ABORDAGEM E MANEJO AO PACIENTE VÍTIMA DE TRAUMA TORÁCICO: REVISÃO INTEGRATIVA 

APPROACH AND MANAGEMENT TO PATIENTS VICTIM OF CHEST TRAUMA: INTEGRATIVE REVIEW

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.11077874


André Dos Santos Boldrini1
Pedro Marcos Alves Medeiros2
Guilherme Rocha Ferreira3
Diessyca Monik Silva Gomes4
Anderson Nascimento Ribeiro5


RESUMO 

INTRODUÇÃO: O trauma é importante componente dos agravos por causas externas, responsáveis por disfunção do estado físico, provocando um nível de dependência que pode variar de curto a longo prazo, além de sequelas que podem ser imediatas ou futuras, agudas ou crônicas, resultando em algum nível de dependência. Segundo a OMS, pelo menos 9 pessoas vítimas de trauma evoluem com óbito a cada minuto. Dentre os principais tipos de trauma, destaca-se o trauma torácico, que representa pelo menos cerca de 1/4 das vítimas de politrauma, variando as taxas de mortalidade de acordo com o tipo, extensão e gravidade da lesão. METODOLOGIA: Consiste numa revisão integrativa de literatura científica, baseada em estudos e fontes literárias pregressas, seguindo critérios de inclusão, exclusão e análise. O levantamento bibliográfico foi realizado nos portais: Scientific Electronic Library On Line (SciELO) e PubMed, em relação aos estudos associados ao MEDLINE, sendo utilizados os seguintes descritores: (trauma) OR (politrauma) AND (torácico) OR (tórax) AND (cirurgia) OR (diagnóstico) OR (abordagem) OR (conduta). DISCUSSÃO: Foram abordados os principais tipos de lesões decorrentes do trauma torácico, considerando suas respectivas etiologias, mecanismos de lesão, apresentação clínica e intervenção terapêutica. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O trauma torácico pode ser definido como todo tipo de lesão que envolve um ou mais componentes da parede e cavidade torácica. As consequências mais comuns do trauma torácico, geralmente, podem ser tratadas com manutenção da via aérea e realização de técnicas descompressivas.  

PALAVRA-CHAVE: trauma, politrauma, torácico, tórax, abordagem, conduta. 

SUMMARY  

INTRODUCTION: Trauma is an important component of injuries due to external causes, responsible for dysfunction of the physical state, causing a level of dependence that can vary from short to long term, in addition to sequelae that can be immediate or future, acute or chronic, resulting in some level of dependence. According to the WHO, at least 9 trauma victims die every minute. Among the main types of trauma, chest trauma stands out, which represents at least around ¼ of polytrauma victims, with mortality rates varying according to the type, extent and severity of the injury. METHODOLOGY: Consists of an integrative review of scientific literature, based on previous studies and literary sources, following inclusion, exclusion and analysis criteria. The bibliographic survey was carried out on the portals: Scientific Electronic Library On Line (SciELO) and PubMed, in relation to studies associated with MEDLINE, using the following descriptors: (trauma) OR (polytrauma) AND (thoracic) OR (thorax) AND (surgery) OR (diagnosis) OR (approach) OR (management). DISCUSSION: The main types of injuries resulting from thoracic trauma were addressed, considering their respective etiologies, injury mechanisms, clinical presentation and therapeutic intervention. FINAL CONSIDERATIONS: Chest trauma can be defined as any type of injury that involves one or more components of the thoracic wall and cavity. The most common consequences of chest trauma can generally be treated by maintaining the airway and performing decompressive techniques.  

KEYWORDS: trauma, polytrauma, thoracic, thorax, approach, conduct. 

1.0 INTRODUÇÃO 

O trauma é considerado a principal causa de morte na população jovem a nível mundial, sendo um fator de aumento da morbidade e mortalidade, além de diminuir a expectativa e qualidade de vida (independente do nível socioeconômico do local) (PINHEIRO, 2023).  

O trauma torácico corresponde a qualquer tipo de lesão que atinge envolve um ou mais componentes da parede e cavidade torácica. Estima-se que cerca de 1/4 a 1/5 dos episódios traumáticos envolva o trauma torácico, aumentando ainda mais a incidência de acordo com a exposição aos seguintes fatores de risco: insegurança pública, acentuação de ocorrência de acidente automobilístico grave e alta exposição à violência (PINHEIRO, 2023).  

