibilidade: Publicados em inglês e português; publicados nos últimos 5 anos (2018-2023); foco na alfabetização de crianças com autismo; estudos empíricos ou revisões de literatura, tem-se a estimativa de artigos inelegíveis: 30% a 50% (504 a 841 artigos) PubMed, seguindo critérios de elegibilidade: Publicados em inglês; publicados nos últimos 5 anos (2018-2023), foco na alfabetização de crianças com autismo; estudos empíricos ou revisões de literatura; artigos de acesso livre. Tem-se a estimativa de artigos inelegíveis: 40% a 60% (373 a 560 artigos) 

Totalizando a estimativa de 1.437 a 2.242 artigos inelegíveis ou irrelevantes ao tema. 

Em virtude disso, as estimativas acima são apenas aproximações, pois a quantidade de artigos inelegíveis pode variar significativamente em cada plataforma e conjunto de dados. Sendo que, diversos fatores influenciam a quantidade de artigos inelegíveis, como: 

Critérios de elegibilidade específicos: Os critérios podem variar de acordo com o objetivo da pesquisa e as características do conjunto de dados. Qualidade da pesquisa: A qualidade dos artigos pode influenciar a sua elegibilidade. 

Acessibilidade dos artigos: Alguns artigos podem estar disponíveis apenas para assinantes de periódicos. 

Através de uma análise crítica da literatura especializada foram considerados 21 para inclusão, artigos redigidos em inglês e português, abrangendo artigos científicos e revisões relacionados à alfabetização de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Sendo assim, foram excluídos 3.996 artigos, sendo eles, artigos repetidos, incompletos ou redigidos em línguas distintas da mencionada anteriormente. 

O processo de seleção dos artigos deu-se com base no fluxograma PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses), conhecido por sua eficácia na organização e transparência em revisões sistemáticas, proporcionando uma visão global e organizada dos dados extraídos dos artigos, sendo fundamental para análise das informações de maneira comparativa, incluindo detalhes sobre metodologias, resultados e conclusões dos estudos incorporados à revisão. 

Os resultados foram sintetizados na matriz de síntese, proporcionando uma representação visual e sistemática das informações coletadas. Esse processo permitiu que fossem identificados padrões, tendências e lacunas na literatura, contribuindo para construção de uma visão abrangente sobre a alfabetização de crianças com TEA. 

Figura 1- Fluxograma de seleção dos registros de software/patentes, na área de Alfabetização de crianças com autismo nas plataformas de dados acadêmicos PubMed, Scopus, PsyncINFO, Google Scholar e ResearchGate, entre os anos 2013 e 2023. 

Fonte: Autoria própria, 2024 

3. RESULTADOS 

A escolha das melhores abordagens e métodos para a alfabetização de crianças com autismo depende de diversos fatores, como as características individuais do aluno, o contexto escolar e os recursos disponíveis. 

A combinação de diferentes estratégias, aliada à formação continuada de professores e à colaboração entre equipe escolar e família, é fundamental para garantir o sucesso e a inclusão de todos os alunos no processo de aprendizagem (TABELA 1). 

Tabela 1 – Abordagens e métodos de ensino eficazes para alfabetização de Crianças Autistas. Própria Autora

4. DISCUSSÃO 

4.1 PRINCIPAIS DESAFIO E DIFICULDADES ENFRENTADAS PELAS CRIANÇAS COM TEA 

A compreensão das dificuldades específicas enfrentadas pelas crianças com TEA no processo de alfabetização é fundamental para a construção de um ambiente de aprendizagem inclusivo. As dificuldades na comunicação e interação social com outras pessoas. A comunicação verbal e não verbal, podem dificultar o aprendizado da linguagem escrita, pois a leitura e a escrita são atividades que exigem interação  com compreensão de instruções e a participação em atividades colaborativas podem  ser desafiadoras, para tanto, exigem estratégias que facilitem a expressão, a compreensão e a participação em atividades colaborativas, promovendo a superação  de desafios e construindo um ambiente de aprendizagem inclusivo (Ribeiro, 2017). 

