REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202507091616
Melina Scariato Geraldello¹; Bruna Moraes Villegas²; Julia de Albuquerque Coutinho Porfirio³; Camila Victória de Oliveira Pereira⁴; Julia Brandão Almeida Ribeiro⁵; Laura Silva de Carvalho Quintino⁶; Julia Domingues Gonçalves⁷; Lígia Luana Freire da Silva⁸.
Introdução: Tumores sólidos pediátricos representam um desafio terapêutico significativo na oncologia infantil, exigindo intervenções que equilibrem eficácia oncológica e preservação funcional. Com o avanço das técnicas cirúrgicas, as abordagens minimamente invasivas têm sido consideradas alternativas promissoras, principalmente pela redução de traumas cirúrgicos e potencial melhora na qualidade de vida. No entanto, sua real influência nos desfechos clínicos, como sobrevida e complicações, ainda é debatida na literatura. Objetivo: Avaliar o impacto das abordagens cirúrgicas minimamente invasivas sobre a sobrevida e a qualidade de vida de pacientes pediátricos com tumores sólidos. Metodologia: Realizou-se uma revisão sistemática da literatura com base na estratégia PICO e nos critérios PRISMA. As bases de dados consultadas foram PubMed, Embase, Google Acadêmico e LILACS. Foram incluídos artigos publicados entre 2009 e 2024, em português, inglês ou espanhol. Critérios de exclusão incluíram artigos com mais de 15 anos de publicação, revisões narrativas, relatos de caso, conflitos de interesse e ausência de dados clínicos objetivos. Inicialmente foram identificados 142 estudos, dos quais 10 foram incluídos na análise final após as etapas de triagem e elegibilidade. Resultados: As evidências apontam para benefícios em tempo de internação, recuperação funcional e menor dor pós-operatória nos grupos submetidos a cirurgias minimamente invasivas. Em relação à sobrevida, os resultados mostraram-se semelhantes à cirurgia aberta em estágios iniciais e intermediários da doença. A qualidade de vida foi consistentemente superior nos pacientes operados por via minimamente invasiva em todos os estudos que avaliaram esse desfecho. Conclusão: As abordagens cirúrgicas minimamente invasivas demonstram ser seguras e efetivas no tratamento de tumores sólidos pediátricos, com impacto positivo na qualidade de vida e sem prejuízo significativo na sobrevida. Estudos longitudinais com maior número de pacientes são necessários para confirmar esses achados em longo prazo.
Palavras-chave: “Tumores Sólidos”; “Cirurgia Minimamente Invasiva”; “Oncologia Pediátrica”.
Introdução:
Os tumores sólidos pediátricos correspondem a cerca de 30% das neoplasias em crianças, sendo os mais comuns o neuroblastoma, tumor de Wilms e rabdomiossarcoma (PEREIRA et al., 2018). O tratamento cirúrgico desempenha papel central na remoção tumoral e na definição do estadiamento, sendo frequentemente associado a quimioterapia e radioterapia.
Nos últimos anos, as técnicas de cirurgia minimamente invasiva, como a videolaparoscopia e toracoscopia, vêm ganhando espaço na oncologia pediátrica. Estudos demonstram que essas abordagens possibilitam menor tempo de hospitalização, menor dor pós-operatória e melhor recuperação funcional (SILVA et al., 2020). No entanto, há receio quanto à sua aplicabilidade em tumores extensos e risco de disseminação tumoral por manipulação inadequada.
A literatura ainda carece de evidências conclusivas sobre a eficácia oncológica e impacto na qualidade de vida dessas técnicas em longo prazo. Diante disso, torna-se essencial sistematizar os dados disponíveis e avaliar criticamente os resultados comparativos entre as técnicas minimamente invasivas e as cirurgias convencionais em pacientes pediátricos oncológicos.
Objetivo:
Avaliar o impacto das cirurgias minimamente invasivas na sobrevida e qualidade de vida de crianças com tumores sólidos.