É de suma importância elencar que o trauma torácico pode ter suas lesões subdivididas naquelas com risco imediato ou iminente de vida, as quais apresentam maior mortalidade e demandam conduta imediata a partir de sua identificação; diferentemente das lesões com potencial risco de vida, que, em substancial parcela dos casos, premeditam avaliação secundária com exames complementares para seu diagnóstico (GONZALEZ, 2021).  

O paciente vítima de trauma torácico geralmente é do sexo masculino; com idade entre 20 e 30 anos; proveniente de acidentes automobilísticos, quedas e violência (ferimento por arma de fogo e/ou branca). O trauma fechado supera o aberto numa proporção de 70% para 30%, sendo o hemotórax juntamente com o pneumotórax as lesões mais diagnosticadas (cerca de 34%) (ATLS, 2018).  

O óbito como desfecho final varia de acordo com o tipo e extensão da lesão, a qual varia também de acordo com a exposição aos fatores de risco. Cerca de 40% das vítimas de trauma torácico cursam com lesão combinada, dentre os quais quase 90% evoluíram com óbito devido lesões associadas (ATLS, 2018).  

O trauma torácico quando abordado de forma ineficaz ou equivocada tem grandes chances de obter um desfecho desfavorável para o paciente. No entanto, com a realização da abordagem apropriada ao politraumatizada, iniciada com um exame físico rápido e eficaz focado a identificação da lesão, sucedendo-se a intervenção terapêutica otimizada, o desfecho tem chances elevadas de se tornar favorável (CARVALHO, 2020).  

Logo, evidenciam-se os objetivos desse estudo: compreender os principais mecanismos de trauma torácico; as nuances das respectivas apresentações clínicas; manejo e conduta terapêutica destinada as principais disfunções decorrentes do trauma torácico. A partir disso, o presente artigo busca elucidar dúvidas e contribuir com a disseminação de conhecimento científico, auxiliando na prática fundamentada na medicina baseada em evidências a fim de promover um eficaz atendimento inicial ao paciente politraumatizado, principalmente em relação ao trauma torácico.  

2.0 METODOLOGIA 

O presente estudo consiste numa revisão integrativa de literatura científica que aborda aspectos sobre os sinais clínicos, diagnóstico e respectiva intervenção terapêutica ao paciente vítima de trauma torácico. A metodologia foi baseada em estudos e fontes literárias pregressas, seguindo critérios de inclusão, exclusão e análise. O levantamento bibliográfico foi realizado nos portais: Scientific Electronic Library On Line (SciELO) e PubMed, em relação aos estudos associados ao MEDLINE, sendo utilizados os seguintes descritores: (trauma) OR (politrauma) AND (torácico) OR (tórax) AND (cirurgia) OR (diagnóstico) OR (abordagem) OR (conduta). A priori foram encontrados 196 artigos na SciELO e 155 artigos no PubMed.  

A posteriori, foi efetuada a análise e triagem dos estudos encontrados, de acordo com os seguintes critérios de inclusão: 1) pelo menos duas respostas “sim” em relação a coerência com o título e resumo dos artigos com o tema proposto; 2) publicados a partir de 2020 (últimos 5 anos); 3) no idioma português, espanhol e inglês. Por consequência, foram descartados os estudos com os seguintes critérios de exclusão: 1) estudos não condizentes com o tema; 2) com publicação anterior ao ano 2020; 3) demais línguas que não sejam português, espanhol e inglês. 

Após a triagem, na qual foram eleitos vinte e seis estudos, foi realizada a leitura integral dos artigos selecionados e, consequentemente, utilização como base teórica para construção do presente estudo. Além dos artigos supracitados, foram utilizadas demais subfontes essenciais e norteadoras sobre o tema. 

3.0 DISCUSSÃO 

3.1 AVALIAÇÃO PRIMÁRIA DO TRAUMA TORÁCICO (LESÕES COM RISCO IMINENTE A VIDA) 

3.1.1 Disfunções relacionados as vias aéreas – A 

A obstrução da via aérea apresenta como possíveis causas a ocorrência de edema, sangramento ou vômito que é aspirado para a via aérea, lesão laríngea, trauma direto do pescoço ou por compressão da cabeça clavicular, deslocamento posterior da cabeça clavicular. Esses mecanismos interferem na troca gasosa, podendo ser potencialmente fatais. O quadro clínico é variável, podendo manifestar-se através de dispneia, mudança no tom de voz, estridor e/ou crepitação. O diagnóstico é clínico, além do possível uso de radiografia de tórax e broncoscopia. O tratamento consiste na desobstrução da via aérea: se causada por líquido, realiza-se aspiração; se sólido, retira-se o corpo estranho; se trauma, estabilizar a via aérea. É importante destacar que, a depender do caso, é necessária a instalação da via aérea definitiva (AGUIAR, 2018).  