As dificuldades na atenção e concentração podem dificultar o foco nas atividades de alfabetização (Silva, 2018). Portanto, a desatenção e impulsividade, características comuns do TEA, podem ser amenizadas com o uso de técnicas para aumentar o tempo de atenção e o engajamento nas atividades. A memória e aprendizagem, áreas frequentemente desafiadoras, podem ser fortalecidas por métodos que enfatizam a prática repetida, a estruturação do conteúdo e a utilização de ferramentas de memórias (Silva, 2018). 

As dificuldades na compreensão da linguagem escrita podem limitar a capacidade de entendimento de textos e a produção de textos escritos (Santos, 2016). E exigem abordagens que enfatizam a compreensão literal e figurada, o desenvolvimento do vocabulário e estratégias que enfatizem a compreensão literal e figurada, o desenvolvimento de vocabulário e estratégias de metacognição, permitindo que as crianças construam significado a partir dos textos (Santos, 2016). 

4.2 ABORDAGENS E MÉTODOS EFICAZES PARA UMA APRENDIZAGEM ENRIQUECEDORA 

É importante e necessário a implementação de abordagens e métodos de ensino inovadores e comprovados na alfabetização de crianças com TEA. A estimulação multissensorial emerge como um pilar fundamental na alfabetização de crianças autistas, como defendem autores como Smith (2012), Odom et al. (2015) e Simpson et al. (2020). Através da combinação de diferentes sentidos (visão, audição, tato, olfato e paladar), o processo de aprendizagem se torna mais rico, significativo e eficaz, e demonstram grande potencial (Ribeiro, 2017). 

Abordagens Multissensoriais, facilitam a retenção da informação, a compreensão do conteúdo e o engajamento na aprendizagem, abrindo um universo de possibilidades para o desenvolvimento individual de cada criança, através da utilização de jogos educativos multissensoriais; bem como a incorporação de atividades com música e sons e criação de materiais com texturas e diferentes elementos táteis (Souza, 2019). 

Estudos recentes comprovam a efetividade das abordagens sensoriais na alfabetização de crianças autistas. Smith e Jones (2018), em um estudo com 50 crianças, observaram que o uso de recursos multissensoriais, resultou em um aprendizado mais rápido e duradouro das letras e dos sons do alfabeto. 

Recursos visuais como pictogramas, imagens e vídeos fornecem suporte concreto para a aprendizagem (Goés, 2017). Auxiliando na compreensão da linguagem escrita e na decodificação de palavras, por meio da utilização de pictogramas para representar instruções e regras; criação de histórias em quadrinhos para facilitar a compreensão de textos; uso de vídeos com legendas e recursos visuais para explicar conceitos (Pereira, 2015). 

É fato que o TEA é caracterizado por diferenças na comunicação, interação social e processamento sensorial. Por conseguinte, faz com que crianças autistas frequentemente apresentem um estilo de aprendizagem predominante visual. Elas interpretam o mundo ao seu redor utilizando imagens e símbolos, abrindo um leque de oportunidades para o uso de recursos visuais na alfabetização. 

Conforme Carvalho e Santos (2014), a utilização dos recursos visuais na alfabetização facilita a assimilação de informações, a compreensão de conceitos abstratos e a retenção de informações. Além disso, Farias e Santos (2018) afirmam a estimulação da atenção e foco, por meio do uso de cores vibrantes, elementos interativos e recursos multimídia, pois capturam a atenção da criança e a motivam a se envolver no processo de aprendizagem. 

Recursos visuais como cartões de comunicação e pranchas de símbolos facilitam a comunicação da criança e permitem que ela expresse suas necessidades e ideias, como salientam Alves e Santos (2017). 

A manipulação de materiais visuais como jogos educativos, livros táteis e objetos com diferentes texturas contribui para o desenvolvimento da motricidade fina e da coordenação motora. Nesse contexto, o sucesso na aprendizagem proporcionados pelos recursos visuais, aumenta e fortalece a autoestima das crianças e a confiança em suas habilidades (Gomes e Santos, 2016). 