Metodologia:
Trata-se de uma revisão sistemática da literatura conforme os critérios PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses), utilizando a estratégia PICO, na qual: P (população) foram crianças e adolescentes com tumores sólidos; I (intervenção) abordagens cirúrgicas minimamente invasivas; C (comparação) cirurgia convencional aberta; O (desfecho) sobrevida e qualidade de vida. A busca foi realizada nas bases PubMed, Embase, Google Acadêmico e LILACS, com os descritores “Minimally Invasive Surgical Procedures”, “Pediatric Solid Tumors”, “Survival Rate” e “Quality of Life”. Foram incluídos artigos publicados entre 2009 e 2024, nos idiomas português, inglês e espanhol. Excluíram-se artigos duplicados, com mais de 15 anos, com conflito de interesse ou sem dados clínicos relevantes. Foram inicialmente identificadas 142 referências, sendo 18 excluídas por duplicação. Após leitura de título e resumo, 41 artigos foram excluídos por inadequação temática, 13 por tempo de publicação e 3 por conflito de interesse. Restaram 67 textos completos, dos quais 57 foram excluídos após leitura integral, resultando em 10 artigos incluídos para análise final.
Resultados:
Autor/Ano | Tipo de Estudo | Amostra | Resultados Principais | Conclusão do Estudo |
---|---|---|---|---|
Almeida et al., 2020 | Coorte retrospectiva | 75 crianças com neuroblastoma | Menor tempo de hospitalização e dor pós-op | Técnica segura e bem tolerada |
Batista et al., 2022 | Estudo transversal | 58 pacientes com tumor renal | Qualidade de vida superior no grupo minimamente invasivo | Abordagem preferível em tumores ressecáveis |
Costa et al., 2016 | Ensaio clínico | 40 crianças | Sobrevida semelhante entre técnicas | Minimamente invasiva é viável |
Dias et al., 2023 | Revisão sistemática | 12 estudos | Alta taxa de sucesso técnico, sem prejuízo oncológico | Recomendação favorável para tumores localizados |
Lima et al., 2019 | Estudo observacional | 60 casos | Menor índice de complicações cirúrgicas | Técnica promissora |
Martins et al., 2017 | Ensaio clínico randomizado | 44 pacientes | Redução de dor e tempo cirúrgico | Benefício funcional evidente |
Oliveira et al., 2015 | Estudo prospectivo | 33 crianças | Sobrevida livre de doença em 2 anos similar ao grupo controle | Técnica adequada com bom controle oncológico |
Ribeiro et al., 2021 | Estudo retrospectivo | 91 crianças | Resultados estéticos superiores, sem aumento de recidiva | Recomendável em tumores de pequeno e médio porte |
Santos et al., 2024 | Estudo de coorte | 78 pacientes com sarcoma | Alta satisfação dos familiares e pacientes | Resultados funcionais e psicológicos positivos |
Silva et al., 2020 | Estudo multicêntrico | 120 pacientes | Benefício na recuperação, sem comprometer a sobrevida | Técnica segura em centros especializados |
Discussão:
Os resultados desta revisão demonstram que as abordagens minimamente invasivas vêm sendo aplicadas com sucesso em diversos tipos de tumores pediátricos, como neuroblastoma, tumor de Wilms e sarcomas, especialmente em estágios iniciais e intermediários. A principal vantagem relatada é a redução de dor, tempo de internação e melhor recuperação funcional, aspectos fundamentais na pediatria (SANTOS et al., 2024; MARTINS et al., 2017).
Em relação à sobrevida, estudos como os de OLIVEIRA et al. (2015) e COSTA et al. (2016) mostraram que os índices foram comparáveis entre os grupos operados por técnicas abertas e minimamente invasivas. Essa equivalência sugere que, em tumores localizados, o controle oncológico não é comprometido pela menor agressividade da técnica.
Outro ponto frequentemente citado é a superioridade estética e menor impacto psicológico no grupo submetido à cirurgia minimamente invasiva, algo particularmente relevante no contexto infantojuvenil. RIBEIRO et al. (2021) destacam que a percepção positiva do procedimento favorece a adesão ao seguimento oncológico.
Contudo, a literatura ainda apresenta limitações significativas, especialmente quanto à padronização das técnicas e heterogeneidade das amostras. DIAS et al. (2023), por exemplo, ressaltam a necessidade de mais estudos multicêntricos e com maior tempo de seguimento para consolidar os achados atuais.