A lesão da árvore traqueobrônquica é incomum, mas potencialmente fatal. Geralmente ocorre na altura da carina e apresenta como possíveis causas as desacelerações bruscas, explosões, trauma penetrante e intubação orotraqueal traumática. O quadro clínico pode ser evidenciado por hemoptise, enfisema subcutâneo cervical, pneumotórax hipertensivo, cianose e expansão incompleta do pulmão. O diagnóstico é clínico, com posterior confirmação através da broncoscopia. O tratamento requer instalação de via aérea definitiva (PHTLS, 2020).  

3.1.2 Disfunções relacionadas a respiração – B  

O pneumotórax hipertensivo pode ser definido como a presença de ar intrapleural, representada peça ocupação de dimensão superior a 20%, desvio contralateral do mediastino, retificação das costelas e depressão do diafragma. A fisiopatologia é explicada através da formação de uma “válvula unidirecional” de escape de ar do pulmão para o espaço pleural, que entra para a cavidade pleural sem possibilidade de sair, colapsando completamente o pulmão. Tem como causas frequentes a ventilação mecânica com pressão positiva em doentes com lesão da pleura visceral, complicação de um pneumotórax simples, lesões traumáticas da parede torácica e fraturas com grande desvio da coluna torácica. O quadro clínico clássico é representado por percussão hipersonora, desvio de traqueia contralateral, distensão das veias do pescoço, elevação do hemitórax sem movimento respiratório e ausência de sons respiratórios. O diagnóstico é essencialmente clínico, podendo lançar uso do FAST estendido. O tratamento consiste na descompressão imediata, seguido por conexão a selo d’água (ATLS, 2018). 

O pneumotórax aberto consiste no acúmulo de ar entre a parede torácica e o pulmão decorrente de uma ferida torácica aberta ou outro defeito físico. O mecanismo da lesão pode ser explicado através do equilíbrio imediato entre a pressão intratorácica e atmosférica, pois o ar tende passar pelo local de menor resistência; assim, se a abertura da parede torácica for de aproximadamente 2/3 do diâmetro da traqueia ou maior, o ar passará preferencialmente pela lesão da parede a cada inspiração, prejudicando a ventilação efetiva através da parede torácica afetada, resultando em hipóxia e hipercapnia. O quadro clínico é utilizado para diagnóstico, o qual manifesta-se através de dor no local da lesão, dispneia, taquipneia, diminuição dos murmúrios vesiculares e desvio mediastinal ipsilateral à lesão. O tratamento inicial consiste no fechamento imediato da ferida com curativo oclusivo, estéril, grande e de três pontas/lados (esse mecanismo permite a produção do efeito de uma válvula unidirecional, impedindo que durante a inspiração ocorra a entrada de ar pela ferida operatória). O curativo ocluído nas quatro pontas não é indicado pois pode fazer com que o ar inspirado se acumule no espaço pleural e evolua o quadro para um pneumotórax hipertensivo. A conduta definitiva é realizada através da toracostomia com dreno (drenagem pleural) em local distinto da ferida inicial (TODO-BOM, 2005).  

O hemotórax maciço é caracterizado como o acúmulo de sangue no espaço pleural, com volume igual ou superior a 1500ml ou 1/3 do volume sanguíneo do doente. É causado geralmente por um ferimento penetrante que compromete os vasos sistêmicos ou hilares da região torácica. Está relacionada a complicação da respiração (B), pois pode provocar a compressão do pulmão, impedindo a ventilação e oxigenação adequada, resultando em dispneia. Além de ser também um problema relacionado a circulação (C), pois a perda de sangue pode ocasionar choque hipovolêmico. O diagnóstico é clínico, evidenciado através de assimetria torácica durante inspiração, arritmia, hipotensão, veias jugulares colapsadas (se choque) ou distendidas (se deslocamento mediastinal), diminuição dos murmúrios vesiculares, som maciço a percussão, dor a palpação torácica e até choque hipovolêmico (confusão mental, extremidades frias e úmidas, pulsos periféricos finos ou ausentes, hipotensão). O tratamento consiste em reposição volêmica (cristalóide ou sangue), descompressão torácica (toracostomia tubular fechada) e toracotomia de urgência (se volume total igual ou superior a 1500ml, necessidade persistente de hemotransfusão e/ou incapacidade de manutenção das forças vitais) (GONZALEZ, 2020).  