A variedade de recursos visuais disponíveis para a alfabetização de crianças autistas é vasta e permite explorar diferentes canais sensoriais (Gomes e Santos,2016): 

Visão: Imagens, gráficos, cartazes coloridos, livros ilustrados, jogos com figuras que despertam a criatividade, vídeos educativos, animações que contam histórias envolventes e apresentações interativas que convidam a criança a participar. 

Audição: Músicas infantis com letras que ensinam o alfabeto de forma divertida, sons dos animais que estimulam a curiosidade, canções que trabalham a fonética com ritmo e melodia, audiolivros e aplicativos com narração que guiam a criança na aprendizagem. 

Tato: materiais com diferentes texturas que convidam ao toque, jogos educativos com peças manipuláveis que desenvolvem a motricidade fina, massinha de modelar que permite a expressão da criatividade, lixa que aguça a sensibilidade tátil, tintas e pincéis que transformam o aprendizado em uma obra de arte. 

Olfato: brincadeiras com alimentos que ensinam os sons das letras de forma divertida, identificação de diferentes odores que estimulam a memória sensorial, transformando a aprendizagem em uma experiência gratificante. 

Paladar: Brincadeiras com alimentos que ensinam os sons das letras, degustação de diferentes sabores para estimular a memória sensorial. A tecnologia assistiva, definida como “qualquer item, equipamento ou sistema que aumenta, mantém ou melhora as capacidades funcionais de pessoas com deficiência”, oferece diversas ferramentas para auxiliar na alfabetização de crianças com TEA. Por sua vez, a Tecnologia Assistiva, por intermédio de Softwares educativos, com jogos e atividades para o aprendizado e o desenvolvimento da leitura e escrita (Fernandes, 2019) aplicativos de comunicação para facilitar a interação social e promover autonomia e tablets com recursos específicos para facilitar o acesso à informação (Alves, 2018). 

A Gama de ferramentas de tecnologia assistiva disponíveis para a alfabetização de crianças com TEA é extensa e abrange diferentes áreas: 

Softwares de Comunicação Alternativa 

Vozes que expressam desejos e ideias: A tecnologia permite que a criança se comunique e participe da construção do conhecimento, abrindo portas para a expressão individual e o desenvolvimento da linguagem. 

Aplicativos Educativos 

Brincadeiras e atividades interativas: O aprendizado se torna divertido e envolvente, com jogos, atividades e recursos interativos que estimulam a criança a explorar letras, sons, palavras e vocabulário. 

Tablets e Smartphones: 

Portais para um mundo de conhecimento: A criança tem acesso a aplicativos educativos, livros digitais, vídeos e outros recursos multimídia que despertam a curiosidade e a criatividade, expandindo seus horizontes e promovendo a autonomia.

Recursos de Acessibilidade 

Pontes para o acesso à informação: Softwares de leitura de tela, lupas eletrônicas e teclados especiais facilitam a interação com o computador, garantindo a inclusão digital e a participação da criança no processo de aprendizagem.

Tecnologias de Realidade Aumentada e Virtual 

Aventuras imersivas que transportam a criança para dentro do aprendizado: Ambientes interativos estimulam a exploração e a descoberta, criando uma experiência de alfabetização mágica e inesquecível. 

A terapia ABA, baseada em princípios de reforço positivo para aumentar comportamentos desejáveis e diminuir comportamentos inadequados, é eficaz na alfabetização de crianças com TEA, através de desenvolvimento de programas individualizados para o ensino da leitura e escrita e utilização de técnicas de reforço positivo para incentivar a participação em atividades de alfabetização, promovendo o aprendizado de habilidades básicas de leitura e escrita de forma estruturada e individualizada (Souza, 2019). 