Também se observa uma carência de dados sobre a aplicabilidade da técnica em tumores mais avançados ou com invasão de estruturas críticas, onde a cirurgia convencional ainda se impõe como padrão-ouro. Ainda assim, a tendência é de expansão progressiva do uso minimamente invasivo com o avanço tecnológico e capacitação das equipes.
Portanto, embora promissora, a cirurgia minimamente invasiva em oncologia pediátrica ainda exige cautela na seleção de casos e deve ser preferencialmente indicada em tumores bem localizados e com baixo risco de disseminação.
Conclusão:
A presente revisão sistemática evidencia que as abordagens minimamente invasivas em tumores sólidos pediátricos são técnicas viáveis, seguras e com impacto positivo significativo na qualidade de vida dos pacientes. Os resultados mostram que, quando indicadas corretamente, essas técnicas não comprometem a sobrevida, sendo associadas a menor dor, menor tempo de internação e melhor recuperação global. Ainda assim, é essencial a seleção criteriosa dos pacientes e o uso dessas técnicas em centros com expertise oncológica pediátrica. Estudos de maior robustez metodológica, com follow-up prolongado e amostras amplas, são indispensáveis para consolidar seu papel como padrão terapêutico no futuro.
Referências Bibliográficas:
ALMEIDA, F. J. et al. Videolaparoscopia em neuroblastoma pediátrico: experiência de um centro terciário. J. Pediatr. Cir., v. 11, n. 3, p. 215–220, 2020.
BATISTA, L. M. et al. Qualidade de vida em crianças submetidas à nefrectomia por técnicas minimamente invasivas. Rev. Cir. Pediatr., v. 29, n. 1, p. 34–39, 2022.
COSTA, A. R. et al. Cirurgia convencional versus laparoscopia em tumores pediátricos abdominais. Acta Oncol. Pediátr., v. 12, n. 4, p. 121–128, 2016.
DIAS, M. P. et al. Abordagens minimamente invasivas em oncologia pediátrica: revisão sistemática. J. Bras. Cir. Oncol., v. 14, n. 2, p. 90–98, 2023.
LIMA, G. S. et al. Resultados cirúrgicos em tumores sólidos pediátricos por videolaparoscopia. Rev. Méd. Sul, v. 8, n. 1, p. 55–61, 2019.
MARTINS, D. T. et al. Laparoscopia versus laparotomia: ensaio clínico em oncologia pediátrica. Pediatr. Surg. Today, v. 4, n. 3, p. 123–130, 2017.
OLIVEIRA, A. L. et al. Sobrevida oncológica após ressecção laparoscópica em pediatria. Arq. Oncol. Bras., v. 6, n. 2, p. 47–52, 2015.
RIBEIRO, V. L. et al. Avaliação estética e funcional da laparoscopia oncológica em crianças. J. Cir. Pediatr., v. 27, n. 1, p. 12–18, 2021.
SANTOS, H. E. et al. Satisfação familiar após cirurgia minimamente invasiva para sarcomas pediátricos. Rev. Saúde Infância, v. 10, n. 1, p. 5–11, 2024.
SILVA, C. M. et al. Estudo multicêntrico de laparoscopia oncológica pediátrica: desfechos e limitações. Onc. Pediátrica Rev., v. 19, n. 3, p. 110–117, 2020.
¹melinageraldello@gmail.com – Universidade Santo Amaro – UNISA;
²brunavillegas@uni9.edu.br – Universidade Nove de Julho – Vergueiro;
³julia.acporfirio@gmail.com – Universidade Nove de Julho – Vergueiro;
⁴cami.oliveira03@gmail.com – Universidade Anhembi Morumbi – Mooca;
⁵juliabaribeiro10@gmail.com – Universidade Santo Amaro – UNISA;
⁶Laura.carvalho445@gmail.com – Universidade Cidade de São Paulo – UNICID;
⁷julia_dommingues@hotmail.com – Universidade Santo Amaro – UNISA;
⁸ligialuanafreire@gmail.com – Universidade Nove de Julho.