3.1.3 Disfunções relacionadas a circulação sanguínea – C  

Além do hemotórax maciço (acima citado), destaca-se a possível evolução do ritmo cardíaco para Atividade Elétrica Sem Pulso (AESP), que pode ser causada por tamponamento cardíaco, pneumotórax hipertensivo, hipovolemia profunda, trauma torácico contuso grave, ruptura dos átrios ou dos ventrículos, hipóxia, acidose metabólica, hipocalemia, hipercalemia, hipoglicemia, hipotermia, toxinas e trombose. O quadro clínico consiste no ritmo cardíaco sinusal presente, porém sem presença de pulso central. O tratamento consiste basicamente em reanimação cardiopulmonar de alta qualidade, epinefrina EV e intubação orotraqueal (IOT) (ACLS, 2020).   

O tamponamento cardíaco é definido como a compressão do coração por um acúmulo de líquido no saco pericárdico, resultando na diminuição do débito cardíaco devido à diminuição do fluxo de entrada de sangue na circulação cardíaca. Isso é possível devido a anatomia do saco pericárdico, composto por uma estrutura fibrosa fixa, na qual o acúmulo de uma quantidade relativamente pequena de sangue pode restringir a atividade cardíaca e interferir no enchimento cardíaco. Geralmente é causado por lesões penetrantes, raramente por lesões contusas. O quadro clínico pode se desenvolver de forma insidiosa (permite avaliação menos urgente) ou aguda (requer rápido diagnóstico e tratamento). A tríade de Beck representa os sinais clássicos do tamponamento cardíaco, sendo composta por: abafamento de bulhas cardíacas, hipotensão arterial e distensão das veias jugulares. O diagnóstico é evidenciado pelo quadro clínico em consonância com os resultados obtidos via FAST, ecocardiografia ou janela pericárdica. Mais comumente utilizado devido ser um método rápido e preciso de imagem de avaliação do coração e pericárdio, o FAST apresenta acurácia superior a 90% para identificar presença de líquido no espaço pericárdico. O tratamento paliativo consiste na administração de fluidos intravenosos (melhora o débito cardíaco de forma transitória), associado a pericardiocentese (na ausência ou impossibilidade de cirurgia); de maneira definitiva, a conduta padrão-ouro é a toracotomia de emergência (PINHEIRO, 2023).  

A parada circulatória traumática (AESP, assistolia, TVSP e FV) caracteriza-se pela alteração do ritmo cardíaco, associado a inconsciência e incapacidade de manutenção das funções vitais, em pacientes vítimas de trauma. Pode ser causada por hipoxia grave, pneumotórax hipertensivo, hipovolemia profunda, tamponamento cardíaco, herniação cardíaca e contusão miocárdica grave. O diagnóstico é clínico e o tratamento consiste numa RCP de qualidade, associada a medidas adjuvantes variáveis de acordo com o ritmo cardíaco (drogas, desfibrilação nos ritmos chocáveis, suporte ventilatório) (ACLS, 2020). 

3.2 AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA DO TRAUMA TORÁCICO (LESÕES COM POTENCIAL RISCO A VIDA) 

A avaliação secundária do paciente politraumatizado apresenta elementos básicos e essenciais, que devem ser elencados quando a vítima já foi estabilizada hemodinamicamente. Dessa forma, são investigados sinais e sintomas associados (S), alergias (A), medicamentos em uso (M), passado médico e prenhez (P), ingesta recente de líquidos e sólidos (L), ambiente e eventos associados (E). Durante a avaliação secundária é de suma importância realizar o monitoramento contínuo, exame físico completo do paciente, além de solicitar exames complementares de acordo com o trauma e particularidades de cada indivíduo (PINHEIRO, 2023).  