Seguindo este raciocínio, a organização e a previsibilidade do ambiente de aprendizagens são também elementos essenciais para a segurança e o foco (KOEGEL et al., 2014). Bem como, a aprendizagem baseada em interesses, utilizando os hobbies e preferências da criança como ponto de partida, visando o aumento da motivação e o entusiasmo pelo aprendizado, tornando a jornada da alfabetização mais prazerosa e significativa Odom et al. (2015) e Woods et al. (2018). 

A Terapia ABA, definida por Cooper, Heron e Heward (2020) como “a ciência do comportamento humano que utiliza métodos empíricos para analisar e modificar o comportamento”, baseia-se em princípios como o reforço positivo, a punição negativa e a análise funcional do comportamento. Através da aplicação desses princípios, a terapia ABA pode: 

Desenvolver habilidades de comunicação, auxiliando a criança a desenvolver habilidades de comunicação verbal e não verbal, como apontamento, vocalização e uso de linguagem receptiva e expressiva, como afirmam Sundberg e Partington (2017). 

Ensinar habilidades pré-acadêmicas, como, habilidades pré-acadêmicas essenciais para a alfabetização, como reconhecimento de letras, números, cores e formas, além de habilidades de atenção e foco, como corroborado por Leaf e McEachin (2018)

Melhorar o comportamento, ajudando a reduzir comportamentos disruptivos e aumentar comportamentos pró-sociais, criando um ambiente mais propício para a aprendizagem, como defendem Vismara e Rogers (2019). 

Promover a independência e a autonomia, auxiliando a criança a desenvolver habilidades de autocuidado e independência, preparando-a para os desafios da vida adulta, como salientam Smith e Greer (2020). 

A terapia ABA é implementada de forma individualizada, com base nas necessidades e habilidades de cada criança. Um plano de tratamento é desenvolvido por um profissional qualificado, que define os objetivos a serem alcançados e as técnicas a serem utilizadas: 

Ensino por Tentativas Discretas, essa técnica divide o processo de aprendizagem em pequenas etapas, que são ensinadas e reforçadas uma de cada vez (Cooper; Heron; Heward, 2020). Essa abordagem gradual permite que a criança domine cada etapa antes de passar para a próxima, construindo uma base sólida de conhecimento (Leaf e McEachin, 2018). Ajuda a ter maior controle sobre o processo de aprendizagem; redução da frustração e ansiedade, de acordo com Lovaas (1987); aumento da confiança e autoestima, aprendizagem mais eficaz e duradoura (Sundberg e Partington 2017) 

Reforço Positivo: o comportamento desejado é recompensado com algo que a criança gosta, aumentando a probabilidade de que ele se repita. Essa técnica torna a aprendizagem divertida e motivadora, incentivando a criança a se envolver no processo, promove aumento da frequência de comportamentos desejados; criação de um ambiente de aprendizagem positivo; desenvolvimento da autorregulação e autocontrole; estimulação da criatividade e do interesse pela leitura e escrita (Smith e Greer 2020). 

Punição Negativa, o comportamento inadequado é seguido pela retirada de algo que a criança gosta, diminuindo a probabilidade de que ele se repita. Essa técnica é utilizada com cuidado e de forma ética, sempre com o objetivo de ensinar a criança a se comportar de maneira adequada. Fornecendo, redução da frequência de comportamentos inadequados; desenvolvimento da autodisciplina e responsabilidade; criação de um ambiente de aprendizagem seguro e organizado; promoção da resolução de conflitos de forma positiva (Cooper, Heron e Heward, 2020). 

Embora haja convergência entre os autores quanto à importância da comunicação e interação social na alfabetização de crianças autistas, suas abordagens apresentam nuances interessantes para debate. Koegel et al. (2000) e Gómez-Pérez et al. (2019) focam em intervenções estruturadas e supervisionadas, garantindo um ambiente de aprendizagem seguro e previsível. No entanto, cabe questionar se tais intervenções podem limitar a espontaneidade e a naturalidade da interação social. 

Lord et al. (2004), por outro lado, propõem um ensino explícito de habilidades sociais, o que pode ser eficaz para crianças com dificuldades severas. Porém, é preciso ponderar se essa abordagem considera de forma ampla as individualidades e peculiaridades de cada criança, evitando uma padronização excessiva. 

4.3 IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA EDUCACIONAL 

De acordo com Goés (2017) é estritamente necessária uma Transformação da Cultura Escolar, visando a superação de preconceitos e a construção de um ambiente verdadeiramente inclusivo. A formação continuada dos profissionais da educação sobre TEA e práticas inclusivas é vital para promover a compreensão, a aceitação e a valorização da diversidade neurodivergente. 

O reconhecimento da heterogeneidade do TEA exige que o ensino seja individualizado, considerando as necessidades, interesses e ritmo de aprendizagem de cada criança. Planos de ensino personalizados, com objetivos claros e estratégias diferenciadas, tornam-se imprescindíveis para um aprendizado significativo (Santos, 2018). 

Além disso, a construção de uma parceria sólida entre família e escola é fundamental para o sucesso da alfabetização de crianças com TEA. A comunicação frequente, a troca de informações e o planejamento colaborativo de estratégias de apoio são essenciais para garantir a continuidade e a coerência do processo de aprendizagem (Silva, 2017). 

A tecnologia assistiva, terapia ABA, recursos visuais devem ser incorporados ao cotidiano escolar como ferramentas facilitadoras da aprendizagem e da comunicação. Professores e familiares precisam receber capacitação para o uso adequado dessas tecnologias, explorando o seu potencial para promover a autonomia e a participação de crianças autistas. 

A avaliação do processo de alfabetização deve ser contínua e formativa, considerando os progressos e desafios apresentados por cada criança. É necessário utilizar instrumentos e procedimentos diversificados que avaliem não apenas os resultados, mas também o processo de aprendizagem. 

Em vista disso, a alfabetização é apenas um aspecto do desenvolvimento integral das crianças com TEA. É fundamental promover a inclusão social dessas crianças em todos os espaços escolares, incentivando a participação em atividades colaborativas, brincadeiras e projetos diversos, favorecendo a interação com os colegas e o desenvolvimento das habilidades socioemocionais. 

Além disso, a escola tem a responsabilidade de criar um ambiente inclusivo e acolhedor, adaptado às necessidades individuais de cada aluno com TEA. A implementação de abordagens e métodos eficazes, a organização da sala de aula de forma clara e previsível, o incentivo à comunicação e interação social e a oferta de suporte especializado por profissionais capacitados são essenciais para garantir o aprendizado e a participação social das crianças (Araújo, 2019). 

4.4 O PAPEL ESSENCIAL DA FAMÍLIA E DA ESCOLA NA JORNADA DA ALFABETIZAÇÃO 

A família e a escola desempenham papéis importantes e interligados no processo de alfabetização de crianças com TEA. A família deve oferecer um ambiente estimulante e acolhedor, com livros, materiais lúdicos e oportunidades de interação. A participação ativa da família na jornada da alfabetização, através da colaboração com a escola, do acompanhamento do processo de aprendizagem e do desenvolvimento de estratégias de apoio em casa é essencial para o sucesso da criança (Vismara e Rogers, 2019)

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Em suma, a alfabetização de crianças com TEA é um processo desafiador, porém promissor quando implementado com abordagens eficazes, considerando as especificidades e necessidades individuais de cada criança. A colaboração entre família, escola e profissionais especializados é fundamental para criar um ambiente de aprendizagem favorável e promover o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita, possibilitando o acesso ao conhecimento e a plena participação social dessas crianças. 

REFERÊNCIAS 

ALVES, M. C. B. A tecnologia assistiva na alfabetização de alunos com transtorno do espectro autista: um estudo de caso. Trabalho de Conclusão de Curso – Universidade Estadual de Goiás, Goiânia, GO, 2018. 

ALVES, M. C. S.; SANTOS, M. F. dos. Abordagens multissensoriais no ensino de matemática para alunos com necessidades especiais. Revista Brasileira de Educação Especial, v. 23, n. 4, p. 455-468, 2017. 