O pneumotórax simples consiste na presença de ar no espaço virtual entre a pleura visceral e a parietal. Apresenta como principal causa a laceração pulmonar após trauma contuso. Normalmente, a cavidade torácica está completamente preenchida pelo pulmão, mantido em íntimo contato com a parede torácica por uma tensão superficial existente entre as superfícies pleurais. A presença de ar no espaço pleural rompe a força de adesão entre as pleuras visceral e parietal, permitindo o colapso pulmonar; isso resulta na alteração da ventilação e perfusão. O diagnóstico é clínico, sendo caracterizado pela presença de equimoses, lacerações, contusões, murmúrios vesiculares diminuídos no lado afetado e hipertimpanismo à percussão. A radiografia de tórax pode auxiliar no diagnóstico, mas não essencial. O tratamento consiste na descompressão torácica via toracostomia com dreno (drenagem pleural) (TODO-BOM, 2005).  

O hemotórax simples é definido como o acúmulo de sangue no espaço pleural com volume inferior a 1500ml. É resultante, geralmente, de um trauma contuso ou penetrante, convergindo com laceração pulmonar, lesão vascular intercostal, lesão torácica interna ou lesão de grandes vasos. Normalmente são sangramentos autolimitados. O diagnóstico ocorre através do quadro clínico (redução do murmúrio vesicular, dispneia, dor torácica, som submaciço à percussão e/ou assimetria torácica à ventilação) ou evidência de coleção de sangue na cavidade pleural através de exames de imagem (radiografia de tórax, FAST e/ou tomografia de tórax). Na maioria dos casos o tratamento é feito com drenagem pleural fechada; no entanto, quando há a persistência de coágulos, realiza-se a pleuroscopia associada a retirada cirúrgica dos coágulos (VIEIRA, 2011).  

A contusão pulmonar corresponde a lesão do parênquima pulmonar com hemorragia alveolar, intersticial ou mesmo laceração pulmonar, associada comumente a fraturas costais, de esterno ou escápula, ou mesmo tórax instável. Devido a isso, o pulmão lesionado não consegue participar de forma eficiente da troca gasosa. A contusão pulmonar é potencialmente letal e comum devido ao risco associado da insuficiência respiratória.  O diagnóstico é feito através do quadro clínico (dispneia, dor pleurítica, tórax instável) juntamente com os achados na radiografia de tórax (menos sensível se comparada a TC) e/ou tomografia de tórax (lesões com extensão superior a 20% da região pulmonar indica o pior prognóstico). O manejo inclui suporte ventilatório, restrição da infusão de fluidos (risco de edema pulmonar), fisioterapia respiratória e suporte extracorpóreo (casos graves) (ATLS, 2018).  

O trauma cardíaco contuso é definido como a lesão miocárdica decorrente de trauma contuso com grande transmissão de energia (ex.: acidentes automobilísticos, queda maior que 6 metros, atropelamento). A contusão miocárdica pode resultar em ruptura da câmara cardíaca, dissecção e/ou trombose de artéria coronária e ruptura valvar. O diagnóstico inicia-se com ciência do mecanismo de trauma envolvido (trauma de grande energia), dor torácica, pressão venosa elevada, atrito pericárdico, sopro cardíaco, sinais de insuficiência cardíaca aguda, choque cardiogênico, arritmias, morte súbita e desenvolvimento de tamponamento cardíaco tardio. Além da clínica, o médico faz uso de exames complementares, dentre eles: eletrocardiograma (alterações do segmento ST, taquicardia sinusal inexplicada, contrações ventriculares prematuras múltiplas, fibrilação atrial, bloqueio de ramo), marcadores de necrose cardíaca (principalmente CK-MB, troponina T e I), FAST e ecocardiograma (disfunção ventricular direita, sinais de elevação da pressão venosa central, hemopericárdio, alterações segmentares). O manejo baseia-se no monitoramento contínuo do paciente, além de focar as ações terapêuticas nas possíveis complicações (particulares de cada caso) (GONZALEZ-HADAD, 2021).  

A ruptura traumática da aorta é causa comum de óbito súbito nas situações de trauma (mais de 85% chegam mortos na emergência), muitas vezes associados a trauma automobilístico e queda de grande altura. Os sobreviventes costumam ter laceração incompleta perto do ligamento arterioso, evoluindo com um hematoma mediastinal contido. Não apresenta clínica bem definida. A suspeita é elevada quando o paciente é proveniente de trauma com força importante de desaceleração associado a alargamento mediastinal em radiografia de tórax; hipotensão persistente ou recorrente decorrente do local de extravasamento do hematoma; pode estar relacionada a hemotórax à esquerda que normalmente evolui rapidamente para óbito. O paciente pode realizar exames complementares que auxiliam no diagnóstico, dentre eles: radiografia de tórax (alargamento mediastinal superior a 8cm – achado mais comum); no paciente estável pode-se lançar mão da tomografia de tórax (sensibilidade e especificidade próxima a 100%). O manejo envolve a avaliação precoce de equipe cardíaca especializada; porém, na sua ausência deve-se realizar o controle da frequência cardíaca (meta inferior a 80 BPM) e pressão arterial média (meta inferior a 60-70 mmHg), a partir do uso de esmolol ou nicardipina (caso falha, considerar nitroglicerina ou nitroprussiato). Detalhe, se houver hipotensão arterial, não usar nenhum dos medicamentos supracitados. Além disso, deve-se conduzir analgesia adequada. O tratamento definitivo consiste no reparo endovascular (bons resultados a curto prazo) ou reparo cirúrgico aberto (ressecção e reparo do segmento lesionado ou fechamento primário) (ATLS, 2018).  

A ruptura traumática do diafragma é mais frequente à esquerda, devido a proteção hepática existente à direita. São lesões de difícil identificação na avaliação inicial ao politraumatizado. São causadas por trauma contuso nos casos de laceração radial e grande ou por trauma penetrante nas lesões pequenas e/ou perfurativas. O diagnóstico é feito através da observação da herniação de conteúdo abdominal para o tórax (sinal inespecífico, por isso identificado na maioria dos casos de forma tardia); presença de líquido de lavagem peritoneal no dreno torácico; identificação intraoperatória durante a correção de lesões abdominais ou torácicas. O manejo inclui a drenagem pleural nos pacientes suspeitos (sempre considerar a avaliação digital antes da introdução do dreno pleural a fim de evitar lesões potenciais as vísceras ocas); se identificada a herniação, deve-se realizar o reparo da lesão diafragmática via toracoscopia ou laparoscopia (ATLS, 2018).  

A ruptura esofágica no trauma contuso normalmente está relacionada a traumas penetrantes. No entanto, pode ser provocada por trauma contuso através da rápida variação de pressão intraluminal. A partir disso, a lesão promove o esvaziamento de conteúdo esofágico para o mediastino, desencadeando mediastinite e empiema. O diagnóstico deve ser sempre suspeito quando houver pneumotórax ou hemotórax esquerdo sem fraturas costais correspondente, trauma esternal ou epigástrico, dor desproporcional à lesão, drenagem de conteúdo claro após evacuação de sangue por dreno torácico e pneumomediastino. O tratamento definitivo geralmente é realizado através de ampla drenagem do espaço pleural e do mediastino, associado a sutura primária da lesão (ATLS, 2018).   

4.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS 

O trauma torácico pode ser definido como todo tipo de lesão que envolve um ou mais componentes da parede e cavidade torácica. A necessidade de intervenção cirúrgica ocorre, geralmente, em menos 10% das lesões torácicas contusas e apenas em 15 a 30% das lesões torácicas penetrantes. A maioria dos doentes que sofrem trauma torácico pode ser tratada por procedimentos técnicos simples, treinados e capacitados durante o curso do ATLS e/ou PHTLS.

São consequências fisiológicas comuns do trauma torácico: hipoxia, hipercapnia e acidose. Como a hipoxia é a consequência mais grave de lesão no tórax, o objetivo da intervenção precoce é prevenir e corrigí-la. A maioria das lesões torácicas com risco de vida pode ser tratada com controle da via aérea e descompressão do tórax (com agulha, descompressão digital ou drenagem em selo d’água com dreno tubular). 

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1Acadêmico em Medicina  
Centro Universitário FAMINAS  
Contato: andreboldrini35@gmail.com 
  
2Acadêmico em Medicina  
Faculdade de Saúde Santo Agostinho de Vitória da Conquista 
Contato: pedro9712@gmail.com 
  
3Acadêmico em Medicina  
Centro Universitário FAMINAS  
Contato: guilhermerochaferreira@yahoo.com.br  
   
4Acadêmica em Medicina  
Universidade Iguaçu  
Contato: diessykamonik@hotmail.com 
   
5Acadêmico em Medicina  
Faculdade Pitágoras de Medicina de Eunápolis  
Contato: anderson_ribeirofar@yahoo.com.br