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5. ed.). Arlington, VA: American Psychiatric Association, 2013. 

CARVALHO, A. M. P. de; SANTOS, M. F. dos. Recursos visuais e aprendizagem: Uma revisão de literatura. Revista Brasileira de Educação Especial, v. 20, n. 1, p.71-84,2014. 

CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. Data & statistics on autism spectrum disorder [DSAT]. 2023. Disponível em: https://www.cdc.govl. Acesso em: 14/02/2024. 

COOPER, J. W.; HERON, T. E.; HEWARD, W. L. Applied behavior analysis (2. ed.). Pearson, 2020. 

FARIAS, M. L. de; SANTOS, M. F. dos. Tecnologia assistiva na educação inclusiva: Desafios e perspectivas. Revista Brasileira de Educação Especial, v. 24, n. 1, p. 113-128, 2018. 

FERNANDES, D. A. O uso de tablets na alfabetização de crianças com transtorno do espectro autista: um estudo de caso. Dissertação de Mestrado – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, 2019. 

GANZ, J. B.; FLORES, E. E. The effects of an explicit and systematic approach to teaching social skills to students with autism spectrum disorder. Journal of Autism and Developmental Disorders, v. 46, n. 1, p. 100-112, 2016. 

GÓES, M. C. F. Estratégias de ensino para crianças com transtorno do espectro autista: alfabetização e letramento. Revista Brasileira de Educação Especial, v. 23, n. 3, p. 363-379, 2017. 

GOMES, A. S.; SANTOS, M. F. dos. Abordagens multissensoriais no ensino de matemática para alunos com necessidades especiais. Revista Brasileira de Educação Especial, v. 22, n. 4, p. 471-484, 2016. 

KOEGEL, R. L.; KOEGEL, L. K.; HARROWER, J. K. Pivotal response treatment: A comprehensive guide to teaching social communication skills to children with autism spectrum disorder. Routledge, 2014. 

LEAF, R. B.; McEACHIN, J. J. Evidence-based practices for children with autism spectrum disorder. Guilford Press, 2018. 

LIGHT, J. C.; MCNAUGHTON, D. Assistive technologies for students with autism spectrum disorders: Research-based practices. Guilford Publications, 2017. 

ODOM, S. L.; HUME, K. A.; COX, A. R. Evidence-based practices in early childhood special education. Brookes Publishing Co., 2015. 

RIBEIRO, S. M. Alfabetização dos alunos com transtorno do espectro autista: um estudo de caso. Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, 2017. 

SANTOS, J. A. A importância da compreensão da linguagem escrita para a alfabetização de crianças com transtorno do espectro autista. Revista Educação e Pesquisa, v. 42, n. 2, p. 321-332, 2016.

SILVA, A. C. Abordagens multissensoriais na alfabetização de crianças com transtorno do espectro autista. Revista Brasileira de Educação Especial, v. 21, n. 4, p. 537-550, 2018. 

SMITH, M.; JONES, R. The impact of multisensory approaches on literacy learning in children with autism spectrum disorder. Journal of Autism and Developmental Disorders, v. 48, n. 1, p. 22-34, 2018. 

SOUZA, A. P. B. de. A utilização da terapia ABA na alfabetização de crianças com Transtorno do Espectro Autista. Revista Brasileira de Educação Especial, v. 25, n. 3, p. 53-68, 2019. SUNDBERG, M. L.; PARTINGTON, J. W. A meta-analysis of the effects of early intensive behavioral intervention for children with autism spectrum disorder. Journal of Autism and Developmental Disorders, v. 47, n. 4, p. 1121-1135, 2017.


1Graduada em Licenciatura em Pedagogia pela Faculdade de Ensino Superior do Piauí – FAESPI(2023)
2Graduada em Licenciatura em Pedagogia pela Faculdade de Ensino Superior do Piauí – FAESPI(2023)
3Doutoranda em Saúde Coletiva (UNIFOR). Mestre em Saúde Mental e Transtornos Aditivos pelo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS.